Acessibilidade / Reportar erro

Fatores sociodemográficos e obstétricos relacionados ao baixo peso em recém-nascidos no contexto da gravidez precoce

Resumo

Objetivos:

analisar os fatores sociodemográficos e obstétricos que podem influenciar na ocorrência do baixo peso ao nascer no contexto da gravidez precoce.

Métodos:

amostra constou de 232 adolescentes grávidas, na faixa etária de 10 a 19 anos, atendidas em uma maternidade pública de Aracaju-SE, Brasil, durante o período de agosto de 2012 a julho de 2016. A coleta de dados foi realizada através de um questionário estruturado.

Resultados:

observou-se baixo peso em 41,38% dos recém-nascidos e que o nível de escolaridade e o tipo de vínculo com o parceiro tiveram relevância estatística para a ocorrência do baixo peso em recém-nascidos de mães adolescentes, com p=0,0286 e p=0,0247, respectivamente.

Conclusões:

os fatores socioeconômicos podem contribuir para a ocorrência de baixo peso em recém-nascidos de mães adolescentese que a gravidez nesta faixa etária constitui grave problema de saúde pública de natureza multifatorial.

Palavras-chave:
Adolescente; Gravidez; Baixo peso ao nascer

Abstract

Objectives:

to analyze sociodemographic and obstetric factors that may influence the occurrence of low birth weight in the context of early pregnancy.

Methods:

the sample consisted of 232 pregnant teenagers, aged 10-19 years old, were assisted at a public maternity hospital in Aracaju-SE during the period of August 2012 to July 2016. The data collection was conducted through a structured questionnaire.

Results:

low birth weight was observed in 41.38% of the newborns and there was a statistical association between the educational level and the marital status with the occurrence of low birth weight in newborns among teenage mothers, with p=0.0286 and p=0.0247, respectively.

Conclusions:

the socioeconomic factors may contribute to the occurrence of low birth weight in newborns of teenage mothers and teenage pregnancy at this age represents a serious public health problem.

Key words:
Adolescent; Pregnancy; Low birth weight

Introdução

A adolescência é o período de transição entre a infância e a idade adulta, etapa que vai dos 10 aos 19 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (1975), sendo um período de transformação profunda no corpo, na mente e na forma de relacionamento social do indivíduo.11 Gurgel MGI, Pineiro PNC, Alves MDS, Barroso GT, Vieira NFC. Gravidez na adolescência: tendência na produção científica de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2008;12(4):799-805.,22 WHO (World Health Organization). International classification of diseases. 9th revision. Geneva: WHO Library; 1975. A gravidez na adolescência tem sido indicada como um estado de vulnerabilidade, na qual estão presentes diversos fatores de risco que envolvem a gestação, a maternidade e a paternidade dos adolescentes, pelas suas repercussões físicas, psicológicas e sociais.33 Duarte CM, Nascimento VB, Akeman M. Gravidez na adolescência e exclusão social: análise de disparidades intra-urbanas. Rev Panam Salud Publica. 2006; 19 (4): 236-43.

A gravidez na adolescência é uma condição de risco psicossocial e de saúde, cujas repercussões mais graves incidem sobre as jovens mães que pertencem a classes sociais de baixa renda. Em localidades onde residem famílias de baixa renda, são mais comuns os relatos de gravidez precoce ou práticas abortivas. O binômio baixo poder aquisitivo/educacional se mostra especialmente marcante, quanto mais cedo o adolescente se inicia na prática sexual, pois favorece o aumento do risco de uma gravidez indesejada, pelo não uso dos métodos contraceptivos. Estudos ressaltam as interferências que a gestação precoce e inesperada podem provocar na vida da mãe adolescente, como a interrupção dos estudos e dificuldades de inserção no mercado de trabalho.33 Duarte CM, Nascimento VB, Akeman M. Gravidez na adolescência e exclusão social: análise de disparidades intra-urbanas. Rev Panam Salud Publica. 2006; 19 (4): 236-43.

Bebês que nascem abaixo de 2.500g são considerados recém-nascidos de baixo peso, segundo a OMS (1998).44 Organização Mundial da Saúde. CID-10. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10º Revisão. São Paulo: EDUSP; 1998. p. 1184. Estudos apontam que os principais fatores de risco para a ocorrência desta condição são: prematuridade, idade materna, baixos níveis de desenvolvimento socioeconômico, nuliparidade, multiparidade, fragilidade familiar e conjugal, além de outros fatores biológicos. O Baixo Peso ao Nascer (BPN) representa uma condição de risco para a sobrevivência da criança, por aumentar os índices de mortalidade infantil/neonatal, sendo considerado em todo o mundo um importante problema de saúde pública.55 Franceschini SCC, Priore SE, Pequeno NPF, Silva DG, Sigulem DM. Fatores de risco para o baixo peso ao nascer em gestantes de baixa renda. Rev Nutr. 2003; 16 (2): 171-9.,66 Ferraz TR, Neves ET. Fatores de risco para baixo peso ao nascer em maternidades públicas: um estudo transversal. Rev Gaúcha Enferm. 2011; 32 (1): 86-92.

Proporções elevadas de nascidos vivos de baixo peso estão, geralmente, associadas a baixos níveis de desenvolvimento socioeconômico e de assistência materno infantil. Há uma forte associação entre o BPN e o baixo número de consultas no pré-natal e seu início tardio, bem como com o baixo nível de escolaridade, sendo as mulheres que não completaram o primeiro grau aquelas com maiores chances para terem bebês de baixo peso ao nascer.77 Santos GHN, Martins MG, Sousa MS. Gravidez na adolescência e fatores associados com baixo peso ao nascer. RevBras Ginecol Obstet. 2008; 30 (5): 224-31. No Brasil, de acordo com dados oficiais, 26,8% da população sexualmente ativa (15-64 anos) iniciaram sua vida sexual antes dos 15 anos, cerca de 19,3% das crianças nascidas vivas em 2010 são filhos e filhas de mulheres de 19 anos ou menos.88 UNFPA. Gravidez na Adolescência no Brasil. Fundo de Populações das Nações Unidas; 2013. E, segundo o DATASUS (2011) a proporção de nascidos vivos com baixo peso ao nascer, em Sergipe, foi de 8,08%.99 DATASUS. Rede Interagencial de Informações para a saúde. Proporção de nascidos vivos com peso ao nascer, 2011. [Acesso em 21 julho 2016]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2012/g16.def
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi....

Diante da relevância do tema, este estudo teve por objetivo analisar os fatores de risco sociode-mográficos e obstétricos que podem influenciar na ocorrência do baixo peso ao nascer no contexto da gravidez precoce.

Métodos

Estudo descritivo-exploratório com abordagem quantitativa desenvolvido com 232 adolescentes grávidas, na faixa etária de 10 a 19 anos, atendidas em uma maternidade pública de Aracaju-SE, Brasil, durante o período de agosto de 2012 a julho de 2016. Para a coleta de dados foi aplicado um questionário estruturado previamente testado, que focaliza diversos fatores de risco para a ocorrênciado baixo peso ao nascer, aplicado durante o período de acompanhamento pós-natal.

O questionário constou de questões objetivas de múltipla escolha e dicotômicas, contendo as seguintes variáveis sociodemográficas e obstétricas: procedência, idade da adolescente, condição marital, grau de escolaridade, ocupação, renda familiar em salários mínimos, planejamento da gravidez, idade ginecológica, número de gestações (paridade), número de consultas de pré-natal e o peso do recém-nascido ao nascer. Para interpretação dos dados, realizou-se análise descritiva, procedendo-se a categorização das referidas variáveis e a obtenção das respectivas frequências e percentuais, visando traçar o perfil sociodemográfico e obstétrico da amostra analisada no período considerado. Para análise inferencial dividiu-se o grupo de 96 mães adolescentes, que tiveram recém-nascidos com baixo peso, em dois subgrupos, segundo sua idade ginecológica: aquelas que tiveram este desfecho no intervalo de tempo menor ou igual a dois anos e as que o tiveram no intervalo de tempo maior que dois anos. Os testes de qui-quadrado e exato de Fisher foram utilizados com intuito de verificar se a idade ginecológica apresenta relação significativa entre as variáveis independentes, com p<0,05, conforme metodologia adaptada.1010 Bruno ZV. Gravidez na adolescência. Sem data de publicação. [Acesso em 24 de setembro de 2016]. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF _SIMP/textos/zenildabruno.
http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/pro...

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da Universidade Federal de Sergipe, com parecer de número 174.677 e CAAE 04326512.2.0000.5546. A participação das mães adolescentes no mesmo ocorreu mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por responsável e pela própria.

Resultados

Na amostra de 232 mães adolescentes, verificou-se que 70,6% procediam do interior do estado, 63,3% possuíam o ensino fundamental incompleto, 73,2% tinham renda familiar menor ou igual a um salário mínimo e 81,4% união estável com parceiro. Houve prevalência de mães adolescentes entre 15 a 19 anos com 91,8% e o peso do recém-nascido ao nascer menor que 2500g foi observado em um percentual significativo de 41,3%. A gravidez não planejada teve uma ocorrência de 70,2% e a falta de ocupação remunerada 79,3%. Em relação a paridade, 79,3% eram primíparas, ou seja, estavam na condição do primeiro parto. Cerca de 74,5% das adolescentes relataram ter feito pelo menos quatro consultas de pré-natal durante a gestação. Quanto a idade ginecológica, 59,4% possuíam um valor maior que dois anos e 40,5% tinham idade ginecológica menor ou igual a 2 anos (Tabela 1).

Tabela 1
Perfil sociodemográfico e obstétrico de mães adolescentes atendidas em uma maternidade pública de Aracaju/Sergipe, entre 2012-2016.

Dentre as variáveis sociodemográficas e obstétricas correlacionadas, observou-se que o vínculo com o parceiro e a escolaridade estão relacionados com a ocorrência do baixo peso em recém-nascidos entre mães adolescentes, p=0,024 e p=0,028, respectivamente (Tabela 2).

Tabela 2
Análise bivariada dos fatores de risco sociodemográficos e obstétricos associados à ocorrência do baixo peso ao nascer entre mães adolescentes atendidas em uma maternidade públicade Aracaju/Sergipe, entre 2012-2016.

Discussão

A gravidez na adolescência é considerada mundialmente um problema de saúde pública, que envolve fatores biológicos, psicológicos, demográficos, econômicos e sociais. Tornam-se necessários estudos e reflexões sobre o tema, para garantir o bem-estar e futuro dos adolescentes e diminuir a ocorrência da gravidez precoce.66 Ferraz TR, Neves ET. Fatores de risco para baixo peso ao nascer em maternidades públicas: um estudo transversal. Rev Gaúcha Enferm. 2011; 32 (1): 86-92. Neste estudo foram entrevistadas 232 adolescentes, dentre estas houve predomínio de mães adolescentes que não planejaram a gravidez, concentradas na faixa etária de 15-19 anos, e em sua maioria procedente do interior do estado, o que corrobora com dados de pesquisa realizada pelo IBGE (2000-2006), em que 20,6% dos nascidos vivos são filhos de mães adolescentes, entre 15-19 anos. Ao comparar a realidade local com dados nacionais, percebeu-se que o índice de gravidez na adolescência prevaleceu entre 15-19 anos.1111 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil. Estudos e Pesquisas/Informação demográfica e socioe-conômica. Rio de Janeiro; 2009. Nº 25.

Quanto à renda familiar houve predomínio de mães adolescentes com ganho familiar mensal de um salário mínimo ou menos (73,28%). Este dado concorda com estudo realizado por meio de inquérito em cerca de dez mil parturientes nas primeiras 48 horas após o parto, em maternidades públicas e privadas do Município do Rio de Janeiro.12 A pesquisa relaciona o baixo peso ao nascer e a renda familiar, constatando que para baixo peso ao nascer, por exemplo, a proporção variou de 10,7%, para a categoria de renda inferior a R$ 200,00, a 5,88% para a categoria de renda superior a R$ 2.000,00. Cabe destacar que ao comparar os dois desfechos, BPN e mortalidade perinatal, esta última apresenta gradiente ainda mais acentuado, com proporção que se reduz a quase zero (0,4) na categoria superior de renda. Portanto, a desvantagem socioeconômica atua como importante fator etiológico, tanto para a prematuridade, como para o BPN, porém deve-se considerar também a interferência de outros fatores decisivos de natureza psicológica, comportamental, biológica e ambiental, na redução do crescimento fetal e do BPN.1212 Andrade CLT, Gama GN, Leal C. Desigualdades sócioe-conômicas do baixo peso ao nascer e da mortalidade perinatal no Município do Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública. 2004; 20 (Supl. 1): S44-S51.

Em relação ao número de consultas de pré-natal observou-se que 25,43% das mães realizaram menos de 3 consultas, 42,6% de 4 a 6 consultas e 31,9% mais que 7 consultas, dados que estão em conformidade com o trabalho realizado com 600 recém-nascidos no Hospital Geral de Caxias do Sul, no qual média de consultas de pré-natal das mães dos recém-nascidos de baixo peso foi de quatro e no grupo controle de seis. Essa diferença deve ser analisada com cuidado porque as gestantes do grupo caso tiveram menor tempo disponível para a realização do pré-natal, devido ao parto prematuro que, em geral, ocorre antes das 32 semanas de gestação, sendo que o número menor de consultas pode não ser causa do nascimento prematuro ou BPN e sim a consequência. Nesta fase da vida, é comum as adolescentes custarem a detectar a gravidez e muitas delas escondem do parceiro e/ou de familiares, prorrogando o início do pré-natal.1313 Araújo BF, Tanaka ACA. Fatores de risco associados ao nascimento de recém-nascidos de muito baixo peso em uma população de baixa renda. Cad Saúde Pública. 2007; 23 (12):2869-77.

Estudo demonstra que a gravidez na faixa etária de 10 a 14 anos favorece o maior risco para morbimortalidade infantil. O índice de fecundidade nessa faixa etária é alto, porém o grupo assinala fatores de risco como a incapacidade gestacional, observada principalmente pela imaturidade do sistema reprodutor feminino, levando em consideração a baixa idade ginecológica destas mães. A incidência de mortalidade perinatal, BPN e prematuridade estão relacionadas a problemas no desenvolvimento uterino e no parto, o que poderia ter sido minimizado se essas jovens obtivessem uma melhor instrução e um acompanhamento pré-natal precocemente.1414 Costa TJNM, Heilborn,ML. Gravidez na adolescência e fatores de risco entre filhos de mulheres nas faixas etárias de 10 a 14 e 15 a 19 anos em Juiz de Fora, MG. Rev APS. 2006;9(1):29-38.

Verificou-se que, no grupo de mães que tiveram bebês de baixo peso 79,1% eram primíparas, ou seja, estava na condição do primeiro parto, dentre elas 39,4% tinham idade ginecológica menor ou igual a dois. Estudo desenvolvido com 77 gestantes de baixo nível socioeconômico entre 15 e 48 anos residentes em São Paulo, aborda que a paridade e o intervalo interpartal inferior a dois anos ou maior que cinco anos implicam em riscos de diferentes magnitudes para a mulher e o neonato. O motivo exato dessa correlação não está claramente definido.55 Franceschini SCC, Priore SE, Pequeno NPF, Silva DG, Sigulem DM. Fatores de risco para o baixo peso ao nascer em gestantes de baixa renda. Rev Nutr. 2003; 16 (2): 171-9.

Foi lançada uma hipótese capaz de explicar a relação entre intervalo interpartal curto e desfechos como prematuridade e crescimento intrauterino restrito. Esta faz referência à queda nas concentrações de folato (ácido fólico) a partir do 5º mês de gestação e que persistem por um longo período após o parto. Assim, as mulheres que engravidassem antes da reposição dos estoques de folato estariam mais propensas a estes desfechos.1515 Sgroi JCL. Relação de fatores de risco na gestação e peso ao nascer em crianças atendidas no Centro de Saúde Escola do Butantã, cidade de São Paulo [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2008.

As primíparas têm normalmente crianças com média de peso ao nascer inferiores às multíparas. No entanto, grandes multíparas, têm maior tendência a intervalos interpartais mais curtos, importante fator de risco para o baixo peso ao nascer, prematuridade, mortalidade neonatal e infantil e desnutrição na infância. Além disso, o estudo exposto reforça a ligação entre primiparidade e mães na faixa etária de 15 a 19 anos. A paridade e o intervalo interpartal implicam em riscos de diferentes magnitudes para a mulher e o neonato, pois a tendência é que as primíparas tenham bebês com média de peso ao nascer inferiores em relação às multíparas, especialmente se a primeira gravidez ocorrer na adolescência, em conformidade com os achados deste estudo.55 Franceschini SCC, Priore SE, Pequeno NPF, Silva DG, Sigulem DM. Fatores de risco para o baixo peso ao nascer em gestantes de baixa renda. Rev Nutr. 2003; 16 (2): 171-9.

Considerando queo cálculo da idade ginecológica é obtido por meio da subtração da idade cronológica pela idade da menarca16 constatou-se que em um número relevante das mães adolescentes (40,5%) foi menor ou igual a dois anos. Em pesquisa realizada no Rio de Janeiro, com mães adolescentes de 13 a 19 anos, mostrou que 48,3% possuíam idade ginecológica menor ou igual a dois anos.17 Ao associar todos esses dados é possível afirmar que as adolescentes estão iniciando cada vez mais cedo à vida sexual pela curiosidade de experimentar o novo tão exposto hoje pela mídia, pela aceleração da maturação biológica e sexual, pela exposição precoce da gravidez, pela falta de conhecimento, por não usar métodos contraceptivos e, além disso, pela falta de diálogo com os pais sobre o assunto.

Quanto menor a idade ginecológica maior o risco para a gestação, devido a imaturidade da vascularização uterina, o que acarretaria o parto prematuro ou uma placenta insuficiente.1010 Bruno ZV. Gravidez na adolescência. Sem data de publicação. [Acesso em 24 de setembro de 2016]. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF _SIMP/textos/zenildabruno.
http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/pro...

O planejamento da gravidez e o vínculo estável com o parceiro são fatores que geralmente estão em estreita correlação. Nos resultados encontrados, a condição marital apresentou relação de significância entre a idade ginecológica da mulher com a ocorrência do BPN (p=0,024), de forma que estudos relatam que a estabilidade no relacionamento favorece o não uso dos métodos contraceptivos e uma prática sexual mais ativa, e expõe a mulher a uma gravidez não planejada precocemente, bem como ao contágio por doenças sexualmente transmissíveis. No caso das adolescentes, contribui para os altos índices de gravidez precoce e de suas condições de risco, como é o caso do baixo peso do recém-nascido.1717 Spindola T, Silva LFF. Perfil epidemiológico de adolescente atendidas no pré-natal de um Hospital Universitário. Esc Anna Nery Rev Enfem. 2009; 13 (1): 99-107.

Quanto menor a idade ginecológica mais suscetível a riscos essa adolescente está, devido fatores como a menarca precoce e idade cronológica da gravidez baixa, aumento da liberdade sexual, falha na educação sexual e espaço familiar frágil que leva à busca por vínculo com o parceiro e por uma autonomia precoce.17 Neste estudo, no geral 70,2% (n=163) das mães tiveram gravidez não planejada, o que corrobora com estudo realizado no Hospital Geral de Caxias do Sul, no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), no Município de Santo André por meio da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) e no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e Hospital Casa de Saúde (HCS).33 Duarte CM, Nascimento VB, Akeman M. Gravidez na adolescência e exclusão social: análise de disparidades intra-urbanas. Rev Panam Salud Publica. 2006; 19 (4): 236-43.,66 Ferraz TR, Neves ET. Fatores de risco para baixo peso ao nascer em maternidades públicas: um estudo transversal. Rev Gaúcha Enferm. 2011; 32 (1): 86-92.,77 Santos GHN, Martins MG, Sousa MS. Gravidez na adolescência e fatores associados com baixo peso ao nascer. RevBras Ginecol Obstet. 2008; 30 (5): 224-31.,1313 Araújo BF, Tanaka ACA. Fatores de risco associados ao nascimento de recém-nascidos de muito baixo peso em uma população de baixa renda. Cad Saúde Pública. 2007; 23 (12):2869-77.

Na amostra analisada houve predomínio do baixo nível de escolaridade na referida faixa etária, o que demonstra discrepância entre idade/série escolar, de forma que 63,3% possuíam o ensino fundamental incompleto, quando deveriam estar cursando ou concluído o ensino médio, fato que corrobora comestudo baseado revisão bibliográfica em 34 artigos, na qual os autores relatam que no Brasil, há uma estreita relação entre educação e maternidade. Resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostram maior frequência de gravidez em adolescentes de 15 a 19 anos sem escolarização.1818 Costa EL, Sena MCF, Dias A. Gravidez na adolescência - determinante para prematuridade e baixo peso. Com Ciênc Saúde. 2011; 22 (Supl. 1): S183-S188. Além disso, no presente estudo verificou-se elevada frequência de adolescentes sem ocupação remunerada (79,3%), o queevidencia que a gravidez precoce traz como principal consequência socioeconômica o abandono dos estudos, situação que constitui importante condição de atraso escolar, por ter a adolescente que priorizar os cuidados com o bebê, acarretando dificuldades de acesso ao mercado de trabalho.1818 Costa EL, Sena MCF, Dias A. Gravidez na adolescência - determinante para prematuridade e baixo peso. Com Ciênc Saúde. 2011; 22 (Supl. 1): S183-S188. Há nas adolescentes uma falta de habilidades acadêmicas, as quais foram compreendidas como a informação decorrente da aprendizagem que possibilita o acesso ao conhecimento por parte destas, ao permitir o acompanhamento e atualização de novos aprendizados e inserção no mundo contemporâneo.1919 Nascimento IP, Morais KAF, Silva TP. Adolescentes grávidas acompanhadas em uma unidade de saúde da família: análise de suas representações sociais sobre a escola. Rev Adolesc Saúde. 2011. 8 (4): 27-34.

No grupo das mães que tiveram bebês com baixo peso, observou-se que 49,1% tinham ensino fundamental incompleto e possuíam idade ginecológica inferior a 2 anos. Ao relacionar o período da menarca precoce e a idade ginecológica baixa (≤2) como referência de imaturidade sexual e intelectual, podemos avaliar o comportamento de adolescentes com escolaridade baixa como fator decisivo para falta de conhecimento em relação à prevenção da gravidez. Os fatores descritos anteriormente contribuem para a perpetuação do baixo estrato socioeconômico, pobreza e educação limitada.1818 Costa EL, Sena MCF, Dias A. Gravidez na adolescência - determinante para prematuridade e baixo peso. Com Ciênc Saúde. 2011; 22 (Supl. 1): S183-S188.

Nos Estados Unidos, o BPN é a segunda causa de mortalidade infantil. As mulheres com status socioeconômicos baixo possuem maior risco de terem bebês de baixo peso. A taxa de bebês de baixo peso pertencentes a mães adolescentes é 35% maior do que àquelas com 20 a 29 anos de idade. Se tornar mãe no período de dois anos após a menarca aumenta o risco para o nascimento pré-termo. Muitas gestações entre adolescentes são indesejadas, não planejadas e descobertas tardiamente. As mães adolescentes estão mais propensas a pobreza, ao baixo nível educacional e a falta de acesso aos serviços do que as mães mais velhas, todos estes, em si mesmo, são fatores de risco para o baixo peso ao nascer.2020 Reichman NE. Low birth weight and school readiness. 2005; 15 (1): 91-116. Disponível em: <www.futureofchil-dren.org>
www.futureofchil-dren.org...

Os fatores de risco socioeconômicos e obstétricos analisados foram relevantes para a ocorrência do baixo peso ao nascer, pois intensificam a condição de vulnerabilidade típica da fase de adolescência. Dentre estes, verificou-se que o vínculo com o parceiro e a escolaridade foram as variáveis com maior força para influenciar o desfecho do evento, já que relacionamentos estáveis nesta fase da vida favorecem o descuido no uso dos métodos contraceptivos, bem como a uma prática sexual mais ativa, o que aumenta as chances da gravidez não planejada. A escolaridade guarda relação inversa com a questão do autocuidado, pois quanto menor o nível de conhecimento, maior será a exposição a situações de risco e a agravos, como é o caso da gravidez na adolescência e o baixo peso ao nascer.

References

  • 1
    Gurgel MGI, Pineiro PNC, Alves MDS, Barroso GT, Vieira NFC. Gravidez na adolescência: tendência na produção científica de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2008;12(4):799-805.
  • 2
    WHO (World Health Organization). International classification of diseases. 9th revision. Geneva: WHO Library; 1975.
  • 3
    Duarte CM, Nascimento VB, Akeman M. Gravidez na adolescência e exclusão social: análise de disparidades intra-urbanas. Rev Panam Salud Publica. 2006; 19 (4): 236-43.
  • 4
    Organização Mundial da Saúde. CID-10. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. 10º Revisão. São Paulo: EDUSP; 1998. p. 1184.
  • 5
    Franceschini SCC, Priore SE, Pequeno NPF, Silva DG, Sigulem DM. Fatores de risco para o baixo peso ao nascer em gestantes de baixa renda. Rev Nutr. 2003; 16 (2): 171-9.
  • 6
    Ferraz TR, Neves ET. Fatores de risco para baixo peso ao nascer em maternidades públicas: um estudo transversal. Rev Gaúcha Enferm. 2011; 32 (1): 86-92.
  • 7
    Santos GHN, Martins MG, Sousa MS. Gravidez na adolescência e fatores associados com baixo peso ao nascer. RevBras Ginecol Obstet. 2008; 30 (5): 224-31.
  • 8
    UNFPA. Gravidez na Adolescência no Brasil. Fundo de Populações das Nações Unidas; 2013.
  • 9
    DATASUS. Rede Interagencial de Informações para a saúde. Proporção de nascidos vivos com peso ao nascer, 2011. [Acesso em 21 julho 2016]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2012/g16.def
    » http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2012/g16.def
  • 10
    Bruno ZV. Gravidez na adolescência. Sem data de publicação. [Acesso em 24 de setembro de 2016]. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF _SIMP/textos/zenildabruno
    » http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF _SIMP/textos/zenildabruno
  • 11
    IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil. Estudos e Pesquisas/Informação demográfica e socioe-conômica. Rio de Janeiro; 2009. Nº 25.
  • 12
    Andrade CLT, Gama GN, Leal C. Desigualdades sócioe-conômicas do baixo peso ao nascer e da mortalidade perinatal no Município do Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública. 2004; 20 (Supl. 1): S44-S51.
  • 13
    Araújo BF, Tanaka ACA. Fatores de risco associados ao nascimento de recém-nascidos de muito baixo peso em uma população de baixa renda. Cad Saúde Pública. 2007; 23 (12):2869-77.
  • 14
    Costa TJNM, Heilborn,ML. Gravidez na adolescência e fatores de risco entre filhos de mulheres nas faixas etárias de 10 a 14 e 15 a 19 anos em Juiz de Fora, MG. Rev APS. 2006;9(1):29-38.
  • 15
    Sgroi JCL. Relação de fatores de risco na gestação e peso ao nascer em crianças atendidas no Centro de Saúde Escola do Butantã, cidade de São Paulo [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2008.
  • 16
    Junior SJF, Filho JF. A menarca e seu impacto nas qualidades físicas de escolares. Rev Saúde Pública. 2013; 15 (2): 281-93.
  • 17
    Spindola T, Silva LFF. Perfil epidemiológico de adolescente atendidas no pré-natal de um Hospital Universitário. Esc Anna Nery Rev Enfem. 2009; 13 (1): 99-107.
  • 18
    Costa EL, Sena MCF, Dias A. Gravidez na adolescência - determinante para prematuridade e baixo peso. Com Ciênc Saúde. 2011; 22 (Supl. 1): S183-S188.
  • 19
    Nascimento IP, Morais KAF, Silva TP. Adolescentes grávidas acompanhadas em uma unidade de saúde da família: análise de suas representações sociais sobre a escola. Rev Adolesc Saúde. 2011. 8 (4): 27-34.
  • 20
    Reichman NE. Low birth weight and school readiness. 2005; 15 (1): 91-116. Disponível em: <www.futureofchil-dren.org>
    » www.futureofchil-dren.org

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2020

Histórico

  • Recebido
    28 Set 2018
  • Revisado
    01 Ago 2019
  • Aceito
    29 Dez 2019
Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira Rua dos Coelhos, 300. Boa Vista, 50070-550 Recife PE Brasil, Tel./Fax: +55 81 2122-4141 - Recife - PR - Brazil
E-mail: revista@imip.org.br