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Apresentação/Presentation

Os estudos textuais e discursivos, tais como os que se mostram nesta edição (apenas uma ilustração do que se observa continuamente), revelam, a nossos olhos, o emaranhamento do que se chama(va) disciplinas, o ordenamento do caos que não podia se conservar, para a humanidade, sob pena de não ser possível compreender e conhecer. Mas as ciências humanas, em especial, passaram a fornecer umas às outras, e mesmo às ciências da natureza, um modo de olhar - aquilo que David le Breton (As paixões ordinárias), em sua antropologia das emoções, chamou "tatilidade do olhar", o olhar simbólico.

Estamos imersos, lembra ele, num banho sensorial ininterrupto. "Em princípio, ele [o homem] jamais cessa de ver, de escutar, de tocar, de sentir o mundo que o entorna." ([1998]2009, p. 215)* * LE BRETON, David. As paixões ordinárias: antropologia das emoções. Trad. de Luís Alberto Salton Peretti. Rio de Janeiro: Vozes, [1998]2009. . Antropólogos, sociólogos, historiadores, linguistas, analistas de discurso, psicanalistas e quaisquer outros especialistas pousam o olhar sobre algo e sobre outrem para sentir, para analisar, para exercer um poder. Escreveu Le Breton: "O olhar toca o outro e este contato está longe de passar despercebido no imaginário social. A linguagem corrente o comprova: acariciamos, metralhamos, inspecionamos com o olhar, exercendo força sobre o olhar alheio" (p. 215).

Aqui estamos falando do olhar do pesquisador, do olhar especializado, suportado por teorias e cioso de um trabalho que precisa mostrar como a vida se manifesta em suas possibilidades, acertos e erros, em sua historicidade: lugar, espaço, tempo - e portanto, memória.

Assim, trazemos, no conjunto de trabalhos de nossa primeira edição de 2016, humanidades tocadas por olhares que, focalizando efeitos de linguagem, tematizam mundos, acontecimentos amplos ou locais, trazendo cada um uma perspectiva que afeta globalmente, nacionalmente ou em nível de comunidade.

As questões e problemas sociais são, em suma, o campo em que proliferam as linguagens, que produzem, com menos ou mais impacto, valor e experiência emocional e estética, ainda que na ciência mais objetiva.

Aqui, propomos ao olhar do outro dez temas ofertados por nossos interlocu(au)tores, dois dos quais, em sua especificidade de ensaios, convidam a uma reflexão também filosófica: o primeiro toca em humanização, refletindo sobre tecnologia e educação; o segundo pensa as emoções como afetos, num estudo sobre a semiótica das paixões, transitando pela sensibilidade pessoal afetada pelo simbolismo da substância social.

Nos oito artigos de pesquisa imbricam-se em dobras, nos vários olhares:

  • a) o acontecimento mundial da escolha de um novo papa para o mundo cristão e a memória que o antecipa, bem como o fenômeno da espetacularização;

  • b) o trabalho específico das ressonâncias da memória quando se pretende buscar verdades sobre um período duro da história do País (a criação da Comissão Nacional da Verdade);

  • c) o tópico da violência em sua prática narrativa cotidiana - um olhar sobre essa prática na Argentina;

  • d) o espetáculo (ou narcisismo?) em que cada um pode ser transformado, com a expansão da prática do(a) selfie pelo mundo e seu impacto subjetivo;

  • e) o impacto individual e social acarretado por perdas na condição corporal relativas à alteridade humana, em um estudo da afasia que trata do olhar para o outro e do olhar do outro, pelo esforço de manutenção do que faz o humano: a ligação com o sentido;

  • f) o passeio pela interpretação que mostra deslizamentos, distinguindo olhares, memórias e uma cultura distante, oriental, em sua plena complexidade;

  • g) a relação humana com o conhecimento na fase escolar: formas de subjetividade na construção textual materializando-se em elementos modalizadores; e o olhar voltado para problemas de didatização quando o outro se prepara para ter um olhar mais apurado sobre o ensino, e para aprender a dar saídas para as questões que emergem cotidianamente.

Aos leitores, para proporem seu olhar e sua avaliação sobre as experiências aqui relatadas.

Fábio José RauenMaria Marta Furlanetto

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    LE BRETON, David. As paixões ordinárias: antropologia das emoções. Trad. de Luís Alberto Salton Peretti. Rio de Janeiro: Vozes, [1998]2009.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016
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