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EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS À LUZ DATEORIA COGNITIVA DA METÁFORA: EVIDÊNCIA DE PESQUISA

Idioms In the Light of the Cognitive Theory of Metaphor: Research Evidence

Expresiones idiomáticas bajo la luz de la teoría cognitiva de la metáfora: evidencia de investigación

Resumo

Este artigo apresenta resultados de um estudo que analisou mapeamentos metafóricos e metonímicos formados por vinte aprendizes de português brasileiro como língua estrangeira (L2), falantes de espanhol como língua materna (L1), para duas expressões idiomáticas (EIs) em português, “meter os pés pelas mãos” e “ter mão leve”, como também a possível influência do nível de opacidade das EIs nos processos de apreensão de seus significados. Os dados foram coletados através de entrevistas individuais, por meio da técnica de protocolos verbais. Os achados do estudo reforçam a tese de que o conhecimento metafórico influencia a compreensão e o processamento on-line de EIs em L2 (GIBBS, 1995; KÖVECSES; SZABÓ, 1996; KAZEMI et al., 2013), ao mesmo tempo que mostram que tais processos são também influenciados por dois fatores adicionais: transparência versus opacidade entre EIs na L1 e na L2, e singularidade versus multiplicidade de significados entre elas.

Palavras-chave:
Expressões Idiomáticas; Metáfora Cognitiva; Metonímia; Opacidade Idiomática; L2

Abstract

This paper shows results of a study that analyzed some metaphoric and metonymic mappings. These were composed by twenty students of Brazilian Portuguese as an foreign language (L2) - namely, Spanish speakers as mother language (L1) - concerning two specific Brazilian Portuguese idioms (IDs), “meter os pés pelas mãos (to drop the ball) and “ter mão leve” (to be light-fingered; stealing unnoticed). In addition, th study analyzed a possible influence of the opacity level in the IDs with regard to the meaning apprehension process. As methodology, this research used individual interviews, through verbal protocols, to collect the data. The study findings corroborate the thesis where metaphoric knowledge influences online comprehension and processing of idioms in an L2 (GIBBS, 1995; KÖVECSES; SZABÓ, 1996; KAZEMI et al., 2013). Furthermore, those findings manifest two additional factors that influence both processes: transparency versus opacity levels between L1 and L2 idioms, and singularity versus multiplicity of meaning between them.

Keywords:
Idiom inferencing; Cognitive Metaphor; Metonymy; Idiom Opacity; L2

Resumen

Este artículo presenta resultados de un estudio que ha analizado mapeos metafóricos y de metonimia formatos por veinte aprendices de portugués brasileño como lengua extranjera (L2), hablantes de español como lengua madre, para dos expresiones idiomáticas (EI) en portugués, “meter os pés pelas mãos” y “ter mão leve”, así como la posible influencia del nivel de opacidad de las EI en procesos de aprensión de sus significados. Los datos fueron coleccionados a través de entrevistas individuales por medio de la técnica de protocolos verbales. Los hallazgos del estudio refuerzan la tesis de que conocimiento metafórico influencia la comprensión y el procesamiento en línea de EI en L2 (GIBBS, 1995; Kövecses; SZABÓ, 1996; KAZEMI et al., 2013), al mismo tiempo que muestran que tales procesos también son influenciados por dos factores adicionales: transparencia versus opacidad entre EI en L1 y en L2, y singularidad versus multiplicidad de significados entre ellas.

Palabras clave:
Expresiones idiomáticas; Metáfora Cognitiva; Metonimia; Opacidad idiomática; L2

1 INTRODUÇÃO

Desde que a Teoria Cognitiva da Metáfora (TCM) começou a tomar corpo, nos anos finais da década de 70, o modo como as expressões idiomáticas (EIs) têm sido compreendidas e analisadas tem passado por mudanças significativas. Antes do desenvolvimento da TCM, empregava-se uma abordagem de cunho fundamentalmente linguístico, na qual a análise de características como indivisibilidade, insubstituibilidade e invariabilidade das EIs era o mais importante. Na medida em que a linguística retoma o interesse pela relação entre cognição e linguagem, desvelar as metáforas e metonímias subjacentes às EIs tornou-se um objeto de estudo de grande interesse, como, por exemplo, os estudos agora já clássicos da literatura sobre EIs de Gibbs e colegas realizados ao longo da década de 90 (GIBBS; NAYAK; CUTTING, 1989GIBBS, R.; NAYAK, N. P.; CUTTING, C. How to kick the bucket and not decompose: Analyzability and idiom processing. Journal of Memory and Language, 28, p. 576-593, 1989.; GIBBS; O’BRIAN, 1990; GIBBS, 1992; GIBBS et al., 1997) bem o comprovam.

Enquanto os estudos de Gibbs e colegas tiveram como objeto de análise sujeitos falantes nativos de língua inglesa avaliando EIs exclusivamente em sua língua materna (L1), eles despertaram o interesse de estudiosos para um novo contexto de investigação: o processamento de EIs em língua estrangeira, com base em mapeamentos metafóricos e metonímicos (KÖVECSES; SZABÓ, 1996; LAUFER, 2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000.; KAZEMI et al., 2013KAZEMI, S. A.; ARAGHI, S. M.; BAHRAMY, M. The Role of Conceptual Metaphor in Idioms and Mental Imagery in Persian Speakers. International Journal of Basic and Applied Linguistics, 2, 1, p. 38- 47, 2013.).

O trabalho de pesquisa aqui apresentado também focaliza no processo de compreensão de EIs por aprendizes de uma língua estrangeira. Tendo como sujeitos falantes de espanhol como L1 e de português como L2, o primeiro objetivo foi verificar se os processos de inferência de EIs na língua-alvo seriam guiados por metáforas conceptuais, conforme relatado por estudos prévios sobre compreensão de EIs na L1, e também, ainda que em menor grau, sobre compreensão de EIs em L2. Tendo elegido entrevistas individuais com os 20 participantes para a coleta de dados, optamos pela análise de somente duas expressões - “meter os pés pelas mãos” e “ter mão leve” - a fim de poder compatibilizar uma análise quantitativa minuciosa dos dados com o cronograma estabelecido para o estudo.

Visando a classificar as EIs quanto ao nível de opacidade em relação à L1 dos falantes, foi utilizada a classificação de quatro faixas proposta por Laufer (2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000., p. 188): à EI “meter os pés pelas mãos” atribuiu-se a categoria de “similaridade parcial de forma”, enquanto à EI “ter mão leve”, a categoria de “diferença distribucional”. Tal delimitação permitiu, assim, buscar o segundo objetivo do estudo, ou seja, verificar se haveria influência do nível de opacidade das EIs nos mapeamentos metafóricos e metonímicos estabelecidos por esses aprendizes - ou, dito de outra forma, no processo de apreensão do significado das EIs sob análise.

O texto está subdividido em seis seções. Nas duas seções seguintes, destacamos a base teórica do estudo, iniciando com a apresentação dos conceitos-chave de expressão idiomática sob os preceitos da TCM e finalizando com a síntese de trabalhos de linguistas que buscaram comprovar a validade desse conceito na prática. Após a apresentação dos fundamentos teóricos, a metodologia empregada no estudo é descrita em maior detalhe, e em seguida procede-se à apresentação e à análise dos dados. Os achados do estudo são avaliados na última parte do artigo, tendo como suporte a literatura sobre o processamento de EIs a partir de uma visão cognitivista da linguagem.

2 TEORIA COGNITIVA DA METÁFORA E EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS

A tese principal que sustenta a Teoria Cognitiva da Metáfora de Lakoff e Johnson (1980LAKOFF, G; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: The University of Chicago Press, 1980., 2003) é a compreensão de que a metáfora não é somente uma questão de linguagem, mas sim de que os processos do pensamento são em grande parte metafóricos - ou seja, o sistema conceptual humano é metaforicamente estruturado e definido.

Em outras palavras, empregamos metáforas conceptuais em nossa linguagem cotidiana porque essas refletem o modo como nossos pensamentos estão estruturados, e essa estrutura é formada, em grande parte, pelas experiências que vivenciamos desde o início da vida. Um dos exemplos clássicos dos autores para mostrar essa tese é a metáfora conceptual “DISCUSSÃO é GUERRA”,1 1 As metáforas conceptuais são apresentadas através de um mapeamento estruturado, no qual as letras maiúsculas representam DOMÍNIO-ALVO É DOMÍNIO-FONTE, os dois sendo, respectivamente, “discussão” e “guerra”. da qual derivam enunciados correntes na linguagem cotidiana, como “seus argumentos são indefensáveis; o candidato perdeu muitos pontos após a discussão sobre violência urbana; nenhum dos debatedores aceitou render-se ao ponto de vista do outro”. Nesse contexto, esclarecem os linguistas, a explicação para a compreensão da metáfora conceptual não está no fato de “discussão” ser parecido com “guerra’, mas sim no fato de DISCUSSÃO estar parcialmente estruturado e compreendido em termos de GUERRA em nosso sistema conceptual. (LAKOFF; JOHNSON, 2003LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Cambridge: Cambridge University Press, 2003., p. 5-7).

Um segundo conceito fundamental reavaliado pelos autores a partir da Teoria Cognitiva da Metáfora é o de metonímia, especialmente os casos de sinédoque, ou seja, os que estabelecem relações “parte-todo”. Um dos exemplos empregados pelos linguistas para ilustrar essa noção é a relação “A FACE (ROSTO/CARA)2 2 Por se tratar de tradução livre, a palavra face em inglês foi traduzida por “rosto” e “cara”, respectivamente, já que esses são os termos empregados nos enunciados em português correspondentes. PELO TODO”, e suas manifestações nos enunciados “Ela é só um rosto bonito” e “Precisamos de novas caras por aqui”, em que cada um faz referência a um aspecto diverso da parte que é representada pelo todo.

Assim, os autores argumentam que a escolha dos diferentes aspectos das partes empregadas para representar o todo, na linguagem do dia a dia, é motivada pelo aspecto específico que desejamos salientar, o que significa que os conceitos metonímicos estruturam não apenas a linguagem, mas também nosso pensamento, atitudes e ações, sendo fundamentados em nossas experiências - exatamente como as metáforas conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 2003LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Cambridge: Cambridge University Press, 2003., p. 37-38).

Com relação às expressões idiomáticas, a TCM diverge do que denomina da visão tradicional, que as classifica como itens lexicais cuja metaforicidade foi perdida ao longo do tempo, argumentando que elas não existem como unidades semânticas distintas no sistema lexical, mas sim “refletem sistemas coerentes de conceitos metafóricos” (GIBBS, 1997GIBBS, R.; BOGDANOVICH, J.; SYKES, J.; BARR, D. Metaphor in idiom comprehension. Journal of Memory and Language, 37, p.141-154, 1997., p. 2).

Kövecses e Szabó (1996) ilustram essa ideia por meio de EIs relacionadas a vários aspectos do fenômeno do fogo, como acender uma faísca/centelha (spark off), extinguir (snuff out) e colocar lenha na fogueira (fan the flames). Contextualizando-as em frases como (i) O assassinato acendeu a faísca de revoltas nas maiores cidades, (ii) O assaltante de banco extinguiu com a vida de Sam e (iii) O palestrante colocou lenha na fogueira da platéia entusiasmada, os linguistas mostram que é o conceito de fogo que participa do processo de criação das EIs, e não as palavras individuais em si mesmas. As palavras individuais, explicam, “meramente revelam esse processo mais profundo de conceitualização”. (KÖVECSES e SZABÓ, 1996, p. 330). Ou autores concluem, assim, que é possível fazer uma generalização sobre o comportamento das EIs, considerando que a maioria delas surgem do nosso conhecimento mais geral do mundo, corporificado em nosso sistema conceptual.

Exatamente por advirem do nosso sistema conceptual é que é coerente afirmar que as EIs são motivadas e não arbitrárias. O termo-chave para poder relacionar a ideia de EIs como estruturas linguísticas motivadas é o de esquema de imagens, criado por Lakoff e Johnson no seminal “Metáforas da Vida Cotidiana” (1980LAKOFF, G; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: The University of Chicago Press, 1980.). Ao enfatizar a natureza não-proposicional dos conceitos, argumentam que esses são produtos análogos às nossas experiências sensório-motoras, a partir das quais derivam esquemas de imagem de natureza visual, cinestésica, auditiva e táctil. Assim, esquemas de imagem são definidos como estruturas análogas dinâmicas que surgem da percepção, movimentos corporais, manipulação de objetos e experiências de força (MANDLER; CÁNOVAS, 2014, p. 2).

Antes de finalizar esta seção, resta ainda mencionar o conceito de imagem mental de Frege (1966FREGE, G. Translations from the philosophical writings of Gottlob Frege. GOACH, P.; BLACK, M. (org.) Oxford, Basil Blackwell, 1966.), retomado por Lakoff (1980aLAKOFF, G; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: The University of Chicago Press, 1980.) para explicar uma subclasse de EIs que denomina de “imagináveis”(imageable idioms). Ainda que o autor entenda que Frege concebia imagens mentais de signos como subjetivas e não-convencionais em uma dada cultura, Lakoff argumenta que pelo menos algumas imagens são convencionais, e que essas são essenciais para a semântica e para pragmática, e, especialmente importante aqui, para a compreensão das EIs imagináveis. Como ilustração, Lakoff recorre as EIs em inglês “to keep at arm’s length” e “to spill the beans”, que significam, respectivamente, manter (algo/alguém) a uma distância segura e revelar um segredo. O linguista argumenta que é exatamente porque as pessoas possuem imagens convencionais sobre ambas as EIs que se pode afirmar que o significado das mesmas não é arbitrário. Ainda que muitos detalhes das imagens mentais sejam vagos ou indefinidos, as características mais salientes são compartilhadas pelos usuários da língua.

3 ESTUDOS SOBRE EIS NA L1 E NA L2

Dentre a série de estudos de Gibbs e colegas sobre a motivação metafórica das EIs mencionados na Introdução, descreveremos aqui somente o de 1990, por entendermos que, dado seu escopo, ele possibilita uma visão geral de todo o trabalho desenvolvido pelo linguista e seu grupo à época. O estudo consistiu, na verdade, de três experimentos que tinham como objetivo comum investigar em que medida as imagens mentais de 25 EIs em língua inglesa, elaboradas por 24 falantes nativos de inglês, seriam similares. As EIs foram subdivididas em cinco temas: raiva, exercício de controle ou autoridade, habilidade de manter segredo, insanidade e revelação. No primeiro experimento, os sujeitos descreveram as imagens mentais associadas a cada uma das expressões, e em seguida responderam a questões detalhadas sobre essas imagens, relacionadas à causa, intencionalidade, modo, consequência, consequência negativa e possibilidade de reversibilidade. Como resultado, os autores encontraram um nível significativo de similaridade entre as imagens criadas para as EIs, a despeito de diferenças na composição lexical dessas.

O segundo e o terceiro experimento foram experimentos-controle. O segundo visava a descartar a possibilidade de que a uniformidade das imagens mentais verificadas no Experimento 1 tivesse ocorrido somente devido ao conhecimento prévio das EIs pelos sujeitos. Os pesquisadores solicitaram a 24 falantes nativos de inglês - diferentes dos do primeiro estudo - que criassem imagens mentais para paráfrases literais das definições das EIs, respondendo às mesmas questões relativas a essas imagens empregadas no experimento 1. Se esse fosse o caso, argumentaram os linguistas, os sujeitos criariam imagens mentais semelhantes às do primeiro experimento. Contudo, as imagens mentais nesse contexto foram bastante díspares entre os sujeitos, mostrando que as imagens convencionais associadas com as EIs não eram somente baseadas nos significados figurados.

Já o terceiro experimento buscava descobrir se a consistência das imagens mentais verificadas no experimento 1 não teria sido causada simplesmente porque as pessoas costumam criar imagens mentais semelhantes para enunciados, sejam elas idiomáticas ou não. Para verificar essa hipótese, os pesquisadores transformaram cada uma das EIs em frases literais - modificando a última parte da expressão, como spill the beans para spill the peas3 3 Spill the beans é uma expressão idiomática que significa revelar um segredo, e cuja tradução literal é “derramar as vagens”. “Spill the peas”, nesse contexto, possui somente significado literal, ou seja, “derramar as ervilhas”. - e solicitaram a outros diferentes 24 sujeitos que construíssem imagens mentais para tais enunciados, respondendo na sequência a questões sobre essas imagens - as mesmas dos experimentos 1 e 2. Conforme previsto pelos autores, houve pouca consistência entre as imagens mentais dos sujeitos para os diferentes grupos de frases literais, as quais não eram restringidas por metáforas conceptuais, resultado em contraste direto com o obtido no Experimento 1.

Assim, frente às evidências obtidas pelos três experimentos, a conclusão geral dos pesquisadores foi de que as EIs não possuem significados predeterminados e não são metáforas mortas. Para eles, “o significado de muitas EIs são determinados pelo conhecimento tácito dos falantes das metáforas conceptuais subjacentes ao significado dessas frases figuradas” (GIBBS; O’BRIAN, 1990GIBBS, R.; O'BRIAN, J. Idioms and mental imagery: The metaphorical motivation for idiomatic meaning. Cognition, 36, 1990., p. 36).

Já a partir da década de 90, investigações sobre a natureza e compreensão de EIs no contexto de uma L2 começaram a ser realizadas, como o estudo de Kövecses e Szabó (1996) descrito a seguir mostra, e desde então ocuparam lugar de destaque na pesquisa, conforme evidenciam, por exemplo, Laufer (2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000.) e Kazemi et al. (2013KAZEMI, S. A.; ARAGHI, S. M.; BAHRAMY, M. The Role of Conceptual Metaphor in Idioms and Mental Imagery in Persian Speakers. International Journal of Basic and Applied Linguistics, 2, 1, p. 38- 47, 2013.).

Kövecses e Szabó (1996) elaboraram um estudo a fim de responder em que medida seria possível facilitar o aprendizado de EIs em língua estrangeira ao usar os fundamentos da TCM. A hipótese principal era de que a motivação semântica das EIs - compreendida pelos linguistas como o conhecimento dos mecanismos cognitivos que constituem a TCM, como metáfora, metonímia e conhecimento convencional - deveria produzir resultados melhores de aprendizado do que a falta dela. Consequentemente, o ensino de estratégias para lidar com a linguagem figurativa auxiliaria os aprendizes de uma L2 a se favorecerem da motivação semântica de determinadas EIs. Os autores apostavam no fato de que se os aprendizes conseguissem compreender o significado de uma EI por eles próprios, eles teriam formado uma relação entre o significado idiomático e as palavras literais, o que os auxiliaria a assimilar a EIs.

As EIs selecionadas para o experimento foram vinte verbos frasais desconhecidos pelos participantes, cujas partículas adverbiais eram ou up (cima) ou down (baixo), como cheer up (animar-se), bring up (trazer algo à tona), run down (desgastar; esgotar) e make up (fazer as pazes). Os sujeitos foram 30 aprendizes húngaros de inglês como L2 com um nível intermediário na língua-alvo, divididos em duas turmas, A e B, e a tarefa consistiu em preencher as partículas adverbiais dos 20 verbos frasais no contexto de uma frase.

Na turma A, o aprendizado das EIs se deu de forma tradicional, com exercícios de memorização, tradução e prática, enquanto na turma B acrescentou-se, a esse aprendizado, a explicação teórica do conceito de metáforas orientacionais, seguida de atividades práticas. Mais de 20 metáforas orientacionais foram identificadas em verbos frasais selecionadas, como, por exemplo, CONCLUSÃO É PARA CIMA (eat up, chew up, give up)4 4 Comer tudo, usar todos recursos; usar algo rapidamente, de modo que nada sobre; desistir. , FELICIDADE É PARA CIMA (feel up, cheer up)5 5 Sentir-se bem/ EI “sentir-se para cima”; animar-se. , e MENOS É PARA BAIXO (run down, cut down, go down)6 6 Esgotar/ desgastar; reduzir o uso; diminuir, ficar menor. Ainda que, de modo geral, a Turma B tenha obtido percentuais superiores de acerto na tarefa de preenchimento das partículas adverbiais, o dado que mais chamou a atenção dos autores foi o fato de que as novas metáforas orientacionais empregadas pelos participantes eram profundamente arraigadas no sistema conceptual da língua inglesa, e a maioria delas também era aplicável ao húngaro, o que poderia sugerir que o melhor desempenho da turma B foi devido à transferência.

Contudo, indagam os pesquisadores, se esse foi o caso, por que a turma A não usou a estratégia de transferência? A resposta poderia estar no fato de que as pessoas precisam estar conscientes da abordagem metafórica antes de colocá-la em uso - ou, dito de outro modo, a simples presença de metáforas conceptuais na mente não parece ser suficiente para o uso ativo no aprendizado de uma língua estrangeira. Desse modo, os aprendizes deveriam ser expostos à noção de metáforas conceptuais antes de serem capazes de usar a estratégia de emprego e descoberta de novas metáforas na língua estrangeira.

Além disso, o fato de as metáforas conceptuais investigadas serem (quase)universais em relação às línguas inglesa e húngara fez com que Kövecses e Sbazó (1996) se questionassem se os dados obtidos no estudo seriam os mesmos caso as metáforas avaliadas fossem dependentes de fatores culturais. No entender dos estudiosos, uma complicação maior, e esperada, é que as as estruturas idiomáticas de uma língua não iriam coincidir com as da outra língua.

O estudo de Laufer (2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000.) investigou o uso de EIs na L2 por 56 universitários hebreus, falantes de inglês como L2, em decorrência do seu grau de similaridade com EIs na L1. A hipótese do estudo era a de que os participantes evitariam traduzir as EIs para a L2, em especial as com maior nível de opacidade com EIs nas L1. Ao serem submetidos a testes de tradução com 20 EIs, nos quais poderiam escolher entre empregar a EI correspondente ou reescrever o significado com suas próprias palavras, a autora encontrou que, diferentemente de sua hipótese inicial, os aprendizes não evitaram traduzi-las. Laufer procura esclarecer o resultado se valendo da TCM: “o pensamento humano é em grande medida metafórico, há metáforas conceptuais básicas comuns à maioria das línguas e, consequentemente, o significado de muitas EIs não é arbitrário, mas conceptualmente motivado” (LAUFER, 2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000., p. 194). Laufer ainda pondera que, mesmo que não aceitemos a noção de que a maioria das EIs nas diferentes línguas seja baseada em metáforas semelhantes, não podemos negar que a categoria “expressões idiomáticas” é familiar para todos os aprendizes. Desse modo, argumenta, EIs na L1 e na L2 são conceptualmente similares, a categoria está presente em ambas as línguas, e um aprendiz espera encontrá-las nos dois contextos linguísticos (p. 194).

Por fim, o trabalho de Kazemi et al (2013KAZEMI, S. A.; ARAGHI, S. M.; BAHRAMY, M. The Role of Conceptual Metaphor in Idioms and Mental Imagery in Persian Speakers. International Journal of Basic and Applied Linguistics, 2, 1, p. 38- 47, 2013.) teve como objetivo avaliar se os achados de Gibbs e O’Brian (1990GIBBS, R.; O'BRIAN, J. Idioms and mental imagery: The metaphorical motivation for idiomatic meaning. Cognition, 36, 1990.) citados no início desta seção seriam também aplicáveis aos processos de compreensão de outras comunidades de fala. Tendo como participantes vinte iranianos falantes de Farsi como L2, provenientes de diferentes regiões e com idades diferentes, um segundo objetivo do estudo foi “explorar se pessoas de sociedades, culturas e línguas diferentes compreendem as EIs de suas línguas do mesmo modo” (KAZEMI et al., 2013KAZEMI, S. A.; ARAGHI, S. M.; BAHRAMY, M. The Role of Conceptual Metaphor in Idioms and Mental Imagery in Persian Speakers. International Journal of Basic and Applied Linguistics, 2, 1, p. 38- 47, 2013., p. 38). Para a coleta de dados foram empregados questionários com 20 EIs, subdivididas nas seguintes categorias: raiva, vaidade, verbosidade, correr riscos. As descrições das imagens mentais dos participantes foram analisadas por suas características gerais, e os pesquisadores detectaram o emprego de metáforas conceptuais durante o processo de compreensão das EIs, destacando que as imagens mentais formadas para as EIs dentro de cada grupo estavam estruturadas “por um conjunto muito pequeno de metáforas conceptuais, no qual as categorias em um domínio-alvo - por exemplo, raiva, vaidade - eram mapeadas em um domínio-fonte específico - i.e., conhecimento das pessoas sobre contêineres, calor, e gravidade.” (KAZEMI et al., 2013, p. 46).

Na seção seguinte, apresentamos a metodologia do estudo aqui descrito.

4 METODOLOGIA

Vinte falantes nativos de espanhol e falantes de português como L2 participaram voluntariamente do estudo. Eles eram intercambistas em uma universidade federal do sul do Brasil, provenientes em sua grande maioria da América do Sul. Todos possuíam fluência na língua portuguesa.

O instrumento para a coleta de dados consistia da apresentação de duas EIs em português aos participantes, desprovidas de contexto, seguida de questionamentos relativos à descrição de quaisquer imagens mentais ou significados desencadeados pelas expressões.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais, com o emprego da técnica de protocolos verbais, de forma a permitir que as respostas oferecidas pelos participantes fossem exploradas da melhor maneira possível. Em uma produção mais espontânea do que a obtida através de outros meios de registro de processos mentais - como, por exemplo, relatos escritos e questionários -, os protocolos verbais foram fundamentais neste estudo. O entrevistador fazia tantas questões quantas considerasse necessárias a fim de compreender se o(s) significado(s) atribuído(s) à EI em português derivava(m) de uma imagem mental formada pelo participante à medida que ele lia a expressão ou se esse era relacionado a qualquer outra EI, ou do espanhol ou de outra língua estrangeira que não português.

As entrevistas eram gravadas, e a transcrição dos dados permitia, por fim, que o pesquisador traçasse os mapeamentos metafóricos e/ou metonímicos formados pelos participante durante seu processo de compreensão das EIs. O modo como tais mapeamentos foram realizados pode ser verificado pelas análises de segmentos de protocolos verbais apresentados na seção seguinte, de “Apresentação e análise de dados”.

Visando a estimar a influência do nível de opacidade entre as EIs na L1 e na L2, empregou-se a taxonomia de Laufer (2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000.), com quatro categorias: (i) EIs com similaridade total de forma, ou seja, expressões com tradução equivalente nas duas línguas; (ii) EIs com similaridade parcial de forma, com traduções equivalentes parciais; (iii) EIs com ausência de similaridade formal ou diferença formal, diferentes expressões nas duas línguas que expressam os mesmos significados; e (iv) EIs com diferença distribucional entre si, ou seja, que não possuem contrapartes na outra língua. Desse modo, a EI “meter os pés pelas mãos” foi classificada como sendo do tipo similaridade parcial de forma, ou seja, EIs que possuem traduções equivalentes parciais, enquanto a EI “ter mão leve” foi categorizada como sendo do tipo ausência de similaridade formal, reservada para EIs diferentes formalmente em duas línguas, e que expressam o mesmo significado - em espanhol, as EIs empregadas para definir uma pessoa que furta algo de modo discreto são “tener los dedos sueltos” e “tener la mano larga”.

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Nesta seção, as informações obtidas através das transcrições das entrevistas estão elencadas na Tabela 2 (EI 1, “meter os pés pelas mãos”), Tabela 4 e Tabela 5 (EI 2, “ter mão leve”), e os mapeamentos metafóricos e/ou metonímicos observados a partir dessas informações estão dispostos naTabela 3 (EI 1) e Tabela 6 (EI 2). Os dados de cada EI serão vistos em seções individuais.

Por fim, os dados relativos à possível influência do nível de opacidade das EIs nos processos de compreensão dos participantes são apresentados na Tabela 7. Antes disso, elencamos a seguir as informações mais relevantes de cada EI.

Tabela 1
Informações sobre EIs 1 e 2

5.1 EI 1: “METER OS PÉS PELAS MÃOS”

Conforme recém mencionado, na Tabela 2 estão dispostas as definições da EI 1 pelos participantes, juntamente com os fatores que motivaram tais definições. A partir dessas informações, foi possível verificar os mapeamentos metafóricos estabelecidos pelos participantes quando do processamento do significado da EI, os quais se encontram na Tabela 3.

A Tabela 2 evidencia que a maioria dos participantes (13) empregou a EI “meter la pata” durante o processo de compreensão da EI “meter os pés pelas mãos”, e tanto a similaridade de forma entre ambas as EIs como a frequência de uso da EI na L1 dos participantes aparecem como explicações plausíveis para o fato. Como ilustração, segue a transcrição do trecho da entrevista com o Sujeito 14.

Sujeito 14

S: Acho que significa cometer um erro. Quando a gente não consegue fazer alguma coisa direito.

E: E você já ouviu aqui?

S: Não, mas é similar com uma [expressão] que temos na Colômbia, “meter la pata”. Ao invés de fazer com as mãos você faz com os pés.

De qualquer modo, é interessante observar que sete participantes formaram imagens mentais das EIs, e cinco dessas imagens lhes possibilitaram captar o significado da EI na L1. A seguir destacamos trechos de dois desses casos, com o primeiro sendo bem-sucedido, e o terceiro, não.

Tabela 2
Processos de Compreensão da EI 1

Sujeito 87 7 As falas dos sujeitos estão marcadas pela letra “S”, e as do entrevistador, pela letra “E”. Alguns trechos das transcrições das entrevistas foram editados, objetivando maior correção linguística.

S: É a primeira vez que escuto essa expressão. Essa expressão é daqui?

E: Sim, é daqui.

S: Não sei, eu acho que de repente é algo que você fez errado, que você não fez em alguma situação. De repente tem alguma situação que você não fez muito bem, fez errado, eu imagino que pode ser isso.

E: Por quê?

S: Porque eu acredito que obviamente com as mãos eu faço bem as coisas, é algo que você tem que fazer com as mãos e você fez com os pés. Algo estranho que você não pode fazer bem as coisas com os pés, tem que ser com as mãos.

E: Deveria ter sido feito com as mãos e foi feito com os pés?

S.: Exatamente, não ficou muito bem. É o que eu entendo por essa expressão.

Sujeito 12

S: Nunca escutei aqui. Mas pode ser algo como uma pessoa que persiste no que faz.

E: A pessoa que mete os pés pelas mãos então...?

S: ...É persistente.

E: E por quê?

E: Pela dificuldade, não é fácil meter os pés pelas mãos, então é uma pessoa que tem de fazer de maneira mais difícil para alcançar as metas.

Por fim, parece digno de nota a aproximação da EI na L1 com EIs menos prováveis na L2, verificada nos protocolos dos participantes 2 e 17 (“dar gato por liebre”). Como será discutido na seção final, esse dado parece apontar para a unicidade dos processos de aquisição de uma língua, cuja relevância dos fatores culturais não pode ser minimizada se o objetivo for a compreensão de tais processos.

Passemos agora à análise dos mapeamentos metafóricos e metonímicos subjacentes aos significados atribuídos pelos participantes à EI. O dado mais evidente, ao observar a Tabela 3, é a constância do mapeamento metafórico e metonímico verificado nas análises: das 20 definições elaboradas pelo participantes, dezessete delas estão fundamentadas em uma mesma metáfora e em uma mesma metonímia conceptual.

Tabela 3
EI 1 - Mapeamentos metafóricos e metonímicos da EI “meter os pés pelas mãos”

De fato, a aproximação da EI ao conceito tanto de fazer algo errado como de estar em uma situação incômoda, e, também, de ser persistente, está diretamente relacionada à Metáfora de Estrutura de Eventos MODO DE AÇÃO É MODO DE MOVIMENTO (LAKOFF, 1992LAKOFF, G. The Contemporary Theory of Metaphor. In: ORTONY, A. (Ed.) Metaphor and Thought. Cambridge: Cambridge University Press, 1992, p. 202-251., p. 15).

Se retomarmos o trecho do protocolo do Sujeito 8 transcrito anteriormente, a compreensão desse mapeamento metafórico torna-se mais clara: se meu movimento não é apropriado, a ação decorrente deste movimento também não o será. Se o movimento para a ação deve ser feito com as mãos, e eu uso os pés ao invés disso, a ação não será bem realizada - ou seja, ao me movimentar de modo inapropriado, a minha ação será inapropriada. “Ele está fora de passo” e “Nós estamos nos arrastando com isso” são duas construções linguísticas utilizadas por Lakoff (1992LAKOFF, G. The Contemporary Theory of Metaphor. In: ORTONY, A. (Ed.) Metaphor and Thought. Cambridge: Cambridge University Press, 1992, p. 202-251., p. 15) para ilustrar essa metáfora.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, na definição “estar em uma situação incômoda” também está presente a ideia de que se o modo como eu me movimento para fazer a ação (nesse caso, colocando o pé no lugar das mãos) for desconfortável, a ação que irei realizar também o será -mas, naturalmente, não no sentido literal e sim metafórico da palavra.

Já para três das definições atribuídas à EI por três dos participantes - “ser enganado”, por dois, e “ser persistente”, por um - não foi possível estabelecer relações metafóricas e/ou metonímicas claras. Embora os protocolos verbais dos participantes evidenciassem o padrão metonímico X por Y - na definição sobre “ser enganado”, X sendo “gato” e Y, “lebre”, e na definição sobre persistência, X sendo “pés” e Y, “mãos” -, tais padrões não foram suficientes para produzir um mapeamento coerente dentro desse domínio. Nesse sentido, a afirmação de Barcelona (2002BARCELONA, A. Clarifying and applying the notions of metaphor and metonymy within Cognitive Linguistics: An update. In: DIRVEN, R.; PORINGS, R. (Org.). Metaphors and metonymy. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 2002, p. 207-277., p. 225) é de extrema pertinência aqui: “para o mapeamento ocorrer, algum grau de mapeamento estrutural é necessário. Esse mapeamento é visível na metáfora devido a um conjunto de correspondências, mas não na metonímia”.

Com relação aos mapeamentos metonímicos, como já comentado, a análise dos protocolos evidenciou, em dezessete das 20 definições, a metonímia “a parte do corpo por sua função típica e atributos a ela conectados”, que, por sua vez, faz parte da metonímia mais geral “a parte pelo todo” (BARCELONA, 1997BARCELONA, A. Clarifying and applying the notions of metaphor and metonymy within Cognitive Linguistics. Atlantis XIX, 1, p. 21-48, 1997., p. 43). A síntese das motivações dos participantes para a apreensão do significado das EI 1 apresentada na Tabela 2 evidencia a relação entre a palavra “mão” com fazer algo bem feito, com capricho e cuidado, enquanto “pé” foi associado ao oposto: fazer algo de qualquer jeito, sem o devido capricho nem o devido cuidado.8 8 Mesmo nos casos em que essa relação foi estabelecida primeiramente através da associação com EIs correspondentes na L1, ela, de qualquer modo, foi estabelecida, ou seja, ela deve ser considerada como parte do processamento on-line da EI na L1. Nos pareceria muito difícil conceber qualquer argumento contrário ao de que esses são os atributos que, em nossa experiência cotidiana, costumamos relacionar a cada uma dessas extremidades corporais.

Nos voltamos agora à análise dos dados relativos à EI “ter mão leve”. Como veremos a seguir, o fato de a EI possuir uma natureza diversa da avaliada nesta seção no que diz respeito ao seu nível de opacidade entre a L1 e a L2 resultou em uma menor uniformidade nas definições formadas para a expressão.

5.2 EI 2: “TER MÃO LEVE”

Seguindo o mesmo padrão da seção anterior, na Tabela 5 são apresentadas as definições da EI 2 pelos participantes, como também os fatores motivadores das definições, enquanto os mapeamentos metonímicos e metafóricos subjacentes estão dispostos na Tabela 6. Há uma única diferença, que é a compilação, na Tabela 4, de EIs em espanhol que contêm a palavra “leve” (blanda) em sua composição, e que foram frequentemente resgatadas pelos participantes nos seus processos de compreensão da EI na L1.

Pela Tabela 5, é possível visualizar qual das três EIs em espanhol foi a associada por cada um dos participantes participantes. É importante ressaltar aqui que quatro participantes não se incluem nesse grupo, já que dois deles se valeram de imagens mentais formadas a partir da EI, e outros dois empregaram EIs diversas das apresentadas na Tabela 4: enquanto o participante 2 associou a EI “ter mão leve” com a EI na L1 “ter mão de freira”, o participante 17 a associou a duas EIs distintas, “furtar” e “bater nos filhos”9 9 As EIs estão traduzidas porque os participantes, em seus protocolos, não mencionaram a EI na L1, somente relataram haver EIs com tais significados em espanhol. Cabe notar aqui que o participante 17 foi o único a associar “mão leve” a “furto”. .

Tabela 4
Eis na L1 presentes na definição da EI “ter mão leve”
Tabela 5
Processos de Compreensão da EI 2

Embora tenham sido identificadas seis definições para a EI 2, apenas duas delas foram mais frequentes: “ser flexível, compreensível”, com dez ocorrências, e “falta de atitude, passividade”, com seis. Enquanto o segundo conceito atribuído à EI pelos participantes foi sempre associado ao significado 3 da EI “tener la mano blanda”, o mesmo não foi verificado com o primeiro, cujas associações foram feitas com o significado 4 da EI “tener la mano blanda”, e com a EI “mano dura”. Já os outros quatro significados atribuídos à EI tiveram percentual bem menos expressivo, conforme já descrito em parágrafo anterior.

Como já mencionado, a maior diversidade de conceitos associados à EI 2 em comparação à EI 1, na qual 80% deles foram relacionados a “errar, cometer um engano”, deveu-se em grande medida à diferença no nível de opacidade entre as duas EIs. Na seção dedicada à metodologia, explicamos que, de acordo com Laufer (2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000.), enquanto a EI “meter os pés pelas mãos” apresenta similaridade parcial de forma em relação à expressão correspondente na L1 dos participantes , na EI “ter mão leve” não há similaridade formal. Na próxima seção retomaremos a esse ponto.

Apresentamos dois trechos de protocolos, o primeiro ilustrando associação da EI “mão leve” ao significado 3, e o segundo, ao significado 4 da EI “tener la mano blanda”.

Sujeito 14

S: Eu acho que pode ser que a pessoa não assume certas situações e não tem firmeza.

E: Uma pessoa que não é rígida?

S: Sim, que não responde da maneira que deve responder em uma situação.

E: E por que você pensa que é isso?

S: Porque no espanhol temos algo parecido, “ter mão branda”.

Sujeito 20

S: Seria, você levar uma situação o mais suave, o mais viável possível, no caso de um professor, por exemplo, numa turma que tem problemas, ele ajuda com mais consulta, com as dúvidas.

E: O professor tem mão leve?

S: Sim, se ele vê que aquela turma precisa de mais ajuda, ele repassa os conteúdos.

E: Sim. Por que essa associação?

S: Nesse caso, o professor seria [...] você tem uma situação e como que vai pela via mais fácil para você, de falar mais, não vai pela via mais agressiva. Você busca a via pra chegar à pessoa. “Ter mão leve”, ser boa pessoa.

E: Sim, no sentido de fazer as coisas com leveza?

S: Isso, tratar de chegar ao problema que tem. Encontramos muitas pessoas que nos tratam mal, aí tentamos falar mais, chegar ao problema.

O protocolo do participante 20 merece um comentário adicional, na medida em que, ainda que a entrada 4 da EI “tener la mano blanda” seja a mais evidente, é também possível perceber outros significados relacionados à EI em espanhol. Voltando à Tabela 4, observamos que essa também pode significar, dependendo do contexto: suave, doce ou terno; excessivamente bom; delicadeza, suavidade. Assim, tanto o início da formulação do conceito da EI na L2 - “levar uma situação o mais suave, o mais viável possível - como a frase de fechamento do raciocínio do participante - “Ter mão leve, ser boa pessoa” - mostram uma associação com os sentidos 1 e 5 - suave, doce ou terno e (agir com) delicadeza, suavidade, respectivamente - da EI em espanhol.

Esse protocolo, ao mostrar a influência dos múltiplos significados da EI na L1 dos participantes no processo de construção do significado da EI “ter mão leve” ajuda a entender também por que, ao analisarmos a Tabela 5, encontramos variações nas definições da EI que buscam expressar o conceito de flexibilidade e sensatez (significado 4): “ser flexível, sensato” divide espaço com “ser flexível, compreensível” e “ser flexível, tolerante”.

Na sequência, além da transcrição do protocolo do Sujeito 8, já mencionada, apresentamos também o protocolo do único participante que associou a EI na L2 com o conceito de roubo, por meio de aproximação com uma expressão em sua língua materna.

Sujeito 8

S: Ter mão leve é uma pessoa que é frágil, macia, mãos suaves, não é dura.

E: O contrário da pessoa que tem mão dura?

S: Exatamente, é o contrário, porque mão dura é uma pessoa muito exigente, mas mão leve é uma pessoa facilmente tratável.

E: Por que você pensa isso?

S: Porque na Colômbia, se você tem mão dura, é uma pessoa forte em caráter. Mão leve é uma expressão que não se usa na Colômbia, mas ter mão dura, sim.

Sujeito 17

S: Acho que tem dois sentidos, pode ser a pessoa que pega coisas que não deve, rouba, a pessoa que pega coisas que não a pertencem. Mas também tem em espanhol, algo parecido, que são os pais que golpeiam os filhos, “ter mão leve”, qualquer coisa eles vão e batem.

E: Sim, de bater? Que interessante, e essa primeira ideia, de uma pessoa que leva, é do espanhol?

S: Sim, tem no espanhol.

E: E você já escutou aqui?

S: Eu acho que sim, mas não lembro o sentido.

O protocolo do participante 17 mostra também outro fato percebido na análise dos dados, que são as definições motivadas por imagens mentais ou EIs na L1 que se diferenciam das mais frequentemente associadas pelos participantes. Naturalmente os fatores culturais - mais especificamente, as vivências específicas de cada indivíduo envolvendo o uso de sua L1 - assumem uma importância chave para explicar esse dado, não sendo por acaso o número crescente de estudos que têm buscado compreender as metáforas cognitivas em seus contextos culturais específicos.

Cienki (1999CIENKI, A. Metaphors and cultural models as profiles and bases. In: Metaphor in Cognitive Linguistics. GIBBS, R.; STEEN, G. (Org.) Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1999, p. 189-203., p. 199), por exemplo, ao analisar a diferença da formação de metáforas relacionadas a uma expressão por falantes americanos e russos, afirma que, embora entenda que a metáfora contribui para a compreensão de conceitos abstratos na análise semântica, o reconhecimento de como os modelos metafóricos e culturais se inter-relacionam pode tornar a análise semântica bastante mais acurada.

Passemos à relação entre os mapeamentos estabelecidos pelos participantes durante a compreensão da EI “ter mão leve”, elencados na Tabela 6. O primeiro dado que chama a atenção é a ausência de mapeamentos metafóricos, diferentemente do que encontrado para a EI “meter os pés pelas mãos”. Por outro lado, e de modo semelhante ao visto na análise dos dados da EI 1, o único mapeamento metonímico encontrado foi “a parte pelo todo”, e, de modo mais específico, a metonímia “a parte do corpo por sua função típica e os atributos a ela conectados” (BARCELONA, 1997BARCELONA, A. Clarifying and applying the notions of metaphor and metonymy within Cognitive Linguistics. Atlantis XIX, 1, p. 21-48, 1997., p. 43).

Tabela 6
EI 2 - Mapeamentos metafóricos e metonímicos na compreensão da EI “ter mão leve”

A explicação para isso está, naturalmente, na natureza da EI, na medida em que ela própria é metonímica ao classificar como “mão leve” a pessoa que tem a habilidade de furtar objetos de modo discreto, sem se fazer notar - ou seja, a EI constrói uma ponte entre um atributo da mão - a leveza - a uma habilidade específica de uma pessoa. Consequentemente, como foi visto na Tabela 5, o processamento do significado da EI pelos participantes se deu, na maioria das vezes, por associação com duas EIs metonímicas na L1: “tener la mano blanda” e “mano dura”. As duas EIs em espanhol expressam a relação metonímica de “a mão pela personalidade”, e fazem parte da metonímia geral “a mão pelo indivíduo”.10 10 Kövecses e Radden (1999, p. 21) propõe que se compreenda a metonímia como “um processo conceptual no qual uma entidade conceptual, o veículo, oferece acesso mental a outra entidade conceptual, o alvo, dentro do mesmo modelo cognitivo idealizado”. Seguindo os autores, nas EIs “tener la mano blanda” e “mano dura”, a entidade “indivíduo” oferece acesso mental à entidade “mão”, que situa-se, naturalmente, no mesmo modelo cognitivo idealizado.

Na próxima seção apresentamos os dados obtidos sobre a influência do nível de opacidade das EIs e o processamento on-line das mesmas pelos participantes.

5.3 INFLUÊNCIA DO NÍVEL DE OPACIDADE ENTRE EIS

O dado de maior destaque da Tabela 7 está na diferença entre as definições construídas a partir de imagens mentais ou a partir da associação de EIs na L1. Como se pode observar, independentemente do nível de opacidade entre as EIs, a aproximação com EIs na L1 foi bastante mais significativa.

Tabela 7
Influência do nível de opacidade na compreensão das EIs

Além desse dado, a Tabela 7 mostra que o número de associações com EIs na L1 foi maior para a EI 2, “ter mão leve”, que não possui similaridade formal com a EI correspondente em espanhol, do que com a EI 2, “meter os pés pelas mãos”. Com base nos protocolos verbais, isso parece ter acontecido pelo fato de a EI “mão leve” ter sido associada quase que imediatamente pelos participantes a um - quando não a mais de um - dos múltiplos significados da EI “tener la mano blanda” em espanhol, fazendo com que tanto o uso de imagens verbais como de outros recursos cognitivos fossem preteridos no momento do processo de compreensão do significado da expressão em português.

Dito de outro modo, os dados sugerem que o fato da EI “tener la mano blanda” ser tão rica em significados foi determinante para que a associação com base em EIs na L1 tivesse sido mais utilizada para o processamento da expressão “ter mão leve” do que para a expressão “meter os pés pelas mãos”, cujo mapeamento com EIs na L1 dos participantes limitava-se à EI “meter la pata” ou a sua forma variante, “meter los pies”.

É importante frisar aqui, conforme destacado nas Tabelas 2 e 5, que a maior ou menor associação com EIs na L1 não estão, necessariamente, relacionadas com a apreensão apropriada do significado da expressão na L2 pelos participantes. Comprovando isso, enquanto o percentual de definições bem-sucedidas para EI 1, “meter os pés pelas mãos”, foi de 80%, para a EI 2, “ter mão leve”, foi somente de 5% - ou seja, apenas um sujeito. Esses achados, assim, dialogam com resultados de estudos relativos à correlação entre compreensão apropriada do significado de EIs na L2 e nível de transparência versus opacidade entre EIs na L1 e L2 (LIONTAS, 2001LIONTAS, J. That's all Greek to me! The comprehension and interpretations of Modern Greek idioms. Reading Matrix, v. 1, n.1, p.1-32, 2001.; KATSAROU, 2013KATSAROU, E. Grasping the Νettle of L2 Ιdiomaticity Puzzle: The Case of Idiom Identification and Comprehension During L2 Reading by Greek Learners of English. In: Major Trends in Theoretical and Applied Linguistics. LAVIDAS, N.; ALEXIOU, T.; SOUGARI, A. (Org.). London: Versita Ltda., 2013.), que mostraram que quanto maior a transparência entre as EIs em duas línguas, maior o nível de apreensão do significado da EI na L2, e, inversamente, quanto maior a opacidade entre as EIs correspondentes nas duas línguas, menor será o nível de processamento apropriado do significado da EI na L2.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste texto foram descritos os resultados de um estudo sobre compreensão de EIs em português como L2 por falantes nativos de espanhol à luz da Teoria da Metáfora Cognitiva. Por meio das EIs “meter os pés pelas mãos” e “ter mão leve” e empregando a técnica de protocolos verbais em entrevistas individualizadas, buscou-se avaliar se (i) haveria um padrão de semelhança entre os mapeamentos metafóricos e metonímicos formados pelos participantes durante a compreensão das expressões, bem como se (ii) os processos de compreensão dos participantes sofreriam influência dos níveis de opacidade das EIs com relação à L1 dos participantes.

Como relatado ao longo do artigo, os mapeamentos metafóricos e metonímicos apresentaram semelhanças entre os sujeitos tanto para a EI 1, “meter os pés pelas mãos”, como para a EI 2, “ter mão leve”, embora essa semelhança tenha sido maior no primeiro caso, com 80% dos participantes fazendo o mesmo tipo de associação. No que diz respeito à EI 2, “mão leve”, os mapeamentos - metonímicos somente - foram divididos, em sua maioria, entre os conceitos de “flexibilidade, sensatez”, com 50% das definições dos sujeitos, e de “falta de posicionamento, atitude”, com 30% das definições, por outro.

Essa diferença no padrão de mapeamentos deveu-se, de acordo com a análise dos dados, à maior opacidade da EI “mão leve”, em comparação à EI “meter os pés pelas mãos”, como também à multiplicidade de significados da expressão mais próxima em espanhol no que diz respeito à forma linguística da EI em português - ou seja, “tener la mano blanda”. Esse fenômeno de falta de correspondência entre a gama de significados possíveis para a EI na L1 e para a EI na L2, e vice-versa - que podemos denominar de singularidade versus multiplicidade de significados entre as EIs - foi de extrema importância para podermos compreender o tipo de relação estabelecida pelos participantes durante seu processo de compreensão das EIs.

Os achados do estudo, assim, ao mostrarem a ocorrência do pensamento metafórico e/ou metonímico nos processos de compreensão dos participantes, reforçam a tese de que o conhecimento metafórico tem influência tanto na compreensão como no processamento on-line de expressões idiomáticas (LAUFER, 2000LAUFER, B. Avoidance of idioms in a second language: the effect of l1-l2 degree of similarity. Studia linguistica, 54, 2, p. 186-96, 2000.; KÖZECVES; SZABÓ, 1996; KAZEMI et al., 2013KAZEMI, S. A.; ARAGHI, S. M.; BAHRAMY, M. The Role of Conceptual Metaphor in Idioms and Mental Imagery in Persian Speakers. International Journal of Basic and Applied Linguistics, 2, 1, p. 38- 47, 2013.).

Os resultados da pesquisa também apontam para a importância de se observar, especialmente quando se trata de língua(s) estrangeira(s), a natureza das expressões a serem ensinadas. Detectamos, a partir dos protocolos, dois fatores adicionais que influenciaram significativamente os processos de compreensão dos participantes: (i) a multiplicidade de significados de EIs na L1 que são associadas pelos aprendizes à EI na L2 sob análise, pois esses levaram a diferentes mapeamentos cognitivos, e, naturalmente, (ii) o grau de transparência versus opacidade entre as EIs na L1 e na L2. Cabe notar aqui que se trata de fenômenos diferentes, ainda que, neste estudo em particular, relacionados.

Um terceiro fator, tão ou mais relevante, e que teve menos espaço neste trabalho devido a seu escopo de investigação, é o papel dos aspectos culturais nos processos de compreensão das EIs. Conseguir explicar por que, por exemplo, no caso da EI1 “meter os pés pelas mãos”, dois participantes a associaram à EI “dar gato por liebre” ao invés da mais provável, “meter la pata”, ou ainda, por que um participante formou a imagem mental de persistência em sua tentativa de compreendê-la, são desafios impostos à Linguística Cognitiva que, felizmente, começam a ser desvendados por estudiosos como Gibbs (1999GIBBS, R. Taking metaphors out of our heads and putting it into the cultural world. In: Metaphor in Cognitive Linguistics. GIBBS, R.; STEEN, G. (Org.). Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 1999, p. 145-166., p.145) e Kövecses (2015, p. 66), através da sua Teoria da Integração Conceptual.

Felizmente também, há um número crescente de estudos sobre EIs em língua portuguesa fundamentados na Linguística Cognitiva (como, por exemplo, Lodi e Sabino, 2003LODI, S.; SABINO, M. Expressões idiomáticas, metáforas e ensino de línguas. Signo y Seña, 23, p. 165-189, 2003.; Polónia, 2009POLÓNIA, C. F. Morais. As expressões idiomáticas em português língua estrangeira: uma experiência metodológica. 2009. Dissertação (Mestrado em Letras) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade do Porto, Porto, 2009.; Silva, 2011SILVA, N. Metáfora e metonímia nas construções com “Pé”: uma abordagem cognitivista. 2011. Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.; Marques, 2012MARQUES, M. O. Compostos integrados, compostos semi-integrados e construções idiomáticas: uma abordagem cognitivista das construções com mão no PB. 2012. Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.). Isso, de modo algum, significa que eles sejam suficientes: a dinamicidade das EIs nas línguas e a multiplicidade de fenômenos associados a elas, somados ainda à relativa recência da Teoria da Metáfora Conceptual, são fatos que justificam a necessidade da continuidade das pesquisas. Nesse contexto, esperamos que o estudo aqui relatado tenha contribuído para auxiliar a desvelar um pouco mais os processos metafóricos do pensamento envolvidos na compreensão de EIs, e, igualmente, servido como motivação para a continuidade da pesquisa sobre o tema.

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  • 1
    As metáforas conceptuais são apresentadas através de um mapeamento estruturado, no qual as letras maiúsculas representam DOMÍNIO-ALVO É DOMÍNIO-FONTE, os dois sendo, respectivamente, “discussão” e “guerra”.
  • 2
    Por se tratar de tradução livre, a palavra face em inglês foi traduzida por “rosto” e “cara”, respectivamente, já que esses são os termos empregados nos enunciados em português correspondentes.
  • 3
    Spill the beans é uma expressão idiomática que significa revelar um segredo, e cuja tradução literal é “derramar as vagens”. “Spill the peas”, nesse contexto, possui somente significado literal, ou seja, “derramar as ervilhas”.
  • 4
    Comer tudo, usar todos recursos; usar algo rapidamente, de modo que nada sobre; desistir.
  • 5
    Sentir-se bem/ EI “sentir-se para cima”; animar-se.
  • 6
    Esgotar/ desgastar; reduzir o uso; diminuir, ficar menor.
  • 7
    As falas dos sujeitos estão marcadas pela letra “S”, e as do entrevistador, pela letra “E”. Alguns trechos das transcrições das entrevistas foram editados, objetivando maior correção linguística.
  • 8
    Mesmo nos casos em que essa relação foi estabelecida primeiramente através da associação com EIs correspondentes na L1, ela, de qualquer modo, foi estabelecida, ou seja, ela deve ser considerada como parte do processamento on-line da EI na L1.
  • 9
    As EIs estão traduzidas porque os participantes, em seus protocolos, não mencionaram a EI na L1, somente relataram haver EIs com tais significados em espanhol. Cabe notar aqui que o participante 17 foi o único a associar “mão leve” a “furto”.
  • 10
    Kövecses e Radden (1999, p. 21) propõe que se compreenda a metonímia como “um processo conceptual no qual uma entidade conceptual, o veículo, oferece acesso mental a outra entidade conceptual, o alvo, dentro do mesmo modelo cognitivo idealizado”. Seguindo os autores, nas EIs “tener la mano blanda” e “mano dura”, a entidade “indivíduo” oferece acesso mental à entidade “mão”, que situa-se, naturalmente, no mesmo modelo cognitivo idealizado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Set 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    22 Mar 2019
  • Aceito
    05 Dez 2019
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