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APRESENTAÇÃO

A terceira e última edição de 2015 de Linguagem em (Dis)curso confirma sua vocação de agregar temas presos em três grandes linhas de sustentação - "a memória, a história, o esquecimento" -, amarradas pela cobertura dos estudos em Texto e Discurso, que ordena a diversidade de perspectivas. Ela provê, com os textos agora publicados, mais uma combinação que retoma, de algum modo, nossa grande preocupação com o que é nossa condição histórica: a da representação do passado - muito próximo, medianamente próximo ou mais distante. Trata-se, na verdade, de uma recente constatação, sob a inspiração de um belíssimo estudo de Paul Ricoeur: A memória, a história, o esquecimento*; por ele intentamos dar cobertura aos sete trabalhos agora apresentados, tocando em seu ponto sensível. Ricoeur considera essas partes como três mastros que sustentam as velas de uma mesma embarcação, voltada para um destino único. O primeiro artigo, tendo na memória muitos outros, tematiza mulher e campanhas publicitárias (questões de gênero), e chega ao tópico de uma identidade estereotipada, e da sujeição da mulher não diretamente ao homem, mas ao próprio corpo, em função da pressão mercadológica. O segundo artigo focaliza outra dobra da identidade feminina: lida etnograficamente com a construção identitária pelo ângulo do estigma, com a manifestação viva de uma pessoa atingida, que ratifica ou contesta sua posição. Ela flutua entre um passado e um futuro, sem viver o presente. "O que faz a fragilidade da identidade?" pergunta-se Ricoeur. "É o caráter puramente presumido, alegado, pretenso da identidade." (2007, p. 94). Esta se amarra, aliás, alternativamente, ao excesso de memória (com possibilidade de abuso) ou à insuficiência de memória (com possibilidade de esquecimento). Memória se trabalha igualmente no texto em que, retornando a uma gramática portuguesa de 1961 (a de Evanildo Bechara), procura-se, junto à história das ideias linguísticas, detectar o gesto de autoria nessa elaboração gramatical, uma forma específica de dizer que remete a uma posição sobre o passado. A "(des)ordem da imagem" conduz o quarto artigo, tomando a imagem como "operador de memória social", aqui especialmente no campo político. Tudo se liga ao passado - abuso de memória? - e cria cenas para tocar no futuro imediato, tateando na tarefa de forjá-lo. Aqui, uma tarefa para evitar o esquecimento. Peças de humor convivem com os dramas e com o poder constituído; o mundo folk espia, considera e se manifesta, revisitando o passado e voltando os olhos para o futuro. Parece um visionário das sombras e capataz sem papas na língua, a julgar tudo e todos - criando imagens e estabelecendo caricaturas, estereótipos. É o que se faz no quinto texto de nossa edição, tendo como alvo o Brasil. "As faces de Bakhtin", como ícone de uma história controvertida, surgem das sombras para, mais uma vez, pôr em contraste o movimento de conforto/desconforto acadêmico perante uma obra profundamente inovadora e inquietantemente opaca. Fala-se, para além das controvérsias, de um criador-autor que transcende o indivíduo, sobrepondo-se à própria crítica. Finalmente, nesses passos pelas pedras da história, um ensaio sobre o diálogo experimenta várias percepções e temporalidades - desde a lógica até a afetiva, desde a Antiguidade até hoje - fazendo intervir o jogo emocional e seus efeitos no diálogo argumentativo prático, passando da Lógica Clássica para uma racionalidade lato sensu, dependente de condições de verdade e condições de afetividade. A tríade de Ricoeur atravessa todas essas manifestações, fazendo a linguagem funcionar bem (fazer sentido), por um lado, com certos rumores, e por outro trazendo a ansiedade das relações presente-passado-futuro no que ainda está em construção. A equipe de Linguagem em (Dis)curso deseja que os textos desta edição permitam boas reflexões a seus leitores! Por último, mas com uma importância especial, a equipe deseja agradecer ao corpo de pareceristas que legitimou, durante o ano, a produção submetida e publicada em nossa revista, bem como àqueles que permaneceram disponíveis para atender a nosso chamado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2015
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