Acessibilidade / Reportar erro

Apresentação

Apresentação

Júlio César Araújo

Organizador

As relações entre a linguagem e as tecnologias digitais têm sido analisadas por pesquisadores das ciências da linguagem com o objetivo de compreender questões que vão desde a natureza da interação virtual, passando pelos gêneros que mediam essa interação, até os temas relacionados ao ensino que se beneficia dessas práticas discursivas digitais. Nesse sentido, a presente edição de Linguagem em (Dis)curso, organizada como um número especial sobre Linguagem e Tecnologia, traz importantes reflexões que relacionam hipertexto, gêneros digitais e ensino. Foram convidados para compor esse número temático alguns dos pesquisadores que proferiram conferências, palestras em mesas-redondas e ministraram minicursos no II Encontro Nacional sobre Hipertexto, realizado na Universidade Federal do Ceará, em outubro de 2007. Os textos que resultaram dessas atividades no referido evento compõem este número especial, divididos em duas categorias: 3 artigos de pesquisa e 6 ensaios, conforme passaremos a apresentar na sequência.

A. D. Araújo (UECE), ao focalizar as relações entre computadores e o ensino de línguas estrangeiras, mostra que certas atividades disponíveis em websites na Internet podem ser usadas no ensino presencial de língua inglesa. Sua análise revela que, não apenas é escassa a diversidade de atividades de leitura e escrita nos materiais da web, como também são insignificantes as diferenças entre as propostas de atividades dos websites educacionais e as apresentadas nos livros didáticos impressos.

B. G. Bezerra (UPE), seguindo a perspectiva sociorretórica da análise de gêneros, reexamina o conceito de propósito comunicativo para analisar um corpus de 50 exemplares de gêneros introdutórios a livros acadêmicos atualizados na Internet. A análise do autor mostra que, uma vez transpostos para web, esses gêneros apresentam alterações em seus propósitos comunicativos e um arrefecimento do discurso acadêmico, que lhes caracteriza no meio impresso, em detrimento a um discurso marcadamente promocional, depois de sua transposição para web.

I. L. Vieira (UECE) alvitra uma reflexão sobre a busca de informação na web no âmbito do leitor e da escola. Por meio dos dados que analisa, Vieira aponta divergências expressivas entre as práticas do leitor virtual e as propostas de ensino mais frequentes voltadas para a busca de informação na web. À luz desses achados, a autora não apenas questiona o modo como se tem ensinado a pesquisar informação na Internet, como também sinaliza para algumas estratégias que podem ser úteis ao ensino de leitura.

V. L. M. O. Paiva (UFMG/CNPq/FAPEMIG) e M. Nascimento (PUC-Minas) propõem olhar para o hipertexto com as lentes da cognição e da enunciação. Para desenvolver essa proposta, Paiva e Nascimento estabelecem um profícuo diálogo entre a teoria da complexidade em conjunto com a teoria da enunciação de Benveniste e a teoria da integração conceitual de Fauconnier e Turner. O resultado dessa articulação abre caminhos parta os estudos sobre hipertexto na medida em que, respaldando-se na tese de que a linguagem é um sistema adaptativo complexo (SAC), os autores defendem a hipertextualidade como uma instanciação do princípio da recursão, visto como uma propriedade básica dos SACs.

C. V. Coscarelli (UFMG), ao propor a tese de que toda leitura é um processo hipertextual, defende que não há diferenças entre texto e hipertexto, pois ambos se realizam a partir dos mesmos fatores de textualidade. Para a autora, independentemente do ambiente em que se atualiza o texto (seja no impresso ou na web), o que conta é a textualidade da redação, que deve estar adequada ao leitor. Com base nessas considerações e por meio de uma análise de atividades de livros didáticos que tratam de ambientes digitais, Coscarelli mostra algumas das contribuições da escola para o letramento digital dos alunos.

J. C. Araújo (UFC) e A. C. Lobo-Sousa (UFC), ao reexaminarem a intertextualidade como uma característica inerente ao hipertexto, alertam sobre a possível confusão teórica entre intertextualidade e hipertextualidade se tomarmos a realização da primeira categoria apenas pela presença de links no hipertexto. Assim, ao se considerar o hipertexto como intrinsecamente intertextual apenas em função de seus links, corre-se o risco de afirmar redundantemente que todo dizer é um já-dito, desconsiderando-se a complexidade do fenômeno intertextual em si. Desse modo, Araújo e Lobo-Sousa, por meio de evidências empíricas, mostram que os links não garantem a intertextualidade no hipertexto, uma vez que há links que exercem mais funções navegacionais do que intertextuais por desconsiderarem as relações de sentido entre os textos linkados.

A. E. Ribeiro (CEFET-MG), ao discutir os hábitos de leitura e escrita na web, desmistifica alguns clichês acerca dessas atividades na internet. Por examinar posições mais extremadas relativas ao tema, Ribeiro mostra-se ponderada diante do ato de ler/escrever na web. Com base nisso, defende que os ambientes digitais de leitura e escrita, assim como quaisquer outros ambientes, podem ser usados em situações didáticas que busquem ampliar os letramentos na escola ou fora dela.

D. B. Braga (Unicamp) e M. A. de Moraes (Unicamp) mostram que as relações entre Internet e ensino de língua materna podem ser importantes para diminuir o hiato existente entre as práticas letradas escolares e os usos cotidianos da escrita. Assim, com base na análise de duas situações nas quais a Internet é incorporada ao cotidiano dos alunos dentro e fora da escola, Braga e Moraes defendem a existência de uma produtividade no uso da Internet na escola, desde que acompanhada de uma intervenção pedagógica adequada.

F. Komesu (Unesp) e L. Tenani (Unesp), a partir da perspectiva discursiva, tratam o "internetês" como um fenômeno de linguagem emergente da interação na web. As autoras usam as categorias escrita, língua e linguagem para descreverem as relações entre os usuários de "internetês" e os suportes multimodais dessa prática de escrita. Komesu e Tenani propõem que o internetês pode ser considerado como um lócus privilegiado de observação da escrita, compreendida como um modo de enunciação fundado no encontro entre práticas sociais do oral/falado e do letrado/escrito.

Esperamos que os trabalhos reunidos nesse número especial de Linguagem em (Dis)curso possam contribuir com as pesquisas sobre linguagem e tecnologias digitais que vêm se consolidando na agenda dos estudos linguísticos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Maio 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
Universidade do Sul de Santa Catarina Av. José Acácio Moreira, 787 - Caixa Postal 370, Dehon - 88704.900 - Tubarão-SC- Brasil, Tel: (55 48) 3621-3369, Fax: (55 48) 3621-3036 - Tubarão - SC - Brazil
E-mail: lemd@unisul.br