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GÊNEROS DA LINGUAGEM NA PERSPECTIVA DA COMPLEXIDADE

LANGUAGE GENRES IN THE PERSPECTIVE OF COMPLEXITY

GÉNEROS DEL LENGUAJE EN LA PERSPECTIVA DE LA COMPLEJIDAD

Resumo

Este artigo, na perspectiva da linguagem como um sistema adaptativo complexo, argumenta que os gêneros, sejam orais, escritos, imagéticos ou aqueles que reúnem vários modos de representação, são atratores em um sistema adaptativo complexo, continuando uma discussão já iniciada por Larsen-Freeman e Cameron (2008). Defende o conceito de gêneros da linguagem em substituição a gêneros discursivos ou gêneros textuais como uma alternativa ao problema terminológico deste tipo de estudo no Brasil. Traz também uma reflexão sobre a integração conceitual de gêneros, as semioses complexas e as experiências multimodais, acompanhadas de exemplos de textos e experiências com ações de linguagem multimodais.

Palavras-chave:
Gêneros de linguagem; Complexidade; Integração conceitual; Semioses complexas

Abstract

This article, from the perspective of language as a complex adaptive system, argues that genres, whether oral, written, imagetic or those that bring together several representation modes, are attractors in a complex adaptive system, continuing a discussion already initiated by Larsen-Freeman and Cameron (2008). It defends the concept of genres of language to replace discursive genres or textual genres as an alternative to the terminological problem of this type of study in Brazil. It also brings a reflection on the conceptual integration of genres, complex semioses and multimodal experiences, followed by examples of texts and experiences with multimodal language actions.

Keywords:
Language genres; Complexity; Conceptual integration; Complex semioses

Resumen

Este artículo, en la perspectiva del lenguaje como un sistema adaptativo complejo, argumenta que los géneros, sean ellos orales, escritos, imágenes o aquellos que reúnen varios modos de representación, son atractivos en un sistema adaptativo complejo, continuando una discusión ya iniciada por Larsen-Freeman y Cameron (2008). Defiende el concepto de géneros del lenguaje en sustitución a géneros discursivos o géneros textuales como una alternativa al problema terminológico de ese tipo de estudio en Brasil. También trae una reflexión sobre la integración conceptual de géneros, las semiosis complejas y las experiencias multimodales, acompañadas de ejemplos de textos y experiencias con acciones de lenguaje multimodales.

Palabras clave:
Géneros del lenguaje; Complejidad; Integración conceptual; Semiosis complejas

1 INTRODUÇÃO

Saussure (1995SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Trad. Antonio Chelini, José Pauylo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1995.) já preconizava a complexidade do fenômeno da linguagem quando dizia que ela é multiforme e que pertence a diferentes domínios, “ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence, além disso, ao domínio individual e ao domínio social; não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade” (p.17).

A respeito de a linguagem não se deixar classificar, sempre é bom lembrar Umberto Eco (2010ECO, U. A vertigem das listas. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 2010.) e sua A vertigem das listas, onde o autor demonstra nossa tendência de tentar estabilizar os fenômenos, enquadrando-os em listas, e a consequente perturbação que nos causam as listas não finitas, aquelas que não permitem incluir todos os exemplares.

Listar é tentar compreender o infinito e criar ordem, catalogar, classificar. Assim como Eco, nós linguistas também somos fascinados pelas categorizações, mas classificar nem sempre é uma tarefa possível, pois há fenômenos, como os gêneros, que são infinitos em suas emergências. Antes de falar sobre gêneros, proponho uma compreensão de linguagem como um sistema adaptativo complexo.

2 LINGUAGEM COMO SISTEMA ADAPTATIVO COMPLEXO

Um sistema adaptativo complexo se caracteriza pela reunião de elementos ou agentes, em constante interação, que se influenciam mutuamente, evoluem com o tempo e se auto-organizam, fazendo emergir novos padrões em diferentes níveis ou escalas. Esses sistemas são abertos, ou seja, recebem influência de seu meio; são dinâmicos, adaptativos e não lineares.

A linguagem é constituída por vários modos de expressão e cada um desses modos está em interação com o outro na tarefa de produzir sentido, ou seja, na semiose. Esses sistemas se compõem de outros subsistemas complexos em interação e que se influenciam mutuamente.

O sistema é dinâmico porque está em constante mudança, adaptação e crescimento. Podemos prever que haverá mudanças, mas saber quais serão elas é algo imprevisível. Quem poderia prever, por exemplo, todas as transformações geradas pela entrada da Internet no sistema social e, consequentemente, na linguagem?

A ideia de sistema complexo, como pontuado por Paiva e Nascimento (2006PAIVA, V.L.M.O; NASCIMENTO, M. Texto, hipertexto e a (re)configuração de (con)textos. In: LARA, G.M.P. Lingua(gem). texto, discurso: entre a reflexão e a prática. Belo Horizonte: Lucerna, 2006. p.155-179.), já estava presente nos estudos de Beaugrande na década de 90. Gostaria de ampliar esse reconhecimento, reunindo algumas ideias de Beaugrande sobre o que é um texto, entendendo que texto é sempre a manifestação de um gênero. Como ressalta Rojo (2005ROJO, R. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (Org.). Gêneros teorias, métodos, debate. São Paulo: Parábola , 2005, p.184-207., p.189), “todo exemplar de um texto observável pode ser considerado como pertencente a um gênero”.

Beaugrande (1997aBEAUGRANDE, R. Text Linguistics, Discourse Analysis, and the Discourse of Dictionaries. In: HERMANS, A. (Ed.), Les dictionnaires specialisés et l’analyse de la valeur. Louvain-la-Neuve: Peeters, 1997a, 57-74. Disponível em: Disponível em: http://www.beaugrande.com/lexiconasdiscourse.htm . Acesso em: 14 ago. 2010.
http://www.beaugrande.com/lexiconasdisco...
) conceitua texto como veículos das atividades humanas definidos como “configurações significativas da linguagem com intenção comunicativa”1 1 Esta e as demais traduções são de responsabilidade da autora. Os textos de Beaugrande foram baixados de sua homepage em 2010. Infelizmente, seu acervo não foi preservado após seu falecimento. . Em outro texto, no mesmo ano, Beaugrande (1997b) afirma que “é essencial ver o texto como um evento comunicativo para onde convergem ações sociais cognitivas e linguísticas, e não apenas como uma sequência de palavras oralizadas ou escritas”. Ele acrescenta que podemos ver o texto como

Um sistema de conexões entre vários elementos: sons, palavras, significados, participantes do discurso, ações em um plano, etc. Visto que esses elementos claramente pertencem a tipos diferentes, o texto deve ser um multissistema composto de múltiplos sistemas interativos. (BEAUGRANDE, 1997bBEAUGRANDE, R. New Foundations for a Science of Text and Discourse. Stamford, CT: Ablex, 1997b., 1.16)

Assim concebido, Beaugrande (1997bBEAUGRANDE, R. New Foundations for a Science of Text and Discourse. Stamford, CT: Ablex, 1997b.) vê o texto como se fosse a ponta de um Icebergiceberg, uma pequena quantidade de matéria e energia que condensa uma enorme quantidade de informação e que é amplificada pelo ouvinte ou leitor. Como advertia Beaugrande (1980), um texto não é a simples soma dos significados de frases e palavras, e como esse autor esclareceu em outro trabalho “os textos são lineares apenas na superfície, enquanto suas estruturas subjacentes (qualquer que seja o tipo) são organizadas em termos de múltiplos acessos” (BEAUGRANDE, 1981BEAUGRANDE, R. Linguistic Theory and Meta-Theory for a Science of Texts. Text, v. 1, n. 2, p.113-161, 1981. Revised version July 2005. Disponível em: Disponível em: http://www.beaugrande.com/LinguisticTheoryMetaTheory.htm . Acesso em: 15 ago. 2010.
http://www.beaugrande.com/LinguisticTheo...
/2005).

Essa condensação de informações é vista por Turner (2006TURNER, M. The art of compression. In: TURNER, M. (Ed.) The Artful Mind: Cognitive Science and the Riddle of Human Creativity. Oxford: Oxford University Press , 2006, p. 93-113. ) como compressão, “um truque mental altamente impressionante” (p. 94) que permite comprimir uma grande quantidade de dados em poucos elementos; e por Nascimento e Paiva como compressão fractal:

O processo fractal "abarca toda a estrutura em termos das ramificações que a produzem, ramificações que se comportam de maneira coerente, das grandes a pequenas escalas" (GLEICK, 1989GLEICK, J. Caos: a criação de uma nova ciência. Trad. Walternsir Dutra. Rio de Janeiro: Campus, 1989., p. 103). O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao processamento cognitivo e à materialidade textual, pois existem possibilidades infinitas de processamento de sentidos de forma auto-semelhante em pequenas e grandes escalas. Para produzir sentido, utilizamos diariamente uma proliferação de cenas que são recursivamente ativadas, integradas, fundidas, e compactadas de forma fractal, ou seja, auto-semelhante. Da mesma forma esse processamento é atualizado textualmente, em palavras, diálogos, textos/gêneros de forma recursivamente auto-semelhante. Reversamente, ao interpretarmos esses textos, também operamos de forma auto-similar com compressões e descompressões de cenas, à semelhança da compressão fractal das imagens digitais. (NASCIMENTO; PAIVA, 2011NASCIMENTO, Milton do; PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e .Processamento metafórico e metonímico na produção de texto/sentido: um exemplo de compressão fractal. In SILVEIRA, E.M. As bordas da linguagem . Uberlândia: EDUFU, 2011. p.351-373, p. 364-365)

As possibilidades infinitas de processamento de sentido a que se referem Nascimento e Paiva (2001) dialogam com outra ideia importante na obra de Beaugrande que é a inseparabilidade entre texto e contexto, reforçando a visão complexa da linguagem. Segundo Beaugrande (2004) essa inseparabilidade parece sugerir um paradoxo circular:

usa-se o texto para processar o contexto ao mesmo tempo em que se usa o contexto para processar o texto, como se fosse possível saber de antemão o que está sendo dito. Mas, de fato, os dois processos acontecem em um ciclo dialético, cada lado informando e guiando o outro.

Os indícios da visão do texto em uma concepção de linguagem como sistema complexo estão presentes nas ideias de que o texto não é a mera soma de significados de frases e palavras; de que o texto envolve ações sociais cognitivas e linguísticas; de que o texto não é linear; de que o texto é um sistema de conexões entre vários elementos, incluindo aqueles do contexto.

Tenho defendido que a “língua(gem) como um sistema dinâmico e complexo é um amalgamento de processos bio-cognitivos, sócio-históricos e político-culturais, se constituindo em uma ferramenta que nos permite refletir e agir na sociedade”2 2 A primeira vez que defendi esse conceito foi em 2005 quando respondi a uma série de perguntas para o projeto de livro intitulado Conversas com Linguistas Aplicados. . Agir na sociedade por meio da linguagem é agir com gêneros materializados não apenas no texto linguístico, mas também em outros sistemas semióticos, o que justifica minha escolha por gêneros da linguagem, tema da seção seguinte. A crítica política é um exemplo dessa manifestação em vários gêneros e suportes. Veja, por exemplo, o protesto “Fora Temer”, logo após o impeachment da Presidente Dilma Rousseff em 2016. Ele se materializou em gritos, abertura e fechamento de apresentações acadêmicas, shows musicais, faixas, gifs, memes, cartazes, charges, quadrinhos, desenhos (Fig. 1) e até em uma carta enigmática (Fig. 2)3 3 Veja coletânea de materializações diversas de Fora temer no blog http://consciencia.blog.br, disponível em: http://consciencia.blog.br/2016/07/20-atitudes-fora-temer.html. Acesso em: 6 maio 2018. .

Figura 1
Desenho Fora Temer

Figura 2
Carta enigmática Fora Temer

Minha opção por gênero da linguagem implica também uma visão da linguística não apenas como uma ciência que estuda a linguagem verbal humana, mas também as várias linguagens humanas. Na história dos estudos linguísticos, houve várias mudanças de fase: do estudo exclusivo da palavra e da frase para a inclusão do estudo do texto e, depois, do texto para o do discurso. Agora, precisamos ter uma visão mais transdisciplinar, abrindo nossas mentes para uma compreensão da realidade que articule as várias linguagens que nos constituem como seres complexos que vivem mediados pela linguagem e se constituem identitariamente pela linguagem.

Na próxima seção, desenvolvo a proposta de gêneros da linguagem.

3 GÊNEROS DA LINGUAGEM

Em primeiro lugar, recorro à etimologia da palavra gênero para depois defender minha proposição de gêneros da linguagem.

A palavra gênero vem do latim genus (tipo, espécie) e, no inglês, deu origem às palavras gender e genre. Gender é usada não apenas para designar o gênero das espécies, mas também o gramatical: masculino, feminino e neutro. Genre é usado para tipo ou categoria, especialmente de trabalhos textuais e artísticos.

Em português, temos apenas a palavra gênero. Seu primeiro uso nos estudos linguísticos se deu na distinção dos gêneros das palavras. Segundo Schüler (2001SCHÜLER, D. Eros: dialética e retórica. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2001., p. 56) “os gêneros da gramática podem ter alimentado a imaginativa suposição dos três sexos primitivos. O neutro poderia lembrar um terceiro sexo, desaparecido, o andrógino, fusão dos outros dois”.

Mais tarde passou também a nomear a tipologia de gêneros e aí se instalou a discórdia: Gêneros textuais? Gêneros do texto? Gêneros discursivos? Gêneros do discurso?

Como nos adverte Rodrigues (2004RODRIGUES, R. H. Análise de gêneros do discurso na teoria Bakhtiniana: algumas questões teóricas e metodológicas. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 4, n. 2, p. 415-440, jan./jun. 2004., p. 415), a respeito da diversidade de pesquisas sobre gêneros,

seria ingênuo crer que quando essas pesquisas discutem a noção de gênero estejam falando do mesmo objeto teórico. Como no caso da noção de língua, não se está diante de um conceito homogêneo, mas de distintas concepções, alicerçadas em correntes teóricas diversas ou não.

Segundo Bezerra (2017BEZERRA, B. Gêneros no contexto brasileiro: questões [meta]teóricas e conceituais. São Paulo: Parábola, 2017., p. 23), Marcuschi (2000______. Gêneros textuais: o que são e como se constituem. Recife: UFPE, 2000. Mimeo.), em texto não publicado, chegou a propor “gêneros comunicativos” para resolver as “querelas teóricas”4 4 A respeito da história do uso dessas denominações em torno do conceito de gênero, recomendo a leitura da obra de Bezerra (2017). ,, o que não se efetivou nas produções desse autor. Bezerra (2017, p. 32) entende que “uma compreensão dicotômica da terminologia gêneros discursivos e gêneros textuais dificilmente mostrará alguma produtividade”, pois ele entende, e eu concordo, que “a compreensão holística dos gêneros inclui a compreensão dessas duas dimensões que lhes são constitutivas”.

A argumentação de Bezerra (2017BEZERRA, B. Gêneros no contexto brasileiro: questões [meta]teóricas e conceituais. São Paulo: Parábola, 2017.) vem ao encontro de meu desconforto com a proliferação de nomes para determinados fenômenos, como, por exemplo, o conceito de letramento, mas isto seria assunto para outro texto. Entendo que a busca por precisão terminológica é uma forma de delimitar territórios teóricos, mas que, na prática, acabam criando um problema como é o caso da disputa por determinadas denominações. Ouso fazer uma proposta diferente, a de gêneros da linguagem. Meu intuito não é o de ampliar a discórdia, mas o de oferecer aos estudiosos sobre gêneros a opção de um termo guarda-chuva. É dessa forma que tenho me referido aos gêneros desde 2017, quando lancei a ideia no Simpósio de Gêneros Textuais (SIGET). Não sei se haverá adesão, mas, pelo menos, resolveu o meu próprio incômodo.

Minha proposição se apoia no entendimento de que a língua(gem) - língua e linguagem - é um sistema complexo que se constitui de vários sistemas semióticos e de que texto, manifestação do gênero, e discurso, enunciador dos gêneros são partes de um todo complexo. Ao fazer essa proposta, revejo minha própria definição de gênero (PAIVA, 2004PAIVA, V.L.M.O. E-mail: um novo gênero digital. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna , 2004, p. 68-90., p.76) quando optava pela denominação gênero textual e dizia:

A partir de minhas leituras de Bakhtin (1992BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão Gomes e Pereira. São Paulo: Martins Fontes,1992. ), Bhatia (1994), Swales (1990), Bronckart (1999BRONCKART, J P. Atividades de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: EDUC, 1999), e Marcuschi (2002MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Â. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.), defino gêneros textuais como sistemas discursivos complexos, socialmente construídos pela linguagem, com padrões de organização facilmente identificáveis, dentro de um continuum de oralidade e escrita, e configurados pelo contexto sócio-histórico que engendra as atividades comunicativas.

Nessa proposta, eu já ressaltava a questão da linguagem, mas restringia a noção de linguagem à escrita e à oralidade, ressaltando os padrões de organização e ignorando outros sistemas semióticos.

A respeito da polêmica gênero discursivo ou textual, entendo que a proposta de gêneros da linguagem vai ao encontro de Meurer, Bonini e Motta-Roth (2005MEURER, J L; BONINI, A; MOTTA-ROTH, D. (Org.). Gêneros: teorias, métodos, debate. São Paulo: Parábola , 2005., p.8) que veem o gênero como “unidade da linguagem”. Eles afirmam que “o gênero passou a ser uma noção central na definição da própria linguagem” e citando Meurer (2000) acrescentam que o gênero “é um fenômeno que se localiza entre língua, discurso e as estruturas sociais”.

Tenho respaldo, também, em Bezerra (2017BEZERRA, B. Gêneros no contexto brasileiro: questões [meta]teóricas e conceituais. São Paulo: Parábola, 2017., p. 13) que defende que “o gênero não é ou discursivo ou textual, mas é simultaneamente indissociável tanto do discurso quanto do texto e seria um equívoco reduzi-lo a qualquer um desses polos”. Ele acrescenta que “numa concepção como forma de ação social, a forma do texto é um critério claramente insuficiente para a definição do gênero” (p. 43). Para o autor, “o problema de fundo a elucidar seria a relação entre texto, gênero e discurso” (p. 45), e recorre a Coutinho (2004COUTINHO, A. Schematization (discursive) et disposition (textuelle). In: ADAM, J-M.; GRIZE, J.-B.; BOUACHA, M. A. (Org.). Texte et discours: catégories pour l’analyse. Dijon: EUD, 2004, p. 29-42.), que vê “o gênero como categoria mediadora entre o texto e o discurso” (p. 45) e conclui, citando um de seus textos (BEZERRA, 2006BEZERRA, B. G. Gêneros introdutórios em livros acadêmicos. Tese (Doutorado em Linguística) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006. , p. 6) que afirma que “O discurso, por um processo de esquematização, conduziria a uma dada disposição textual, cuja manifestação visível, o texto como objeto empírico, se configuraria na forma de um gênero” (p. 45).

Encontro apoio também em Miller (2009MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual: agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio, Judith Chambiss Hoffnagel; tradução e adaptação de Judith Chambliss Hoffnagel [et al.]. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. Recife: Coleção e Letras, 2009.) que argumenta que “uma definição retoricamente válida de gênero precisa ser centrada não na substância ou na forma do discurso, mas na ação que é usada para sua realização” (MILLER, 2009MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual: agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio, Judith Chambiss Hoffnagel; tradução e adaptação de Judith Chambliss Hoffnagel [et al.]. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. Recife: Coleção e Letras, 2009., p. 22). A autora também alude à dificuldade de classificações ao dizer:

A compreensão de gênero retórico que eu estou defendendo é baseada na prática retórica, nas convenções do discurso que uma sociedade estabelece como maneiras de “agir junto”. Essa compreensão não se presta à taxonomia, porque gêneros mudam, evoluem e se deterioram; o número de gêneros correntes em qualquer sociedade é indeterminado e depende da complexidade e diversidade da sociedade. (MILLER, 2009MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual: agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio, Judith Chambiss Hoffnagel; tradução e adaptação de Judith Chambliss Hoffnagel [et al.]. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. Recife: Coleção e Letras, 2009., p. 41)

Miller (2009MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual: agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio, Judith Chambiss Hoffnagel; tradução e adaptação de Judith Chambliss Hoffnagel [et al.]. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. Recife: Coleção e Letras, 2009.) define gênero como uma “ação significante e recorrente” (p. 44). Ela chama os gêneros de artefatos culturais e explica que “como portadores de cultura, esses artefatos literalmente incorporam conhecimento - conhecimento sobre estética, economia, política, crenças religiosas e todas as variações daquilo que conhecemos por cultura humana” (p. 49).

Para Miller (2009MILLER, C. R. Estudos sobre gênero textual: agência e tecnologia. Organização de Angela Paiva Dionísio, Judith Chambiss Hoffnagel; tradução e adaptação de Judith Chambliss Hoffnagel [et al.]. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. Recife: Coleção e Letras, 2009.), gênero é uma forma de ação social. Como agimos por meio dos gêneros, considero que faz mais sentido rotular esses instrumentos de ação como gêneros da linguagem em vez de gêneros do texto, gêneros do discurso, gêneros textuais ou gêneros discursivos. Afinal, agimos com vários modos de linguagem e não apenas com o verbal.

Gêneros da linguagem é um termo guarda-chuva que inclui texto e discurso e outros modos semióticos. Ao optar por “gêneros da linguagem”, não excluo gêneros textuais”, "gêneros do discurso" ou “gêneros discursivos”, ao contrário, os incluo no guarda-chuva e acolho gêneros não verbais, que também são ações de linguagem. Ao fazer essa opção, apoio-me em uma visão de linguagem na perspectiva da complexidade.

Ao optar por gêneros da linguagem sem focar, exclusivamente no texto oral, escrito ou gestual, privilegio a experiência humana com a linguagem em geral, independentemente do(s) modo(s) semiótico(s).

3.1 O GÊNERO COMO ATRATOR

Os comportamentos característicos de um sistema são chamados de atratores e, segundo Marshall (1996MARSHALL, S P. Chaos, complexity, and flocking behavior: metaphors for learning. Wingspread Journal , v. 18, n.3, The Johnson Foundation, 1996. Disponível em: Disponível em: https://www.education.sa.gov.au/sites/g/files/net691/f/chaos_complexity_and_flocking_behaviour_metaphors_for_learning.pdf . Acesso em: 4 abr. 2018.
https://www.education.sa.gov.au/sites/g/...
), “a ordem é criada por "atratores estranhos" - forças ou formas de probabilidade que parecem impedir que o sistema ultrapasse certas fronteiras invisíveis”. Nas palavras de Sawyer (2005SAWYER, K R. Social emergence: societies as complex systems. Cambridge: Cambridge University Press, 2005., p. 17), atratores são “formas relativamente estáveis em direção às quais o sistema tende a gravitar” o que nos remete à definição de gênero como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2003BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes , 2003., p. 262).

Para Larsen-Freeman e Cameron (2008, p. 189), os gêneros podem ser vistos como atratores no sistema discursivo e explicam que “por meio do uso e das adaptações que ocorrem nas múltiplas interações de micro-nível ao longo do tempo, certas formas de compreender o mundo e falar sobre ele emergem como padrões e gêneros relativamente estáveis”. Esse entendimento dialoga com as ideias de Bakhtin sobre gêneros, o que é reconhecido por Larsen-Freeman e Cameron (2008, p. 190) que o citam:

Os gêneros são o resíduo de comportamento passado, um acréscimo que molda, orienta e restringe o comportamento futuro. ... Sua forma não é mera forma, mas é de fato um conteúdo ‘estereotipado, cristalizado, velho (familiar) ..., [que] serve como uma ponte necessária para um conteúdo novo, ainda desconhecido’, porque é ‘uma visão antiga de mundo, tida como cristalizada’ Bakhtin (1986, p. 159-172).

Larsen-Freeman e Cameron (2008, p. 190) lembram também que “os gêneros são dinâmicos e continuam mudando com o uso. Sua estabilidade se combina com a variabilidade, e é essa variabilidade que fornece o potencial para o crescimento e a mudança”. De fato, os gêneros se adaptam ao longo do tempo e emergem em múltiplas práticas sociais como formas, relativamente estáveis, para agir no mundo. Ou ainda, como comenta meu colega Julio Araujo (comunicação pessoal), no dizer de Bakhtin, um gênero é novo e velho ao mesmo tempo e “só se conserva graças a sua permanente renovação” (2002, p. 106).

Partindo desse pressuposto teórico, de que o gênero é um atrator, entendido como um padrão de comportamento relativamente estável, relembro a importância do conceito de “relativa estabilidade”. Por mais diversas que sejam as definições, parece haver consenso entre os pesquisadores da área de gênero em torno da de Bakhtin e sua afirmação de que os gêneros do discurso são “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2003BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes , 2003., p. 262). Se os enunciados que constituem os gêneros são relativamente estáveis, isso indica que fazem parte de um sistema não estabilizado, ou seja, em processo de mudança, característica básica dos sistemas adaptativos complexos.

Outras ideias de Bakhtin (2003BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes , 2003.) também dialogam com a noção de gênero como um sistema. Apesar de não usar o termo emergência, ele entende que o gênero emerge da atividade humana e que se desenvolve e se complexifica. Diz ele:

A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. (p. 263)

Ao diferenciar gêneros primários e secundários, Bakhtin chama os primeiros de simples e os segundos de complexos. Nos excertos a seguir, ficam claras as ideias de interação, de mudança e de auto-organização e de emergência de novos padrões ou de novos gêneros.

Os gêneros discursivos secundários (complexos - romances, dramas, pesquisas científicas de toda espécie, os grandes gêneros publicísticos, etc.) surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado (predominantemente o escrito) - artístico, científico, sociopolítico, etc. No processo de sua formação eles incorporam e reelaboram diversos gêneros primários (simples) que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata. (p. 263)

[...] a experiência discursiva individual de qualquer pessoa se forma e se desenvolve em uma interação constante e contínua com os enunciados individuais dos outros. (p. 294)

Os enunciados não são indiferentes entre si nem se bastam cada um a si mesmos; uns conhecem os outros e se refletem mutuamente uns nos outros. Esses reflexos mútuos lhes determinam o caráter. Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva. (p. 297)

A recursividade, outra característica dos sistemas complexos, está também presente no sistema complexo da linguagem onde um gênero se repete de forma semelhante, se recombina, e se encaixa em outro. Bazerman (2005BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e interação. Tradução e adaptação de Judith Chambliss Hoffnagel. Organização de Ângela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2005., p. 83) pontua, por exemplo, o papel da carta como geradora de outros gêneros. Se antes os relatos de pesquisa eram feitos por meio do gênero carta, hoje se materializam em artigos científicos que, por sua vez, estão também em processo de mudança com a incorporação de vídeos e de realidade virtual. Assim novos gêneros surgem e mudam de fase.

Em outras palavras, Devitt (2000DEVITT, A Integrating rhetorical and literary theories of genre. College English, v. 6, n. 62, p. 696-718, 2000. Disponível em: Disponível em: https://kuscholarworks.ku.edu/bitstream/handle/1808/12295/Devitt_Integrating.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 25 março 2018.
https://kuscholarworks.ku.edu/bitstream/...
, p. 698) explica que “exemplos demonstram que as pessoas usam gêneros para fazer coisas no mundo (ação e propósito social) e que essas formas de agir se tornam tipificadas ao ocorrer sob o que é percebido como circunstâncias recorrentes”. A recorrência parece ser, portanto, um dos critérios para a identificação de gêneros e isso se dá dentro de relativa estabilidade, pois nenhuma ocorrência é totalmente igual à outra, apesar de alguns gêneros serem muito previsíveis como, por exemplo, as petições e as decisões interlocutórias em um processo jurídico.

Na óptica da teoria do caos, me interessam as bifurcações, as respostas criativas em reação às mudanças no ambiente. Como afirmam Briggs e Peat (1999BRIGGS, J; PEAT, D F. Seven life lessons of chaos: spiritual wisdom from the Science of change. New York, NY: Harper Collins, 1999., p.19),

Nossos corpos são permeados por sistemas abertos e caóticos que permitem uma resposta constantemente criativa a um ambiente em mudança. Por exemplo, nosso cérebro se auto-organiza ao mudar sua conectividade sutil com cada ato de percepção. A lista de maneiras pelas quais a natureza coloca em uso o princípio do caos auto-organizado é virtualmente infinita.

O que mais me interessa são as ações de linguagem não recorrentes, aquelas que fogem da relativa estabilidade, emergências que primam pela originalidade e pela imprevisibilidade.

3.2 EMERGÊNCIAS

Eventualmente, emergem novos comportamentos linguísticos em gêneros bem estabilizados. Um exemplo é o uso de versos em um processo jurídico. Este foi o caso de uma ação contra uma seguradora em função de acidente sofrido pelo seu cliente no estado de Tocantins. O advogado Carlos Nascimento escreveu sua petição em versos solicitando que um processo continuasse a tramitar em Palmas. O excerto5 5 Os textos completos podem ser encontrados em vários jornais e páginas na web sobre direito, A fonte utilizada aqui foi o site Consultor Jurídico e a notícia pode ser lida em https://www.conjur.com.br/2015-jul-09/tocantins-advogado-peticiona-verso-juiz-decide-poesia. , a seguir, é a parte final de um total de 18 versos.

[...] Portanto, o autor para finalizar Pede para o doutor, a presente rejeitar Essa é a contestação, Parece de canastrão Mas, sem atrevimento. Pede, suplica o deferimento Carlos Nascimento

O juiz Zacarias Leonardo, também de forma imprevisível, deferiu o pedido no mesmo estilo, em versos. Reproduzo aqui apenas a parte final dessa decisão interlocutória.

[...] Em seu parágrafo único o artigo cem (100) soluciona o embate; O foro do domicílio do autor era escolha que bastava. A contestação não parece de canastrão; Pelo contrário, sem respaldo legal e sem assento; Parece, isto sim, a exceção, uma medida de protelação; Coisa de instituição financeira querendo ganhar tempo.

O uso imprevisível de versos na petição e na decisão interlocutória chamou a atenção de tal forma que o fato foi noticiado em vários jornais. Apesar de inusitada, as peças jurídicas não ferem nenhuma norma, pois não existe nenhuma legislação que impeça o uso de versos. Outros exemplos de gêneros, que tipicamente são escritos em prosa podem ser encontrados em versos, desde uma receita culinária a até um boletim de ocorrência policial feito em versos e rimas de cordel6 6 Disponível em: http://noticias.r7.com/cidades/noticias/delegado-registra-ocorrencia-em-forma-de-poesia-no-df-20110803.html .

De qualquer forma, mesmo em verso, podemos reconhecer, na petição, seus elementos essenciais: sua fundamentação e pedido, em uma ação de reivindicação de um direito; em uma receita, a lista de ingredientes e procedimentos; ou em um boletim de ocorrência policial, uma narrativa em que constam o fato ocorrido, a data e o horário, dados dos envolvidos e o nome do policial que fez o registro.

No entanto, há gêneros que fogem do conjunto dos já conhecidos. Como já disse Lemke (2005LEMKE. J. Multimedia genres and traversals. Folia Linguistica , v.1-2, n. 39, p. 45-56, 2005 .), os gêneros já não são o que costumavam ser, estão cada vez mais multimodais, o sentido não fica confinado às fronteiras da língua e os gêneros se valem de outros sistemas semióticos. Afinal, a linguagem é um sistema adaptativo complexo.

A maior perturbação sofrida pelos que se interessam pelo estudo dos gêneros é a categorização. Mas o estudo de gêneros não precisa apenas categorizar. Se queremos ler o mundo, uma abordagem cognitiva seria bastante produtiva, procurando identificar as integrações conceituais de gêneros que fazem emergir outros gêneros.

3.3 A INTEGRAÇÃO DE GÊNEROS

Vejamos, por exemplo, uma postagem que circulou no FaceBook logo após o anúncio da prisão do ex-presidente Lula na primeira semana de abril de 2018: “Quando os facistoides dizem: "_ O próximo é o Aécio." Eu lembro da minha mãe, quando dizia: "_ Na volta a gente compra."”

Em uma abordagem tradicional de gêneros, diríamos que este é um gênero comentário argumentativo em rede social onde um usuário da rede manifesta sua posição ideológica e expõe sua opinião sobre um tema que circula naquele momento histórico e faz contraponto a outro comentário “O próximo é o Aécio”. Como todo gênero argumentativo, temos a polifonia como recurso que une outras vozes (os facistoides e a mãe) para produzir seu argumento.

Mais importante do que classificar gêneros, acredito, é perceber como a circulação de alguns gêneros são conceitualmente integrados a outros gêneros. Tenho interesse em ver quais são os gêneros que fizeram emergir esse argumento e que interações em um sistema complexo de produção de sentido fizeram o autor se manifestar dessa forma. Em uma perspectiva da semiótica peirciana, meu interesse está em semioses complexas, ou seja, como vários signos se integram na relação com seus objetos em um processo cognitivo (o interpretante) de geração múltipla de outros signos. Nessa perspectiva gêneros também são vistos como signos.

Voltando ao exemplo, em primeiro lugar há uma compressão conceitual que permite reunir as interações com enunciados escritos ou orais de “facistoides” com um diálogo entre a mãe e o enunciador. Nessa rede de gêneros temos dois diálogos em uma compressão temporal (o diálogo da infância e o da vida adulta), integrados conceitualmente no tempo da enunciação, mas temos também vários outros gêneros jornalísticos que circularam antes na sociedade para gerar os diálogos sobre a prisão de Lula e sobre a não prisão de políticos de outros partidos. Isso nos leva a uma semiose complexa. Recuperar esses gêneros e esses diálogos é um bom exercício para se ter uma ideia da complexidade das semioses, da produção dinâmica de sentido nas redes sociais.

Quando falamos em multimodalidade, pensamos em gêneros no papel, na tela, ou até mesmo no enunciador com seus gestos e expressões faciais, mas não pensamos na inseparabilidade entre texto e contexto e nem sempre prestamos atenção nos modos oferecidos pelo contexto, especialmente pelo tempo e o espaço em que ocorre a enunciação e nem na semiose complexa da interação de todos esses signos.

Um exemplo é a charge de Renato Aroeira7 7 Agradeço ao chargista pela autorização de uso de sua charge. que circulou nas redes sociais, após um ataque a tiros no acampamento em apoio a Lula, em Curitiba, deixando dois feridos, no dia 29 de abril de 2018. O tempo é sempre um elemento importante na leitura de qualquer charge. Nesta charge, temos a integração das representações de um revólver e da Rede Globo, metonimicamente representada por sua logomarca. Mas temos também a integração conceitual dos gêneros que essa rede de televisão faz circular contra o presidente Lula e a favor das ações do juiz Moro (reportagens, entrevistas, debates, fotos, trechos de depoimentos, etc.) e da narrativa sobre o atentado no acampamento. Essa integração faz emergir uma crítica e uma acusação à rede Globo que teria culpa no episódio ao contribuir para o acirramento do ódio ao Partido dos Trabalhadores.

Figura 3
Charge sobre atentado em Curitiba

Outro exemplo que trago para ilustrar é o Cabidaço, Que gênero é esse?

Em 4 de agosto de 2014, segundo reportagem publicada nesse dia pelo jornal El País8 8 https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/04/politica/1438719132_725759.html , houve um protesto, na hora do almoço, em frente à Câmara dos Vereadores de São Paulo. Diz o jornal:

Os funcionários da Câmara dos Vereadores de São Paulo que saíram para almoçar nesta terça-feira encontraram os portões do prédio, situado no Viaduto Jacareí, cheios de cabides pendurados. Um total de 660 cabides, se formos exatos. “Estamos sendo assaltados!”, gritava uma manifestante em um megafone. “Os vereadores de São Paulo estão contratando 12 pessoas para seus gabinetes. Estão colocando cabos eleitorais em seus gabinetes”.

Figura 4
Cabidaço

Segundo o jornal, o protesto que eles intitularam cabidaço, foi feito por pouco mais de dez manifestantes que cobravam explicação pela ampliação de número de assessores por gabinete.

Esta ação de linguagem, dentro da esfera do protesto, é um bom exemplo de que não se separa o texto de contexto. O gênero cabidaço se dá não apenas por meio dos enunciados dos manifestantes, mas, essencialmente, pela narrativa metaforicamente representada pelos cabides cheios de recortes de bonecos de papel, representando os “empregados” pelos vereadores.

4 EXPERIÊNCIAS MULTIMODAIS

Finalmente, gostaria de lembrar que há gêneros multimodais, mas há também experiências multimodais que integram gêneros diversos. Essa tem sido, por exemplo, minha experiência de leitura com algumas obras do clube de leitura TAG. Além do livro do mês, é comum haver uma indicação de uma playlist. Ler um livro enquanto se houve a playlist, complexifica a leitura e amplia o prazer estético9 9 Enquanto escrevo esse texto, recebo um livro da literatura sudanesa e ele vem acompanhado de uma mistura de cardamomo, hortelã e canela, inspirada na cultura sudanesa, para tomar um chá e acompanhar a leitura. . Um exemplo vivenciado por mim foi o livro de Pat Smith, Só Garotos, e sua playlist com canções de Pat Smith, Jimmy Hendrix e Bob Dylan, dentre outras. Outro exemplo é observar um quadro em um museu e ouvir uma descrição em áudio da pintura e outras informações relevantes, o que amplia a produção de sentidos.

Gostaria de terminar compartilhando uma experiência multimodal que impactou o carnaval do Rio de Janeiro de 2018 - o desfile da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti.

O samba enredo de Moacyr Luz e Cláudio Russo, um gênero oral, que perguntava se a escravidão estava extinta foi cantado durante todo o desfile e integrava conceitualmente um espaço de mais de 130 anos: a escravidão africana no Brasil e as mudanças nas leis trabalhistas impostas pelo governo golpista e seus aliados em 2017. A compressão do tempo estava presente na canção e também nas alegorias ao longo do sambódromo. Em um texto multisemiótico, a escola recontou a história da escravidão no Brasil, criticou o racismo e denunciou a reforma trabalhista que oprime os trabalhadores.

Na comissão de frente, escravos negros eram açoitados por um capataz (ver Fig. 5), um carro representava um quilombo e outro um navio negreiro. Reportagem do portal G1 da rede Globo10 10 https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2018/noticia/paraiso-do-tuiuti-fala-de-escravidao-em-desfile-com-criticas-sociais.ghtml na Internet assim descreveu as últimas alas do desfile:

As três últimas alas retrataram perrengues dos brasileiros em busca de bons empregos. Teve até menção aos "manifestoches", com panelas e camisas amarelas, ironizando manifestantes.

Com o último carro, a Tuiuti apresentou um "novo navio negreiro" buscando fazer uma comparação entre os "novos trabalhadores explorados pela classe dominante" e os escravos do passado.

Outros elementos como mãos acorrentadas, colarinhos brancos e moedas de ouro deixaram a analogia mais clara.

Figura 5
Açoitamento

Figura 6
“Guerreiros da CLT”

Uma ala mostrava o trabalho informal com pessoas fantasiadas de ambulantes e em outra, os operários seguravam uma enorme carteira de trabalho (Fig. 6). No último carro alegórico, o Neotumbeiro11 11 Segundo Flô (2018), “navios negreiros eram conhecidos também como tumbeiros porque as péssimas condições da travessia provocavam a morte de muitos cativos.”. , um vampiro, evocando a imagem do golpista Michel Temer, acompanhado por banqueiros, desfilava com a faixa presidencial adornada por notas de dinheiro (Fig. 7).

Figura 7
“O golpista neoliberalista”

Abaixo do carro com o presidente vampiro, desfilavam os batedores de panela, denominados de manifestoches os manifestantes fantoches do capital, vestidos com a camisa do CBF (Fig. 8) e os patos da Fiesp (Fig. 9),

Figura 8
Manifestoches

Figura 9
Patos da classe dominante

Os patos fantoches era uma referência ao pato amarelo de plástico inflável criado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2015, para protestar contra o aumento de impostos. Esse pato foi muito utilizado como um símbolo dos protestos a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o enredo do Tuiti, ao agregar a ele a mão e as cordinhas que o manipulam, metaforicamente, modifica a referência à Fiesp e coloca os manifestantes que apoiaram o impeachment, como patos, fantoches na mão do capital.

Frô (2018FRÔ, Maria. A revista Fórum. 13 fev. 2018. Disponível em: Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/mariafro/2018/02/13/o-desfile-da-tuiuti-a-historia-e-aquilo-que-a-globo-nao-conta/ Acesso em: 5 maio 2108.
https://www.revistaforum.com.br/mariafro...
) assim resume o desfile com foco na compressão de duas narrativas históricas: a história da escravidão e a história do golpe e suas consequências.

a Tuiuti conseguiu unir passado e presente mostrando que os neotumbeiros de hoje são herdeiros dos traficantes de escravos do passado. Seu enredo com duplo refrão (outra coisa inédita no carnaval) une passado e presente e nos convida a reagir: que sejamos todos livres, que não sejamos escravos de nenhum senhor, que possamos enfrentar os neoescravagistas, os neocapitães do mato, hoje a serviço do capital financeiro, que nos assalta direitos. Que após 130 anos de abolição, nós possamos de fato extirpar a exploração do capital e trazer dignidade aos trabalhadores, os verdadeiros produtores da riqueza.

Enquanto a narrativa passava pela avenida, ouvia-se o samba enredo, cuja letra reproduzo a seguir.

Samba Enredo 2018 - Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?

Não sou escravo de nenhum senhor Meu Paraíso é meu bastião Meu Tuiuti, o quilombo da favela É sentinela na libertação Irmão de olho claro ou da Guiné Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado Senhor, eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor Tenho sangue avermelhado O mesmo que escorre da ferida Mostra que a vida se lamenta por nós dois Mas falta em seu peito um coração Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz Eu fui mandiga, cambinda, haussá Fui um Rei Egbá preso na corrente Sofri nos braços de um capataz Morri nos canaviais onde se plantava gente Ê, Calunga, ê! Ê, Calunga! Preto Velho me contou, Preto Velho me contou Onde mora a Senhora Liberdade Não tem ferro nem feitor Ê, Calunga Preto Velho me contou Onde mora a Senhora Liberdade Não tem ferro nem feitor Amparo do Rosário ao negro Benedito Um grito feito pele do tambor Deu no noticiário, com lágrimas escrito Um rito, uma luta, um homem de cor E assim, quando a lei foi assinada Uma lua atordoada assistiu fogos no céu Áurea feito o ouro da bandeira Fui rezar na cachoeira contra a bondade cruel Meu Deus! Meu Deus! Se eu chorar, não leve a mal Pela luz do candeeiro Liberte o cativeiro social Meu Deus! Meu Deus! Se eu chorar, não leve a mal Pela luz do candeeiro Liberte o cativeiro social Fonte: https://www.letras.mus.br/gres-paraiso-do-tuiuti/samba-enredo-2018-meu-deus-meu-deus-esta-extinta-a-escravidao/

Como podemos ver, nos versos predominam as referências à escravidão, mas o refrão, a coda da narrativa, integra conceitualmente a história da escravatura e a história atual. E chama a história da escravidão, metonimicamente representada pelo candeeiro (o lampião que lembra a época da escravidão) para iluminar a história presente, o cativeiro social, integrando conceitualmente as duas narrativas de opressão ao trabalhador explorado pelas elites.

5 CONCLUSÃO

Concluo discutindo duas citações de Larsen-Freeman e Cameron (2008, p. 191) sobre a questão da previsibilidade. Na primeira, elas dizem:

Podemos prever que os gêneros vão evoluir e mudar, com novas estabilidades emergindo das anteriores. Não podemos prever como elas serão, apenas que acontecerão. Podemos, no entanto, prever padrões de mudança por meio do exame das trajetórias dos gêneros ao longo do tempo, examinando suas trajetórias e procurando suas regularidades.

Acredito que estamos vivendo em um momento de alta criatividade (que a teoria do caos chama de ‘beira do caos’) com a introdução das tecnologias de informação e comunicação. Ainda citando Larsen-Freeman e Cameron (2008, p. 191), “gêneros que estão mudando e se adaptando rapidamente e frequentemente podem indicar que o sistema discursivo está ‘à beira do caos’, prestes a mudar para um novo atrator ou a se dissolver e retornar a alguma outra forma”.

Assim, ao observar a influência das tecnologias digitais, percebemos que alguns gêneros estão em processo de mudança ou, no dizer de Araújo (2016), estão sendo reelaborados. Araújo (2016, p. 53) defende que “não existem esfera digital e nem gêneros digitais, pois a web não é capaz de fornecer uma instância concreta de gêneros que atendam às demandas de um suposto discurso digital”. Concordo com Araújo que a web, na realidade, é um ambiente que reelabora gêneros. Somos todos testemunhas de que alguns gêneros estão sendo reelaborados e se tornando mais multimodais com o uso de imagens e vídeos. Para citar apenas três exemplos, os Currículos Vitae passaram a incorporar fotos, resenhas e vêm se transformando em vídeo-resenhas; relatórios de pesquisa e artigos acadêmicos passam a incluir vídeos.

As tecnologias de realidade virtual, provavelmente, terão, em breve, sua parcela de influência. Não podemos prever que outras mudanças acontecerão, mas podemos, certamente, afirmar que elas virão.

AGRADECIMENTOS

Agradeço o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Agradeço também a Ronaldo Corrêa Gomes Junior, Júlio César Araújo e Gilvan Mateus Soares, primeiros leitores deste texto, pelas sugestões que me ajudaram na construção deste artigo.

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  • 1
    Esta e as demais traduções são de responsabilidade da autora. Os textos de Beaugrande foram baixados de sua homepage em 2010. Infelizmente, seu acervo não foi preservado após seu falecimento.

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  • 2
    A primeira vez que defendi esse conceito foi em 2005 quando respondi a uma série de perguntas para o projeto de livro intitulado Conversas com Linguistas Aplicados.

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  • 3
    Veja coletânea de materializações diversas de Fora temer no blog http://consciencia.blog.br, disponível em: http://consciencia.blog.br/2016/07/20-atitudes-fora-temer.html. Acesso em: 6 maio 2018.

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  • 4
    A respeito da história do uso dessas denominações em torno do conceito de gênero, recomendo a leitura da obra de Bezerra (2017).

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  • 5
    Os textos completos podem ser encontrados em vários jornais e páginas na web sobre direito, A fonte utilizada aqui foi o site Consultor Jurídico e a notícia pode ser lida em https://www.conjur.com.br/2015-jul-09/tocantins-advogado-peticiona-verso-juiz-decide-poesia.

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  • 6
    Disponível em: http://noticias.r7.com/cidades/noticias/delegado-registra-ocorrencia-em-forma-de-poesia-no-df-20110803.html

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  • 7
    Agradeço ao chargista pela autorização de uso de sua charge.

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  • 8
    https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/04/politica/1438719132_725759.html

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  • 9
    Enquanto escrevo esse texto, recebo um livro da literatura sudanesa e ele vem acompanhado de uma mistura de cardamomo, hortelã e canela, inspirada na cultura sudanesa, para tomar um chá e acompanhar a leitura.

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  • 10
    https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2018/noticia/paraiso-do-tuiuti-fala-de-escravidao-em-desfile-com-criticas-sociais.ghtml

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  • 11
    Segundo Flô (2018), “navios negreiros eram conhecidos também como tumbeiros porque as péssimas condições da travessia provocavam a morte de muitos cativos.”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2019

Histórico

  • Recebido
    16 Jun 2018
  • Aceito
    20 Dez 2018
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