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Educação para a cidadania informada

Editorial Editorial

Educação para a cidadania informada

Desde a sua criação, em 1960, o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP) hoje, Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira (IMIP), elegeu como uma das vertentes operativas a formação do profissional de saúde, sob a égide de um enfoque teórico-metodológico que não se pautasse pela submissão aos valores e às demandas do mercado. O propósito era a renovação dos paradigmas da formação frente à realidade do mundo contemporâneo, valorizando a doutrina e a prática de um ensino-aprendizagem que ultrapassasse as paredes da sala de aula e incorporasse ditames humanísticos, éticos e comunitários, de modo a alcançar perfis profissionais que respondessem às exigências do desenvolvimento social e com sensibilidade para atendimento às carências dos mais pobres.

Estabelecia-se, assim, a necessidade de promover o estreitamento de vínculos entre ciências biológicas e ciências sociais, para que o aprendizado possibilitasse compartilhar conhecimentos e ter compromisso com a realidade social, conscientizando os alunos e docentes de que a quantidade de informações não é parâmetro de qualidade e que o processo de formação é, em certo sentido, uma maneira de fomentar mudanças. Paulatinamente, prosseguiu o IMIP no embasamento da formação para uma prática tecnicamente segura, resolutiva, ética e humanisticamente recomendável, que mantém sintonia com os avanços científicos e tecnológicos, mas evita procedimentos que não proporcionem benefícios para os usuários.

Nessa trajetória de 47 anos, frente aos avanços da ciência e da tecnologia, cada vez mais velozes e potentes, e o reconhecimento de que inexiste área da atividade humana que não esteja passando por grandes transformações, tornou-se necessário observar e compreender a agenda real de mudanças, porque a mudança implica o rompimento com tradições. Isto motivou ampliar a reflexão sobre as principais tendências sociais e políticas, bem como, o estímulo da capacidade de desenvolver o pensamento crítico em relação às necessidades de saúde dos usuários e da capacidade de resposta do Sistema Único de Saúde (SUS), na perspectiva de que um dos maiores desafios é conseguir que o desempenho do profissional de saúde concorra para aumentar a eficiência, a efetividade e a qualidade do atendimento, dando ênfase tanto à promoção e a prevenção, quanto à recuperação da saúde.

Os aperfeiçoamentos progressivos do processo formativo sinalizam que alunos e docentes não adotam atitudes de meros espectadores críticos, porém se posicionam como pessoas capazes de gerar dinâmicas construtivas, característica relevante na era do conhecimento, que exige muito mais um saber atualizado e inserido nos significados locais e regionais. Tal percepção requer que os professores atuem como mediadores científicos e pedagógicos organizem discussões regulares com revisitações temáticas e problematizações que permitam fazer a ponte entre o que é ensinado e a realidade concreta do cotidiano, na expectativa de que os conhecimentos se materializem em possibilidades de ação. Cultivam-se, assim, princípios transdisciplinares, os quais apontam que há diferentes níveis de realidade e que para cada um correspondem variados ângulos de percepção.

Sem dúvida, os textos ora coligidos revelam que, no IMIP, a finalidade da formação atende ao que recomenda Michel Thiollent (1998: 95; 103):1 "Trata-se de conhecer para agir e agir para transformar"... "Ensejar a geração e a difusão de conhecimentos úteis à resolução de problemas do mundo real". Todavia, visando atender à lógica de que é preciso prestar cuidados abrangentes a problemas de saúde de pessoas, famílias e comunidades e não exclusivamente o atendimento a doenças prevalentes, conscientes todos de que humanismo é a palavra-chave deste novo século.

Afinal, uma trajetória da formação do profissional de saúde que contempla a ressignificação do papel de docentes e alunos, em virtude da evidência de que as mudanças no mundo estão induzindo a novos desafios educacionais, exigem que cada vez mais se aprimore o ato de ensinar, o qual, em sua essência, é uma forma de relações humanas entre professores e alunos, um modo de cultivar um relacionamento saudável entre aquele aprende e aquele que ensina. Os relatos dos articulistas dessa coletânea levam a recordar as lições de Fernando Figueira, fundador do IMIP, identificando nele um educador que vai além de um ensino que produz conhecimento para converter-se no paladino de uma educação que promove o desenvolvimento do potencial da pessoa e permite incorporar valores humanos. Enfim, uma educação para a cidadania informada, mais emancipadora, conforme admitem os especialistas, na medida em que assegura instrumentos de intervenção sobre a realidade.

Bertoldo Kruse Grande de Arruda

Vice-Presidente do IMIP

Referências

1. Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez; 1998.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Nov 2007
  • Data do Fascículo
    Nov 2007
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