Acessibilidade / Reportar erro

Conceitos, prevalência e características da morbidade materna grave, near miss, no Brasil: revisão sistemática

Resumo

Objetivos:

análise da frequência, características e causas da morbidade materna grave (near miss materno) no Brasil.

Métodos:

revisão sistemática de estudos quantitativos sobre características, causas e fatores associados à morbidade materna grave (near miss materno). A busca foi feita via MEDLINE (maternal near miss or severe maternal morbidity and Brazil) e LILACS (near miss materno, morbidade materna). Foram extraídos dados sobre características metodológicas do artigo, critérios para morbidade materna e principais resultados. A razão de near miss e os indicadores foram descritos ou estimados.

Resultados:

identificamos 48 estudos, sendo 37 de base hospitalar, seis com base em inquéritos de saúde e cinco com base em sistemas de informação. Diferentes definições foram adotadas. A Razão de near miss materno variou de 2,4/ 1000 NV a 188,4/1000 NV, dependendo dos critérios e do cenário epidemiológico. O índice de mortalidade near miss materno variou entre 3,3% e 32,2%. Doenças hipertensivas e hemorragia foram as morbidades mais comuns, mas causas indiretas vêm aumentando. Falhas nos cuidados de saúde foram associadas ao near miss, assim como fatores sociodemográficos (cor da pele não branca, adolescência/ idade≥35 anos, baixa escolaridade).

Conclusões:

a frequência de near miss materno no Brasil é elevada, com perfil de causas semelhantes às da mortalidade materna. Foi identificada associação com iniquidades e demoras na assistência à saúde.

Palavras-chave
Saúde da mulher; Complicações na gravidez; Desigualdades em saúde

Abstract

Objectives:

to analyze frequency, characteristics and causes of severe maternal morbidity (maternal near miss) in Brazil.

Methods:

a systematic review on quantitative studies about characteristics, causes, and associated factors on severe maternal morbidity (maternal near miss). The search was done through MEDLINE (maternal near miss or severe maternal morbidity and Brazil) and LILACS (maternal near miss, maternal morbidity). Data were extracted from methodological characteristics of the article, criteria for maternal morbidity and main results. Near miss ratios and indicators were described and estimated.

Results:

we identified 48 studies: 37 were on hospital based; six were based on health surveys and five were based on information systems. Different definitions were adopted. Maternal near miss ratio ranged from 2.4/1000 LB to 188.4/1000 LB, depending on the criteria and epidemiological scenario. The mortality rate for maternal near miss varied between 3.3% and 32.2%. Hypertensive diseases and hemorrhage were the most common morbidities, but indirect causes have been increasing. Flaws in the healthcare were associated to near miss and also sociodemographic factors (non-white skin color, adolescence/ age ≥ 35 years old, low schooling level).

Conclusions:

the frequency of maternal near miss in Brazil is high, with a profile of similar causes to maternal mortality. Inequities and delays in the healthcare were identified as association.

Key words
Women’s health; Complications at pregnancy; Health inequalities

Introdução

A saúde de mulheres e crianças é uma prioridade no mundo, e as perdas no período gravídico-puerperal e na infância são consideradas devastadoras para a família e a sociedade. A razão da morte materna reflete os indicadores socioeconômicos bem como a qualidade da assistência em saúde ofertada e sua redução no Brasil e no mundo foi incluída nos objetivos do Milênio e se mantém na proposta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.11 United Nations. Sustainable Development Goals [Internet]. New York: United Nations; 2017. [acesso em 26 set 2017]. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/sdg3 Não houve alcance da meta anterior de redução da Razão de Mortalidade Materna (RMM) em dois terços e, para o Brasil, o desafio é reduzir a RMM para 20/100.000 nascidos vivos, até 2030.11 United Nations. Sustainable Development Goals [Internet]. New York: United Nations; 2017. [acesso em 26 set 2017]. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/sdg3

A despeito de razões de mortalidade materna elevadas, o óbito materno é um evento pouco frequente em números absolutos, dificultando estudos locais e a compreensão das causas básicas. Adicionalmente, entre a gestação saudável e o óbito materno, existe um espectro de condições mórbidas, de quadros leves a extremamente graves.22 Say L, Barreix M, Chou D, Tunçalp Õ, Cottler S, McCaw-Binns A, Gichuhi GN, Taulo F, Hindin M. Maternal morbidity measurement tool pilot: study protocol. Reprod Health. 2016; 13 (1): 69.

Nesse contexto, foi desenvolvido o critério de morbidade materna grave ou "near miss materno" que é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como: "uma mulher que quase morreu, mas sobreviveu a uma complicação materna grave, ocorrida durante a gravidez, o parto ou em até 42 dias após o término da gravidez".33 Organização Mundial de Saúde. Avaliação da Qualidade do Cuidado nas Complicações Graves da Gestação: A Abordagem do Near Miss da OMS para a Saúde Materna. Uruguay. OMS; 2011. Estas mulheres sobreviveram a complicações maternas graves ou "condições ameaçadoras à vida", por conta de atenção adequada dos serviços de saúde.33 Organização Mundial de Saúde. Avaliação da Qualidade do Cuidado nas Complicações Graves da Gestação: A Abordagem do Near Miss da OMS para a Saúde Materna. Uruguay. OMS; 2011. Existe uma lista de condições ameaçadoras à vida (CAV) reconhecíveis por características clínicas, laboratoriais ou de manejo que suportam esta classificação estabelecida pela OMS com o objetivo de unificar critérios diagnósticos.33 Organização Mundial de Saúde. Avaliação da Qualidade do Cuidado nas Complicações Graves da Gestação: A Abordagem do Near Miss da OMS para a Saúde Materna. Uruguay. OMS; 2011.

Antes da OMS, outros critérios foram propostos para este desfecho, considerando desde a internação em Unidade de Terapia Intensiva até o quadro de disfunção orgânica, com diferentes medidas de acurácia.44 Reichenheim ME, Zylbersztajn F, Moraes CL, Lobato G. Severe acute obstetric morbidity (near miss): a review of the relative use of its diagnostic indicators. Arch Gynecol Obstet. 2009; 280 (3): 337-43. As condições de ameaça à vida são o extremo de condições potencialmente ameaçadoras (CPAV) ou complicações maternas e se caracterizam por algum sinal de disfunção orgânica.22 Say L, Barreix M, Chou D, Tunçalp Õ, Cottler S, McCaw-Binns A, Gichuhi GN, Taulo F, Hindin M. Maternal morbidity measurement tool pilot: study protocol. Reprod Health. 2016; 13 (1): 69.

Vários indicadores derivaram-se do conceito de near miss e podem ser usados em pesquisa e em auditorias obstétricas. Destacam-se: razão de near-miss materno (RNMM), que é resultante do número de casos de near miss pelo número de nascidos vivos (por 100.000); desfecho materno grave (ou condição de ameaça à vida), que soma casos de near miss e de morte materna; razão entre near miss materno e morte materna (NMM:MM); e o índice de mortalidade (IM), que é a proporção de mortes maternas do total de desfechos graves. Estes dois últimos refletem a eficácia da assistência em impedir que um caso grave evolua a óbito, e espera-se NMM:MM elevado e IM baixo.33 Organização Mundial de Saúde. Avaliação da Qualidade do Cuidado nas Complicações Graves da Gestação: A Abordagem do Near Miss da OMS para a Saúde Materna. Uruguay. OMS; 2011.

Além do comprometimento das mulheres, a morbidade materna grave/near miss materno tem impacto sobre os desfechos fetais e neonatais, incluindo o near miss neonatal.55 Dias MAB, Domingues RMSM, Schilithz AOC, Pereira MN, Diniz CSG, Brum IR, Martins AL, Theme Filha MM, Gama SGN, Leal MC. Incidência do Near Miss Materno no Parto e Pós-parto hospitalar: dados da pesquisa Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30 (Supl 1): S1-12.

Não identificamos revisões nacionais sobre morbidade materna grave/near miss no país, e a revisão sistemática internacional mais recente é de 2013, incluindo poucos estudos brasileiros.66 Tunçalp Õ, Hindin MJ, Souza JP, Chou D, Say L. The prevalence of maternal near miss: a systematic review. BJOG. 2012; 119 (6): 653-61. Considerando esta lacuna e a relevância que os óbitos e demais desfechos maternos como aborta-mento, doenças hipertensivas, hemorragias, e infecções, possuem para a saúde da mulher e da criança, o objetivo deste artigo foi rever a literatura brasileira sobre o tema near miss materno.

Métodos

Foi realizada revisão sistemática da literatura sobre morbidade materna grave / near miss materno no Brasil, sem limite de data, com busca finalizada em outubro de 2016.

Quanto aos critérios de elegibilidade, consideramos duas abordagens principais para inclusão dos artigos: estudos descritivos (descrição de taxas de morbidade materna/near miss, descrição de causas); estudos de fatores associados aos desfechos morbidade materna/near miss (transversais ou longitudinais).

Foram excluídos relatos de caso, estudos com grupos específicos de patologias não relacionadas diretamente com morbimortalidade materna e estudos onde a morbidade materna era exposição e não o desfecho.

Estudos de revisão foram incluídos inicialmente, para ampliar a identificação de estudos originais, e posteriormente foram excluídos. Também excluímos cartas, editoriais, dissertações e teses, priorizando trabalhos integrais já publicados em periódicos científicos. Adotamos como critério de exclusão artigos nos quais o Brasil não fosse o único país abordado, para enfatizar as abordagens nacionais sobre o tema. A busca bibliográfica foi feita nas bases de dados Lilacs (via Biblioteca Virtual de Saúde) e Medline (via PubMed), sem restrição de idioma. Os termos morbidade materna grave e near miss ainda não existem como descritores das bases de literatura científica.

Na Lilacs, a estratégia de busca foi feita em duas etapas (o uso do operador booleano OR unindo os dois termos resultou em menor número de artigos), usando os termos: morbidade materna grave e near miss materno, em cada etapa. Para o Medline, a estratégia foi: (near miss or severe morbidity) and maternal and Brazil.

A busca foi realizada por JMPS (primeira autora) e SCF (segunda autora), de forma independente e as discordâncias foram resolvidas por consenso. Foi realizada busca adicional manual nas referências bibliográficas dos artigos incluídos.

Inicialmente, avaliaram-se os títulos dos artigos. Os títulos rejeitados por ambas as pesquisadoras foram excluídos. Os títulos aprovados por pelo menos uma das autoras passaram para a segunda etapa, de leitura dos resumos. Nesta etapa, foram incluídos os estudos com resumo aprovado por ambas as autoras.

Dos resumos selecionados, o texto integral dos artigos foi lido para confirmar a elegibilidade de estudos e proceder à coleta das informações relevantes. Para estas etapas de leitura e síntese, além da primeira e da segunda autoras, houve participação das demais autoras (acadêmicas dos últimos períodos de Medicina, com interesse na área de obstetrícia). Cada artigo foi lido por pelo menos duas autoras (sempre a primeira ou segunda autora, mais uma terceira) de forma independente e as discordân-cias, resolvidas por consenso. Os motivos para exclusão final estão listados em fluxograma, conforme recomendação do PRISMA.77 Liberati A, Altman DG, Tetzlaff J, Mulrow C, Gotzsche PC, Loannidis JPA, Clarke M, Devereau PJ, Kleijnen J, Moher D. The PRISMA statement for reporting systematic reviews and meta-analyses of studies that evaluate healthcare inter-ventions: explanation and elaboration. BMJ 2009; 339: b2700.

Os dados - autor, local, características da população, tipo de delineamento, fonte dos dados, critério de morbidade materna grave/near miss e principais resultados - foram coletados de acordo com planilha pré-estabelecida. Todos os artigos foram lidos e analisados por pelo menos dois dos autores. Entre os resultados, foram destacados os indicadores quantitativos: razão ou incidência de near miss, razão NMM/MM e índice de mortalidade. Quando os indicadores não estavam descritos, mas havia a informação necessária para seu cálculo, foram estimados e adicionados aos resultados da revisão.

A qualidade metodológica não foi critério de inclusão/exclusão na análise, considerando que se pretendia analisar um espectro amplo de estudos sobre morbidade materna grave, e apontar aspectos referentes à metodologia utilizada. A sumarização e análise dos artigos também foi avaliada por um obstetra com experiência no tema.

Para organizar as categorias de artigos priorizou-se a fonte de dados, conforme proposto por Cecatti et al.,88 Cecatti JG, Souza JP, Parpinelli MA, de Sousa MH, Amaral E. Research on Severe Maternal Morbidities and Near-Misses in Brazil: What We Have Learned. Reprod Health Matters. 2007; 15 (30): 125-33. "estudos em populações hospitalares, estudos do tipo inquérito e estudos com base em sistemas de informação".

Esta revisão faz parte de uma pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética do Universitário Antônio Pedro em 14/11/2016, nº do parecer 1826053, para estudo das relações entre near miss e desfechos neonatais.

Resultados

Foram identificados 209 títulos na busca no MEDLINE e 113 (considerando as 2 combinações) na LILACS. Após exclusão de duplicidades, triagem e leitura de artigos na íntegra, selecionaram-se 48 estudos para a revisão sistemática (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma de seleção dos artigos.

Nas tabelas 1 a 4, os estudos estão organizados de acordo com o tipo de fonte dos dados: base hospitalar (locais e nacionais), inquéritos populacionais e sistemas de informação. Preservou-se, para cada categoria, a ordem cronológica de publicação, embora haja algumas diferenças entre esta data e o momento de execução dos estudos.

Tabela 1
Estudos locais de base hospitalar.
Tabela 2
Estudos de base hospitalar de abrangência nacional: Pesquisa "Nascer no Brasil" e "Estudo multicêntrico da Rede nacional de vigilância de morbidade materna grave".
Tabela 3
Estudos com base em inquéritos populacionais.
Tabela 4
Estudos com base em sistemas de informação do SUS – SIH e SIM.

Os 48 estudos encontrados se dividiram em: 37 de base hospitalar; seis com base em inquéritos de saúde; cinco com base em sistemas de informação. Do total de artigos, 30 (62,5%) foram publicados em revistas internacionais, todos em inglês, sendo 22 da área de ginecologia-obstetrícia e saúde reprodutiva. Dentre as 18 publicações nacionais, as revistas mais frequentes foram as da área de saúde pública (8), seguidas de medicina interna (7) e ginecologia-obstetrícia (3). Dos artigos de medicina interna nacionais, 4 foram publicados exclusivamente em inglês.

Estudos locais de base hospitalar

Nesta categoria (Tabela 1), 22 estudos foram identificados,99 Souza JPD, Cecatti JG, Parpinelli MA. Fatores associados à gravidade da morbidade materna na caracterização do near miss. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27 (4): 197-203.

10 Souza JP, Cecatti JG, Parpinelli MA, Serruya SJ, Amaral E. Appropriate criteria for identification of near miss maternal morbidity in tertiary care facilities: a cross sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2007; 11 (7): 20.

11 Amorim MM, Katz L, Valença M, Araújo DE. Morbidade materna grave em UTI obstétrica no Recife, região nordeste do Brasil. Rev Assoc Med Bras. 2008; 54 (3): 261-6.

12 Luz AG, Tiago DB, Silva JC, Amaral E. Severe maternal morbidity at a local reference university hospital in Campinas, São Paulo, Brazil. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008; 30 (6): 281-6.

13 Oliveira Neto AF, Parpinelli MA, Cecatti JG, Souza JP, Sousa MH. Factors associated with maternal death in women admitted to an intensive care unit with severe maternal morbidity. Int J Gynaecol Obstet. 2009; 105 (3): 252-6.

14 Amaral E, Souza JP, Surita F, Luz AG, Sousa MH, Cecatti JG, Campbell O. A population-based surveillance study on severe acute maternal morbidity (near miss) and adverse perinatal outcomes in Campinas, Brazil: the Vigimoma Project. BMC Pregnancy Childbirth. 2011; 11:9.

15 Morse ML, Fonseca SC, Gottgtroy CL, Waldmann CS, Gueller E. Morbidade Materna Grave e Near Miss em Hospital de Referência Regional. Rev Bras Epidemiol. 2011; 14 (2): 310-22.

16 Moraes AP, Barreto SM, Passos VM, Golino PS, Costa JA, Vasconcelos MX. Incidence and main causes of severe maternal morbidity in São Luís, Maranhão, Brazil: a longitudinal study. São Paulo Med J. 2011; 129 (3): 146-52.

17 Lotufo FA, Parpinelli MA, Haddad SM, Surita FG, Cecatti JG. Applying the new concept of maternal near miss in an intensive care unit. Clinics. 2012; 67 (3): 225-30.

18 Moraes APP, Barreto SM, Passos VM a, Golino PS, Costa JE, Vasconcelos MX. Severe maternal morbidity: a case-control study in Maranhão, Brazil. Reprod Health. 2013; 10:11.

19 Lobato G, Nakamura-Pereira M, Mendes-Silva W, Dias MAB, Reichenheim ME. Comparing different diagnostic approaches to severe maternal morbidity and near miss: a pilot study in a Brazilian tertiary hospital. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2013; 167 (1): 24-8.

20 Oliveira LC, Costa AAR. Óbitos Fetais e Neonatais entre Casos de Near Miss Materno. Rev Assoc Med Bras. 2013; 59 (5): 487-94.

21 Amorim MM, Katz L, Barros AS, Almeida TS, Souza AS, Faúndes A. Maternal outcomes according to mode of delivery in women with severe preeclampsia: a cohort study. J Matern Fetal Neonatal Med. 2014; 28 (6): 654-60.

22 Galvão LP, Alvim-Pereira F, de Mendonça CM, Menezes FE, Góis KA, Ribeiro RF, Gurgel RQ. The prevalence of severe maternal morbidity and near miss and associated factors in Sergipe, Northeast Brazil. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 25. doi:10.1186/1471-2393-14-25
https://doi.org/10.1186/1471-2393-14-25...

23 Menezes FE, Galvão LP, de Mendonça CM, Góis KA, Ribeiro RF Jr, Santos VS, Gurgel RQ. Similarities and differences between WHO criteria and two other approaches for maternal near miss diagnosis. Trop Med Int Health. 2015; 20 (11): 1501-06.

24 Pacheco AJ, Katz L, Souza AS, de Amorim MM. Factors associated with severe maternal morbidity and near miss in the São Francisco Valley, Brazil: a retrospective, cohort study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 91.

25 Souza MAC, Souza TH, Gonçalves AK. Fatores determinantes do near miss materno em uma unidade de terapia intensiva obstétrica. Rev Bras Ginecol Obstet. 2015; 37 (11): 498-504.

26 Oliveira LC, Costa AAR. Near miss materno em unidade de terapia intensiva: aspectos clínicos e epidemiológicos. Rev Bras Ter Intensiva. 2015; 27 (3): 220-7

27 Madeiro AP, Cronemberger AR, Lacerda EZG, Brasil LG. Incidence and determinants of severe maternal morbidity: a transversal study in a referral hospital in Teresina, Piauí, Brazil. BMC Pregnancy and Childbirth. 2015, 15: 210.

28 Barbosa IRC, Silva WBM, Cerqueira GSG, Novo NF, Almeida FA, Novo JLVG. Maternal and fetal outcome in women with hypertensive disorders of pregnancy: the impact of prenatal care. Ther Adv Cardiovasc Dis. 2015; 9 (4): 140-6.

29 Ferreira EC, Pacagnella RC, Costa ML, Cecatti JG. The Robson ten-group classification system for appraising deliveries at a tertiary referral hospital in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2015a; 129 (3): 236-9.
-3030 Vidal, CE, Carvalho MAB, Grimaldi IR, Reis MC; Baêta MCN, Garcia RB, Silva SAR. Morbidade materna grave na microrregião de Barbacena/MG. Cad Saúde Coletiva. 2016; 24 (2): 131-8. provenientes da região Sudeste (11) e Nordeste (11). Destes, 12 eram estudos transversais, sendo 9 apenas descritivos. O tipo caso-controle foi o desenho de 4 estudos e o coorte de 5, dos quais 3 foram retrospectivos. Um estudo foi longitudinal, apenas descritivo.

A maioria dos estudos utilizou a terminologia near miss materno. Em relação aos critérios utilizados para as definições de near miss e de morbidade materna grave, 10 (44%) usaram o critério da OMS, 10 (40%) o de Waterstone,3131 Waterstone M, Bewley S, Wolfe C. Incidence and predic-tors of severe obstetric morbidity: case-control study. BMJ. 2001;322(7294):1089-93. oito (32%) o de Mantel,3232 Mantel GD, Buchmann E, Rees H, Pattinson RC. Severe acute maternal morbidity: a pilot study of a definition for a near miss. Br J Obstet Gynaecol. 1998; 105 (9): 985- 90. três (16%) a admissão em UTI, dois (8%) os critérios propostos por Reichenheim et al.,44 Reichenheim ME, Zylbersztajn F, Moraes CL, Lobato G. Severe acute obstetric morbidity (near miss): a review of the relative use of its diagnostic indicators. Arch Gynecol Obstet. 2009; 280 (3): 337-43. dois (8%) usaram como critério as condições de ameaça de vida e apenas um usou o critério de Geller.3333 Geller SE, Rosenberg D, Cox SM, Kilpatrick S. Defining a conceptual framework for near miss maternal morbidity. J Am Med Womens Assoc. 2002; 57 (3): 135-9. Vale comentar que a maioria dos estudos englobou mais de um critério em sua análise. O estudo de Morse et al.1515 Morse ML, Fonseca SC, Gottgtroy CL, Waldmann CS, Gueller E. Morbidade Materna Grave e Near Miss em Hospital de Referência Regional. Rev Bras Epidemiol. 2011; 14 (2): 310-22. comparou três critérios, sendo o primeiro a utilizar o critério da OMS em estudos brasileiros.

Considerando os estudos que utilizaram os critérios da OMS, os critérios de manejo e laboratoriais foram os mais prevalentes, sendo cada um o mais prevalente em 2 estudos. Já o critério identificador mais comum foi a pré-eclampsia grave.

A RNMM variou de 4,4/1000 NV, pelo critério da OMS, a 188,4/1000 NV, segundo critério proposto por Reichenheim et al.44 Reichenheim ME, Zylbersztajn F, Moraes CL, Lobato G. Severe acute obstetric morbidity (near miss): a review of the relative use of its diagnostic indicators. Arch Gynecol Obstet. 2009; 280 (3): 337-43. A RNMM/MM foi de 3,3 casos/1 morte a 8,6 casos/1 morte, enquanto o índice de mortalidade foi de 10,6% a 23%.

As causas mais frequentes de NMM foram os transtornos hipertensivos, como pré-eclâmpsia grave e a síndrome HELLP. Os fatores associados à morbidade materna foram: idade materna igual ou maior que 35 anos, parto cesáreo prévio ou atual, hipertensão crônica, < 6 consultas de pré-natal.

Estudos nacionais de base hospitalar

Dentre os artigos de base hospitalar (Tabela 2), 15 apresentaram dados nacionais, todos com desenho transversal. Estão organizados em 2 blocos de pesquisa. O primeiro se refere a dois artigos da Pesquisa "Nascer no Brasil",55 Dias MAB, Domingues RMSM, Schilithz AOC, Pereira MN, Diniz CSG, Brum IR, Martins AL, Theme Filha MM, Gama SGN, Leal MC. Incidência do Near Miss Materno no Parto e Pós-parto hospitalar: dados da pesquisa Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30 (Supl 1): S1-12.,3434 Domingues RM, Dias MA, Schilithz AO, Leal MD. Factors associated with maternal near miss in childbirth and the postpartum period: findings from the birth in Brazil National Survey, 2011-2012. Reprod Health. 2016; 13(Suppl 3): 115. o segundo relata 13 artigos do Estudo Multicêntrico da "Rede Nacional de Vigilância de Morbidade Materna Grave".3535 Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Sousa MH, Surita FG, Pinto e Silva JL, Pacagnella RC, Passini Jr R. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity study Group. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity: a powerful national collaboration generating data on maternal health outcomes and care. BJOG. 2016; 123 (6): 946-53.

36 Oliveira Jr FC, Surita FG, Pinto e Silva JL, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Pacagnella RC, Sousa MH, Souza JP. Severe maternal morbidity and maternal near miss in the extremes of reproductive age: results from a national cross-sectional multicenter study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 77.

37 Santana DS, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Sousa MH, Souza JP, Camargo RS, Pacagnella RC, Surita FG, Pinto e Silva JL. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity. Severe maternal morbidity due to abortion prospectively identified in a surveillance network in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2012; 119 (1): 44-8.

38 Rocha Filho EA, Santana DS, Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Sousa MH, Camargo RS, Pacagnella RC, Surita FG, Pinto e Silva JL. Awareness about a life-threatening condition: ectopic pregnancy in a network for surveillance of severe maternal morbidity in Brazil. BioMed Res Int. 2014; 965724.

39 Giordano JC, Parpinelli MA, Cecatti JG, Haddad SM, Costa ML, Surita FG, Pinto e Silva JL, Sousa MH. The burden of eclampsia: results from a multicenter study on surveillance of severe maternal morbidity in Brazil. PLoS One. 2014; 9 (5): e97401.

40 Zanette E, Parpinelli MA, Surita FG, Costa ML, Haddad SM, Sousa MH, Pinto e Silva JL, Souza JP, Cecatti JG. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Group. Maternal near miss and death among women with severe hypertensive disorders: a Brazilian multicenter surveillance study. Reprod Health. 2014; 11 (1): 4.

41 Rocha Filho EA, Costa ML, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Sousa MH, Melo JR EF, Surita FG, Souza JP. Contribution of antepartum and intrapartum hemorrhage to the burden of maternal near miss and death in a national surveillance study. Acta Obstet Gynecol Scand. 2015; 94(1): 50-8.

42 Rocha Filho EA, Costa ML, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Pacagnella RC, Sousa MH, Melo Jr EF, Surita FG, Souza JP. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Study Group. Severe maternal morbidity and near miss due to postpartum hemorrhage in a national multicenter surveillance study. Int J Gynaecol Obstet. 2015; 128 (2): 131-6.

43 Pfitscher LC, Cecatti JG, Pacagnella RC, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Quintana SM, Surita FG, Costa ML. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Group. Severe maternal morbidity due to respi-ratory disease and impact of 2009 H1N1 influenza A pandemic in Brazil: results from a national multicenter cross-sectional study. BMC Infect Dis. 2016a; 16: 220.

44 Pfitscher LC, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Quintana SM, Surita FG, Costa ML The role of infection and sepsis in the Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity. Trop Med Int Health. 2016; 21 (2): 183-93.

45 Campanharo FF, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Born D, Costa ML, Mattar R; The Impact of Cardiac Diseases during Pregnancy on Severe Maternal Morbidity and Mortality in Brazil. PLoS One. 2015; 10 (12): e0144385.

46 Pacagnella RC, Cecatti JG, Parpinelli MA, Sousa MH, Haddad SM, Costa ML, Souza JP, Pattinson RC. Delays in receiving obstetric care and poor maternal outcomes: results from a national multicentre cross-sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 5 (14): 159.
-4747 Ferreira EC, Costa ML, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Robson MS. Robson Ten Group Classification System applied to women with severe maternal morbidity. Birth. 2015; 42 (1): 38-47. Todos os artigos de abrangência nacional utilizaram o critério de near miss da OMS.

A pesquisa "Nascer no Brasil" foi um estudo de base hospitalar, abrangendo todas as regiões brasileiras, mas incluindo apenas hospitais com mais de 500 partos/ano e excluindo os casos de aborto e internação na gravidez, que não se aplicavam ao principal objetivo do estudo.55 Dias MAB, Domingues RMSM, Schilithz AOC, Pereira MN, Diniz CSG, Brum IR, Martins AL, Theme Filha MM, Gama SGN, Leal MC. Incidência do Near Miss Materno no Parto e Pós-parto hospitalar: dados da pesquisa Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30 (Supl 1): S1-12.

Na amostra houve 243 casos de near miss materno, sendo estimada a ocorrência de 23.747 casos de near miss materno para o país, resultando em uma incidência de 10,2 por mil nascidos vivos.55 Dias MAB, Domingues RMSM, Schilithz AOC, Pereira MN, Diniz CSG, Brum IR, Martins AL, Theme Filha MM, Gama SGN, Leal MC. Incidência do Near Miss Materno no Parto e Pós-parto hospitalar: dados da pesquisa Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30 (Supl 1): S1-12. A incidência de near miss materno foi maior em mulheres com mais de 35 anos, baixa escolaridade, história de cesariana prévia, complicações durante a gravidez, sem pré-natal, e com parto cesáreo atual. Fatores associados com significância estatística foram: ausência de pré-natal, complicações obstétricas, parto cesáreo e peregrinação antes do parto.3434 Domingues RM, Dias MA, Schilithz AO, Leal MD. Factors associated with maternal near miss in childbirth and the postpartum period: findings from the birth in Brazil National Survey, 2011-2012. Reprod Health. 2016; 13(Suppl 3): 115.

O estudo multicêntrico da Rede Brasileira de Vigilância da Morbidade Materna Grave avaliou entre os anos de 2009 e 2010, vinte e sete hospitais distribuídos por todas as regiões do Brasil.3535 Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Sousa MH, Surita FG, Pinto e Silva JL, Pacagnella RC, Passini Jr R. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity study Group. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity: a powerful national collaboration generating data on maternal health outcomes and care. BJOG. 2016; 123 (6): 946-53. Foi realizada coleta prospectiva de dados utilizando os critérios da OMS de near miss e condições potencialmente ameaçadoras à vida. Na tabela 2 está a metodologia da pesquisa, semelhante para a maioria dos artigos.

Do total de 82.144 partos com feto vivo, 9.555 (11,6%) mulheres foram classificadas como tendo algum desfecho grave: 8.645 (90,5%) apresentaram complicações graves, 770 (8,1%) foram classificadas como near miss materno (critério da OMS) e 140 (1,5%) evoluíram para óbito.3535 Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Sousa MH, Surita FG, Pinto e Silva JL, Pacagnella RC, Passini Jr R. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity study Group. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity: a powerful national collaboration generating data on maternal health outcomes and care. BJOG. 2016; 123 (6): 946-53. Vários artigos se originaram dos dados provenientes desta população, no entanto não houve estudos comparativos entre estas 9555 mulheres e aquelas, que tiveram seus partos nas 27 unidades, porém sem apresentar complicações. Os aspectos que diferiram da metodologia do estudo são apresentados na tabela, junto a cada um dos 13 artigos. Cecatti et al.3535 Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Sousa MH, Surita FG, Pinto e Silva JL, Pacagnella RC, Passini Jr R. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity study Group. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity: a powerful national collaboration generating data on maternal health outcomes and care. BJOG. 2016; 123 (6): 946-53. apresentam os resultados globais; e os demais artigos exploram NMM de acordo com faixa etária3636 Oliveira Jr FC, Surita FG, Pinto e Silva JL, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Pacagnella RC, Sousa MH, Souza JP. Severe maternal morbidity and maternal near miss in the extremes of reproductive age: results from a national cross-sectional multicenter study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 77. e com condições específicas: abortamento,3737 Santana DS, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Sousa MH, Souza JP, Camargo RS, Pacagnella RC, Surita FG, Pinto e Silva JL. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity. Severe maternal morbidity due to abortion prospectively identified in a surveillance network in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2012; 119 (1): 44-8. gravidez ectópica,3838 Rocha Filho EA, Santana DS, Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Sousa MH, Camargo RS, Pacagnella RC, Surita FG, Pinto e Silva JL. Awareness about a life-threatening condition: ectopic pregnancy in a network for surveillance of severe maternal morbidity in Brazil. BioMed Res Int. 2014; 965724. doenças hipertensivas,3939 Giordano JC, Parpinelli MA, Cecatti JG, Haddad SM, Costa ML, Surita FG, Pinto e Silva JL, Sousa MH. The burden of eclampsia: results from a multicenter study on surveillance of severe maternal morbidity in Brazil. PLoS One. 2014; 9 (5): e97401.,4040 Zanette E, Parpinelli MA, Surita FG, Costa ML, Haddad SM, Sousa MH, Pinto e Silva JL, Souza JP, Cecatti JG. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Group. Maternal near miss and death among women with severe hypertensive disorders: a Brazilian multicenter surveillance study. Reprod Health. 2014; 11 (1): 4. hemorragia,4141 Rocha Filho EA, Costa ML, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Sousa MH, Melo JR EF, Surita FG, Souza JP. Contribution of antepartum and intrapartum hemorrhage to the burden of maternal near miss and death in a national surveillance study. Acta Obstet Gynecol Scand. 2015; 94(1): 50-8.,4242 Rocha Filho EA, Costa ML, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Pacagnella RC, Sousa MH, Melo Jr EF, Surita FG, Souza JP. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Study Group. Severe maternal morbidity and near miss due to postpartum hemorrhage in a national multicenter surveillance study. Int J Gynaecol Obstet. 2015; 128 (2): 131-6. infecções,4343 Pfitscher LC, Cecatti JG, Pacagnella RC, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Quintana SM, Surita FG, Costa ML. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Group. Severe maternal morbidity due to respi-ratory disease and impact of 2009 H1N1 influenza A pandemic in Brazil: results from a national multicenter cross-sectional study. BMC Infect Dis. 2016a; 16: 220.,4444 Pfitscher LC, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Quintana SM, Surita FG, Costa ML The role of infection and sepsis in the Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity. Trop Med Int Health. 2016; 21 (2): 183-93. cardiopatias.4545 Campanharo FF, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Born D, Costa ML, Mattar R; The Impact of Cardiac Diseases during Pregnancy on Severe Maternal Morbidity and Mortality in Brazil. PLoS One. 2015; 10 (12): e0144385. Também foram analisados fatores da assistência, como a qualidade do cuidado4646 Pacagnella RC, Cecatti JG, Parpinelli MA, Sousa MH, Haddad SM, Costa ML, Souza JP, Pattinson RC. Delays in receiving obstetric care and poor maternal outcomes: results from a national multicentre cross-sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 5 (14): 159. e a associação com cesariana,4747 Ferreira EC, Costa ML, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Robson MS. Robson Ten Group Classification System applied to women with severe maternal morbidity. Birth. 2015; 42 (1): 38-47. com base na Classificação de Robson.

A doença hipertensiva foi a principal causa de near miss materno (45%) e de óbito materno (30%), seguido por hemorragia (40,5% de near miss materno e 26% dos óbitos maternos). Foi observado também que em mais de 75% dos casos de óbito materno, mais de um critério de near miss materno definido pela OMS foi encontrado. A maior razão de near miss materno ocorreu em mulheres de faixa etária entre 40-49 anos (31,4/1000 NV), seguido do grupo de 35-39 anos (17,5/1000 NV), de 35-49 anos, (20,55/1000 NV), comparadas às adolescentes, com razão de 7,14/1000 NV.3636 Oliveira Jr FC, Surita FG, Pinto e Silva JL, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Pacagnella RC, Sousa MH, Souza JP. Severe maternal morbidity and maternal near miss in the extremes of reproductive age: results from a national cross-sectional multicenter study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 77.

Estudos com base em inquéritos populacionais

Seis estudos (Tabela 3) se basearam em inquéritos populacionais, selecionando ou criando perguntas para possibilitar a captação dos casos durante as entrevistas com as mulheres.4848 Souza JP, Souza MH, Parpinelli MA, Amaral E, Cecatti JG. Self-reported maternal morbidity and associated factors among Brazilian women. Rev Assoc Med Bras. 2008; 54 (3): 249-55.

49 Souza JP, Cecatti JG, Parpinelli M, Sousa MH, Lago TG, Pacagnella RC, Camargo RS. Maternal morbidity and near miss in the community: findings from the 2006 Brazilian demographic health survey. BJOG. 2010; 117 (13): 158692.

50 Oliveira Jr FC, Costa ML, Cecatti JG, Pinto e Silva JL, Surita FG. Maternal morbidity and near miss associated with maternal age: the innovative approach of the 2006 Brazilian demographic health survey. Clinics. 2013; 68 (7): 922-7.

51 Camargo RS, Santana DS, Cecatti JG, Pacagnella RC, Tedesco RP, Melo EF Jr, Sousa MH. Severe maternal morbidity and factors associated with the occurrence of abortion in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2011; 112 (2): 8892.

52 Cecatti JG, Souza RT, Pacagnella RC, Leal MC, Moura EC, Santos LM. Maternal near miss among women using the public health system in the Amazon and Northeast regions of Brazil. Rev Panam Salud Pública. 2015; 37 (4-5): 232-8.
-5353 Rosendo TM, Roncalli AG. Prevalência e fatores associados ao Near Miss Materno: inquérito populacional em uma capital do Nordeste Brasileiro. Ciênc Saúde Colet. 2015; 20 (4): 1295-304.

O artigo mais antigo4848 Souza JP, Souza MH, Parpinelli MA, Amaral E, Cecatti JG. Self-reported maternal morbidity and associated factors among Brazilian women. Rev Assoc Med Bras. 2008; 54 (3): 249-55. usou como critério apenas complicações como trabalho de parto prolongado, hemorragia excessiva, febre alta, convulsão. Os demais4949 Souza JP, Cecatti JG, Parpinelli M, Sousa MH, Lago TG, Pacagnella RC, Camargo RS. Maternal morbidity and near miss in the community: findings from the 2006 Brazilian demographic health survey. BJOG. 2010; 117 (13): 158692.

50 Oliveira Jr FC, Costa ML, Cecatti JG, Pinto e Silva JL, Surita FG. Maternal morbidity and near miss associated with maternal age: the innovative approach of the 2006 Brazilian demographic health survey. Clinics. 2013; 68 (7): 922-7.

51 Camargo RS, Santana DS, Cecatti JG, Pacagnella RC, Tedesco RP, Melo EF Jr, Sousa MH. Severe maternal morbidity and factors associated with the occurrence of abortion in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2011; 112 (2): 8892.

52 Cecatti JG, Souza RT, Pacagnella RC, Leal MC, Moura EC, Santos LM. Maternal near miss among women using the public health system in the Amazon and Northeast regions of Brazil. Rev Panam Salud Pública. 2015; 37 (4-5): 232-8.
-5353 Rosendo TM, Roncalli AG. Prevalência e fatores associados ao Near Miss Materno: inquérito populacional em uma capital do Nordeste Brasileiro. Ciênc Saúde Colet. 2015; 20 (4): 1295-304. usaram, com algumas adaptações, condições/complicações maternas e intervenções, avaliando história de eclampsia, histerectomia, hemotransfusão e admissão em UTI, critérios previamente validados.

Quatro estudos se apoiaram nos inquéritos nacionais (DHS) de 1996 e 2006, com entrevista domiciliar de mulheres com nascidos vivos nos cinco anos anteriores4848 Souza JP, Souza MH, Parpinelli MA, Amaral E, Cecatti JG. Self-reported maternal morbidity and associated factors among Brazilian women. Rev Assoc Med Bras. 2008; 54 (3): 249-55.

49 Souza JP, Cecatti JG, Parpinelli M, Sousa MH, Lago TG, Pacagnella RC, Camargo RS. Maternal morbidity and near miss in the community: findings from the 2006 Brazilian demographic health survey. BJOG. 2010; 117 (13): 158692.
-5050 Oliveira Jr FC, Costa ML, Cecatti JG, Pinto e Silva JL, Surita FG. Maternal morbidity and near miss associated with maternal age: the innovative approach of the 2006 Brazilian demographic health survey. Clinics. 2013; 68 (7): 922-7. e mulheres com história de abortamento.5151 Camargo RS, Santana DS, Cecatti JG, Pacagnella RC, Tedesco RP, Melo EF Jr, Sousa MH. Severe maternal morbidity and factors associated with the occurrence of abortion in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2011; 112 (2): 8892. Cecatti et al.5252 Cecatti JG, Souza RT, Pacagnella RC, Leal MC, Moura EC, Santos LM. Maternal near miss among women using the public health system in the Amazon and Northeast regions of Brazil. Rev Panam Salud Pública. 2015; 37 (4-5): 232-8. se basearam na campanha de vacinação para captação das mulheres, na Amazônia e Nordeste, enquanto Rosendo e Roncalli5353 Rosendo TM, Roncalli AG. Prevalência e fatores associados ao Near Miss Materno: inquérito populacional em uma capital do Nordeste Brasileiro. Ciênc Saúde Colet. 2015; 20 (4): 1295-304. realizaram inquérito domiciliar em Natal, RN.

A RNMM variou de 21,2/1000 NV a 41,1/1000 NV. Dos critérios utilizados para NMM, os mais observados foram eclampsia e hemotransfusão, exceto no estudo em Natal, onde a internação em UTI foi mais frequente.5353 Rosendo TM, Roncalli AG. Prevalência e fatores associados ao Near Miss Materno: inquérito populacional em uma capital do Nordeste Brasileiro. Ciênc Saúde Colet. 2015; 20 (4): 1295-304. A complicação clínica mais referida pelas mulheres foi hemorragia.

A idade ≥ 35 anos, a baixa escolaridade e cor da pele não branca foram os fatores socioeconômicos associados mais frequentes. Ausência de pré-natal e peregrinação para o parto também foram citados.

Estudos com base nos sistemas de informação

Dos cinco estudos (tabela 4), apenas um avaliou os dados nacionais.5454 Sousa MH, Cecatti JG, Hardy EE, Serruya SJ. Severe maternal morbidity (near miss) as a sentinel event of maternal death. An attempt to use routine data for surveil-lance. Reprod Health. 2008; 5: 6. Em relação aos critérios, 3 usaram os critérios de Waterstone e de Mantel,5454 Sousa MH, Cecatti JG, Hardy EE, Serruya SJ. Severe maternal morbidity (near miss) as a sentinel event of maternal death. An attempt to use routine data for surveil-lance. Reprod Health. 2008; 5: 6.

55 Rosendo TM, Roncalli AG. Near miss materno e ini-quidades em saúde: análise de determinantes contextuais no Rio Grande do Norte, Brasil. Ciênc Saúde Colet. 2016; 21 (1): 191-201.
-5656 Silva TC, Varela PLR, Oliveira RR, Mathias TAF. Morbidade materna grave identificada no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde, no estado do Paraná, 2010. Epidemiol Serv Saúde. 2016; 25 (3): 617-28. e 2 os critérios da OMS,5757 Magalhães MC, Bustamante-Teixeira MT. Morbi-dade materna extremamente grave: uso do Sistema de Informação Hospitalar. Rev Saúde Pública. 2012; 46 (3): 472-78.,5858 Nakamura-Pereira M, Mendes-Silva W, Dias MAB, Reichenheim ME, Gustavo Lobato. Sistema de In-formações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS): uma avaliação do seu desempenho para a identificação do near miss materno. Cad Saúde Pública. 2013; 29 (7): 1333-45. com algumas adaptações. Foram incluídas mulheres com histórico de gestação, parto e puerpério, mulheres com diagnóstico de morbidade materna grave, e mulheres internadas para realização de procedimentos obstétricos. No âmbito dos critérios de Waterstone e Mantel, o indicador mais frequente foi a pré-eclâmpsia.

Os autores usaram tanto near miss materno, cuja razão variou entre 32,2 e 44,4/1000 NV, como morbidade materna grave/extremamente grave, e as razões variaram 36,7/1000 mulheres internadas5555 Rosendo TM, Roncalli AG. Near miss materno e ini-quidades em saúde: análise de determinantes contextuais no Rio Grande do Norte, Brasil. Ciênc Saúde Colet. 2016; 21 (1): 191-201. a 52,9/1000 partos.5656 Silva TC, Varela PLR, Oliveira RR, Mathias TAF. Morbidade materna grave identificada no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde, no estado do Paraná, 2010. Epidemiol Serv Saúde. 2016; 25 (3): 617-28. Nakamura-Pereira et al.5858 Nakamura-Pereira M, Mendes-Silva W, Dias MAB, Reichenheim ME, Gustavo Lobato. Sistema de In-formações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS): uma avaliação do seu desempenho para a identificação do near miss materno. Cad Saúde Pública. 2013; 29 (7): 1333-45. avaliaram a qualidade da informação do SIH-SUS para o estudo da morbidade materna grave e estimaram baixa sensibilidade (18,5%) com alta especificidade (94,3%).

Neste grupo de estudos, associaram-se ao desfecho variáveis marcadoras de pobreza, pior assistência na atenção básica, assim como história de filhos natimortos e idade entre 35-49 anos.

Discussão

Esta revisão identificou 48 estudos sobre morbidade materna grave/near miss materno no Brasil. Observou-se, diferentemente de outras temáticas da área materno-infantil, número elevado de estudos na região Nordeste.

Em 2005 foi publicado o primeiro artigo nacional utilizando o termo near miss materno. Os critérios utilizados foram os de Waterstone, Mantel e Geller.3131 Waterstone M, Bewley S, Wolfe C. Incidence and predic-tors of severe obstetric morbidity: case-control study. BMJ. 2001;322(7294):1089-93.

32 Mantel GD, Buchmann E, Rees H, Pattinson RC. Severe acute maternal morbidity: a pilot study of a definition for a near miss. Br J Obstet Gynaecol. 1998; 105 (9): 985- 90.
-3333 Geller SE, Rosenberg D, Cox SM, Kilpatrick S. Defining a conceptual framework for near miss maternal morbidity. J Am Med Womens Assoc. 2002; 57 (3): 135-9. As doenças hipertensivas e as hemorragias dividiram as causas principais, de acordo com o critério. Ambas as condições se mantêm como principais causas associadas ao quadro de morbidade materna.

Três abordagens foram adotadas pelos estudos quanto à fonte dos dados:88 Cecatti JG, Souza JP, Parpinelli MA, de Sousa MH, Amaral E. Research on Severe Maternal Morbidities and Near-Misses in Brazil: What We Have Learned. Reprod Health Matters. 2007; 15 (30): 125-33. predomínio de base hospitalar, com dados primários ou secundários, locais ou nacionais; uso dos sistemas de informação (SIH-SUS, SIM), e inquéritos populacionais, também locais ou nacionais. Cada uma apresentou vantagens e fragilidades.

No caso de estudos de base hospitalar, o principal problema diz respeito aos critérios de manejo da classificação da OMS. Dependendo da infraestrutura, da existência de protocolos e da qualidade da equipe, as indicações e aplicações de alguns procedimentos podem variar bastante entre as instituições. A indicação de UTI, que sozinha, já foi considerada critério de near miss, é muito dependente dos fatores acima.

No caso do uso do SIH-SUS como fonte de dados há limitações para a utilização dos critérios near miss da OMS: dificuldade de correlação desses critérios com os diagnósticos da CID-10 e com os códigos dos procedimentos adotados pelo SIH-SUS5656 Silva TC, Varela PLR, Oliveira RR, Mathias TAF. Morbidade materna grave identificada no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde, no estado do Paraná, 2010. Epidemiol Serv Saúde. 2016; 25 (3): 617-28. e baixa sensibilidade.5959 Souza JP, Tunçalp Õ, Vogel JP, Bohren M, Widmer M, Oladapo OT, Say L, Gülmezoglu AM, Temmerman M. Obstetric transition: the pathway towards ending preventable maternal death. BJOG. 2014; 121 (Suppl 1): 14. No entanto, Magalhães et al.5757 Magalhães MC, Bustamante-Teixeira MT. Morbi-dade materna extremamente grave: uso do Sistema de Informação Hospitalar. Rev Saúde Pública. 2012; 46 (3): 472-78. utilizaram o SIH como fonte e os critérios da OMS no seu estudo, e avaliaram como satisfatório o resultado encontrado. Silva et al.5656 Silva TC, Varela PLR, Oliveira RR, Mathias TAF. Morbidade materna grave identificada no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde, no estado do Paraná, 2010. Epidemiol Serv Saúde. 2016; 25 (3): 617-28. defenderam o uso dos critérios de Waterstone para estudos com SIH, para ampliar a sensibilidade.

Em relação aos inquéritos nacionais, como o DHS, a informação é autorreferida, não havendo como comprovar os diagnósticos. Souza et al.4949 Souza JP, Cecatti JG, Parpinelli M, Sousa MH, Lago TG, Pacagnella RC, Camargo RS. Maternal morbidity and near miss in the community: findings from the 2006 Brazilian demographic health survey. BJOG. 2010; 117 (13): 158692. comentam limitações dos questionários usados neste tipo de inquérito. Ao referir suas morbidades, as mulheres lembram mais de intervenções do que de complicações clínicas; a eclampsia, por exemplo, é raramente relatada.

Pôde-se observar a heterogeneidade da terminologia: Morbidade Materna Grave, Morbidade Materna Extremamente Grave, Near Miss Materno. Em alguns casos, os autores usam os termos indiscriminadamente e em outros, usam MMG como sinônimo de Condições de ameaça à vida. Esta heterogeneidade implica dificuldade de comparações dos resultados entre os estudos, mas percebe-se predominância do termo near miss materno. Também houve heterogeneidade em relação ao indicador que expressa a frequência relativa do NMM. Calculou-se a razão de NMM quando o denominador consistia do número de nascidos vivos e a incidência, quando o denominador se referia a número de partos ou mulheres internadas.

O estudo do near miss materno mostrou potencial dos indicadores propostos pela OMS como preditores da morte materna: mulheres que apresentaram 3 ou mais critérios tiveram maior probabilidade de evoluir para óbito do que as mulheres que apresentavam apenas um critério.3535 Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Sousa MH, Surita FG, Pinto e Silva JL, Pacagnella RC, Passini Jr R. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity study Group. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity: a powerful national collaboration generating data on maternal health outcomes and care. BJOG. 2016; 123 (6): 946-53.

Também houve semelhança entre as causas de NMM e as de óbito materno no Brasil. Ainda imperam as causas obstétricas diretas, mas as indiretas vêm aumentando. Este padrão, aliado ao aumento de cesarianas confirma que o país se apresenta em um movimento de transição obstétrica.5959 Souza JP, Tunçalp Õ, Vogel JP, Bohren M, Widmer M, Oladapo OT, Say L, Gülmezoglu AM, Temmerman M. Obstetric transition: the pathway towards ending preventable maternal death. BJOG. 2014; 121 (Suppl 1): 14.

Os fatores associados aos quadros de NMM/MMG/MMEG de maior frequência nos estudos foram: Idade ≥ 35 anos, baixa escolaridade, parto cesáreo atual ou prévio, hemorragia, hipertensão prévia e aborto prévio.

Desigualdades na saúde materna foram evidenciadas quanto à morbidade materna. Considerando que o indicador NMM/MM avalia a qualidade do cuidado obstétrico após a admissão das mulheres, observaram-se valores 3 vezes mais baixos nas regiões de menor IDH do país.3939 Giordano JC, Parpinelli MA, Cecatti JG, Haddad SM, Costa ML, Surita FG, Pinto e Silva JL, Sousa MH. The burden of eclampsia: results from a multicenter study on surveillance of severe maternal morbidity in Brazil. PLoS One. 2014; 9 (5): e97401. No estudo de Pfitscher et al.,4343 Pfitscher LC, Cecatti JG, Pacagnella RC, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Quintana SM, Surita FG, Costa ML. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Group. Severe maternal morbidity due to respi-ratory disease and impact of 2009 H1N1 influenza A pandemic in Brazil: results from a national multicenter cross-sectional study. BMC Infect Dis. 2016a; 16: 220. considerando a pandemia de H1N1 e seu efeito no near miss materno, observou-se que as mulheres de cor não branca progrediram mais frequentemente para quadros de maior gravidade, inclusive óbito. Analisando a presença de qualquer demora no cuidado às gestantes, Pacagnella et al.4646 Pacagnella RC, Cecatti JG, Parpinelli MA, Sousa MH, Haddad SM, Costa ML, Souza JP, Pattinson RC. Delays in receiving obstetric care and poor maternal outcomes: results from a national multicentre cross-sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 5 (14): 159.evidenciou que adolescência, cor da pele não branca e baixa escolaridade estiveram associados fortemente. Em relação à faixa etária, no estudo de Oliveira Jr. et al.3636 Oliveira Jr FC, Surita FG, Pinto e Silva JL, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Pacagnella RC, Sousa MH, Souza JP. Severe maternal morbidity and maternal near miss in the extremes of reproductive age: results from a national cross-sectional multicenter study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 77. a menor RNMM foi encontrada em mulheres de 10 a 19 anos, no entanto observou-se que essa foi a faixa etária com mais atrasos no cuidado. A desigualdade em relação a estas variáveis se soma à de outros eventos na saúde materno-infantil, como o acesso ao pré-natal.6060 Viellas EF, Domingues RMSM, Domingues RMSM, Dias MAB, da Gama SGN, Theme Filha MM, Costa JV, Bastos MH, Leal MC. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30: S85-100.

Em contrapartida, observou-se efeito protetor em relação ao NMM para as família beneficiárias do Programa Bolsa Família5555 Rosendo TM, Roncalli AG. Near miss materno e ini-quidades em saúde: análise de determinantes contextuais no Rio Grande do Norte, Brasil. Ciênc Saúde Colet. 2016; 21 (1): 191-201. e foi bastante evidenciada a associação protetora do pré-natal em relação ao NMM.1818 Moraes APP, Barreto SM, Passos VM a, Golino PS, Costa JE, Vasconcelos MX. Severe maternal morbidity: a case-control study in Maranhão, Brazil. Reprod Health. 2013; 10:11.,2424 Pacheco AJ, Katz L, Souza AS, de Amorim MM. Factors associated with severe maternal morbidity and near miss in the São Francisco Valley, Brazil: a retrospective, cohort study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 91.,2828 Barbosa IRC, Silva WBM, Cerqueira GSG, Novo NF, Almeida FA, Novo JLVG. Maternal and fetal outcome in women with hypertensive disorders of pregnancy: the impact of prenatal care. Ther Adv Cardiovasc Dis. 2015; 9 (4): 140-6.,4646 Pacagnella RC, Cecatti JG, Parpinelli MA, Sousa MH, Haddad SM, Costa ML, Souza JP, Pattinson RC. Delays in receiving obstetric care and poor maternal outcomes: results from a national multicentre cross-sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 5 (14): 159. Ratifica-se que tanto políticas de complementação de renda como a atenção básica podem reverter as desigualdades. No entanto cabe melhorar o desempenho do pré-natal no SUS, considerando que alguns estudos mostraram pior desempenho em comparação ao pré-natal na rede particular.

O Brasil é conhecido mundialmente pela elevada incidência de cesarianas.6161 Barros FC, Matijasevich A, Maranhão AGK, Escalante Juan JJ, Rabello Neto DL, Fernandes RM, Vilella MEA, Matos AC; Albuquerque C; Léon RGP, Victora CG. Cesarean sections in Brazil: will they ever stop increasing? Rev Panam Salud Pública. 2015; 38 (3): 217-25. Em diversos estudos a cesárea prévia ou atual foi um dos fatores associados com NMM/MMEG/MMG2121 Amorim MM, Katz L, Barros AS, Almeida TS, Souza AS, Faúndes A. Maternal outcomes according to mode of delivery in women with severe preeclampsia: a cohort study. J Matern Fetal Neonatal Med. 2014; 28 (6): 654-60.,2222 Galvão LP, Alvim-Pereira F, de Mendonça CM, Menezes FE, Góis KA, Ribeiro RF, Gurgel RQ. The prevalence of severe maternal morbidity and near miss and associated factors in Sergipe, Northeast Brazil. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 25. doi:10.1186/1471-2393-14-25
https://doi.org/10.1186/1471-2393-14-25...
,2424 Pacheco AJ, Katz L, Souza AS, de Amorim MM. Factors associated with severe maternal morbidity and near miss in the São Francisco Valley, Brazil: a retrospective, cohort study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 91.,2525 Souza MAC, Souza TH, Gonçalves AK. Fatores determinantes do near miss materno em uma unidade de terapia intensiva obstétrica. Rev Bras Ginecol Obstet. 2015; 37 (11): 498-504.,2727 Madeiro AP, Cronemberger AR, Lacerda EZG, Brasil LG. Incidence and determinants of severe maternal morbidity: a transversal study in a referral hospital in Teresina, Piauí, Brazil. BMC Pregnancy and Childbirth. 2015, 15: 210.,2929 Ferreira EC, Pacagnella RC, Costa ML, Cecatti JG. The Robson ten-group classification system for appraising deliveries at a tertiary referral hospital in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2015a; 129 (3): 236-9.,3434 Domingues RM, Dias MA, Schilithz AO, Leal MD. Factors associated with maternal near miss in childbirth and the postpartum period: findings from the birth in Brazil National Survey, 2011-2012. Reprod Health. 2016; 13(Suppl 3): 115.,5252 Cecatti JG, Souza RT, Pacagnella RC, Leal MC, Moura EC, Santos LM. Maternal near miss among women using the public health system in the Amazon and Northeast regions of Brazil. Rev Panam Salud Pública. 2015; 37 (4-5): 232-8. Apenas um estudo mostrou o parto cesáreo como fator protetor.1717 Lotufo FA, Parpinelli MA, Haddad SM, Surita FG, Cecatti JG. Applying the new concept of maternal near miss in an intensive care unit. Clinics. 2012; 67 (3): 225-30. A taxa de incidência de near miss materno em parto cesáreo foi de 91 casos/1000 partos enquanto no parto vaginal a taxa de incidência foi de 16 casos/1000 partos.3232 Mantel GD, Buchmann E, Rees H, Pattinson RC. Severe acute maternal morbidity: a pilot study of a definition for a near miss. Br J Obstet Gynaecol. 1998; 105 (9): 985- 90. Embora não se possa evidenciar a direção da associação, em virtude do procedimento ser indicado para várias situações de risco gestacional, o número de cesarianas foi elevado e a associação com hemorragia pós-parto, identificada em alguns estudos, não se justificaria pela indicação anterior, podendo ser atribuída ao procedimento. Adotar a classificação de Robson para monitorar e comparar as indicações de cesariana deve ser uma recomendação em nível nacional.

Quanto ao aborto, cerca de 2% das mulheres (mais de 450) entrevistadas na pesquisa Nascer no Brasil, afirmaram ter tentado interrromper a gestação atual.6060 Viellas EF, Domingues RMSM, Domingues RMSM, Dias MAB, da Gama SGN, Theme Filha MM, Costa JV, Bastos MH, Leal MC. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30: S85-100. Nos estudos de Souza et al.99 Souza JPD, Cecatti JG, Parpinelli MA. Fatores associados à gravidade da morbidade materna na caracterização do near miss. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27 (4): 197-203. e Galvão et al.2222 Galvão LP, Alvim-Pereira F, de Mendonça CM, Menezes FE, Góis KA, Ribeiro RF, Gurgel RQ. The prevalence of severe maternal morbidity and near miss and associated factors in Sergipe, Northeast Brazil. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 25. doi:10.1186/1471-2393-14-25
https://doi.org/10.1186/1471-2393-14-25...
foi identificada associação entre aborto prévio e near miss materno e nos estudos de Santana et al.3737 Santana DS, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Sousa MH, Souza JP, Camargo RS, Pacagnella RC, Surita FG, Pinto e Silva JL. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity. Severe maternal morbidity due to abortion prospectively identified in a surveillance network in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2012; 119 (1): 44-8. e Camargo et al.5151 Camargo RS, Santana DS, Cecatti JG, Pacagnella RC, Tedesco RP, Melo EF Jr, Sousa MH. Severe maternal morbidity and factors associated with the occurrence of abortion in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2011; 112 (2): 8892. e foi identifcado maior risco de near miss em mulheres submetidas ao aborto.

Cabe uma avaliação dos estudos de base nacional. A pesquisa Nascer no Brasil foi um estudo de base hospitalar, abrangendo todas as regiões brasileiras, mas incluindo apenas hospitais com mais de 500 partos/ ano e excluindo os casos de aborto e internação na gravidez, que não se aplicavam ao principal objetivo do estudo.55 Dias MAB, Domingues RMSM, Schilithz AOC, Pereira MN, Diniz CSG, Brum IR, Martins AL, Theme Filha MM, Gama SGN, Leal MC. Incidência do Near Miss Materno no Parto e Pós-parto hospitalar: dados da pesquisa Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30 (Supl 1): S1-12. Como a maioria dos partos no Brasil ocorre em ambiente hospitalar, este estudo pode ser considerado uma aproximação de estudo populacional, ressalvando as limitações acima. Seus resultados, consistentes com os de estudos no nível local, têm uma grande relevância para direcionar políticas de saúde. Destaca-se a associação da cesariana com o near miss materno, mesmo após ajuste para complicações obstétricas e a identificação de dois grupos de mulheres: o primeiro, de cor da pele branca, com alta escolaridade, pré-natal adequado, sem história de peregrinação para o parto e alta frequência de cesariana eletiva e o segundo, de cor da pele parda ou preta, baixa escolaridade, mais jovem, com ausência de pré-natal e maior frequência de parto vaginal. Domingues et al.3434 Domingues RM, Dias MA, Schilithz AO, Leal MD. Factors associated with maternal near miss in childbirth and the postpartum period: findings from the birth in Brazil National Survey, 2011-2012. Reprod Health. 2016; 13(Suppl 3): 115. concluíram que o uso indiscriminado da cesariana pode aproximar a ocorrência de NMM entre os dois grupos. No entanto, se usarmos a interpretação do modelo hierarquizado em que os fatores distais são preservados sem ajuste, houve associação positiva entre idade ≥ 35 anos, baixa escolaridade, primiparidade e cesariana prévia (considerando a OR obtida no modelo 1, sem ajustar para as variáveis intermediárias e distais). Esta análise reforça a desigualdade na ocorrência do near miss e a importância da cesariana anterior.

Os estudos derivados da Rede Multicêntrica de Vigilância de Morbidade Materna Grave exploraram pela primeira vez subgrupos de NMM de acordo com condições diferenciadas, ampliando o conhecimento sobre morbidade materna. Foram selecionadas maternidades das cinco regiões brasileiras, com maior representação do Sudeste, principalmente São Paulo. Como limitação, as maternidades incluídas eram predominantemente terciárias/ de referência, não sendo representativas do perfil de morbidade populacional. Isto se confirma pela RMM encontrada no estudo, de 170/100.000 nascidos vivos. No entanto, é nestes locais que se pode captar um grande número de pacientes com morbidade materna grave, ampliando o poder estatístico dos resultados. Outra limitação foi a ausência de comparação com um grupo controle (mulheres sem complicações nas maternidades estudadas), o que não permite identificar fatores de risco populacionais. Em contrapartida, foi possível avaliar o gradiente de gravidade em subgrupos da mesma condição clínica, observando a relação entre CPAV, NMM e MM. O maior índice de mortalidade foi encontrado para doenças respiratórias (32,2%), com destaque para H1N1 (51,8%), seguido das infecções (26,3%), das cardiopatias (24%), eclampsia (19%), hemorragia pós-parto (15%), doença hipertensiva (10,7%) e hemorragia anteparto (9%). Embora o índice de mortalidade dos quadros hemorrágicos não seja tão elevado, a frequência de descolamento prematuro de placenta é alta, contribuindo para o near miss. Quando os dados desse estudo foram coletados, estava em curso a pandemia do H1N1 (2009) e foi corroborada a gravidade desta infecção em gestantes, com elevada morbimortalidade.

Comparando estes dois estudos, observou-se razão de NMM bastante semelhante, mas a RMM foi muito maior no estudo da Rede Multicêntrica. Além das razões explanadas acima, o estudo Nascer no Brasil não estimou diretamente as mortes maternas, mas usou um proxy, o que pode ter contribuído para a diferença encontrada. Em que pesem as diferenças entre os estudos, vários resultados foram semelhantes e corroboram a necessidade de ampliação e qualificação da atenção à mulher.

Observa-se predominância de publicações em revistas internacionais e no idioma inglês, o que pode estar dificultando a disseminação do conceito de near miss entre os profissionais de saúde no nosso país. Nas revistas internacionais, predominou a área de saúde reprodutiva, enquanto nas publicações nacionais, a saúde coletiva mostrou-se mais produtiva e houve apenas três artigos em revistas da especialidade de ginecologia-obstetrícia.

Como limitações desta revisão, apontamos a busca bibliográfica, que não incluiu estudos não publicados. Utilizamos apenas como palavras-chave as expressões consagradas pela OMS: near miss e morbidade materna grave. No entanto, acreditamos ter tornado nossa busca mais específica, levando em conta que boa parte dos estudos nacionais já incorporou a terminologia da OMS. Fica a sugestão para que haja incorporação dos termos aos descritores em saúde.

Quanto a possíveis vieses de informação, a leitura e extração dos dados por mais de um pesquisador, de forma independente, contribuiu para sua atenuação.

Não existem outras revisões sistemáticas nacionais sobre o tema e a revisão mais recente incluiu poucos estudos do Brasil.66 Tunçalp Õ, Hindin MJ, Souza JP, Chou D, Say L. The prevalence of maternal near miss: a systematic review. BJOG. 2012; 119 (6): 653-61. Além disto, esta revisão remonta a estudos realizados antes da definição da OMS para near miss. Portanto a comparabilidade fica limitada. Ainda assim, destacamos os resultados referentes à heterogeneidade dos critérios de near miss, à predominância de estudos com base hospitalar e à presença de desigualdades sociais.

O estudo da morbidade materna tem sido relevante no Brasil, para apontar pontos frágeis dos serviços de saúde. Embora com resultados variados, a frequência de mulheres com complicações potenciais de ameaça à vida é elevada no Brasil, o que reforça a necessidade de universalização também de intervenções mais complexas, além da cobertura da atenção básica.6262 Souza JP, Gülmezoglu AM, Vogel J, Carroli G, Lumbiganon P, Qureshi Z, Costa MJ, Fawole B, Mugerwa Y, Nafiou I, Neves I, Wolomby-Molondo JJ, Bang HT, Cheang K, Chuyun K, Jayaratne K, Jayathilaka CA, Mazhar SB, Mori R, Mustafa ML, Pathak LR, Perera D, Rathavy T, Recidoro Z, Roy M, Ruyan P, Shrestha N, Taneepanichsku S, Tien NV, Ganchimeg T, Wehbe M, Yadamsuren B, Yan W, Yunis K, Bataglia V, Cecatti JG, Hernandez-Prado B, Nardin JM, Narváez A, Ortiz-Panozo E, Pérez-Cuevas R, Valladares E, Zavaleta N, Armson A, Crowther C, Hogue C, Lindmark G, Mittal S, Pattinson R, Stanton ME, Campodonico L, Cuesta C, Giordano D, Intarut N, Laopaiboon M, Bahl R, Martines J, Mathai M, Merialdi M, Say L. Moving beyond essential interventions for reduction of maternal mortality (the WHO Multicountry Survey on Maternal and Newborn Health): a cross-sectional study. Lancet. 2013; 381 (9879): 1747-55.

Concluímos que a avaliação do near miss materno deve ser implantada como rotina nas maternidades, usando os critérios da OMS, de maior especificidade e acrescentando outros critérios, de acordo com a capacidade de cada unidade, para aumentar a sensibilidade. É importante ressaltar que não deve ser apenas um auxiliar para o estudo da mortalidade materna, mas da própria condição de morbidade materna na gestação, parto e puerpério.

No âmbito da pesquisa, o tema não está esgotado; outros estudos, avaliando mais de um critério, e utilizando delineamentos longitudinais, são necessários para aprofundar a compreensão da morbimortalidade materna no Brasil.

Referências

  • 1
    United Nations. Sustainable Development Goals [Internet]. New York: United Nations; 2017. [acesso em 26 set 2017]. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/sdg3
  • 2
    Say L, Barreix M, Chou D, Tunçalp Õ, Cottler S, McCaw-Binns A, Gichuhi GN, Taulo F, Hindin M. Maternal morbidity measurement tool pilot: study protocol. Reprod Health. 2016; 13 (1): 69.
  • 3
    Organização Mundial de Saúde. Avaliação da Qualidade do Cuidado nas Complicações Graves da Gestação: A Abordagem do Near Miss da OMS para a Saúde Materna. Uruguay. OMS; 2011.
  • 4
    Reichenheim ME, Zylbersztajn F, Moraes CL, Lobato G. Severe acute obstetric morbidity (near miss): a review of the relative use of its diagnostic indicators. Arch Gynecol Obstet. 2009; 280 (3): 337-43.
  • 5
    Dias MAB, Domingues RMSM, Schilithz AOC, Pereira MN, Diniz CSG, Brum IR, Martins AL, Theme Filha MM, Gama SGN, Leal MC. Incidência do Near Miss Materno no Parto e Pós-parto hospitalar: dados da pesquisa Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30 (Supl 1): S1-12.
  • 6
    Tunçalp Õ, Hindin MJ, Souza JP, Chou D, Say L. The prevalence of maternal near miss: a systematic review. BJOG. 2012; 119 (6): 653-61.
  • 7
    Liberati A, Altman DG, Tetzlaff J, Mulrow C, Gotzsche PC, Loannidis JPA, Clarke M, Devereau PJ, Kleijnen J, Moher D. The PRISMA statement for reporting systematic reviews and meta-analyses of studies that evaluate healthcare inter-ventions: explanation and elaboration. BMJ 2009; 339: b2700.
  • 8
    Cecatti JG, Souza JP, Parpinelli MA, de Sousa MH, Amaral E. Research on Severe Maternal Morbidities and Near-Misses in Brazil: What We Have Learned. Reprod Health Matters. 2007; 15 (30): 125-33.
  • 9
    Souza JPD, Cecatti JG, Parpinelli MA. Fatores associados à gravidade da morbidade materna na caracterização do near miss. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27 (4): 197-203.
  • 10
    Souza JP, Cecatti JG, Parpinelli MA, Serruya SJ, Amaral E. Appropriate criteria for identification of near miss maternal morbidity in tertiary care facilities: a cross sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2007; 11 (7): 20.
  • 11
    Amorim MM, Katz L, Valença M, Araújo DE. Morbidade materna grave em UTI obstétrica no Recife, região nordeste do Brasil. Rev Assoc Med Bras. 2008; 54 (3): 261-6.
  • 12
    Luz AG, Tiago DB, Silva JC, Amaral E. Severe maternal morbidity at a local reference university hospital in Campinas, São Paulo, Brazil. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008; 30 (6): 281-6.
  • 13
    Oliveira Neto AF, Parpinelli MA, Cecatti JG, Souza JP, Sousa MH. Factors associated with maternal death in women admitted to an intensive care unit with severe maternal morbidity. Int J Gynaecol Obstet. 2009; 105 (3): 252-6.
  • 14
    Amaral E, Souza JP, Surita F, Luz AG, Sousa MH, Cecatti JG, Campbell O. A population-based surveillance study on severe acute maternal morbidity (near miss) and adverse perinatal outcomes in Campinas, Brazil: the Vigimoma Project. BMC Pregnancy Childbirth. 2011; 11:9.
  • 15
    Morse ML, Fonseca SC, Gottgtroy CL, Waldmann CS, Gueller E. Morbidade Materna Grave e Near Miss em Hospital de Referência Regional. Rev Bras Epidemiol. 2011; 14 (2): 310-22.
  • 16
    Moraes AP, Barreto SM, Passos VM, Golino PS, Costa JA, Vasconcelos MX. Incidence and main causes of severe maternal morbidity in São Luís, Maranhão, Brazil: a longitudinal study. São Paulo Med J. 2011; 129 (3): 146-52.
  • 17
    Lotufo FA, Parpinelli MA, Haddad SM, Surita FG, Cecatti JG. Applying the new concept of maternal near miss in an intensive care unit. Clinics. 2012; 67 (3): 225-30.
  • 18
    Moraes APP, Barreto SM, Passos VM a, Golino PS, Costa JE, Vasconcelos MX. Severe maternal morbidity: a case-control study in Maranhão, Brazil. Reprod Health. 2013; 10:11.
  • 19
    Lobato G, Nakamura-Pereira M, Mendes-Silva W, Dias MAB, Reichenheim ME. Comparing different diagnostic approaches to severe maternal morbidity and near miss: a pilot study in a Brazilian tertiary hospital. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2013; 167 (1): 24-8.
  • 20
    Oliveira LC, Costa AAR. Óbitos Fetais e Neonatais entre Casos de Near Miss Materno. Rev Assoc Med Bras. 2013; 59 (5): 487-94.
  • 21
    Amorim MM, Katz L, Barros AS, Almeida TS, Souza AS, Faúndes A. Maternal outcomes according to mode of delivery in women with severe preeclampsia: a cohort study. J Matern Fetal Neonatal Med. 2014; 28 (6): 654-60.
  • 22
    Galvão LP, Alvim-Pereira F, de Mendonça CM, Menezes FE, Góis KA, Ribeiro RF, Gurgel RQ. The prevalence of severe maternal morbidity and near miss and associated factors in Sergipe, Northeast Brazil. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 25. doi:10.1186/1471-2393-14-25
    » https://doi.org/10.1186/1471-2393-14-25
  • 23
    Menezes FE, Galvão LP, de Mendonça CM, Góis KA, Ribeiro RF Jr, Santos VS, Gurgel RQ. Similarities and differences between WHO criteria and two other approaches for maternal near miss diagnosis. Trop Med Int Health. 2015; 20 (11): 1501-06.
  • 24
    Pacheco AJ, Katz L, Souza AS, de Amorim MM. Factors associated with severe maternal morbidity and near miss in the São Francisco Valley, Brazil: a retrospective, cohort study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 91.
  • 25
    Souza MAC, Souza TH, Gonçalves AK. Fatores determinantes do near miss materno em uma unidade de terapia intensiva obstétrica. Rev Bras Ginecol Obstet. 2015; 37 (11): 498-504.
  • 26
    Oliveira LC, Costa AAR. Near miss materno em unidade de terapia intensiva: aspectos clínicos e epidemiológicos. Rev Bras Ter Intensiva. 2015; 27 (3): 220-7
  • 27
    Madeiro AP, Cronemberger AR, Lacerda EZG, Brasil LG. Incidence and determinants of severe maternal morbidity: a transversal study in a referral hospital in Teresina, Piauí, Brazil. BMC Pregnancy and Childbirth. 2015, 15: 210.
  • 28
    Barbosa IRC, Silva WBM, Cerqueira GSG, Novo NF, Almeida FA, Novo JLVG. Maternal and fetal outcome in women with hypertensive disorders of pregnancy: the impact of prenatal care. Ther Adv Cardiovasc Dis. 2015; 9 (4): 140-6.
  • 29
    Ferreira EC, Pacagnella RC, Costa ML, Cecatti JG. The Robson ten-group classification system for appraising deliveries at a tertiary referral hospital in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2015a; 129 (3): 236-9.
  • 30
    Vidal, CE, Carvalho MAB, Grimaldi IR, Reis MC; Baêta MCN, Garcia RB, Silva SAR. Morbidade materna grave na microrregião de Barbacena/MG. Cad Saúde Coletiva. 2016; 24 (2): 131-8.
  • 31
    Waterstone M, Bewley S, Wolfe C. Incidence and predic-tors of severe obstetric morbidity: case-control study. BMJ. 2001;322(7294):1089-93.
  • 32
    Mantel GD, Buchmann E, Rees H, Pattinson RC. Severe acute maternal morbidity: a pilot study of a definition for a near miss. Br J Obstet Gynaecol. 1998; 105 (9): 985- 90.
  • 33
    Geller SE, Rosenberg D, Cox SM, Kilpatrick S. Defining a conceptual framework for near miss maternal morbidity. J Am Med Womens Assoc. 2002; 57 (3): 135-9.
  • 34
    Domingues RM, Dias MA, Schilithz AO, Leal MD. Factors associated with maternal near miss in childbirth and the postpartum period: findings from the birth in Brazil National Survey, 2011-2012. Reprod Health. 2016; 13(Suppl 3): 115.
  • 35
    Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Sousa MH, Surita FG, Pinto e Silva JL, Pacagnella RC, Passini Jr R. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity study Group. Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity: a powerful national collaboration generating data on maternal health outcomes and care. BJOG. 2016; 123 (6): 946-53.
  • 36
    Oliveira Jr FC, Surita FG, Pinto e Silva JL, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Pacagnella RC, Sousa MH, Souza JP. Severe maternal morbidity and maternal near miss in the extremes of reproductive age: results from a national cross-sectional multicenter study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 14: 77.
  • 37
    Santana DS, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Costa ML, Sousa MH, Souza JP, Camargo RS, Pacagnella RC, Surita FG, Pinto e Silva JL. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity. Severe maternal morbidity due to abortion prospectively identified in a surveillance network in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2012; 119 (1): 44-8.
  • 38
    Rocha Filho EA, Santana DS, Cecatti JG, Costa ML, Haddad SM, Parpinelli MA, Sousa MH, Camargo RS, Pacagnella RC, Surita FG, Pinto e Silva JL. Awareness about a life-threatening condition: ectopic pregnancy in a network for surveillance of severe maternal morbidity in Brazil. BioMed Res Int. 2014; 965724.
  • 39
    Giordano JC, Parpinelli MA, Cecatti JG, Haddad SM, Costa ML, Surita FG, Pinto e Silva JL, Sousa MH. The burden of eclampsia: results from a multicenter study on surveillance of severe maternal morbidity in Brazil. PLoS One. 2014; 9 (5): e97401.
  • 40
    Zanette E, Parpinelli MA, Surita FG, Costa ML, Haddad SM, Sousa MH, Pinto e Silva JL, Souza JP, Cecatti JG. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Group. Maternal near miss and death among women with severe hypertensive disorders: a Brazilian multicenter surveillance study. Reprod Health. 2014; 11 (1): 4.
  • 41
    Rocha Filho EA, Costa ML, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Sousa MH, Melo JR EF, Surita FG, Souza JP. Contribution of antepartum and intrapartum hemorrhage to the burden of maternal near miss and death in a national surveillance study. Acta Obstet Gynecol Scand. 2015; 94(1): 50-8.
  • 42
    Rocha Filho EA, Costa ML, Cecatti JG, Parpinelli MA, Haddad SM, Pacagnella RC, Sousa MH, Melo Jr EF, Surita FG, Souza JP. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Study Group. Severe maternal morbidity and near miss due to postpartum hemorrhage in a national multicenter surveillance study. Int J Gynaecol Obstet. 2015; 128 (2): 131-6.
  • 43
    Pfitscher LC, Cecatti JG, Pacagnella RC, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Quintana SM, Surita FG, Costa ML. Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity Group. Severe maternal morbidity due to respi-ratory disease and impact of 2009 H1N1 influenza A pandemic in Brazil: results from a national multicenter cross-sectional study. BMC Infect Dis. 2016a; 16: 220.
  • 44
    Pfitscher LC, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Souza JP, Quintana SM, Surita FG, Costa ML The role of infection and sepsis in the Brazilian Network for Surveillance of Severe Maternal Morbidity. Trop Med Int Health. 2016; 21 (2): 183-93.
  • 45
    Campanharo FF, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Born D, Costa ML, Mattar R; The Impact of Cardiac Diseases during Pregnancy on Severe Maternal Morbidity and Mortality in Brazil. PLoS One. 2015; 10 (12): e0144385.
  • 46
    Pacagnella RC, Cecatti JG, Parpinelli MA, Sousa MH, Haddad SM, Costa ML, Souza JP, Pattinson RC. Delays in receiving obstetric care and poor maternal outcomes: results from a national multicentre cross-sectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2014; 5 (14): 159.
  • 47
    Ferreira EC, Costa ML, Cecatti JG, Haddad SM, Parpinelli MA, Robson MS. Robson Ten Group Classification System applied to women with severe maternal morbidity. Birth. 2015; 42 (1): 38-47.
  • 48
    Souza JP, Souza MH, Parpinelli MA, Amaral E, Cecatti JG. Self-reported maternal morbidity and associated factors among Brazilian women. Rev Assoc Med Bras. 2008; 54 (3): 249-55.
  • 49
    Souza JP, Cecatti JG, Parpinelli M, Sousa MH, Lago TG, Pacagnella RC, Camargo RS. Maternal morbidity and near miss in the community: findings from the 2006 Brazilian demographic health survey. BJOG. 2010; 117 (13): 158692.
  • 50
    Oliveira Jr FC, Costa ML, Cecatti JG, Pinto e Silva JL, Surita FG. Maternal morbidity and near miss associated with maternal age: the innovative approach of the 2006 Brazilian demographic health survey. Clinics. 2013; 68 (7): 922-7.
  • 51
    Camargo RS, Santana DS, Cecatti JG, Pacagnella RC, Tedesco RP, Melo EF Jr, Sousa MH. Severe maternal morbidity and factors associated with the occurrence of abortion in Brazil. Int J Gynaecol Obstet. 2011; 112 (2): 8892.
  • 52
    Cecatti JG, Souza RT, Pacagnella RC, Leal MC, Moura EC, Santos LM. Maternal near miss among women using the public health system in the Amazon and Northeast regions of Brazil. Rev Panam Salud Pública. 2015; 37 (4-5): 232-8.
  • 53
    Rosendo TM, Roncalli AG. Prevalência e fatores associados ao Near Miss Materno: inquérito populacional em uma capital do Nordeste Brasileiro. Ciênc Saúde Colet. 2015; 20 (4): 1295-304.
  • 54
    Sousa MH, Cecatti JG, Hardy EE, Serruya SJ. Severe maternal morbidity (near miss) as a sentinel event of maternal death. An attempt to use routine data for surveil-lance. Reprod Health. 2008; 5: 6.
  • 55
    Rosendo TM, Roncalli AG. Near miss materno e ini-quidades em saúde: análise de determinantes contextuais no Rio Grande do Norte, Brasil. Ciênc Saúde Colet. 2016; 21 (1): 191-201.
  • 56
    Silva TC, Varela PLR, Oliveira RR, Mathias TAF. Morbidade materna grave identificada no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde, no estado do Paraná, 2010. Epidemiol Serv Saúde. 2016; 25 (3): 617-28.
  • 57
    Magalhães MC, Bustamante-Teixeira MT. Morbi-dade materna extremamente grave: uso do Sistema de Informação Hospitalar. Rev Saúde Pública. 2012; 46 (3): 472-78.
  • 58
    Nakamura-Pereira M, Mendes-Silva W, Dias MAB, Reichenheim ME, Gustavo Lobato. Sistema de In-formações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS): uma avaliação do seu desempenho para a identificação do near miss materno. Cad Saúde Pública. 2013; 29 (7): 1333-45.
  • 59
    Souza JP, Tunçalp Õ, Vogel JP, Bohren M, Widmer M, Oladapo OT, Say L, Gülmezoglu AM, Temmerman M. Obstetric transition: the pathway towards ending preventable maternal death. BJOG. 2014; 121 (Suppl 1): 14.
  • 60
    Viellas EF, Domingues RMSM, Domingues RMSM, Dias MAB, da Gama SGN, Theme Filha MM, Costa JV, Bastos MH, Leal MC. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014; 30: S85-100.
  • 61
    Barros FC, Matijasevich A, Maranhão AGK, Escalante Juan JJ, Rabello Neto DL, Fernandes RM, Vilella MEA, Matos AC; Albuquerque C; Léon RGP, Victora CG. Cesarean sections in Brazil: will they ever stop increasing? Rev Panam Salud Pública. 2015; 38 (3): 217-25.
  • 62
    Souza JP, Gülmezoglu AM, Vogel J, Carroli G, Lumbiganon P, Qureshi Z, Costa MJ, Fawole B, Mugerwa Y, Nafiou I, Neves I, Wolomby-Molondo JJ, Bang HT, Cheang K, Chuyun K, Jayaratne K, Jayathilaka CA, Mazhar SB, Mori R, Mustafa ML, Pathak LR, Perera D, Rathavy T, Recidoro Z, Roy M, Ruyan P, Shrestha N, Taneepanichsku S, Tien NV, Ganchimeg T, Wehbe M, Yadamsuren B, Yan W, Yunis K, Bataglia V, Cecatti JG, Hernandez-Prado B, Nardin JM, Narváez A, Ortiz-Panozo E, Pérez-Cuevas R, Valladares E, Zavaleta N, Armson A, Crowther C, Hogue C, Lindmark G, Mittal S, Pattinson R, Stanton ME, Campodonico L, Cuesta C, Giordano D, Intarut N, Laopaiboon M, Bahl R, Martines J, Mathai M, Merialdi M, Say L. Moving beyond essential interventions for reduction of maternal mortality (the WHO Multicountry Survey on Maternal and Newborn Health): a cross-sectional study. Lancet. 2013; 381 (9879): 1747-55.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    05 Maio 2017
  • Aceito
    09 Fev 2018
Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira Rua dos Coelhos, 300. Boa Vista, 50070-550 Recife PE Brasil, Tel./Fax: +55 81 2122-4141 - Recife - PR - Brazil
E-mail: revista@imip.org.br