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Fazer refeições em família tem efeito protetor para a obesidade e bons hábitos alimentares na juventude? Revisão de 2000 a 2016

Resumo

Objetivos:

revisar a prevalência da prática de refeições em família e seu impacto no IMC e no comportamento alimentar durante a infância e adolescência.

Métodos:

revisão nas bases Bireme / Lilacs / Scielo / Cochrane e Pubmed, entre 2000 a 2016, com descritores "refeição em família", "comportamento", "alimentação ou dieta ou ingestão alimentar" e "criança/adolescentes"; realizada por dois examinadores independentes e segundo etapas sistemáticas, em inglês e português. Foram selecionados trabalhos que apresentassem a prevalência e/ou discussão de relações entre variáveis nutricionais. Foram encontrados 2319 artigos, dos quais 15 foram selecionados, todos na língua inglesa: revisões sistemáticas (n=2), estudos transversais (n=8), estudos longitudinais (n=8); todos com crianças (n=5), adolescentes (n=6) e ambos (n=5).

Resultados:

a média de compartilhamento de refeições foi de 1x/dia, com prevalência de 27 a 81%. A maioria dos estudos (n=13) descreveu impacto benéfico sobre o IMC, maior consumo de FLV, proteínas, fontes de cálcio e menor consumo de doces e bebida adoçadas, união familiar e auto regulação do apetite.

Conclusões:

a realização das refeições em família diariamente exerce efeito benéfico sobre o estado nutricional e comportamento alimentar de crianças e adolescentes.

Palavras-chave
Refeições; Criança; Adolescente; Nutrição; Comportamento alimentar

Abstract

Objectives:

to review the prevalence of family meals and its impact on BMI and eating habits during childhood and adolescence.

Methods:

reviews are from Bireme / Lilacs / Scielo / Cochrane and Pubmed, between 2000-2016 with descriptors "family meal or mealtime", "behavior", "nutrition or diet or consumption or eating", and "child or children or adolescence"; performed by two independent examiners, according to the systematic steps in English and Portuguese. The articles were selected based on prevalence and/ or discussion between nutritional variables. 2,319 articles were found, which 15 were selected all in English: systematic reviews (n=2), cross-sectional studies (n=8), longitudinal studies (n=8); all related to children (n=5), adolescents (n=6) and both (n=5).

Results:

the mean of shared meals was 1x/day, with a prevalence of 27 to 81%. Most studies (n=13) reported the beneficial impact on BMI, higher consumption of fruit and vegetables, protein, calcium and a lower consumption of sweets and sugar sweetened beverages, family union and self-regulation of appetite.

Conclusions:

having daily family mealtime has beneficial effect on the nutritional status and children and adolescents' eating behavior.

Key words
Meals; Child; Adolescent; Nutrition; Eating behavior

Introdução

As práticas e preferências alimentares durante a infância encontram-se fortemente condicionadas pelo ambiente familiar, especialmente por se tratar do primeiro espaço de socialização, no qual os comportamentos alimentares são aprendidos e incorporados. Tais comportamentos, saudáveis ou não, podem permanecer durante a adolescência e até a vida adulta.11 Couch SC, Glanz K, Zhou C, Sallis JF, Saelens BE. Home food environment in relation to children's diet quality and weight status. J Acad Nutr Diet. 2014; 114 (10): 1569-79.,22 Pedersen S, Gronhoj A, Thogersen J. Following family or friends. Social norms in adolescent healthy eating. Appetite. 2015; 86: 54-60. Neste contexto, a realização de refeições familiares (descrito pela maioria dos estudos como o ato de sentar em família e comer simultaneamente) tem sido atualmente reconhecida pela promoção de comportamentos alimentares saudáveis.33 Harrison ME, Norris ML, Obeid N, Fu M, Weinstangel H, Sampson M. Systematic review of the effects of family meal frequency on psychosocial outcomes in youth. Can Fam Physician. 2015 61: 96-106.

Estudos recentes mostram que a prática das refeições em família contribui para o consumo de alimentos saudáveis e protege contra o desenvolvimento de hábitos alimentares inadequados entre crianças e adolescentes.44 Fulkerson JA, Friend S, Flattum C, Horning M, Draxten M, Neumark-Sztainer D. Association with houseld food availability in United States multi-person households: National Health and Nutrition Examination Survey 2007-2010. Plos One. 2015; 2: 1-13.

5 Dwyer L, Oh A, Patrick H, Hennessy E. Promoting family meals: a review of existing interventions and opportunities for future research. Adolesc Health Med Ther. 2015; 6: 115-31.
-66 Newman SL, Tumin R, Andridge R, Anderson SE. Family Meal Frequency and Association with Household Food Availability in United States Multi-Person Households: National Health and Nutrition Examination Survey 2007-2010. Plos One. 2015; 12: e0144330. estimulando maior disponibilidade e consumo de frutas, legumes e verduras (FLV) e menor oferta de doces e bebidas açucaradas.77 Christian MS, Evans CE, Hancock N, Nykjaer C, Cade JE. Family meals can help children reach their 5 a day: a cross sectional survey of children's dietary intake from London primary schools. J Epidemiol Comm Health. 2013; 67 (4): 332-8. Há também evidências do seu impacto na redução da obesidade: estudos com crianças que receberam intervenção relacionada a promoção de refeições familiares saudáveis, juntamente com seus responsáveis, apresentaram redução do excesso de peso ao final do acompanhamento;44 Fulkerson JA, Friend S, Flattum C, Horning M, Draxten M, Neumark-Sztainer D. Association with houseld food availability in United States multi-person households: National Health and Nutrition Examination Survey 2007-2010. Plos One. 2015; 2: 1-13.,88 Flattum C, Draxten M, Horning M, Fulkerson JA, Neumark-Sztainer D, Garwick A, Kubik MY, Story M. Home Plus: Program design and implementation of a family-focused, community based intervention to promote the frequency and healthfulness of family meals, reduce children's sedentary behavior, and prevent obesity. Int J Behav Nutri Phys Act. 2015; 12: 53. além das associações com a redução do sedentarismo e tempo gasto em frente à televisão.88 Flattum C, Draxten M, Horning M, Fulkerson JA, Neumark-Sztainer D, Garwick A, Kubik MY, Story M. Home Plus: Program design and implementation of a family-focused, community based intervention to promote the frequency and healthfulness of family meals, reduce children's sedentary behavior, and prevent obesity. Int J Behav Nutri Phys Act. 2015; 12: 53. Outro papel importante da prática de refeições familiares seria a proteção contra distúrbios psicossociais, comuns em determinados estágios da infância e principalmente na adolescência: a associação entre o hábito de realizar as refeições em família e a menor ocorrência de transtornos alimentares, uso de álcool e drogas, sintomas depressivos e fatores de risco para suicídio entre adolescentes é evidenciada por diferentes estudos.33 Harrison ME, Norris ML, Obeid N, Fu M, Weinstangel H, Sampson M. Systematic review of the effects of family meal frequency on psychosocial outcomes in youth. Can Fam Physician. 2015 61: 96-106.

Apesar dos benefícios descritos pela literatura internacional, a menor prevalência das refeições em família nos domicílios com crianças também é documentada com frequência. Por exemplo, dados americanos de análises populacionais66 Newman SL, Tumin R, Andridge R, Anderson SE. Family Meal Frequency and Association with Household Food Availability in United States Multi-Person Households: National Health and Nutrition Examination Survey 2007-2010. Plos One. 2015; 12: e0144330. mostram prevalência de apenas 49% de uma refeição diária em família. A alteração da rotina contemporânea atual favorece hábitos que estão na contramão da alimentação em família, com refeições prontas e cada vez mais rápidas.55 Dwyer L, Oh A, Patrick H, Hennessy E. Promoting family meals: a review of existing interventions and opportunities for future research. Adolesc Health Med Ther. 2015; 6: 115-31.,99 Tumin R, Anderson SE. The epidemiology of damily meals among Ohio's adults. Public Health Nutr. 2015; 18: 1474-81.

No Brasil, entretanto, dados de prevalência da realização de refeições em família, estudos de associação com características nutricionais e comportamentais de crianças e adolescentes e estudos de intervenção neste contexto são escassos. O presente estudo pretende revisar o impacto desta prática no índice de massa corporal (IMC) e hábitos alimentares na infância e adolescência, como etapa preliminar ao desenvolvimento de projeto de estudo de prevalência e intervenção em famílias brasileiras.

Métodos

Trata-se de revisão nas bases de literatura BVS (Bireme / Lilacs / Scielo / Cochrane) e Pubmed, do período de 2000 a 2016. Os termos de busca foram utilizados em associação, segundo operadores booleanos 'and', 'or': "refeição em família/family meal or mealtime", "comportamento/behavior", "alimentação ou dieta ou ingestão alimentar/ nutrition or diet or consumption or eating", "infância ou crianças ou adolescentes/child or childhood or children or adolescence".

O critério de inclusão dos trabalhos foi pautado na seleção de estudos que tivessem por objetivo apresentar a prevalência do hábito das refeições em família e/ou de discutir as relações entre esta prática e o desenvolvimento da criança/adolescente sob aspectos nutricionais e comportamentais (do ponto de vista alimentar). Foram selecionados apenas trabalhos de campo de caráter transversal ou coorte, ou revisões sistemáticas, realizados no Brasil ou no exterior (apenas nas línguas portuguesa, inglesa ou espanhola) com crianças e/ou adolescentes e de qualquer tamanho amostral. Artigos cujo acesso completo não esteve disponível também foram excluídos da análise. O processo de seleção dos estudos foi realizado por dois examinadores independentes e ocorreu de acordo com as seguintes etapas: 1) Leitura de títulos e resumos dos artigos encontrados; 2) Exclusão dos trabalhos fora do critério de seleção e duplicatas; 3) Exclusão de foco de pesquisa incompatível com objetivos e 4) Leitura de artigos na íntegra para seleção final. Após este processo, os artigos selecionados por cada examinador foram cruzados uma última vez para a exclusão de novas duplicatas e seleção final dos trabalhos.

Dos 2319 artigos encontrados (541 bases BVS e 1778 da base Pubmed), foram selecionados 15 trabalhos, todos na língua inglesa, caracterizados segundo desenho e grupo populacional: revisões sistemáticas (n=2), estudos transversais (n=8), estudos longitudinais (n=8). Em relação à faixa etária, foram encontrados trabalhos realizados com crianças (n=4), adolescentes (n=6) e ambos (n=5). O processo de seleção dos artigos segue descrito na Figura 1.

Figura 1
Fluxo de seleção dos artigos. Instituto PENSI: 2016.

Resultados

Os resultados referentes a frequência do compartilhamento das refeições seguem descritos na Tabela 1. Dentre os estudos revisados, a média de compartilhamento foi de uma refeição diária.1010 Lora KR, Sisson SB, DeGrace BW, Morris AS. Frequency of family meals and 6-11-year-old children's social behaviors. J Fam Psychol. 2014; 28 (4): 577-82.

11 Woodruff SJ, Kirby AR. The associations among family meal frequency, food preparation frequency, self-efficacy for cooking, and food preparation techniques in children and adolescents. J Nutr Educ Behav. 2013; 45 (4): 296-303.

12 Larson N, Fulkerson J, Story M, Neumark-Sztainer D. Shared meals among young adults are associated with better diet quality and predicted by family meal patterns during adolescence. Public Health Nutr. 2013; 16 (5): 883-93.

13 Wyse R, Campbell E, Nathan N, Wolfenden L. Associations between characteristics of the home food environment and fruit and vegetable intake in preschool children: a cross-sectional study. BMC Public Health. 2011; 11: 938.

14 White J, Halliwell E. Alcohol and tobacco use during adolescence: the importance of the family mealtime environment. J Health Psychol. 2010; 15 (4): 526-32.
-1515 Eisenberg ME, Olson RE, Neumark-Sztainer D, Story M, Bearinger LH. Correlations Between Family Meals and Psychosocial Well-being Among Adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med. 2004; 158 (8): 792-6. sendo que as prevalências de compartilhamento diário das refeições variaram de 27 a 81%.33 Harrison ME, Norris ML, Obeid N, Fu M, Weinstangel H, Sampson M. Systematic review of the effects of family meal frequency on psychosocial outcomes in youth. Can Fam Physician. 2015 61: 96-106.,1111 Woodruff SJ, Kirby AR. The associations among family meal frequency, food preparation frequency, self-efficacy for cooking, and food preparation techniques in children and adolescents. J Nutr Educ Behav. 2013; 45 (4): 296-303.,1212 Larson N, Fulkerson J, Story M, Neumark-Sztainer D. Shared meals among young adults are associated with better diet quality and predicted by family meal patterns during adolescence. Public Health Nutr. 2013; 16 (5): 883-93.,1313 Wyse R, Campbell E, Nathan N, Wolfenden L. Associations between characteristics of the home food environment and fruit and vegetable intake in preschool children: a cross-sectional study. BMC Public Health. 2011; 11: 938.,1414 White J, Halliwell E. Alcohol and tobacco use during adolescence: the importance of the family mealtime environment. J Health Psychol. 2010; 15 (4): 526-32.,1515 Eisenberg ME, Olson RE, Neumark-Sztainer D, Story M, Bearinger LH. Correlations Between Family Meals and Psychosocial Well-being Among Adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med. 2004; 158 (8): 792-6.,1616 Nuvoli G. Family meal frequency, weight status and healthy management in children, young adults and seniors. A study in Sardinia, Italy. Appetite. 2015; 89: 160-6.,1717 Burgess-Champoux TL, Larson N, Neumark-Sztainer D, Hannan PJ, Story M. Are family meal patterns associated with overall diet quality during the transition from early to middle adolescence? J Nutr Educ Behav. 2009; 41 (2): 79-86. As associações entre refeições em família e IMC e hábitos alimentares são descritas - separadamente abaixo.

Tabela 1
Frequência do compartilhamento de refeições entre os estudos selecionados. Instituto PENSI: 2016

Impacto no IMC

Três estudos incluídos neste trabalho avaliam a associação entre IMC e refeições em família. McCurdy et al.1818 McCurdy K, Gorman KS, Kisler T, Metallinos-Katsaras E. Associations between family food behaviors, maternal depression, and child weight among low-income children. Appetite. 2014; 79: 97-105. - em amostra de 164 crianças americanas de idade escolar e de baixa renda, dentre as quais um terço se encontrava com sobrepeso (17,1%) ou obesidade (15,9%) - descreveram relação inversamente proporcional entre ambos. A presença materna durante as refeições foi associada a menores valores de IMC (β =0,166; p<0.05), bem como a melhor gestão dos recursos financeiros e a maior oferta de refeições balanceadas por parte da família (OR=0,72-0,95; p<0,01). Boles et al.1919 Boles RE, Reiter-Purtill J, Zeller MH. Persistently obese youth: interactions between parenting styles and feeding practices with child temperament. Clin Pediatr (Phila). 2013; 52 (12): 1098-106. avaliaram as práticas alimentares e o estilo parental dos pais de 52 adolescentes com obesidade persistente e concluíram que esses jovens têm significantemente mais problemas nas práticas alimentares e menos interações familiares durante as refeições, especialmente aqueles com temperamentos difíceis, o que sugere o impacto das interações em família sobre o IMC de crianças e adolescentes. Já Kong et al.2020 Kong A, Jones BL, Fiese BH, Schiffer LA, Odoms-Young A, Kim Y, Bailey L, Fitzgibbon ML. Parent-child mealtime interactions in racially/ethnically diverse families with preschool-age children. Eat Behav. 2013; 14 (4): 451-5. não encontraram fortes associações entre as refeições em família e menores riscos de excesso de peso. Cerca de 44% das crianças da amostra estavam em risco de sobrepeso, e a média de compartilhamento de refeições era de uma diária. Os autores relacionam a falta de correlação ao pequeno tamanho da amostra (n=30 famílias de origem hispânica, africana e caucasiana não-hispânica de baixa renda), e ressaltam que a variedade étnica/racial pode também moderar essa relação.

Impacto na qualidade da alimentação

Cinco trabalhos incluídos no estudo abordam diferentes tópicos relacionados à qualidade da alimentação e presença de refeições em família. Christian et al.77 Christian MS, Evans CE, Hancock N, Nykjaer C, Cade JE. Family meals can help children reach their 5 a day: a cross sectional survey of children's dietary intake from London primary schools. J Epidemiol Comm Health. 2013; 67 (4): 332-8. - avaliando o consumo de frutas, legumes e verduras (FLV) de 2383 crianças matriculadas em escolas primárias de Londres - descreveram consumo médio de 293g FLV por dia, sendo que as crianças de famílias que relataram "sempre" comer uma refeição em família diária tiveram 125g mais de FLV do que as famílias que nunca comem juntos. O consumo diário de FLV pelos pais foi associado a maior ingestão de FLV (88g, IC95%= 37-138) em crianças, em comparação com pais que raramente/nunca consumiam. Cortar as frutas e legumes para as crianças também foi associado a maior consumo (44g; IC95%= 18 - 71) neste estudo.

Wit et al.2121 de Wit JB, Stok FM, Smolenski DJ, de Ridder DD, de Vet E, Gaspar T, Johnson F, Nureeva L, Luszczynska A. Food culture in the home environment: family meal practices and values can support healthy eating and self-regulation in young people in four European countries. Appl Psychol Health Well Being. 2015; 7 (1): 22-40. também encontraram melhor autorregulação do apetite e hábitos alimentares mais saudáveis entre adolescentes de 10 a 17 anos que faziam refeições familiares com mais frequência, sendo que a média de compartilhamento geral foi de duas refeições diárias (café da manhã e jantar) por pelo menos 3 dias durante a semana. No estudo feito por Larson et al.,1212 Larson N, Fulkerson J, Story M, Neumark-Sztainer D. Shared meals among young adults are associated with better diet quality and predicted by family meal patterns during adolescence. Public Health Nutr. 2013; 16 (5): 883-93. os adolescentes que compartilhavam refeições com maior frequência continuaram a consumir mais FLV e produtos lácteos até dez anos após a avaliação inicial. Similarmente, Burgess-Champoux et al.,1717 Burgess-Champoux TL, Larson N, Neumark-Sztainer D, Hannan PJ, Story M. Are family meal patterns associated with overall diet quality during the transition from early to middle adolescence? J Nutr Educ Behav. 2009; 41 (2): 79-86. descrevem maiores frequências de compartilhamento das refeições associadas ao dobro de ingestão de vegetais e de nutrientes, além da redução em 50% no consumo de fast foods, contribuindo para a formação de hábitos alimentares saudáveis até cinco anos depois.

Flattum et al.88 Flattum C, Draxten M, Horning M, Fulkerson JA, Neumark-Sztainer D, Garwick A, Kubik MY, Story M. Home Plus: Program design and implementation of a family-focused, community based intervention to promote the frequency and healthfulness of family meals, reduce children's sedentary behavior, and prevent obesity. Int J Behav Nutri Phys Act. 2015; 12: 53. desenvolveram um programa denominado Healthy Home Offerings via the Mealtime Environment (HOME Plus) para prevenção de obesidade, aplicado com 81 famílias americanas (crianças de 8 a 12 anos e seus pais) em dez sessões de duas horas cada, e cinco telefonemas motivacionais para promover hábitos alimentares saudáveis e aumentar as refeições em família. Após as intervenções do Programa HOME, 87% dos pais relataram que seus filhos estavam mais abertos a experimentar novos alimentos, 52% das crianças comeram mais FLV, e 86% dos pais relataram que seus filhos estavam mais conscientes em relação ao tamanho das porções. Além disso, pais e crianças relataram que cozinhar em família é uma experiência agradável, que viabiliza o aprendizado de comer de forma mais saudável.

Discussão

Dentre os estudos incluídos nesta revisão, treze demonstraram os efeitos benéficos das refeições familiares na prevenção de alterações comportamentais e nutricionais de crianças e adolescentes. Segundo estes trabalhos, a refeição em família ultrapassa o campo das experiências sensoriais com os alimentos e favorece IMC normal e hábitos alimentares saudáveis (maior consumo de FLV, proteínas, fontes de cálcio e menor consumo de doces e bebida adoçadas), união familiar e auto regulação do apetite.88 Flattum C, Draxten M, Horning M, Fulkerson JA, Neumark-Sztainer D, Garwick A, Kubik MY, Story M. Home Plus: Program design and implementation of a family-focused, community based intervention to promote the frequency and healthfulness of family meals, reduce children's sedentary behavior, and prevent obesity. Int J Behav Nutri Phys Act. 2015; 12: 53.,2121 de Wit JB, Stok FM, Smolenski DJ, de Ridder DD, de Vet E, Gaspar T, Johnson F, Nureeva L, Luszczynska A. Food culture in the home environment: family meal practices and values can support healthy eating and self-regulation in young people in four European countries. Appl Psychol Health Well Being. 2015; 7 (1): 22-40.,1818 McCurdy K, Gorman KS, Kisler T, Metallinos-Katsaras E. Associations between family food behaviors, maternal depression, and child weight among low-income children. Appetite. 2014; 79: 97-105.,77 Christian MS, Evans CE, Hancock N, Nykjaer C, Cade JE. Family meals can help children reach their 5 a day: a cross sectional survey of children's dietary intake from London primary schools. J Epidemiol Comm Health. 2013; 67 (4): 332-8.,2020 Kong A, Jones BL, Fiese BH, Schiffer LA, Odoms-Young A, Kim Y, Bailey L, Fitzgibbon ML. Parent-child mealtime interactions in racially/ethnically diverse families with preschool-age children. Eat Behav. 2013; 14 (4): 451-5.,1919 Boles RE, Reiter-Purtill J, Zeller MH. Persistently obese youth: interactions between parenting styles and feeding practices with child temperament. Clin Pediatr (Phila). 2013; 52 (12): 1098-106.,1212 Larson N, Fulkerson J, Story M, Neumark-Sztainer D. Shared meals among young adults are associated with better diet quality and predicted by family meal patterns during adolescence. Public Health Nutr. 2013; 16 (5): 883-93.,1717 Burgess-Champoux TL, Larson N, Neumark-Sztainer D, Hannan PJ, Story M. Are family meal patterns associated with overall diet quality during the transition from early to middle adolescence? J Nutr Educ Behav. 2009; 41 (2): 79-86.

Frequência de refeições em família

A média de compartilhamento das refeições no presente estudo foi de uma refeição diária, com ampla variedade na prevalência desse compartilhamento (27 a 81%).33 Harrison ME, Norris ML, Obeid N, Fu M, Weinstangel H, Sampson M. Systematic review of the effects of family meal frequency on psychosocial outcomes in youth. Can Fam Physician. 2015 61: 96-106.,1616 Nuvoli G. Family meal frequency, weight status and healthy management in children, young adults and seniors. A study in Sardinia, Italy. Appetite. 2015; 89: 160-6.,1010 Lora KR, Sisson SB, DeGrace BW, Morris AS. Frequency of family meals and 6-11-year-old children's social behaviors. J Fam Psychol. 2014; 28 (4): 577-82.,1111 Woodruff SJ, Kirby AR. The associations among family meal frequency, food preparation frequency, self-efficacy for cooking, and food preparation techniques in children and adolescents. J Nutr Educ Behav. 2013; 45 (4): 296-303.,1212 Larson N, Fulkerson J, Story M, Neumark-Sztainer D. Shared meals among young adults are associated with better diet quality and predicted by family meal patterns during adolescence. Public Health Nutr. 2013; 16 (5): 883-93.,1414 White J, Halliwell E. Alcohol and tobacco use during adolescence: the importance of the family mealtime environment. J Health Psychol. 2010; 15 (4): 526-32.,1313 Wyse R, Campbell E, Nathan N, Wolfenden L. Associations between characteristics of the home food environment and fruit and vegetable intake in preschool children: a cross-sectional study. BMC Public Health. 2011; 11: 938.,1717 Burgess-Champoux TL, Larson N, Neumark-Sztainer D, Hannan PJ, Story M. Are family meal patterns associated with overall diet quality during the transition from early to middle adolescence? J Nutr Educ Behav. 2009; 41 (2): 79-86.,1515 Eisenberg ME, Olson RE, Neumark-Sztainer D, Story M, Bearinger LH. Correlations Between Family Meals and Psychosocial Well-being Among Adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med. 2004; 158 (8): 792-6. Em comparação, dados brasileiros da PeNSE 2012 (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar)2222 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Rio de Janeiro: Ministério do planejamento, orçamento e gestão; 2013. mostraram que 66,4% dos escolares faziam uma refeição diária com a família. Na Região Sul observou-se o maior percentual (71,1%) e, na Região Sudeste, o menor (64,6%). Em relação aos Municípios, a maior proporção foi observada em Florianópolis (71,5%) e a menor, em Salvador (47%). Adicionalmente, dados de estudo com 439 mães no Estado de São Paulo2323 Sato PM, Lourenço BH, Trude ACB, Unsain RF, Pereira PR, Martins PA, Scagliusi FB. Family meals and practices among mothers in Santos, Brazil: a population-based study. Appetite. 2016; 103: 38-44. mostram frequência de ao menos uma refeição compartilhada (não importando qual) diariamente de 83,6%. Neste trabalho, o aumento da idade das mães e menor nível de escolaridade se associaram à redução da frequência das refeições compartilhadas. No Estudo ERICA,2424 Barufaldi LA, Abreu GA, Oliveira JS, Santos DF, Fujimori E, Vasconcelos SML, Vasconcelos FAG, Tavares BM. ERICA: prevalência de comportamentos alimentares saudáveis em adolescentes brasileiros. Rev Saúde Pública. 2016; 50 (supl 1): 6s. com amostra de 74.589 adolescentes de 12 a 17 anos em 124 municípios brasileiros, 68,0% relataram "sempre ou quase sempre" realizar refeições em família. Similarmente ao estudo realizado em São Paulo, houve maior prevalência de refeição compartilhada em família entre adolescentes cujas mães tinham maior escolaridade, eram de escolas privadas e residiam nas Regiões Sul e Centro-Oeste. Os dados brasileiros, desta forma, parecem estar em acordo com as prevalências descritas pela literatura internacional.

Embora não haja consenso sobre o número necessário de refeições semanais em família para fornecer proteção à saúde, alguns autores indicam quatro ou mais refeições semanais como o ideal.2525 Eisenberg ME, Neumark-Sztainer D, Fulkerson JA, Story M. Family meals and substance use: Is there a long-term protective association? J Adolesc Health. 2008; 43: 151-6. Em uma meta-análise internacional de 17 estudos - que totalizam amostra de 182.836 crianças e adolescentes - a associação com IMC normal e hábitos alimentares saudáveis se deu a partir da frequência de três refeições em família na semana.2626 Hammons AJ, Fiese H. Is Frequency of Shared Family Meals Related to the Nutritional Health of Children and Adolescents? Pediatrics. 2011; 127 (6): e1565-74. Outros estudos sugerem que a frequência de ao menos uma refeição diária em família foi beneficamente associada a transtornos alimentares em crianças mais velhas2727 Fulkerson JA, Story M, Mellin A, Leffert N, Neumark-Sztainer D, French SA. Family dinner meal frequency and adolescent development: relationships with developmental assets and high-risk behaviors. J Adolesc Health. 2006; 39(3): 337-45.,2828 Neumark-Sztainer D, Wall M, Story M, Fulkerson JA. Are family meal patterns associated with disordered eating behaviors among adolescents? J Adolesc Health. 2004; 35 (5): 350-9. e à alimentação saudável e IMC normal em crianças e adolescentes.2929 Woodruff SJ, Hanning RM. Associations between family dinner frequency and specific food behaviors among grade six, seven, and eight students from Ontario and Nova Scotia. J Adolesc Health. 2009; 44 (5): 431-6. No Brasil, a recomendação oficial do Ministério da Saúde é a de que a refeição seja compartilhada o máximo possível, sem - no entanto - a recomendação explícita da quantidade ideal de refeições.3030 Brasil. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para população Brasileira. 2 ed. Brasília: Secretaria de atenção à saúde. Departamento de atenção básica; 2014.

Dentre os motivos que poderiam explicar a falta da realização das refeições em conjunto, pode-se se citar como principal fator a rotina familiar atual, caracterizada por pais que chegam tarde em casa e cujos filhos se alimentam mais cedo, na escola ou com cuidadores. Mesmo nos estudos incluídos nesta revisão há relatos de que o jantar é a refeição mais compartilhada (81%), seguida pelo café da manhã (71%) e almoço (23%),1616 Nuvoli G. Family meal frequency, weight status and healthy management in children, young adults and seniors. A study in Sardinia, Italy. Appetite. 2015; 89: 160-6.,1111 Woodruff SJ, Kirby AR. The associations among family meal frequency, food preparation frequency, self-efficacy for cooking, and food preparation techniques in children and adolescents. J Nutr Educ Behav. 2013; 45 (4): 296-303.,1717 Burgess-Champoux TL, Larson N, Neumark-Sztainer D, Hannan PJ, Story M. Are family meal patterns associated with overall diet quality during the transition from early to middle adolescence? J Nutr Educ Behav. 2009; 41 (2): 79-86. ilustrando a possível dificuldade logística que acompanha a rotina de trabalho atual das famílias. A estrutura familiar atual, cada vez mais formada por relações que agrupam crianças de rupturas das uniões conjugais, ou famílias monoparentais, pode implicar na sobrecarga de papéis para a manutenção das funções e também exercer impacto na frequência de refeições em família.3131 Horta RL, Horta BL, Pinheiro RT. Drogas: famílias que protegem e que expõem adolescentes ao risco. J Bras Psiquiatr. 2006; 55 (4): 268-72.,3232 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquina Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD). Rio de Janeiro; 2009. Os estudos de Nuvoli et al.1616 Nuvoli G. Family meal frequency, weight status and healthy management in children, young adults and seniors. A study in Sardinia, Italy. Appetite. 2015; 89: 160-6. e de Harrison et al.33 Harrison ME, Norris ML, Obeid N, Fu M, Weinstangel H, Sampson M. Systematic review of the effects of family meal frequency on psychosocial outcomes in youth. Can Fam Physician. 2015 61: 96-106. também mostram correlação positiva entre o avanço da idade das crianças e o aumento da frequência do compartilhamento das refeições, o que poderia ser explicado pelo ajuste das rotinas e horários, que tendem à similaridade com padrões adultos com o avanço da idade. Nos dados brasileiros mencionados anteriormente,2222 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Rio de Janeiro: Ministério do planejamento, orçamento e gestão; 2013.,2323 Sato PM, Lourenço BH, Trude ACB, Unsain RF, Pereira PR, Martins PA, Scagliusi FB. Family meals and practices among mothers in Santos, Brazil: a population-based study. Appetite. 2016; 103: 38-44.,2424 Barufaldi LA, Abreu GA, Oliveira JS, Santos DF, Fujimori E, Vasconcelos SML, Vasconcelos FAG, Tavares BM. ERICA: prevalência de comportamentos alimentares saudáveis em adolescentes brasileiros. Rev Saúde Pública. 2016; 50 (supl 1): 6s. a prevalência das refeições compartilhadas é discriminada apenas como 'almoço ou jantar', o que dificulta as comparações por tipo de refeição. De todo modo, compartilhar uma refeição diária (provavelmente o jantar) parece ser a única oportunidade que a criança e/ou adolescente tem de vivenciar este momento de interação com a família.

Impacto no IMC e qualidade da alimentação

Apesar dos resultados de frequência estarem em acordo com a literatura internacional, nenhum dos estudos brasileiros incluídos neste estudo busca associações entre a frequência de refeições em família e marcadores do estado nutricional dos participantes, o que dificulta as comparações relacionadas ao seu impacto no IMC.

Segundo os dados internacionais, investir continuamente na promoção desta prática (sobretudo nos extratos de vulnerabilidade socioeconômica) torna-se extremamente relevante quando se considera seu benefício na manutenção de IMC saudável1818 McCurdy K, Gorman KS, Kisler T, Metallinos-Katsaras E. Associations between family food behaviors, maternal depression, and child weight among low-income children. Appetite. 2014; 79: 97-105.,2020 Kong A, Jones BL, Fiese BH, Schiffer LA, Odoms-Young A, Kim Y, Bailey L, Fitzgibbon ML. Parent-child mealtime interactions in racially/ethnically diverse families with preschool-age children. Eat Behav. 2013; 14 (4): 451-5.,1919 Boles RE, Reiter-Purtill J, Zeller MH. Persistently obese youth: interactions between parenting styles and feeding practices with child temperament. Clin Pediatr (Phila). 2013; 52 (12): 1098-106. e aumento no consumo de FLV.77 Christian MS, Evans CE, Hancock N, Nykjaer C, Cade JE. Family meals can help children reach their 5 a day: a cross sectional survey of children's dietary intake from London primary schools. J Epidemiol Comm Health. 2013; 67 (4): 332-8.,88 Flattum C, Draxten M, Horning M, Fulkerson JA, Neumark-Sztainer D, Garwick A, Kubik MY, Story M. Home Plus: Program design and implementation of a family-focused, community based intervention to promote the frequency and healthfulness of family meals, reduce children's sedentary behavior, and prevent obesity. Int J Behav Nutri Phys Act. 2015; 12: 53.,1212 Larson N, Fulkerson J, Story M, Neumark-Sztainer D. Shared meals among young adults are associated with better diet quality and predicted by family meal patterns during adolescence. Public Health Nutr. 2013; 16 (5): 883-93.,1717 Burgess-Champoux TL, Larson N, Neumark-Sztainer D, Hannan PJ, Story M. Are family meal patterns associated with overall diet quality during the transition from early to middle adolescence? J Nutr Educ Behav. 2009; 41 (2): 79-86. No Brasil, as taxas atuais de obesidade constam em 15% e 20% entre crianças e adolescentes (respectivamente), prevalências entre as mais altas da América Latina.3333 RNPI (Rede Nacional Primeira Infância). Obesidade na primeira infância. Projeto observatório nacional da primeira infância. FOrtaleza/CE: Secretaria Executiva da RNPI - biênio 2013/2014, Instituto da Infância (IFAN); 2014. Adicionalmente, os dados de consumo de FLV no país denotam situação de inadequação generalizada, com cerca de apenas 30 a 50% de ingestão adequada entre a população jovem.3434 Machado RHV, Feferbaum R, Leone C. Consumo de frutas no Brasil e prevalência de obesidade. J Human Growth Dev. 2016; 26 (2): 243-52. Assim, as intervenções que visam à redução de obesidade, por exemplo, podem e devem se valer de estratégias que abordem as refeições em família.

Poucos estudos disponíveis buscam realizar intervenções voltadas para a promoção da alimentação em família no Brasil, não havendo ainda um consenso na literatura sobre o melhor método a ser adotado. Kharofa et al.3535 Kharofa Y, Kalkwarf J, Khoury JC, Copeland KA. Are Mealtime Best Practice Guidelines for Child Care Centers Associated with Energy, Vegetable, and Fruit Intake? Childhood obesity. 2016; 12 (1): 52-8. propõem um guia para a elaboração de tais intervenções, com passos que subsidiam o treinamento de práticas adequadas no momento da refeição. Como a realização das refeições familiares é dependente do padrão comportamental e condições socioeconômicas dos pais ou cuidadores, eles se tornam o principal foco das intervenções, e não as crianças.99 Tumin R, Anderson SE. The epidemiology of damily meals among Ohio's adults. Public Health Nutr. 2015; 18: 1474-81.,3636 Rhee KE, Dickstein S, Jelalian E, Boutelle K, Seifer R, Wing R. Development of the general parenting observational scale to assess parenting during family meals. Int J Behav Nutr Phys Act. 2015; 12: 49-64. Ainda que não haja consenso metodológico, as intervenções já realizadas vão de encontro a essas premissas mencionadas, como a incluída nesta revisão88 Flattum C, Draxten M, Horning M, Fulkerson JA, Neumark-Sztainer D, Garwick A, Kubik MY, Story M. Home Plus: Program design and implementation of a family-focused, community based intervention to promote the frequency and healthfulness of family meals, reduce children's sedentary behavior, and prevent obesity. Int J Behav Nutri Phys Act. 2015; 12: 53. e a descrita por Adamson et al.3737 Adamson M, Morawska A, Wigginton B. Mealtime duration in problem and non-problem eaters. Appetite. 2015; 84: 228-34. e Berge et al.,3838 Berge JM, Wall M, Neumark-Sztainer D, Larson N, Story M. Parenting style and family meals: cross-sectional and 5-year longitudinal associations. J Am Diet Assoc. 2010; 110 (7): 1036-42. por exemplo, que descrevem resultados positivos no aumento da exposição das crianças aos alimentos e melhora sua relação com a alimentação após estímulo às refeições compartilhadas, além de evidenciar que o comportamento e estilo parental dos pais durante a refeição tem impacto nas dificuldades alimentares mais comuns da infância. No trabalho de Burgess et al.,1717 Burgess-Champoux TL, Larson N, Neumark-Sztainer D, Hannan PJ, Story M. Are family meal patterns associated with overall diet quality during the transition from early to middle adolescence? J Nutr Educ Behav. 2009; 41 (2): 79-86. a frequência de refeições em família após o período de intervenção aumentou em 6%. Incluir as crianças / adolescentes no preparo das refeições também pode ser uma estratégia eficaz para aumentar a frequência das refeições em família (OR= 1,15; p=0,02), conforme demonstrado por Woodruff e Kurby.1111 Woodruff SJ, Kirby AR. The associations among family meal frequency, food preparation frequency, self-efficacy for cooking, and food preparation techniques in children and adolescents. J Nutr Educ Behav. 2013; 45 (4): 296-303.

Limitações metodológicas

Apesar do impacto positivo evidente no IMC e hábitos alimentares, a maioria dos estudos existentes apresentam algumas limitações para análises e comparações: concentram-se na frequência das refeições compartilhadas, sem - entretanto - descrever a maneira e ambiente nos quais a refeição é realizada; consideram e analisam a refeição principal de maneira distinta (alguns autores consideram almoço/jantar, outras o café da manhã); se baseiam principalmente em escolares e adolescentes, com escassez de trabalhos na primeira infância (quando ocorre a formação do hábito alimentar); não investigam a fundo os motivos que levam a família a não compartilhar as refeições; e não discorrem sobre um possível consenso de recomendação de quantidade de refeições semanais necessárias para fornecer proteção à saúde.3939 Skafida V. The family meal panacea: exploring how diferent aspects of family meal occurrence, meal habits and meal enjoyment relate to young children's diets. Sociol Health Illn. 2013; 35 (6): 906-23. Tais informações são relevantes para a formulação de planos de ação estratégicos e suas respectivas avaliações.

Sugere-se que estudos futuros invistam principalmente em intervenções que facilitem a prática das refeições familiares para núcleos que apresentam maiores barreiras na rotina domiciliar, como ambos os pais trabalhando fora, extensa jornada de trabalho ou ausência de horários regulares destinados à alimentação, estrutura familiar desequilibrada e hábito alimentares inadequados.55 Dwyer L, Oh A, Patrick H, Hennessy E. Promoting family meals: a review of existing interventions and opportunities for future research. Adolesc Health Med Ther. 2015; 6: 115-31.,4040 Fulkerson JA, Larson N, Horning M, Neumark-Sztainer D. A review of associations between family or shared meals frequency and dietary and weight status outcomes across the lifespan. J Nutr Educ Behav. 2014; 46 (1): 2-19.

Conclusões

O hábito de realizar refeições em família foi associado à manutenção de IMC normal e boa qualidade da alimentação de crianças e adolescentes em nível internacional. A média das refeições compartilhadas nos estudos se aproxima de uma refeição compartilhada diariamente e, dentre os fatores que dificultam a prática, destacam-se a rotina e estrutura familiar. Condição socioeconômica e escolaridade menores também se associaram à redução do compartilhamento das refeições. Não há consenso sobre a recomendação mínima de refeições compartilhadas, sugerindo-se ao menos uma refeição conjunta diária; com adequação das práticas durante este momento. Esta lacuna de informações constitui-se em oportunidade para pesquisa e desenvolvimento de novas abordagens que estimulem a prática das refeições familiares em diferentes populações.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    14 Jul 2016
  • Aceito
    22 Jun 2017
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