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PINGA-FOGO COM CHICO XAVIER: DO ETHOS À SEMÂNTICA GLOBAL DO DISCURSO ESPÍRITA KARDECISTA

Pinga-fogo com Chico Xavier: from the ethos to the global semantics of the kardecist spiritualist discourse

Pinga-fogo com Chico Xavier: del ethos hasta la semántica global del discurso espiritista kardecista

Resumo

Considerando as reflexões desenvolvidas por Maingueneau (2001, 2005, 2006, 2008) sobre a noção de ethos discursivo, analisa-se, neste trabalho, o ethos do médium Francisco Cândido Xavier na obra Pinga-Fogo com Chico Xavier, com o intuito de contribuir com os estudos sobre o discurso espírita kardecista, um dos discursos religiosos que há no Brasil. Para tanto, observa-se especialmente o léxico de ocorrências relativas ao ethos pré-discursivo, ao ethos dito e ao ethos mostrado, o que permite identificar não só o perfil do fiador do discurso, mas também a cena de enunciação em que esse fiador emerge. Por fim, demonstra-se como o ethos do médium está vinculado à semântica global do discurso espírita kardecista.

Palavras-chave:
Discurso; Espiritismo; Semântica global; Ethos; Cena de enunciação.

Abstract

Considering the reflections developed by Maingueneau (2001, 2005, 2006 and 2008) on the notion of discursive ethos, in this paper we analyze the ethos of the medium Francisco Cândido Xavier on the book Pinga-Fogo com Chico Xavier, in order to contribute to the studies of the kardecist spiritualist discourse, one of the religious discourses which are circulating in Brazil. For this analysis we observe specially the lexicon of occurrences concerning 3 types of ethos: the pre-discursive ethos, the said ethos and shown ethos. We identify not only the image of the discourse's guarantor, but also the scene of enunciation in which this guarantor emerges. Finally, we demonstrate how the ethos of the medium Chico Xavier is linked to the global semantics of the kardecist spiritualist discourse.

Keywords:
Discourse; Spiritualism; Global semantics; Ethos; Enunciation scene.

Resumen

Considerando reflexiones desarrolladas por Maingueneau (2001, 2005, 2006, 2008) sobre la noción de ethos discursivo, se analiza, en este trabajo, el ethos del médium Francisco Cândido Xavier en la obra Pinga-Fogo com Chico Xavier. El objetivo es contribuir con los estudios sobre el discurso espiritista kardecista, uno de los discursos religiosos que existen en Brasil. Para ello, se observa especialmente el léxico de ocurrencias relativas con el ethos pre-discursivo, con el ethos dicho y con el ethos mostrado, que permite identificar no solo el perfil del fiador del discurso, pero también la escena de enunciación en que ese fiador emerge. Al fin se demuestra como el ethos del médium está vinculado con la semántica global del discurso espiritista kardecista.

Palabras-clave:
Discurso; Espiritismo; Semántica global; Ethos; Escena de enunciación

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho, pretendemos contribuir com os estudos sobre um tipo de discurso pouco explorado pelos trabalhos desenvolvidos no âmbito da Análise do Discurso francesa, isto é, o religioso, embora o fato religioso, como bem observado por Maingueneau (2007MAINGUENEAU, D . Gênese dos discursosTradução de Sírio Possenti. 1ª reimpressão Curitiba: Criar Edições , 2007.), esteja particularmente presente no mundo contemporâneo. Mais exatamente, pretendemos contribuir com as reflexões sobre o discurso espírita.

O espiritismo é uma religião seguida por milhões de pessoas no Brasil. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há, no país, 3.8 milhões de espíritas declarados1 1 Disponível em:<http://www.ibge.com.br/home/>. Acesso em: 5 de abril de 2014. . De acordo com a Revista Veja (edição de 23 de junho de 2010), além desses que se declaram espíritas, há por volta de 18 milhões de simpatizantes do espiritismo, isto é, pessoas que declaram pertencer a outras religiões, mas acreditam nos dogmas espíritas ou participam de seus cultos, o que pode explicar o interesse crescente da sociedade brasileira pelo discurso espírita kardecista. Quanto a isso podemos citar o sucesso dos filmes como Nosso Lar (2010), Chico Xavier (2010) e As mães de Chico Xavier (2011), que tratam dos princípios que, segundo o discurso espírita, regem a tese da existência de comunicação entre vivos e mortos por meio da mediunidade. Outro exemplo são as diversas novelas espíritas exibidas na televisão brasileira, tais como: Somos todos irmãos (TV Tupi, 1966), A viagem (TV Tupi, 1975 e TV Globo, 1994), Sétimo Sentido (TV Globo, 1982), Anjo de Mim (TV Globo, 1996), Alma Gêmea (TV Globo, 2005), Escrito nas Estrelas (TV Globo, 2010), entre outras.

O discurso espírita kardecista está baseado nas ideias de Hippolyte Léon Denizard Rivaile (1804-1860), que, sob o pseudônimo de Allan Kardec, desenvolveu suas reflexões sobre o sobrenatural, procurando imprimir-lhe um tratamento científico, por causa da influência do movimento positivista e progressista do final do século XIX (cf. SILVA, 2007SILVA, F. L. Céu, inferno e purgatório: representações espíritas do além. 172f. 2007. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Universidade Estadual Paulista, Assis, 2007.). Nesses termos, o discurso espírita pode ser considerado como um modo de tratar supostos fenômenos sobrenaturais à luz da onda racionalista propagada pelos pensadores do século XIX. Seguindo essa linha de pensamento que se aproxima do discurso científico, Allan Kardec, em suas obras, define o discurso espírita como um conjunto de princípios e leis, revelados pelos espíritos superiores, que tratam da natureza, da origem e do destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal, procurando aproximar ciência e fé cristã.

De fato, segundo Silva (2002SILVA, E. M. O Cristo reinterpretado: espíritas, teósofos e ocultistas do século XIX. Revista Ideias, v. 4, p. 25-37, 2002. ), o movimento espírita kardecista francês não deixou de ser um movimento cristão no qual os adeptos se guiavam pelos conhecimentos fornecidos pelos espíritos, que, segundo afirmavam, lhe apresentavam uma nova revelação das verdades cristãs. Mais exatamente, segundo a autora, o espiritismo apresentava-se como uma nova interpretação do cristianismo, na qual os ensinamentos de Cristo seriam completados pelo discurso científico, que deixaria de ser exclusivamente materialista.

Com o advento do Espiritismo na França, posteriormente, o discurso espírita kardecista começou a circular também no Brasil, ainda no final do século XIX, quando sofreu bastante resistência, especialmente por parte de católicos e médicos. A partir da segunda metade do século passado, a expansão do discurso espírita kardecista tornou-se mais significativa no país, especialmente por causa da influência do médium Francisco Cândido Xavier (publicamente conhecido como Chico Xavier), um dos responsáveis pela consolidação da feição católica (cf. STOLL, 2002STOLL, S. J. Religião, ciência ou auto-ajuda? trajetos do Espiritismo no Brasil. Revista de Antropologia, v. 45, n. 2, p. 361-402, 2002.) de que se revestiu o Espiritismo no Brasil.

Com o intuito de colaborarmos com as reflexões sobre o discurso espírita tal como se encontra circulando no Brasil, neste trabalho analisamos o ethos do médium Francisco Cândido Xavier, na obra "Pinga-Fogo com Chico Xavier" (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010.).

Publicada pela Editora InterVida e organizada pelo jornalista Saulo Gomes, a obra em questão traz, na íntegra, as duas edições do programa "Pinga-Fogo da TV Tupi" de que o médium participou e que foram transmitidas pela Rede Tupi de Televisão, no ano de 1971. A primeira edição foi transmitida em 28 de julho de 1971. Em razão do alto índice de audiência, estimada em mais de 20 milhões2 2 <http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2014/11/1551572-com-chico-xavier-pinga-fogo-bateu-todos-os-recordes-de-audiencia.shtml> , o entrevistado foi novamente convidado, em dezembro daquele mesmo ano, para tratar do espiritismo respondendo a novas perguntas feitas sobre temas bastante diversos, tais como reencarnação, morte, evolução, psicografia, religião, mediunidade, família, educação, umbanda, homossexualidade, entre outros.

A escolha da obra em questão se deve ao fato de o entrevistado ser justamente o médium Francisco Cândido Xavier. Como se sabe, ele foi um médium brasileiro de bastante destaque e, como um grande propulsor do discurso espírita kardecista, deixou uma vasta produção, que ultrapassa quatrocentas psicografias. Assim, como o médium foi reconhecido nacional e internacionalmente como um grande líder do espiritismo kardecista no Brasil, consideramos válido tomar o seu discurso como representativo do discurso espírita. Posteriormente, trataremos de demonstrar como o ethos do médium Chico Xavier está vinculado à semântica global (cf. MAINGUENEAU, 2007MAINGUENEAU, D . Gênese dos discursosTradução de Sírio Possenti. 1ª reimpressão Curitiba: Criar Edições , 2007.) do discurso espírita kardecista.

2 SOBRE A NOÇÃO DE ETHOS

Como nos lembra Maingueneau (2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92.), o conceito de ethos liga-se à tradição retórica. A esse respeito, podemos citar as reflexões de Aristóteles sobre a construção da imagem de si por um orador em seu discurso. Em linhas gerais, podemos dizer que, desse ponto de vista, o ethos diz respeito à necessidade de o orador criar de si, pelo modo como se constrói o discurso, uma boa impressão, isto é, uma imagem capaz de conquistar a confiança do auditório (cf. MAINGUENEAU, 2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92.). Mais recentemente, outras teorias linguísticas, em especial as pragmáticas e as discursivas, reformulam o conceito em seus respectivos quadros teóricos.

Neste trabalho, a partir das reflexões desenvolvidas por Maingueneau sobre o tema (MAINGUENEAU, 2001MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza-E-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001., 2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92., 2006MAINGUENEAU, D . Cenas da Enunciação. POSSENTI, S.; SOUZA-E-SILVA, M. C. P. (Org.). Trad. SOUZA-E-SILVA, M. C. P et al. Curitiba: Criar Edições, 2006.e 2008MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.) consideramos o ethos como a imagem que o sujeito enunciador do discurso projeta de si, tendo em vista o modo como esse sujeito enuncia. O ethos não corresponde exatamente ao que esse sujeito diz a respeito de si, embora essas informações sejam relevantes para apreensão da imagem que projeta; trata-se, principalmente, das características da personalidade reveladas pelo modo de se exprimir. Segundo Maingueneau, são características psicológicas de sua personalidade identificáveis e demarcadas a partir de sua maneira singular de expressão. Para essa identificação, o destinatário pode se apoiar em índices variados, "que vão desde a escolha do registro da língua e das palavras até o planejamento textual, passando pelo ritmo e modulação" (cf. MAINGUENEAU, 2008MAINGUENEAU, D . Cenas da Enunciação. POSSENTI, S.; SOUZA-E-SILVA, M. C. P. (Org.). Trad. SOUZA-E-SILVA, M. C. P et al. Curitiba: Criar Edições, 2006., p. 16). Com o ethos, o destinatário tem condições de formar uma representação do sujeito enunciador que desempenha o papel de um fiador encarregado da responsabilidade do discurso. Nesses termos, o ethos é, essencialmente, uma ficção discursiva, que não deve ser confundida com a pessoa empírica que enuncia.

Nosso interesse pelo conceito deve-se ao fato de o ethos estar diretamente ligado à questão da eficácia de um discurso, à sua capacidade de suscitar a crença. Para explicitar o papel do ethos no processo de adesão dos sujeitos ao discurso, Maingueneau (2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92.) introduz o conceito de incorporação, que designa a maneira pela qual o destinatário adere ao discurso. Segundo o autor, essa incorporação atua em três registros diferentes:

- a enunciação da obra confere uma "corporalidade" ao fiador, ela lhe dá corpo; - o destinatário incorpora, assimila um conjunto de esquemas que correspondem a uma maneira específica de relacionar-se com o mundo habitando seu próprio corpo; - essas duas primeiras incorporações permitem a constituição de um corpo, o da comunidade imaginária daqueles que aderem ao mesmo discurso. (MAINGUENEAU, 2008MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29., p. 18)

Com a noção de incorporação, podemos entender que os sujeitos não aderem a um discurso simplesmente porque um conjunto de ideias ligadas a seus possíveis interesses lhes é apresentado. Na verdade, essas ideias "suscitam a adesão do leitor por meio de uma maneira de dizer que é também uma maneira de ser" (MAINGUENEAU, 2006MAINGUENEAU, D . Cenas da Enunciação. POSSENTI, S.; SOUZA-E-SILVA, M. C. P. (Org.). Trad. SOUZA-E-SILVA, M. C. P et al. Curitiba: Criar Edições, 2006., p. 70). Assim, os discursos conquistam a adesão dos sujeitos legitimando, atestando o que é dito na própria enunciação, permitindo a identificação desses sujeitos com certa determinação do corpo.

Maingueneau (2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92.) faz uma distinção entre o ethos pré-discursivo e o ethos discursivo. Se neste a imagem do sujeito enunciador é construída com base em indícios discursivos, o primeiro resulta de representações prévias do enunciador, especialmente quando se trata de uma figura pública. Como há discursos que prescindem dessas imagens construídas a priori pelos destinatários dos discursos, esses dois tipos de ethé não se aplicam a todos os discursos. A esse respeito, o autor observa que "existem tipos de discurso ou circunstâncias para as quais não se espera que o destinatário disponha de representações prévias do ethos do enunciador" (MAINGUENEAU, 2006MAINGUENEAU, D . Cenas da Enunciação. POSSENTI, S.; SOUZA-E-SILVA, M. C. P. (Org.). Trad. SOUZA-E-SILVA, M. C. P et al. Curitiba: Criar Edições, 2006., p. 57). Já no caso de discursos pertencentes ao domínio da política, como os enunciadores ocupam constantemente a cena midiática, são associados a um ethos que o seu discurso deve confirmar ou não. Além disso, mesmo que o destinatário não saiba nada previamente sobre o caráter do enunciador, "o simples fato de que um texto pertence a um gênero de discurso ou a um certo posicionamento ideológico induz expectativas em matéria de ethos" (MAINGUENEAU, 2006MAINGUENEAU, D . Cenas da Enunciação. POSSENTI, S.; SOUZA-E-SILVA, M. C. P. (Org.). Trad. SOUZA-E-SILVA, M. C. P et al. Curitiba: Criar Edições, 2006., p.57).

Também não podemos nos esquecer de que, conforme bem observa Maingueneau (2008MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.), há elementos contingentes de um ato de comunicação que influenciam a construção do ethos discursivo pelo destinatário, embora não seja possível garantir se fazem parte do discurso ou não. De fato, para o autor, é uma decisão teórica relacionar a construção do ethos ao material estritamente verbal ou levar em consideração, na análise, outros elementos, aqueles de natureza extradiscursiva (como as roupas e gestos), abrangendo, assim, todo o conjunto do quadro da comunicação.

Considerando apenas a noção de discurso, o ethos discursivo mostra-se como o produto da interação de outros dois tipos: o ethos dito e o ethos discursivo. Segundo Maingueneau (2008MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.), o primeiro diz respeito aos fragmentos dos textos que evocam sua própria enunciação, revelando a imagem que o sujeito enunciador tem de si, o que pode incluir alusões diretas ou indiretas a outras cenas de fala; já o ethos discursivo é aquele evidenciado pelo discurso, mostrado mesmo pela enunciação.

Além dessas propriedades, o ethos está vinculado à cena de enunciação, que, segundo Maingueneau (2001MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza-E-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001., 2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92., 2006MAINGUENEAU, D . Cenas da Enunciação. POSSENTI, S.; SOUZA-E-SILVA, M. C. P. (Org.). Trad. SOUZA-E-SILVA, M. C. P et al. Curitiba: Criar Edições, 2006., 2008MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.), engloba três cenas: a cena englobante, a cena genérica e a cenografia. A cena englobante corresponde ao tipo de discurso; ela confere ao discurso seu estatuto pragmático (por exemplo: discurso literário, discurso religioso, discurso filosófico, discurso publicitário). A cena genérica, por sua vez, diz respeito ao contrato associado a um determinado gênero (editorial, sermão, guia turístico, visita médica, receita). Finalmente, há a cenografia, cena construída pelo próprio texto, que não é necessariamente imposta pelo gênero; assim, por exemplo, como afirma o próprio autor, um sermão pode ser enunciado por meio de uma cenografia professoral. A cenografia é, mais precisamente, o lugar exato onde o fiador do discurso está inserido, assumindo certo modo de enunciação.

3 ANÁLISE DO ETHOS DO MÉDIUM CHICO XAVIER

Neste trabalho, para analisarmos o ethos do médium Chico Xavier na obra "Pinga-Fogo com Chico Xavier" (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010.), baseamo-nos em ocorrências relativas ao ethos pré-discursivo, ao ethos dito e ao ethos mostrado. Observando especialmente o léxico dessas ocorrências, identificamos não só o perfil do fiador do discurso, mas também a cena de enunciação em que esse fiador emerge.

A decisão de considerarmos o ethos pré-discursivo na análise se justifica dada a forte expectativa em termos desse tipo de ethos para o caso em questão, uma vez que o médium Chico Xavier não só era reconhecido como um médium espírita, mas também como uma figura pública. Assim, no momento em que as entrevistas do médium ao Programa "Pinga-Fogo" foram publicadas, muito já se sabia sobre ele, sobre seu comportamento em relação aos seus seguidores, sobre seu histórico de vida. A esse respeito, vale lembrarmos também o interesse do público geral e das mídias audiovisuais em torno do médium, especialmente após sua morte em 2002: em 2010, ano do centenário de seu nascimento, foi produzido o filme "Chico Xavier - O filme", baseado no best-seller de Marcel Souto Maior As vidas de Chico Xavier, e dirigido por Daniel Filho.

De modo geral, podemos dizer que publicamente o médium Chico Xavier era tido não só como um médium bastante dedicado ao espiritismo, mas também como uma pessoa humilde, caridosa e dedicada aos menos favorecidos.

De fato, ao longo da obra e especialmente em seu paratexto (com ênfase nas notas e nos comentários acrescidos pelo organizador da obra à entrevista), vamos encontrar várias formulações linguísticas nas quais é possível apreender uma imagem do médium Chico Xavier que corresponde exatamente a essas expectativas. Vejamos algumas dessas formulações:

(01) "Francisco Cândido Xavier (1910-2002) mais que viveu, transcendeu. Os dois planos da vida foram para ele uma só causa de labor pelo próximo. Médium extraordinário, fiel mensageiro dos Espíritos elevados, legou à humanidade um manancial de conhecimento incomparável em mais de 400 livros. Suas atividades de assistência ao ser humano foram a perfeita concretização da caridade. Com a doutrina espírita, viveu plenamente o evangelho do Cristo. Em sua humildade, desejou ser apenas um singelo tarefeiro do Mestre." (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., verso da capa; grifos nossos).

(02) "Aprendi com Chico que a paciência e a humildade nos fazem mais fortes para a vida." (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 11; grifo nosso).

(03) "Sabiamente, Chico evita comentar sobre a vida dos citados personagens cujas biografias continham trechos controversos. Apontar as mortes ocorridas como possível meio de liberação de maiores embaraços futuros traz esclarecimento, consolação, além de ser uma atitude profundamente generosa" (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 36, grifos nossos).

(04) "Chico sempre fez questão de colocar-se como autenticamente se sentia: um intermediário, um mensageiro que fazia muitos esforços para que os 'recados' entre as duas esferas da vida chegassem a todos com o mínimo de sua interferência" (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 51, grifos nossos).

(05) "O médium livra-se da condição a ele atribuída de 'antena receptora' de todos os fenômenos à sua volta', dizendo ter como foco de atenção a própria entrevista e não a 'faixa de observação' daquela senhora. Gentilmente concede ainda atestado de veracidade ao fenômeno de vidência, antes de encerrar com delicadeza o assunto." (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 65, grifos nossos).

(06) "A contrapergunta é um recurso utilizado em debates como meio para se esclarecer pontos obscuros, para se aclarar discussões, não tendo como fim sobrepor-se um debatedor ao outro, embora isso possa ocorrer. Jesus utilizou-se desse estratagema para responder aos3 3 Nessa formulação, notamos que a postura do médium é valorizada a partir de uma referência a uma cena bíblica (cena validada, nos termos de Maingueneau, 2008). sacerdotes que desejavam saber 'com que autoridade' (Mt 21:23-27) Ele realizava os seus feitos. Chico lembra que existe este recurso, que pode dispor dele, mas gentilmente o dispensa." (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 73, grifo nosso).

(07) "Chico não se abala com a rispidez momentânea do entrevistador e segue adiante, adentrando o próprio campo de crença deste - o catolicismo. E assim, delicadamente, a mediunidade dos santos é colocada em pauta, demonstrando que a mediunidade, como um fenômeno natural, ignora barreiras de qualquer natureza." (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 84, grifos nossos).

Conforme podemos notar, nessas formulações linguísticas, o médium Chico Xavier é retratado não só como um médium, mas também como uma pessoa generosa, caridosa, humilde e delicada, o que está de acordo com a imagem pública do médium, imagem que é, inclusive, alimentada pelo próprio discurso espírita. A esse respeito, apresentamos outras formulações linguísticas que pertencem a sites espíritas que o apresentam exatamente dessa forma. Vejamos:

(08) Durante toda sua vida, Chico Xavier viveu humildemente de sua parca aposentadoria. [...] Ao longo de sua existência, visitou muitos hospitais, presídios, orfanatos, asilos, mesmo enfrentando sérios problemas de saúde. Mesmo com dificuldade de locomoção, saia às ruas em visita de auxílio. Contribuiu intensamente na Assistência Social, onde ia até as áreas carentes e bairros da periferia da cidade para distribuir cestas de alimentos e remédios. [...] Para Chico, vir ao encontro do povo mais humilde e ajudar os necessitados era uma missão e assim este abnegado espírito de luz, fez de sua vida um exemplo a ser seguido por todos nós.4 4 Disponível em: <http://www.institutochicoxavier.com/especial-chico-xavier/64-chico-xavier-e-a-caridade.html.> Acesso em: 25 de março de 2014. (<http://www.institutochicoxavier.com/especial-chico-xavier/64-chico-xavier-e-a-caridade.html>; grifos nossos).

(09) Sua vida, verdadeiramente apostolar, dedicou-a, o médium, aos sofredores e necessitados, provindos de longínquos lugares e também aos afazeres medianeiros, pelos quais não aceita, em absoluto, qualquer espécie de paga. Os direitos autorais ele os tem cedido graciosamente a várias Editoras e Casas Espíritas, desde o primeiro livro. Sua vida e sua obra têm sido objeto de numerosas entrevistas radiofônicas e televisadas e de comentários em jornais e revistas, espíritas ou não e em livros.5 5 Excerto do livro digital "Francisco Cândido Xavier - Traços bibliográficos", publicado pela Federação Espírita Brasileira. Disponível em: <http://www.chicoxavieruberaba.com.br/biografia.html>. Acesso em 24 de março de 2014. (<http://www.chicoxavieruberaba.com.br/biografia.html>; grifos nossos).

Essa imagem do médium junto à comunidade espírita pode justificar algumas das designações que lhe foram atribuídas pelo discurso em questão, tais como "o mensageiro da fraternidade cristã", "o apóstolo do amor cristão".6 6 Disponível em: <http://www.mundoespirita.com.br/?materia=chico-xavier-o-mensageiro-da-fraternidade-crista> Acesso em: 27 de março de 2014.

Ainda a respeito dessa imagem prévia, vale observamos que se trata exatamente da imagem com a qual o apresentador do Programa Pinga-Fogo, Almyr Guimarães, apresenta o médium no início do programa. Nas palavras de Guimarães:

Estamos recebendo essa noite, no Pinga-Fogo, o maior e o mais discutido médium brasileiro deste século, na opinião dos seus críticos e dos seus biógrafos. [...]. Sua vida, nestes 44 anos de atividade espiritual, tem sido uma permanente lição de humildade, de trabalho e de amor ao próximo. Toda essa atividade tem disso dedicada a uma legião de enfermos, de desesperados, de injustiçados [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 19-20; grifos nossos).

Vejamos agora o discurso do próprio médium: ao longo da obra, podemos notar que, durante a entrevista, o médium projeta de si, em seu discurso, uma imagem que também é bastante compatível com essa expectativa. A esse respeito, vale destacarmos algumas das formulações em que o sujeito enunciador toma a si como objeto de seu discurso (ethos dito), de modo mais ou menos explícito, revelando certa imagem de si. Vejamos algumas delas:

(10) Chico Xavier: Nós estamos realmente muito sensibilizados com a gentileza da TV Tupi, canal 4, e muito especialmente com as palavras do nosso caro apresentador Dr. Almyr Gumarães porque nós não nos sentimos pessoalmente capazes de corresponder à expectativa do programa Pinga-Fogo, sempre de tão elevado gabarito. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 22, grifos nossos).

(11) Chico Xavier: [...] Quando convidados para esta assembleia, fizemos ver aos nossos caros amigos Sr. Gonçalo Parada e Sr. Saulo Gomes que outros companheiros da doutrina espírita, com o brilho e a eficiência de que eu não disponho, poderiam representar, de maneira adequada, os nossos princípios em nossa reunião. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 23, grifo nosso).

(12) Chico Xavier: [...] Eu não pude me omitir, contando para isso com o amparo dos nossos amigos espirituais, sempre solícitos em nos assistirem com a transmissão de seus ensinamentos e tão somente por isto estou aqui, declarando de início que eu não tenho qualidades para sentar-me no lugar que momentaneamente ocupo. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 23. grifos nossos).

(13) Chico Xavier: [...] Estou confiante no Espírito de Emmanuel, que prometeu assistir-nos pessoalmente, entretanto sou um instrumento muito imperfeito e declaro com sinceridade que, ante as respostas que forem formuladas, responderei aquelas que ele (espírito Emmanuel) puder encontrar em mim recursos para esclarecer. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 23, grifo nosso).

(14) Chico Xavier: [...] Mas quanto a quaisquer outras perguntas de que eu não seja capaz para oferecer a ele a necessária instrumentação, eu rogo desculpas a todos. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 24, grifo nosso).

(15) Chico Xavier: [...] Eu peço perdão ao nosso caro amigo Dr. Almyr Guimarães, porque nós compreendemos que em televisão a compreensão da despesa de tempo deve ser observada em todo o sentido, mas as perguntas comportam assuntos tão extensos que, às vezes, a minha palavra se prolonga... (Gomes, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 46; grifo nosso).

(16) Chico Xavier: O tempo de convivência com o Espírito de Emmanuel, o nosso guia, parece que criou entre ele e eu um processo de conhecimento e palavra por osmose. Vão me perdoar... eu não sei definir o problema. [...] (Gomes, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 46; grifo nosso).

(17) Chico Xavier: Antingamente eu me sentia às vezes ressentido, dentro da minha ignorância, com aqueles que não conseguiam crer na realidade mediúnica. Isso há quase uns 40 anos. Mas Emmanuel então me disse: "O seu ressentimento é filho de pura vaidade, porque vocês não podem exigir [...]". Então, respeito a opinião de todos os que pensam assim [...]. [...] estou perfeitamente tranquilo quanto à presença dos Espíritos na mediunidade, nos livros. E quanto mais a minha vida pessoal na presente reencarnação se alonga na Terra, mais eu compreendo que me sinto à distância deles, porque quanto mais a luza deles brilha, mais eu compreendo a minha infrerioridade, a somba a que eu devo me acolher para respeitá-los. [...] (Gomes, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 50-51; grifos nossos).

(18) Chico Xavier: [...] Quem era eu para entender aquilo, que estava aguando um canteiro de alho? (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 96, grifo nosso).

(19) Chico Xavier: [...] Pedimos perdão ao nosso mediador Dr. Almyr Guimarães e ao nosso distinto entrevistador Dr. Durval Monteiro por nos estendermos tanto na resposta. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 166, grifo nosso)

Ao observar esse conjunto de formulações, notamos que o médium Chico Xavier projeta de si, em seu discurso, a imagem de uma pessoa humilde, que assume ser ignorante, incapaz de compreender certos fatos da vida, que pede desculpas por eventualmente não conseguir responder às perguntas que lhe forem dirigidas, que assume que seu saber se deve aos "espíritos amigos" em relação aos quais ele se julga inferior. De um ponto de vista discursivo, trata-se, essencialmente, de um sujeito enunciador que em momento algum faz menção às suas qualidades, mas apenas às suas imperfeições, às suas falhas, apresentando-se como uma pessoa humilde perante o público e os entrevistadores.

Outro aspecto que merece ser mencionado diz respeito ao léxico (ethos mostrado) empregado nas formulações do médium para interpelar e/ou para se referir aos entrevistadores e às pessoas do auditório que lhe enviaram perguntas durante a entrevista. Vejamos alguns exemplos:

(20) Chico Xavier: [...] Eu quero dizer, ao nosso caro entrevistador, que o nosso ponto de vista religioso não nos isenta da execução das leis cármicas no campo de nossos destinos. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 35, grifo nosso).](21) Chico Xavier: Nossa amiga naturalmente estará entrando numa faixa de observação dentro da qual eu não me encontro no momento [...] Mas acredito perfeitamente na autenticidade da informação de nossa irmã e agradeço muito a esses amigos que nos assistem [...] (GOMES, 2010, p. 65, grifos nossos).

(22) Chico Xavier: [...] Pedimos permissão ao nosso caro pastor evangélico Sr. Manoel de Mello para considerar que, no livro de Gênesis, no capítulo IV, versículos 16 e 17, vamos encontrar uma questão muito interessante para nossos estudos em conjunto, porque nós todos somos estudantes das letras sagradas. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 73, grifo nosso)

Conforme podemos notar nessas formulações, o médium Chico Xavier se dirige aos seus interlocutores sempre de maneira gentil e até afetuosa ("nosso caro entrevistador", "nossa amiga", "nossa irmã", "nosso caro pastor evangélico"), o que lhe reforça a imagem de homem fraternal. A esse respeito, vale esclarecermos que, segundo o discurso espírita, conforme vamos demonstrar mais adiante, o cristão deve amar ao próximo como ama a si mesmo. Desse modo, podemos dizer que o tom fraternal do discurso do médium Chico Xavier está de acordo com a doutrina do discurso espírita, evidenciando o fato de que um discurso não diz respeito apenas a um conteúdo, mas também a uma maneira específica de enunciar (cf. MAINGUENEAU, 2008MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.), da qual é indissociável.

Notamos que o discurso do médium Chico Xavier mantém esse mesmo tom fraternal e humilde inclusive nos momentos em que as perguntas e comentários dos entrevistadores poderiam causar algum tipo de embaraço a ele, dado o seu conteúdo. Vejamos alguns exemplos desses casos:

(23) Herculano Pires: Chico, segundo os dados estatísticos levantados por Stig Roland Ibsen e sua senhora, referentes à sua obra, no exame total da sua obra, você teria recebido até agora comunicações, poesias, principalmente um grande número de poesias, e comunicações variadas, inclusive romances, de mais de 400 autores. Eu perguntaria a você se você leu todos esses autores, se você tem conhecimento da obra de todos eles, se você conseguiu armazenar no seu inconsciente toda essa fabulosa bagagem de mais de 400 autores brasileiros e portugueses, e alguns até mesmo estrangeiros?

Chico Xavier: As informações dos nossos queridos amigos e distintos escritores Sr. Stig Roland Ibsen e de sua digna esposa dona Edith Canto Ibsen são autênticas. Devo declarar, de público, que isso para mim seria impossível. E peço permissão para dizer que eu tive na vida três empregos: a primeira vez, me empreguei aos oito anos de idade numa fábrica de tecidos. Trabalhei até os doze, frequentando também a escola primária. Dos doze aos dezenove, vinte anos, trabalhei num bar, e depois num armazém, isto é, no comércio. E de 1931 a 1961, eu trabalhei durante trinta anos no Ministério da Agricultura. De modo que não seria possível para mim me inteirar do estilo de todos esses poetas, escritores, cronistas, jornalistas e amigos desencarnados, por meu intermédio. Absolutamente. (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 63-4; grifos nossos).

(24) João de Scatimburgo: Este programa é de perguntas, não é de debates.

Chico Xavier: Não, não é de debates absolutamente. Apenas respeitando imensamente a Igreja católica, em cujo seio formei a minha fé, mas respeito profundo e que eu devo declarar de público que nunca perdi e não quero perder. Então, eu digo aqui, de público, eu não conheço essas obras, mas gostaria de conhecê-las em português. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 83; grifos nossos).

(25) Herculano Pires: Eu queria lembrar a existência, no meio católico, também de psicografia, do fenômeno psicográfico [...] Mas acrescento o seguinte: as próprias Edições Paulinas anunciaram que outros livros da mesma natureza seriam publicados por ela. Entretanto, não foram. Mas existe, portanto. Bastaria este livro, O manuscrito do purgatório, que foi publicado, para provar que existe uma psicografia católica.

Chico Xavier: O Espírito de Emmanuel pede para mencionarmos diante de nosso caro escritor e entrevistador, que levantou o problema com tanta distinção e com tanto carinho, que nós não podemos esquecer um problema muito importante em nossa vida cristã. É que o livro é mesmo um instrumento de cultura extraordinário, e que é um instrumento que está entre este mundo e o outro mundo. É tão importante que o primeiro livro que veio para a humanidade é um livro do mundo espiritual, um livro de pedra que foi os Dez mandamentos... de Moisés! (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 84-86; grifos nossos).

(26) Vicente Leporace: Então, Chico Xavier, agora vai com casca e tudo. Primeira pergunta que eu lhe faço, e espero a sua resposta sem hesitação, da forma que eu já ouvi. Eu, além de ser leitor insaciável da sua obra psicografada, sou telespectador, e todas essas coisas que dizem respeito a coisas do espírito me interessam. Então, eu vi o seu primeiro programa e quero saber de você, Chico Xavier, meu amigo, meu irmão, até onde sua religião, o espiritismo, admite, tolera ou coonesta o umbandismo?

Chico Xavier: Respeitamos no umbandismo uma grande legião de companheiros muito respeitáveis, consagrados à caridade que Jesus nos legou, grandes expositores da mediunidade, da mediunidade que auxilia, que alivia o próximo, credores do nosso maior carinho, da nossa maior veneração, conquanto estejamos vinculados aos princípios codificados por Allan Kardec, de nossa parte. (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 135; grifos nossos)

Conforme podemos notar, apesar do conteúdo das perguntas que lhe são dirigidas, que poderiam lhe causar algum embaraço, o entrevistado mantém a postura humilde, afastando qualquer possibilidade de seu discurso assumir um tom polêmico, de contestação ou de indignação.

Diante do que foi exposto, podemos dizer que, ao adotar uma postura discursiva humilde (durante a entrevista, o médium pede e/ou roga perdão aos entrevistadores, agradece-lhes pelas perguntas, elogia-os, agradece aos espíritos-guias os esclarecimentos recebidos, trata os entrevistadores de um modo gentil e até afetuoso), o médium Chico Xavier está revelando que mesmo um médium que fala em nome de espíritos elevados deve sempre adotar uma postura fraternal, aproximando-se dos seus interlocutores.

4 ETHOS E SEMÂNTICA GLOBAL DO DISCURSO ESPÍRITA KARDECISTA

Segundo Maingueneau, o discurso é, acima de tudo, um "sistema de regras que define a especificidade de uma enunciação" (MAINGUENEAU, 2007MAINGUENEAU, D . Gênese dos discursosTradução de Sírio Possenti. 1ª reimpressão Curitiba: Criar Edições , 2007., p. 19). Mais especificamente, esse sistema corresponde a um conjunto de coerções semânticas, que restringem, ao mesmo tempo, todos os planos do discurso (vocabulário, temas tratados, intertextualidade, ethos). Nesses termos, o discurso equivale a um sistema de restrições semânticas globais, cujos traços semânticos não garantem a gramaticalidade dos enunciados, mas definem os critérios por meio dos quais os textos se filiam a um determinado discurso ao mesmo tempo em que se distinguem do conjunto dos textos possíveis. Assim, o discurso diz respeito tanto a um conjunto de textos efetivos quanto a um conjunto virtual, aquele dos enunciados produzíveis de acordo com o sistema de restrições semânticas globais.

Desse ponto de vista, como o ethos é um dos planos do discurso concernidos pela perspectiva de uma semântica global, julgamos pertinente verificar em que medida o ethos em questão está de acordo com as restrições semânticas que caracterizam o discurso espírita kardecista. Como nosso objetivo é, neste trabalho, contribuir com a análise do discurso espírita kardecista, tal como se encontra circulando no Brasil, para apreender algum dos traços semânticos que o caracterizam, levamos em conta não só as obras que são consideradas doutrinárias pela comunidade discursiva (o conjunto das obras de Allan Kardec, tido como o fundador do discurso espírita7 7 Entre essas obras, destacamos Kardec (2002, 2003, 2008). ), como também diversos tipos de textos de divulgação do discurso espírita, como artigos, reportagens, mensagens psicografadas por médiuns. Grande parte desses textos se encontra disponível na rede, em sites espíritas, como o da Federação Espírita Brasileira (FEB), o da Federação Espírita do Mato Grosso, o do médium Divaldo Franco, entre outros.

A leitura do conjunto heterogêneo de textos do discurso espírita nos revelou que a moral propalada por esse discurso se resume na seguinte máxima: "Amar ao próximo como a si mesmo" (KARDEC, 2002KARDEC, A. O evangelho segundo o espiritismo. 120. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002. , p. 146). Mais exatamente, do nosso ponto de vista, no discurso espírita, esse princípio se constitui como uma regra de conduta universal. Assim, para o discurso espírita kardecista, o cristão é aquele que ama o próximo como a si mesmo, o que leva a outra máxima, a saber: "Fora da caridade não há salvação" (KARDEC, 2002, p.197), que representa o comportamento idealizado pelo discurso espírita kardecista. Vejamos:

[...] na máxima "Fora da caridade não há salvação", estão contidos os destinos do homem sobre a Terra e no céu. [...] Nada exprime melhor o pensamento de Jesus, nada melhor resume os deveres do homem do que esta máxima de ordem divina. O Espiritismo não podia provar melhor a sua origem, do que oferecendo-a por regra, porque ela é o reflexo do mais puro Cristianismo (KARDEC, 2002KARDEC, A. O evangelho segundo o espiritismo. 120. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002. , p. 202; grifos nossos).

Quanto a esse aspecto, vale observarmos que a caridade, nesse discurso, não diz respeito tão somente à concessão de algum tipo de ajuda material, mas deve ser entendida de forma mais ampla, abrangendo qualquer prática de benevolência (cf. SILVA, 2014SILVA, T. V. A caridade é, em tudo, a regra de proceder: análise do discurso espírita kardecista. 117f. 2014. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2014. ).

Desse modo, podemos dizer que o discurso espírita prega a moral cristã, que ressalta a importância de amar ao próximo como a si mesmo, promovendo ações em seu benefício. Nas palavras do discurso espírita: "Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento [...]" (KARDEC, 2002KARDEC, A. O evangelho segundo o espiritismo. 120. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002. , p. 101). Ou ainda:

Precisamos, sim, da cultura que aprimora a inteligência, da justiça que sustenta a ordem, do progresso material que enriquece o trabalho e de assembleias que favoreçam o estudo; no entanto, toda a movimentação humana, sem a luz do amor, pode perder-se nas sombras. Seremos admitidos ao aprendizado do Evangelho, cultivando o Reino de Deus que começa na vida íntima. Estendamos, assim, a fraternidade pura e simples, amparando-nos mutuamente... Fraternidade que trabalha e ajuda, compreende e perdoa, entre a humildade e o serviço que asseguram a vitória do bem. Atendamo-la, onde estivermos, recordando a palavra do Senhor que afirmou com clareza e segurança: - "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros"8 8 Disponível em: <http://www.febnet.org.br/blog/geral/mensagens-espiritas/fraternidade/> Acesso em: 25 jan. 2014; grifos nossos. .

Diante do exposto e considerando também os resultados dos trabalhos de STOLL (2002STOLL, S. J. Religião, ciência ou auto-ajuda? trajetos do Espiritismo no Brasil. Revista de Antropologia, v. 45, n. 2, p. 361-402, 2002. e 2004), SILVA, F. (2007SILVA, F. L. Céu, inferno e purgatório: representações espíritas do além. 172f. 2007. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Universidade Estadual Paulista, Assis, 2007.) e ARRIBAS (2008ARRIBAS, C. G. Afinal, espiritismo é religião? A doutrina espírita na formação da diversidade religiosa brasileira. 226f. 2008. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. ), entendemos que o /+cristianismo/ é um dos traços semânticos desse discurso. Do nosso ponto de vista, esse traço não esgota a "significância" do discurso espírita, mas, na qualidade de um dos traços que o caracterizam, pressupomos que esteja presente em qualquer uma de suas dimensões, e a sua observação pode ser, nesses termos, uma das chaves para a leitura do discurso espírita kardecista.

Considerando, então, o traço em questão, podemos dizer que o ethos do médium Chico Xavier, na obra em análise, marcado pelo tom de humildade e fraternidade, está plenamente de acordo com o conteúdo do discurso espírita. A esse respeito, vejamos a seguinte formulação, proferida pelo próprio médium durante a entrevista:

(27) Chico Xavier: [...] Compreendemos que as nossas respostas, as respostas dos amigos espirituais por nosso intermédio, aos amigos que nos visitam, em sua maioria quase esmagadora são sempre respostas baseadas na própria doutrina, em nossa necessidade de paciência, de compreensão, de calma, de humanidade, uns diante dos outros. [...] (GOMES, 2010GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010., p. 151; grifo nosso).

Diante da análise apresentada, podemos dizer que o discurso do médium Chico Xavier, tendo em vista especialmente o seu conteúdo, cria uma cenografia de igualdade e fraternidade, em detrimento da cena genérica em que está envolvido, a saber, a cena de uma entrevista, que fica, nesses termos, um pouco relegada para segundo plano. Afinal, o contexto para o qual o médium concedeu as entrevistas foi um programa de televisão, exibido em rede nacional, uma cena por meio da qual o enunciador está sujeito a se envolver em polêmicas. Ao contrário disso, o médium mantém, durante toda a entrevista, a mesma postura discursiva, marcada pelo tom de humildade e de fraternidade.

Ainda a esse respeito, vale lembrar que, conforme Maingueneau (2001MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza-E-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001.), nem sempre as cenografias construídas pelo discurso são bem específicas. Assim, além daquelas que remetem a um gênero de discurso preciso, há também cenografias mais difusas, não ligadas a um gênero de discurso específico, como é o caso da cenografia em questão. Qualquer que seja o tipo de cenografia, isto é, específica ou difusa, sempre se trata da instituição de uma cena que deve legitimar o discurso, ao mesmo tempo em que o discurso a legitima como sendo a cenografia necessária para enunciar como convém.

Desse modo, para o caso em análise, podemos dizer que a cenografia fraternal dá suporte para o conteúdo do discurso do médium, que, como vimos, prega a necessidade da humildade, da fraternidade, da benevolência, como se tal discurso emergisse justamente dessa cena fraternal. E, ao mesmo tempo, essa cena se valida por intermédio do conteúdo desse discurso. Daí o processo de "enlaçamento paradoxal" que toda cenografia implica: "Logo de início, a fala supõe uma certa situação de enunciação que, na realidade, vai sendo validada progressivamente por intermédio da própria enunciação. Desse modo, a cenografia é ao mesmo tempo a fonte do discurso e aquilo que ele engendra [...]." (MAINGUENEAU, 2001MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza-E-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001., p. 87).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, ao analisarmos o ethos do médium Chico Xavier, verificamos que se trata de um ethos de um homem humilde, marcado por um tom de gentileza e fraternidade. Esse tom, por sua vez, legitima o conteúdo de seu discurso, que diz respeito ao traço /+cristianidade/, um dos traços que compõem a semântica global do discurso espírita.

Letigimando o que é dito na própria enunciação, o discurso do médium, evidencia o fato de que um discurso, como afirma Maingueneau nas obras já citadas, não diz respeito apenas a um conteúdo, a um conjunto de ideias, mas também a uma maneira específica de enunciar: "as 'ideias' apresentam-se por uma maneira de dizer que remete a uma maneira de ser, à participação imaginária em um vivido" (MAINGUENEAU, 2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92., p. 73), ou ainda, "o discurso não resulta da associação contingente entre um 'fundo' e uma 'forma'; é um acontecimento inscrito em uma configuração sócio-histórica e não se pode dissociar a organização de sues conteúdos e o modo de legitimação de sua cena discursiva" (MAINGUENEAU, 2005MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92., p. 73-74).

REFERÊNCIAS

  • ARRIBAS, C. G. Afinal, espiritismo é religião? A doutrina espírita na formação da diversidade religiosa brasileira. 226f. 2008. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
  • GOMES, S. (Org.). Pinga-Fogo com Chico Xavier Catanduva: InterVidas, 2010.
  • KARDEC, A. O evangelho segundo o espiritismo. 120. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002.
  • KARDEC, A. . O livro dos médiuns. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira , 2003.
  • KARDEC, A. . O Livro dos Espíritos. Araras: Instituto de Difusão Espírita, 2008.
  • MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Souza-E-Silva e Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2001.
  • MAINGUENEAU, D . Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.) Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dílson Ferreira da Cruz et al. São Paulo: Contexto, 2005, p. 69-92.
  • MAINGUENEAU, D . Cenas da Enunciação. POSSENTI, S.; SOUZA-E-SILVA, M. C. P. (Org.). Trad. SOUZA-E-SILVA, M. C. P et al. Curitiba: Criar Edições, 2006.
  • MAINGUENEAU, D . Gênese dos discursosTradução de Sírio Possenti. 1ª reimpressão Curitiba: Criar Edições , 2007.
  • MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.
  • SILVA, E. M. O Cristo reinterpretado: espíritas, teósofos e ocultistas do século XIX. Revista Ideias, v. 4, p. 25-37, 2002.
  • SILVA, F. L. Céu, inferno e purgatório: representações espíritas do além. 172f. 2007. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Universidade Estadual Paulista, Assis, 2007.
  • SILVA, T. V. A caridade é, em tudo, a regra de proceder: análise do discurso espírita kardecista. 117f. 2014. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2014.
  • STOLL, S. J. Religião, ciência ou auto-ajuda? trajetos do Espiritismo no Brasil. Revista de Antropologia, v. 45, n. 2, p. 361-402, 2002.
  • STOLL, S. J. . Narrativas biográficas: a construção da identidade espírita no Brasil e sua fragmentaçãoEstudos Avançados v. 18, n. 52, p. 181-199, set./dez. 2004.
  • 1
    Disponível em:<http://www.ibge.com.br/home/>. Acesso em: 5 de abril de 2014.
  • 2
    <http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2014/11/1551572-com-chico-xavier-pinga-fogo-bateu-todos-os-recordes-de-audiencia.shtml>
  • 3
    Nessa formulação, notamos que a postura do médium é valorizada a partir de uma referência a uma cena bíblica (cena validada, nos termos de Maingueneau, 2008MAINGUENEAU, D . A noção de ethos discursivo. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.) Ethos discursivo. São Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.).
  • 4
    Disponível em: <http://www.institutochicoxavier.com/especial-chico-xavier/64-chico-xavier-e-a-caridade.html.> Acesso em: 25 de março de 2014.
  • 5
    Excerto do livro digital "Francisco Cândido Xavier - Traços bibliográficos", publicado pela Federação Espírita Brasileira. Disponível em: <http://www.chicoxavieruberaba.com.br/biografia.html>. Acesso em 24 de março de 2014.
  • 6
    Disponível em: <http://www.mundoespirita.com.br/?materia=chico-xavier-o-mensageiro-da-fraternidade-crista> Acesso em: 27 de março de 2014.
  • 7
    Entre essas obras, destacamos Kardec (2002KARDEC, A. O evangelho segundo o espiritismo. 120. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002. , 2003KARDEC, A. . O livro dos médiuns. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira , 2003., 2008KARDEC, A. . O Livro dos Espíritos. Araras: Instituto de Difusão Espírita, 2008.).
  • 8
    Disponível em: <http://www.febnet.org.br/blog/geral/mensagens-espiritas/fraternidade/> Acesso em: 25 jan. 2014; grifos nossos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2016

Histórico

  • Recebido
    15 Jul 2015
  • Aceito
    23 Mar 2016
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