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Processos implícitos, contextuais e multimodais na construção referencial em conversações entre afásicos e não afásicos: relato de pesquisa

Procesos implícitos, contextuales y multimodales en la construcción referencial en conversaciones entre afásicos y no afásicos: relato de investigación

Implicit, contextual and multimodal processes in the referential construction in conversations between aphasics and non-aphasics: research report

Resumos

Procuramos na pesquisa aqui relatada descrever e analisar a participação de processos inferenciais, contextuais e multimodais na construção referencial em conversações entre indivíduos afásicos e não afásicos que integram o Centro de Convivência de Afásicos (CCA). Para constituir o corpus da pesquisa extraímos do nosso acervo de dados - AphasiAcervus - 4 reuniões videogravadas e transcritas do CCA (cerca de 10 horas). Observamos no corpus analisado que os interactantes - afásicos e não afásicos - procuram delimitar a construção referencial associando estratégia e improvisação (HANKS, 2008) às estruturas e formas estáveis ou não de uso da linguagem e de outras semioses coocorrentes nas interações. Assim fazendo, ilustram de modo exemplar o caráter sociocognitivo da construção referencial, não impedido pelas dificuldades metalinguísticas apresentadas por indivíduos afásicos.

Referenciação; Conversação; Afasia; Interação


Procuramos en la investigación aquí relatada describir y analizar la participación de procesos inferenciales, contextuales y multimodales en la construcción referencial en conversaciones entre individuos afásicos y no afásicos que integran el Centro de Convivencia de Afásicos (CCA). Para constituir el corpus de la investigación extraimos de nuestro archivo de datos -AphasiAcervus - 04 reuniones videograbadas y transcriptas del CCA (cerca de 10 horas). Observamos en el corpus analizado que los interactuantes - afásicos y no afásicos - buscan delimitar la construcción referencial asociando estrategia e improvisación (HANKS, 2008) a las estructuras y formas estables o no de uso del lenguaje y de otras semiosis coocurrentes en las interacciones. Así, ilustran de modo ejemplar el carácter sociocognitivo de la construcción referencial, no impedido por las dificultades metalingüísticas presentadas por individuos afásicos.

Referenciación; Conversación; Afasia; Interacción


The present research focuses on the emergence of implicit processes - inferential, contextual and multimodal - in the development of referential and interactional practices between non-aphasic and aphasic individuals who participate in the Aphasic Center. The research corpus was extracted from our data-collection AphasiAcervus. We have observed that interactants - non-aphasic and aphasic - seek to construct reference through strategic and emergent actions (HANKS, 2008) associated to language structures and to other co-occurring semiotic resources. In doing so, the interactants illustrate in an exemplar way the sociocognitive nature of reference construction not impeded by metalinguistic disorder characteristic of aphasia.

Referential practices; Conversation; Aphasia; Interaction


ARTIGO DE PESQUISA/RESEARCH ARTICLE

Processos implícitos, contextuais e multimodais na construção referencial em conversações entre afásicos e não afásicos: relato de pesquisa

Implicit, contextual and multimodal processes in the referential construction in conversations between aphasics and non-aphasics: research report

Procesos implícitos, contextuales y multimodales en la construcción referencial en conversaciones entre afásicos y no afásicos: relato de investigación

Edwiges Maria MoratoI; Anna Christina BentesII; Ana Lucia TuberoIII; Heloísa de Oliveira MacedoIV; Sandra de Oliveira CazelatoV; Caio César Costa Ribeiro MiraVI; Erik Fernando Miletta MartinsVII

IProfessora Associada, Livre-docente, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: edwiges@iel.unicamp.br.

IIProfessora da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: annabentes@yahoo.com.br.

IIIDoutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: anatubero@afasia.com.br.

IVDoutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: helomacedo@uol.com.br.

VDoutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: scazelato@yahoo.com.

VIProfessor do Centro Universitário Padre Anchieta. Doutor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: caiomira@hotmail.com.

VIIDoutorando e Mestrado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: erikmiletta@gmail.com.

RESUMO

Procuramos na pesquisa aqui relatada descrever e analisar a participação de processos inferenciais, contextuais e multimodais na construção referencial em conversações entre indivíduos afásicos e não afásicos que integram o Centro de Convivência de Afásicos (CCA). Para constituir o corpus da pesquisa extraímos do nosso acervo de dados – AphasiAcervus – 4 reuniões videogravadas e transcritas do CCA (cerca de 10 horas). Observamos no corpus analisado que os interactantes – afásicos e não afásicos – procuram delimitar a construção referencial associando estratégia e improvisação (HANKS, 2008) às estruturas e formas estáveis ou não de uso da linguagem e de outras semioses coocorrentes nas interações. Assim fazendo, ilustram de modo exemplar o caráter sociocognitivo da construção referencial, não impedido pelas dificuldades metalinguísticas apresentadas por indivíduos afásicos.

Palavras-chave: Referenciação. Conversação. Afasia. Interação.

ABSTRACT

The present research focuses on the emergence of implicit processes – inferential, contextual and multimodal - in the development of referential and interactional practices between non-aphasic and aphasic individuals who participate in the Aphasic Center. The research corpus was extracted from our data-collection AphasiAcervus. We have observed that interactants - non-aphasic and aphasic - seek to construct reference through strategic and emergent actions (HANKS, 2008) associated to language structures and to other co-occurring semiotic resources. In doing so, the interactants illustrate in an exemplar way the sociocognitive nature of reference construction not impeded by metalinguistic disorder characteristic of aphasia.

Keywords:Referential practices. Conversation. Aphasia. Interaction.

RESUMEN

Procuramos en la investigación aquí relatada describir y analizar la participación de procesos inferenciales, contextuales y multimodales en la construcción referencial en conversaciones entre individuos afásicos y no afásicos que integran el Centro de Convivencia de Afásicos (CCA). Para constituir el corpus de la investigación extraimos de nuestro archivo de datos –AphasiAcervus - 04 reuniones videograbadas y transcriptas del CCA (cerca de 10 horas). Observamos en el corpus analizado que los interactuantes – afásicos y no afásicos – buscan delimitar la construcción referencial asociando estrategia e improvisación (HANKS, 2008) a las estructuras y formas estables o no de uso del lenguaje y de otras semiosis coocurrentes en las interacciones. Así, ilustran de modo ejemplar el carácter sociocognitivo de la construcción referencial, no impedido por las dificultades metalingüísticas presentadas por individuos afásicos.

Palabras-clave: Referenciación. Conversación. Afasia. Interacción.

1 Introdução

Neste artigo, discutimos alguns resultados teóricos e empíricos de uma pesquisa coletiva financiada pelo CNPq.1 1 "Processos referenciais implícitos na conversação entre sujeitos afásicos e não afásicos " (Proc. 400751/2010-0). O objetivo geral desse estudo, desenvolvido por membros do grupo de pesquisa COGITES,2 2 O grupo de pesquisa COGITES - Cognição, Interação e Significação – que reúne pesquisadores de diferentes formações, dedica-se ao estudo das relações entre linguagem e cognição por meio da descrição e análise de práticas discursivas, em especial as que envolvem indivíduos com afasia e com Doença de Alzheimer. Disponível em: < http://cogites.iel.unicamp.br>. coordenado por Edwiges Maria Morato, foi analisar processos implícitos de significação verbal e não verbal que atuam na construção da referência no contexto de interações entre afásicos e não afásicos que participam do Centro de Convivência de Afásicos (CCA), sediado nas dependências do Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas.

A referenciação implícita tem sido estudada no contexto da análise da ativação de referentes que não se ancora apenas em expressões referenciadoras típicas, como os SNs definidos. O estudo de anafóricos, tais como as anáforas associativas e as nominalizações ou rótulos, tem incrementado no campo de pesquisas textuais e conversacionais o interesse pela participação de múltiplos processos de significação construtores da referência. Mais e mais ganha terreno nesses estudos uma perspectiva que coloca em xeque a dicotomia entre explícito e implícito, bem como entre linguístico e extralinguístico na explicação da construção do sentido.

O estudo de processos referenciais, que funcionam largamente de forma implícita, tanto em termos linguísticos quanto em termos extralinguísticos, tem se mostrado um expediente extremamente interessante para os que se dedicam à construção de pontes conceituais entre uma concepção não referencialista do sentido e uma concepção sociointeracionista de cognição.

A construção referencial é compreendida, na abordagem sociocognitiva, como um processo que envolve, entre outros elementos, intersubjetividade e perspectivização, nos termos assinalados por Tomasello (2003 [1999]). Apothéloz (2001), a propósito, chama a atenção para os aspectos sociocognitivos da referenciação, assinalando a importância crucial da atenção e da interação na construção e interpretação referencial.

O implícito decorre, nessa abordagem, não apenas do fato de que o significante linguístico é essencialmente escasso (SALOMÃO, 1999) ou em função de que a carência metalinguística (emblemática, nos casos de afasia) tornaria "falha " sua correspondência direta com a realidade. Decorre também e especialmente de contingências pragmáticas e contextuais de produção e interpretação de enquadres cognitivos largamente inferenciais.

Uma das teses centrais da pesquisa que realizamos é que a sustentação da construção, continuidade e progressão referencial não depende apenas da introdução, retomada ou substituição linguística de referentes. Variados processos de ordem inferencial, contextual e multimodal atuam na construção sociocognitiva e discursiva de referentes, como contextos de vários tamanhos e escopos, a deitização gestual, a expressão fisionômica, o direcionamento do olhar, os enquadramentos interacionais, os frames e conhecimentos de várias ordens, as regras pragmáticas que presidem o curso da interação. Todos esses elementos e fatores representam, de uma forma ou de outra, focos implícitos presentes nas práticas referenciais e na composição da experiência social de uma forma mais ampla.

Outra tese assumida na pesquisa é a de que a referenciação, pelo menos na perspectiva sociocognitiva que tem orientado estudos textuais-interativos com os quais nos afinamos, desenvolvida tanto por linguistas brasileiros, como Luiz Antônio Marcuschi, Ingedore Koch e Mônica Cavalcante, quanto por autores estrangeiros, como Teun Van Dijk, Lorenza Mondada, Danièle Dubois, Dénis Apótheloz e Alain Berrendonner, deixa entrever relações estreitas e solidárias entre processos de explicitação e implicitação do sentido textual.

Dois foram os desafios que nortearam nosso estudo: i) descrição e análise da ocorrência de elementos implícitos, contextuais e multimodais nos processos referenciais no corpus particular com o qual trabalhamos, isto é, conversações entre afásicos e não afásicos; ii) levantamento de virtuais implicações dos achados teóricos e empíricos para o estudo da afasia, concebida tradicionalmente como perda ou alteração da capacidade de realizar operações metalinguísticas, no termos de Jakobson (1981 [1954]).

A partir da constituição do corpus da pesquisa, concentramo-nos não apenas nas expressões referenciais explícitas e implícitas, mas também e especialmente em processos não estritamente linguísticos que contribuem de forma relevante e decisiva para a construção referencial, tais como inferências, processos contextuais e semioses não verbais. Tais processos podem ser entendidos como construtores de referência, pois dizem respeito à "construção, indução ou ativação de referentes no processo textual-discursivo que envolve atenção cognitiva conjunta dos interlocutores e processamento local ". (MARCUSCHI, 2005, p. 54)

A reflexão produzida no escopo da pesquisa, que se pauta no domínio empírico não apenas sobre a carência metalinguística, mas também, e sobretudo, sobre as condições discursivas e sociocognitivas de (re)estruturação da linguagem nas afasias, fornece força epistemológica a uma antiga questão – a categorização – que faz a Linguística reencontrar sempre, e de várias maneiras, a Filosofia.

Parece-nos que essa questão é retomada de forma interessante na perspectiva que adotamos, considerando que os estudos das atividades referenciais se deram especialmente em torno da explicitude e da análise estritamente linguística, algo já questionado no âmbito da discussão em torno da anáfora sem antecedente explícito no texto, bem como no estudo da dêixis e das formas de introdução de referentes.

2 Processos implícitos e multimodais na construção referencial

Segundo Mondada e Dubois (1995), a referenciação consiste não na identificação léxica ou lógico-perceptiva de referentes pela linguagem, que teria a função de categorizá-los, mas sim em uma construção colaborativa e contextualizada, levada a cabo pelos interactantes por meio de operações de natureza sociocognitiva. O reconhecimento e a estabilização de categorias "flexíveis e instáveis ", os objetos de discurso3 3 Autores como Mondada e Dubois (1995) e Berrendonner e Reichler-Béguelin (1995), por exemplo, têm se servido da noção de objeto de discurso para postular que referentes são dinâmica e sociodiscursivamente constituídos, caracterizando-se como instáveis, flexíveis e não fixados de forma prévia à interação. Para esses autores, é possível dizer, os dois conceitos, referente e objeto de discurso, são tomados indistintamente. , dessa forma, dar-se-iam com o concurso de vários processos, pistas e fatores de significação, verbais e não verbais, com os quais atuamos no mundo.

Considerando o arrazoado acima, partimos de uma premissa que foi bem sintetizada por Marcuschi (2002), com base na postulação de uma imbricação entre processos linguísticos e interacionais nos atos de referenciação. Tal posicionamento, vale ressaltar, recusa uma dicotomia forte entre fatores internos e externos no ato de referenciação, concebido como "processo criativo " que estaria longe de ser reduzido a uma mera "designação extensional de uma expressão no mundo extra-mental. "

Aprofundando de certa maneira essa concepção não referencialista, Apothéloz (2001, p. 31) afirma que um referente ou episódio referencial nem sempre é estabelecido ou construído por expressões linguísticas tipicamente referenciadoras. Com essa observação, o autor reforça a perspectiva de que o ato de referenciação ou processo referencial é altamente dependente de fatores e condições sociocognitivas, discursivas e interacionais, não linguísticas stricto sensu.

Tal posicionamento admite ainda a atuação de outros processos, mais implícitos, na construção referencial: inferências (semânticas, textuais, contextuais, pragmáticas), predicações, frames, enunciados preconstruídos, conhecimento prévio ou construído pelos interactantes, enquadres ou esquemas interativos que organizam em termos conceptuais a conversação e os sentidos nela veiculados, processos semióticos coocorrentes nas interações, etc.

Não se realizando necessariamente sob a forma de expressões linguísticas reconhecidas tradicionalmente como referenciais, a referenciação implícita não deixa de ser, de algum modo, enformada por "âncoras " semânticas, cognitivas e discursivas.

Também chamados de "âncoras textuais " (MARCUSCHI, 2005), determinados processos sociocognitivos (frames, modelos de contexto, enquadres cognitivos, scripts mentais, etc.) precedentes à expressão referencial dizem respeito a focos implícitos que atuam em sua configuração. Não vinculados a itens lexicais específicos, podem, no entanto, ser por estes ativados (KOCH, 2004; MARCUSCHI, 2005).

Com vistas ao aprofundamento da discussão em torno do objetivo geral da pesquisa, procuramos focalizar no corpus com o qual trabalhamos processos implícitos mais produtivos que atuam na construção referencial. Assim, foram focalizados tanto os elementos contextuais, quanto as atividades inferenciais e os processos multissemióticos que atuam na estruturação das conversações e na gestão do tópico discursivo.

2.1 A inter-relação entre processos referenciais e inferenciais

Em linhas gerais, a inferência, mecanismo de implicitação semântico-pragmática, tem sido entendida como "geração de informação semântica nova a partir de informação semântica dada em um determinado contexto " (RICKHEIT; SCHNOTZ; STROHNER, 1985, p. 8).

As inferências requerem, assim, não apenas conhecimento sobre a língua, mas também sobre o que motiva as pessoas em relação à produção e à compreensão do sentido, como estereótipos, normas sociais, práticas interacionais, pressupostos culturais, etc. Compartilhados e (re)construídos de forma situada, tais conhecimentos podem gerar inferências textuais (cotextuais e endofóricas, gramaticais, semânticas, etc.), pragmáticas (reconhecimento de intenção, manipulação de regras conversacionais e de enquadres sociointeracionais dos falantes, etc.), contextuais (relativas tanto à situação enunciativa, quanto à dimensão social mais ampla à qual ela se vincula).

A inferenciação é ainda condição necessária para o processamento da referência subespecificada. Para haver interpretação semântico-textual, no caso do referente subespecificado, aquilo que está implicitado – considerado relevante pelos interactantes – deve ser de algum modo reconhecido para que se preencham os "espaços vazios " na construção referencial. É o que acontece no caso da produção de inferências cotextuais ou contextuais, ou no caso de ações tópicas observadas no corpus da pesquisa.

Nos exemplos extraídos de nosso corpus, constata-se que a subespecificação – fenômeno integrante do processo referencial presente no discurso cotidiano – não causa prejuízo à progressão referencial ou à continuidade tópica (MARCUSCHI, 2000). Nossos dados reforçam a observação de que a subespecificação é um fenômeno gerado pelo própria situação interacional e seus contextos de produção e interpretação do sentido (MARCUSCHI, 2000, p. 27).

Em nossa análise, procuramos identificar e compreender melhor a emergência e a inter-relação de diferentes operações de inferência (MARCUSCHI, 2008), tanto as de base textual, que incorpora as chamadas inferências lógicas (dedutivas, indutivas, abdutivas e condicionais) e as semânticas (associativas, generalizadoras, correferenciais), quanto as operações de inferência de base contextual, como as pragmáticas (intencionais, conversacionais, avaliativas, experienciais) e as cognitivas (esquemáticas, analógicas e composicionais).

Pudemos observar em nossos dados uma relação estreita entre o verbal e o não verbal na construção sociocognitiva de referentes. Com isso, percebemos que tanto afásicos, quanto não afásicos inferem de diversas maneiras os objetos que estão sendo referidos – mencionados ou aludidos – na enunciação. Esse "cálculo inferencial " se desenvolve no decurso das conversações e se responsabiliza não apenas pela dinâmica interacional, mas também pelos processos linguísticos que nela emergem. Nas palavras de Ciulla e Silva: "O fato de que as inferências que são autorizadas pelos elementos materiais do texto são essenciais para completar-lhes o sentido é uma evidência de que essas inferências fazem parte do próprio processo lingüístico " (2008, p. 17).

2.2 Contexto e construção referencial

Alguns autores elevam a noção de contexto, bem como a de interação, à condição de princípio explicativo da cognição humana. Entre eles estão certamente Hanks (2008) e Van Dijk (2008). Este último, vale ressaltar, concebe o contexto como conjunto de "representações das situações comunicativas feitas subjetivamente pelos participantes ", e não como mero entorno físico, cognitivo e situacional de eventos ou situações comunicativas.

Na reflexão mais recente de Van Dijk (2008) sobre contexto, o autor postula que os interactantes constroem e ativam sociocognitivamente determinados "modelos de contextos ", dinâmicos e esquemáticos, que controlam a produção e a interpretação do discurso. O autor assinala que tais modelos "permanecem em grande medida implícitos e pressupostos ", influenciando a fala e o texto de maneira indireta.

Também dedicando-se à noção de contexto, Hanks (2008) chama a atenção para a interação entre processos verbais e não verbais, explícitos e implícitos de construção do sentido. Inspirado nos trabalhos do sociólogo francês Pierre Bourdieu, Hanks estabelece uma relação dialética entre os escopos macro e micro do contexto, concebendo duas dimensões para caracterizá-lo: emergence (emergência) e embedding (incorporação/encaixamento).

A emergência, segundo ao autor, refere-se a aspectos do discurso que surgem da produção e da recepção dos processos no curso da interação, sendo sensível "à mediação verbal, à co-presença, à temporalidade, em um contexto restrito como um fato sensível em termos social e histórico " (p. 175). A incorporação ou encaixamento refere-se à dimensão que procura recobrir os aspectos contextuais mais amplos, constituídos por estruturas e regimes socioculturais e institucionais de interação.

Reforçando a reflexão de Hanks em torno da relação dialética entre emergência e incorporação, nossos dados apontam que "se o contexto possui uma significação intrínseca não é porque ele teria um sentido fora de toda situação concreta, mas porque ele está sempre preso a uma situação concreta " (MORATO, 2008, p. 83). É a esse aspecto que atentam os interactantes quando de forma criteriosa e deliberada, como afirma Hanks, produzem e avaliam signos do contexto: "Estratégia e improvisação são modos de exercitar essa capacidade " (HANKS, 2008, p. 196-197).

2.3 A dimensão multimodal da construção referencial

Ao apontar a emergência de processos de significação verbais e não verbais na explicitação e na implicitação do sentido em nosso corpus de pesquisa, procuramos chamar a atenção para a dimensão multimodal da interação e da construção referencial.

Norris (2006), entre os autores dedicados aos estudos multimodais do discurso, ressalta os processos não verbais que comparecem nas práticas discursivas, como os gestos (dêiticos, icônicos, metafóricos), o olhar, a voz (risadas, ruídos), a prosódia, a mímica facial, os movimentos da cabeça e das mãos, a postura, a distribuição espacial ou a posição das pessoas, umas em relação às outras, no desenvolvimento da interação.

A adoção de uma abordagem multimodal da interação não implica admitir apenas uma tese de solidariedade intersemiótica, segundo a qual os processos linguísticos estariam ligados de forma constitutiva a processos semióticos não verbais, mas também a tese de que estes seriam desprovidos de sentido se fossem tomados de maneira descontextualizada e alheia às práticas comunicacional e socialmente significativas. Essa abordagem admite que é possível encontrar nas práticas discursivas e interacionais uma dimensão multimodal de construção do sentido que não despoja os elementos não verbais de especificidade semiólogica.

A propósito, em sua tese de doutoramento4 4 "A dêixis na interação entre afásicos e não afásicos: conjugação indicial fala/gesto. " , que trata da referenciação dêitica e de aspectos multimodais da interação entre afásicos e não afásicos, Vezali (2011, p. 2-3) ressalta que:

As expressões dêiticas verbais e não verbais, portanto, são fundamentais para dar relevo a essa relação, mostrando que a gestualidade não é simplesmente "compensação " para alguma lacuna do material linguístico, ou apenas um sistema acessório e/ou suplementar. Goodwin [ ], por exemplo, argumenta que a gestualidade em casos de afasia não é simplesmente complementar. Destaca, dentre outras coisas, o caráter referencial constituído na relação língua e gesto.

A produtividade dos fenômenos não verbais enquanto elementos referenciadores ou atuantes nas atividades referenciais indica que eles não são meros recursos ou mecanismos compensatórios de que se valem os indivíduos afásicos. À maneira dos elementos dêiticos, os processos de significação não verbal são recorrentes e estão integrados aos fenômenos próprios às línguas faladas, à produção do texto falado (MARCUSCHI; KOCH, 1997).

É importante assinalar arrazoados como os expostos acima, pois, no contexto histórico da Afasiologia, marcada pela tradição estruturalista na análise dos fatos e atos de linguagem, elementos que não são considerados linguísticos stricto sensu são tomados via de regra como excrescentes, meramente compensatórios, produzidos em virtude da disfluência oral e da carência metalinguística dos falantes afásicos.

De fato, os elementos não verbais se organizam de diferentes formas enquanto significação, como assinala Klippi (2006) em suas análises de situações interativas envolvendo afásicos. Segundo a autora, o elemento semiótico não verbal pode, além de se constituir em termos de uma realidade semiológica própria, complementar o sentido lexical, compensar uma palavra ou construção verbal mais ampla em uma conversação, além de atuar na evocação da palavra-alvo antes mesmo de sua enunciação, indicando determinado percurso referencial (por meio de uso de dêiticos espaciais, por exemplo), reforçando certas determinações referenciais (por meio de movimentos de cabeça que indicam negação ou confirmação, por exemplo), elaborando toda uma cena referencial para a qual concorrem a introdução de referentes e as ações relativas à progressão referencial e tópica (como o uso de gestos icônicos, pantomímicos e metafóricos, por exemplo). Isso implica, entre outras coisas, que a significação não verbal, além de não ser mero derivado ou coadjuvante da expressão linguística, não se confunde com ela numa relação de homologia. Como pudemos observar em nossos dados, a relação dos processos semióticos não verbais com a fala pode se manifestar de forma heterogênea: complementar, indicial, construtiva, paradigmática.

3 Dispositivos metodológicos: constituição e exploração do corpus

3.1 Sobre as afasias e os afásicos

A afasia pode ser grosso modo definida como uma alteração de linguagem e de processos afeitos a ela decorrente de lesão cerebral adquirida. Distintas etiologias, como acidentes vasculares cerebrais, traumatismos crânioencefálicos e tumores podem causar afasia, que pode ser acompanhada de sinais neurológicos (como a hemiplegia, por exemplo) e distúrbios cognitivos (como apraxias, agnosias, alterações mnésicas, por exemplo) com distintos graus de severidade.

O Centro de Convivência de Afásicos (CCA),5 5 Para mais detalhes: < http://cogites.iel.unicamp.br/p/atividades-no-cca.html>. localizado no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, pode ser definido como "um espaço de interação entre pessoas afásicas e não afásicas ", cujo objetivo é desenvolver estudos linguísticos e neurolinguísticos, bem como garantir às pessoas afásicas ganhos comunicacionais e sociais possibilitados por um conjunto variado de experiências interacionais cotidianas (MORATO et al., 2002).

Os conhecimentos pressupostos, partilhados e gerados pelos participantes do CCA são múltiplos e simultâneos. Integrantes de uma "comunidade de práticas ", os interactantes atuam de forma a construir e reconhecer determinados enquadres interativos das reuniões do CCA (MIRA, 2012), a participar da gestão do tópico e da dinâmica de turnos, a contribuir para soluções conjuntas e interindividuais na resolução de conflitos interacionais derivados do déficit afásico (por meio do fornecimento de promptings, introdução de reparos, heteroreformulações ou heterocorreções, checagem da intenção comunicativa ou da informação lexical, reformulações parafrásticas, construções explicativas, evocação de semioses não verbais, etc.).

O grupo de convivência de afásicos e não afásicos coordenado por Edwiges Maria Morato funciona desde 2002. Desse grupo, que se reúne semanalmente, participam em geral 10 pessoas afásicas e 4 pesquisadores. Nele se desenvolvem práticas discursivas orais e escritas as mais variadas: conversações, comentários, relatos, leituras, debates, jogos, atividades de expressão teatral e de musicalização, planejamento e execução de ações conjuntas, tais como passeios, confecção do "Jornal do CCA ", promoção de sessões de cinema, dentre outras.

Por meio dessas práticas, o objetivo do CCA tem sido a restituição de papéis sociais, a partilha de um espaço simbólico de experiências, o fortalecimento de quadros interativos, a evocação de práticas discursivas as mais diversas, a reorganização linguístico-cognitiva após o comprometimento neurológico, a recomposição de aspectos ligados à subjetividade e à inserção social (MORATO et al., 2002).

3.2 Sobre o empreendimento metodológico

A pesquisa que desenvolvemos, de caráter qualitativo, orientou-se desde o início por uma análise hermenêutica interdisciplinar, envolvendo especialmente a Linguística, a Sociologia e a Neuropsicologia.

Para constituir o corpus, denominado Referinter, extraímos de nosso acervo de dados – AphasiAcervus – 4 reuniões videogravadas e transcritas do Centro de Convivência de Afásicos (cerca de 10 horas).

O AphasiAcervus, desenvolvido por membros do COGITES, é um extenso corpus de dados linguísticos e interacionais envolvendo indivíduos afásicos e não afásicos em várias situações e práticas discursivas realizadas no CCA, registrado audiovisualmente desde 2003 e já parcialmente transcrito.

A partir da definição do corpus, o grupo de pesquisadores envolvidos passou a levantar e a descrever os fenômenos destacados para a análise dos processos implícitos, contextuais e multimodais envolvidos na referenciação. Nossa primeira tarefa foi recortar os segmentos tópicos dos dados relativos aos três fenômenos abordados em nosso estudo (inferenciação, contexto e multimodalidade), identificando-os como "extratos ". Essa unidade é acompanhada de descrição do contexto de produção, recortada de modo que se perceba o tópico conversacional em andamento.

Na análise dos dados que figuram como exemplificação da reflexão desenvolvida, relativos ao ano de 2005, dedicamo-nos inicialmente à observação dos vídeos e das transcrições já realizadas, refinadas posteriormente a fim de permitir um detalhamento imprescindível para os objetivos do estudo.

O sistema de transcrição utilizado na pesquisa, que pode ser visto ao final deste artigo, foi por nós adotado na constituição do AphasiAcervus. Trata-se de uma adaptação da notação proposta por Mondada (2004), com base no sistema de transcrição proposto por Gail Jefferson (1984), bastante utilizado na análise de corpora interacionais.

4 Exemplificação e discussão

4.1 Inferenciação, tópico e referenciação

No extrato abaixo, são mobilizadas algumas categorias que constituem a base analítica dos processos de significação em jogo nas atividades referenciais, explícitas ou implícita: inferências, ativação e frequência de frames, modelos de contexto, elementos textuais e interacionais envolvidos no desenvolvimento do tópico discursivo, processos semióticos não verbais.

(1)

Título: "Mônaco "

Registro audiovisual: 07/04/2005

Sigla: R-A (E2)

Linhas: 2032 – 2082

Localização AphasiAcervus: CCA_07_04_05 – cameraIfitaB

Início: 28'05 "

Duração: 8'02 "

Contexto: Comentando as notícias recentes da semana, SP, um senhor afásico chama a atenção para o falecimento do Príncipe de Mônaco, Rainier III. O extrato como um todo refere-se ao desenvolvimento deste tópico inicial, dando margem ao desenvolvimento de subtópicos ancorados na ativação e no reconhecimento de determinados frames, modelos de contexto e inferências de diversas naturezas. Todos esses elementos atuam na construção da referência discursiva e, naturalmente, do tópico conversacional. Estão presentes nesse fragmento os participantes afásicos SP e MS e as participantes afásicas ED e NS, além das participantes não afásicas EM, HM e JC.

No início do extrato, em momento que antecede o fragmento transcrito abaixo, SP chama a atenção dos demais para a notícia do falecimento de Rainier III. Com essa ação tópica, observa-se o engajamento dos participantes por meio do desenvolvimento temático em torno de referentes associados ao Príncipe, como Mônaco e a atriz Grace Kelly, com quem foi casado.

Tais referentes, como é possível verificar nas demais unidades ou porções textuais que se seguem (numeradas de modo a permitir a identificação do desenvolvimento tópico) e que constituem o longo extrato intitulado "Mônaco ", são aparentemente mais interessantes para os interactantes do que a própria notícia que abre o tópico, pois fazem parte do repertório do conhecimento comum e da memória cultural dos participantes do CCA.

A referência ao Príncipe, durante todo o extrato, fica de certa forma subespecificada e é conduzida num contexto de dependência das construções e definições realizadas em torno dos referentes a ele associados. Com isso, uma posterior evocação deste referente emerge permeada pelas especificações construídas no decurso do extrato, do qual selecionamos o fragmento abaixo, ainda inicial.

O supertópico (JUBRAN, 2006) do extrato é, pois, Mônaco, ainda que a qualidades de centração e organicidade partam e façam sempre remissão, de forma direta ou indireta, ao tópico que abre a conversação, isto é, a morte de Rainier III e a ativação de informações de que o grupo dispõe sobre ele. Não sendo o Príncipe o foco do tópico, ele é, entretanto, ponto de contato com as demais informações sobre Mônaco, entre as quais se incluem: região de beleza topográfica, lugar de circulação da elite europeia, um dos vários paraísos fiscais existentes, residência do piloto brasileiro Ayrton Senna, uma das sedes da corrida de Fórmula 1.

Expressões referenciais explícitas e implícitas atuam no enquadramento e desenvolvimento da construção conjunta do referente Mônaco, com base em domínios semânticos mais específicos que, apesar de pouco desenvolvidos no fragmento abaixo, serão retomados em momentos posteriores de forma mais incisiva, com destaque para a categorização de paraíso fiscal. Vejamos, no excerto abaixo, um momento no qual os interactantes estão às voltas com a construção referencial de Mônaco.

O fragmento acima diz respeito a um momento da interação que se desenvolve a partir da linha 2032 e segue até a linha 2082. Ele começa com uma informação de ordem não meramente geográfica sobre o principado – que fica entre a Itália e a França – introduzida por HM na linha 2032, ativando a partir daí conhecimentos prévios e construídos dos interactantes, de forma a associar o referente aos frames de beleza, riqueza, nobreza e estratificação social.

SP acrescenta uma informação sobre o mesmo referente, relativa ao tamanho diminuto de Mônaco (linha 2041). Por inferência contextual, EM pergunta a SP, que é francês, se conhece o principado europeu. O tópico Mônaco, que se desenvolve desde o final do fragmento anterior, se estabiliza. SP acrescenta informações sobre Mônaco na linha 2033, sendo nisso acompanhado por EM e MS. Na linha 2037, JC pergunta a MS se ele também conhece Mônaco, e o faz tendo por base um conhecimento compartilhado pelos membros do CCA (isto é, o de que MS já visitou vários países do mundo). Após obter a confirmação de MS, JC produz um comentário avaliativo na linha 2052 baseado em inferência pragmática, provocando reações de HM (risos) e MS (gesto de confirmação com a cabeça). Na linha 2057, aparentemente alheio a essa breve interlocução travada entre JC e MS, SP repete um comentário avaliativo por ele feito anteriormente a respeito de Mônaco (lindo, lindo, lindo). As atenções dos interactantes durante o episódio, de um modo ou de outro, se concentram no tópico Mônaco, por meio da ativação e da conexão de vários referentes e frames que o perfilam.

Observando o jornal que traz a notícia do falecimento do Príncipe Rainier III, EM, após manifestar na linha 2058 sua concordância com o comentário avaliativo de SP (lindo, né), retoma o tópico desenvolvido ao final do fragmento anterior, introduzindo (por meio do marcador então) nessa continuidade uma nova informação, relativa à sucessão do trono (linhas 2059 e 2060). MS aponta o dedo em sua direção quando EM começa esse seu turno, indicando atenção ao que enuncia. Contudo, é novamente Mônaco que reaparece como tópico na fala MS, na linha 2065, a partir de nova propriedade atribuída ao principado (mendigo não tem). Ainda que o referente Mônaco não tenha sido explicitado, ele é inferido com base em informações contextuais e semânticas (alusivas a uma determinada ideia de riqueza atribuída a Mônaco, região onde só tem gente de dinheiro (linha 2071); desprovida não apenas de mendigo, como também de integrantes da classe média, como os participantes do CCA, referência aqui subespecificada: a gente seria mendigo, enfatiza HM à linha 2073; mendigo LÁ somos nós, completa JC à linha 2074, em meio ao riso dos demais e à expressão interjectiva de NS à linha 2076, no:ssa. A construção referencial de Mônaco como região de riqueza e glamour também se constrói a partir da remissão a um dêitico espacial metafórico enfatizado prosodicamente por EM à linha 2071: ALI só tem gente de dinheiro. A referenciação dêitica, como podemos observar, atua também na construção referencial de Mônaco.

No fragmento acima, podemos observar nos processos de construção referencial grande mobilização de operações implícitas e subespecificadas, além de predicações e expressões referenciadoras. Observamos, especialmente, inferências contextuais, seguidas de inferências textuais, semânticas e conversacionais; determinados modelos de contexto (como o de mendicância e o de estratificação econômica, nas linhas 2065 a 2077); diferentes frames associados ao referente e ao tópico discursivo, relativos à beleza, à riqueza, à nobreza, à estratificação social.

Todos esses elementos são fundamentais na orientação argumentativa, na coerência discursiva e na estruturação e desenvolvimento do tópico conversacional. A construção discursiva e sociocognitiva do referente Mônaco em termos de paraíso fiscal, estabelecida nos fragmentos posteriores do extrato, já se anuncia aqui.

4.2 Contexto, tópico e referenciação

No escopo de nossa pesquisa, contexto e tópico são fatores cruciais para o estabelecimento de processos referenciais. Considerando que ambos, contexto e tópico, são parte integrante das atividades de referenciação presentes em qualquer produção discursiva, restaria especificar de que modo os aspectos textuais exercem influência sobre o contexto e a forma pela qual este modula os elementos referenciais nos desdobramentos tópicos.

Vejamos, a propósito, o exemplo abaixo.

(2)

Título: "O auxílio doença "

Registro audiovisual: 07/04/2005

Sigla: R-A (E1)

Linhas: 4-104

Localização AphasiAcervus: CCA_07_04_05 – cameraIfitaA

Início: 52'06''

Duração: 2'29''

Contexto: Para exemplificar a influência recíproca entre tópico, contexto e atividades referenciais, tomemos um fragmento no qual o grupo está envolvido com o seguinte supertópico: a concessão a uma das participantes afásicas do "auxílio doença " da Previdência Social. Estão presentes nesse fragmento as participantes afásicas ED e NS, bem como o participante afásico SP, além da participante não afásica EM.

Em um primeiro momento desse evento interativo, podemos dizer que o primeiro quadro tópico instaurado é "o direito de ED, como trabalhadora, ao auxílio doença ". É por isso que, no início do registro desse evento interativo, EM chama a atenção do grupo para esse tópico:

No trecho acima participam ativamente EM, ED e NS. Para que essa breve descrição possa ser conjuntamente construída pelos participantes e para que possa ser compreendida, pressupõe-se a ativação e o reconhecimento de um contexto macro que se constitui, dentre outros aspectos, pela informação de que os trabalhadores brasileiros são assegurados por direitos previdenciários. A centração tópica, inicialmente assegurada pela reiteração da expressão referencial "auxílio doença " e pela repetição da estrutura "tem o direito ", confere materialidade textual ao contexto macro pressuposto/evocado. Vejamos a continuidade do episódio:

No trecho acima, que se segue imediatamente ao excerto anterior, ocorre a resposta de NS à pergunta feita por EM sobre a concessão do auxílio doença a ED. A resposta de NS (enrolado) e os comentários que se seguem depois, por parte de EM e SP, constituem-se em introdutores de um novo quadro tópico.

Se considerarmos, de acordo com Mira (2012), que em termos de contexto micro a reunião é o evento interativo que caracteriza as atividades do Programa de Linguagem do CCA, sendo que esse evento interativo pode configurar-se de duas formas, como discussão de temas ou como relatos/comentários sobre o cotidiano dos participantes, é possível dizer que essa reunião possibilita a emergência tanto do primeiro quadro tópico, "o direito de ED, como trabalhadora, ao auxílio doença ", e o segundo quadro tópico, "dificuldades de ED, uma das participantes afásicas, em obter o auxílio doença. "

No curso desse evento interativo, o quadro tópico "dificuldades de ED em conseguir o auxílio doença " é coconstruído particularmente por EM, NS e ED. Essas participantes detalham um pouco mais as dificuldades enfrentadas por ED na obtenção do benefício. O subtópico instaurado é "a requisição de ED do auxílio em Sumaré ". ED trabalhava na cidade de Campinas, porém, decidiu requerer o benefício na agência da Previdência Social da cidade de Sumaré, acreditando que um vereador desse município, seu conhecido, poderia agilizar o processo burocrático. No entanto, tal estratégia foi malsucedida, pois ED confirma que a escolha da agência de Sumaré não fez diferença em relação à agilidade dos trâmites burocráticos. O fragmento abaixo ilustra a instauração desse subtópico, após os comentários de NS, EM e SP:

É interessante observar que os conhecimentos partilhados pelos interlocutores sobre a vida de ED (o fato de que ela trabalhava em Campinas, que tem um vereador conhecido em Sumaré, que deu entrada em seu pedido de auxílio doença em Sumaré acreditando que sua relação com o vereador poderia agilizar o processo burocrático) é o que permite que analisemos o episódio conversacional acima como contribuindo para a manutenção do tópico.

Também é o histórico de convivência do grupo que permite o riso de um dos participantes, MS, em relação ao referente implícito "ajuda do vereador ", construído conjuntamente em função do detalhamento da situação na qual ED se encontra.

Por fim, novamente NS reitera o seu comentário feito anteriormente (enrolado), o que marca a instauração de novos subtópicos, relacionados ao quadro tópico "dificuldades de ED em conseguir o auxílio doença ": "o arrependimento de ED por ter requerido seu auxílio na cidade de Sumaré " (linhas 54 a 67) e "a contratação de um advogado por parte de ED ", caso a concessão do auxílio demore além de 15 dias (linhas 68 a 80). Vejamos como o evento interativo continua depois do desenvolvimento desses dois subtópicos:

Considerando que nos primeiros momentos desse evento interativo EM instaura o quadro tópico "o direito de ED, como trabalhadora, ao auxílio doença ", e na sequência da interação ocorre a instauração de um outro quadro tópico, a saber, "dificuldades de ED em conseguir o auxílio doença ", é possível observar no trecho acima a retomada do primeiro quadro tópico instaurado por EM.

Verifica-se no trecho acima um detalhamento, por parte de EM, da condição de ED como trabalhadora de uma empresa, por meio da instauração de um novo referente: "secretária da qualirádio " (linha 85). Após esse detalhamento, EM volta a reiterar para o grupo (porque entende gente) os direitos de ED, como trabalhadora, ao auxílio doença. Essa reiteração pode ser observada pela repetição da estrutura "ela tem direito a ... ".

Nesse momento do episódio interacional, é possível dizer que se volta a evocar mais fortemente o contexto macro caracterizado principalmente pelo fato de os trabalhadores brasileiros terem acesso ao instituto da Previdência Social e pelo fato de esta instituição funcionar de forma muito burocrática e lenta na concessão dos auxílios (percepção que se faz notar pelos comentários finais de EM, que coisa né, e de NS, nossa senhora).

É também interessante observar que a expressão referencial auxílio doença possibilita a ativação e a manutenção tanto do contexto macro, já que todo o conhecimento a respeito do que são os direitos dos trabalhadores assegurados pelo regime da Previdência Social não está explicitado, quanto do contexto micro, já que se está falando das dificuldades que ED está enfrentando para a obtenção do auxílio doença.

O contexto mais macro continua ativado no curso do desenvolvimento do segundo quadro tópico, "dificuldades de ED em conseguir o auxílio doença ", mas o desenvolvimento de um outro quadro tópico específico demanda que os interactantes coloquem em foco e em jogo uma série de conhecimentos situacionais e, portanto, mais micro, por eles compartilhados.

Em outras palavras, ambos os contextos, macro e micro, são fortemente delimitadores do desenvolvimento dos tópicos. Por sua vez, os quadros tópicos instaurados demandam tanto a ativação e a reativação de referentes específicos explícitos (como é o caso de "direito ", "auxílio doença ", "sistema previdenciário ", "atendimentos ", "terapias ", "secretária da qualirádio "), quanto de referentes implícitos ( "previdência social ", "a ajuda do vereador ").

4.3 Multimodalidade e referenciação

Observamos nas atividades discursivas e interacionais do CCA a ocorrência de diferentes e coatuantes semioses; tanto os afásicos quanto os não afásicos lançam mão de vários processos semióticos, em geral de maneira conjugada à própria fala ou à de seu interlocutor. Essa coexistência de semioses atua de forma relevante na construção referencial.

Para exemplificar as questões aqui apontadas e dar visibilidade aos diferentes processos semióticos que participam da construção referencial, tomemos um excerto dos encontros do CCA. Dele participam SP, um senhor afásico, bem como EM e HM, participantes não afásicas.

(3)

Título: "Cálculo renal "

Registro audiovisual: 07/04/2005

Sigla: R-A (E3)

Linhas: 474 – 524

Localização AphasiAcervus: CCA_07_04_05 - cameraIfitaB

Início: 00'00''

Duração: 0'45''

Contexto: Neste episódio, SP comenta com o grupo sobre uma cirurgia no rim que poderá realizar no decorrer dos próximos dias. O início da interlocução entre SP e EM é bem marcado pelo direcionamento de olhar entre os dois, até o momento em que SP se dirige a HM (linha 491). SP e EM estão sentados em cadeiras posicionadas entre si num ângulo de 90 graus. SP toca com a mão esquerda em concha a região subcostal ventral esquerda (linhas 475 a 477). O gesto realizado não foi compreendido e SP tenta explicitá-lo; para tanto, efetua gestos similares, porém, tocando a região dorsal e depois novamente a ventral (linhas 479 a 488), até que a pesquisadora HM (na linha 489), enuncia "rim ", palavra que é repetida por SP na linha 490, confirmando a informação pretendida, reforçada oralmente por EM (linha 492) e por gestos afirmativos de cabeça de SP (linhas 491 e 496) e de HM (linha 493).

O gesto que SP vai utilizar ao longo da interlocução com EM (ele mantém o dedo indicador em riste) de forma conjugada a suas produções verbais não, ainda não (linha 502), então (linhas 505) e não (linha 508), tem o objetivo de orientar as inferências produzidas pelos demais, além de marcar seu intuito de manter o tópico em torno da cirurgia do rim e, se possível, desenvolvê-lo um pouco mais, pois ele pretende, como se verá mais adiante, informar que tem um cálculo renal (que pode ou não ser eliminado sem a necessidade de cirurgia). Assim, a manutenção do gesto tem por finalidade a manutenção do turno conversacional (ocupada por recursos verbais e não verbais), a progressão do tópico e a identificação dos referentes.

É um novo gesto (linha 514) conjugado com a fala, piquinio (linha 515), que vai possibilitar o desenvolvimento tópico, remetendo os interlocutores de SP a algo de pequeno tamanho que, associado aos rins por inferência contextual, possibilita a construção do referente cálculo renal. Um outro gesto de SP dá seguimento ao tópico e indica que, na verdade, se trata de dois cálculos renais:

Nesse processo de referenciação construída conjuntamente, o fluxo conversacional progride com o acréscimo de novos elementos, como a tentativa de explicitação da informação, desenvolvida por SP por meio de processos de significação verbal e não verbal, de que talvez não precisará realizar a cirurgia. Ao longo de todo este episódio, observa-se o caráter intersemiótico da comunicação: SP demonstra dificuldade na evocação de categorias linguísticas, o que se percebe pelas ocorrências de hesitações, prolongamentos vocálicos, reformulações e repetições em toda sua produção. Contudo, tanto a progressão tópica, quanto a cena referencial se estabelecem pela ação conjugada de ações verbais e gestuais. SP, como podemos observar entre as linhas 515 a 518, lança mão de uma construção referencial intersemiótica por meio da conjugação da fala com o gesto do dedo polegar e do indicador da mão esquerda postos em paralelo, de forma a delimitar ou contornar um objeto muito pequeno. De forma conjugada à fala – piquinio – esse gesto, por inferência textual e contextual, coconstrói o referente cálculo renal.

Observamos em nosso corpus, de onde extraímos o episódio acima, que os processos semióticos não verbais são mobilizados e coocorrem com outros elementos referenciais, linguísticos e contextuais na construção do sentido, sendo fundamentais na compreensão do discurso. Presentes na enunciação, eles se tornam "parte constitutiva do processo de produção e compreensão textual " (MORATO, 2012, p. 48).

5 Considerações finais

Os dados de nossa pesquisa reforçam a tese de que a construção de um referente implica a consideração de vários e simultâneos processos sociocognitivos, tais como a inferenciação, o contexto social e local, a dinâmica interacional, o reconhecimento de intenções, a dimensão multimodal da interação e do sentido textual. Reforçam ainda a consideração feita por Morato (2002), segundo a qual a construção, a partilha e a identificação dos referentes ou objetos de discurso não são passíveis de serem analisadas com base na produção isolada do afásico ou na de seus interlocutores; é essencial a consideração das instâncias intersubjetivas da referenciação.

Como pudemos observar em nosso corpus, os processos implícitos e multimodais atuam na referenciação de forma multifuncional i) na estruturação e gestão do tópico discursivo, ii) na articulação de aspectos macro e micro do contexto, iii) na dinâmica textual-interativa da construção referencial, particularmente na introdução e elaboração de referentes, nas atividades inferenciais que lidam com informações novas de forma a reformular objetos anteriormente mencionados ou aludidos e a propor outros, iv) nas operações de ordem meta (metalinguísticas, metaformulativas, metadiscursivas, etc.) implicadas na identificação do referente e na orientação argumentativa da referenciação.

Observamos que os interactantes – afásicos e não afásicos – procuram proceder à construção referencial associando estratégia e improvisação (HANKS, 2008, p. 196-197) às estruturas e formas de funcionamento estáveis ou não de uso da linguagem e de outras semioses coocorrentes. Dimensionado dessa forma, o processo referencial de fato privilegia a relação intersubjetiva e social "no seio da qual as versões do mundo são publicamente elaboradas, avaliadas eem termos de adequação às finalidades práticas e às ações em curso dos enunciadores " (MONDADA, 2001, p. 9). Não se trata, pois, de uma mera correspondência metalinguística entre as palavras e as coisas do mundo que a afasia – e, por meio dela, o fantasma da "escassez do significante " – impediria.

Temos observado (MORATO, 2002, 2008) que problemas linguísticos apresentados por afásicos (como as dificuldades de seleção lexical ou de processamento de categorias gramaticais) não os impedem de operar com elementos referenciais. Indivíduos afásicos enfrentam linguístico-discursivamente, isto é, no terreno mesmo da linguagem, suas dificuldades metalinguísticas (como indicam os reparos, reformulações, repetições, autocorreções, hesitações, promptings, etc.); além disso, lançam mão de semioses não verbais (como gestos, direcionamento do olhar, expressão fisionômica, etc.) que atuam de maneira solidária à linguagem na interpretação e na configuração de referentes textuais. Processos de ordem meta, portanto, bem como a competência sociocognitiva a eles associada, não parecem ser redutíveis a um domínio mental ou a uma reflexividade linguística stricto sensu (MORATO, 2002). É nas situações de uso e de interação que eles se constituem e se deixam entrever.

Recebido em: 30/07/2012.

Aprovado em: 30/10/2012.

Anexo: convenções de transcrição

i) transcrição em formato lista;

ii) numeração correspondente aos turnos de fala;

iii) indicação de letras minúsculas nas linhas correspondentes às descrições de aspectos não verbais sincronizados aos turnos de fala;

iv) identificação dos participantes por duas letras maiúsculas, correspondentes às iniciais do nome;

v) ortografia adaptada.

Notas

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  • 1
    "Processos referenciais implícitos na conversação entre sujeitos afásicos e não afásicos " (Proc. 400751/2010-0).
  • 2
    O grupo de pesquisa COGITES - Cognição, Interação e Significação – que reúne pesquisadores de diferentes formações, dedica-se ao estudo das relações entre linguagem e cognição por meio da descrição e análise de práticas discursivas, em especial as que envolvem indivíduos com afasia e com Doença de Alzheimer. Disponível em: <
  • 3
    Autores como Mondada e Dubois (1995) e Berrendonner e Reichler-Béguelin (1995), por exemplo, têm se servido da noção de objeto de discurso para postular que referentes são dinâmica e sociodiscursivamente constituídos, caracterizando-se como instáveis, flexíveis e não fixados de forma prévia à interação. Para esses autores, é possível dizer, os dois conceitos,
    referente e
    objeto de discurso, são tomados indistintamente.
  • 4
    "A dêixis na interação entre afásicos e não afásicos: conjugação indicial fala/gesto. "
  • 5
    Para mais detalhes: <
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Dez 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2012

    Histórico

    • Recebido
      30 Jul 2012
    • Aceito
      30 Out 2012
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