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Sintaxe do espaço de praças como signo para regeneração urbana turística: Praça Mauá e Praça XV, Rio de Janeiro

Syntax of the square space as sign for urban tourism regeneration: Mauá Square and XV Square, Rio de Janeiro

Sintaxis del espacio de plazas como signo de regeneración urbana turística: Plaza Mauá y Plaza XV, Rio de Janeiro

Resumo

A pesquisa teve como temas: regeneração urbana, urbanização turística e espaço público; o objeto da pesquisa se constituiu nas praças XV e Mauá, do destino turístico urbano da cidade do Rio de Janeiro (RJ, Brasil). O objetivo da pesquisa foi demonstrar o papel da sintaxe do espaço como atributo para a regeneração urbana turística, diante da discussão predominantemente pautada pela crítica socioeconômica dentro dos temas envolvidos. Para tanto, adotaram-se, como procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica a partir de métrica bibliográfica acerca do tema e objeto de pesquisa, análise documental e levantamentos do uso do espaço ao se tomar o instrumental da Teoria da Sintaxe Espacial como método de abordagem dos dados coletados. Os resultados demonstraram que a Teoria da Sintaxe Espacial pode ser contributiva à teoria lefebvriana da produção do espaço, ao mesmo tempo que a teoria da produção do espaço, em sua vertente de “espaço percebido”, pode se servir da Teoria da Sintaxe Espacial como instrumentalidade. Aponta-se a necessidade de inserção das categorias lefebvrianas da produção do espaço diante de uma análise essencialmente sintática do espaço ou uma análise essencialmente socioeconômica do território turístico; parece que seria uma simplificação ou um reducionismo apontar apenas atributos espaciais ou apenas atributos sociais (socioeconômicos, na maioria das vezes) como responsáveis pelo desempenho do espaço público de praças em destinos turísticos urbanos.

Palavras-chave
regeneração urbana; urbanização turística; Rio de Janeiro; Praça Mauá; Praça XV

Abstract

The research had as its themes: urban regeneration, tourist urbanization, and public space; the object of the research was the squares XV and Mauá, of the urban tourist destination of the city of Rio de Janeiro (RJ, Brazil). The aim of the research was to demonstrate the role of space syntax as an attribute for tourist urban regeneration, in view of the discussion predominantly guided by socioeconomic criticism within the themes involved. To this end, as methodological procedures we used a bibliographic review based on bibliographic metrics about the themes and object of research, document analysis, and surveys of the use of space were adopted when taking the instruments of the Theory of Space Syntax as method of approaching the data collected. The results showed that the Theory of Space Syntax can be contributory to the Henri Lefebvre theory of space production; at the same time that the theory of the production of space, in its aspect of “perceived space”, can use the Theory of Space Syntax as instrumentality. The need to insert the Henri Lefebvre categories of space production is pointed out in the face of an essentially syntactic analysis of space or an essentially socioeconomic analysis of the tourist territory; it seems that it would be a simplification or a reductionism to point out only spatial attributes or only social attributes (socio-economic in most cases) as responsible for the performance of the public space of squares in urban tourist destinations.

Keywords
urban regeneration; tourist urbanization; Rio de Janeiro; Maua Square; XV Square

Resumen

La investigación tuvo como temas: regeneración urbana, urbanización turística y espacio público; el objeto de la investigación se constituyó en las plazas XV y Mauá, del destino turístico urbano de la ciudad de Rio de Janeiro (RJ, Brasil). El objetivo de la investigación fue demostrar el papel de la sintaxis espacial como atributo para la regeneración urbana turística, frente a la discusión predominantemente guiada por la crítica socioeconómica dentro de los temas involucrados. Por lo tanto, como procedimientos metodológicos, se adoptó una revisión bibliográfica a partir de métricas bibliográficas sobre el tema y objeto de investigación, análisis de documentos y levantamientos de uso del espacio al tomar los instrumentos de la Teoría de la Sintaxis Espacial como método de aproximación a los datos recogidos. Los resultados mostraron que la Teoría de la Sintaxis del Espacio puede contribuir a la teoría lefebvriana de la producción del espacio, al mismo tiempo que la teoría de la producción del espacio, en su aspecto de “espacio percibido”, puede utilizar como instrumento la Teoría de la Sintaxis del Espacio. Se señala la necesidad de insertar las categorías lefebvrianas de producción espacial frente a un análisis esencialmente sintáctico del espacio o un análisis esencialmente socioeconómico del territorio turístico; parece que sería una simplificación o un reduccionismo señalar sólo los atributos espaciales o sólo los atributos sociales (socioeconómicos en la mayoría de los casos) como responsables del desempeño del espacio público de las plazas en los destinos turísticos urbanos.

Palabras clave
PNAE; agricultura familiar; mercado institucional; alimentación escolar

1 INTRODUÇÃO

Bauman (1988)BAUMAN, Z. Sociology and postmodernity. Sociological Review, [s.l.], v. 34, n. 4, p. 790-813, 1988. identificou que cidades voltadas para o turismo se apresentam como urbanização para o consumo de bens de serviços e do prazer, tratando-se de manifestação temporal pós-fordista, que pode explicar o surgimento da pós-modernidade. Cidades ou parte de cidades são edificadas pelo empreendimento turístico e, por isso, tais cidades ou parte delas se produzem enquanto território para o consumo (FREYTAG; BAUDER, 2018FREYTAG, T.; BAUDER, M. Botton-up touristification and urban transformation in Paris. Tourism Geographies, [s.l.], v. 20, n. 3, p. 443-60, 2018.; MARCÚS et al., 2019MARCÚS, J.; MANSANILLA, J. A.; BOY, M.; YANES, S.; ARICÓ, G. La Ciudad Mercancia: Turistificación, Renovación Urbana y Políticas de control del espacio público. Buenos Aires: Teseo Press, 2019.; MULLINS, 1991MULLINS, P. Tourism Urbanization. International Journal of Urban Regional Research, [s.l.], v. 15, n. 3, p. 326-42, 1991.). Para Cruz (2002)CRUZ, R. C. A. Política de turismo e território. São Paulo: Contexto, 2002., o turismo consome o território (produto fixo), que recebe o consumidor pelos deslocamentos (fluxo) até o produto a ser consumido (território). Pereira (2015)PEREIRA, R. M. F. A. Turismo e dinâmica sócio espacial do litoral de Santa Catarina. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, v. 9, n. 3, p. 554-67, 2015. demonstra que o turismo é atividade econômica capitalista relacionada à oferta e demanda (social) de serviços e produtos de bens de consumo que se expressam no território. Carlos (2001)CARLOS, A. F. A. São Paulo hoje: as contradições no processo de reprodução do espaço. Scripta Nova, Barcelona, v. 6, n. 8, p. 1-13, 2001. propõe que a urbanização turística expõe um território interpretado para o mercado, transpondo a produção do território como valor de uso para um território como valor de troca.

O destino citadino turístico e a imagem de seus espaços públicos também têm sido abordados por vieses econômicos, em que turistas são julgados com perfil adequado ou não para o destino estudado (HOSANY; MARTIN, 2012HOSANY, S.; MARTIN, D. Self-image congruence in consumer behavior. Journal of Business Research, [s.l.], v. 65, n. 5, p. 685-91, 2012.). Da mesma forma, pesquisas mostram que a imagem de espaços públicos do destino turístico pode ser interpretada a partir de escolhas socioeconômicas inerentes aos turistas (AHN et al., 2013AHN, T.; EKINCI, Y.; LI, G. Self-congruence, functional congruence and destination choice. Journal of Business Research, [s.l.], v. 66, n. 6, p. 719-23, 2013.; KAMINS; GRUPTA, 1994KAMINS, M. A.; GRUPTA, K. Congruence between spokesperson and product type: a matchup hypothesis perspective. Psychology & Marketing, [s.l.], v. 11, n. 6, p. 569-86, 1994.), bem como a imagem do espaço público do destino turístico pode ser um fator para análise socioeconômica do perfil do turista (HATFIELD et al., 1994HATFIELD, E.; CACIOPPO, J.; RAPSON, R. Emotional contagion. Current Directions in Psychological Science, [s.l.], v. 2, p. 92-9, 1994.).

Com as considerações acima, pode-se estabelecer um problema de pesquisa: há explanações para o fenômeno da cidade turística, ou parte de cidade turística, pautadas por uma abordagem socioeconômica na produção do espaço turístico urbano. Dessa forma, Carlos (2002)CARLOS, A. F. A. A geografia brasileira, hoje: algumas reflexões. Terra Livre, São Paulo, v. 1, n. 18, 161-78, 2002. propõe que estudos do território turístico têm, por um lado, pesquisas voltadas para a interpretação socioeconômica na reprodução do território, e, por outro lado, há uma necessidade de estudos que considerem o espaço na reprodução do território. Os primeiros pesquisadores que estudaram a ocupação do território urbano foram geógrafos (sobretudo), mas identificavam o turismo como atividade marginal (ASHWORTH; PAGE, 2011ASHWORTH, G.; PAGE, S. J. Urban tourism research: Recent progress and current paradoxes. Tourism Management, [s.l.], v. 32, n. 1, p. 1-15, 2011.). Porém, há estudos da Geografia contemporânea que consideram o espaço como atributo significativo no debate social crítico, considerando-se uma dialética socioespacial (LEFEBVRE, 1992LEFEBVRE, H. The production of space. New York: Wiley, 1992.; LEFEBVRE, 2001LEFEBVRE, H. . direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.; SOJA, 1988SOJA, E. Post modems geographies: the reassertion of space in critical social theory. London: Verso, 1988.). Lefebvre (2001)LEFEBVRE, H. . direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001., por exemplo, considera o espaço na teoria social crítica ao afirmar que um núcleo urbano é um produto de consumo; mas, ao mesmo tempo, esse núcleo urbano é consumo de espaço. Vale assinalar que tais teorias da Geografia contemporânea não utilizaram efetivamente a urbanização turística como alvo de suas discussões, daí o caráter inovador desta pesquisa e o desdobramento da pergunta de pesquisa: atributos sintáticos espaciais podem contribuir com a regeneração urbana turística?

Como resposta à pergunta de pesquisa, Aguiar (2012)AGUIAR, D. Urbanidade e qualidade da cidade. In: AGUIAR, D.; NETTOM, V. M. (Org.). Urbanidades. Rio de Janeiro: Foglio Digital, 2012. p. 61-80. já propôs que a sintaxe urbana é atributo material que influencia na atitude social das pessoas ao usarem espaços públicos. Holanda (2012)HOLANDA, F. D. Urbanidade: arquitetônica e social. In: AGUIAR, D.; NETTO, V. M. (Org.). Urbanidades. Rio de Janeiro: Foglio Digital, 2012. p. 163-87. considerou que condições sociais necessitam de fatores arquitetônicos (espaciais) e Borba (2015)BORBA, V. S. . influência de características morfológicas no desempenho e apropriação de espaços urbanos: estudo de caso Charqueadas – RS. 2015. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. inferiu sobre o papel da morfologia (sintaxe do espaço) para apropriação de espaços urbanos. Nota-se, então, que Aguiar (2012)AGUIAR, D. Urbanidade e qualidade da cidade. In: AGUIAR, D.; NETTOM, V. M. (Org.). Urbanidades. Rio de Janeiro: Foglio Digital, 2012. p. 61-80., Holanda (2012)HOLANDA, F. D. Urbanidade: arquitetônica e social. In: AGUIAR, D.; NETTO, V. M. (Org.). Urbanidades. Rio de Janeiro: Foglio Digital, 2012. p. 163-87. e Borba (2015)BORBA, V. S. . influência de características morfológicas no desempenho e apropriação de espaços urbanos: estudo de caso Charqueadas – RS. 2015. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. não utilizaram o espaço urbano turístico para construírem suas considerações. Portanto, a hipótese de pesquisa direcionou o objetivo da pesquisa: demonstrar o papel da sintaxe do espaço como atributo para a regeneração urbana turística, diante da discussão predominantemente pautada pela crítica socioeconômica dentro das temáticas envolvidas.

Justifica-se a metodologia desta pesquisa pelo fato de a Teoria da Sintaxe Espacial ter sido pouco utilizada em espaços públicos de urbanização turística. Justifica-se o objeto de estudo pela condição de o Rio de Janeiro estar localizado na costa brasileira, porque Mullins (1991)MULLINS, P. Tourism Urbanization. International Journal of Urban Regional Research, [s.l.], v. 15, n. 3, p. 326-42, 1991. demonstrou que a urbanização turística tem aderência em ambientes naturais (sobretudo de “sol e mar”) em suas pesquisas em Sunshine Coast e Gold Coast (Austrália). De outro modo, Gladstone (1998)GLADSTONE, D. L. Tourism urbanization in United States. Urban Affairs Review, [s.l.], v. 34, p. 3-27, 1998. propôs que núcleos urbanos com turismo cultural (caso das praças XV e Mauá no Rio de Janeiro) são particularidades notáveis para a urbanização turística. As praças XV e Mauá foram o objeto da pesquisa, por serem logradouros importantes na formação da imagem turística da cidade do Rio de Janeiro (RAMALHO, 2015RAMALHO, G. Uma nova praça Mauá ressurge dos tapumes. O Globo [online], Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=foh&AN=broglobotxt416098⟨=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 25 set. 2018.
http://search.ebscohost.com/login.aspx?d...
; TRENTIN; NASCIMENTO, 2011TRENTIN, F.; NASCIMENTO, L. L. Políticas públicas para o desenvolvimento do turismo cultural na Praça XV de Novembro. Interações, Campo Grande, v. 12, n. 2, p. 161-73, 2011.). Sob o foco da formulação teórica e de condições empíricas do objeto de pesquisa, este estudo se justifica pela aproximação de duas abordagens e seus fenômenos – regeneração urbana e urbanização turística – ainda pouco estudados conjuntamente e oportunizando uma nova abordagem – regeneração urbana turística. O tema da pesquisa se justifica pela necessidade de abordar o turismo como foco de análise das cidades (PIMENTEL; CASTROGIOVANNI, 2015PIMENTEL, M. R.; CASTROGIOVANNI, A. C. Geografia e Turismo: em busca de uma interação complexa. Rosa dos Ventos, Caxias do Sul, v. 7, n. 3, p. 440-58, 2015.), uma vez que também elas são os principais núcleos emissores e receptores de turistas (PAIVA; VARGAS, 2013PAIVA, R. A.; VARGAS, H. C. Sobre a relação turismo e urbanização. Revista do Programa de Pós-graduação em Arguitetura e Urbanismo da FAUUSP, São Paulo, v. 20, n. 33, p. 126-45, 2013.) e, sobretudo, porque o turismo altera a forma, a distribuição e a relação com outros usos da cidade (XI; ZHAO; KONG, 2014XI, J.; ZHAO, M.; GE, Q.; KONG, Q. Changes in land use of a village driven by over 25 years of tourism: the case of Gougezhuang village, China. Land Use Policy, [s.l.], v. 40, p. 119-30, 2014.).

2 METODOLOGIA

Tratou-se de uma pesquisa quantitativa, devido à natureza dos dados coletados indicados pela Teoria da Sintaxe Espacial; ao mesmo tempo, tratou-se de pesquisa qualitativa, em razão da forma de análise dos dados coletados e descrição do espaço in loco. A fundamentação teórica e o objeto de pesquisa foram pautados pelos conceitos de urbanização turística e regeneração urbana como palavras-chave que direcionaram a métrica bibliográfica em portais virtuais de pesquisa. As ferramentas e os procedimentos de pesquisa foram sustentados pela Teoria da Sintaxe Espacial (HILLIER.; HANSON, 1984HILLIER, B.; HANSON, J. The Social Logic of Space. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.) como método interpretativo de análise dos dados coletados: identificação da axialidade, seguindo-se coleta de dados por meio de gráficos com avaliações numéricas. Esses gráficos foram incrementados com análise qualitativa e empírica do espaço in loco, permitindo-se correlações de índices matemáticos encontrados (topológicos) em suas diversas variáveis (avaliadas de 0 a 5). A eleição de categorias de análise qualitativas foi feita com o intuito de explicar a forma urbana (sintaxe espacial) como atributo do uso do espaço. Dessa maneira, foram utilizadas as categorias de análise a partir de Tenório (2012)TENÓRIO, G. S. Ao desocupado em cima da ponte. 2012. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2012.: legibilidade, versatilidade/ diversidade de usos, atividades no local, riquezas perceptivas e condições de segurança.

Como procedimentos de pesquisa, a Teoria da Sintaxe Espacial recomenda que não se façam levantamentos de dados em dias de chuva; por isso, foram escolhidos dias “secos” para tanto, sendo dois dias de outubro de 2018 (na baixa temporada turística) e dois dias em janeiro de 2019 (na alta temporada turística). Os horários para medição e observação in loco foram às 10h, 12h, 16h, 20h e 22h, para cada dia acima citado. O método recomenda a medição e observação in loco por 10 minutos, para cada horário de observação e medição. Foram considerados apenas os ocupantes das praças, excetuando-se agentes de segurança e quaisquer outros servidores de limpeza, manutenção etc.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Observou-se que as praças estudadas já possuíam importância dentro da cidade do Rio de Janeiro e, ao sofrerem intervenções recentes (regeneração urbana), sobretudo com o advento de grandes eventos esportivos mundiais (Copa do Mundo e Olimpíadas), denotaram um direcionamento para atividade turística (urbanização turística).

3.1 Urbanização Turística

São quatro situações essenciais para a atividade turística: trade e stakeholders (agentes privados e públicos), transporte, turista e espaço físico como destino (seja natural, seja construído) (AMPOSTA, 2015AMPOSTA, J. B. Tourism destination management: an overview of the advances of California. Tourismos, [s.l.], v. 10, n.2, p. 185-98, 2015.); e, como espaço físico construído, incluem-se cidades como destinações turísticas urbanas.

Com essa concepção de destinos turísticos urbanos, é possível observar que muitos deles são partes de cidades ou até cidades inteiras onde a urbanização ou reurbanização está imbuída pela atividade turística, porque o desenho urbano de lugares para o turismo procura rentabilidades do capital, amparadas no consumo turístico e na necessidade de espaços urbanos dotados de estruturas e infraestruturas que atendam às ofertas e demandas turísticas; trata-se de novos edifícios com caráter para recreação, qualidade de estruturas e infraestruturas (saneamento básico, energia elétrica, coleta e tratamento de lixo, entre outras) e oferta de serviços como entretenimento, gastronomia, instalações de treinamento de mão de obra, instalações médicas, entre outros) (MAKOWSKA-ISKIERKA, 2013MAKOWSKA-ISKIERKA, M. Spatial and morphological effects of tourism urbanization in the Lods Metropolitan Area. Tourism, [s.l.], v. 23, n. 2, p. 33-42, 2013.).

Na urbanização turística, geralmente são adotadas características urbanas e arquitetônicas “codificadas” de repertório espacial turístico, em que novas áreas urbanas e novas edificações convivem com áreas urbanas e edificações antigas, mas sempre com o viés de fornecer para o turista uma experiência de patrimônio específico daquele lugar (KÖRÖSSY; CORDEIRO; SIMÕES, 2014KÖROSSY, N.; CORDEIRO, I. D.; SIMÕES, J. M. H. La génisis de las ciudades turísticas. Estudios y Perspectivas en Turismo, Buenos Aires, vol. 23, núm. 1, p. 176-89, 2014.), de sorte que o patrimônio é parte de políticas urbanas vinculadas à economia e ao território, como que um conjunto de símbolos que fomentam a cultura como atração local para atividades produtivas agregadoras de bens, serviços e qualidade ambiental (MESENTIER, 2005MENSENTIER, L. M. Patrimônio urbano, construção da memória social e da cidadania. Vivência, Natal, v. 28, p. 167-77, 2005.).

Kaur (1981)KAUR, J. Methodological Approach to Scenic Resource Assessment. Tourism Recreation Research, [s.l.], v. 6, n. 1, p. 19-22, 1981. demonstrou que atrativos turísticos urbanos ocasionam especificidades ambientais dentro da malha urbana; por isso, a atividade turística modifica, muitas vezes, por meio da urbanização, o uso do território, em razão de refuncionalização ou reapropriação, com o objetivo de regenerar aquele território.

Desse modo, partes de cidades que se voltaram para a atividade turística se diferenciaram de outras partes da cidade e até de seu entorno imediato, criando-se enclaves territoriais e segregação (SILVEIRA, 2015SILVEIRA, M. L. América Latina: cidade, campo e turismo. São Paulo: CLACSO, 2015.). Nessa condição, estudos demonstraram que, quando a urbanização é feita essencialmente por empreendedores do ramo turístico, preponderantes aos governos, há o surgimento de enclaves no tecido urbano, e o espaço privado predomina sobre o espaço público (QUEIROZ, 2017QUEIROZ, A. Planejamento e metropolização do lazer marítimo em Fortaleza-Ceará, Nordeste do Brasil. EURE, Santiago, v. 43, n. 128, p. 153-73, 2017.); à exemplificação da Via Costeira de Natal, RN, Brasil, onde investimentos governamentais públicos promoveram a privatização de praias feita pela hotelaria de luxo (CUNHA; SILVA, 2011CUNHA, R. L. E.; SILVA, K. O. Apropriação territorial das praias e o uso do espaço público pelos hotéis da Via Costeira – Natal/RN. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 38, n. 12, p. 29-40, 2011.).

Entende-se, portanto, que novas situações espaciais promovidas pela urbanização turística exercem condições impactantes (BORBA, 2015BORBA, V. S. . influência de características morfológicas no desempenho e apropriação de espaços urbanos: estudo de caso Charqueadas – RS. 2015. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015.; LEE, 2013LEE,T. H. Influence analysis of community residente support for sustainabletourism development. Tourism Management, [s.l.], v. 34, p. 37-46, 2013.). E, nesse sentido, vale ressaltar outros casos exemplares que diminuíram impactos negativos e maximizaram impactos positivos (TOSUN, 2002TOSUN, C. Host perceptions of impacts: A comparative tourism study. Annals of Tourism Research, [s.l.], v. 29, n. 1, p. 231-53, 2002.).

Um estudo feito em Puerto Vallarta (México) mostrou um aumento na apropriação dos espaços público pela população local, ainda que esses espaços tenham sofrido regeneração, num primeiro momento, para o uso efetivo de turistas (FRANCIA; ALFONSO, 2014FRANCIA, B.; ALFONSO, J. Turismo, identidad y espacio público en Puerto Vallarta, México: apuntes sobre tres intervenciones recientes. Pasos: Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, San Cristóbal de La Laguna, vol. 12, núm. 2, p. 491-97, 2014.). Em Natal, RN, Brasil, sendo uma das sub-sedes da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e, por isso, todo o preparativo de qualificação urbana para tanto, verificou-se uma identificação da população local para com espaços públicos requalificados do entorno da Arena das Dunas (FARIAS; GURGEL; DINIZ, 2014FARIAS, T. M.; GURGEL, F. F.; DINIZ, R. A Copa do Mundo 2014 em Natal (RN-Brasil): um estudo sobre a percepção dos moradores. Research, Society and Development, Natal, v. 1, n. 5, p. 49-76, 2014.).

De maneira geral, deve-se pensar o turismo como prática histórico-social que pressupõe deslocamentos de populações retiradas do seu cotidiano. Nesses deslocamentos, portanto, podem-se adquirir conhecimentos com alteridades, dadas às trocas de experiências, porque há espaços que as condicionam, sobretudo espaços urbanos públicos (BENI, 2007BENI, M. C. Turismo: da economia de serviços à economia da experiência. Turismo: Visão e Ação, Itajaí, v. 6, n. 3, p. 295-315, 2007.; LYNCH, 2011LYNCH, K. . imagem da cidade. São Paulo: Martin Fontes, 2011.). Assim, os espaços urbanos públicos podem atender à população local e ao turista a passeio (BENI, 2007BENI, M. C. Turismo: da economia de serviços à economia da experiência. Turismo: Visão e Ação, Itajaí, v. 6, n. 3, p. 295-315, 2007.).

Portanto, territórios urbanos turísticos podem ter dois perfis: áreas turísticas reapropriadas e integradas ao tecido urbano e áreas turísticas onde se prevalece o consumo (ROSCOCHE, 2013ROSCOCHE, L. F. Turismo urbano e a segregação sócio espacial: revisitando problemáticas. Turismo e Sociedade, Curitiba, v. 6, n. 4, p. 814-34, 2013.).

Conclui-se, com tudo isso, que espaço é atributo mensurável para avaliar a atividade turística (CHO, 2008CHO, V. Linking Tourism Attractiveness and Tourist Intention. Tourism and Hospitality Research, [s.l.], v. 8, n. 3, p. 220-24, 2008.), à exemplificação dos estudos de Mondo e Fiates (2016)MONDO, T. S.; FIATES, G. G. S. Atributos de la calidad de servicios en atractivos turísticos: un estudio netnográfico en el uso del protocolo TOURQUAL. Estudios y Perspectivas en Turismo, Buenos Aires, vol. 25, núm. 2, p. 124-42, 2016., ao demonstrarem que atributos espaciais têm preferência em depoimentos de turistas brasileiros na avaliação de destinos turísticos.

3.2 Regeneração Urbana

Regeneração urbana é a produção de espaço urbano como contenção à degeneração (HALL; BARRET, 2018HALL, T.; BARRET, H. Urban Geography. Oxon: Routledge, 2018.; PAICONE, 2013PAICONE, M. Urban Geography: a global perspective. London; New York: Routledge, 2013). A desindustrialização de cidades (degeneração) passou a ser a motivação para a regeneração agora imbuída por atividades culturais e turísticas (ALVAREZ, 2010ALVAREZ, M. D. Creative Cities and cultural spaces: new perspectives for city tourism. International Journal of Culture, Tourism and Hospitality Research, Bingley, v. 4, n. 3, p. 171-75, 2010.). Para tais atividades de cunho social, a regeneração urbana tem na criação de uma nova organização espacial a criação de novas relações urbanas ou de novas relações renovadas com áreas antigas da cidade (McDONALD; MALYS; MLIENE, 2009McDONALD, S.; MALYS, N.; MALIENE, V. Urban regeneration for sustainable communities: a case study. Baltic Journal on Sustainability, [s.l.], v. 15, n. 1, p. 49-59, 2009.).

Dessa forma, as intervenções se estabelecem em condições socioespaciais, unindo conhecimentos específicos, instituições e tecnologias para serviços ecossistêmicos de energia, água, clima, biodiversidade etc., que mudam áreas degeneradas (WOLFRAM, 2019WOLFRAM, M. Assessing transformative capacity for sustainable urban regeneration: a comparative study of three South Korean cities. Ambio, [s.l.], v. 48, n. 5, p. 478-93, 2019.). Por isso, a regeneração urbana é marcada por signos de melhoria, reconstrução, capacitação (IZADI et al., 2018IZADI, M. S.; KARIMIMOSHAVER, M.; SAJADZADEH, H.; TAVASSOLI, M. Locating urban catalyst projects in inefficient urban textures with the regeration approach: a case study on Tehran. Journal of History Culture and Art Research, [s.l.], v. 7, n. 3, p. 136-51, 2018.), reabilitação, criação de elementos físicos, integração de atividades oficiais e não oficiais (SAJADZADEH; ZOLFI, 2015SAJADZADEH, H.; ZOLFI, G. S. Urban planning in regeneration of traditional neighborhoods with approach of development stimulus. case study: Golpa neighborhood in Hamedan. Amayesh Mohit Periodical, [s.l.], v. 31, p. 147-71, 2015.), gerenciamento de redes complexas de recursos (financeiros, sociais e físicos), acordos de multiescala e abordagens multidimensionais (LOSASSO, 2015LOSASSO, M. Urban Regeneration: innovative perspectives. Journal of Technology for Architecture and Environment, Napoli, v. 10, p. 4-5, 2015.), incluindo-se, portanto, mudanças socioeconômicas, culturais, estruturais e de transformações ambientais de sustentabilidade urbana, resiliência urbana (LOSASSO, 2015LOSASSO, M. Urban Regeneration: innovative perspectives. Journal of Technology for Architecture and Environment, Napoli, v. 10, p. 4-5, 2015.; McCORMICK et al., 2013McCORMICK, K.; ANDERBERG, S.; COENEN, L.; NEU, L. Advancing sustainable urban transformation. Journal of Cleaner Production, [s.l.], v. 50, p. 1-11, 2013.) e flexibilidade (PAGANI, 2015PAGANI, R. Urban Regeneration and Innovation Paths. Journal of Technology for Architecture and Environmental, Napoli, v. 10, p. 11-5, 2015.).

Desde a década de 1970, a regeneração urbana tem sido utilizada em principais políticas da Europa Ocidental e dos Estados Unidos para renovação de porções urbanas degeneradas ou em degeneração (IZADI et al., 2018IZADI, M. S.; KARIMIMOSHAVER, M.; SAJADZADEH, H.; TAVASSOLI, M. Locating urban catalyst projects in inefficient urban textures with the regeration approach: a case study on Tehran. Journal of History Culture and Art Research, [s.l.], v. 7, n. 3, p. 136-51, 2018.). Por isso, a regeneração urbana altera usos do território urbano, essencialmente com uso misto do solo urbano, aumento da densidade habitacional e qualidade arquitetônica (LOSASSO, 2015LOSASSO, M. Urban Regeneration: innovative perspectives. Journal of Technology for Architecture and Environment, Napoli, v. 10, p. 4-5, 2015.).

A regeneração urbana pode alcançar níveis locais, nacionais e até internacionais (sobretudo com a atividade turística), sendo considerada fundamental para governança nas transformações urbanas (LOSASSO, 2015LOSASSO, M. Urban Regeneration: innovative perspectives. Journal of Technology for Architecture and Environment, Napoli, v. 10, p. 4-5, 2015.). Trata-se de políticas abrangentes, com o intuito da melhoria espacial e, em especial, da melhoria social (IZADI et al., 2018IZADI, M. S.; KARIMIMOSHAVER, M.; SAJADZADEH, H.; TAVASSOLI, M. Locating urban catalyst projects in inefficient urban textures with the regeration approach: a case study on Tehran. Journal of History Culture and Art Research, [s.l.], v. 7, n. 3, p. 136-51, 2018.; COCHRANE, 2007COCHRANE, A. Understanding urban policy: a critical approach. Oxford: Blackwell, 2007.; TALLON, 2013TALLON, A. Urban Regeneration in the UK. Oxon: Routledge, 2013.), destacando-se o valor socioeconômico (KOSTOPOULOU, 2013KOSTOPOULOU, S. On the revitalized waterfront: creative milieu for creative tourism. Sustainability, [s.l.], v. 5, n. 11, p. 4578-593, 2013.) e incentivo ao setor privado (KARIMI, 2015KARIMI, M. M. Framework of documentation and evaluation of development stimulus projects (Akhoond Neighborhood, Ghazvin). Ministry of Roads & City Planning, Iran’s Civil and Urban Rehabilitation. Hamedan: Bu-Ali University Study Plan, 2015.). Nesse sentido, quando da competição econômica em nível internacional, a regeneração urbana é condição para atração de mais turistas, particularmente estrangeiros (RICHARDS, 2014RICHARDS, G. Creativity and Tourism in the city. Current issues in Tourism, [s.l.], v. 17, n. 20, p. 119-44, 2014.).

A regeneração urbana de porções de cidade com interesse cultural está marcada pela apropriação do patrimônio como mercadoria e turismo urbano, e não mais como representação desse patrimônio como cultura local (LUCHIARI, 2005LUCHIARI, M. T. A reinvenção do patrimônio arquitetônico no consumo das cidades. Revista GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, n. 17, p. 95-105, 2005.). Nesse sentido, destacam-se também os estudos contemporâneos em áreas urbanas antigas apropriadas por regeneração urbana (DELLA LUCIA; TRUNFIO; GO, 2016DELLA LUCIA, M.; TRUNFIO, M.; GO, F. M. Does the culture of context matter in urban regeneration processes. In: ALVAREZ, M. D.; GO, F. M.; YÜKSEL, A. (Ed.). Heritage Tourism Destination: preservation, communication and development. Istanbul: Boğaziçi University, 2016. p. 11-21.; DELLA LUCIA; FRANCH, 2014DELLA LUCIA, M.; FRANCH, M. Culture-led urban regeneration and place brand building in Alpine Italian cities. Harnessing Place Branding through Cultural Entrepreneurship. Basingstoke: Palgavre MacMillan, 2014.; HABIBI; MAGHSOODI, 2007HABIBI, M.; MAGHSOODI, M. Urban Restoration: Definitions, Theories, Experiences, Universal Prisms and Statements. Urban Methods & Measures. Tehran: Teharan University Publication, 2007.; POU RAH MAD et al., 2011POURAHMAD, A.; FARHUDY, R.; HABIBI, K.; KESHAVARZ, M. Analysis the role of residential environment quality in spatial movement of intra-urban population (case study: the old texture of Khorramabad). Human Geography Research Quarterly, [s.l.], v. 43, n. 1, p. 17-36, 2011.). E o turismo, entre clusters criativos de áreas urbanas antigas, é fator de evidência de regeneração urbana bem-sucedida e, portanto, de reimagem (RICHARDS, 2014RICHARDS, G. Creativity and Tourism in the city. Current issues in Tourism, [s.l.], v. 17, n. 20, p. 119-44, 2014.). Assim, especificamente para a cidade do Rio de Janeiro, há estudos de Martins e Pereira (2019)MARTINS, M. L. R.; PEREIRA, A. L. D. S. Urban regeneration in the Brazilian urban policy agenda. Europan Planning Studies, Oxfordshire, v. 27, n. 6, p. 1129-145, 2019..

4 RESULTADOS

4.1 Contextualização do objeto de estudo

A análise da inserção urbana das praças Mauá e Praça XV, no Rio de Janeiro, considerou condições de circulação de pedestres e veículos e sua conectividade com a cidade, averiguandose as principais vias de acesso a elas (mapa de axialidade) (Figura 1), de sorte que as duas praças analisadas são interconectadas por avenidas e ruas de fluxo intenso, seja de pedestres, seja de veículos e transporte público (RAMALHO, 2015RAMALHO, G. Uma nova praça Mauá ressurge dos tapumes. O Globo [online], Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=foh&AN=broglobotxt416098⟨=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 25 set. 2018.
http://search.ebscohost.com/login.aspx?d...
).

Figura 1
Localização das praças XV e Mauá, R,io de Janeiro, RJ, Brasil; mapa de axialidade

Os usos no entorno das praças são constituídos em maior parte por equipamentos institucionais, comércios e serviços. A maioria dos equipamentos está em edificações históricas que se classificam como locais de caráter turístico, sobretudo para o turismo cultural. Além de edificações históricas na Praça XV e Praça Mauá, há também um grande marco arquitetônico contemporâneo – o Museu do Amanhã –, reconhecido mundialmente por suas características sintáticas e visuais privilegiadas (GLOBO, 2014GLOBO. A nova praça Mauá. . Globo [online], Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=foh&AN=broglobotxt370464⟨=pt-br&site=ehost-live. Acesso em: 25 set. 2018.
http://search.ebscohost.com/login.aspx?d...
).

4.2 Apresentação dos resultados

A Teoria da Sintaxe Espacial propõe a relação entre configuração do espaço (sintaxe) e situações sociais que as envolvem. Dessa forma, a sintaxe do espaço pode contribuir para condições de estares, fluxos e movimentos sociais (TENÓRIO, 2012TENÓRIO, G. S. Ao desocupado em cima da ponte. 2012. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2012.), de modo que, na escala da cidade do Rio de Janeiro, a Praça XV e a Praça Mauá estão bastante integradas na malha urbanizada, seja por suas localizações junto à orla marítima, seja pela conexão junto a avenidas que são vias estruturais na cidade (Figura 1). São praças no entroncamento de vias muito bem integradas ao sistema viário da cidade como um todo, reforçando-se atributos locais propícios à apropriação desses espaços públicos. Ou seja, vias urbanas convergem nas praças estudadas, ao mesmo tempo em que se incluem dentro de um núcleo de integração da cidade, o que pode indicar vitalidade urbana (JACOBS, 2011JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2011.). As praças pesquisadas estão na porção do território da cidade com alta densidade construída, fazendo com que elas estejam disponíveis (como vazios públicos) à apropriação social (Tabela 1 e Tabela 2).

Tabela 1
Apropriação, por pessoas, nas praças objeto de estudo na alta temporada

Tabela 2
Apropriação por pessoas nas praças objeto de estudo na baixa temporada]

Gráfico 1
Avaliação dos atributos espaciais locais de legibilidade das praças estudadas, relacionada com apropriação por pessoas

Praça XV – Legibilidade: dois planos retangulares são a implantação da praça. Eles são demarcados por arcabouço de edifícios antigos e novos, com importância simbólica cívica e econômica (antigo Paço Imperial, Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Tribunal de Justiça, Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, antigo Mercado Público, comércios lindeiros, estação de catamarãs, antigo edifício do cais do porto colonial). Há dois monumentos de referência visual: um no centro geométrico de um dos retângulos (monumento ao General Osório) e outro no eixo e em um dos lados do outro retângulo (Chafariz do Valentim). Há marcação de eixos para focos visuais com edificações, conjunto de árvores e postes.

Praça Mauá – Legibilidade: há porções com geometrias que separam a praça e diversidade de gabaritos do arcabouço que configuram essas porções. Há porções ajardinadas que podem confundir a totalidade da praça, bem como a linha de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que corta a praça ao meio. Edifícios de apelo simbólico são iluminados à noite, bem como posteamento com design contemporâneo. Há um monumento central ao Visconde de Mauá e três palmeiras no centro geométrico da praça como forte apelo visual. O edifício do Museu do Amanhã e uma “onda” como cobertura do Museu de Arte do Rio são as formas arquitetônicas que sintetizam forte referência visual dessa praça.

Gráfico 2
Avaliação dos atributos espaciais locais de versatilidade/diversidade de usos das praças estudadas, relacionada com apropriação por pessoas

Praça XV – Versatilidade/diversidade de usos: a proporção de pisos atribui caráter cívico à praça, sobretudo com a citação histórica da memória material dos monumentos ao General Osório e Chafariz do Valentim. A presença do Museu do antigo Paço Imperial conota a passagem da história do Brasil Império para o Brasil Republicano. Usos são diversos, com comércios, serviços e administração governamental, sentindo-se falta de habitação no entorno da praça. A praça também é usada como passagem para usuários de catamarãs (transporte hidroviário) até as 24h, o que lhe confere segurança. Aos sábados, há uma feira de antiguidades.

Praça Mauá – Versatilidade/diversidade de usos: a grande porção de piso conota uma praça essencialmente cívica, ainda que possua alguns remansos de estares. A porção com piso é apropriada por feiras de artesanato. O fluxo de pessoas para o Museu do Amanhã e para o Museu de Arte do Rio pode garantir segurança, sobretudo nos períodos matutino e vespertino. Notam-se pessoas isoladas em bancos se utilizando de celulares, pois há Wi-Fi disponível. Notase a presença de pescadores à noite junto à borda de água.

Gráfico 3
Avaliação dos atributos espaciais locais de atividades nas praças estudadas, relacionada com apropriação por pessoas

Praça XV – Atividades no local: há uso de mobiliários e, no retângulo menor, há equipamentos flexíveis para prática de skate. Árvores frondosas permitem sombreamento. Há feiras esporádicas, a exemplo de uma feira de antiguidade aos sábados. Bancos são sugeridos por escadarias de edifícios e por muretas de proteção a monumentos. Há depoimentos de mendicância e drogadição a partir das 21h. Há pontos de ônibus, estação de catamarãs e linha lindeira de VLT.

Praça Mauá – Atividades no local: áreas ajardinadas com forrações, espelhos d’água, mobiliário e escadarias como assento oferecem espaços de estares. Como arcabouço da praça, há edifícios culturais, edifícios administrativos da Marinha do Brasil e edifícios de serviços. Linha do VLT, pontos de ônibus e táxis garantem mobilidade para outros lugares da cidade. Há feiras de artesanato, bicicletário e oferta de Wi-Fi.

Gráfico 4
Avaliação dos atributos espaciais locais de riquezas perceptivas das praças estudadas, relacionada com apropriação por pessoas

Praça XV – Riquezas perceptivas: há eixos formados por arborização e posteamento que focam edifícios simbólicos de importância cultural (Museu do Paço Imperial) e administrativa (Assembleia do Estado do Rio de Janeiro e Tribunal de Justiça). Há uma amplitude visual que se projeta para o mar. Dois monumentos (ao General Osório e o Chafariz do Valentim) são pontos de referência visual na praça.

Praça Mauá – Riquezas perceptivas: há um descortinamento de amplitude visual para o mar, animado por movimentação de embarcações. O Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio são peças arquitetônicas de referência na praça, sobretudo à noite, os quais se transformam em “lanternas urbanas”; nesse sentido, duas gruas iluminadas também chamam atenção à noite.

Gráfico 5
Avaliação dos atributos espaciais locais de condições de segurança das praças estudadas, relacionada com apropriação por pessoas

Praça XV – Condições de segurança: à noite, o ambiente psicossocial de segurança é comprometido por falta de habitação no entorno da praça; porém, durante o dia, usos culturais, de comércios e serviços “animam” e dão segurança ao espaço. Há a presença de um posto com policiais até as 21h; depois deste horário, a praça é tomada por mendigos e prostitutas.

Praça Mauá – Condições de segurança: à noite, o ambiente psicossocial de segurança é comprometido por falta de habitação no entorno da praça; porém, durante o dia, usos culturais, de comércios e serviços “animam” e dão segurança ao espaço. Presença de militares da Marinha do Brasil pode garantir segurança. Há um posto com policiais. Falta iluminação na praça junto à orla do mar.

4.3 Discussão dos resultados

Deve-se notar que há uma maior apropriação por pessoas nos meses de alta temporada (Tabela 1), denotando-se que turistas têm se utilizado dos espaços públicos do destino turístico Rio de Janeiro por coincidir com período de férias e, portanto, indiciando as praças como parte das atividades turísticas da cidade. É possível observar que a maior apropriação acontece na temporada de verão, atingindo patamares altos e constantes, o que denota que a sintaxe espacial é influenciada por fatores ambientais (condições de intempéries) que podem influenciar apropriação social (BASANTES; GARCÍA, 2018Basantes, A. C. N.; García, E. H. Altitude, variáveis climáticas e tempo de permanência de pessoas em praças do Equador. urbe - Revista Brasileira de Gestão Urbana, v. 10, n. 2, p. 414-25, 2018.). Ou seja: a escolha social do período de férias pôde se condicionar por atributos espaciais durante o verão, o qual oferece melhores situações climáticas para a apropriação do espaço urbano público.

Também, a condição sintática de visuais do horizonte de mar que se encontra nas praças estudadas pode indicar um número maior de visitantes no verão. Porém, a apropriação social das praças estudadas pode estar na periodicidade demarcada para férias; ou seja, a condição social das férias de verão propicia uma maior apropriação, de sorte que a sintaxe do espaço, quando interpretada à luz de condições mais favoráveis de intempéries, associada às férias, como dado social, “combina” uma determinada produção do espaço. Nesse sentido, vale destacar que a Teoria da Sintaxe Espacial necessita de uma interpretação social conjunta para explanar a produção do espaço.

Nos gráficos “teia de aranha” (Gráfico 6), observa-se uma comparação de atributos avaliados em cada praça, verificando-se que a Praça Mauá tem uma distribuição mais homogênea da “teia”, o que denota maior apropriação de pessoas na Praça Mauá, ao se comparar com a Praça XV. Ou seja, a melhor apropriação de pessoas se relaciona com a distribuição mais homogênea dos atributos espaciais. Nesse sentido, os atributos de versatilidade, diversidade de usos, condições de segurança e atividades no local denotam vitalidade urbana (JACOBS, 2011JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2011.) como condição social; isto é, a maior apropriação de pessoas (vitalidade urbana) na Praça Mauá se deu porque ela apresenta uma combinação mais homogênea dos atributos sintáticos (ocupação mais homogênea da “teia de aranha” no gráfico), de maneira que atributos espaciais sintáticos dão significado a usos sociais num processo mútuo, sem distinguir maior ou menor relevância para um e para outro, como já evidenciado por teorias de Henri Lefebvre acerca da produção do espaço (SCHMID, 2012SCHMID, C. A teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre: em direção a uma dialética tridimensional. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 89-109, 2012.).

Gráfico 6
Relação entre as avaliações dos atributos espaciais locais das praças estudadas

Vitalidade urbana (JACOBS, 2011JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2011.) é também “animação” que serviços e comércios vicinais condicionam no espaço público de praças. Tais serviços e comércios amparam restauração e compras para turistas, corroborando-se o valor socioeconômico da regeneração urbana turística (CARLOS, 2001CARLOS, A. F. A. São Paulo hoje: as contradições no processo de reprodução do espaço. Scripta Nova, Barcelona, v. 6, n. 8, p. 1-13, 2001.; CRUZ, 2002CRUZ, R. C. A. Política de turismo e território. São Paulo: Contexto, 2002.; FREYTAG; BAUDER, 2018FREYTAG, T.; BAUDER, M. Botton-up touristification and urban transformation in Paris. Tourism Geographies, [s.l.], v. 20, n. 3, p. 443-60, 2018.; KARIMI, 2015KARIMI, M. M. Framework of documentation and evaluation of development stimulus projects (Akhoond Neighborhood, Ghazvin). Ministry of Roads & City Planning, Iran’s Civil and Urban Rehabilitation. Hamedan: Bu-Ali University Study Plan, 2015.; KOSTOPOULOU, 2013KOSTOPOULOU, S. On the revitalized waterfront: creative milieu for creative tourism. Sustainability, [s.l.], v. 5, n. 11, p. 4578-593, 2013.; LOSASSO, 2015LOSASSO, M. Urban Regeneration: innovative perspectives. Journal of Technology for Architecture and Environment, Napoli, v. 10, p. 4-5, 2015.; MARCÚS et al., 2019MARCÚS, J.; MANSANILLA, J. A.; BOY, M.; YANES, S.; ARICÓ, G. La Ciudad Mercancia: Turistificación, Renovación Urbana y Políticas de control del espacio público. Buenos Aires: Teseo Press, 2019.; McCORMICK et al., 2013McCORMICK, K.; ANDERBERG, S.; COENEN, L.; NEU, L. Advancing sustainable urban transformation. Journal of Cleaner Production, [s.l.], v. 50, p. 1-11, 2013.; MULLINS, 1991MULLINS, P. Tourism Urbanization. International Journal of Urban Regional Research, [s.l.], v. 15, n. 3, p. 326-42, 1991.; PEREIRA, 2015PEREIRA, R. M. F. A. Turismo e dinâmica sócio espacial do litoral de Santa Catarina. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, v. 9, n. 3, p. 554-67, 2015.), de modo que se pode inferir que urbanização turística, quando oferece situações socioeconômicas de serviços e comércios, também contribui para a urbanização destinada a cidadãos, porque promove, concomitantemente, vitalidade urbana.

Ainda, nesse sentido, a segurança será mais efetiva quando espaço público para turista também é espaço público para cidadãos (BENI, 2007BENI, M. C. Turismo: da economia de serviços à economia da experiência. Turismo: Visão e Ação, Itajaí, v. 6, n. 3, p. 295-315, 2007.), o que, nas praças analisadas, mostra-se prejudicado, verificando-se que usos residenciais não se efetivam no entorno daqueles espaços públicos analisados. Interpreta-se, portanto, que urbanização citadina contribui para urbanização turística e vice-versa, porque moradias de cidadãos tendem a promover segurança também para turistas. Praças são locais de encontro com “misturas” sociais (LEFEBVRE, 2008LEFEBVRE, H. . revolução urbana. Belo Horizonte: UFMG, 2008.) (entre turistas e cidadãos, por exemplo), as quais serão mais acentuadas quando da comunhão entre alteridades, com estranhos, com estrangeiros (turistas, por exemplo) (AGUIAR, 2012AGUIAR, D. Urbanidade e qualidade da cidade. In: AGUIAR, D.; NETTOM, V. M. (Org.). Urbanidades. Rio de Janeiro: Foglio Digital, 2012. p. 61-80.; BENTLEY, 1999BENTLEY, I. Entornos vitales: hacia un diseño urbano y arquitectónico más humano. Barcelona: Gustavo Gili, 1999.; GEHL, 2013GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.).

Atributos de riquezas perceptivas e legibilidade despontam, seja numa praça, seja noutra, o que denota uma sintaxe espacial “rica” como percepção eminentemente visual; ou seja, a morfologia espacial ampara um forte apelo visual como imagem de cidade, que poderá ser divulgada como destino turístico mundo afora. Daí que a sintaxe espacial pode contribuir para economia de base social cognitiva-cultural (HATFIELD; CACIOPPO; RAPSON, 1994HATFIELD, E.; CACIOPPO, J.; RAPSON, R. Emotional contagion. Current Directions in Psychological Science, [s.l.], v. 2, p. 92-9, 1994.; MARTINS; PEREIRA, 2019MARTINS, M. L. R.; PEREIRA, A. L. D. S. Urban regeneration in the Brazilian urban policy agenda. Europan Planning Studies, Oxfordshire, v. 27, n. 6, p. 1129-145, 2019.; RICHARDS, 2014RICHARDS, G. Creativity and Tourism in the city. Current issues in Tourism, [s.l.], v. 17, n. 20, p. 119-44, 2014.), ainda que com o esforço de investimentos públicos e privados correspondentes a uma urbanização gentrificada (SCOTT, 2012SCOTT, A. J. As cidades da Terceira Onda. In: PACHECO, S. M. M.; MACHADO, M. S. (Org.). Globalização, políticas públicas e reestruturação territorial. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012.). Fato que há uma contribuição mútua entre propriedades visuais da imagem do destino citadino turístico e intenções socioeconômicas turísticas, as quais poderiam ainda ser estudadas à luz da cognição e representação de imagem urbana para cidadãos. Dessa forma, a promoção da imagem do destino turístico contribuiria para noções de representação de pertencimento ao lugar e de cidadania, demonstrando-se, por outro viés, a contribuição da regeneração urbana turística para cidadãos. Tratar-se-ia de um estudo como espaços de representação, uma dimensão da produção do espaço definida por Lefebvre, a qual contribuiria mais tarde com sua categoria de espaço concebido, em que há um processo de significação que se relaciona a símbolos materiais: prédios, monumentos, paisagens (SCHMID, 2012SCHMID, C. A teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre: em direção a uma dialética tridimensional. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 89-109, 2012.) – que, neste caso estudado, pode ser evidente no Museu do Amanhã.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de atributos espaciais de praças da área central do destino turístico Rio de Janeiro pode se constituir em metodologia de interesse que descreve o espaço como fenômeno urbano, tal como já sugeriu Lefebvre, ao integrar categorias de análise da cidade e categorias de análise do espaço numa grande e uníssona teoria social (SCHMID, 2012SCHMID, C. A teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre: em direção a uma dialética tridimensional. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 89-109, 2012.). Nesse sentido, entende-se que categorias de análise da cidade, historicamente, estão relacionadas com Teorias da Urbanização, e categorias de análise do espaço estão relacionadas, historicamente, à Geografia, de modo que, metodologicamente, poder-se-ia integrar Teorias da Urbanização – Teoria da Sintaxe Espacial – com categorias de análise do espaço geográfico – produção do espaço lefebvriana.

Foi o que se deu nesta pesquisa: a Teoria da Sintaxe Espacial é reconhecida instrumentalidade, que pode apresentar limites ao se deparar com a teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre; ao mesmo tempo, a Teoria da Sintaxe Espacial é um método que pode incrementar a coleta de dados para dimensão sintática (ou sintagmática) e para dimensão do espaço percebido na teoria da produção do espaço lefebvriana. Tudo isso diante da “virada espacial” (CARLOS, 2015CARLOS, A. F. A. A virada espacial. Mercator, Fortaleza, v. 14, n. 4 [especial], p. 7-16, 2015.), que somente a partir da década de 1970 trouxe o espaço para um efetivo debate social crítico.

Outra condição inovadora desta pesquisa está na aproximação de dois fenômenos – urbanização turística e regeneração urbana – nunca antes estudados em conjunto, entendendose que nos dois casos há um “fio condutor” de valor socioeconômico que as explicam. Daí o entendimento e possível cunhagem do termo “regeneração urbana turística” como desdobramento para pesquisas futuras.

Também para pesquisas futuras, aponta-se a necessidade de inserção das categorias lefebvrianas da produção do espaço diante de uma análise essencialmente sintática do espaço ou uma análise essencialmente socioeconômica do território turístico; parece que seria uma simplificação ou um reducionismo apontar apenas atributos espaciais ou apenas atributos sociais (socioeconômicos, na maioria das vezes) como responsáveis pelo desempenho do espaço público de praças em destinos turísticos urbanos. Nesse viés, a pesquisa apontou que condições sintáticas favorecidas por situação climática se relacionam com a situação social do período de férias; condições espaciais sintáticas de versatilidade, diversidade de usos, condições de segurança e atividades no local estão numa relação dialética com o valor social de vitalidade urbana; atributos espaciais sintáticos de atividades no local e diversidade de usos estabelecem relações com o valor social de vitalidade urbana; atributos espaciais sintáticos de riquezas perceptivas e legibilidade podem promover representação de pertencimento e cidadania, bem como divulgar a imagem do destino turístico que, com isso, pode amparar a condição socioeconômica no turismo.

Percebe-se que as conclusões acima consideram as três dimensões da produção do espaço lefebvriana: o espaço percebido em sua vertente espacial sintática, o espaço vivido em sua vertente social e o espaço concebido em sua vertente do espaço como representação. E devem ser dimensões entendidas como de igual valor entre elas, sem a predominância de uma ou de outra na descrição de fenômenos socioespaciais (SCHMID, 2012SCHMID, C. A teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre: em direção a uma dialética tridimensional. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 89-109, 2012.).

Como aplicação prática, esta pesquisa procurou expandir a própria recomendação de Lefebvre: superar a filosofia e se aproximar da prática e da ação (SCHMID, 2012SCHMID, C. A teoria da produção do espaço de Henri Lefebvre: em direção a uma dialética tridimensional. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, v. 16, n. 3, p. 89-109, 2012.). Entende-se que a Teoria da Sintaxe Espacial pode contribuir (como procedimento metodológico e ferramenta para coleta de dados) para a dimensão lefebvriana de espaço percebido, tendo-se definido um determinado objeto de pesquisa – praças XV e Mauá, do destino turístico Rio de Janeiro, por exemplo.

Os limites desta pesquisa foram aqueles que, de alguma maneira, direcionaram-na: carência de pesquisas sobre regeneração urbana e urbanização turística que utilizaram a sintaxe do espaço como descrição fenomênica.

  • FINANCIAMENTO
    Pesquisa financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

REFERÊNCIAS

  • AGUIAR, D. Urbanidade e qualidade da cidade. In: AGUIAR, D.; NETTOM, V. M. (Org.). Urbanidades. Rio de Janeiro: Foglio Digital, 2012. p. 61-80.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2023

Histórico

  • Recebido
    09 Fev 2022
  • Revisado
    13 Set 2022
  • Aceito
    14 Dez 2022
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