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Por que os homens têm peitos?: a recontextualização do discurso sobre ciência na Superinteressante

Por que os homens têm peitos? (Why do men have breasts?): the recontextualization of discourse on science in Superinteressante magazine

Por que os homens têm peitos? (¿Por qué los hombres tienen pechos?): la recontextualización del discurso sobre ciencia en la Superinteressante

Resumos

Este trabalho insere-se no quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso da Divulgação Científica, que considera a divulgação científica como um processo de recontextualização do discurso científico para o discurso geral; associado à Teoria das Representações Sociais, que permite a reflexão em torno da construção do conhecimento pelo indivíduo, grupo, ou ser social, a partir de aspectos socioculturais. Buscamos, pois, analisar o tratamento linguístico-discursivo das informações divulgadas sobre temas vistos como tabus sexuais, na reportagem Por que os homens têm peitos?, publicada em 2008, na revista Superinteressante, destacando-se como o conhecimento em questão é representado socialmente ao se considerar a linha editorial desta revista. O texto consegue angariar um público jovem interessado em discussões polêmicas relacionadas ao seu universo, mesmo que isso não signifique uma plena desmitificação do senso comum, ao contrário, embora o texto analisado se revista dessa intenção, pode-se observar (re)produções de representações sociais em nossa sociedade contemporânea.

Análise do Discurso; Divulgação Científica; Representações Sociais; Tabu; Superinteressante


This paper is inserted in the theoretical and methodological framework of Discourse Analysis of Scientific Communication, which considers scientific divulgation as the recontextualization of scientific discourse towards a general discourse, an approach here associated to the Social Representations Theory that allows the individual, group or social being to reflect their knowledge building from social and cultural aspects. Here is analyzed the linguistic and discursive treatment of information concerning thematic topics traditionally seen as sexual taboos in the news report Por que os homens têm peitos?, published in 2008 by the Brazilian magazine Superinteressante, while highlighting how the referred knowledge is socially presented considering the magazine’s editorial line. That text manages to gain a young audience interested in controversial discussions related to their universe, even though that doesn’t mean full demystification of common sense; conversely, despite the analyzed text shows that intention, (re)productions of social representation in our concurrent society can be observed.

Discourse Analysis; Scientific Communication; Social Representations; Taboo; Superinteressante


Este trabajo se insiere en el cuadro teórico-metodológico del Análisis del Discurso de la Divulgación Científica, que considera la divulgación científica como un proceso de recontextualización del discurso científico para el discurso general; asociado a la Teoría de las Representaciones Sociales, que permite la reflexión en torno de la construcción del conocimiento por el individuo, grupo, o ser social, a partir de aspectos socioculturales. Buscamos, pues, analizar el tratamiento lingüístico-discursivo de las informaciones divulgadas sobre temas vistos como tabúes sexuales, en el reportaje ¿Por qué los hombres tienen pechos?, publicada en 2008, en la revista Superinteressante, destacándose como el conocimiento en cuestión es representado socialmente al considerarse la línea editorial de esta revista. El texto consigue recoger un público joven interesado en discusiones polémicas relacionadas a su universo, aunque eso no signifique una plena desmitificación del senso común, al contrario, aunque el texto analizado se revista de esa intención, pueden observarse (re)producciones de representaciones sociales en nuestra sociedad contemporánea.

Análisis del Discurso; Divulgación Científica; Representaciones Sociales; Tabú; Superinteressante


ARTIGO DE PESQUISA

Por que os homens têm peitos? A recontextualização do discurso sobre ciência na Superinteressante* * A reportagem escolhida constitui, juntamente com outros textos de mesmo ano de publicação, o corpus da dissertação de mestrado intitulada “Análise das estratégias linguístico-discursivas na divulgação de temas tabu na Revista Superinteressante” (2010), apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A análise aqui exposta integra, em parte, o trabalho defendido por Carlos Alexandre Molina Noccioli, sob a orientação da professora coautora deste artigo.

Por que os homens têm peitos? (Why do men have breasts?) The recontextualization of discourse on science in Superinteressante magazine

Por que os homens têm peitos? (¿Por qué los hombres tienen pechos?) La recontextualización del discurso sobre ciencia en la Superinteressante

Carlos Alexandre Molina NoccioliI; Cristiane Cataldi dos Santos PaesII

IProfessor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sul de Minas. Mestrado em Letras – Estudos Discursivos pela Universidade Federal de Viçosa. Email: carlos.noccioli@ufv.br.

IIProfessora Associada do Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa. Doutorado em Linguística pela Universitat Pompeu Fabra, Barcelona - Espanha. Email: cristiane.cataldi@ufv.br.

RESUMO

Este trabalho insere-se no quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso da Divulgação Científica, que considera a divulgação científica como um processo de recontextualização do discurso científico para o discurso geral; associado à Teoria das Representações Sociais, que permite a reflexão em torno da construção do conhecimento pelo indivíduo, grupo, ou ser social, a partir de aspectos socioculturais. Buscamos, pois, analisar o tratamento linguístico-discursivo das informações divulgadas sobre temas vistos como tabus sexuais, na reportagem Por que os homens têm peitos?, publicada em 2008, na revista Superinteressante, destacando-se como o conhecimento em questão é representado socialmente ao se considerar a linha editorial desta revista. O texto consegue angariar um público jovem interessado em discussões polêmicas relacionadas ao seu universo, mesmo que isso não signifique uma plena desmitificação do senso comum, ao contrário, embora o texto analisado se revista dessa intenção, pode-se observar (re)produções de representações sociais em nossa sociedade contemporânea.

Palavras-chave: Análise do Discurso. Divulgação Científica. Representações Sociais. Tabu. Superinteressante.

ABSTRACT

This paper is inserted in the theoretical and methodological framework of Discourse Analysis of Scientific Communication, which considers scientific divulgation as the recontextualization of scientific discourse towards a general discourse, an approach here associated to the Social Representations Theory that allows the individual, group or social being to reflect their knowledge building from social and cultural aspects. Here is analyzed the linguistic and discursive treatment of information concerning thematic topics traditionally seen as sexual taboos in the news report Por que os homens têm peitos?, published in 2008 by the Brazilian magazine Superinteressante, while highlighting how the referred knowledge is socially presented considering the magazine’s editorial line. That text manages to gain a young audience interested in controversial discussions related to their universe, even though that doesn’t mean full demystification of common sense; conversely, despite the analyzed text shows that intention, (re)productions of social representation in our concurrent society can be observed.

Keywords: Discourse Analysis. Scientific Communication. Social Representations. Taboo. Superinteressante.

RESUMEN

Este trabajo se insiere en el cuadro teórico-metodológico del Análisis del Discurso de la Divulgación Científica, que considera la divulgación científica como un proceso de recontextualización del discurso científico para el discurso general; asociado a la Teoría de las Representaciones Sociales, que permite la reflexión en torno de la construcción del conocimiento por el individuo, grupo, o ser social, a partir de aspectos socioculturales. Buscamos, pues, analizar el tratamiento lingüístico-discursivo de las informaciones divulgadas sobre temas vistos como tabúes sexuales, en el reportaje ¿Por qué los hombres tienen pechos?, publicada en 2008, en la revista Superinteressante, destacándose como el conocimiento en cuestión es representado socialmente al considerarse la línea editorial de esta revista. El texto consigue recoger un público joven interesado en discusiones polémicas relacionadas a su universo, aunque eso no signifique una plena desmitificación del senso común, al contrario, aunque el texto analizado se revista de esa intención, pueden observarse (re)producciones de representaciones sociales en nuestra sociedad contemporánea.

Palabras-clave: Análisis del Discurso. Divulgación Científica. Representaciones Sociales. Tabú. Superinteressante.

1 INTRODUÇÃO

Buscando desenvolver uma análise em relação ao tratamento linguístico-discursivo de informações sobre temas considerados tabu, referentes a questões sexuais que representam o homem e a mulher, em nossa sociedade contemporânea ocidental, elegemos a reportagem intitulada Por que os homens têm peitos?, escrita pela jornalista Marília Juste em 2008 e constante da seção Ciência da revista Superinteressante, a fim de verificarmos como o processo de recontextualização do discurso sobre ciência ocorre na mídia impressa brasileira.

O trabalho se organiza a partir do arcabouço teóricometodológico da Análise do Discurso da Divulgação Científica1 1 As pesquisas relacionadas a esse arcabouço teórico-metodológico são desenvolvidas por alguns membros do GED (Grupo de Estudios del Discurso), liderado pela professora Helena Calsamiglia da Universitat Pompeu Fabra, Barcelona – Espanha. Também faz parte desse grupo o professor Teun van Dijk. Ambos os professores orientaram a tese de doutorado da coautora do artigo em questão. , que considera que a divulgação científica se caracteriza como um processo de recontextualização do discurso científico para o discurso geral objetivando, assim, a re-criação do conhecimento científico para uma audiência ampla e leiga, associado à Teoria das Representações Sociais como forma de estudo das representações sobre temas considerados tabu na mídia impressa brasileira. A intenção é oferecer uma contribuição à Linguística, especificamente à Análise do Discurso, no tocante ao processo da divulgação científica, realizado muitas vezes por mídias cuja missão é o recrutamento de certas estratégias para que as informações específicas do campo científico atinjam um interlocutor inscrito no quadro do “público geral”2 2 Usamo s o termo “gera l” em oposição à concepção de “técnico”, “especialista”. . Nesse sentido, conforme Bakhtin (2003), cada esfera em específico refletirá condições e finalidades específicas, não só no plano do conteúdo temático e do estilo verbal, como também no plano da construção composicional.

Por essa razão, é interessante analisar o tratamento linguísticodiscursivo das informações de caráter científico na mídia impressa acerca de tópicos temáticos referentes a aspectos sexuais humanos, tradicionalmente vistos como tabu, uma vez que suscitam discussões polêmicas e, consequentemente, estratégias de reformulação, em termos, não só de intercâmbio de registro, mas também de modalização e adaptação do discurso científico, a fim de que se pondere acerca do impacto que poderia causar uma informação de caráter interdito em determinadas convenções sociais.

Em um primeiro momento, apresentaremos a caracterização geral da reportagem, identificando sua temática e seu propósito comunicativo. Será realizada ainda uma análise linguístico-discursiva geral, ressaltando a estrutura global do texto, considerando sua composição, através do título, subtítulo, lead3 3 Segundo Ribeiro (1994, p. 12), “o lead consiste na apresentação, no primeiro parágrafo da matéria, de uma síntese dos fatos”. , bem como o registro de linguagem utilizado, identificando os jogos de linguagem, as ambiguidades e as estratégias de divulgação mais amplas envolvidas no processo de recontextualização, sem nos atermos a categorias específicas.

Em um segundo momento da análise, amparados pelos trabalhos de Ciapuscio (1997), Calsamiglia e Cassany (1999), Cassany, López e Martí (2000), Calsamiglia, Bonilla, Cassany, López e Martí (2001), Cataldi (2003, 2004, 2007a e b e 2009) e Noccioli (2010), identificaremos os procedimentos discursivos de expansão, redução e variação, presentes no processo de divulgação do conhecimento científico na reportagem em questão da revista Superinteressante. Apresentaremos, ainda, as estratégias de divulgação utilizadas tais como definições, explicações e exemplificações. Consideraremos também a relação estabelecida pelas estratégias de divulgação entre público leitor e tema tabu divulgado.

Relacionando a essas estruturas e estratégias, destacaremos, com base nas obras de Moscovici (1973), Jodelet (2002) e Arruda (2002), as representações sociais acerca dos temas considerados tabu refletidas na revista Superinteressante.

2 ANÁLISE DO DISCURSO DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Ao considerar que o discurso é a prática social mais importante na (inter)ação humana (VAN DIJK, 2003 apud CATALDI, 2003), a Análise do Discurso da Divulgação Científica oferece subsídios teóricos e metodológicos para o estudo de textos, quer sejam orais, quer sejam escritos. Dessa forma, é pertinente e relevante o uso de seu aporte teórico-metodológico para o estudo do discurso divulgativo, pois, de acordo com Cataldi (2007a),

Ainda que o discurso divulgativo utilize informações procedentes do discurso científico, o modo de elaboração deste novo discurso é específico, pois está determinado por concepções próprias de produção e de difusão (CATALDI, 2007a, p. 158).

Tornar acessíveis ao público leigo conhecimentos de caráter técnico e científico é uma tarefa árdua e complexa em uma sociedade contemporânea cada vez mais bombardeada por informações. O profissional da área de divulgação científica comumente não presencia diretamente os fatos ou recebe informações em linguagem acessível a qualquer leitor. Ao contrário, uma vez que é o cientista a fonte do saber científico, o jornalista terá acesso a dados e conceitos, os quais não serão, em grande parte, repassados ao público leigo de uma revista popular. Tendo em vista esse processo de reformulação, o texto de divulgação científica é marcado não só pelas vozes do texto fonte, mas pela presença de uma dialogicidade atrelada à necessidade de o enunciador visar a determinado interlocutor (BAKHTIN, 1992; 1998).

Desde a década de 1980, observa-se um maior interesse pela divulgação científica, tanto no cenário nacional, quanto internacional (CATALDI, 2009). Esse contexto acarreta, segundo Cataldi (2007a, p. 155), “a consideração da ciência como notícia”, ou seja, justamente por haver demanda pela (in)formação, a ciência passa a compor a pauta jornalística da mídia. Sendo os jornais e as revistas canais para o público em geral ter acesso às novidades do campo científico, Cataldi (2009, p. 44) considera esses veículos importantes fontes “de (in)formação sobre as implicações científicas e sociais do desenvolvimento tecnológico”.

3 O PROCESSO DE RECONTEXTUALIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO SOBRE CIÊNCIA

A difusão da ciência, em suas diversas modalidades, sejam elas escritas ou orais, envolve procedimentos de transformação, ou ainda, de reformulação das informações previamente produzidas por cientistas. Bakhtin (1998; 2003) assinala que são as diferentes relações enunciativas que motivam o funcionamento dos gêneros nas diferentes esferas sociais da comunicação. Isso conforma a produção e a recepção dos textos científicos e divulgativos em uma relação dialógica. Assim, a divulgação científica caracteriza-se por ser uma prática reformulativa geral em relação a elementos referenciais e informativos procedentes do texto-fonte.

Ciapuscio (1997) chama atenção para o fato de que algumas características retóricas e linguísticas são típicas do texto científico, tais como vocabulário unívoco4 4 Utilizamos, consoante Ciapuscio (1997), o termo “unívoco” no sentido de uma terminologia que não abarque mais de um significado e, consequentemente, não gere ambiguidades. e preciso; referência escrita ao objeto e a tentativa de não utilização de marcas subjetivas; ausência de elementos emocionais; sintaxe simples, dentre outras.

Os textos jornalísticos de divulgação científica constituem uma fonte de discurso público, uma vez que são constituídos por fatores contextuais atrelados a sua produção. Conforme Cataldi (2007a), mesmo que o discurso divulgativo tenha o discurso científico como fonte, o modo de elaboração desse novo discurso é específico, haja vista sua dependência às concepções próprias de sua produção e difusão.

De acordo com Calsamiglia, Bonilla, Cassany, López e Martí (2001, p. 2641), o processo de recontextualização do conhecimento científico é caracterizado como uma “re-criação” desse tipo de conhecimento para cada público específico. Entretanto, Cataldi (2007a) chama atenção para o fato de essa prática discursiva não ser simplesmente um resumo ou redução aleatória de dados científicos, mas sim uma habilidade em selecionar, reorganizar e reformular as informações de caráter técnico para leitores com interesses e objetivosdiversos, no processo de compreensão dos fatos científicos. É, portanto, o texto divulgativo um tipo de discurso primário, baseado em textos secundários5 5 Usamos a terminologia “discurso primário” e “texto secundário” conforme Ciapuscio (1997), para quem “texto secundário” representa o intertexto subjacente a um discurso ao qual temos acesso, ou seja, o “discurso primário”. que vão se modificando dependendo da situação comunicativa. Isso gera a necessidade de “procedimentos utilizados na mídia impressa a partir de um uso linguístico escrito”, que variam “segundo certos parâmetros contextuais, como a situação comunicativa, os propósitos de quem a realiza e as características dos destinatários” (CATALDI, 2009, p. 49).

Em termos de estrutura cognitiva do discurso de caráter científico, fica a cargo do divulgador a decisão acerca de qual estratégia divulgativa utilizar, consoante o propósito comunicativo: “o produtor pode utilizar procedimentos léxico-semânticos (sinonímia, paráfrase, definição, descrição, denominação, generalização, etc.), discursivos (contextualização, modalização, etc.) e/ou cognitivos (analogias, metáforas, metonímias, etc.)” (CATALDI, 2009, p. 49). No que tange a esse último procedimento, o mais comum é que se usem em discursos de divulgação científica representações conceituais calcadas em analogias com o cotidiano.

Para tanto, a recontextualização das informações sobre ciência está diretamente relacionada com os procedimentos concretizados pelo uso linguístico-discursivo específico de expansão, redução e variação (CIAPUSCIO, 1997; CASSANY, LÓPEZ e MARTÍ, 2000; CATALDI, 2003, 2007a e b e 2009). Esses procedimentos discursivos, na observância do interesse e da necessidade de informar um público amplo, heterogêneo e leigo, são recorrentes na mídia impressa, por meio de seu uso linguístico escrito. São recursos que variam conforme os parâmetros contextuais, tais como a situação comunicativa, os propósitos de quem produz o texto e as características de seu interlocutor.

3.1 Expansão

Cataldi (2007a, p. 161) destaca que em discursos escritos as condições de interação recíprocas não são imediatas: “o comunicador utiliza o procedimento de expansão, ou inclusão, com o objetivo de proporcionar os significados conceituais necessários para lograr a efetiva participação cognitiva e comunicativa do leitor”. Nesse sentido, a expansão constitui-se por meio de determinadas estratégias discursivas como a substituição de um termo por outro, sem prejuízo semântico; pela explicitação de algum conhecimento compartilhado pelos participantes; bem como pela apresentação de algum tipo de informação nova que contribui para que o leitor relacione sua vida diária com o conhecimento científico. Ciapuscio (1997) afirma que as formas de expansão são diversas, dentre as quais se destaca a definição. Já a metáfora seria um importante recurso, contribuindo também para associações com objetos do mundo cotidiano.

3.2 Variação

A variação é um procedimento caracterizado a partir de certas estratégias discursivas de ordem lexical, semântica, ou mesmo de registro – entre termos e conceitos especializados e vocabulário corrente – utilizadas durante o processo de reformulação do texto científico para o texto de divulgação. Dentre outros aspectos linguístico-discursivos, destacam-se a seleção lexical e a modalidade enunciativa.

Na esteira do procedimento de variação, Cataldi (2003, 2004, 2007a e b) chama atenção para a variação denominativa, utilizada como uma importante estratégia léxico-semântica. Essa estratégia está atrelada à utilização de um outro termo ou expressão para a informação técnica no momento de sua transposição para o texto divulgativo.

3.3 Redução

Ciapuscio (1997) afirma que, das fontes científicas, somente mantém-se a informação nuclear, ou seja, o descobrimento científico em si, ou o progresso realizado pelos cientistas; sendo o restante suprimido pelo divulgador – designadamente o referencial teórico, as descrições, os antecedentes e as discussões.

Destarte, segundo Cataldi (2003, 2007a), por falta de relevância, necessidade ou conveniência na versão divulgada, o jornalista pode, através de certas estratégias discursivas tais como a condensação ou mesmo a eliminação completa, suprimir dada informação científica. Entretanto, a autora chama atenção para o fato de que os conceitos de relevância cognitiva e comunicativa são mantidos por serem considerados imprescindíveis para a compreensão do leitor. Essas estratégias implicam decisões em relação ao que se deseja efetivamente informar ao leitor, configurando um procedimento de redução.

Esses três procedimentos discursivos, inerentes aos textos de divulgação científica, contribuem de forma imbricada em “diversas situações comunicativas referentes à divulgação da ciência ao grande público”, refletindo processos comunicativos que vão desde a seleção até a divulgação, caracterizada a partir do processo de recontextualização (CATALDI, 2007a, p. 162-163).

Esses recursos linguístico-discursivos configuram-se como uma importante ferramenta no processo de recontextualização no que tange à divulgação da ciência. Nesse sentido, expansão, redução e variação são pilares importantes a serem esmiuçados em nossa análise, de modo a identificarmos as estratégias utilizadas no discurso de divulgação da revista Superinteressante.

4 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Arruda (2002) apresenta um panorama da Teoria das Representações Sociais sob a perspectiva psicossocial, promovendo um elo entre essa abordagem e as teorias feministas de gênero. Sendo a psicologia social responsável pelo estudo acerca da relação entre indivíduo e sociedade, ao associar-se a isso uma preocupação cognitiva, poder-se-iam, com efeito, obter reflexões em torno (i) da construção do conhecimento pelo indivíduo, pelo grupo, ou pelo ser social, a partir de aspectos sobretudo sociais e culturais, e em torno (ii) da maneira através da qual a sociedade conhece e constrói esse conhecimento com os indivíduos. Assim, a Teoria das Representações Sociais apresenta-se como um eficiente aporte teórico no que diz respeito à análise de tabus, sobretudo os que se referem aos universos sexuais masculino e feminino.

Dessa abordagem teórica, depreendemos de Arruda (2002, p. 128) uma preocupação em relação a “como interagem sujeitos e sociedade para construir a realidade, como terminam por construí-la numa estreita parceria – que, sem dúvida, passa pela comunicação”?

Quando se fala em “Representações Sociais”, faz-se obrigatória a referência à obra de Moscovici (1961), em que se inauguram discussões relativas a essa teoria, à luz dos preceitos científicos. A essa altura da constituição da teoria, Arruda (2002, p. 129) afirma que “a Teoria das Representações Sociais [...] operacionalizava um conceito para trabalhar com o pensamento social em sua dinâmica e em sua diversidade”, respeitando, assim, o fato de diferentes formas de conhecimento e de comunicação contribuírem para gerar universos de concepções, na mesma proporção, diversificados. Isso traz à tona dois âmbitos (o consensual e o científico), que, quando encarados de forma antagônica, fazem com que se reproduzam discursos que reforçam a desautorização do pensamento “leigo”. Entretanto, a Teoria das Representações Sociais demonstra a eficácia de ambas as esferas para a vida humana. Definem-se essas duas esferas como, de um lado, o universo reificado e, de outro, o universo consensual6 6 Tomamos emprestados os termos universo consensual e universo reificado que foram usados na interpretação de Arruda (2002) para esquematizar a sistematização proposta por Moscovici (1973) de ruptura da fronteira entre os dois âmbitos a fim de que se reabilitem as reflexões do senso comum como forma de conhecimento. . Nesse sentido, o universo reificado, ancorado na ciência, retrata a realidade como independente de nossa consciência, através de estilo e estrutura frios e abstratos. Já o universo consensual busca explicações para a “realidade” por meio das representações sociais, constituídas através do senso comum e da consciência coletiva. Logo, essas representações são variáveis e acessíveis às pessoas da esfera comum, da esfera não técnica.

Moscovici (1973) chama atenção para a importância do saber popular e cotidiano. Dessa forma, em uma revista de cunho divulgativo, tal qual a Superinteressante, é comum o tratamento de temas científicos à luz de concepções mais próximas do senso comum, tanto no que tange às estratégias de reelaboração do discurso, quanto à perspectiva temática, como, por exemplo, os temas considerados tabu.

Para que efetivamente se “operacionalizasse” a proposta da Teoria das Representações Sociais7 7 Arruda (2002) identifica um estágio incipiente da teoria como portadora de um “conceito pouco operacional”. , foi necessário que Moscovici recorresse a outros teóricos como Piaget, Lévy-Bruhl e Freud. Entretanto, o autor não concentrou a teoria em uma faixa etária infantil ou em povos distantes – como fizeram os autores citados –, mas trouxe a teoria para nossa sociedade e a aplicou à faixa adulta dela. Para tanto, Moscovici apresentou dois processos para tal sistematização: a objetivação – estruturação do conhecimento do objeto – e a ancoragem – sustentação do novo ao já dado, já conhecido, como forma de (re)conhecimento facilitado.

Nessa esteira, pode-se entender as representações sociais como um tipo de conhecimento que, ao mesmo tempo em que é elaborado, é também compartilhado por determinado grupo social. Essa elaboração e esse compartilhamento objetivam um conhecimento menos abstrato e mais prático, edificando a realidade desse mesmo grupo social (JODELET, 2002).

Toda representação social tem como referente um objeto e um conteúdo, formulados por um sujeito social inserido em determinado espaço e tempo dotados de condições específicas. Jodelet (2002) identifica as condições de produção das representações como sendo a cultura; a comunicação; e a inscrição social, econômica, institucional, educacional e ideológica.

Destarte, dada sociedade, imbuída de preceitos culturais típicos de seu povo, reflete comportamentos em função de interpretações da realidade sobre o que convém e o que não convém ser feito, dito ou tocado, configurando, assim, representações sociais que emergem na comunicação e na inscrição social e institucional do grupo, acerca do tabu.

5 UMA PARTICULAR REPRESENTAÇÃO SOCIAL: O TABU

A antropologia moderna nega o historicismo sob uma perspectiva linear, mesmo que se reconheça a importância de autores precursores em relação ao interesse sobre tabu, como, por exemplo, James Frazer8 8 As publicações originais de Frazer são datadas do final do século XIX e início do XX, tais como The Golden Bough; A Study in Magic and Religion (1890); Folk-Lore in the Old Testament (“O folclore no Antigo Testamento”, 1918); e The Golden Bough (edição resumida, 1922). A única tradução em português é O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: LTC, 1982. , que resgatou o conceito imprimindo-lhe destaque na antropologia vitoriana. Frazer (1982) é responsável pela observação da presença do tabu como objeto de temor e proibição em diversas culturas, à luz de preceitos que comumente são associados à ideia de sujeira, poluição e mácula.

Já à luz da Antropologia moderna, Augras (1989) chama atenção para o fato de grande parte dos tabus terem justamente a função de “evitar perigos”, sendo as proibições e interdições concernentes a coisas sagradas ou poluentes. Em latim, a palavra sacer designava o que era sagrado e o que era maldito, impuro. Em nossa cultura moderna ocidental, a raiz da palavra designa apenas o sentido “positivo” 9 9 Chamadas aqui as palavras de “positivas” por expressarem apenas o caráter sacro das designações, mas não o maldito ou o impuro. Definições de Houaiss (2004, p. 658) sobre algumas das derivações da raiz da palavra latina sacer podem ilustrar essa “positividade”: “sacerdócio s.m. 1 o ofício do sacerdote 2 a carreira eclesiástica 3 poder espiritual dos sacerdotes 4 fig. Missão honrosa, nobre ou sacrificada”; “sacerdote [fem.: sacerdotisa; freira] s.m. indivíduo responsável pela celebração de rituais sagrados de uma religião”. , fato que não abstém a instituição do tabu como originalmente ambivalente. Essa etimologia remonta ao berço da cultura ocidental e serve como argumento para Augras questionar a hipótese de Frazer de que as sociedades primitivas não teriam capacidade intelectual para distinguir o que é positivo do que é negativo: “Não será o tabu algo tão universal, tão antigo, tão arraigado em nossos valores e costumes que tanto faz ser polinésio ou europeu, todos se sentem ao mesmo tempo atraídos e amedrontados frente a ele?” (AUGRAS, 1989, p. 12-13).

A confusão entre sagrado e maldito, entre atraente e contagioso dos povos tidos como exóticos também chama a atenção de Freud. O autor não atribui tal ambivalência a uma incapacidade de raciocinar do selvagem, mas, ao contrário, compara o conflito com a sociedade de seu tempo, levantando a hipótese de que a ambivalência poderia ser inerente ao que mais prezamos.

Não obstante, Augras (1989) destaca que as observações feitas pelos autores do século XIX, quer no nível da incapacidade intelectual do primitivo (Frazer), quer no nível da ambivalência afetiva (Freud), não dão conta de resolver a questão da duplicidade da instituição do tabu:

a razão pela qual a mulher costuma ser alvo de inúmeros tabus, em praticamente todos os grupos culturais [não reside no fato de ela ser] particularmente “suja” ou impura nem que ela encarne a projeção dos desejos incestuosos dirigidos à mãe, como julgavaFreud. É que a mulher, por ser elemento de ligação entre dois grupos, pertence a ambos e, por conseguinte, situa-se na articulação de dois sistemas mutuamente excludentes (AUGRAS, 1989, p. 39).

A compreensão da duplicidade situa-se numa observância mais complexa do que apontam as propostas de Frazer ou Freud. Para tanto, é necessário que se considerem características intrínsecas à espécie humana, tais como a capacidade de interpretar o mundo que a rodeia, através da criação de símbolos, categorias e conjuntos identitários. E, sob esse prisma, a mulher pode ser encarada como ser poderoso capaz de transitar entre diversas categorias que, inclusive, simbolizam conjuntos representados socialmente como incompatíveis.

Com efeito, quando há a referência à figura feminina, referencia-se o tabu, estreitamente associado à ambiguidade, contra cujo poder intrínseco há a necessidade de se proteger. Assim, destaca-se a posição marginal que a mulher ocupa em tantas culturas, por apresentar melhor que o homem a condição animal do ser humano.

Entretanto, quer se trate de homens, quer de mulheres, o corpo humano expressa marcas associadas à natureza mais instintiva. Consoante Augras (1989, p. 41), “pelas técnicas corporais, pelas tatuagens, marcas tribais, enfeites, roupas, a cultura transforma esse corpo, dá-lhe significações próprias, valoriza certas partes, desdenha outras, impõe tabus de comportamento e de linguagem”.

Portanto, o próprio corpo humano é ambíguo e, por conseguinte, poderoso, pertencente a duas ordens: animal e humana. Em qualquer cultura, existem partes do corpo vistas como tabu, as quais devem ser escondidas e até evitar-se que sejam pronunciadas ou nomeadas. Neste último caso, estamos diante de tabus linguísticos, visto que se algo é interditado, o nome, a palavra, ou a designação que lhe faz referência sofre as mesmas consequências (GUÉRIOS, 1979).

Em nossa cultura, destacamos a genitália, que é tratada ou por meio de termos técnicos, numa nomenclatura médica, ou por meio de termos que expressam representações simbólicas, como os eufemismos que buscam atenuar a carga do tabu, passando por termos jocosos em relação à sexualidade, indo até as palavras consideradas chulas pela intenção pejorativa do enunciador.

A visão de Augras (1989) sobre a forte associação do tabu às genitálias deve-se ao fato de serem os órgãos sexuais responsáveis pela ligação entre os opostos, estabelecendo elos diretos entre indivíduos. Então, por corroborarem a ideia de “duplo domínio”, são objeto de tabu. Nesse sentido, não é apenas o corpo da mulher ou aspectos sexuais que geram tabu, mas tudo aquilo que, pela ambiguidade, representa o poder.

6 A REPORTAGEM EM ANÁLISE

6.1 Caracterização geral do texto

Na reportagem intitulada Por que os homens têm peitos?, constante da seção Ciência, a jornalista Marília Juste oferece explicações científicas para o fato de os homens possuírem peitos. Para tanto, ela estrutura seu texto a partir de uma exposição didática sobre questões biológicas e até sociais sobre a espécie humana.

O título da reportagem aparece em forma de pergunta retórica, remontando ao caráter almanaquista da revista de satisfazer curiosidades a partir de perguntas e respostas.

Essa pergunta é constituída através da expressão “peitos”, que causa estranhamento quando associada aos “homens”. As representações geradas pelo termo “peitos” suscitariam mais comumente discussões ligadas ao universo feminino e não ao masculino.

O subtítulo da reportagem, em (1), reforça o caráter curioso da informação ressaltando que, nos homens, os mamilos não são funcionais, mesmo assim, não deixaram de existir no macho da espécie:

(1) Ninguém nunca viu macho dando de mamar, mas os mamilos continuam misteriosamente por lá. E a culpa pode ser do10 10 Assinalamos que o subtítulo foi elaborado exatamente da maneira como reproduzimos: de forma incompleta, suprimindo a resposta à pergunta feita no título.

A expressão “dando de mamar” assinala a funcionalidade do mamilo, função essa não atribuída aos homens, destacando-se, a partir deste ponto, a representação dos papéis biológicos e sociais assumidos por homens e mulheres em nossa cultura, despertando o leitor para o caráter curioso da divulgação. Não obstante, o subtítulo não responde à pergunta retórica: a informação que parecia revelar a causa não é completada, deixando-se em aberto pela construção inconclusa no artigo definido masculino “o”, da fusão de sentido causal11 11 Além da relação causal introduzida pela preposição “de”, destaca-se entre o subtítulo e o corpo do texto uma relação de explicação causal e efeito, marcada pelo termo “culpa”, que, não só arma o desenvolvimento da reportagem em torno das possíveis explicações para a presença dos peitos em homens, como também é capaz de evocar sentidos associados a responsabilidades negativas, afinal, a palavra “culpa” comporta acepções tais como “responsabilidade por danos causados” ou “falta, delito” (HOUAISS, 2004, p. 140). Esse caráter negativo pode estar associado à estranheza da presença em homens de atributos representados socialmente como femininos. “do”. Isso funciona como um direcionamento dado ao leitor referente à questão: embora seja um questionamento inusitado, ele tem resposta, mesmo que essa não seja descoberta no subtítulo. Somente pela leitura do texto, fica patente que o referente do artigo definido é o “desenvolvimento”.

O lead da reportagem, que apresenta a síntese do texto, antes de responder à pergunta do título, destaca a importância dos peitos para as mulheres, à luz de uma concepção biológico-social: são essenciais à alimentação de bebês e têm uma função sexual. Em relação a essa última informação, a jornalista expõe essa finalidade através de expressões modalizadoras, tais como “para lá de relevante”, “seios fartos” e “poderoso”, conforme visualizamos em (2):

(2) Além disso, os peitos também têm uma função sexual para lá de relevante. Seios fartos são um poderoso fator de atração da atenção masculina [...].

Podemos destacar dessa recorrência de adjetivos valorativos a representação social da mulher como ser poderoso, atraente e, ao mesmo tempo, a sua função biológica, que garante a vitalidade da espécie, a partir do fato de alimentarem os bebês.

Subsequente à exposição da importância dos seios nas mulheres, o texto indica a sua insignificância nos homens, reforçada por uma nota entre parênteses que mais remete a um chiste do que propriamente a uma ressalva:

(3) Nos homens, no entanto, os peitos não servem para rigorosamente nada (talvez apenas para colocar um piercing ou dois naqueles mais rebeldes).

A partir dessa nota, destaca-se que a revista considera o tema tabu por meio de matizes jocosos, reforçando a representação social do tema como algo inusitado.

Somente ao final do lead é que se ratifica a pergunta proposta inicialmente no título (4), para, de forma sintética, responder a essa questão (5):

(4) Então, se não têm função, por que eles existem no corpo masculino?

(5) Somente porque são uma sobra do desenvolvimento.

A resposta dada em (5) é simples, porém pode ser insuficiente para um público geral, desprovido de conhecimento prévio acerca do desenvolvimento biológico humano.

Para subsidiar o conhecimento do leitor acerca do assunto, o texto girará, essencialmente, em torno de explicações sobre o desenvolvimento humano e de comparações entre homens e mulheres que possibilitam a conclusão de que ambos pertencem à mesma espécie, apesar das diferenças. Observa-se, assim, a função da revista como veículo de desmitificação das representações sociais do senso comum.

Logo no início da reportagem observa-se um argumento de autoridade – o único utilizado em todo o texto, validado pelo nome do professor (Carlos C. Alberts) e de sua instituição (Universidade Estadual Paulista), bem como pelas disciplinas que leciona (zoologia e comportamento). A afirmação do professor resume os argumentos e exemplos arrolados no texto:

(6) “Homens e mulheres fazem parte da mesma espécie. [...].”

A partir dessa afirmativa, serão demonstradas as semelhanças entre as estruturas do homem e da mulher e as diferenças entre ambos, atreladas ao desenvolvimento biológico cromossômico de cada um:

(7) A formação dos órgãos sexuais só começa no final do 2º mês de gestação. Logo, todos nós temos as mesmas estruturas, independentemente do sexo – elas só se desenvolvem de maneira diferente de acordo com o conjunto de cromossomos do futuro bebê.

Observa-se em (7) o conector discursivo “logo”, o qual não introduz meramente uma conclusão, mas uma informação de lógica cartesiana: como se a primeira informação dada tivesse como conclusão tácita que homens e mulheres inicialmente têm a mesma estrutura biológica.

A partir da constatação de que “os peitos masculinos não passam de resquícios ‘desativados’ das mamas femininas”, a jornalista abre precedente para uma discussão de equivalência entre os gêneros – se os homens apresentam “resquícios” de mulher em seu corpo, a recíproca também é verdadeira:

(8) A mulher também possui órgãos sem função, que se originam das mesmas fontes [...] que vão formar partes importantes do organismo masculino.

A partir dessa dicotomia, apresenta-se, no meio da reportagem, um subtópico intitulado “A próstata delas?”, que se pode inferir pelo processo metonímico: “o homem nas mulheres”, representado respectivamente por “próstata” e “elas”. Assim, o enfoque em relação a essa questão segue a partir das seguintes descrições, para as quais apresentamos alguns trechos ilustrativos:

(i) Descrição da fisiologia masculina:

(9) Nos homens, a próstata é uma pequena glândula formada de tecidos mais densos que tem como função produzir parte do esperma [...].

(ii) Descrição da fisiologia feminina:

(10) Nas mulheres não há qualquer necessidade de algo parecido, mas algumas parecem apresentar um adensamento de tecidos extremamente sensível na parte interna da vagina [...].

(iii) Transposição da fisiologia masculina para a feminina:

(11) Alguns especialistas acreditam que ela seria o mítico ponto G, a área mais sensível da vagina, que levaria a orgasmos mais intensos e que seria responsável também por outro grande mito sexual: a ejaculação feminina.

(iv) Descrição da fisiologia humana:

(12) Temos “rabo” – ao menos a julgar pela presença do cóccix, osso no fim da coluna.

Nesse sentido, destacamos em (9), (10) e (11) um eixo de comparação que, sintomaticamente, parte da fisiologia masculina para a feminina, ratificando a representação em nossa cultura da costela de Adão que faz a Eva, ou seja, da supremacia da essência masculina sobre a marginalizada natureza feminina. Em (12), a representação do eixo comparativo entre a espécie racional humana e os outros animais, aproximados por um traço fisiológico, acomoda-se em mesmo nível com o primeiro eixo, nomeadamente entre o sexo masculino e o sexo feminino.

Num próximo momento da análise, para descrever as estratégias divulgativas a partir das quais se estrutura a reportagem, passamos a identificar os procedimentos discursivos que ocorreram no texto.

6.2 Procedimentos discursivos de expansão, variação e redução

a) Procedimento de expansão

O procedimento discursivo de expansão, utilizado para a ampliação do conhecimento, próprio do discurso divulgativo, ocorre no texto Por que os homens têm peitos? basicamente por meio de três estratégias divulgativas: a definição, a explicação e a exemplificação.

a1) Definição

No texto, a jornalista enfoca as diferenças entre homem e mulher como uma consequência do desenvolvimento da espécie que acarreta a existência efetiva de órgãos funcionais ou de “resquícios ‘desativados’“. Portanto, grande parte das definições apresentadas evidenciam características funcionais, conforme os trechos a seguir:

(13) As mamas são essenciais no corpo feminino: são elas as responsáveis pela alimentação dos bebês em seus anos de formação mais importantes. Além disso, os peitos também têm uma função sexual para lá de relevante. Seios fartos são um poderoso fator de atração da atenção masculina, e a sensibilidade da região faz das mamas uma das principais zonas erógenas do corpo da mulher.

Não obstante a predominância do verbo de ligação “ser”, típico de definição, podemos constatar que em (13) priorizam-se questões associadas à funcionalidade biológica das mamas. O mesmo ocorre em (14) para a definição de “próstata”:

(14) Nos homens, a próstata é uma pequena glândula formada de tecidos mais densos que tem como função produzir parte do esperma (a outra parte é produzida nos testículos. Depois, o conjunto é reunido na vesícula seminal, que expele tudo para fora pela ação dos músculos na hora da ejaculação).

Uma vez que o parágrafo subsequente ao que foi exposto em (14) estabelece uma relação entre a produção de “um líquido viscoso” e certo “adensamento na parte interna da vagina”, podemos observar que a jornalista apresenta questões relativas à produção de esperma pela próstata, afinal, o subtópico é intitulado “A próstata delas”. Assim, outras áreas onde também acontece a produção de esperma ficam relegadas aos parênteses.

Em (15), destacamos uma definição ponderada sobre a polêmica em torno da “próstata feminina”, em que a jornalista deixa claro que essa demarcação é uma opinião restrita a um grupo de cientistas:

(15) Nas mulheres não há qualquer necessidade de algo parecido, mas algumas parecem apresentar um adensamento de tecidos extremamente sensível na parte interna da vagina que, em alguns casos e em algumas mulheres, pode até produzir um líquido viscoso. Para alguns cientistas, isso seria uma forma de próstata feminina.

Reconsiderando o exposto em (15) e analisando (16), podemos perceber que algumas definições apresentadas deixam patente a tentativa de isenção por parte da jornalista de expressar qualquer representação sobre os assuntos considerados tabu:

(16) Alguns especialistas acreditam que ela seria o mítico ponto G, a área mais sensível da vagina, que levaria a orgasmos mais intensos e que seria responsável também por outro grande mito sexual: a ejaculação feminina.

Em (15), a jornalista define o que seria a “próstata feminina”. Entretanto, deixa claro que essa caracterização se restringe a “alguns cientistas”. Indo além, em (16), destaca que a mesma região poderia ser chamada de “ponto G”. Para tanto, fornece subsequentemente uma definição sobre a região. Ressalte-se que, nessa definição, a jornalista utiliza-se de verbos condicionais no futuro do pretérito do modo indicativo, tais como “levaria” e “seria”, deixando clara sua posição de distanciamento em relação a “acreditar” ou não na existência do “ponto G” e da ejaculação feminina, inclusive, intitulando-os de “mito”.

Ressalte-se ainda que, para efeitos divulgativos, alguns procedimentos de expansão pouco ajudam para tornar a informação acessível, como em (17):

(17) A mulher também possui órgãos sem função, que se originam das mesmas fontes (basicamente os mesmos conjuntos de células, cooptados para funções diferentes) [...].

Em (17), a informação entre parênteses, cuja finalidade seria uma definição explicativa, portanto, esclarecedora, traz uma palavra nada corriqueira, “cooptados”, que, na verdade, dificulta a compreensão do conhecimento em questão.

a2) Explicação

Na esteira da definição que analisamos em (15), nomeadamente a ponderação sobre a polêmica em torno da “próstata feminina”, em (18), ao explicar o que seriam os “peitos masculinos”, a jornalista evidencia uma questão não mais puramente biológica, fazendo uma ressalva social:

(18) [...] os peitos masculinos não passam de resquícios “desativados” das mamas femininas. Embora sejam formados pelo mesmo tecido, eles não têm função sexual alguma. A não ser que o homem tome hormônios femininos, o que estimula o desenvolvimento da mama – uma técnica freqüentemente usada por transexuais que querem ter seios parecidos com os de uma mulher “real”.

É importante destacar as aspas no adjetivo “real” em “mulher ‘real’“. Nesse caso, embora se sinalize que há uma diferença entre uma mulher biológica e outra transexual, a jornalista não entra em discussão sobre o assunto.

a3) Exemplificação

Ao relacionar algumas semelhanças fisiológicas entre mulheres e homens, a jornalista vale-se de uma série de exemplos, os quais destacamos a seguir:

(19) É o caso do clitóris, nascido das mesmas estruturas e com o mesmo comportamento de ereção do pênis.

(20) Os tecidos que formam o saco escrotal no homem são encontrados também nos pequenos lábios que recobrem a vagina.

(21) Há algumas mulheres que até parecem apresentar uma estrutura parecida com o que é a próstata nos homens.

Essa exemplificação aparece para fomentar a discussão sobre as semelhanças fisiológicas que em um sexo funcionam e, em outro, perdem a função, mas podem se manter com algumas modificações. O caráter de desmitificação do senso comum, na revista em questão, mostra-se sob um aspecto dúbio, haja vista que, embora demonstre “semelhanças” entre o homem e a mulher, fá-lo de forma a conservar uma representação típica de uma cultura patriarcal, nomeadamente, relegar à mulher um papel marginal em relação ao prototípico sexo masculino.

b) Procedimento discursivo de variação

A variação que mais chama atenção é, evidentemente, referente ao termo em pauta da discussão: “peitos”. Vale lembrar que, em nossa cultura, o peito é um atributo relacionado tanto às mulheres quanto aos homens – diferentemente de palavras como “seios” e “mama”, que, embora possam designar a mesma região, são associadas exclusivamente às mulheres.

Partindo dessa representação em nossa sociedade, identificamos alguns dados numéricos acerca das variações que ocorrem no texto: o termo “peitos” aparece três vezes; “mama”, e sua flexão no plural, aparece cinco; “peitos”, três; “seios” duas; e “mamilo” apenas uma. Houve um caso em que a palavra “região” foi utilizada como hiperônimo de “peitos”, referindo-se ao universo masculino:

(22) Quando é um menino, nada acontece, e a região costuma permanecer inalterada durante toda a vida.

O que chama atenção em relação aos dados coletados é que as variações identificadas ocorreram rigorosamente em número igual para ambos os sexos, embora, para homem, a expressão mais recorrente tenha sido “peitos” e, para mulher, “mamas”. A única ocorrência de “mama” para o universo masculino refere-se à ressalva de “desenvolvimento da mama” a partir da utilização de “hormônios femininos”. O caso é nomeadamente relativo aos transexuais, que ganham a substantivação “seios”, por fazerem referência à “mulher real”, conforme exposto em (16).

Assim, podemos dizer que as variações utilizadas no texto refletem as representações sociais cotidianas, ou reproduzindo o discurso do senso comum, ou se apropriando dele para aumentar a adesão do público. Nesse sentido, ratifica-se a concepção de uma cultura em que as representações sociais em torno de ambos os sexos restringem-se à dicotomia homem/mulher.

c) Procedimento discursivo de redução

O procedimento discursivo de redução sintetiza as informações de caráter científico para o público leigo.

Na expressão “dando de mamar”, a jornalista pretende evocar uma das funções dos peitos, representando, de forma metonímica, a finalidade que eles possuem e que, todavia, não se aplica aos homens.

No único argumento de autoridade presente no texto, observa-se a utilização do clichê “variações do mesmo tema” – afinal, a expressão não é peculiar de um perito, mas sim uma estratégia utilizada pelo próprio pesquisador para tornar sua informação mais acessível e sintética. A expressão sintetiza toda a discussão arrolada ao longo da reportagem.

A expressão “mulher ‘real’“ faz referência à complexidade que envolve a representação social acerca do homossexualismo, ou mais especificamente, do transexualismo, embutido na construção: “quererem ter seios parecidos com os de uma mulher ‘real’“. As aspas tentam justificar o sentido “distorcido” através do qual se empregou o adjetivo “real”: nem como antônimo de “imaginário’, nem como antônimo de “falso”, ou “artificial”, já que, nesse último caso, a jornalista poderia arriscar-se a provocar polêmicas. Para fugir desse conflito, por meio das aspas a jornalista sinaliza que confia em um acordo tácito entre locutor e leitor acerca do entendimento sobre essa questão, que entra como informação complementar por não constituir o foco de sua discussão.

A informação “Temos rabo”, numa constatação que lembra a tradicional anunciação de novos papas, habemos papam, cujo significado é “temos papa”, sintetiza as informações divulgadas ao longo do texto, estabelecendo-se uma comparação do tipo: os homens têm peitos assim como o ser humano tem rabo – em um silogismo que levaria a outras conclusões tais como as mulheres terem próstata, escroto etc.

Para finalizar, constatamos que as reduções identificadas nesse texto não só foram utilizadas como uma estratégia para minimizar discussões irrelevantes para a compreensão do texto, mas também como um procedimento linguístico-discursivo de síntese de conhecimentos complexos e, ainda, como refúgio contra polêmicas inerentes a discussões abstrusas.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise realizada em relação ao processo de recontextualização do discurso sobre ciência na Superinteressante, pudemos identificar, no tratamento linguístico-discursivo das informações sobre um tema considerado tabu, os procedimentos discursivos através dos quais a revista recria seu discurso destinado ao público geral e jovem.

De forma geral, a reportagem de Marília Juste reflete os traços típicos da divulgação científica para o público em geral: o didatismo na definição e exposição de informações, a exemplificação e as expressões populares.

Ainda, foi possível depreender de seu discurso, através do tema relacionado a uma questão que representa o homem e a mulher, o tratamento expresso pela revista: a constituição de um texto que considera o eixo de comparação acerca do universo masculino a partir do universo feminino e vice-versa, relegando ao sexo feminino um papel marginal em relação ao sexo masculino, o que ratifica o tabu inerente à figura da mulher.

Pode-se perceber, entretanto, que, embora a reportagem analisada revista-se da intenção de desmitificar o senso comum, a jornalista (re)produz representações sociais, em nossa sociedade contemporânea ocidental. Isso ocorre quer por uma questão mercadológica, no intuito de atrair o público consumidor – os jovens –, quer por mera dificuldade de desvinculação do senso comum; a Superinteressante, dessa forma, aproxima-se do discurso geral e, mais especificamente, do universo jovem.

Podemos constatar que, assim, a revista promove a aproximação entre a informação técnico-científica e as concepções típicas das relações sociais habituais, divulgando e, ao mesmo tempo, fomentando a curiosidade em relação ao conhecimento que envolve um aspecto sexual humano.

Em termos dos procedimentos discursivos, podemos observar que a expansão foi empregada para definições, explicações e exemplificação. As variações sobre os termos, inerentes ao conhecimento divulgado, aparecem matizadas conforme a sua referência: universos masculino e feminino. Em relação às reduções, observamos que sua aplicação auxilia não só na simplificação do conteúdo de caráter científico a ser divulgado, mas também no distanciamento de discussões mais complexas que não constituem o foco da reportagem, desvencilhando-se de ponderações que toquem em aspectos considerados tabu presentes no imaginário social de nossa cultura, acerca da representação da dicotomia sexual homem e mulher.

Assim, por meio dessa reportagem, podemos perceber que a Superinteressante empenha-se em despertar o interesse desse público através de textos bem-humorados, criativos e com engraçadas associações ao cotidiano do leitor, abordando a temática tabu de modo a subvertê-la, ou simplesmente de modo a corroborar, embora não de maneira ortodoxa, com sua mitificação.

Recebido em 27/11/11.

Aprovado em 25/07/12.

ANEXO

Por que os homens têm peitos?

Ninguém nunca viu macho dando de mamar, mas os mamilos continuam misteriosamente por lá. E a culpa pode ser do

por Texto Marília Juste

As mamas são essenciais no corpo feminino: são elas as responsáveis pela alimentação dos bebês em seus anos de formação mais importantes. Além disso, os peitos também têm uma função sexual para lá de relevante. Seios fartos são um poderoso fator de atração da atenção masculina, e a sensibilidade da região faz das mamas uma das principais zonas erógenas do corpo da mulher. Nos homens, no entanto, os peitos não servem para rigorosamente nada (talvez apenas para colocar um piercing ou dois naqueles mais rebeldes). Então, se não têm função, por que eles existem no corpo masculino? Somente porque são uma sobra do desenvolvimento.

“Homens e mulheres fazem parte da mesma espécie. Embora tenham órgãos diferentes, eles são, na prática, variações do mesmo tema”, explica Carlos C. Alberts, professor de zoologia e comportamento da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Assis (noroeste de SP).

A formação dos órgãos sexuais só começa no final do 2º mês de gestação. Logo, todos nós temos as mesmas estruturas, independentemente do sexo – elas só se desenvolvem de maneira diferente de acordo com o conjunto de cromossomos do futuro bebê. Quando o embrião é uma menina, o tecido das mamas se prepara para se transformar em seios na adolescência. Quando é um menino, nada acontece, e a região costuma permanecer inalterada durante toda a vida.

Ou seja, os peitos masculinos não passam de resquícios “desativados” das mamas femininas. Embora sejam formados pelo mesmo tecido, eles não têm função sexual alguma. A não ser que o homem tome hormônios femininos, o que estimula o desenvolvimento da mama – uma técnica freqüentemente usada por transexuais que querem ter seios parecidos com os de uma mulher “real”.

A mulher também possui órgãos sem função, que se originam das mesmas fontes (basicamente os mesmos conjuntos de células, cooptados para funções diferentes) que vão formar partes importantes do organismo masculino. É o caso do clitóris, nascido das mesmas estruturas e com o mesmo comportamento de ereção do pênis. Os tecidos que formam o saco escrotal no homem são encontrados também nos pequenos lábios que recobrem a vagina. Há algumas mulheres que até parecem apresentar uma estrutura parecida com o que é a próstata nos homens.

A PRÓSTATA DELAS?

Nos homens, a próstata é uma pequena glândula formada de tecidos mais densos que tem como função produzir parte do esperma (a outra parte é produzida nos testículos. Depois, o conjunto é reunido na vesícula seminal, que expele tudo para fora pela ação dos músculos na hora da ejaculação).

Nas mulheres não há qualquer necessidade de algo parecido, mas algumas parecem apresentar um adensamento de tecidos extremamente sensível na parte interna da vagina que, em alguns casos e em algumas mulheres, pode até produzir um líquido viscoso. Para alguns cientistas, isso seria uma forma de próstata feminina.

Alguns especialistas acreditam que ela seria o mítico ponto G, a área mais sensível da vagina, que levaria a orgasmos mais intensos e que seria responsável também por outro grande mito sexual: a ejaculação feminina. Ainda não existe, no entanto, uma comprovação definitiva da presença, seja da próstata, seja do ponto G ou mesmo da ejaculação entre mulheres. O certo é que essas semelhanças aparentemente misteriosas entre os sexos não têm nada de impossível: considerando que nosso corpo é construído seguindo o mesmo padrão básico, é natural que elas surjam aqui e ali.

Temos “rabo” – ao menos a julgar pela presença do cóccix, osso no fim da coluna. Hoje, ele serve apenas para apoiar os músculos do nosso traseiro.

  • ARRUDA, A. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), Campinas, v. 117, p. 127-147, nov. 2002.
  • AUGRAS, M. O que é tabu São Paulo: Brasiliense, 1989.
  • BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem São Paulo: Ed. HUCITEC, 1992.
  • _______. Questões de literatura e de estética A teoria do romance. São Paulo: Hucitec: UNESP, 1998.
  • _______. Estética da criação verbal 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
  • CALSAMIGLIA, H.; CASSANY, D. Voces y conceptos en la divulgación científica. Revista Argentina de Lingüística, Argentina, v. 11-15, p. 173-208, 1999.
  • CALSAMIGLIA, H.; BONILLA, S; CASSANY, D.; LÓPEZ, C.; MARTÍ, J. Análisis discursivo de la divulgación científica In: SIMPOSIO INTERNACIONAL DE ANÁLISIS DEL DISCURSO -LENGUA, DISCURSO, TEXTO. 1., 2001. Madrid: Visor Libros, p. 2639-2646, 2001.
  • CASSANY, D.; LÓPEZ, C.; MARTÍ, J. La transformación divulgativa de redes conceptuales científicas. Hipótesis, modelo y estratégias. Discurso y Sociedad, Barcelona, v. 2, n. 2, p. 73-103, 2000.
  • CATALDI, C. Los transgénicos en la prensa española: una propuesta de análisis discursivo. 2003. 409f. Tese, Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, 2003.
  • ______. El debate sobre los transgénicos en la prensa española: cómo los actores sociales denominan esta biotecnología. Quark, Barcelona: Observatorio de la Comunicación Científica, Universitat Pompeu Fabra, n. 33, p. 57-68, 2004.
  • ______. A divulgação da ciência na mídia: um enfoque discursivo. In: GOMES, M. C. A.; MELO, M. S. S.; CATALDI, C. Gênero discursivo, mídia e identidade Viçosa, MG: Ed. UFV, 2007a, p. 155-164.
  • ______. Análise discursiva da denominação utilizada na mídia impressa para representar e divulgar o conhecimento sobre planta transgênica. In: GOMES, M. C. A.; MELO, M. S. S.; CATALDI, C. Gênero discursivo, mídia e identidade Viçosa, MG: Ed. UFV, 2007b, p. 193-209.
  • ______. A ciência na mídia impressa: a divulgação debate sobre transgênico. In: GOMES, M. C. A.; MELO, M. S. S.; CATALDI, C. Práticas discursivas: construindo identidades na diversidade. Viçosa, MG: UFV, Programa de Pós-Graduação em Letras PPGLet, 2009, p. 43-63.
  • CIAPUSCIO, G. Lingüística y divulgación de ciência. Quark, Barcelona: Observatorio de la Comunicación Científica, Universitat Pompeu Fabra, n. 7, p. 19-28, 1997.
  • FRAZER, J. O ramo de ouro Rio de Janeiro: LTC, 1982.
  • FREUD, S. Totem e tabu Rio de Janeiro: Imago, 1975.
  • GUÉRIOS, R. F. M. Tabus linguísticos 2. ed. São Paulo: Nacional, 1979.
  • HOUAISS, A.; VILLAR, M. S; FRANCO, F. M. M. Mini dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
  • JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (Org.). As representações sociais Rio de Janeiro: Eduerj, 2002, p. 17-44.
  • LAKOFF, G. (1987). Women, fire and dangerous things Chicago: The University of Chicago Press, 1990.
  • MOSCOVICI, S. La psychanalyse, son image, son public Paris: PUF, 1961.
  • ______. Le grand schisme. Revue Internationale des Sciences Sociales, v. 25, n. 4, p. 479-490, 1973.
  • NOCCIOLI, C. A. M. Análise das estratégias linguístico-discursivas na divulgação de temas tabu na Revista Superinteressante 2010. 145f. Dissertação (Mestrado em Letras) Programa de Pós-graduação em Letras, UFV, Viçosa, 2010.
  • RIBEIRO, C. J. Sempre Alerta. Condições e contradições do trabalho jornalístico. São Paulo: Brasiliense, 1994.
  • *
    A reportagem escolhida constitui, juntamente com outros textos de mesmo ano de publicação, o
    corpus da dissertação de mestrado intitulada “Análise das estratégias linguístico-discursivas na divulgação de temas tabu na Revista
    Superinteressante” (2010), apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A análise aqui exposta integra, em parte, o trabalho defendido por Carlos Alexandre Molina Noccioli, sob a orientação da professora coautora deste artigo.
  • 1
    As pesquisas relacionadas a esse arcabouço teórico-metodológico são desenvolvidas por alguns membros do GED (Grupo de Estudios del Discurso), liderado pela professora Helena Calsamiglia da Universitat Pompeu Fabra, Barcelona – Espanha. Também faz parte desse grupo o professor Teun van Dijk. Ambos os professores orientaram a tese de doutorado da coautora do artigo em questão.
  • 2
    Usamo s o termo “gera l” em oposição à concepção de “técnico”, “especialista”.
  • 3
    Segundo Ribeiro (1994, p. 12), “o lead consiste na apresentação, no primeiro parágrafo da matéria, de uma síntese dos fatos”.
  • 4
    Utilizamos, consoante Ciapuscio (1997), o termo “unívoco” no sentido de uma terminologia que não abarque mais de um significado e, consequentemente, não gere ambiguidades.
  • 5
    Usamos a terminologia “discurso primário” e “texto secundário” conforme Ciapuscio (1997), para quem “texto secundário” representa o intertexto subjacente a um discurso ao qual temos acesso, ou seja, o “discurso primário”.
  • 6
    Tomamos emprestados os termos universo consensual e universo reificado que foram usados na interpretação de Arruda (2002) para esquematizar a sistematização proposta por Moscovici (1973) de ruptura da fronteira entre os dois âmbitos a fim de que se reabilitem as reflexões do senso comum como forma de conhecimento.
  • 7
    Arruda (2002) identifica um estágio incipiente da teoria como portadora de um “conceito pouco operacional”.
  • 8
    As publicações originais de Frazer são datadas do final do século XIX e início do XX, tais como The Golden Bough; A Study in Magic and Religion (1890); Folk-Lore in the Old Testament (“O folclore no Antigo Testamento”, 1918); e The Golden Bough (edição resumida, 1922). A única tradução em português é O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: LTC, 1982.
  • 9
    Chamadas aqui as palavras de “positivas” por expressarem apenas o caráter sacro das designações, mas não o maldito ou o impuro. Definições de Houaiss (2004, p. 658) sobre algumas das derivações da raiz da palavra latina sacer podem ilustrar essa “positividade”: “sacerdócio s.m. 1 o ofício do sacerdote 2 a carreira eclesiástica 3 poder espiritual dos sacerdotes 4 fig. Missão honrosa, nobre ou sacrificada”; “sacerdote [fem.: sacerdotisa; freira] s.m. indivíduo responsável pela celebração de rituais sagrados de uma religião”.
  • 10
    Assinalamos que o subtítulo foi elaborado exatamente da maneira como reproduzimos: de forma incompleta, suprimindo a resposta à pergunta feita no título.
  • 11
    Além da relação causal introduzida pela preposição “de”, destaca-se entre o subtítulo e o corpo do texto uma relação de explicação causal e efeito, marcada pelo termo “culpa”, que, não só arma o desenvolvimento da reportagem em torno das possíveis explicações para a presença dos peitos em homens, como também é capaz de evocar sentidos associados a responsabilidades negativas, afinal, a palavra “culpa” comporta acepções tais como “responsabilidade por danos causados” ou “falta, delito” (HOUAISS, 2004, p. 140). Esse caráter negativo pode estar associado à estranheza da presença em homens de atributos representados socialmente como femininos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Set 2012
    • Data do Fascículo
      Ago 2012

    Histórico

    • Recebido
      27 Nov 2011
    • Aceito
      25 Jul 2012
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