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Saúde mental de estudantes universitários em tempos de restrição pandêmica

Mental health of university students in times of pandemic restriction

Salud mental de los estudiantes universitarios en tiempos de restricciones pandémicas

Resumo

O isolamento social praticado durante a pandemia de COVID-19 teve repercussões em diversos aspectos da vida pessoal e social de milhares de pessoas. Entre as categorias sociais mais fortemente atingidas, encontram-se os jovens estudantes do Ensino Superior. Essa classe foi afetada não só em sua saúde mental, dentro deste contexto, mas tensionada pelo desemprego, pela necessidade de adaptações tecnológicas e, principalmente pelo isolamento social. A investigação coloca foco precisamente na questão do isolamento social, realidade que se mostrou capaz de afetar a saúde física e, também, psicológica. O texto se desenvolve com o objetivo de analisar os efeitos desta restrição na saúde mental de estudantes universitários da Universidade Católica Dom Bosco, localizada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Os dados são obtidos a partir de uma amostra de 648 participantes por meio de um questionário on-line e submetidos a uma análise estatística descritiva, adaptada para um estudo de caso. Evidencia-se um alto percentual de positividade para fatores que comprometem a saúde mental, como estresse, depressão e ansiedade, entre outros. Este diagnóstico, no contexto pós-crise pandêmica, mostra-se capaz de contribuir para a qualidade de vida e o desempenho acadêmico, favorecendo a implementação de ações, pela universidade, que assegurem um retorno orientado e humanizado às aulas presenciais.

Palavras-chave:
estudantes universitários; isolamento social; saúde mental

Abstract

Social isolation practiced during the COVID-19 pandemic has had repercussions in various aspects of the personal and social lives of thousands of people. Among the social categories most severely affected are young college students. This group has been impacted not only in terms of their mental health, within this context, but also strained by unemployment, the need for technological adaptations, and, primarily, social isolation. This research focuses precisely on the issue of social isolation, a reality that has been shown to affect both physical and psychological health. The text revolves around the objective of analyzing the effects of this restriction on the mental health of university students at the Catholic University Dom Bosco in Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Data is obtained from a sample of 648 participants through an online questionnaire and subjected to descriptive statistical analysis adapted to a case study. A high percentage of positivity for mental health compromising factors such as stress, depression, and anxiety, among others, is evident. This diagnosis, in the post-pandemic crisis context, proves capable of contributing to the quality of life and academic performance, favoring the university's implementation of actions that ensure a guided and humanized return to in-person classes.

Keywords
university students; social isolation; mental health

Resumen

El aislamiento social practicado durante la pandemia de COVID-19 ha tenido repercusiones en diversos aspectos de la vida personal y social de miles de personas. Entre las categorías sociales más fuertemente afectadas se encuentran los jóvenes estudiantes de educación superior. Este grupo ha sido afectado no solo en términos de su salud mental dentro de este contexto, sino también se ha visto afectado por el desempleo, la necesidad de adaptaciones tecnológicas y, sobre todo, el aislamiento social. Esta investigación se centra precisamente en la cuestión del aislamiento social, una realidad que ha demostrado ser capaz de afectar tanto la salud física como la psicológica. El texto se desarrolla en torno al objetivo de analizar los efectos de esta restricción en la salud mental de los estudiantes universitarios de la Universidad Católica Dom Bosco en Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Los datos se obtienen de una muestra de 648 participantes a través de un cuestionario en línea y se someten a un análisis estadístico descriptivo adaptado a un estudio de caso. Se evidencia un alto porcentaje de positividad para factores que comprometen la salud mental, como el estrés, la depresión y la ansiedad, entre otros. Este diagnóstico, en el contexto posterior a la crisis pandémica, demuestra ser capaz de contribuir a la calidad de vida y al rendimiento académico, favoreciendo la implementación de acciones por parte de la universidad que garanticen un retorno guiado y humanizado a las clases presenciales.

Palabras clave:
estudiantes universitarios; aislamiento social; salud mental

1 INTRODUÇÃO

Uma das medidas amplamente adotadas, por todos os países, para reduzir a propagação do vírus da covid-19 foi o fechamento das escolas e universidades. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2020ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA [UNESCO]. Proposta das Instituições Superior Públicas e Comunitárias do Brasil signatárias para a III Conferência Mundial de Educação Superior. Tema 1 - Impacto da covid-19 na Educação Superior. Coalização global de educação. Unesco, Paris, 2020. Disponível em: https://pt.unesco.org/covid19/educationresponse/globalcoalition. Acesso em: 5 fev. 2023.
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), até abril de 2020, 188 países haviam fechado suas escolas, afetando mais de 90% da população estudantil, o que equivale a cerca de 1,5 bilhão de estudantes que foram afastados do ambiente escolar. Foi uma situação sem precedentes, com consequências nefastas a curto, médio e longo prazo.

De fato, a covid-19 teve, e continua tendo, um impacto profundo em todas as atividades educativas, situação que foi amenizada pela rápida incorporação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e a subsequente adoção de formas remotas de ensino. Isso trouxe benefícios e riscos. Por um lado, tornou possível a continuidade dos estudos, mas, por outro, levantou questionamentos sobre a qualidade do ensino, a precariedade de acesso, devido à desigualdade social, o impacto no processo de formação cidadã e a ausência de vínculos socioafetivos (Valentin; Paz, 2022).

A alternativa tecnológica, embora tenha se apresentado como a mais viável, exigia uma rápida adaptação. No caso brasileiro, necessitava-se do básico, isto é, a maioria das escolas careciam do suporte e da estrutura necessários para oferecer o ensino remoto ou a distância. Embora as plataformas digitais estivessem mais presentes em algumas instituições privadas de Ensino Superior, a maioria dos estudantes não as aproveitava satisfatoriamente, seja por falta da disciplina necessária à autonomia exigida por esse método de estudo, seja porque, na maioria das vezes, eram utilizadas para fins de entretenimento e lazer. Além disso, os próprios educadores não estavam adequadamente preparados para a nova modalidade de ensino. Preparar uma aula remota é bem diferente da prática presencial de sala de aula (SINDICATO DOS TRABALHADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS [SINTUFAL], 2020SINDICATO DOS TRABALHADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS [SINTUFAL]. Impactos da pandemia na vida de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países. Portal SINTUFAL, Maceió, 8 out., 2020. Disponível em: https://sintufal.org.br/conteudo/2607/impactos-da-pandemia-na-vida-de-bilhao-de-estudantes-em-paises. Acesso em: 13 fev. 2023.
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).

A faceta mais cruel, no entanto, revela-se para além dos desafios tecnológicos, e isto começa a ser percebido desde a primeira onda de contágio que chegou ao Brasil, provocando níveis de ansiedade que chegaram a 80%, enquanto o Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) e a depressão afetaram cerca de 65% das pessoas (Goularte et al., 2021GOULARTE, J.; SERAFIMAD S.; COLOMBOACD, R.; HOGGE, B.; CALDIERAROAD, A.; Rosa, A. Covid-19 and mental health in Brazil: psychiatric symptoms in the general population. Journal of Psychiatric Research, [s.l.], v. 132, jan. 2021, p. 32-7. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jpsychires.2020.09.021. Acesso em: 30 jun. 2022
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). Diante desse cenário, Silva e Rosa (2021)SILVA, S. M.; Rosa, A. R. O impacto da covid-19 na saúde mental dos estudantes e o papel das instituições de ensino como fator de promoção e proteção. Revista Prâksis, Rio de Janeiro, n. 2, p. 189-206, 2021. Doi: https://doi.org/10.25112/rpr.v2i0.2446
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argumentam a evidência de que a covid-19 acomete não somente o corpo, mas também o cérebro, podendo deixar sequelas a curto, médio e longo prazo, especialmente entre as camadas sociais mais vulneráveis, gerando medo e desencadeando desconforto emocional.

A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) é uma das Instituições de Educação Superior (IES) onde os efeitos da pandemia também se fizeram sentir fortemente, exigindo da Instituição a criação de modalidades alternativas de ação e intervenção, durante e pós-covid. Importante iniciativa no aspecto “pós-covid” foi a realização de pesquisa com os estudantes, coletando dados e promovendo análises que traduzissem a realidade e apontassem alternativas viáveis. Esses procedimentos mostraram-se de grande valia, pois proporcionaram à Instituição dados empíricos e fundamentação teórica como resposta a prementes demandas dos estudantes.

O diagnóstico pós-covid exige a observação de vários ângulos: a expectativa dos acadêmicos em relação ao momento de retorno à realidade presencial, os impactos causados pela pandemia na saúde psíquica de estudantes, os efeitos do isolamento social coletivo na aprendizagem e no trabalho, e a percepção sobre a adoção de atividades mediadas por tecnologias digitais. Nesse estudo, optamos por colocar foco em apenas uma destas dimensões: os impactos da restrição pandêmica na saúde mental dos estudantes. O banco de dados primários é organizado e coletado pelo setor da universidade responsável pela “Assistência à Saúde do Acadêmico”, o ASA.

Para alcançar o objetivo de analisar os efeitos da restrição pandêmica na saúde mental dos acadêmicos, o estudo se organiza da seguinte forma: além da introdução, apresenta a metodologia utilizada, selecionando, para isto, apenas um dos aspectos da vasta gama de dados coletados; em seguida, mostra o cenário da crise pandêmica, como forma de se evidenciar a proporção do problema; reflexiona a juventude (universitária) como uma das categorias mais fortemente afetadas, e descreve, a título de conclusão, os efeitos de maior impacto na saúde mental dos estudantes.

2 O CENÁRIO DA CRISE

No Brasil, o primeiro caso de contaminação pela covid-19 foi registrado em 23 de janeiro de 2020. Em pouco tempo, a doença se disseminou por todos os Estados, ocasionando grande surto epidemiológico com constantes complicações patológicas, devido à capacidade de mutação do vírus. Até meados de junho de 2022, o número de óbitos ultrapassou 660 mil (Cordeiro, 2022CORDEIRO, T. L. R. Pandemia da desinformação: as fake news e sua influência na vacinação contra a COVID-19 pela ótica de Michel Foucault. Espaço para a Saúde, Curitiba, v. 23, n. 23, e862, p. 1-6, 2022.).

A epidemia causou danos e desequilíbrios em várias dimensões, incluindo a psicológica, sociológica, comunicacional, econômica, ambiental, cultural, entre outras. Para o âmbito econômico, Conti et al. (2020)CONTI, B.; Garlipp, J.; CONCEIÇÃO, D.; ROCHA, M.; Noronha, J.; CASTO, L.; Torres, E. A maior crise do Capitalismo? Jornal dos Economistas, Rio de Janeiro, n. 369, p. 1-14, 2020. Disponível em: https://www.corecon-rj.org.br/anexos/68DE88B40E98338D36B5EB580995A78E.pdf. Acesso em: 14 fev. 2023.
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utilizam o termo “coronacrise” para expressar o quanto atividades que representam até 35% do PIB de países desenvolvidos foram profundamente afetadas. No caso do Brasil, esse número seria de 20% do PIB. A taxa de desemprego, que, antes da pandemia, era de 11,6%, subiu para 14%, afetando 15 milhões de trabalhadores até outubro de 2020 (Cabral, 2020CABRAL, U. Número de desempregados chega a 14,1 milhões no trimestre até outubro. Agência IBGE, Brasília, 2020. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29782-numero-de-desempregados-chega-a-14-1-milhoes-no-trimestre-ate-outubro. Acesso em: 14 fev. 2023.
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). Paralela a esta realidade, a taxa de informalidade também cresceu, aumentando 2,6% neste mesmo período, passando de 38% para 40,6% (Zanobia, 2021ZANOBIA, L. Desemprego durante a pandemia foi maior que o estimado. Portal IBGE, Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/ibge-desemprego-durante-a-pandemia-foi-maior-que-o-estimado/. Acesso em: 13 fev. 2023.
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). A fome atingiu 33 milhões de pessoas, ao mesmo tempo que se elevou para 55,2% a insegurança alimentar nos domicílios (Rede Penssan, 2021REDE PENSSAN. Brasil sem fome: a fome tem gênero. [s.l.], 2021. Disponível em: https://www.brasilsemfome.org.br/?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=acaocidaddania-ampliva-google-geral-redepenssan-trafego-44704. Acesso em: 1º ago. 2022.
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)2 2 Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan, 2021). .

Com o avanço da crise sanitária, a capacidade de liderança do governo Bolsonaro foi colocada em cheque diante do modo como se deu a gestão da pandemia, aprofundando mais ainda a crise entre ele e diversas Instituições, por conta dos fortes indícios de que o agravamento da covid-19 ocorreu em razão de “[...] uma estratégia institucional de propagação do vírus promovida pelo próprio governo, sob a liderança da Presidência da República” (Brum, 2021BRUM, E. Pesquisa revela que Bolsonaro executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus. Jornal El País - Brasil, São Paulo, 21 jan. 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-01-21/pesquisa-revela-que-bolsonaro-executou-uma-estrategia-institucional-de-propagacao-do-virus.html. Acesso em: 25 abr. 2021.
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)3 3 Essa é a tese também de um grupo de 352 notáveis, formado por juristas, economistas, intelectuais e artistas, que solicitaram à Procuradoria Geral da República (PGR) a abertura de uma ação criminal contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). .

Brum (2021)BRUM, E. Pesquisa revela que Bolsonaro executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus. Jornal El País - Brasil, São Paulo, 21 jan. 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-01-21/pesquisa-revela-que-bolsonaro-executou-uma-estrategia-institucional-de-propagacao-do-virus.html. Acesso em: 25 abr. 2021.
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noticiou que o Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (CEPEDISA) apresentou denúncia contra as atitudes negacionistas do governo, que incluía a teoria da imunidade de rebanho, a não aceitação dos protocolos científicos, a insistência no tratamento precoce à base da cloroquina e, principalmente, a recusa em comprar vacinas4 4 O Ministério da Saúde recusou 11 ofertas formais de fornecimento de vacina, o que significaria, considerando apenas uma das fornecedoras (Pfizer), a aquisição de 70 milhões de doses ainda em 2020. . Esses fatores, quando somados, resultaram em milhares de mortes evitáveis e levaram hospitais ao colapso. Em meio à pior crise sanitária ocorrida da sua história, o país ficaria quatro meses sem um Ministro da Saúde.

O quarto ministro que assumiu o cargo, Marcelo Queiroga, buscando alinhamento à política de Bolsonaro, pronunciou na sua posse as seguintes palavras: “[...] a política é do governo Bolsonaro, não do ministro da Saúde. A Saúde executa a política do governo” (Bridi, Gurgel, Galzo, 2021BRIDI, C.; GURGEL, B.; GALZO, W. Em carta, governadores alertam OMS, Biden e Queiroga sobre risco de 3ª onda. CNN-Brasil, São Paulo, 25 maio 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/05/26/em-carta-governadores-alertam-oms-biden-e-queiroga-sobre-risco-de-3-onda. Acesso em: 26 maio 2021.
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). Essa atitude conduzira a gestão da crise cada vez mais para os laboratórios da política, e não da ciência.

A inação e o negacionismo do governo Jair Bolsonaro, bem como a promoção de medicamentos sem eficácia científica, são apontados como as principais causas do fracasso no enfrentamento à pandemia de covid-19. Assim, o Brasil, com apenas 3% da população mundial, concentrou 11% das mortes no planeta, o que equivale a quatro vezes a média mundial por milhões de habitantes (Observatório Fiocruz, 2021OBSERVATÓRIO FIOCRUZ. Observatório covid-19 - indicadores. Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://observatorio.fiocruz.br/indicadores. Acesso: 17 set. 2022.
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). Diante dessas razões, começaram a ocorrer manifestações na mídia, cada vez mais frequentes a partir de abril de 2021, por grupos isolados carregando faixas e partidos políticos, imputando a Bolsonaro a culpa pelas milhares de mortes no país e chamando-o de genocida. Por estes mesmos motivos, instalou-se, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento da crise.

Os reflexos da crise foram particularmente notados no ambiente educativo das Instituições de Ensino Superior, que buscaram, por meios próprios, reagir ao problema, ao mesmo tempo que ficaram expostas aos contratempos criados pela falta de uma política governamental de combate e prevenção à doença, bem como pela falta de investimentos educacionais. O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, 2020bORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT [OECD]. Coronavirus (Covid-19): SME policy responses. OECD, França, Paris, 15 jul. 2020. Disponível em: https://www.oecd.org/coronavirus/policy-responses/coronavirus-covid-19-sme-policy-responses-04440101/ Acesso em: 14 fev. 2023.
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) concluiu que o Brasil foi um dos países que menos investiram em educação durante a pandemia: US$ 3.250 por aluno ao ano contra mais de US$ 10 mil na média dos 38 países da organização.

A III Conferência Mundial de Educação Superior, promovida pela UNESCO entre os dias 18 e 20 de maio de 2022, também aponta para a gravidade da crise na Educação Superior no Brasil, acentuada pela crise sanitária e pelas limitações impostas às políticas sociais, decorrentes da Emenda Constitucional n. 95, que comprometeu o desenvolvimento sustentável do país (Unesco, 2022ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA [UNESCO]. Transforming education through innovation: The Global Education Coalition leading in action. Unesco, Paris, 2022. Disponível em: https://globaleducationcoalition.unesco.org/. Acesso em: 16 fev. 2023.
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).

3 JUVENTUDE: GRUPO SOCIAL EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE PELA CRISE

Durante o auge da pandemia, grande parte da população jovem sentiu suas forças limitadas para lidar com a situação. Diante da sensação de “ficarem para trás” em relação ao aprendizado, e de estarem sozinhos no convívio social, os estudantes depositaram grandes expectativas nas instituições de ensino, no que diz respeito a apoio emocional, organização e foco (Atlas das Juventudes, 2020). Não houve incentivo econômico nem qualquer aumento de recursos em 2020, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia. A falta de investimento em educação já vinha desde o governo de direita de Michel Temer, mediante a Emenda Constitucional n. 95, aprovada em 2016, que limita o teto de gastos do governo federal por 20 anos (Tribunal Reginonal Eleitoral [TRE], 2016TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL. Emenda Constitucional n. 95 (EC 95). Limite dos gastos públicos. Portal TRE, Curitiba, 2016. Disponível em: https://www.tre-pr.jus.br/transparencia-e-prestacao-de-contas/gestao-orcamentaria-financeira-e-fiscal/emenda-constitucional-no-95-ec-95-limite-dos-gastos-publicos. Acesso em: 9 fev. 2023.
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).

Na verdade, uma dupla crise se abateu sobre a juventude: a crise econômica e a crise pandêmica. A categoria, principalmente entre jovens de 14 a 24 anos, mostrou-se extremamente sensível ao desemprego; durante o período mais grave da pandemia, atingiu-se a porcentagem de 27,8% de desempregados; a informalidade alcançou 55%; a expectativa por estabilidade de emprego e de salário caiu; e milhões de jovens foram submetidos a atividades com maior taxa de exploração, como é o caso da motoentrega. As péssimas condições e perspectivas de trabalho repercutiram diretamente nas condições de estudo: muitos jovens necessitam de renda para custear seus próprios estudos (Xavier, 2020XAVIER, Cesar. Entregadores de aplicativo pedem pouco sem perder liberdade na jornada. A esquerda bem informada. Jornal Vermelho, Brasília, 30 jun. 2020. Disponível em: https://vermelho.org.br/2020/06/30/entregadores-de-aplicativo-pedem-pouco-sem-perder-liberdade-na-jornada/. Acesso em: 28 dez. 2022.
https://vermelho.org.br/2020/06/30/entre...
).

Dados do relatório ‘Juventude e pandemia da COVID-19’, produzido pelo Atlas da Juventude (2020), revelam que 65% dos jovens disseram ter aprendido menos com o ensino remoto. Apesar de seus esforços para continuar os estudos e a capacitação, metade destes jovens acredita que a conclusão dos estudos estaria atrasada, e 9% afirmam que poderão abandonar os estudos definitivamente (Organização Internacional do Trabalho [OIT], 2020ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Jovens e pandemia de covid-19: Pandemia de covid-19 interrompe a educação de mais de 70% dos jovens. Brasília, DF, 2020. disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_753097/lang--pt/index.htm. Acesso: 14 fev. 2023.
https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WC...
)5 5 O relatório “Juventude e covid-19: impactos sobre empregos, educação, direitos e bem-estar mental” é uma publicação conjunta da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com a Associação Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Comerciais (AIESEC), o Fundo Fiduciário de Emergência da União Europeia para a África, o Fórum Europeu da Juventude, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e o Grupo Principal das Nações Unidas para Crianças e Jovens. Os dados apresentados referem-se à juventude brasileira. . Entre as principais razões para esta defasagem, está a falta de acesso às tecnologias necessárias para o ensino remoto.

O fator econômico, o isolamento social, a falta de acesso às tecnologias, o desemprego, entre outros fatores, levaram a situações de abalo emocional (Conselho Nacional da Juventude [Conjuve], 2020CONSELHO NACIONAL DA JUVENTE [CONJUVE]. Pesquisa juventude e pandemia corona vírus. Relatório de resultados. [S.l], junho 2020. Disponível: . Acesso em: 15 mar. 2021.)6 6 A pesquisa foi realizada em plataforma online Survey Monkey, com 33.688 jovens de todos os Estados do país. . O fato é constatado também na pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (2020ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Jovens e pandemia de covid-19: Pandemia de covid-19 interrompe a educação de mais de 70% dos jovens. Brasília, DF, 2020. disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_753097/lang--pt/index.htm. Acesso: 14 fev. 2023.
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), ao revelar que, devido a este conjunto de fatores, 50% dos(as) jovens estão propensos(as) a sofrer de ansiedade ou depressão, enquanto outros 17% provavelmente já passaram a sofrer destes problemas.

4 METODOLOGIA

Com relação à pesquisa realizada, os dados primários foram coletados mediante a aplicação de questionário que, na sua amplitude, foi organizado de modo a abranger os seguintes aspectos: o inventário socioeconômico; o inventário de saúde e bem-estar; o inventário de percepção existencial; o inventário covid-19 (fatores de risco e proteção); formas de comunicação e manutenção de rede de apoio; uso e acesso a tecnologias; e a questão de estudo/aprendizagem e trabalho acadêmico.

A amostra foi organizada por adesão, uma vez que o questionário foi disponibilizado para todos os acadêmicos da universidade, com acesso via Sistema Integrado de Informações Acadêmicas (SIIA) do próprio estudante. Os dados aqui apresentados referem-se unicamente ao item “inventário de saúde e bem-estar” do acadêmico, com foco na saúde mental, e correspondem ao período de 11/10/2021 a 18/10/2021. Atingiu-se um total de 648 participações, o que significou 13% da amostra. Utilizou-se a análise estatística descritiva, adequada - conforme Santos (2018)SANTOS, C. Estatística descritiva: manual de auto aprendizagem, 2. ed., Lisboa: Edições Sílabo, 2018. Disponível em: https://static.fnac-static.com/multimedia/PT/pdf/9789726189688.pdf. Acesso em: 13 fev. 2023.
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- à pesquisa quantitativa descritiva, que objetiva descrever dados observados e traduzidos em tabelas e gráficos.

5 ANÁLISE E RESULTADOS

Estudantes universitários, principalmente aqueles recém-chegados, trazem consigo uma série de demandas características do contexto de ingresso no ensino superior (Cruz; Padovani, 2014). Segundo os autores, essas demandas envolvem a necessidade de adaptação relacionada à moradia, ao suporte social, à autonomia, às exigências relacionadas ao conteúdo abordado nas disciplinas, entre outras. A essas realidades já costumeiramente esperadas, soma-se uma variável súbita e imprevista, a covid-19 , lançando incertezas no cotidiano estudantil, afetando o desemprenho acadêmico e comprometendo sua saúde mental.

Dados obtidos por meio do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), escala que permite identificar se o grupo pesquisado apresenta sinais de transtornos mentais menores indicando a presença de estresse, depressão e ansiedade, mostra que 369 (57%) participantes apresentam positividade para estes comprometimentos. No contexto universitário, alguns destes fatores podem ser intensificados pelas próprias exigências do curso, pela infraestrutura da instituição e pelos relacionamentos interpessoais (Sahão; Kienen, 2021SAHÃO F. T, Kienen N. Adaptação e saúde mental do estudante universitário: revisão sistemática da literatura. Psicologia Escolar e Educacional, n. 25, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2175-35392021224238. Acesso: 10 fev. 2023.
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).

Há uma relação direta entre a saúde e o bem-estar e o bom desempenho do acadêmico em suas atividades na universidade, tanto no aspecto positivo quanto no negativo. Pesquisas apontam que esses aspectos, quando bem desenvolvidos, podem contribuir como facilitadores para o processo de adaptação do acadêmico à educação superior. E, ao contrário, o estresse, a depressão e a ansiedade podem comprometer uma adaptação saudável à universidade (Sahão; Kienen, 2021SAHÃO F. T, Kienen N. Adaptação e saúde mental do estudante universitário: revisão sistemática da literatura. Psicologia Escolar e Educacional, n. 25, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2175-35392021224238. Acesso: 10 fev. 2023.
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).

Tabela 1
Resultado do SRQ-20 por meio de correção dicotômica

A Tabela 2 indica a presença de sintomas que comprometem a saúde mental: 480 (31%) apresentam pensamentos depressivos, sendo que, destes, 64 (17%) apontam, ainda, ideação suicida. As mulheres são as mais impactadas por estes fatores, pois além das mudanças de rotina, os afazeres domésticos aumentaram. Assim, elas carregam os custos físicos e emocionais mais duros (Pontes, 2021PONTES, A. Sofrimento mental de mulheres em isolamento social em tempos de pandemia pela covid-19. 60 fl. (Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia), Curso de Bacharelado em Enfermagem, Centro de Educação e Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité - Paraíba - Brasil, 2021.; Baptista; 1999BAPTISTA, M. N.; BAPTISTA, A. S. D.; OLIVEIRA, M. G. Depressão e gênero: por que as mulheres deprimem mais que os homens? Rev. Temas em Psicologia, 7(2), 143-56. Ribeirão Preto, 1999.). A carga emocional tornou-se por demais pesada diante da perda de familiares, do distanciamento físico, da perda de contato com os amigos. Isso ocorreu de tal forma que uma pesquisa realizada pela Kaiser Family Foundation (KFF), nos Estados Unidos (EUA), indica que um em cada dez adultos (11%) apresentou sintomas de depressão (Panchal et al., 2020PANCHAL, N.; Kamal, R.; Orgera, K.; Cox, C.; Garfield, R.; Hamel, L.; Chidambaram, P. The implications of COVID-19 for mental health and substance use. Kaiser family foundation, v. 21, p. 1-16, 2020. Disponível em: https://pameladwilson.com/wp-content/uploads/4_5-2021-The-Implications-of-COVID-19-for-Mental-Health-and-Substance-Use-_-KFF-1.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.
https://pameladwilson.com/wp-content/upl...
).

Tabela 2
Resultado da correção por agrupamento sintomático

A Tabela 3 demonstra a presença elevada de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) durante o período pandêmico. Pessoas com TAG relatam um sofrimento subjetivo em razão da preocupação constante com diversos assuntos, além de prejuízo relacionado ao funcionamento social, profissional, escolar ou mesmo em outras áreas de vida, nas quais a dificuldade de controlar as preocupações acaba interferindo nas tarefas em questão.

Tabela 3
Avaliação de preocupação/TAG

Alguns indicadores que podem aparecer são: inquietação, fatigabilidade; dificuldade de concentração; irritabilidade; tensão muscular; e perturbação do sono, os quais, inevitavelmente, repercutirão no processo de ensino/aprendizagem, especialmente no que diz respeito à retenção do conteúdo ensinado. Essa amostra apontou 495 participantes (76%) com sintomas sugestivos para TAG. Entre os fatores que mais preocupam e desencadeiam sofrimentos subjetivos, estão: saúde (342); finanças (324); meio ambiente (263); e manutenção do emprego (218).

A Tabela 4 aborda a qualidade do sono foi percebida como boa por 289 (45%), e 309 (48%) consideram ruim ou muito ruim. Dados obtidos, neste sentido, indicam que tiveram dificuldade de ficarem acordados, no ultimo mês, numa frequência de uma a duas vezes por semana, 204 (32%) participantes, e 151 (24%) na frequência de três ou mais vezes por semana. Esse é um dado significativo, o qual demonstra que o sono não foi atingido dentro deste período pandêmico. Em relação à insônia, importante fator de comprometimento da saúde, os acadêmicos não demonstraram terem sido atingidos em sua condição de sono, pelo menos neste último mês (outubro de 2021) apresentando um score de 216 (33%) para nenhuma situação de insônia e/ou 143 (22%) para menos de uma vez por semana.

Tabela 4
Qualidade do sono no último mês (outubro de 2021)

A Tabela 5 aponta as sensações mais recorrentes no período de pandemia, destacando a ansiedade e o desânimo, que são indicadores apontados nesse período de isolamento social e de enfrentamento à pandemia. Pesquisas indicando resultados semelhantes trazem relatos de: tristeza, depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia (Barros et al., 2020Barros, M. B. D. A.; Lima, M. G.; Malta, D. C.; Szwarcwald, C. L.; Azevedo, R. C. S. D.; Romero, D.; Gracie, R. Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Revista Epidemiologia e Serviços de saúde, [s.l.], n. 29, p.1-12, 2020.); níveis de estresse, ansiedade e depressão mesmo em indivíduos praticantes de Yoga (Corrêa, Verlengia, Crisp, 2020CORRÊA, C. A.; VERLENGIA, R.; RIBEIRO, A. G. S. V.; CRISP, A. H. Níveis de estresse, ansiedade, depressão e fatores associados durante a pandemia de COVID-19 em praticantes de Yoga. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 25, p. 1-7, 2020.); e ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários (Maia; Dias, 2020MAIA, B.; Dias, P. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estudos de psicologia, Campinas, v. 37, e200067. https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067. Acesso em: 05 set. 2021.
https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e...
).

Tabela 5
O que foi apresentando no período de distanciamento social

Alguns recursos utilizados para o enfrentamento das situações foram o consumo de álcool e a utilização de calmantes neste período, que registraram um aumento. O isolamento social, aliado a problemas financeiros e várias outras situações, levou algumas pessoas a começarem a exagerar no consumo de álcool (Adamoli et al., 2020ADAMOLI, A. N.; RITTMANN, I.; PREVIDELLI, J. F. A.; CARVALHO, J. R.; MARKUS, J., SZUPSZYNSKI, K. P. D. R.; Zanon, R. B. (2020). O uso de álcool e outras drogas em tempos de pandemia. Porto Alegre: PUCRS, 2020.), fato que se constata, em alguma proporção, entre estudantes universitários da UCDB, conforme a Tabela 6.

Tabela 6
O que fez uso neste período de distanciamento social

Na Tabela 7, são apresentados dados sobre a autoestima dos estudantes universitários durante as restrições da pandemia. A autoestima envolve a percepção de si mesmo, incluindo características emocionais e comportamentais que influenciam a forma como os indivíduos lidam com as situações da vida. É esperado que a autoestima esteja abalada nesse momento, uma vez que surgem questionamentos sobre o que foi construído até então, e se isso terá valido a pena. Muitas incertezas em relação ao período pós-pandemia começaram a surgir: formação profissional, mercado de trabalho, relações interpessoais distantes e outras.

Tabela 7
Avaliação da autoestima - Escala de autoestima de Rosenberg

De acordo com os dados, pode-se perceber, pelos resultados mais pontuados, que os participantes da pesquisa têm uma elevada percepção das suas próprias qualidades e de seu valor (aspectos de visão positiva); no entanto, ao mesmo tempo, eles também se sentem muito fracassados e sem terem do que se orgulhar (aspectos de visão negativa). Isso indica que eles podem não estar utilizando efetivamente seu potencial para alcançar as realizações desejadas ou estão se cobrando demais, considerando seu envolvimento em um processo de formação profissional, o qual promete proporcionar essas realizações.

6 ALGUNS ASPECTOS CONCLUSIVOS

As questões relativas à saúde e ao bem-estar dos acadêmicos que participaram da pesquisa se apresentam em situação preocupante. As demandas de saúde mental apresentaram indicadores e comprometimentos com relação ao estresse, à depressão e à ansiedade, que podem comprometer processos de adaptação e desenvolvimento na universidade.

A pandemia contribuiu para o agravamento de situações que necessitam ser pensadas estrategicamente para este retorno, bem como para o surgimento de novas formas de engajamento dos estudantes na sua formação universitária. O sofrimento psíquico provocado pelo distanciamento social, o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, as incertezas e inquietações quanto ao pós-pandemia contribuem para este ajustamento geral.

Houve buscas pessoais no sentido do enfrentamento destas situações de desânimo e ansiedade, porém os dados demonstram que o consumo de álcool e a utilização de calmantes neste período foram algumas alternativas encontradas para o enfrentamento das adversidades.

A positividade para os sinais de transtorno mental identificados na escala SRQ-20 é preocupante, uma vez que resulta em sintomas elevados de ansiedade, desânimo, estresse e até mesmo ideação suicida, dificultando - em muito - o retorno à rotina acadêmica. Ao mesmo tempo que se mostram preocupantes, os dados favorecem a implementação - por parte da universidade - de um conjunto de ações que busquem favorecer ou contornar o problema, de modo a proporcionar aos estudantes, no seu retorno presencial, melhores níveis de saúde e bem-estar.

  • 2
    Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan, 2021REDE PENSSAN. Brasil sem fome: a fome tem gênero. [s.l.], 2021. Disponível em: https://www.brasilsemfome.org.br/?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=acaocidaddania-ampliva-google-geral-redepenssan-trafego-44704. Acesso em: 1º ago. 2022.
    https://www.brasilsemfome.org.br/?utm_so...
    ).
  • 3
    Essa é a tese também de um grupo de 352 notáveis, formado por juristas, economistas, intelectuais e artistas, que solicitaram à Procuradoria Geral da República (PGR) a abertura de uma ação criminal contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
  • 4
    O Ministério da Saúde recusou 11 ofertas formais de fornecimento de vacina, o que significaria, considerando apenas uma das fornecedoras (Pfizer), a aquisição de 70 milhões de doses ainda em 2020.
  • 5
    O relatório “Juventude e covid-19: impactos sobre empregos, educação, direitos e bem-estar mental” é uma publicação conjunta da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com a Associação Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Comerciais (AIESEC), o Fundo Fiduciário de Emergência da União Europeia para a África, o Fórum Europeu da Juventude, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e o Grupo Principal das Nações Unidas para Crianças e Jovens. Os dados apresentados referem-se à juventude brasileira.
  • 6
    A pesquisa foi realizada em plataforma online Survey Monkey, com 33.688 jovens de todos os Estados do país.

Referências

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    15 Fev 2023
  • Aceito
    26 Maio 2023
  • Aceito
    02 Jun 2023
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