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Responsabilidade e importância dos revisores de uma revista científica

EDITORIAL EDITORIAL

Responsabilidade e importância dos revisores de uma revista científica

Responsibility and the importance of peer reviews for a scientific periodical

José Eulálio Cabral Filho

Editor Executivo da Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil

Como veículo de divulgação de novos conhecimentos uma revista científica não pode se furtar a fazê-lo sem levar em conta critérios não só metodológicos, mas também de redação, bastante rigorosos. Sem isso sua mensagem não é verdadeira no tocante àquilo que pretende transmitir. Desde que o conhecimento científico se refere a entidades concretas ou abstratas, surge o problema de até que ponto, considerando as exigências de rigor acima mencionados, um artigo é capaz de expressar um fato ou processo sob investigação. Pois muitas vezes o autor, em seu manuscrito, tem dificuldade de descrever objetivamente o que estudou. Portanto um revisor ou editor está diante de um problema de fidelidade ou, pelo menos de ajustamento, entre o que foi feito e o que é dito. São textos desnecessariamente longos, descrições expandidas e dispersas sem contato direto e claro com o objeto investigado. Em suma é a situação em que o autor fala mas não diz. É interessante notar que muitas vezes o conteúdo de um artigo é de interesse mas a forma de descrevê-lo o empobrece ou torna-o cansativo para o leitor. E o mais grave é que para certos autores, por mais que o revisor recomende a redução do texto, isto não é feito apropriadamente, o que leva a várias revisões de um mesmo manuscrito.

Atualmente as revistas cuidam disso ao limitar o número de palavras dos artigos. Já é um importante passo. Porém para certos autores torna-se difícil atender a este requisito pois o problema é intrínseco por depender do estilo de escrita próprio de cada um. Solicitado para reduzir a dimensão do texto, este tem às vezes parágrafos inteiros cortados que podem ser importantes. O estilo cansativo é um problema relativamente comum em revistas de escopo abrangente que cobrem aspectos sociais, psicológicos e mesmo de saúde coletiva. De fato, uma publicação como a nossa – cujo escopo é clínico-biológico mas conectado às áreas epidemiológica e social – enfrentam este problema, o que faz aumentar a proporção de artigos recusados. Esse tipo de texto, portanto, não respeita a recomendação da conhecida navalha de Occam - fundamental para a redação científica - "não devemos multiplicar as coisas sem necessidade". Portanto, a dispersão é inimiga da publicação. É lamentável rejeitar um trabalho de conteúdo, por uma razão colateral. Sabemos que os fatos da natureza são complexos e os da sociedade não o são menos. Por isso não precisamos complicar mais ainda. Aliás como dizia o professor Bezerra Coutinho "complexidade é uma coisa, complicação é outra". De fato, o complexo pode ter uma organização, o complicado, não. Einstein disse-o muito bem ao afirmar"tudo deve ser tornado o mais simples possível, mas não mais simples do que isso". Portanto o conteúdo não deve ser desperdiçado por uma fraca redação.

Não é que o simples possa ser facilmente alcançado. Entretanto ao alcançá-lo a nossa mensagem torna-se mais compreensível.

Por todas estas razões os dirigentes de uma revista científica precisam ter o máximo cuidado na escolha dos seus revisores, do mesmo modo que devem ter a capacidade de avaliar bem os pareceres por eles emitidos para terem uma decisão criteriosa na aceitação ou recusa de um manuscrito.

Tudo isso é óbvio mas em apoio dos revisores nunca é demais falar, porque as demandas de toda ordem na sua vida profissional não são pequenas: um sem-número de tarefas profissionais e técnico-científicas o sobrecarregam. Por isso seria extremamente importante que as atividades não só do editor como do revisor científico fossem prestigiados por todos os órgãos de apoio e fomento à publicação científica. E este prestígio não deveria se ater simplesmente a um benefício qualquer mas ao reconhecimento desses avaliadores na divulgação do conhecimento o mais fidedigno possível das realidades factuais, a que o artigo se refere. Nesse sentido órgãos como Universidades, Institutos e agências financiadoras deveriam proporcionar as melhores condições para aqueles revisores ou editores poderem dedicar a parte do seu tempo necessária ao bom desempenho das suas tarefas na análise adequada e rigorosa dos manuscritos que lhes chegam as mãos.

Enfim aqui está um apelo a que todos estejamos atentos a estes pontos, principalmente ao problema de sobrecarga de atividades destes profissionais para que não sejam obrigados a realizar sua tarefa de editoração ou revisão como um trabalho extra, ou complementar, feito apenas no tempo que lhes sobra.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Set 2012
  • Data do Fascículo
    Set 2012
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