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DISCURSOS SOBRE O IDOSO: SEXUALIDADE E SUBJETIVIDADE

DISCOURSES ABOUT THE ELDERLY: SEXUALITY AND SUBJECTIVITY

DISCURSOS SOBRE EL ANCIANO: SEXUALIDAD Y SUBJETIVIDAD

Resumo

O objetivo deste trabalho é fazer uma descrição da forma como a sexualidade do idoso é representada em diversos processos discursivos. Tal recorte se deve ao fato de que, nos últimos anos, houve um aumento da população idosa e esta se tornou objeto de uma produção discursiva que fez emergir a figura do novo idoso. Entre as práticas características dessa subjetividade está uma sexualidade ativa. A partir de uma perspectiva discursiva, calcada nos pressupostos lançados por Michel Foucault, foi constituída uma série enunciativa composta de diversos textos em que a sexualidade do idoso é abordada. Essa série é analisada com base em conceitos foucaultianos como objetivação, subjetivação, práticas discursivas e dispositivo da sexualidade, de modo a apontar estratégias recorrentes na criação de um discurso da sexualidade do idoso. A análise aponta que a representação da sexualidade idosa é diferente em processos de objetivação e de subjetivação.

Palavras-chave:
Discurso; Dispositivo; Sexualidade; Idoso

Abstract

The aim of this research is describing the form in which elders’ sexuality is represented in various discursive processes. This specific theme came into focus due to the fact that, over the last years, there has been an increase in the elderly population, and it has become an object of a discursive practice which gave rise to the new elder’s image. Amongst the practices that are particular to this subjectivity, there is an active sexuality. From a discursive perspective based on the theories formulated by Michel Foucault, an enunciate series composed by several texts in which the elders’ sexuality is approached. This series is analyzed based on concepts by Foucault, such as objectivation, subjectivation, discursive practices and sexuality apparatus, in order to point out recurrent strategies in the creation of an elder’s sexuality discourse. The analysis points to the representation of elders’ sexuality is different in objectivation and subjectivation processes.

Key-words:
Discourse; Dispositive; Sexuality; Elder

Resumen

El objetivo de ese trabajo es hacer una descripción de la forma como la sexualidad del anciano es representada en diversos procesos discursivos. Tal recorte se debe al facto de que, en los últimos años, hubo un aumento de la población anciana, y ella se ha cambiado en objeto de una producción discursiva que hizo emerger la figura del nuevo anciano. Entre las prácticas características de esa subjetividad está una sexualidad activa. Desde una perspectiva discursiva, basada en los supuestos lanzados por Michel Foucault, fue constituida una serie enunciativa compuesta de diversos textos en que la sexualidad del anciano es abordada. Esa serie es analizada con base en conceptos de Foucault, como objetivación, subjetivación, prácticas discursivas y dispositivo de la sexualidad, de modo a apuntar estrategias recurrentes en la creación de un discurso de la sexualidad del anciano. El análisis apunta que la representación de la sexualidad anciana es diferente en procesos de objetivación y de subjetivación.

Palabras clave:
Discurso; Dispositivo; Sexualidad; Anciano

1 INTRODUÇÃO

A finalidade deste texto é analisar o modo como a sexualidade do sujeito idoso é discursivizada em um conjunto de textos que possuem como “referencial” discursivo (FOUCAULT, 2008FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ) a relação entre subjetividade e sexualidade na velhice. Parte, portanto, de duas justificativas, uma de cunho social e outra de caráter discursivo. Do ponto de vista social, nas últimas duas décadas os países considerados desenvolvidos e os em desenvolvimento viveram uma mudança em seu perfil populacional, que foi denominada como envelhecimento da população, tendo em vista que, proporcionalmente, o número de idosos aumentou. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), estima-se que, em quarenta anos, a população idosa vai triplicar no Brasil e passará de 19,6 milhões (10% da população, em 2010) para 66,5 milhões de pessoas, em 2050 (29,3% da população).

Como forma de materializar esse trabalho governamental que busca gerir esses corpos e vidas, por meio de leis específicas, campanhas de vacinação, programas sociais voltados aos idosos etc., desenvolve-se uma produção discursiva que se projeta sobre esse sujeito, o que justifica uma discussão de cunho discursivo, que vem sendo gestada no interior de um projeto de pesquisa institucional mais abrangente, intitulado “Práticas discursivas de subjetivação II”3 3 Projeto institucional que teve início em 2010, no Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Estadual de Maringá, e congrega pesquisas em desenvolvimento realizadas pelo coordenador, Pedro Navarro, por Adélli Bortolon Bazza, coautora deste artigo e por orientandos de iniciação científica, de mestrado e de doutorado da referida instituição. Parte das discussões desse projeto está sendo financiada pelo CNPq, na forma de bolsa de produtividade em pesquisa, desde 2011. .

O que se vem observando é que os idosos tornaram-se objeto de discussão de áreas de pesquisa, tais como: gerontologia e geriatria. No conjunto disperso e heterogêneo de discursos que se encontram sob investigação pelo referido projeto, esses sujeitos são retratados em comerciais que buscam lhes vender produtos e serviços, tornaram-se assunto de notícias e de reportagens; personagens de blogs e sites voltados à questão da terceira idade, assim como passaram a ser o perfil de aluno que ocupa os bancos da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI). Nessa vasta produção discursiva, emerge a figura do ‘novo idoso’, para a qual concorrem diversas práticas que constituem essa subjetividade, dentre as quais cuidar da saúde; conviver em grupos, em oposição à solidão e ao convívio apenas com a família; ser jovial, em oposição à imagem frágil e de cabelos brancos; consumir produtos e lazer em oposição ao poupar; e, por último, viver ativamente a sexualidade em vez de sua neutralização (NAVARRO; BAZZA, 2012NAVARRO, P.; BAZZA, A. B. A subjetivação do “novo idoso” em textos da mídia. Estudos da Língua(gem), v. 10, n. 2, p. 143-159, 2012. ).

Isso posto, as discussões aqui apresentadas partem da hipótese de que tais práticas se orientam a partir do seguinte “enunciado reitor” (FOUCAULT, 2008FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. )4 4 Esse seria um enunciado geral, que traz as características de uma prática que vai se desdobrar em outros campos de saber, como os que originaram os discursos analisados neste texto. : “o novo idoso é ativo”, já depreendido em outros trabalhos sobre a temática em tela (BAZZA, 2016aBAZZA, A. B. Subjetivação no discurso do idoso em contexto de estudos na UNATI-UEM. 2016. 132 f. Tese (Doutorado em Letras) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016b. ). Ao atravessar outros dispositivos, esse enunciado reitor origina enunciados dele derivados. Num cruzamento com o campo da sexualidade, emerge um saber segundo o qual o novo idoso teria uma vida sexual ativa.

Por se tratar de uma discussão que objetiva compreender, de um ponto de vista discursivo, de que forma a sexualidade, como dispositivo de poder-saber, produz sujeitos, além das pesquisas em desenvolvimento brevemente citadas, busca-se um aporte teórico calcado em trabalhos de Foucault (2004FOUCAULT, M. História da Sexualidade I. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.; 2010; 2014) sobre biopoder e sexualidade; de Veyne (2011VEYNE, P. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.) e de Deleuze (1990DELEUZE, G. O que é um dispositivo? In: Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990. p. 155-161. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento.) sobre a compreensão que ambos têm de dispositivo de poder; de Machado (1999MACHADO, R. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1999.), sobre a teoria do poder, e de autores que se valem desse campo teórico, tais como Araújo (2008ARAÚJO, I. L. Foucault e a crítica do sujeito. 2. ed. Curitiba: Editora da UFPR, 2008.), Fischer (2012FISCHER, R. M. B. Na companhia de Foucault: multiplicar acontecimentos. In: FISCHER, R. M. B. Trabalhar com Foucault: arqueologia de uma paixão. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. p. 21-32.) e Lolli (2016LOLLI, M. C. G. dos S. Quebrando o silêncio: uma conversa sobre bem-estar, tabus e intimidade depois dos 60. Curitiba: CRV, 2016.). Com base nessa visada que é, ao mesmo tempo, filosófica, histórica e discursiva, toma-se como objeto empírico de análise uma série enunciativa constituída por nove textos de variados gêneros, que circulam em diferentes espaços sociais, mas que têm em comum o referencial discursivo mencionado. Compõem, assim, esse quadro enunciativo duas campanhas publicitárias, um folder de conscientização, um ensaio fotográfico, um livro sobre a velhice, uma reportagem online, uma piada, um vídeo e trechos de entrevistas com idosos.

2 O DISPOSITIVO DA SEXUALIDADE E A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE

Tendo em vista que a questão norteadora deste estudo é o modo como a sexualidade do sujeito idoso é produzida discursivamente, toma-se como ponto de partida teórico o conceito de dispositivo, em virtude da sua produtividade em termos de se considerar que os textos sob análise, constantes da série enunciativa descrita anteriormente, são produzidos no interior de um dispositivo da sexualidade que produz, portanto, saberes sobre esse sujeito. A descrição dos enunciados busca, pois, dar visibilidade a elementos de tal dispositivo. Se, como afirma Veyne (2011VEYNE, P. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.), o discurso dá cor ao dispositivo, o enunciado reitor “o novo idoso é ativo” e a rede enunciativa que ele congrega deve, pois, exercer tal funcionamento na produção discursivo em foco.

De acordo com esse autor, um dispositivo põe em jogo todo um conjunto de

[...] leis, atos, falas ou práticas que constituem uma formação histórica, seja a ciência, seja o hospital, seja o amor sexual, seja o exército. O próprio discurso é imanente ao dispositivo que se modela a partir dele [...] e que o encarna na sociedade; o discurso faz a singularidade, a estranheza da época, a cor local do dispositivo. (VEYNE, 2011VEYNE, P. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011., p. 54)

Veyne segue argumentando que um discurso, com seu dispositivo institucional e social, só se mantém enquanto a conjuntura histórica e a liberdade humana não o substituam por outro. Somente se sai do aquário (o a priori histórico) por conta de novos acontecimentos do momento ou pelo surgir de um novo discurso que obteve sucesso. O dispositivo é, portanto, algo que engloba “coisas e ideias (entre as quais a verdade), representações, doutrinas, e até mesmo filosofias, com instituições, práticas sociais, econômicas” (VEYNE, 2011VEYNE, P. Foucault: seu pensamento, sua pessoa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011., p. 57).

Como analisa Deleuze (1990DELEUZE, G. O que é um dispositivo? In: Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990. p. 155-161. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento.), o dispositivo de poder tem como componentes as linhas de visibilidade e as linhas de enunciação. Em relação às primeiras, os dispositivos são máquinas de fazer ver, uma vez que podem lançar luz sobre os sujeitos. Em A vida dos homens infames, Foucault (2003FOUCAULT, M. A vida dos homens infames. In: FOUCAULT, M. Estratégia poder-saber. Ditos e Escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. ) analisa o dispositivo de poder denominado lettre de cachet, por meio do qual cada súdito poderia ser o monarca do outro. A vida dos homens infames passaria despercebida, não fosse essa possibilidade de uso de um poder que ordena prender ou internar algum vagabundo ou alguém que perturbe a ordem. Como analisa Foucault, para que alguma coisa dessas vidas chegasse ao conhecimento, “foi preciso, no entanto, que um feixe de luz, ao menos por um instante, viesse iluminá-las. Luz que vem de outro lugar. O que as arranca da noite em que elas teriam podido, e talvez sempre devido, permanecer é o encontro com o poder” (FOUCAULT, 2003FOUCAULT, M. A vida dos homens infames. In: FOUCAULT, M. Estratégia poder-saber. Ditos e Escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. , p. 207).

Em relação às linhas de enunciação, os dispositivos são máquinas de fazer falar. Uma ciência, em um determinado momento, ou um gênero literário, ou um estado de direito, ou um movimento social, definem-se precisamente pelos regimes de enunciação.

O tema do dispositivo leva a considerar o poder e o modo como ele se manifesta no tecido social e discursivo, fato esse que requer uma atenção, mesmo que breve, sobre o projeto de estudos que Foucault desenvolveu ao longo de sua trajetória como um importante pensador de questões que afetam os sujeitos. Em um dos momentos em que esse autor realiza uma espécie de síntese de seu percurso analítico (FOUCAULT, 2010FOUCAULT, M. O governo de si e dos outros. São Paulo: Martins Fontes, 2010.), é feita uma divisão de sua obra em três grandes fases: uma denominada arqueológica, outra genealógica e a terceira concebida como ética e estética de si mesmo.

Na fase arqueológica, o autor busca descrever como se organizam e se constroem determinados saberes, como os da gramática, da biologia, da economia e da psiquiatria, atentando para aquilo que chama de “regras de formação” dos objetos, das modalidades enunciativas, dos temas e das estratégias enunciativas (FOUCAULT, 2008FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ). Assim, com base na formação dos saberes, é possível interrogar os discursos e as suas regras de formação, por meio das quais se opera um processo de designação, de nomeação, de classificação e de qualificação das coisas, nesse caso, particularmente, do idoso. A ideia de enunciado reitor, tal como apresentada anteriormente, surge nesse momento e dará conta de descrever aquilo que o autor chama de “arvore de derivação” enunciativa, a partir da qual os enunciados surgem, fazem alusão uns aos outros, se aproximam ou se excluem, formando um domínio associativo, no interior do qual os diversos objetos de um dado saber se constituem.

Na fase genealógica (FOUCAULT, 2014aFOUCAULT, M. As relações de poder passam para o interior dos corpos. In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos, volume IX: genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014a. p. 35-43., 2014c; 2004, 1999b, 1997), observa-se uma inflexão no pensamento desse autor, e a tônica passa a ser dada às relações de poder e aos seus efeitos quando vinculados aos discursos dos sujeitos e/ou sobre os sujeitos. A ideia de dispositivo surge nesse momento e parece englobar os demais conceitos até então estudados, em particular o de discurso, haja vista o que já foi exposto na introdução desta seção.

A genealogia foucaultiana abre caminho para a compreensão dos modos pelos quais o sujeito e seu corpo são produzidos no interior de micropoderes, e isso, de saída, fornece a ideia de como o poder é agora concebido pelo autor. Sobre tal aspecto, Machado mostra que não há no pensamento foucaultiano uma teoria geral do poder, posto que o poder não é visto como “uma realidade que possua uma natureza, uma essência [...] não existe algo unitário e global chamado poder, mas unicamente formas díspares, heterogêneas” (MACHADO, 1998, p. X), por isso se trata de uma prática social e historicamente constituída. Fazendo uma retomada das postulações de Foucault, Machado exemplifica que o filósofo trouxe à tona as relações intrínsecas entre saberes específicos, como a medicina e a psiquiatria, e poderes “locais, específicos, circunscritos a uma pequena área de ação, que Foucault analisava em termos de instituição” (MACHADO, 1998, p. XI). Parte-se, desse modo, da ideia de que o exercício do poder não se dá única e exclusivamente do centro para a periferia, mas também desta para aquele, constatação esta que faz o poder surgir como relações que se exercem em diferentes pontos da rede social.

O terceiro momento, denominado ética, é aquele em que o autor se preocupa em demonstrar como essas duas primeiras questões - formação de saberes e forças de poder - constroem subjetividades. A terceira fase foucaultiana seria, portanto, aquela que estuda a construção de uma verdade do sujeito. Nesse momento teórico, diversas obras tratam da subjetividade a partir da sexualidade, pois, de acordo com Foucault (2004FOUCAULT, M. História da Sexualidade I. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.), houve uma relação estreita entre a busca da verdade do sujeito e a extração de uma confissão de sua sexualidade.

Foucault defende a tese de que o poder, longe de interditar, provoca uma espécie de “colocação do sexo em discurso. Para ele, o ponto essencial é levar em consideração “o fato de se falar de sexo, quem fala, os lugares e os pontos de vista de quem fala, as instituições que incitam a fazê-lo, que armazenam e difundem o que dele se diz, em suma, o “fato discursivo” global, a ‘colocação do sexo em discurso’.” (FOUCAULT, 2004FOUCAULT, M. História da Sexualidade I. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004., p. 16).

O gesto analítico de Foucault tem como foco a sexualidade, como uma forma de economia positiva dos corpos e do prazer. Consequentemente, a sexualidade configura-se como um importante dispositivo na constituição dos sujeitos. Segundo o autor (2014b, p. 69), “o objeto ‘sexualidade’ é, na realidade, um instrumento formado há muito tempo, que constituiu um dispositivo de sujeição milenar”. A visada foucaultiana, ao focar no exercício discursivo da sexualidade, busca

mostrar como as relações de poder podem passar materialmente na própria espessura dos corpos sem ter que ser substituídas pela representação dos sujeitos. Se o poder atinge o corpo, não é porque ele foi inicialmente interiorizado na consciência das pessoas. Há uma rede de biopoder, de somatopoder que é, ela mesma, uma rede a partir da qual nasce a sexualidade como fenômeno histórico e cultural no interior do qual, ao mesmo tempo, nós nos reconhecemos e nos perdemos. (FOUCAULT, 2014aFOUCAULT, M. As relações de poder passam para o interior dos corpos. In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos, volume IX: genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014a. p. 35-43., p. 38)

Por ser ao mesmo tempo um efeito e um indício da subjetividade, a sexualidade passou a ser objeto de interesse de diversos saberes. No poder pastoral, as pessoas eram orientadas a confessar seus atos, seus desejos e até seus pensamentos. Assim, elas se davam a conhecer a alguém que lhes podia interpretar e, posteriormente, orientar. No campo das ciências, os corpos, as alterações por que passam no ato sexual, na gestação etc. passaram a ser objeto de descrição detalhada. Posta constantemente em discurso, “A sexualidade não é mais o grande segredo, mas ela é ainda um sintoma, uma manifestação do que há de mais secreto em nossa individualidade” (FOUCAULT, 2014d FOUCAULT, M. Uma entrevista de Michel Foucault por Stephen Riggis. In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos, volume IX: genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014d. p. 192- 206., p. 201).

A necessidade de se falar tanto sobre a sexualidade tem relação com o quanto ela é constitutiva da subjetividade. Sendo assim, quanto mais se conhece sobre ela e a forma como cada um a compreende, mais se sabe sobre cada sujeito. Nesse sentido, Foucault (2014eFOUCAULT, M. Michel Foucault, uma entrevista: sexo, poder e a política da identidade. In: Ditos e escritos, volume IX: genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014e. p. 251-263., p. 251) afirma que “A sexualidade faz parte de nossas condutas. Ela faz parte da liberdade de que gozamos neste mundo. A sexualidade é algo que nós criamos nós mesmos - ela é nossa própria criação, muito mais que a descoberta de um aspecto secreto de nosso desejo.”

Como uma criação social, a sexualidade trata, portanto, de uma construção discursiva, calcada em saberes e poderes. É no jogo discursivo que uma forma de viver a sexualidade é definida como normal e outra como anormal; que se define uma atitude como sensual ou não. De acordo com Foucault (1999aFOUCAULT, M. A ordem do discurso. 5. ed., São Paulo: Edições Loyola, 1999a. ), alguns dos procedimentos que sustentam o funcionamento do poder seriam: a vontade de verdade, a interdição e a separação-rejeição. Estar no “verdadeiro de uma época”, como Foucault chama, implica obedecer a regras de uma ordem discursiva, que exerce coerção para que os sujeitos assumam determinadas práticas, enquanto interdita outras. No caso da sexualidade do idoso, observa-se uma verdade que se estabelece pela reiteração do enunciado de que o idoso tem uma vida sexual ativa. Não obstante essa verdade, esses sujeitos podem sentir-se incluídos ou excluídos conforme suas condições mentais e físicas para adotar ou não essa prática sexual.

Anteriormente à emergência do enunciado “o novo idoso é ativo” como acontecimento discursivo na ordem dos saberes, constituíra-se uma memória social segundo a qual o idoso era posicionado com foco em seus aspectos familiares e de saúde. No domínio discursivo recoberto por essa memória, que, para os fins deste artigo, não é possível recuperar especificamente em textos aqui e acolá, as questões da sexualidade não eram tratadas ou eram citadas da perspectiva das perdas sexuais. Nesse outro verdadeiro de uma época, produziu-se uma subjetividade de idoso assexuado. Como uma ruptura nessa ordem, emerge um saber sobre a sexualidade idosa que se materializa no enunciado de que o idoso tem uma vida sexual ativa. Tal saber está calcado numa relação dialética com um jogo de poder que define o início da terceira idade aos sessenta anos (BRASIL, 2003) e faz com que as pessoas nessa faixa etária se sintam impelidas a ter esse padrão sexual.

Conforme Foucault (2014d, p. 201),

Essa forma de poder se exerce sobre a vida quotidiana imediata, que classifica os indivíduos em categorias, designa-os por sua individualidade própria, liga-os à sua identidade, impõe-lhes uma verdade que lhes é necessário reconhecer e que os outros devem reconhecer neles. É uma forma de poder que transforma os indivíduos em sujeitos.

A construção de uma subjetividade se dá por meio de dois movimentos. Um deles é a objetivação, calcada na compreensão do discurso como prática que forma os objetos de que fala. Ao tratar de um determinado tema/objeto/sujeito, ele é criado como objeto de saber e se exerce uma força de sujeição sobre ele. No momento em que os diversos campos de saber tratam do idoso, descrevem quem é o idoso, como ele deve agir e como deve ser a vida sexual dele, ocorre a força de sujeição para que os indivíduos que estão enquadrados nessa faixa etária assumam essas práticas e assumam a vida sexual ativa, tal qual ela é proposta. A construção da subjetividade também implica um outro movimento, que funciona como uma resposta ao primeiro: trata-se da subjetivação, que compreende as práticas que produzem o sujeito. É o momento em que o próprio sujeito, deparando-se com os discursos que dizem para ele quem ele deve ser, seleciona o que pode para se constituir. Ele trabalha com os discursos, com as coerções a que é exposto e se coloca discursivamente como um determinado sujeito.

Buscando compreender as subjetividades por meio da sexualidade, Foucault (2004FOUCAULT, M. História da Sexualidade I. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.) aponta duas formas de tratá-la: a ciência sexual e a arte erótica. A primeira está pautada na prática da confissão e da análise da verdade sobre o sexo. Trata-se da forma de vivência da sexualidade que o autor observa na sociedade contemporânea em que se diz, fala, classifica, categoriza e descreve o sexo em si. Em oposição a isso, Foucault busca outros momentos e outras culturas em que a sexualidade foi vivida como uma arte erótica. Uma vivência em que

a verdade é extraída do próprio prazer, encarado como prática e recolhido como experiência; não é por referência a uma lei absoluta do permitido e do proibido, nem a um critério de utilidade, que o prazer é levado em consideração, mas, ao contrário, em relação a si mesmo: ele deve ser conhecido como prazer, e portanto, segundo sua qualidade específica, sua duração, suas reverberações no corpo e na alma” (FOUCAULT, 2004FOUCAULT, M. História da Sexualidade I. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004., p. 57)

De acordo com o autor, em oposição a alguns momentos em que o sujeito viveu para o seu prazer e foi acumulando suas experiências, sentindo e recolhendo isso para si, nós vivemos uma sociedade contemporânea em que o sexo é vivido, predominantemente, a partir da ciência sexual: descrito, classificado, confessado e analisado. Esse processo, em última instância, leva (ou deveria levar) ao conhecimento sobre o sujeito. Na confissão do sujeito, ele diz a verdade sobre o seu sexo e, como resposta,

nós dizemos a sua verdade, decifrando o que dela ele nos diz; e ele nos diz a nossa, liberando o que estava oculto. Foi nesse jogo que se constituiu, lentamente, desde há vários séculos, um saber do sujeito, saber não tanto sobre sua forma porém daquilo que o cinde; daquilo que o determina, talvez, e sobretudo o faz escapar a si mesmo. (FOUCAULT, 2004FOUCAULT, M. História da Sexualidade I. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004., p. 68)

Assim, atua o dispositivo da sexualidade em prol da decifração da verdade do sujeito. Nessa perspectiva, propõe-se analisar a discursivização da sexualidade do idoso como forma de descrever esse sujeito.

3 ESCAVANDO A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE DO IDOSO

Foucault adota uma perspectiva histórica, na qual o sujeito é falado, construído historicamente. De acordo com Araújo (2008ARAÚJO, I. L. Foucault e a crítica do sujeito. 2. ed. Curitiba: Editora da UFPR, 2008., p. 58), “Seu material é o discurso e os objetos que determinados discursos, em cada época, podem dispor ou representar, isto é, como um objeto se torna inteligível e como alguém pode apropriar-se de certos objetos para falar deles”. Sendo assim, a teoria discursiva permite interrogar quais discursos se constroem acerca da sexualidade do idoso, o que, em última instância, leva a refletir quem é o sujeito idoso atual, que surge como objeto de discursos, como os da medicina preventiva, geriátrica, nutricional entre outros.

O método de análise foucaultiano parte do pressuposto de que o discurso é apreendido na dispersão (FOUCAULT, 2008FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ). Nesse percurso, o autor primeiro questiona a unicidade da obra (normalmente, tomada como documento de análise), em seguida problematiza a relação que se faz do que é enunciado em relação ao já-dito e propõe que, em vez de nos subordinarmos a uma predeterminação do dito ao já-dito, é preciso aferir o que é dito a esse todo anterior a ele. Do ponto de vista metodológico, para recobrir essa dispersão, devem ser construídas séries de enunciados que, aparentemente, não têm relação entre si, e o analista descreverá essas relações. Desse modo, entender a sexualidade do idoso atualmente implica mais que buscar um ou dois textos que tratem do assunto. É em meio a uma dispersão que o discurso pode ser localizado e descrito.

De acordo com Fischer (2012FISCHER, R. M. B. Na companhia de Foucault: multiplicar acontecimentos. In: FISCHER, R. M. B. Trabalhar com Foucault: arqueologia de uma paixão. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. p. 21-32., p. 26),

Nada em Foucault se resolve pela distinta clareza das coisas ditas e das práticas institucionais: há que problematizar, nos diferentes campos do saber, o que vivemos no presente; melhor, os modos dispersos pelos quais nos tornamos a diferença que hoje somos. Veremos que Foucault, no movimento permanente de sua filosofia, nos falou sempre disso: como (cheguei) chegamos a ser a diferença que (sou) somos agora?

Como parte da interrogação “quem é o idoso hoje?”, é possível questionar como a sexualidade do idoso atual (parte da constituição de sua subjetividade) é representada discursivamente. Em uma tensão entre a dispersão e a sistematização das regularidades, a série enunciativa ora analisada é composta por 9 textos de variados gêneros e que circulam em diferentes espaços sociais, mas que têm em comum tocar na questão da sexualidade do idoso: duas campanhas publicitárias, um folder de conscientização, um ensaio fotográfico, um livro sobre a velhice, uma reportagem online, uma piada, um vídeo e trechos de entrevistas com idosos.

A primeira sequência enunciativa é um anúncio publicitário produzido em agosto de 2009 para divulgação da marca Havaianas. Avó e neta estão sentadas à mesa em um restaurante conversando:

Sequência 1

Avó: Não acredito que você veio para o restaurante de chinelo.

Neta: Deixa de ser atrasada, né vó! Isso não é chinelo, é Havaianas, Havaianas Fit (mostrando o pé calçado com o produto), dá pra usar em qualquer lugar.

Avó: Que é bonitinha, é. (entra o ator Cauã Reymond)

Neta (olhando para o rapaz): Olha lá vó...

Avó: É aquele da televisão. Você devia de arrumar um rapaz assim pra você. Neta: Ah, mas deve ser muito chato casar com famoso, né? Avó: Mas quem falou em casamento? Eu to falando em sexo...

Neta: Vó!

Em relação à visualidade, tem-se uma idosa prototípica do ideal de velho, quase estereotipada a figura da avozinha, com cabelos brancos. Mas tem algo que rompe com o ideal do velho assexuado: o fato de ela falar de sexo. Não está representada tendo relações ou falando de si, mas a questão sexual já faz parte de seu repertório. Apesar de projetar na neta, a idosa está voltada para questões da vivência da sexualidade. E não se trata de uma sexualidade vivida dentro do casamento: “Não estou falando de casar, estou falando de sexo”.

A segunda sequência enunciativa trata do comercial do creme fixador de dentaduras da marca Corega.

Sequência 2

Idosa (sentada em um sofá): Tem gente que acha que a vida muda muito quando se usa dentadura. Nada disso, eu e as minhas amigas saímos sempre. Vamos comer, passear (em um cinema) dar risada (as três amigas andando em shopping) e agora com Corega, eu faço tudo tranquila. (imagem das amigas em uma mesa do shopping, paquerando homens em uma outra mesa. Um deles pisca para elas)

Idosa - Com Corega eu me sinto bem para fazer o que quiser, o que quiser mesmo. (Ela ri).

Aqui não se tem, visualmente, a figura da avozinha. Ela usa dentadura, é uma idosa, mas é uma pessoa com cabelos coloridos e não brancos, usa roupas modernas e não está representada em meio à família. Enquanto a primeira idosa estava lanchando com a neta, a segunda está sozinha e depois vai passear com as amigas. Observa-se a presença de práticas típicas do ideal do novo idoso: ele se cuida, aparenta ser mais jovem do que realmente é, passeia, interage para além do ambiente familiar, tem amigos, tem vida própria, faz compras. Também se observa a insinuação de uma vida sexual (as três amigas se encontram com três idosos). A sexualidade está insinuada, mas já não é sugerida para outrem: é vivida pela idosa.

A próxima sequência enunciativa é o folder de uma campanha americana que se chama Safe sex for seniors, de 2012. Ela foi desenvolvida em vista do aumento do número de idosos aidéticos. A explicação que se tem, na mídia em geral, é que quando eles chegam na terceira idade e são incitados a ter uma vida sexual ativa, usar camisinha não é uma prática de suas vidas sexuais. Com isso, eles têm relações sem prevenção e o índice de aidéticos na terceira idade aumenta muito. Nesse folder, foram colocados idosos simulando poses do Kama Sutra.

Sequência 3

Figura 1
Safe Sex for Seniors

Para os fins analíticos, essas imagens são vistas em correlação com os demais enunciados que compõem o corpus discursivo destas reflexões. Em outras palavras, uma vez que se considera, como já exposto, a existência de uma árvore de enunciação derivativa que gravita em torno do enunciado-acontecimento “o novo idoso é ativo”, as imagens constantes do referido folder criam uma espécie de escala com os textos anteriores, ao mesmo tempo que se relacionam com os seguintes. Assim, no primeiro, a sexualidade é projetada no outro; no segundo, é representada no idoso, mas insinuada; então, chega-se a um ponto em que a sexualidade é do idoso, vivida pelo idoso e demonstrada.

A existência dessa escala, entretanto, não supõe que os enunciados dessa série estariam interligados por uma sequência temporal, tampouco seria o caso de se escavar algo do tipo, haja vista que a proposta de análise discursiva posta em prática prescinde da necessidade de se buscar uma origem dos fatos discursivos. O que conta é o “efeito de acúmulo” (FOUCAULT, 2008FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ) que a análise faz aparecer, ou seja, a conservação do enunciado-acontecimento “o novo idoso é ativo” no interior do quadro enunciativo sob análise. Essa conservação, na esteira de Foucault, aponta para o fato de que um enunciado sempre atualiza outros e permite rastrear o uso que é feito desse enunciado por determinadas instituições e por outros discursos.

Ainda é possível ampliar essa escala e passar para o ensaio feito em 2004 por uma fotógrafa holandesa, Marrie Bot, em que se retrata a sexualidade na terceira idade.

Sequência 4

Figura 2
Idosos no quarto

Figura 3
Idosos na cama

Nele, não estão representadas as posições do Kama Sutra, mas não se tem posições insinuadas. São idosos nus, nos seus quartos, nas suas camas, em vias de concretizar o ato sexual.

Esses enunciados emergem e circulam e contrariam um saber de que o idoso não teria vida sexual ou seria assexuado. Em oposição a isso, surge a figura do novo idoso como aquele que tem uma vida sexual ativa, mas existe algo que sugere que falar da vida sexual na terceira idade é um tabu. A publicidade toca na questão da sexualidade idosa, mas faz isso de forma sutil, o que pode ser um indício de que há algumas interdições no tratamento dessa temática. Essa suposição pode ser reforçada se pesquisada a recepção do público e os desdobramentos do comercial das Havaianas: houve tanta crítica e reclamações, que a empresa optou por retirar o comercial da rede televisiva e mantê-lo apenas no site youtube (COMERCIAL HAVAIANAS).

Outra sequência enunciativa que indica essas práticas regradas para a objetivação da sexualidade do idoso é o título do livro Quebrando o silêncio: uma conversa sobre bem-estar, tabus e intimidade depois dos 60 anos. O título desse livro sugere que entre os tabus que envolvem a terceira idade estariam a intimidade e, consequentemente, a sexualidade. Essa “verdade” pode ser posta em questionamento, tal qual Foucault (2004FOUCAULT, M. História da Sexualidade I. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.) se questionou sobre a sexualidade em geral. Diante de um discurso que sustentava haver uma repressão da sexualidade, o autor, ao escavar diversos momentos históricos, constata que o sexo não era reprimido ou interditado, mas discursivizado dentro de um dispositivo da sexualidade que regulava as formas de dizer sobre ele. Falar sobre o sexo estava regulado, mas não era interditado. Embora Foucault (2006) passe a observar o funcionamento do que ele chama de um “supersaber”5 5 Por “supersaber, Foucault compreende um saber excessivo, ampliado, que é, ao mesmo tempo, intenso e extenso da sexualidade, não no plano individual, “mas no plano cultural, no plano social, em formas teóricas ou simplificadas” (FOUCAULT, 2006, p. 58). sobre a sexualidade humana, na articulação disso com a relação entre velhice, subjetividade e sexualidade, é oportuno interrogar se a sexualidade na terceira idade é de todo posta em discurso, se ainda é recoberta por certo “tabu do objeto”, tal como Foucault (1999) considerou quando de suas reflexões a respeito de haver uma ordem discursiva que se sobrepõe aos sujeitos quando falam sobre sua sexualidade, se existiria uma luta contra essa interdição ou, enfim, se haveria uma posição de sujeito contrária ao discurso que advém do enunciado-acontecimento “o novo idoso é ativo”.

Nesse sentido, dando continuidade às análise das sequências enunciativas, a próxima é a matéria “Casais da terceira idade falam sobre a importância do sexo”, da qual se extraem os seguintes excertos:

Sequência 5

Se a idade traz algum problema de saúde que limita a prática sexual, o idoso deve procurar um médico. [...] Já os homens precisam de mais tempo para chegar a uma ereção completa. Porém, com a saúde em dia, nem será necessário recorrer a remédios para ter um pênis ereto. “O que ocorre é que ele precisará de um intervalo maior entre uma relação sexual e outra. O idoso não consegue mais ter três ereções ao dia”, diz o médico. (grifos nossos)

No movimento em que se trata da virilidade, funciona uma ciência sexual que, além de esquadrinhar a sexualidade do idoso, quantifica-a. Toma como um padrão três ereções por dia e analisa se o sujeito consegue se manter nesse padrão de normalidade. Percebe-se, portanto, que em campos como a publicidade e a arte, a sexualidade do idoso é discursivizada como presente, mas aparece de forma sutil, insinuada. O detalhamento dessa sexualidade ocorre com foco no ato sexual em si, a partir do olhar da medicina. Esse campo de saber funciona como um dispositivo, parte do dispositivo da sexualidade, que está autorizado a falar disso na medida em que despessoaliza o sujeito e analisa corpos e estatísticas. Essa teia de saberes e poderes, a seu modo, sustenta o ideal de uma sexualidade ativa na velhice.

Em oposição a isso, diversos textos circulam na rede, como aquele apresentado na figura 4 a seguir (Sequência 6). A piada em forma de anúncio lida com as diversas verdades a respeito da sexualidade idosa de forma humorística; desse modo, abandona o modo direto e objetivo de dizer e constrói sentido de outra forma, mais próxima do que se nomearia como paródia. De acordo com Sant´Anna (2002, p.28), “Na paródia, busca-se a fala recalcada do outro”. A possibilidade da leitura da voz do outro em meio ao dito é responsável por esse feito de deslocamento próprio da paródia e permite que se tenha um texto com memória de dois. Neste caso, em um contexto em que circula predominantemente o ideal de um idoso saudável e com uma vida sexual ativa, faz-se um destronamento que o torna risível confrontando-o com a memória do idoso doente e impotente. Para destronar o que se validou como verdade, o humor traz à pauta discursos outros, que foram sendo silenciados ou esquecidos na bruma da história.

Esse efeito de destronamento, entretanto, é pontual. Ao descrever o carnaval como um mundo às avessas, Bakhtin (1999BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. Tradução de Iara Frateschi Vieira. São Paulo- Brasília: HUCITEC, 1999.) explica que no fenômeno da carnavalização a ordem era invertida, as autoridades destituídas e essa inversão tornava a situação risível. Como a festa era pontual, no restante do ano, aquilo que ali era subvertido e objeto de riso consistia na lei e na ordem a que as pessoas estavam submetidas. No caso da piada sobre o idoso, por um momento de riso, abre-se espaço para uma verdade que diz sobre a sua ausência de virilidade. Mas o fato de isso precisar ser dito a partir de mecanismos de humor indica que há um outro saber circulando como verdadeiro: o da vida sexual ativa.

Sequência 6

Figura 4
Garoto de Programa da 3ª idade

O conjunto das sequências enunciativas descritas demonstra que existem diversos saberes disputando um espaço na constituição de uma verdade sobre a sexualidade do idoso. Há um estereótipo do velho assexuado, o discurso da gerontologia que fala de uma velhice ativa e de uma vida sexual ativa na terceira idade. A área médica que esquadrinha o corpo, a potência, a virilidade, a capacidade de coito na terceira idade, e o campo do humor que, além de pôr em xeque o ideal da vida sexual ativa na terceira idade, mostra que isso não está interditado, mas que a sexualidade é vivida e falada segundo certas restrições e em determinados espaços.

Dessa forma, no campo da objetivação, delineia-se uma produção discursiva heterogênea que ou insiste em uma vida sexual ativa ou, via humor, desconstrói esse enunciado, fazendo, assim, uma espécie de resistência ao discurso que parece se mostrar hegemônico na atualidade. Essa produção é pautada em uma estratégia na qual a sexualidade está centrada no coito (quando ele é possível ou quando não é), com foco na virilidade, em práticas eróticas paralelas, que é caso do ensaio fotográfico de Marrie Bot, ou na sedução, como encenam as personagens da campanha publicitária da marca Corega. Além disso, centraliza-se em uma técnica que esquadrinha uma ciência sexual e que insiste na potência, na quantidade de ereção e no vigor do corpo.

Como um movimento discursivo distinto e complementar à objetivação, existe a subjetivação. Ao mesmo tempo que os dispositivos fazem circular certos saberes sobre a sexualidade do idoso, os próprios sujeitos com mais de sessenta anos, deparando-se com essas verdades, trabalham sobre elas para se constituírem. Se existe uma força de coerção atuando para que os idosos assumam uma vida sexual ativa, cabe, da mesma forma, uma resistência. De acordo com Foucault (2014cFOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: FOUCAULT, M. Ditos e escritos, volume IX: genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014c. p. 118-140. , p. 132),

Uma relação de poder, em compensação, se articula sobre dois elementos que lhe são indispensáveis para ser justamente uma relação de poder: que o ‘outro’ (aquele sobre o qual ela se exerce) seja bem reconhecido e mantido até o fim como sujeito de ação; e que se abra, diante da relação de poder, todo um campo de respostas, reações, efeitos, inversões possíveis.

Nessa perspectiva, o sujeito tem sempre um espaço de movência dentro da teia de poder. Então, é possível questionar como o idoso se subjetiva em relação à sua sexualidade.

Da mesma reportagem em que se retirou a fala do médico, que consta na sequência 5, encontra-se o depoimento de uma idosa que diz o seguinte:

Sequência 7

‘Nossa vida íntima se desenvolve com naturalidade, porque nutrimos nossos sentimentos diariamente. Mesmo diante dos problemas, mantemos nossos carinhos e beijos. O sexo é consequência’, diz Maria Angela.

A forma como a idosa discute sua sexualidade aparece no mesmo texto em que o médico faz uma descrição detalhada e impessoal da sexualidade, mas em termos de posicionamento funciona de forma diametralmente oposta. Falando do lugar de pessoa idosa que comenta sua sexualidade, ela demonstra uma visão não centrada no ato, mas sim na sua subjetividade.

Essa mesma abordagem pode ser observada em trechos de entrevistas de idosos maringaenses. Tais entrevistas foram realizadas como parte da pesquisa de doutorado Subjetivação de idosos em contextos de estudos na UNATI-UEM (BAZZA, 2016BAZZA, A. B. Subjetivação no discurso do idoso em contexto de estudos na UNATI-UEM. 2016. 132 f. Tese (Doutorado em Letras) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016b. ). Sua realização foi avaliada e autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição, mediante diversos requisitos, entre eles: a autorização por escrito de cada informante para a publicação de seu depoimento e o anonimato dessas pessoas nas publicações. Dessa forma, cada depoimento destacado segue identificado apenas pelas letras S (indicando sujeito) e o número que diferencia um sujeito de outro.

Sequência 8

S1 - A minha vida sexual é muito lenta hoje. Não é mais aquela. Eu acho que tem muito a pesquisar sobre isso aí, porque cada um é cada um. A nossa é mais companheirismo, hoje. Vida sexual lenta mesmo.

S2 - O pessoal floreia um pouco. Eu acho que a vida sexual, no meu modo de pensar, do casal não é toda aquela fantasia que o pessoal faz, porque nós temos altos e baixos. E o pessoal, por alguns cinco minutos, dez minutos, meia hora, um dia acha que a vida é plena daquele jeito. Não é. Tem altos e baixos. Tudo é moderado. Com a idade a gente perde o vigor, perde o estímulo também. Só que não vou deixar de ter, não deve deixar de ter. E se buscar algum recurso, eu acho viável.

S3 - A parte da sexualidade vai caindo, é outros interesses. Dançar, às vezes é melhor que transar, entende? Já muda o sentido da coisa com o tempo.

S4 - Eu acho que é mais mito, não é bem mito, é mais propaganda, porque pro pessoal não é mais assim tão importante como a televisão quer mostrar, não é mais aquela... [...] Menos importante, tem coisas mais importantes do que isso. (BAZZA, 2016BAZZA, A. B. Subjetivação no discurso do idoso em contexto de estudos na UNATI-UEM. 2016. 132 f. Tese (Doutorado em Letras) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016b. b)

A análise das sequências acima indica que a subjetivação da sexualidade do idoso está atravessada pela ciência sexual, porque eles assumem a ideia do vigor, da quantidade. O sujeito fala de si, confessa sua verdade sobre o sexo e o faz a partir de elementos que esquadrinham a sua frequência sexual quantitativamente. Sendo assim, ele faz parte de uma ciência sexual, calcada nos saberes do dispositivo da clínica médica. Isso se marca linguisticamente em termos como: pesquisado, vigor e estímulo.

Ainda assim, existe uma diferença: apesar de disseminada nos processos de objetivação, a representação de uma sexualidade vigorosa e ativa na velhice é refutada pelos sujeitos. Enquanto o processo de objetivação trata de uma vida sexual ativa recortando dela o ato sexual, o coito, e focando na virilidade, no processo de subjetivação a sexualidade é discursivizada como ativa, mas abarca outros elementos, tais como a afetividade, os anseios, e outros prazeres desejáveis. Os idosos, ao se subjetivarem como sujeitos ativos, fazem-no pautados em uma ética segundo a qual sua sexualidade e, também, sua subjetividade são compreendidas a partir de uma estética de existência, que em termos de estratégias do dispositivo da sexualidade, se não se desprendem totalmente de uma ciência sexual, talvez se aproximem em alguma medida de uma arte erótica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se, neste estudo, descrever as diferentes formas de discursivização da sexualidade na terceira idade. Para tanto, foram levantados recursos teóricos, elementos da análise de discurso foucaultiana como: objetivação, subjetivação e dispositivo da sexualidade. A série enunciativa analisada foi constituída por textos de autoria diversa e colhidos em variadas áreas de circulação. Eles têm em comum o fato de tratarem da questão da sexualidade na terceira idade.

Das sequências enunciativas em que se fala sobre os idosos e a sexualidade idosa, pôde-se observar a tônica no discurso sobre a vida sexual ativa, pautada em uma estratégia que se vale da ciência sexual, em conjunção com a arte erótica, pela qual a produção da sexualidade passa por questões de ordem social, emocional e estética, e com traços de humor, que dá visibilidade à contradição desse discurso. Diante de uma regulação discursiva que interdita certas formas de abordar essa temática, a impessoalização por meio de descrição compartimentada de corpos atua como técnica que libera e incita o esquadrinhamento dessa sexualidade. O dispositivo da clínica médica oferece essa técnica, bem como faz circular os saberes derivados dela.

Nas sequências enunciativas em que os próprios sujeitos com mais de sessenta anos comentam sobre a sexualidade nessa fase da vida, é possível observar a subjetivação, ou seja, o processo segundo o qual essas pessoas entram no jogo discursivo e assumem uma subjetividade. Apesar de atravessada por uma ciência sexual, essa produção promove deslocamentos no discurso produzido na objetivação. Isso é possível por técnicas que, no dispositivo da sexualidade, aproximam-se de uma arte erótica e, no processo de constituição da subjetividade, apontam um trabalho ético e estético do sujeito.

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  • 3
    Projeto institucional que teve início em 2010, no Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Estadual de Maringá, e congrega pesquisas em desenvolvimento realizadas pelo coordenador, Pedro Navarro, por Adélli Bortolon Bazza, coautora deste artigo e por orientandos de iniciação científica, de mestrado e de doutorado da referida instituição. Parte das discussões desse projeto está sendo financiada pelo CNPq, na forma de bolsa de produtividade em pesquisa, desde 2011.
  • 4
    Esse seria um enunciado geral, que traz as características de uma prática que vai se desdobrar em outros campos de saber, como os que originaram os discursos analisados neste texto.
  • 5
    Por “supersaber, Foucault compreende um saber excessivo, ampliado, que é, ao mesmo tempo, intenso e extenso da sexualidade, não no plano individual, “mas no plano cultural, no plano social, em formas teóricas ou simplificadas” (FOUCAULT, 2006, p. 58).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    29 Jul 2018
  • Aceito
    04 Maio 2019
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