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RESENHAS BOOK REVIEWS

Ana Cláudia Figueiró

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Ana Cláudia Figueiró Departamento de Pesquisa do Instituto Materno Infantil de Pernambuco, IMIP. Rua dos Coelhos, 300. Recife, Pernambuco, Brasil. CEP: 50.070-550 E mail: grupo.avaliação@imip.org.br

A saúde nas palavras e nos gestos: reflexões da rede de educação popular e saúde. Eymard Vasconcelos Mourão, organizador. São Paulo: Hucitec; 2001. 289p.

Com a recente publicação do livro, "A saúde nas palavras e nos gestos: reflexões da rede de educação popular e saúde", a educação em saúde - tema sempre presente, especificamente nas ações básicas, mas sobre o qual existe pouca produção teórica - começa a ganhar mais espaço entre os estudiosos da saúde coletiva. A importância do tema se revela na própria organização do sistema de saúde em nosso país, onde, com mais ou menos ênfase, esteve presente em vários períodos integrando diferentes políticas e fazendo parte dos mais diversos programas.

O livro traz algumas peculiaridades que o tornam leitura importante para os profissionais que desenvolvem suas atividades em contato mais estreito com a comunidade. Uma delas é a extensão dos temas que aborda. Se por um lado essa opção pode torná-lo menos claro na especificação do que seria exatamente esse campo de conhecimento e de prática - por buscar debater temas tão diversos quanto a globalização ou a religiosidade das classes subalternas e sua relação com as políticas de saúde, ou ainda as expe-riências vividas em uma pequena unidade de saúde da família no interior do país - por outro lado permite ao leitor perceber que esse campo vai muito além do que tradicionalmente se apresenta como educação em saúde, seja em pequenos capítulos de livros técnicos seja nas normas dos programas de saúde.

Os textos mais históricos, como o de Vasconcelos Mourão, percorrem a trajetória das práticas educativas em saúde ao longo do último século, mostrando o quanto e de que modo elas estiveram presentes nas ações de saúde pública desde os seus primórdios. Conforme o autor, eram práticas realizadas dentro das concepções de saúde e de educação prevalentes na época (e já bastante revistas nos dias atuais), que se assentavam no modelo microbiológico. e na percepção dos sujeitos como ignorantes e desprovidos de capacidade para tomar decisões sobre sua saúde - concepções que, apesar de todo o debate nos centros formadores, ainda estão muito presentes nas práticas dos profissionais em nossos dias.

Em outro capítulo de característica histórica, Smeke e Oliveira discutem como as políticas do setor da saúde e as profundas mudanças realizadas em sua organização e nas concepções, que orientam o desenvolvimento de suas atividades, sofreram a influência dos movimentos sociais e da educação popular na formação de muitos profissionais atuantes nos embates pela implantação do modelo de saúde vigente no país - o Sistema Único de Saúde.

Essa é outra interessante contribuição do livro para aqueles interessados em práticas educativas mais condizentes com os novos rumos da saúde pública no Brasil. Apresenta uma proposta metodológica, apoiada teoricamente em conceitos e em autores das ciências sociais, sobretudo Paulo Freire, educador e formulador do que convencionalmente se considera como Educação Popular. Deno-minando-a de "construção compartilhada do conhecimento", o texto contribui para a reflexão da ação educativa como prática fundamentalmente política, apoiada em uma proposta pedagógica voltada para a construção de conhecimentos em saúde a partir da rea-lidade social dos sujeitos onde estão inseridos os serviços e onde atuam os profissionais.

Em uma linha mais teórica, o texto discute criticamente ainda os usos e abusos que se começa a praticar com o conceito de Promoção da Saúde, o que vem a ser bastante pertinente no momento em que tal conceito passa a ser usado indistintamente desde os programas de saúde comunitária até às clínicas de estética.

Nos relatos de experiência, que na maior parte trazem uma revisão dos conceitos que orientaram a sua realização, tem uma vez mais a oportunidade de reafirmar quão amplo vem a ser esse campo, tanto por apresentar atividades desenvolvidas de norte a sul do país, e pela variedade das áreas de conhecimento e de saúde, quanto pela diversidade das linguagens utilizadas. Nestes, encontram-se registros de experiências com índios na Amazônia Brasileira até a organização de um grande serviço de saúde mental no Rio de Janeiro - e indo até o sul do país - em uma atividade de planejamento local num serviço de saúde na periferia de Porto Alegre. O que essas experiências têm em comum que lhes permitem ser incluídas numa publicação sobre Educação e Saúde? A opção de seus coordenadores e participantes por uma prática política e pedagógica no exercício de sua vida profissional, comprometidos com a reconhecimento dos sujeitos sociais como participantes ativos dos processos educativos e gerenciais, e que mostram que sua prática pode ser englobada no que vimos denominando de Educação Popular em Saúde. A partir da constituição de uma rede de articulação desses profissionais e do funcionamento de uma lista de discussão do tema na Internet, idéias, debates e experiências vêm sendo divulgadas, permitindo assim a qualificação de experiências educativas e gerando como fruto, entre outros, essa publicação.

  • Endereço para correspondência
    Ana Cláudia Figueiró
    Departamento de Pesquisa do Instituto Materno Infantil de Pernambuco, IMIP. Rua dos Coelhos, 300.
    Recife, Pernambuco, Brasil. CEP: 50.070-550
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Abr 2002
    Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira Rua dos Coelhos, 300. Boa Vista, 50070-550 Recife PE Brasil, Tel./Fax: +55 81 2122-4141 - Recife - PR - Brazil
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