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Impasses conjunturais na nossa Editoração Científica

A difícil situação para o apoio à ciência brasileira está levando a comunidade científica a um certo desespero quanto às suas perspectivas. Não que o problema seja de hoje. Agora ele apenas se agrava. Configurando-se já há alguns anos problemas com a redução de verbas para a pesquisa da parte dos governos responsáveis pelos atendimentos da demanda de recursos na área, o fato agudizou-se nos dois últimos anos. Assim é que foram descontinuados importantes programas de intercambio científico internacional, como por exemplo, o "Ciência sem Fronteiras" cercado no início de grandes esperanças na possibilidade de abertura de novos espaços que poderiam integrar centros acadêmicos e universitários brasileiros com outros centros nos Estados Unidos e na Europa e que terminou prematuramente, frustrando inúmeros estudantes de doutorado e as pós-graduações a que pertencem. Acresça-se a isso a redução de verbas para projetos de pesquisa e a redução também do número de bolsas mesmo dentro do país e aí teremos o fechamento de um ciclo nada virtuoso, uma perspectiva extremamente indesejável para a ciência no Brasil. Pois não é preciso dizer que esta tem sido fortemente dependente do trabalho dos cursos de pós-graduação. Num país em que o suporte financeiro para a pesquisa é quase totalmente do poder público, o fato traz consequências e das mais graves. Uma delas é muito provavelmente o decréscimo da publicação científica, que provém dos centros de excelência em pesquisa e das suas pós-graduações. A quantidade e qualidade dos artigos a serem publicados, ao dependerem dessas condições irão refletir certamente os seus defeitos e virtudes. Pode-se reduzir não só a qualidade como o número e até talvez a criação de novas revistas científicas. Não é ocioso relembrar que um exemplo clássico da associação entre produção científica e publicação é demonstrado pelo incremento exponencial do periodismo científico e o desenvolvimento da ciência moderna, a partir do final do século XVI até o século XX.11 Mabe MA. The number and growth. Serials. 2003; 16 (2): 191-7. Ou seja, no período em que a ciência se multiplicava em quantidade e qualidade, a sua comunicação era impulsionada em processo semelhante. Entretanto o que é mais notável é que o desenvolvimento desse fenômeno ocorreu precisamente quando outro movimento se fazia presente como um fundamento ainda mais básico: a explosão da revolução industrial e mercantilista daquele período da história. Em suma, vê-se aqui a conexão da expansão e circulação do dinheiro com a expansão da ciência.

A consequência é que os países mais ricos produzem mais ciência e publicam mais. E um sistema de retroação positiva torna-se evidente com a produção científica alimentando a publicação e esta por sua vez alimentando a ciência em atividade.

Estas ponderações podem nos ajudar a antever duas dificuldades sobre a inclusão no mundo da ciência em termos de qualidade. Uma delas se refere a inserção de artigos brasileiros em periódicos indexados nas grandes bases de referência internacional como o Institute of Scientific Information (ISI) e onde as revista se apresentam com o seu fator de impacto. Neste aspecto o Brasil demonstrou uma forte e continuada evolução de 1980 a 2009, quando alcançou o 13º lugar no ranking mundial.

O outro aspecto que também mostrou evolução refere-se ao número de periódicos editados no Brasil e indexados ao ISI que em 2014 saltou de menos de duas dezenas para 124.22 ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos). Fator de Impacto dos Periódicos Nacionais - 2014-2015. [acesso em 29 set 2016]. Disponível em: http://www.abecbrasil.org.br/includes/noticias/arquivos/jcr2014_15.pdf
http://www.abecbrasil.org.br/includes/no...

Portanto o país demonstrou capacidade de crescimento na área de publicação científica, quando houve condições, tendo porém uma parada quanto à participação de artigos brasileiros no ranking internacional. Não sabemos sobre um possível aumento do número de periódicos nacionais indexados nos próximos anos, mas a expectativa não é das melhores. Por outro lado não devemos desconsiderar a capacidade dos nossos gestores de órgãos como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) que tudo farão, certamente, para que a nossa ciência não siga o caminho ladeira-a-baixo.

References

  • 1
    Mabe MA. The number and growth. Serials. 2003; 16 (2): 191-7.
  • 2
    ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos). Fator de Impacto dos Periódicos Nacionais - 2014-2015. [acesso em 29 set 2016]. Disponível em: http://www.abecbrasil.org.br/includes/noticias/arquivos/jcr2014_15.pdf
    » http://www.abecbrasil.org.br/includes/noticias/arquivos/jcr2014_15.pdf

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016
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