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Patrimônio cultural como identidade coletiva: o saber-fazer do doce pé de moleque em Piranguinho, MG

Cultural heritage as a collective identity: the know-how of the sweet pé de moleque (peanut brittle) in Piranguinho, MG

El patrimonio cultural como identidad colectiva: el saber hacer del dulce pé de moleque (turrón crocante de maní) en Piranguinho, MG

Resumo:

A reflexão proposta é sobre o processo de formação da identidade coletiva a partir do saber-fazer do doce pé de moleque, patrimônio cultural do município de Piranguinho, na microrregião de Itajubá, sul do Estado de Minas Gerais. No aspecto cultural, o município se caracteriza por contar com a produção e venda do doce pé de moleque, sendo que as significações se apresentam constituídas em torno do artefato, as quais influenciam na mentalidade, organização da identidade e nas escolhas de caminhos de desenvolvimento. Dessa perspectiva, justificamos nossa participação no debate sobre desenvolvimento regional-local, considerando as estratégias adotadas em municípios de pequeno porte. Portanto, objetivamos compreender o saber e o fazer do pé de moleque enquanto um elemento de contribuição ao desenvolvimento, sem perder de horizonte a história e as composições que suportam a ideia de local. Utilizamos os recursos da pesquisa de campo, por meio de entrevistas semiestruturadas, as quais realizamos no período de setembro a dezembro de 2019. Os resultados alcançados demonstram que a cultura e a identidade na dinâmica do lugarse expressam também por meio da construção do doce de pé de moleque como patrimônio cultural, formando a identidade coletiva e se implicando com as questões do desenvolvimento da microrregião de Itajubá.

Palavras-chave:
desenvolvimento local; economia da cultura; artefatos; saberes-fazeres; patrimônio cultural; identidade coletiva

Abstract:

The proposed reflection is on the process of forming collective identity from the know-how of the sweet pé de moleque (peanut brittle), cultural heritage ofthe municipality of Piranguinho, in the microregion of Itajubá, south of the State of Minas Gerais. In the cultural aspect, the municipality is characterized by counting on the production and sale of the sweet pé de moleque, and the meanings are constituted around the artifact, which influences the mentality, identity organization, and development path choices. From this perspective, we justify our participation in the debate on regional-local development, considering the strategies adopted in small municipalities. Therefore, we aim to understand the knowledge and practice of the sweet pé de moleque as an element of contribution to development, without losing sight of the history and compositions that support the idea of place. We used the resources ofthe field research, through semi-structured interviews, which we carried out from September to December 2019. The results achieved show that culture and identity in the dynamics of the place are also expressed through the construction of the pé de moleque as cultural heritage, forming the collective identity and getting involved with the issues of the development of the microregion of Itajubá.

Keywords:
local development; economy of culture; artifacts; know-how; cultural heritage; collective identity

Resumen:

La reflexión propuesta es sobre el proceso de formación de la identidad colectiva a partir del saber hacer del dulce pé de moleque (turrón crocante de maní), patrimonio cultural del município de Piranguinho, en la microrregión de Itajubá, al sur del Estado de Minas Gerais. En el aspecto cultural, el município se caracteriza por contar con la producción y venta de dulce pé de moleque, y los significados se constituyen en torno ai artefacto, que influyen en la mentalidad, organización identitaria y opciones de caminos de desarrollo. Desde esta perspectiva, justificamos nuestra participación en el debate sobre el desarrollo regional-local, considerando las estrategias adoptadas en los pequenos municípios. Por ello, buscamos entender el conocimiento y la práctica del dulce pé de moleque como un elemento de aporte al desarrollo, sin perder de vista la historia y las composiciones que sustentan la idea de lugar. Utilizamos los recursos de la investigación de campo, a través de entrevistas semiestructuradas, que realizamos de septiembre a diciembre de 2019. Los resultados alcanzados muestran que la cultura y la identidad en la dinámica del lugar también se expresan a través de la construcción del pé de moleque como patrimonio cultural, formando la identidad colectiva y se involucrando con los temas del desarrollo de la microrregión de Itajubá.

Palabras clave:
desarrollo local; economia de la cultura; artefactos; saber hacer; patrimonio cultural; identidad colectiva

1 INTRODUÇÃO

A reflexão proposta é sobre o processo de formação da identidade coletiva a partir do saber-fazer do doce pé de moleque, patrimônio cultural na cidade de Piranguinho, Minas Gerais (MG). No aspecto cultural, consideramos que o município se caracteriza a partir da produção e venda do doce pé de moleque, sendo que as significações que se apresentam constituídas em torno do artefato influenciam na mentalidade e na organização da identidade local.

A história do município presenciou transformações em diversos campos, e essas estavam associadas às práticas voltadas à produção do doce pé de moleque. De alguma forma, destacaram-se como influenciadoras das mudanças e permanências, bem como da mentalidade de seus moradores. Atualmente, o artefato em estudo faz parte da lista dos bens patrimoniais registrados no estado de Minas Gerais e, como dinâmica política, econômica, social, cultural e simbólica, exerce impactos na constituição da identidade e no desenvolvimento local.

Do ponto de vista geográfico, Piranguinho fica localizada no sul do estado de Minas Gerais, com população de 8.016 habitantes (Censo Demográfico de 2010 [IBGE, 2012]) e economia suportada pelas atividades do comércio, serviços e agropecuária. Faz limite territorial-administrativo com os seguintes municípios: São José do Alegre, Itajubá, Piranguçu, Brazópolis, Cachoeira de Minas e Santa Rita do Sapucaí.

Compõe a unidade político-administrativa denominada microrregião de Itajubá – dentro da Serra da Mantiqueira, com acesso às regiões do Vale do Paraíba, litoral norte e cone leste paulista e sul fluminense, interligadas pelas rodovias federais BR-459, Fernão Dias (BR-381) e Presidente Dutra (BR-116) – e qualificada como polo de desenvolvimento tecnológico do estado, considerando o papel de formação social da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), centros universitários e faculdades que atuam nas proximidades do município.

A proposição se justifica em face das contribuições aos estudos sobre regiões brasileiras em processo de desenvolvimento. Justifica-se também pela possibilidade de trazer ao debate as questões sobre os saberes, artefatos, patrimônios imateriais e identidade, por meio das discussões sobre o local.

Sem perder o horizonte da construção sociotécnica do artefato, buscar um entendimento plausível entre a formação da identidade de municípios de pequeno porte – como no caso de Piranguinho, fundamentado nos saberes e fazeres do doce pé de moleque – e suas implicações socioculturais passa a ser o problema a ser investigado. Diante do enunciado, objetivamos compreender o saber e o fazer do pé de moleque como um elemento de contribuição ao desenvolvimento, levando em consideração a história e as composições que suportam a ideia de local.

Da perspectiva metodológica, foram realizadas pesquisas documentais junto à prefeitura municipal e levantamento de dados estatísticos nas plataformas digitais do IBGE, ambos com a finalidade de retratar um quadro documental-numérico que permitisse visualizarmos os municípios que formam a microrregião e “precisar” o papel do artefato como sendo um dos elementos centrais para o desenvolvimento local.

Realizamos ainda entrevistas semiestruturadas com representantes da administração pública, comerciantes e agentes do desenvolvimento que trabalham ou tenham relações diretas com o pé de moleque, quer seja como objeto de comércio, quer seja como prática cultural (patrimônio, artefato, saber, fazer, história, memória, identidade), no período de setembro a dezembro de 2019. Tratou-se de um conjunto de questões elaboradas em forma de questionário com flexibilidades de diálogos entre pesquisadores e pesquisados, no sentido de propiciar a continuidade das entrevistas sem interferir ou prejudicar as respostas.

Na escolha dos entrevistados, houve um levantamento prévio a respeito dos possíveis interlocutores, em que consideramos as relações com o objeto de estudo e, posteriormente, efetivamos os primeiros contatos com cada pesquisado. Assim, escolhemos cinco pessoas, sendo um memorialista (J.M.A.), um responsável pela antiga gestão da administração pública municipal (C.M.C.), um responsável pela administração pública municipal atual (A.C.S.G.C), um fabricante e comerciante de pé de moleque (S.T.) e um morador do município (M.G.P.).

Os entrevistados trouxeram informações à reflexão, nas entrevistas realizadas no período declinado acima e com duração média de 1h30. As escolhas se deram pelo fato de essas pessoas terem condições de apresentar elementos que elucidariam as preocupações deste trabalho, por meio de seus relatos, e demonstrariam: (a) os aspectos históricos sobre a relação do doce pé de moleque com a cidade de Piranguinho; (b) como se deu o início do trabalho coligado entre as fábricas de doce com o poder público e o papel da pasta de Cultura para a propagação da identidade do município; (c) a possibilidade de recolhimento de memórias e dados documentais; (d) os processos do fazer constituídos nos saberes contidos no artefato, os quais extrapolam a produção do doce.

Por questões éticas e privacidade dos entrevistados, não serão declarados os nomes das pessoas, das empresas de fabricação e comercialização do doce, inclusive seus respectivos cargos ou funções, sendo apenas indicadas suas iniciais, mesmo tendo o consentimento dos entrevistados.

O material levantado foi sistematizado em blocos de análise -território; identidade coletiva; patrimônio – e as entrevistas foram gravadas e o áudio transcrito na integralidade, com a intenção de não se perder conteúdo das falas, mesmo com a possibilidade de estranhamentos, timidez ou receios que o gravador pudesse gerar. Assim, organizamos as entrevistas em dois questionários.

O primeiro, específico para os produtores de pé de moleque, contendo as seguintes questões: qual o histórico da sua produção? Qual o processo de produção do doce pé de moleque? Quais materiais são utilizados? Qual o local de origem dos materiais? Se não são oriundos de Piranguinho, por que não são produzidos localmente? Você utiliza alguma inovação? Explicar. Quantas e quais pessoas participam do processo de produção? Como a fábrica é organizada? Qual o escoamento da produção? Qual a importância da produção para o desenvolvimento de Piranguinho? O que é desenvolvimento para você? Há alguma dificuldade no processo de produção? Há alguma relação/associação entre os produtores de pé de moleque?

O segundo, em que abordamos os gestores públicos e agentes do desenvolvimento local com os seguintes questionamentos: qual o histórico da produção do pé de moleque em Piranguinho? Qual a importância da produção do pé de moleque para o desenvolvimento de Piranguinho? O que é desenvolvimento para você? Há alguma relação/associação entre os produtores de pé de moleque? Como foi a oficialização do processo artesanal de fabricação do pé de moleque como patrimônio cultural imaterial do Estado de Minas Gerais? Quais são as políticas públicas relacionadas ao pé de moleque?

O texto está organizado na seguinte estrutura: (1) em discutirmos teoricamente determinado conceito de desenvolvimento para, depois, contextualizarmos a história da cidade de Piranguinho, relacionando-a com as transformações provocadas pelo doce pé de moleque; (2) em refletirmos a questão territorial, compreendendo as possibilidades encontradas na microrregião para, por fim, (3) trabalharmos a questão do artefato com um bem patrimonial na formação da identidade coletiva e possíveis influências no processo de desenvolvimento local.

Em face das estratégias apontadas, esperamos apresentar argumentos que possam contribuir com respostas ao problema, questões e objetivo elaborados e, a partir desse lugar, estabelecermos um debate qualitativo sobre as preocupações do desenvolvimento em cidades de pequeno porte.

2 QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO: UM CONCEITO DE PARTIDA E POSSIBILIDADES

Privilegiamos o tema do desenvolvimento local, a partir de Dowbor (2016)DOWBOR, Ladislau. O gue é poder local? 1. ed. Imperatriz, MA: Editora Ética, 2016., para pensarmos os modos de organização de uma cidade de pequeno porte, bem como quais as estratégias político-administrativas e econômico-culturais são postas em prática para a elaboração das condições de um determinado desenvolvimento.

Na perspectiva de Pimenta (2014)PIMENTA, C. A. M. Tendências do desenvolvimento: elementos para reflexão sobre as dimensões sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, Taubaté, v. 10, n. 3, p. 44-66, 2014., os aspectos contemporâneos do conceito de desenvolvimento podem ser trabalhados em tom de tendências teóricas e práticas, no sentido de trajeto, caminhos ou rumos de organização social, da ciência, da sociedade, do meio ambiente, da economia e da condição humana fora, e para além, das métricas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ou de plataformas de desenvolvimento, vinculadas meramente às intencionalidades do crescimento econômico.

O ponto de partida do desenvolvimento que teorizamos consiste em suas potencialidades plurais, em outras lógicas de questionamentos ao crescimento tecnológico e econômico, com potencial de abertura de fontes econômicas e estruturas de produção comprometidas com o social, contrapondo aos entraves promovidos por sociedades competitivas e desiguais.

Pimenta e Mello (2014)PIMENTA, C.A. M; MELLO, Adilson da Silva. Entre doces, palhas e fibras: experiências de geração de renda em cidades de pequeno porte no sul de Minas Gerais. Estudos de Sociologia – Revista do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco. Recife, v. 1, n. 20, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revsocio/article/view/235507/28494. Acesso em: 26 fev. 2020.
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levam as discussões entre desenvolvimento e tecnologias para o campo da cultura, anexando questões vinculadas ao imaginário social e à noção de trabalho por meio das práticas, do ser, do sentir, do pensar e do saber-fazer. Reflexões importantes sobre a territorialidade, necessárias para transformação da definição do conceito de desenvolvimento.

O sentido que a palavra desenvolvimento pode denotar a sociedade é bastante amplo e com diversos significados, dependendo da perspectiva trabalhada pelo pesquisador. Em Saraiva (2015, p. 21)SARAIVA, Camila Nemitz de Oliveira. Gastronomia, cultura e desenvolvimento: um estudo no município de São Borja. 2015. 139 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, RS, 2015., apontamos que “[...] é preciso ter noção de que o termo pode ser visto de duas formas: uma como desenvolvimento econômico, que apresenta natureza quantitativa, e outra como desenvolvimento social, de caráter qualitativo”. Em desenvolvimento econômico, o foco nas ações sociais seria voltado à obtenção do lucro na forma de capital. Em desenvolvimento com perspectiva social, seria voltado a fatores que afetariam a qualidade de vida das pessoas.

Trata-se de um valor-definição historicamente inventado que representa perspectivas constantes de transformações. Em outros termos, o desenvolvimento enquanto definição não pode ser percebido somente por um viés economicista ou por demandas do mercado ou crescimento, visto que o social, o ambiental, o simbólico, a natureza, a vida humana e não humana compõem esse universo de coisas.

Para Siedenberg (2012, p. 79)SIEDENBERG, Dieter Rugard. Desenvolvimento sob múltiplos olhares. 1. ed. Ijuí: Unijuí, 2012., todas as estratégias de desenvolvimento visam, por um lado, “a sobreviver e prosperar” e, por outro lado, “a caracterizar e dinamizar territórios por meio de iniciativas que atendam ou respondam aos anseios da sociedade por uma melhor qualidade de vida”. Nas digressões aos municípios de pequeno porte, zonas rurais e comunidades, essas estratégias caracterizam as especificidades dos territórios, o que pode, conforme Saraiva (2015)SARAIVA, Camila Nemitz de Oliveira. Gastronomia, cultura e desenvolvimento: um estudo no município de São Borja. 2015. 139 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, RS, 2015., ser chamado de desenvolvimento local.

O desenvolvimento local pode ser considerado como um processo de organização no âmbito de ações locais em que a população em estudo, juntamente ao poder público, busca a melhoria das condições culturais, sociais, ambientais e econômicas das comunidades em questão (BRANDÃO, 2007BRANDÃO, Carlos. Território e desenvolvimento – as múltiplas escalas entre o local e global. Campinas: Unicamp, 2007.). Desse lugar, o desenvolvimento deve ser protagonizado pelos atores locais, pelas instituições privadas, políticas, organizações não governamentais e pelo próprio poder público, os quais organizam e formulam políticas e estratégias para o benefício da comunidade em que estão inseridos (PERIN, 2004PERIN, Zeferino. Desenvolvimento regional: um novo paradigma em construção. Erechim: EdiFAPES, 2004.).

3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: PIRANGUINHO, MG, E O DOCE PÉ DE MOLEQUE

A palavra Piranguinho, segundo Almeida e Renó (2008)ALMEIDA, Joaquim Mota; RENÓ, Zaluar Martins. Estação do Piranguinho: as origens e outros olhares. 1. ed. Itajubá, MG: Gráfica O Sul de Minas, 2008., ao apresentar a interpretação do toponimista Benedito Prezia, teria origem da palavra tupi Piranguim: “rio vermelho, o pequeno” (piranga: vermelho + y: rio + im [mirim]: pequeno). Implica conexões com elementos culturais que ultrapassam a existência formal do município.

A contextualização histórica do município ganha relevância nos encaminhamentos que propusemos, visto que o surgimento do artefato está imbricado com a constituição formal de Piranguinho, o que nos faz acatar as sugestões de Burke (2010, p. 153)BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna: Europa 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 2010., pois, para que possamos entender “[...] qualquer item cultural precisamos situá-lo no contexto, o que inclui seu contexto físico ou cenário social, público ou privado, dentro ou fora de casa, pois esse espaço físico ajuda a estruturar os eventos que nele ocorrem”.

Ao tomarmos por base a ideia do autor citado, devemos buscar situar a prática da confecção do pé de moleque com o tempo em que essa prática se iniciou no município, demonstrando, com isso, outros aspectos sociais que influenciaram nas transformações ocorridas durante o tempo histórico. Dentro desse aspecto, o depoimento de A.C.S.G.C. aponta a ligação da prática cultural do saber e do fazer do doce pé de moleque com a história da cidade:

A história do pé de moleque tá muito ligado com a história do município, né? [...], com a chegada da linha férrea, onde começa toda a história de Piranguinho, né? então, lá no início Piranguinho era conhecido por Engenho de Serra, era esse o primeiro nome de Piranguinho, tem-se o Ribeirão dos Porcos, [...] um pequeno riacho que banhava o nosso município, e ali foi instalado o engenho de serra, onde serrava os dormentes pra construção da linha férrea, então ali que começou o povoado de Piranguinho.

O vilarejo se originou com o advento da linha férrea Sopucohy2 2 “A Viação Férrea do Sapucaí, aberta como E. F. do Sapucaí em 1887, inaugurou o primeiro trecho de linha até Itajubá em 1891, partindo de Soledade, na E. F. Minas e Rio. Em 1897 chegou a Sapucaí, na divisa com São Paulo, tendo cedido o trecho que chegava a Itapira à Mogiana bem antes disso. Incorporada pela Rede Sul-Mineira em 1910, daí à RMV em 1931 e finalmente à RFFSA em 1971, os trens de passageiros deixaram de circular no final dos anos 70 e os trilhos foram retirados a partir de 1986.” Disponível em http://www.estacoesferroviarias.com.br/rmv_sapucai/rmv_ramal_sapucai.htm, acesso em 27 jan. 2020. , entre o final do século XIX e o início do século XX, sendo um distrito da cidade de São Caetano da Vargem Grande, atual cidade de Brazópolis. No período, o Brasil passava por uma modernização voltada à produção cafeeira e, com isso, a construção das linhas ferroviárias começou a se popularizar. E, com a idealização do desenvolvimento a partir do uso ferroviário, novas oportunidades surgiram para as regiões centrais do território, em que a produção, a partir de então, escoava-se com maior facilidade. As estradas de ferro impulsionaram a transformação do período imperial à primeira república, não somente no que diz respeito à produção de café, mas também à circulação de pessoas, bens e produtos.

Nas palavras do ex-prefeito da cidade: “Minas já era um grande Estado e crescia por essas bandas suas vilas! Um dia no ‘arto’ dessas serras, Maria fez fumaça e apitou [...] foi assim, devagarinho, que foi pintando o Piranguinho!” (RENO, 2013, p. 12). A relação entre a formação histórica de Piranguinho com a ferrovia está retratada na fala do ex-prefeito, na alusão à maria-fumaça.

A relação econômica no início do século XX se modificou com a introdução e propagação do transporte ferroviário. As fazendas escoavam seus produtos com maior velocidade, e os vilarejos próximos passaram a ter aproximações tanto no comércio de pequenos produtos como nas relações humanas. Por essa linha, a pesquisa de Lima (1934, p. 36)LIMA, Vasco de Castro. A estrada de ferro Sul de Minas: 1884-1930. São Paulo: COPAG, 1934. demonstra que

Os principais produtos exportados eram: café, pelas estações Afonso Pena, Pouso Alegre, Piranguinho, Borda da Mata e Francisco Sá; fumo das estações de Afonso Pena, Itajubá, Pouso Alegre, Piranguinho, Cristina, Maria da Fé, Olegário Maciel, S. Ferraz e Ribeiro; gado suíno, de Pouso Alegre e Olegário Maciel; Queijos, de Caxambu e Baependi; águas minerais de Caxambu; e toucinho de Piranguinho, Cristina, Maria da Fé, Olegário Maciel, Baependi, Silvestre Ferraz e Ribeiro.

As instalações férreas fizeram com que a produção na região ganhasse visibilidade dos outros estados e, consequentemente, o aumento do fluxo de pessoas entre as cidades. Para Andrade (2014, p. 168)ANDRADE, Alexandre Carvalho. Pouso Alegre (MG): expansão urbana e as dinâmicas socioespaciais em uma cidade média. 2014. 299 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, SP, 2014., “a posição geográfica do Sul de Minas colaborou para que [...] a região participasse com considerável importância no abastecimento, em especial através dos produtos agropecuários, do amplo mercado consumidor que foi se consolidando”.

A implantação das redes ferroviárias na região se deu por conta da tentativa de relação entre as áreas produtoras do sul de Minas Gerais com os mercados de São Paulo e do Rio de Janeiro. O transporte ferroviário e o uso dos rios interligavam os municípios e vilarejos da região. Na obra de Queiroz (1956, p. 58)QUEIROZ, Amadeu. Memória dos 7 aos 77. 1. ed. São Paulo: Cupolo Ltda, 1956., isso foi explicitado da seguinte forma: “[...] um rebocadorzinho escuro e ofegante, à frente de duas barcas carregadas, subia o Mandu [Rio], inaugurando o tráfego de cargas entre a cidade e a ponta dos trilhos no lugar do Piranguinho”. Em depoimento, J.M.A. nos diz que os barcos mascates que passavam por essa região tinham como principal produto de transporte os queijos que, em geral, eram trocados por outros produtos, como santos, agulhas de costura etc. A prática da troca entre mercadores era chamada de “pinga-pinga”, pois coisas pequenas eram utilizadas como moeda de troca.

Com relação ao doce pé de moleque, tomando como referência o relato de J.M.A., a produção e o comércio têm vínculos com a instalação da linha ferroviária, pois teriam começado

[...] em 1911, quando uma senhora que se chamava Neném Paca, [...] ela tinha uma barraca na estação que vendia ali sonho, que era muito falado, também muito conhecido, né? a canjica, [...] quem passasse de trem tinha o tempo necessário, né? e aí foi [...] o doce de amendoim, mais tarde passou a ser chamado, chamado não, porque o nome conhecido na Bahia já era pé de moleque [...].

O relato menciona “Neném Paca” como sendo a primeira pessoa em Piranguinho a produzir o artefato. Ela produzia juntamente a outros doces que eram vendidos na barraca localizada na própria estação de trem. Existem explicações diversas para o motivo do doce de amendoim receber o nome de “pé de moleque”. Desde 1911, quando Neném Paca produzia e vendia o doce na estação ferroviária, até a patrimonialização do saber e fazer do artefato, em 2009, várias mudanças ocorreram na estrutura social do vilarejo e na produção do doce pé de moleque.

Em meados de 1932, com a chegada da família de S.T. ao município, intensificou-se a produção do doce. No seu relato, aponta que seu avô era chefe da estação ferroviária e sua avó “[...] pra ojudor nos despesos do coso, na janela do estação elo começou o vender quitutes, inclusive elo começou a fazer um docinho de amendoim e assim foi durante alguns anos [...]”. Acrescenta que a família tinha acesso às atividades da estação ferroviária e passou a vender doces, inicialmente, na janela da estação e, posteriormente, dentro dos vagões. Salientou ainda que foi sua tia “[...] a grande cabeça aqui da Barraca, ela achou assim, que só vender no janela não tava assim, dando tanto lucro, vamos dizer assim [...]. Explicita que a ampliação das vendas só foi possível pelo fato de a família ter acesso às atividades desencadeadas na estação ferroviária e nos conta que seu pai era chefe da estação. S.T. disse: “[...] pai deixa a gente colocar uns moleques dentro do trem?” e foi colocado dois meninos que entravam com a bandejinha gritando: “Ó o pé de moleque de Piranguinho, ó o pé de moleque”. Este fato definiu o nome do artefato produzido na massa composta por amendoim e rapadura.

Para J.M.A., a nomenclatura dada ao doce está relacionada com os calçamentos popularizados no período do Brasil Império, fazendo alusão também às brincadeiras realizadas pelas crianças. Há, ainda, explicação que complementa essa alusão histórica, mas que, para o informante, é falsa, ou seja: “o menino roubou, tirou um pé de moleque de quem fazia e ele correu atrás do menino dizendo ‘não rouba não, pede moleque”. As controvérsias com relação ao nome do artefato contemplam os aspectos da constituição do imaginário e da identidade, bem como fornece sentido às histórias produzidas em torno do doce e do município.

Apontamos que a memória existe como um campo de investigação. Na proposição, apresentamos duas: (i) as dinâmicas da memória individual, ou seja, memória vivida ou lembranças marcantes de fatos que ocorreram durante a história particular, e, na perspectiva de Schmidt e Mahfoud (1993, p. 291)SCHMIDT, Maria L. S.; MAHFOUD, Miguel. Halbwachs: memória coletiva e experiência. Revista de Psicologia da USP, São Paulo, v. 4, n. 1/2, p. 285-98. 1993., “[...] pode ser entendida como um ponto de convergência de diferentes influências sociais e como uma forma particular de articulação das mesmas”; (ii) assume cunho coletivo ao apresentar-se no formato de memória estruturada, padronizada, a partir de um fato social total que afeta um grupo de pessoas ou comunidades (HALBWACHS, 1990HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990.).

No argumento de Domingues (2011, p. 38)DOMINGUES, Andrea Silva. A arte de falar: redescobrindo trajetórias e outras histórias da Colônia do Pulador Anastácio/MS. Jundiaí: Paco, 2011. 38 p., para a definição de memória, “é preciso também entendê-la como uma nova construção de narrativas num processo de alteração constante, ajustada de acordo com a realidade vivida por cada um”, destacando a lembrança do passado ativamente influente em relações do tempo presente.

Registramos que o primeiro comércio a trabalhar com a produção e venda do doce pé de moleque em Piranguinho teria sido a família de S.T. A história do doce pé de moleque tem ligações com a história do município de Piranguinho. Contudo, o doce ganhou representação de patrimônio imaterial, de símbolo de identidade local e de fortalecimento das políticas patrimoniais recentemente, em face das práticas e dos incentivos que serão trabalhados a seguir.

4 A MICRORREGIÃO DE ITAJUBÁ

A mesorregião político-administrativa denominada de sul do estado de Minas Gerais é composta por 10 microrregiões, com as seguintes nomenclaturas: microrregião de Passos, microrregião de São Sebastião do Paraíso, microrregião de Alfenas, microrregião de Varginha, microrregião de Poços de Caldas, microrregião de Pouso Alegre, microrregião de Santa Rita do Sapucaí, microrregião de Itajubá, microrregião de São Lourenço e microrregião de Andrelândia.

A microrregião de Itajubá - destacada abaixo, na Figura 1, com cor amarela - circunscreve-se pelos municípios de Brazópolis, Consolação, Cristina, Delfim Moreira, Dom Viçoso, Itajubá, Maria da Fé, Marmelópolis, Paraisópolis, Piranguçu, Piranguinho, Virgínia e Wenceslau Braz. Equivale apontarmos, com base nos estudos de Souza (2018, p. 37)SOUZA, Natacia Lamoglia. Desenvolvimento e cultura: implicações das Políticas Culturais Públicas na Dimensão Socioprodutiva da Microrregião de Itajubá (MG). 2018. 156 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade) – Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), Instituto de Engenharia de Produção e Gestão, Itajubá, MG, 2018., que a microrregião de Itajubá traz consigo:

Figura 1
Microrregiões do sul de Minas

[...] na sua composição geopolítica um conjunto de cidades que tentam manter e transmitir saberes-fazeres característicos, os quais são representados em atividades como o artesanato. Os municípios que compõem a microrregião são predominantemente rurais, destacando-se por práticas organizativas que se distanciam da lógica industrial dos grandes centros.

Estudar o artefato e suas correlações implica leituras que supõem questionamentos às modelizações de propostas de desenvolvimento. Implica também entendimentos que permitam visualizar as dinâmicas de organização espacial. Podemos dizer que o município de Piranguinho se caracteriza como de pequeno porte, “ponto de apoio” e de acesso para pessoas, serviços, escoamento de produção industrial e produtos agrícolas, tendo em vista que o município é cortado por rodovias federal (BR-459) e estadual (MG-295) que se conectam às autoestradas federais (Presidente Dutra e Fernão Dias), mas não tem um polo industrial como Itajubá, Santa Rita do Sapucaí ou Pouso Alegre, como exemplos.

As características do município de Piranguinho fornecem as possibilidades de surgimento de outras plataformas de desenvolvimento que agreguem o coletivo, a solidariedade, a geração de renda, a produção em detrimento do lucro rentista ou especulativo. Trata-se de transformação na perspectiva de desenvolvimento que incorpore um conjunto de práticas políticas (comércio combinado, produção de insumos locais com garantia de compra, como exemplos). Desse lugar de intervenções atribuídas ao poder público local, o artefato pé de moleque se traduz em uma das potencialidades de alavancagem político-econômica de alternativas de desenvolvimento local.

Um elemento que orienta o argumento é o de que todos os municípios da microrregião dependem do crescimento econômico de Itajubá e, do ponto de vista das correlações socioculturais e socioeconômicas da microrregião (no sentido da análise das proximidades), reforçamos que tal dependência não está apenas no campo geográfico, a começar pela questão populacional.

Na Tabela 1, abaixo, indicamos as diferenças populacionais entre os municípios da microrregião, a partir dos dados censitários do IBGE (2010 e 2019).

Tabela 1
Levantamento populacional dos municípios da microrregião de Itajubá

Esta tabela foi elaborada com a intenção de apresentarmos a discrepância da microrregião, tanto em relação à quantidade populacional como para as possíveis influências do município de Itajubá nas formas de organização dos demais municípios, desde um registro de compra e venda no cartório de imóveis, até as replicações de políticas de desenvolvimento. Para melhor visualização dos dados representativos do município de Piranguinho, os pesquisadores destacaram em negrito os dados da localidade e da cidade de Itajubá.

Em diálogos com moradores locais, podemos observar a forte relação de dependência que Piranguinho tem com Itajubá, pelo fato de esse ser o principal município da microrregião, mas também no que diz respeito às questões voltadas ao emprego formal e à venda de bens de consumo. Inclusive, porque Itajubá constituiu-se como referência educacional – unidades do SENAI e do SENAC, centros universitários, faculdades e universidade federal – e comporta atrativos – industriais e serviços – que auxiliam no entendimento de seu papel de microrregião.

Dessa perspectiva, o município de Piranguinho entende a relação de dependência, por vários fatores (fonte de empregos, mais recursos sociais, para citar alguns). Nas informações de campo, os entrevistados relataram que Piranguinho é um modelo de “cidade-dormitório”, mesmo reconhecendo sua importância na produção agrária, em razão dos trabalhadores que chegam para atuar nas fábricas e entidades educacionais do município de Itajubá, mas utilizam Piranguinho para moradia, tendo em vista menor custo de vida.

5 TERRITÓRIO, IDENTIDADE COLETIVA E PATRIMÔNIO

Cada sujeito carrega memórias pessoais, mas esse sujeito está inserido em um contexto social. Na sociedade, a memória individual sofre influências de outras memórias e, em Halbwachs (1990, p. 26)HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990., sobressai a noção de que a memória consiste em num fenômeno eminentemente coletivo, em que “[...] nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos”. A coletividade se mistura à individualidade, provocando uma relação entre elas, a ponto de ocorrer uma mistura entre o “eu” e o “social”. “Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam materialmente de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem” (HALBWACHS, 1990HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990., p. 26).

Castells (2000)CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. V. 2. apresenta a identidade coletiva e diz que a construção social da identidade ocorre por relações de poder entre formas e origens. Devemos refletir que as pessoas, mesmo em sua individualidade, são membros de um coletivo que chamamos de sociedade, formada por um processo de construção com base em um ou mais atributos culturais: como a língua, os costumes, a religião, as expressões artísticas ou culinárias, como é o caso do doce pé de moleque em Piranguinho.

Castells (2000, p. 22)CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. V. 2. problematiza identidade social como uma “fonte de significação e experiência de um povo”, formado por grupos com ligação vinculada ao local, estabelecendo uma identidade territorial, que pode ser desenvolvida a partir de elementos culturais, econômicos ou sociais. Por esse autor, observamos que o processo de globalização traz implicações ao local e, em determinadas situações, efetiva transformações nas identificações coletivas. Esse fenômeno nem sempre se estabelece com diálogos simétricos entre as interfaces do local com o global ou do global com o local. A identidade coletiva se configura por ser um ponto de intersecção entre as identidades individuais, as quais recebem influência dos aspectos culturais por elas compartilhados.

A Figura 2 retrata uma estátua que representa um menino vendendo o doce pé de moleque no município de Piranguinho. Trata-se de um monumento inaugurado durante a VII Festa do Maior Pé de Moleque do Mundo, no ano de 2012, esculpido pelo artista da microrregião Avelino Donizetti Ramos e localizado na entrada de Piranguinho, com proximidade com a BR-459 e com interligação à MG-295, fazendo com que transeuntes possam observá-la ao passarem pelo município.

Figura 2
Monumento “O Menino”

De trânsito intenso de automóveis de moradores ou de trabalhadores que vêm do Vale do Paraíba paulista ou de outros municípios da microrregião de Itajubá e do sul de Minas Gerais, o município é inclusive caminho e ponto de apoio de turistas e romeiros que se deslocam para Aparecida, sendo denominado de “Caminho da Fé”.

Por compartilhar de um código cultural, mesmo diante de interesses diferentes e individuais, as pessoas se transformam num grupo e podem viver juntas, no sentido de fazer parte de uma mesma totalidade, por meio da identificação do processo cultural local, regional ou nacional. Portanto, em torno do artefato, a construção da identidade de Piranguinho começou a ser representada com o slogan – ou venda da imagem do município – a “Capital Nacional do Pé de Moleque” (RENÓ, 2011RENÓ, Zaluar Martins; LIMA, Rosana Meire; PASSARO, Rosemeyre Maria dos Santos. Piranguinho: tempos e lugares de cidadania. Itajubá: Diagrarte Editora, 2011. V. II., p. 425) e ganhou força com valorização da Rodovia BR-459, enquanto lugar de tráfego de produtos e da instalação de pontos de comércio do doce de pé de moleque pelas chamadas barracas e suas cores.

Na pesquisa de Bernardes (2015, p. 60)BERNARDES, Elizabethe Aparecida Bittencour. Desenvolvimento local e sustentabilidade: o caso de Piranguinho-MG. 2015. 154 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimentos, Tecnologias e Sociedades) – Universidade Federal de Itajubá, Instituto de Engenharia de Produção e Gestão, Itajubá, MG, 2015., na entrevista realizada com o secretário de Governo e Desenvolvimento da Prefeitura Municipal de Piranguinho, na época, houve menção sobre a importância do doce para a identidade do município no seguinte sentido: “[...] em qualquer lugar do estado de Minas que você vá, falou que é de Piranguinho, a primeira pergunta é o doce!”. Na nossa pesquisa, surge uma informação semelhante à de Bernardes (2015)BERNARDES, Elizabethe Aparecida Bittencour. Desenvolvimento local e sustentabilidade: o caso de Piranguinho-MG. 2015. 154 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimentos, Tecnologias e Sociedades) – Universidade Federal de Itajubá, Instituto de Engenharia de Produção e Gestão, Itajubá, MG, 2015.. C.M.C., ao ser abordado sobre o valor do artefato à construção da identidade local, diz que “[...] o pé de moleque é o forte, né? Tonto que todo lugar que a gente vai e a gente fala que é de Piranguinho é o pé de moleque que é falado”.

Os relatos apontados demonstram a relevância do artefato ao município, ultrapassando a dimensão do econômico, visto que se conecta com um conjunto de outras referências socioculturais e simbólicas que fornecem sentido às questões da identidade coletiva local: a “maior festa do pé de moleque do mundo”; o “orgulho das barracas e suas cores espalhadas pelas rodovias BR-459 e MG-295"; “falou de Piranguinho é falar do pé de moleque”.

O artefato ganha expressividade estadual com a promulgação da Lei n. 18.057/2009, a qual “declara patrimônio cultural do Estado de Minas Gerais o processo artesanal de fabricação do doce denominado Pé de Moleque produzido no município de Piranguinho”. A lei oficializa um processo cultural que se tornou símbolo representativo aos munícipes e município. Embora a lei tenha apelo institucional, demonstra a importância aplicada à construção da identidade e das práticas culturais do lugar.

S.T. nos conta que, diante do apoio de autoridades políticas e civis, a oficialização do artefato como patrimônio cultural trouxe prestígio e visibilidade ao doce e ao município, especialmente nos anúncios publicitários, quer seja pelo poder público, quer seja pelos fabricantes-comerciantes do pé de moleque. Trouxe também um deslocamento da prática artesanal do fazer do doce para processos industriais e, diante dos indicativos de industrialização do artefato, não inviabilizou a dimensão artesanal do fazer do artefato, pois ainda se contemplam as práticas e manifestações tradicionais de produção do pé de moleque, traduzidas em espaços divididos entre o homem e as máquinas.

C.M.C. também nos relata como ocorreu o processo de registro do saber-fazer do doce pé de moleque no estado de Minas Gerais. Na descrição, informa que se realizou levantamento histórico sobre a prática e a importância dessa ao lugar, cujo processo teve a participação efetiva de dois munícipes: “[...] o Zoluor foi muito importante, [...] o Joaquim, [...] foram muito importantes pra fazer esse resgate histórico, o Joaquim tinha um acervo de memória muito grande e o Zaluar, tinha o Grupo de Estudos Pesquisa e História, que é o NEPHIS [...]”.

Acrescenta no relato que o levantamento histórico do bem a ser tombado ou registrado é um elemento fundamental, uma vez que a oficialização do registro ou tombamento é necessária para a comprovação do significado atribuído ao patrimônio, no caso, o pé de moleque, enquanto fonte de memória e identidade do lugar. E enfatiza que: “[...] nós fizemos todo um levantamento da história, e depois um levantamento da produção, como que era produzido, de quanto que era produzido por fábrica [...]”, o que pressupõe relevantes os modos contidos no saber e no fazer do artefato, bem como da quantidade de produção, caracterizados como requisitos à oficialização do processo de registro.

Sobre a instituição da lei, o morador M.G.P. salientou que a oficialização do pé de moleque como patrimônio cultural imaterial foi essencial para a manutenção da tradição local, mas também produziu dinamismos às questões econômicas, relacionadas à criação da festa do pé de moleque, ao aumento das barracas no município e às relações de orgulho dos munícipes associados ao artefato.

No depoimento de M.G.P., evidenciam-se os percursos do estabelecimento do pé de moleque como uma tradição, considerando seus modos de confecção e as dimensões do significado e sentido atribuído do artefato aos munícipes e município, mas também com um resultado do papel patrimonial oficializado pelo estado de Minas Gerais sobre o pé de moleque de Piranguinho.

O artefato pé de moleque “era simplesmente um doce”, no entendimento de M.G.P. Para ele, o doce não era apresentado pela representatividade à identidade do município, visto que qualquer município poderia fabricá-lo, mas, com a oficialização, começa a ser um dos produtos responsáveis por fortalecer a representação da identidade de Piranguinho e dos piranguinhenses.

Um resultado direto e imediato da lei foi o aumento do ICMS cultural ao município, trazendo consigo o conceito de elemento de culinária local, forte instrumento de assimilação cultural. Na perspectiva de Giard (1996, p. 250)GIARD, L. Cozinhar. In: CERTEAU, Michel (Org). A invenção do cotidiano - morar, cozinhar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996., o ato de comer “não serve apenas para manter a máquina biológica do nosso corpo”, pois concretiza “um dos modos de relação entre as pessoas e o mundo, desenhando assim uma de suas referências fundamentais no espaço-tempo”.

Ao pensarmos o doce no campo da culinária, associado às dimensões do espaço-tempo, evidenciamos os aspectos sociais e culturais que se entrecruzam e se modificam nas dinâmicas no processo de construção da identidade coletiva de um determinado lugar. Em outros termos, os costumes alimentares se configuram como símbolos da identidade cultural e, por esses costumes, descortinam-se aspectos da história, da cultura e da vida social de um grupo.

Em face do mercado do doce de pé de moleque, houve o surgimento de inúmeras fábricas (artesanais e industriais), diversos pequenos comércios no município de Piranguinho. Todas as barracas estão estabelecidas às margens da BR-459 e MG-295, dentro dos limites urbanos do município. Ressalta-se que as barracas estão vinculadas às fábricas, com administração familiar e cores que as diferenciam: azul, vermelho, laranja, amarelo, verde, branco, preto, prata, marrom e assim por diante.

A mais antiga, devido ao tempo de criação, é a Barraca Vermelha, e sua produção teve início nos anos de 1936. As demais são datadas posteriormente ao ano de 1960. A Barraca Azul iniciou seu trabalho no ano de 1969, e a Barraca Amarela do Zezinho está no comércio do pé de moleque desde 1974. Outras barracas começaram a entrar no ramo em meados da década de 1980. Essas fábricas e barracas são responsáveis por gerar empregos diretamente e indiretamente.

A festa do pé de moleque passou a ter maior investimento do poder público local e participação volumosa de pessoas de toda a microrregião e municípios circunvizinhos, fortalecendo o sentimento de pertencimento local, quanto à propaganda sobre o produto e sobre a cidade. Na fala de C.M.C., esse sentimento fica explicado: “[...] o Festo do Moior Pé de Moleque do Mundo, [...] que teve a ideia de fazer, de retomar a festa do pé de moleque, que já tinha acontecido duas festas e assim, isoladas [...]”.

À medida que o evento aumenta em proporção e alcance, observamos, a partir dos argumentos dos gestores públicos, que a organização da festa valoriza a parceria entre o poder público e os empresários locais. No relato de C.M.C., essa parceria aconteceu entre os anos de 1998-99 e “[...] depois outra em 2002 [...] e em 2005 nós tivemos a experiência de fazer uma festa junina. [...] foi dentro do mandato do Adoniran, o primeiro ano dele na prefeitura [...]”. A festa junina, o doce e os incrementos da parceira da prefeitura com as barracas fizeram o ressurgimento das ações culturais do município, tendo o pé de moleque como objeto simbólico central.

A parceria entre prefeitura e barracas é parte da organização da festa do pé de moleque. Para C.M.C., o que fizemos no município foi chamar os produtores “[...] pra discussão e surgiu a ideia de fazer o maior pé de moleque do mundo, então foi o que agregou, né? os produtores pra poder fazer essa, [...] maior pé de moleque do mundo [...]”.

Estudar o artefato, por intermédio da festa (ou das movimentações dos munícipes em torno da festa), impõe entendimentos dos papéis e interesses da junção das colaborações entre público e privado. A prefeitura teve o auxílio dos produtores de doce para a realização do festejo, mas havia incertezas e dúvidas sobre o alcance do retorno e da importância aglutinadora do produto.

Dentro desse receio, em 2005, caracterizado pelas partes envolvidas na organização das festividades, C.M.C. salienta: “[...] nós tivemos uma dificuldade enorme de fazer contato com a televisão e de convencer. [...] veio a EPTV pra filmar e veio a TV Alterosa na primeira edição”. Por não haver uma convicção do retorno financeiro dos investimentos, a festa começou tímida e foi ganhando consistência ano a ano. Na informação de C.M.C.,

[...] no outro ano a gente só mandava o cartaz eles já entravam em contato falando que vinha. [...] chegou em 2013 deu visibilidade dentro do Programa do Ratinho, depois 2014 de novo, 2015 tivemos [...] reportagem do Faustão aqui, [...], chegaram vim até a fazer link ao vivo, [...] passando no jornal da EPTV [...] foi bem interessante esse processo de visibilidade [...].

Desde então, o artefato é utilizado como um elemento de representação da identidade do município de Piranguinho, divulgado nas comunicações e vendas de sua imagem como sendo a “Capital Nacional do Pé de Moleque” ou “Festa do Maior Pé de Moleque do Mundo”.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O saber-fazer do doce pé de moleque, registrado como patrimônio cultural imaterial do estado de Minas Gerais, pode ser compartilhado nos eventos que fazem alusão a essa prática e por meio da divulgação que Piranguinho ganha devido às propagandas, mas também pode ser um elemento de propulsão do desenvolvimento local.

Na sistematização dos dados, observamos que a cultura e a identidade têm relevância para as dinâmicas nos trajetos de desenvolvimento do lugar (e da microrregião de Itajubá) e se expressam por meio do saber-fazer do doce, patrimônio cultural, bem como formam a identidade coletiva. Portanto, por meio do artefato, vislumbra-se determinada compreensão da construção da identidade local, com base nas relações travadas entre o município, agentes de desenvolvimento e munícipes, não sem estranhamentos, controversas e conflitos, os quais se estabilizam em torno da festa, do doce, do imaginário, da identidade, da pertença e das possibilidades de ganhos (social, cultural, econômico e simbólico).

A relação entre o poder público e a iniciativa privada é observada quando levamos em conta a organização da festa e da rede de relações cotidianas em torno do doce. Nesse sentido, citamos eventos que se relacionam à identidade construída, atividades que vão sendo agendadas no calendário cultural da cidade: (a) Enduro a Pé de Moleque, consiste em disputas com equipes em trilhas pela natureza. Trata-se de evento esportivo organizado com o apoio do Circuito Turístico Caminhos da Mantiqueira; (b) Copa Pé de Moleque de Futebol, campeonato organizado para as crianças no município; (c) obras de artes e prédios em alusão ao artefato, cada vez mais encontrados em praças e lugares públicos no município.

A invenção do artefato pé de moleque como elemento simbólico da cultura local esbarra em questões controversas presentes nas relações internas do município. Mesmo com o reconhecimento local, Piranguinho não produz as matérias-primas do doce pé de moleque (rapadura e amendoim), muito menos tecnologia e equipamentos, sendo necessária a importação desses bens e insumos de outros lugares. Esse fato poderia fortalecer a agricultura local e uma rede de colaboração.

Em outros termos, não existe uma associação oficializada entre os produtores para intensificar mediações com o poder público, sendo essas limitadas às reuniões de preparativos à festa do doce, as quais envolvem os fabricantes de doce, comerciantes, donos de hotéis e agentes do desenvolvimento.

AGRADECIMENTO

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG – PPM X, Processo: PPM-00548-16) pelo financiamento do projeto “Observatório de Desenvolvimento e Cultura no Sul de Minas Gerais”.

  • 2
    “A Viação Férrea do Sapucaí, aberta como E. F. do Sapucaí em 1887, inaugurou o primeiro trecho de linha até Itajubá em 1891, partindo de Soledade, na E. F. Minas e Rio. Em 1897 chegou a Sapucaí, na divisa com São Paulo, tendo cedido o trecho que chegava a Itapira à Mogiana bem antes disso. Incorporada pela Rede Sul-Mineira em 1910, daí à RMV em 1931 e finalmente à RFFSA em 1971, os trens de passageiros deixaram de circular no final dos anos 70 e os trilhos foram retirados a partir de 1986.” Disponível em http://www.estacoesferroviarias.com.br/rmv_sapucai/rmv_ramal_sapucai.htm, acesso em 27 jan. 2020.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2022

Histórico

  • Recebido
    03 Mar 2020
  • Revisado
    09 Set 2020
  • Aceito
    16 Set 2020
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