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O telejornalismo regional no interior do Rio Grande do Sul: a presença da RBS TV e do Jornal do Almoço

Regional telejournalism in the interior of Rio Grande do Sul: the presence of RBS TV and the Jornal do Almoço

Teleperiodismo regional en el interior de Rio Grande do Sul: la presencia de RBS TV y el Jornal do Almoço

Resumo

Nos últimos anos, as emissoras de televisão no Rio Grande do Sul têm passado por processos de reestruturação que contribuíram para a extinção ou diminuição dos espaços regionais de notícias. A emissora RBS TV ainda atende, de certa forma, esta demanda, mesmo que, paulatinamente, venha diminuindo sua atuação no interior gaúcho. O estudo tem por objetivo problematizar a importância do jornalismo regional, especialmente o televisivo, no âmbito do estado do Rio Grande do Sul. A análise foi focada na emissora RBS TV, especificamente no programa Jornal do Almoço. Por meio da metodologia de observação (GIL, 2008), foram analisadas seis edições do telejornal durante o período de uma semana. O método observacional foi voltado à verificação do tempo destinado à cada região em relação ao tempo total do telejornal e quais assuntos foram tratados por cada segmento regional. Além disso, foram apresentadas ponderações sobre as observações das edições analisadas. Como resultado, pôde-se constatar que, ao longo dos anos, a emissora RBS TV está gradualmente diminuindo o acesso à informação para as comunidades do interior gaúcho.

Palavras-chave
jornalismo regional; Jornal do Almoço; RBS TV; telejornalismo

Abstract

In recent years, television stations in Rio Grande do Sul have gone through restructuring processes that have contributed to the extinction or reduction of regional news spaces. The broadcaster RBS TV still meets, in a way, this demand, even if, gradually, it has been reducing its operations in the interior of Rio Grande do Sul. The study aims to problematize the importance of regional journalism, especially television, within the state of Rio Grande do Sul. The analysis was focused on the RBS TV station, specifically on the Jornal do Almoço program. Through the observation methodology (GIL, 2008), six editions of the television news were analyzed during the period of one week. The observational method was aimed at verifying the time allocated to each region in relation to the total time of the television news and which subjects were dealt with by each regional segment. In addition, considerations were presented on the observations of the editions analyzed. As a result, it could be seen that, over the years, the RBS TV station is gradually reducing access to information for communities in the interior of Rio Grande do Sul.

Keywords
regional journalism; Jornal do Almoço; RBS TV; television journalism

Resumen

En los últimos años, los canales de televisión de Rio Grande do Sul tienen pasado por procesos de reestructuración que han contribuido a la extinción o reducción de los espacios informativos regionales. La emisora RBS TV aún atiende, en cierto modo, esa demanda, aunque, gradualmente, haya ido reduciendo sus operaciones en el interior de Rio Grande do Sul. El estudio tiene como objetivo problematizar la importancia del periodismo regional, especialmente la televisión, dentro del estado de Rio Grande do Sul. El análisis se centró en el canal RBS TV, específicamente en el programa Jornal do Almoço. A través de la metodología de observación (GIL, 2008), se analizaron seis ediciones de los noticieros televisivos durante el período de una semana. El método observacional tuvo como objetivo verificar el tiempo asignado a cada región en relación al tiempo total de los informativos televisivos y qué temas fueron tratados por cada segmento regional. Además, se presentaron consideraciones sobre las observaciones de las ediciones analizadas. Como resultado, se puede ver que, a lo largo de los años, la emisora RBS TV está reduciendo gradualmente el acceso a la información para las comunidades del interior de Rio Grande do Sul.

Palabras clave
periodismo regional; Jornal do Almoço; RBS TV; periodismo televisivo

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, em que as informações de qualquer parte do planeta tornam-se conhecidas de maneira muito rápida. Os telejornais realizam uma espécie de filtro e um resumo dessas informações, passando para os seus telespectadores aquilo que, dentro das suas linhas editoriais, julgam mais importante para o conhecimento do público, e são, sem dúvida, uma importante fonte de informação para as suas populações.

Os noticiários televisivos podem ser divididos em três esferas: o nacional, que repercutirá as notícias em nível de país e um apanhado do que está acontecendo de importante no mundo; o estadual, que informará aquilo que acontece nos limites geográficos do estado, como o Rio Grande do Sul; e o local e/ou regional2 2 Ao longo do presente artigo, vão aparecer as expressões “jornalismo local” e “jornalismo regional”. Mesmo que aparentemente os termos possam se confundir, o primeiro se refere ao jornalismo que é praticado em uma determinada cidade específica, enquanto o segundo compreende um conjunto de cidades que fazem parte de uma mesma região geográfica. , que tem a incumbência de nos colocar a par daquilo que acontece ao nosso entorno, seja a cidade, seja a região em que vivemos.

Neste cenário globalizado de informações, é comum vermos telejornais nacionais repercutirem, por longo período, o processo eleitoral dos Estados Unidos, como aconteceu no ano de 2020. Éramos informados de quantos delegados integravam os estados federados americanos, mas, ao mesmo tempo, estávamos no período eleitoral municipal, e muitas pessoas tinham carência em saber, por exemplo, se na sua cidade estaria legalmente previsto ou não o segundo turno, bem como não tínhamos acesso às entrevistas com os candidatos, devido aos reduzidos espaços destinados às notícias locais.

Nesse sentido, ao trazermos para a discussão conceitos sobre o jornalismo regional, a televisão e o telejornalismo, assim como um breve histórico sobre o processo de interiorização da TV brasileira, da Rede Brasil Sul de Televisão (RBS TV) e do Jornal do Almoço, este artigo propôs, a partir da metodologia da observação (GIL, 2008GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.) e das análises dos telejornais ao longo de uma semana, refletir sobre a importância do jornalismo regional, com enfoque sobre os telejornais produzidos no Rio Grande do Sul, especialmente quanto à RBS TV e ao programa Jornal do Almoço, tendo sido analisados os tempos destinados a cada região em relação ao total do telejornal e quais assuntos foram tratados por cada segmento regional. A partir destas análises, foram realizadas reflexões e considerações finais sobre os pontos observados e sobre a importância do jornalismo regional.

2 O JORNALISMO REGIONAL

O jornalismo exerce uma função social muito importante, que é levar informações com credibilidade ao público, fornecendo subsídios para que a população possa compreender o seu contexto social. Para Traquina (2005)TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: porque as notícias são como são. 2. d. V.1. Florianópolis: Insular, 2005., o jornalismo é visto como um exercício e uma profissão de utilidade pública, e as notícias são o alimento que os cidadãos precisam para exercitar os seus direitos democráticos. Cavenaghi (2013)CAVENAGHI, Beatriz de Araujo. Telejornalismo local: estratégias discursivas e a configuração do telespectador. 2013. Dissertação (Mestrado em Jornalismo) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/122899/321779.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 29 jun. 2021.
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afirma que a noção de interesse público que rege o jornalismo está ligada à ideia de fornecer subsídios à sociedade civil, por meio da circulação de informações, para que haja participação nas escolhas políticas que regem a sociedade.

O jornalismo regional é aquele que se caracteriza por tratar de assuntos relacionados ao cotidiano de uma determinada cidade ou região, onde os fatos objetos da cobertura jornalística tendem a afetar diretamente a vida das pessoas inseridas em uma determinada comunidade. Para Reis (2018)REIS, Thays Assunção. Jornalismo Regional: uma leitura a partir dos critérios de noticiabilidade do jornal o progresso. Estudos em Jornalismo e Mídia, [s.l.], v. 15, n. 1, p. 62–72, 4 set. 2018. http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2018v15n1p62
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, o jornalismo regional se caracteriza como uma prática que pode extrapolar os limites territoriais da sede dos seus veículos e atender centros urbanos menores, a fim de que o público possa se informar do seu cotidiano e realizar suas solicitações.

A importância deste tipo de jornalismo se dá pelo fato de que muitos dos temas abordados no cotidiano de um determinado público local não teriam destaque fora do âmbito geográfico dos quais pertencem, não fosse essa cobertura mais localizada. Apenas em ocasiões esporádicas, de acordo com a importância ou relevância do fato, as notícias mais locais são tratadas em uma abrangência estadual e, dificilmente, alcançam uma visibilidade em cobertura nacional. Para Ribeiro (2005)RIBEIRO, Juliana Colussi. Jornalismo regional e construção da cidadania: o caso da Folha da Região de Araçatuba. 2005. 187 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura, Artes e Comunicação) – Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2005. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/89429. Acesso em: 22 abr. 2021.
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, o jornalismo regional informa o que mais de perto interessa ao seu público, pois convive próximo aos problemas da comunidade. Por estar perto do cidadão e tratar de temas diretamente relacionados à sua população, acaba se tornando um facilitador para o exercício da cidadania, para o desenvolvimento local e para a fiscalização dos seus direitos políticos e administrativos. Sendo assim, quanto mais regionalizada for a cobertura jornalística, mais efetividade ela terá na fiscalização e na cobrança de ações junto ao poder público para esta parcela da população.

2.1 A televisão e o telejornalismo

Mesmo com as novas mídias digitais proporcionadas pelo avanço da internet, a televisão ainda mantém um protagonismo, em função da sua ampla abrangência de público e da capacidade de envolvimento com o meio social. De acordo com pesquisa Kantar/IBOPE divulgada em 2020KANTAR IBOPE MEDIA. Inside TV: experiência, influência e as novas dimensões do vídeo. São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.kantaribopemedia.com/wp-content/uploads/2020/03/Kantar-IBOPE-Media_Inside-TV_2020.pdf. Acesso em: 23 abr. 2021.
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, o tempo médio de consumo da televisão aumentou 34 minutos nos últimos 5 anos, e a televisão é a plataforma de vídeo com maior alcance no país, tendo o Brasil um tempo médio de consumo da televisão duas vezes maior quando comparado ao restante do mundo. Dentre as atrações televisivas, o jornalismo detém o maior consumo, à frente de novelas e programas de auditório.

De acordo com Bourdieu (1997, p. 23)BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1997., “a televisão tem uma espécie de monopólio de fato sobre a formação das cabeças de uma parcela muito importante da população”. Além disso, a televisão é uma mídia de fácil acesso e abrange o universo de público, incluindo as pessoas mais humildes e com pouca instrução. “Os telejornais ocupam um espaço relevante na vida dos brasileiros. Para as classes menos favorecidas da população, são a principal, senão a única fonte de informação” (FINGER, 2009FINGER, Cristiane. Os 50 anos de história da televisão no Rio Grande do Sul. RUA – Revista Universitária do Audiovisual, São Carlos, v. 1, p. 1–5, 2009. Disponível em: http://www.rua.ufscar.br/os-50-anos-de-historia-da-televisao-no-rio-grande-do-sul/. Acesso em: 22 abr. 2021.
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, on-line).

Para Coutinho e Martins (2008)COUTINHO, Iluska; MARTINS, Simone. Identidade no telejornalismo local: a construção de laços de pertencimento entre a TV Alterosa Juiz de Fora e o seu público. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL TELEVISÃO E REALIDADE, 1., 2008, Salvador. Anais [...] Salvador: UFBA, 2008. Disponível em: http://www.tverealidade.facom.ufba.br/coloquio%20textos/Simone%20Martins%20e%20Iluska%20Coutinho.pdf. Acesso em: 22 abr. 2021.
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, a informação televisiva é um meio mais cômodo, econômico e fácil de informação para a sociedade, podendo ser considerada um dos principais elos entre o indivíduo e o mundo. Os telejornais produzem significados sociais e culturais e, quando os telespectadores assistem às informações jornalísticas, acabam construindo conhecimento e sentindo-se parte. Acrescentam, ainda, que o jornalismo local/regional facilita a participação do público na sugestão de pautas, devido ao telespectador estar mais próximo do seu canal de comunicação, além de sentir-se mais representado, enxergando-se na televisão. Sendo assim, o interesse em acompanhar as edições tende a ser maior, e o vínculo entre emissora e público se fortalece.

O telejornal local é um mediador entre o receptor e a cidade, uma vez que o telespectador se conecta a ela através do telejornal; partilha e assiste pela tela da televisão as histórias de cidadãos como ele e que vivem problemas semelhantes aos seus. O jornalismo de TV que tenha um caráter realmente local pode influenciar o sentimento de pertencimento do cidadão, de reconhecimento por ele do que seria o seu espaço público; o telespectador que assiste ao telejornal local se identifica com o que está vendo porque a notícia da cidade apresentada na tela efetivamente faz parte da sua vida cotidiana. (COUTINHO; MARTINS, 2008, p. 3-4COUTINHO, Iluska; MARTINS, Simone. Identidade no telejornalismo local: a construção de laços de pertencimento entre a TV Alterosa Juiz de Fora e o seu público. In: COLÓQUIO INTERNACIONAL TELEVISÃO E REALIDADE, 1., 2008, Salvador. Anais [...] Salvador: UFBA, 2008. Disponível em: http://www.tverealidade.facom.ufba.br/coloquio%20textos/Simone%20Martins%20e%20Iluska%20Coutinho.pdf. Acesso em: 22 abr. 2021.
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).

Alguns fatores são determinantes para que os acontecimentos se transformem em notícias; por exemplo: a notoriedade da pessoa envolvida, a relevância do assunto, a novidade, o inesperado, a controvérsia, o escândalo, a proximidade do acontecimento, entre outros. Estas particularidades de um acontecimento são caracterizadas no jornalismo como critérios de noticiabilidade ou valor-notícia. Wolf (2003)WOLF, Mauro. Teorias da comunicação de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. entende que valores-notícia são critérios de relevância que se constituem ao longo do processo de seleção e de construção da notícia. Para Traquina (2008, p. 80)TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: a tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2008., “um valor-notícia fundamental da cultura jornalística é a proximidade, sobretudo em termos geográficos, mas também em termos culturais”. A partir das ponderações destes autores, um dos critérios de seleção de notícias mais determinantes para a produção jornalística em nível regional é o da proximidade.

De modo geral, mesmo que um fato seja de expressiva importância em nível nacional, por exemplo, se ele não tiver relação com algum contexto local, poderá perfeitamente ser descartado do noticiário regional. Uma pessoa que mora em determinada cidade do interior e distante da capital geralmente se interessa mais pelo que acontece nas ruas da sua cidade do que o congestionamento do trânsito nas avenidas da metrópole do seu estado ou do país, que comumente aparecem nos noticiários estaduais e nacionais. Da mesma forma, os assuntos políticos que envolvem a prefeitura da cidade podem impactar mais diretamente na vida da população do que um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa do estado ou na Câmara Legislativa federal.

Para Finger (2009)FINGER, Cristiane. Os 50 anos de história da televisão no Rio Grande do Sul. RUA – Revista Universitária do Audiovisual, São Carlos, v. 1, p. 1–5, 2009. Disponível em: http://www.rua.ufscar.br/os-50-anos-de-historia-da-televisao-no-rio-grande-do-sul/. Acesso em: 22 abr. 2021.
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, regionalmente, os telejornais locais possibilitam a inserção política e ideológica junto às comunidades, que se identificam ao serem representadas, além de contribuírem para dar voz ao cidadão que busca solução para os problemas dos serviços públicos, agindo como um facilitador na cobrança de providências das diversas autoridades.

3 O PROCESSO DE INTERIORIZAÇÃO DA TV BRASILEIRA

Conforme Ferraz (2005)FERRAZ, Arnaldo. TV Bauru, TV TEM – os caminhos da regionalização. 2005. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Estadual Paulista [Unesp], Campus de Bauru. 2005. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=93121. Acesso em 25 abr. 2021.
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, após a chegada da televisão no Brasil, no ano de 1950, e a criação da TV Tupi, a primeira emissora de televisão que se instalou em uma cidade do interior do Brasil foi a TV Bauru. A concessão foi obtida no ano de 1959, e a fundação da emissora ocorreu em 1960. Até este acontecimento, as emissoras de televisão no Brasil só existiam em capitais. Na época, a cidade de Bauru possuía 53 mil habitantes, e a programação da emissora era constituída de três horas diárias. A partir de 1965, as Organizações Globo passaram a comandar a TV Bauru, transformando-se no que hoje é a TV TEM Bauru, vinculada à TV Globo São Paulo.

De acordo com o estudo de Finger (2009)FINGER, Cristiane. Os 50 anos de história da televisão no Rio Grande do Sul. RUA – Revista Universitária do Audiovisual, São Carlos, v. 1, p. 1–5, 2009. Disponível em: http://www.rua.ufscar.br/os-50-anos-de-historia-da-televisao-no-rio-grande-do-sul/. Acesso em: 22 abr. 2021.
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, a primeira emissora de televisão do Rio Grande do Sul foi ao ar em 20 de dezembro de 1959. A TV Piratini fazia parte do conglomerado de comunicação Diários Associados, do empresário Assis Chateaubriand. Logo após, vieram a TV Gaúcha, em 1962; a TV Difusora, em 1969; a TV Educativa, em 1974; em 1979, foi a vez da empresa de comunicação Caldas Júnior, com a TV Guaíba; e, em 1980, a TV Pampa, do empresário gaúcho Otávio Gadret. A autora destaca que, depois de idas e vindas em parcerias com emissoras do centro do país, as primeiras emissoras de televisão no Rio Grande do Sul tiveram o mesmo destino de se renderem ao sistema de rede nacional e abdicar, com raras exceções, de uma programação produzida pelos gaúchos e voltada para o público local e regional. A TV Piratini deixou de existir, e a concessão passou para o grupo Silvio Santos, do SBT. A TV Difusora hoje pertence ao grupo Bandeirantes de televisão. A TV Educativa atualmente reproduz a programação da TV Educativa do Rio de Janeiro. A TV Guaíba foi adquirida pelo grupo Record, e a TV Pampa afiliou-se à RedeTV!. A TV Gaúcha, que mais tarde passou a ser denominada RBS TV, vinculou-se à Rede Globo em 1967 e foi a que estabeleceu a primeira experiência em levar emissoras para o interior do estado.

Entre as emissoras de televisão em canal aberto com sinal abrangendo o território do estado do Rio Grande do Sul, a RBS TV é a única que ainda tem telejornais com apresentação de notícias a partir de cidades do interior do estado e para um público definido na sua região de abrangência geográfica. Outra emissora que possuía descentralização estadual era a TV Pampa, que atualmente retransmite o sinal da RedeTV!. No entanto, durante a última década, segundo reportagens do site Coletiva.net (2015COLETIVA.NET. RBS TV extingue blocos locais em telejornal e anuncia mudanças. Porto Alegre, 2015 Disponível em: https://www.coletiva.net/noticias/2015/10/rbs-tv-extingue-blocos-locais-em-telejornal-e-anuncia-mudancas/. Acesso em: 25 abr. 2021.
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; 2020COLETIVA.NET. Rede Pampa encerra operações de jornalismo no interior gaúcho. Porto Alegre, 2020. Disponível em: https://coletiva.net/pelo-rs/rede-pampa-encerra-operacoes-de-jornalismo-no-interior-gaucho,366037.jhtml. Acesso em: 25 abr. 2021.
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), ela já havia encerrado as produções da TV Pampa Sul e, em agosto de 2020, encerrou definitivamente as produções das outras emissoras ainda existentes (TV Pampa Norte e TV Pampa Centro). A partir de então, juntamente à Record, SBT e Band, não possui produção de programas jornalísticos no interior do estado. Finger (2009)FINGER, Cristiane. Os 50 anos de história da televisão no Rio Grande do Sul. RUA – Revista Universitária do Audiovisual, São Carlos, v. 1, p. 1–5, 2009. Disponível em: http://www.rua.ufscar.br/os-50-anos-de-historia-da-televisao-no-rio-grande-do-sul/. Acesso em: 22 abr. 2021.
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destaca que o Rio Grande do Sul é considerado um dos estados mais relevantes na formação de jornalistas e outros profissionais ligados à televisão, mas acaba sofrendo com uma produção local abaixo do esperado, tendo em vista que o sistema de redes nacionais termina sufocando a produção local/regional.

A emissora RBS TV apresentava, até o ano de 2015, um bloco específico para notícias de cada região, no telejornal RBS Notícias, e, até o início da pandemia, o Jornal do Almoço também possuía um bloco regional produzido pelas suas emissoras do interior, sendo que, a partir do final do mês de março de 2020, a edição tornou-se única e com mesmo conteúdo para todo o estado, embora ainda exiba algumas notícias de cada região, que são noticiadas pelos apresentadores regionais.

4 A RBS TV E O JORNAL DO ALMOÇO

De acordo com informações do tópico “História da RBS TV”, disponibilizado no site da emissora, a origem da RBS TV se deu em 29 de dezembro de 1962, com a fundação da TV Gaúcha, canal 12, em Porto Alegre. Inicialmente afiliada à extinta TV Excelsior, passou a integrar a Rede Globo em 1967. Dois anos depois, em 1969, entraram no ar as primeiras emissoras no interior do estado, a TV Imembuí, em Santa Maria, e a TV Caxias, em Caxias do Sul. No ano de 1972, eram criadas outras emissoras no interior do estado, como a TV Tuiuti, em Pelotas, e a TV Erechim. A seguir, foram criadas outras emissoras no interior, como em Uruguaiana (1974), Bagé e Rio Grande (1977) e Cruz Alta (1979). A denominação RBS TV passou a ser utilizada a partir de 1979. Após, foram ainda criadas as emissoras de Passo Fundo (1980), Santa Cruz do Sul (1988) e Santa Rosa (1992). Segundo dados de 2016 da emissora, a sua cobertura de sinal atinge 98,8% do estado do Rio Grande do Sul e a totalidade dos 497 municípios gaúchos, alcançando 11,1 milhões de telespectadores (RBS TV, 2016RBS TV. História da RBS TV. Porto Alegre, 4 out. 2016. Disponível em: http://redeglobo.globo.com/rs/rbstvrs/noticia/2011/12/historia.html. Acesso em 25 abr. 2021.
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).

Uma das principais características do grupo RBS é a sua regionalização, com destaque para abrangência dos seus veículos cobrindo todo o estado do Rio Grande do Sul. Daí, inclusive, vem a origem do seu nome. Até 2016, o grupo RBS estendia a sua atuação ao estado vizinho de Santa Catarina, com jornais impressos, emissoras de rádio e televisão espalhadas pela capital e em várias cidades do interior catarinense. Com o aprofundamento de uma crise financeira, a empresa acabou vendendo a propriedade para o grupo de comunicação Notícias de Santa Catarina (NSC). Desde então, a RBS passou a focar exclusivamente no Rio Grande do Sul.

O principal e mais longevo programa da RBS TV é o Jornal do Almoço, tendo ido ao ar pela primeira vez no dia 6 de março de 1972. Na época de estreia da atração, ainda não havia o espaço na programação nacional da Rede Globo para telejornais locais no horário do meio-dia, tendo sido o Jornal do Almoço um pioneiro neste aspecto (BRITTOS; ANDRES, 2007BRITTOS, Valério; ANDRES, Marcia. Pioneirismo e ousadia na TV gaúcha. Porto Alegre, 6 mar. 2007. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/tv-em-questao/pioneirismo-e-ousadia-na-tv-gaucha/. Acesso em: 25 abr. 2021.
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). Além do Jornal do Almoço, a emissora ainda apresenta dois outros programas jornalísticos em nível estadual, o Bom Dia Rio Grande e o RBS Notícias, ambos fazendo parte da programação desde o ano de 1983. O Bom Dia Rio Grande traz as principais informações do começo da manhã, repercutindo os fatos da noite anterior, a previsão do tempo e a situação do trânsito, com uma edição única veiculada em todo o estado. O RBS Notícias apresenta três blocos, sendo que um deles era exclusivamente destinado às informações de cada região. A partir de 2015, este bloco foi extinto e, atualmente, o telejornal é apresentado em formato único para todo o estado.

O Jornal do Almoço, ao longo dos seus 48 anos de história, já passou por várias transformações, seja em seu tempo de duração, seja na alteração de formato ou entre os diferentes apresentadores, comentaristas e repórteres que desfilaram pela atração. Ao longo do tempo, o programa ajudou a criar uma referência no que hoje é considerado um horário nobre para a apresentação de telejornais. Atualmente, o Jornal do Almoço vai ao ar de segunda a sábado, das 11h45min às 12h55min. O programa se caracteriza por ter um tom mais descontraído e traz informações sobre cotidiano, política, economia, cultura, esporte e previsão do tempo, com a participação de comentaristas que emitem suas opiniões sobre os mais variados assuntos.

De acordo com Cavenaghi (2013)CAVENAGHI, Beatriz de Araujo. Telejornalismo local: estratégias discursivas e a configuração do telespectador. 2013. Dissertação (Mestrado em Jornalismo) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/122899/321779.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 29 jun. 2021.
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, o lançamento do Jornal do Almoço foi amparado por um modelo de gestão e de conquista do mercado de anunciantes que até então não era praticado no mercado local, fazendo com que os empresários das cidades conhecessem, por meio da RBS, a possibilidade de “conversar” com seu público-alvo.

Andres (2008)ANDRES, Márcia Turchiello. A trajetória do Jornal do Almoço: ciclos e fragmentos históricos da comunicação capitalista. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2008. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2623. Acesso em: 22 abr. 2021.
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aponta que uma fase importante da trajetória do Jornal do Almoço se deu a partir do ano de 1985, quando se iniciaram as transmissões fora do estúdio em municípios do interior gaúcho, uma nova estratégia para captação de audiência e de patrocinadores. Cruz (2006)CRUZ, Fabio Souza. A cultura da mídia no Rio Grande do Sul: o caso MST e o Jornal do Almoço. 2006. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/intexto/article/view/4263. Acesso em: 22 abr. 2021.
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dizia que a emissora de televisão regional, por meio de seus programas jornalísticos, demonstrava preocupação de veicular informações de interesse de cada região, intercalando, nos noticiários, programação e blocos locais com notícias específicas regionais de cada emissora.

A importância do Jornal do Almoço na cultura jornalística e na formação de opinião do público do Rio Grande do Sul pode ser medida, em parte, pela popularidade de seus apresentadores e comentaristas, sendo que alguns tornaram-se candidatos e foram eleitos para cargos públicos relevantes e com expressiva votação.

A atração tem como característica a veiculação de espaços regionais, em que jornalistas das cidades com emissoras no interior apresentam notícias e reportagens que fazem parte da sua respectiva área de cobertura. Cabe destacar que, nas edições de sábado, já há alguns anos, não estava sendo veiculado o bloco de notícias regionais.

No entanto, em agosto de 2019, a RBS TV realizou uma reestruturação nas suas emissoras e, para isso, promoveu uma campanha chamada Caravana do Interior, percorrendo diversas cidades gaúchas, o que antecederia a nova mudança de formato do telejornal. Até então, o grupo de comunicação possuía representação de espaço regional da seguinte forma, de acordo com o Atlas de Cobertura da RBS TV (CLIC RBS, s.d.CLIC RBS. Atlas de Cobertura. Porto Alegre, [s.d.]. Disponível em: http://www.clicrbs.com.br/pdf/8575330.pdf. Acesso em: 21 abr. 2021.
http://www.clicrbs.com.br/pdf/8575330.pd...
): Caxias do Sul (47), Pelotas (22), Santa Maria (36), Passo Fundo (84), Santa Cruz do Sul (64), Uruguaiana (8), Bagé (8), Cruz Alta (23), Santa Rosa (69), Erechim (44), Rio Grande (02), além da capital Porto Alegre (89)3 3 O número que acompanha cada uma das regiões refere-se ao total de municípios de cobertura. .

A partir de então, a RBS TV estruturou uma readequação dos espaços locais no interior do estado e algumas cidades-sede foram incorporadas a outras, formando uma nova macrorregião. Assim, Erechim, Cruz Alta e Santa Rosa incorporaram-se à emissora de Passo Fundo (220); Rio Grande e Bagé passaram a integrar a emissora de Pelotas (32); Uruguaiana passou a fazer parte da emissora de Santa Maria (44); Caxias do Sul (47) e Santa Cruz do Sul (64), além de Porto Alegre (89), seguem fazendo a cobertura das mesmas cidades que já integravam a sua região, não integrando nenhuma nova.

Desta forma, a RBS TV passou a ser dividida da seguinte maneira com relação à região de cobertura e sua cidade-sede: Região Sul e Campanha (Pelotas), Região Centro e Fronteira Oeste (Santa Maria), Região Norte e Noroeste (Passo Fundo), Região Serra (Caxias do Sul), Região dos Vales (Santa Cruz do Sul), além da capital, Região Metropolitana e Litoral Norte (Porto Alegre). Com este novo formato de regionalização, o programa Jornal do Almoço passou a apresentar blocos regionais, com a veiculação separada para cada uma de suas novas cinco regiões do interior e de Porto Alegre. Isto importa dizer que um bloco regional que antes produzia notícias para um determinado número de cidades, agora, disputará espaço com outros de uma quantidade maior de localidades, fazendo com que muitos fatos percam visibilidade em função do reduzido espaço local. A cobertura da RBS TV Passo Fundo, por exemplo, que antes correspondia a 84 cidades, agora, passou a abranger 220 cidades.

Essa mais recente política da RBS TV fez com que as emissoras do interior do estado ficassem enfraquecidas, pois, além da diminuição dos espaços regionais de notícias, houve cortes no número de repórteres e outros colaboradores, o que compromete a qualidade da produção jornalística. Não bastasse a nova política de estruturação que ocasionou a supressão de praças do interior, a pandemia de covid-19 alterou a forma de produção dos conteúdos da maioria dos veículos de comunicação. As normas de distanciamento social, utilizadas como uma das formas de se conter a disseminação do coronavírus, fez com que jornais, rádios e emissoras de televisão adotassem novas práticas para a produção dos seus conteúdos e, a partir de março de 2020, muitos profissionais da área do jornalismo passaram a trabalhar direto de suas residências, e as redações e estúdios tiveram uma considerável diminuição da presença de jornalistas.

Nas transmissões do Jornal do Almoço, a participação dos quadros regionais, que já havia diminuído, perdeu ainda mais espaço. A última edição do telejornal no formato com blocos regionais de notícias foi em 20 de março de 2020. A partir daí, os blocos de notícias regionais foram substituídos por participações de apresentadores das cidades-sede do interior do estado, com um espaço de tempo bastante reduzido, e o telejornal passou a ter um formato único para todo o estado. As participações do interior passaram a ser distribuídas ao longo do telejornal, com um tempo médio de cada região variando de 2 a 3 minutos, repercutindo um ou, no máximo, dois fatos da sua respectiva região. Como algumas regiões ficaram territorialmente maiores, muitos acontecimentos das diversas cidades da região acabam deixando de serem levados ao ar por absoluto limite de espaço ou condição de importância, tendo em vista que somente aquele fato mais relevante para a linha editorial do programa é que será pautado no espaço regional.

Isto importa dizer que uma das consequências diretas para boa parte da população do interior é de que os fatos que não são noticiados na vitrine, que é a televisão, acabarão não merecendo atenção no seu contexto social.

5 PERSPECTIVA METODOLÓGICA

Para compreender o processo de interiorização das emissoras de televisão no estado do Rio Grande do Sul, foi realizado um levantamento de como as emissoras de televisão em canal aberto estão dispostas no território gaúcho. Foi constatado que, diferentemente de outras emissoras que transmitem os seus programas jornalísticos regionais a partir de Porto Alegre e possuem o mesmo conteúdo em nível estadual, a RBS TV, especialmente com relação ao programa Jornal do Almoço, ainda tem produção jornalística a partir de cidades do interior do estado. No entanto, este programa vem reduzindo os seus espaços regionais de notícias, por meio de um novo formato de estruturação regional e por readequações no formato de apresentação do telejornal, em decorrência da pandemia do coronavírus. Esta atuação do Jornal do Almoço foi analisada por meio da observação4 4 Gil (2008, 100) explica: “A observação constitui elemento fundamental para a pesquisa. Desde a formulação do problema, passando pela construção de hipóteses, coleta, análise e interpretação dos dados, a observação desempenha papel imprescindível no processo de pesquisa. É, todavia, na fase de coleta de dados que o seu papel se torna mais evidente. A observação é sempre utilizada nessa etapa, conjugadas a outras técnicas ou utilizada de forma exclusiva. Por ser utilizada, exclusivamente, para a obtenção de dados em muitas pesquisas, e por estar presente também em outros momentos da pesquisa, a observação chega mesmo a ser considerada como método de investigação”. de seis edições do telejornal, no período de uma semana. A observação consistiu em verificar o tempo destinado a cada região em relação ao total do telejornal e quais assuntos foram tratados por cada segmento regional, além de contextualizar que outra forma de produção regional poderia ser apresentada, tendo em vista que alguns temas abordados na edição estadual seriam menos relevantes do que as notícias específicas para o público de cada região do interior do estado. O objetivo da pesquisa foi problematizar a importância do jornalismo regional para a população do interior gaúcho, especialmente quanto à RBS TV e ao programa Jornal do Almoço, o qual é um telejornal de muita tradição e com uma grande abrangência e penetração nos lares da comunidade gaúcha, mas que, com o passar dos anos, tem diminuído os espações regionais de notícias e mudando a lógica da informação, falando mais “da região” do que “para a região”.

Por meio da observação de forma integral das seis edições do Jornal do Almoço, durante o período compreendido entre a segunda-feira, dia 19 de abril de 2021, até o sábado, dia 24 de abril de 2021, foram destacados os espaços de notícias com apresentação a partir das emissoras do interior do estado, sendo analisados os tempos de duração da veiculação dessas notícias e os assuntos tratados nesses espaços regionais.

6 PERSPECTIVAS ANALÍTICAS

A partir da metodologia da observação (GIL, 2008GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.), foram analisadas as edições do Jornal do Almoço durante uma semana, de segunda-feira a sábado, durante o período aleatoriamente escolhido, de 19 de abril a 24 de abril de 2021, analisando-se conjuntamente as edições de segunda a sexta-feira, e separadamente a edição de sábado, por possuir características um pouco diferentes. Na observação, foram destacados os tempos de veiculação das notícias de cada uma das regiões de cobertura (Sul/Campanha, Centro/Oeste, Norte, Serra e Vales) e os respectivos assuntos tratados dentro desses espaços.

Quadro 1 Tempo de veiculação dos espaços regionais
Data Duração do Jornal do Almoço Sul Centro Norte Serra Vales Total % interior
19 de abril 64:42 2:29 1:46 4:07 1:57 1:54 18,88%
20 de abril 64:36 3:32 6:05 5:28 4:29 4:05 36,60%
21 de abril 65:04 1:06 1:30 5:19 4:38 2:10 22,61%
22 de abril 64:39 3:09 2:55 1:29 4:05 4:21 24,72%
23 de abril 61:55 3:10 1:30 1:54 4:55 2:02 21,83%
TOTAL 320:56 13:26 13:46 18:17 20:04 14:32 Média 24,95%
  • Fonte: Elaborado pelo autor.
  • Podemos constatar que os tempos destinados a cada uma das regiões não foram exatamente os mesmos, sendo que algumas regiões acabaram se sobrepondo a outras, como a Serra e a Norte, em relação às demais. A média dos tempos totais das notícias do interior do estado não chegou a um quarto do total da edição do programa. Destaca-se que houve uma exceção à média na edição do dia 20 de abril, em que foram produzidas, a partir do interior, matérias de longa duração, como a reportagem sobre um museu, transplante de órgãos e safra de soja. O quadro da previsão do tempo é um outro espaço diário dentro do jornal que aborda cidades do interior. Como trata de notícias específicas relacionadas ao clima, não foi considerado no cálculo dos tempos.

    Quadro 2 Assuntos tratados nos espaços regionais na edição de segunda-feira
    Região Notícias da edição do Jornal do Almoço do dia 19 de abril (segunda-feira)
    Sul

    Reunião de prefeitos da região sobre variante coronavírus do Reino Unido em Pelotas

    Informações sobre vacinação contra a covid-19 em Pelotas

    Centro

    Aglomeração em festa no final de semana em Santa Maria

    Informações sobre vacinação contra a covid-19 em Santa Maria

    Norte

    Morte por covid do prefeito de Coxilha

    Preocupação com casos de dengue na região / ação preventiva em Erechim – alerta de Chikungunya em São Nicolau

    Serra

    Informações sobre vacinação contra a covid-19 em Caxias do Sul

    Aglomerações no final de semana em Caxias do Sul

    Vales

    Casos de dengue em Santa Cruz do Sul

    Informações sobre vacinação contra a covid-19 em Santa Cruz do Sul e Lajeado

  • Fonte: Elaborado pelo autor.
  • Quadro 3 Assuntos tratados nos espaços regionais na edição de terça-feira
    Região Notícias da edição do Jornal do Almoço do dia 20 de abril (terça-feira)
    Sul Reportagem sobre museu histórico de Piratini
    Centro

    Lei da Câmara de Vereadores autoriza kit covid-19 em Santa Maria

    Santa Maria atinge número de mais de 500 mortes por covid-19

    Norte

    Vacinação afetada pelo feriado em Cruz Alta, Santo Ângelo, Erechim e Passo Fundo

    Reportagem sobre safra recorde de soja

    Serra

    Reportagem sobre queda no número de transplantes de órgãos

    Informações sobre vacinação contra a covid-19 em Caxias do Sul

    Vales Reportagem sobre campanha de doações de roupas em Lajeado
  • Fonte: Elaborado pelo autor.
  • Quadro 4 Assuntos tratados nos espaços regionais na edição de quarta-feira
    Região Notícias da edição do Jornal do Almoço do dia 21 de abril (quarta-feira)
    Sul Reportagem sobre falta de leite materno no banco de leite em Bagé
    Centro Suspensão de tráfego de caminhões Brasil/Argentina na aduana de Uruguaiana
    Norte

    Adolescente agredido pelo padrasto durante aula on-line em Erechim

    Morte de índios em incêndio em reserva indígena de Ronda Alta

    Serra

    Informações sobre vacinação contra a covid-19 em Caxias do Sul

    Reportagem sobre casos de reinfecção e após tomar vacina

    Vales Ciclista pedala de Encantado até o Cristo Redentor no Rio de Janeiro
  • Fonte: Elaborado pelo autor.
  • Quadro 5 Assuntos tratados nos espaços regionais na edição de quinta-feira
    Região Notícias da edição do Jornal do Almoço do dia 22 de abril (quinta-feira)
    Sul Furto de veículo de revenda e atropelamento com morte em Rio Grande
    Centro Suspensão de tráfego de caminhões Brasil/Argentina na aduana de Uruguaiana
    Norte Morte de índios em incêndio em reserva indígena de Ronda Alta
    Serra

    Atividade musical e doações durante a vacinação contra a covid-19 em Caxias do Sul

    Fechamento por casos de covid-19 do restaurante popular de Caxias do Sul

    Vales Reportagem sobre praga de piranhas palometas no Rio Jacuí
  • Fonte: Elaborado pelo autor.
  • Quadro 6 Assuntos tratados nos espaços regionais na edição de sexta-feira
    Região Notícias da edição do Jornal do Almoço do dia 23 de abril (sexta-feira)
    Sul

    Surto de covid-19 na Câmara de Vereadores de Pelotas

    Ação solidária por meio de desafio de atleta correndo em esteira em Rio Grande

    Centro Hospital de Santa Maria participa de testes de nova vacina para coronavírus
    Norte

    Suspensão da 2ª dose de vacina contra a covid-19 em Passo Fundo e Erechim, por falta de doses

    Campanha de arrecadação de donativos em Passo Fundo

    Serra

    Reportagem sobre hábitos de leitura e biblioteca digital de Bento Gonçalves (Dia Mundial do Livro)

    Informações sobre vacinação contra a covid-19 em Caxias do Sul

    Vales Reportagem sobre casos de dengue em Bom Retiro do Sul e na região (citou também Erechim, com maior número de casos)
  • Fonte: Elaborado pelo autor.
  • A edição do Jornal do Almoço de sábado, dia 24 de abril, foi um pouco diferente do que ocorreu durante a semana. O programa, neste dia, não contou com a presença dos apresentadores locais das emissoras do interior; mesmo assim, apresentou algumas matérias de regiões do interior do estado, sob a forma de reportagem gravada ou com a participação ao vivo de repórteres. Foi apresentada uma reportagem sobre adoção de visitas a pacientes com covid-19 em hospital de Erechim (3:08 duração); reportagem sobre perdas relacionadas a setores que envolvem a educação, como lojas de uniformes, transporte escolar e escolas infantis em Caxias do Sul (3:00 de duração); reportagem sobre golpe praticado por uma financeira em Encruzilhada do Sul (5:49 de duração); reportagem sobre a igreja da Capilha, no distrito do Taim, em Rio Grande (4:11 de duração); ação solidária de doações em Passo Fundo (1:38 de duração); repórter entrou ao vivo de Venâncio Aires para matéria sobre preparativo de mate, em homenagem ao Dia do Chimarrão (3:07 de duração); repórteres dividiram a tela virtual com o apresentador do jornal em Porto Alegre, para trazer informações sobre a vacinação de covid-19 em Caxias do Sul e Passo Fundo (3:38 de duração). Além disso, o apresentador do programa deu uma notícia sobre festa com aglomeração em Caxias do Sul (0:37 de duração). Desta forma, nesta edição, o Jornal do Almoço teve um tempo total de 1 hora, 1 minuto e 31 segundos, e notícias relacionadas ao interior do estado ocuparam um tempo de 25 minutos e 8 segundos, o equivalente a 40,85% do tempo de duração total do programa e acima da média do que ocorreu durante a semana de segunda a sexta-feira.

    Por meio da observação dessas edições, pôde-se constatar que as notícias apresentadas a partir do interior do estado trataram, na sua grande maioria, da pandemia de covid-19 e dos desdobramentos que este assunto proporciona. Outro tema de saúde recorrente foi a situação da dengue em algumas regiões do estado. Fora isso, temas de repercussão para além da região original, como a safra de soja, praga de peixes predadores, Museu Histórico Farroupilha e alguns destaques factuais, como a agressão a adolescente pelo padrasto, falta de leite materno, queda do número de transplantes, furto de veículo e morte, suspensão do transporte internacional de cargas e a morte de índios em reserva indígena, sendo estas duas notícias repetidas nas regiões Centro e Norte, respectivamente, nas edições de 21 e 22 de abril. O que ficou evidenciado é que algumas notícias que seriam realmente do interesse dos moradores da região, como os locais, horários e pessoas aptas à vacinação, foram tratadas de forma superficial e somente abordando poucas cidades, deixando uma lacuna de informação aos moradores do interior do estado.

    A partir desta semana observada, o Jornal do Almoço começou uma série de reportagens em homenagem aos 250 anos de aniversário da cidade de Porto Alegre. Na edição de quarta-feira, foi veiculada uma reportagem de 9 minutos, que ainda seguiu com comentários do cronista Paulo Germano e a interatividade dos telespectadores, por meio de mensagens com fotos. Na edição de quinta-feira, foram destinados 6 minutos e 13 segundos para outra matéria sobre as ruas e avenidas de Porto Alegre, e ainda houve em uma conversa com o apresentador da previsão do tempo e a interatividade dos telespectadores. Na edição de sexta-feira, a homenagem ao aniversário de Porto Alegre teve uma reportagem sobre as ruas da periferia, com duração de 5 minutos e 7 segundos, e seguiu com comentários de Paulo Germano e a interatividade dos telespectadores. Na edição de sábado, foi a vez de mostrar as praças e os parques de Porto Alegre, com duração de 6 minutos e 5 segundos e mais a interatividade dos telespectadores. Estas reportagens em homenagem ao aniversário da capital seguiriam ao longo do programa até o mês de março de 2022. Fato é que esta série de reportagens, embora tratasse da capital de todos os gaúchos, pouco interferia na vida das pessoas que habitam o interior do estado. O espaço destinado a esta apresentação poderia ser utilizado de outra forma, como um maior espaço regional de notícias, por exemplo.

    Durante o programa Jornal do Almoço, é apresentada uma “prévia” do Globo Esporte, em que a apresentadora do programa esportivo adianta alguns destaques das notícias que serão transmitidas no programa a seguir. Este espaço conta também com o comentário do cronista Pedro Ernesto Denardin. Basicamente, os temas são relacionados aos times Grêmio e Internacional e, mesmo que a semana observada tenha sido correspondente à última rodada do campeonato gaúcho, não se falou, neste espaço, de nenhum clube ou jogo que tenha sido ou seria realizado no interior do estado. O tempo médio observado deste espaço ao longo da semana foi de 4 minutos e 43 segundos. Ainda sobre o Globo Esporte, no mês de maio, o Jornal do Almoço começou uma série de homenagens aos dez anos do programa, que se completariam no dia 16 de maio. Mostrou o histórico do programa e a importância do desmembramento da cabeça de rede da Globo, pois, antes, era um bloco destinado ao Rio Grande do Sul, e depois o programa passou a ser totalmente com notícias do esporte local, completando 10 anos nesse formato. De certa forma, a RBS mostrou um contrassenso ao valorizar a importância da produção local em relação ao esporte e, no entanto, acaba por cada vez mais reduzir a produção de conteúdo local das suas emissoras do interior do estado.

    Outra evidência constatada pela amostra dos programas analisados foi de que a presença de apresentadores que entraram dos locais onde estão as sedes das emissoras do interior foi uma mera formalidade, pois as notícias poderiam ser apresentadas da mesma forma, apenas com a participação de repórteres, fosse em entradas ao vivo ou gravadas. Além da falta de aprofundamento das notícias relevantes para a população regional, também ficou prejudicada a realização de entrevistas locais e notícias segmentadas das regiões, como o esporte, por exemplo. Cabe ressaltar que não se trata da questão de tempo, fator tão determinante quando se fala em televisão, mas sim de diretriz, de política editorial do programa e da emissora de televisão. De outra forma, o tempo do espaço destinado ao resumo do que seria o programa a seguir, Globo Esporte, poderia ser acrescido ao tempo médio de participação de cada região, o que daria aproximadamente um espaço de 10 minutos. Assim sendo, cada região poderia ter o seu espaço próprio destinado às notícias de interesse de sua região de cobertura, como era no passado, com mais aprofundamento das informações específicas para o público regional. Como exemplo de comparação, a emissora NSC, que produz o programa Jornal do Almoço para Santa Catarina, possui um espaço próprio e específico de notícias para cada região de cobertura do interior do estado.

    A partir da semana do dia 17/05/2021, o Jornal do Almoço alterou um pouco o seu formato, começando cada edição com a apresentadora do jornal dividindo uma tela virtual com outros três apresentadores de algumas regiões do interior do estado, os quais trouxeram manchetes dos assuntos que seriam tratados durante o programa, assim como, ao final da edição, o mesmo formato foi apresentado para adiantar destaques da edição do dia seguinte. É uma forma de tentar dar uma ideia de importância para as emissoras do interior, mas que, na verdade, trata-se de um mero adereço, pois o espaço dado às notícias do interior não alterou nada em relação ao que já vinha acontecendo.

    7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O acesso à informação é um direito fundamental, e o jornalismo serve com um mediador entre os acontecimentos e a divulgação dos fatos à população, inclusive, para aquele cidadão que mora nos locais mais distantes dos grandes centros urbanos. Nos últimos anos, canais abertos de televisão do Rio Grande do Sul fecharam espaços regionais ou reduziram drasticamente a produção de conteúdo local, como é o caso da RBS TV, a qual ainda é a emissora de televisão em canal aberto com abrangência em todo o estado do Rio Grande do Sul que atende, em parte, a esta demanda. No entanto, ela tem se distanciado, aos poucos, de uma das suas premissas, que era a regionalização e a cobertura de fatos regionais do interior do estado, como visto por meio da extinção, já há algum tempo, do bloco regional do programa RBS Notícias e da mudança de formatação mais atual do programa Jornal do Almoço.

    Em tempos de pandemia e de tantas informações duvidosas que cada vez mais circulam na internet, o jornalismo profissional ganha ainda mais importância, especialmente a televisão, que possui grande retrospecto entre o público. Com todos os problemas diretamente e indiretamente causados pela crise sanitária envolvendo a covid-19, em que a população mais necessitava de informação de utilidade pública sobre os serviços de saúde, número de infectados, localização de surtos, situação dos hospitais, condições de funcionamento de atividades comerciais, oportunidades ou alternativas de trabalho locais, enfim, tantos temas que estavam intimamente ligados ao cotidiano da população, a informação com credibilidade, ética e responsabilidade seria ainda mais fundamental na vida das pessoas.

    O distanciamento percebido do jornalismo televisivo nas comunidades do interior é extremamente prejudicial ao acesso à informação, fator crucial para a sociedade exercer a sua cidadania e a democracia. Uma emissora de televisão é uma concessão pública fornecida pelo governo federal e deve ter como uma de suas finalidades o oferecimento de informação de qualidade e prestação de serviço às comunidades das quais fazem parte.

    Devido à reestruturação operacional realizada pela RBS TV, aliada com o novo formato de veiculação a partir do início da pandemia de covid-19, os públicos regionais deixaram, por exemplo, de ter acesso às informações mais localizadas em relação às notícias do esporte, vagas de emprego, previsão do tempo específica para a região, agenda cultural, cobertura política da região, notícias próximas aos seus cotidianos e entrevistas que tratam de assuntos mais específicos de cada local ou região.

    Embora a RBS TV tenha desativado a sua estrutura local em algumas emissoras do interior (Rio Grande, Bagé, Uruguaiana, Santa Rosa, Cruz Alta, Erechim), os intervalos comerciais destas cidades seguiram com os anúncios publicitários das respectivas localidades. Ou seja, se, por um lado, as comunidades perderam consideravelmente o acesso às notícias do seu entorno geográfico, por outro, seguiram sofrendo uma “enxurrada” de informações sobre as promoções do supermercado, das novidades da loja de calçados, do novo veículo da concessionária ou do convidativo cardápio do restaurante da sua rua, do seu bairro ou da sua cidade.

    • 2
      Ao longo do presente artigo, vão aparecer as expressões “jornalismo local” e “jornalismo regional”. Mesmo que aparentemente os termos possam se confundir, o primeiro se refere ao jornalismo que é praticado em uma determinada cidade específica, enquanto o segundo compreende um conjunto de cidades que fazem parte de uma mesma região geográfica.
    • 3
      O número que acompanha cada uma das regiões refere-se ao total de municípios de cobertura.
    • 4
      Gil (2008, 100)GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008. explica: “A observação constitui elemento fundamental para a pesquisa. Desde a formulação do problema, passando pela construção de hipóteses, coleta, análise e interpretação dos dados, a observação desempenha papel imprescindível no processo de pesquisa. É, todavia, na fase de coleta de dados que o seu papel se torna mais evidente. A observação é sempre utilizada nessa etapa, conjugadas a outras técnicas ou utilizada de forma exclusiva. Por ser utilizada, exclusivamente, para a obtenção de dados em muitas pesquisas, e por estar presente também em outros momentos da pesquisa, a observação chega mesmo a ser considerada como método de investigação”.

    REFERÊNCIAS

    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Ago 2023
    • Data do Fascículo
      Apr-Jun 2023

    Histórico

    • Recebido
      02 Jul 2021
    • Revisado
      15 Mar 2023
    • Aceito
      17 Abr 2023
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