Gestantes e COVID-19: isolamento como fator de impacto físico e psíquico

Resumo

Esse texto tem como objetivo refletir sobre os impactos inerentes do isolamento social proveniente da pandemia do novo corona vírus (COVID-19) na saúde das gestantes. Traz um levantamento tanto sobre os aspectos físicos como psíquicos específicos desse período da vida da mulher, como as alterações fisiológicas e emocionais. Bem como, levanta questões de como esses aspectos podem ser afetados direto ou indiretamente em um momento de isolamento, apresentando reflexões sobre pesquisas atuais e orientações de órgãos de referência na saúde.

Palavras-chave:
Corona vírus; Gravidez; Epidemia

Abstract

This research aims to reflect upon the inherent impacts of social isolation caused by the new coronavirus (COVID-19) pandemic on the health of pregnant women. It brings up a survey on both physical and psychological aspects of this period on a woman's life, such as physiological and emotional changes. It also raises questions about how these aspects can be directly or indirectly affected by periods of isolation, considering recent research and guidance from health reference organizations.

Key words:
Coronavirus; Pregnancy; Epidemic

Introdução

Um novo vírus foi descoberto no fim 2019 em Wuhan na China, após a investigação dos primeiros casos, o vírus foi denominado de COVID-19 ou SARS-COV-2. Relatórios sobre a nova doença previram o surgimento de um potencial surto, dada a quantidade de pessoas infectadas rapidamente. Tal vírus apresenta como mecanismo de transmissão o contato direto de pessoa para pessoa ou por gotículas espalhadas pelo espirro ou tosse da pessoa infectada.¹

A partir disso, medidas de prevenção foram implementadas com o objetivo de minimizar a disseminação do vírus. Foram adotadas medidas de distanciamento social onde as pessoas devem evitar aglomerações e manter uma distância mínima de um metro e meio entre os indivíduos e em casos mais graves é indicado o isolamento social onde as pessoas não podem sair de casa.² Com o objetivo de reduzir a transmissão do vírus entre os indivíduos, a medida de isolamento social torna-se uma das principais, distanciando as pessoas contaminadas ou com suspeita de contaminação, daquelas assintomáticas, evitando assim a cascata de transmissão do novo vírus.^3,4

Devido principalmente às diversas alterações fisiológicas presente na gestação, sobretudo as do sistema imunológico e respiratório, as grávidas foram incluídas no grupo de risco do COVID-19, juntamente com puérperas, idosos e portadores de doenças crônicas. Pois tais indivíduos apresentam uma probabilidade de risco mais elevado se forem infectados.⁵

Alguns dos aspectos que podem ser observados nas gestantes é que durante esse período as células NK do sistema imune que fazem parte de 60 a 70% dos linfócitos maternos no início da gestação diminuem substancialmente com o decorrer da gravidez, quase não existindo mais no fim dela.⁶ Um estudo realizado em 2017 aponta que o risco de infecção do trato respiratório superior por doenças virais é potencialmente maior quando o corpo apresenta déficit no sistema inmunológico.⁷ Já no sistema respiratório ocorre uma redução de 20 a 30% da capacidade residual funcional (CRF), como também um aumento do esforço respiratório, e do volume corrente que consequentemente pode induzir a uma dispneia fisiológica.⁸

Durante tal período de reclusão domiciliar existem fatores que podem proporcionar riscos mais elevados para as gestantes e que podem interferir negativamente no decorrer da gestação, são eles, o sedentarismo, diversas comorbidades como sobrepeso, aumento da pressão arterial, intolerância à glicose, como também transtornos psicossociais como, depressão e ansiedade.⁹

Mediante as orientações de isolamento social exigidas atualmente em diversos países, estimular as gestantes a manter uma rotina fisicamente ativa nesse período de combate a disseminação da doença torna-se uma medida preventiva à saúde. No passado, as grávidas não realizavam atividades simples com receio de ocasionar algum risco para a gestação, contudo, com a evolução da ciência foi possível afirmar que manter um estilo de vida ativo durante a gravidez além de não oferecer riscos promove inúmeros benefícios tanto para a mãe como para o bebê.¹⁰

Durante a gestação uma das doenças que têm grande incidência são as tromboembólicas, neste período o risco de Tromboembolismo Venoso (TEV) aumenta de cinco a dez vezes.¹¹ Tang et al.¹² analisaram pacientes diagnosticados com COVID-19 grave e mostraram que 71,4% dos que não sobreviveram e 0,6% dos que sobreviveram demonstraram evidências de coagulação intravascular disseminada (CID), indicando a frequência da CID em casos grave de COVID-19. Sendo assim, a atenção e os cuidados a esse grupo de risco devem ser intensificados.

Os impactos físicos negativos na saúde da gestante nesse período podem ser minimizados a partir da prática de algum exercício físico. Pois, tal atividade interfere beneficamente em diversos sistemas do organismo materno, como por exemplo a melhora do funcionamento do sistema cardíaco e vascular, circulação sanguínea, promove uma melhora na captação, transporte e utilização do oxigênio, como também auxilia na prevenção de diversas doenças específicas da gestação como a diabetes gestacional, reduzindo as taxas de glicose sanguínea,¹³ além de ser uma medida eficaz para a melhora do sistema imune.⁹

O Colégio Americano de Medicina do Esporte publicou um guia onde sugere a manutenção de uma vida ativa em domicílio durante o período de isolamento na pandemia do COVID-19, reforçando a importância de tais hábitos para a saúde.¹⁴ A não realização dessas orientações pode afetar negativamente a saúde física do indivíduo nesse período.

Além dos aspectos físicos associados a esse período, podem surgir diversos impactos relacionados a saúde emocional da gestante. De modo que, durante essa fase da vida da mulher, desequilíbrios hormonais são habituais e implicam em mudanças de humor repentinas que consequentemente geram diversos conflitos emocionais como medo, ansiedade e insegurança.¹⁵ Quando somado ao processo de isolamento social que é uma situação onde exige do indivíduo paciência, e que também interfere para o aparecimento de estresse e ansiedade,¹⁶ potencializa um provável adoecimento psíquico.

Uma das situações mais estressantes neste período de pandemia é a imprevisibilidade e a incerteza sobre o controle e a gravidade da doença, que somado a desinformação podem elevar a preocupação da sociedade como um todo.¹⁷ O receio de ser contaminada pelo vírus e de ter algum agravante com relação a gestação pode surgir nesse período. Já que o medo em si é uma resposta emocional a uma ameaça real ou percebida, diferentemente da ansiedade que se comporta como uma antecipação de uma futura ameaça.¹⁸

Estudos realizados em locais afetados pelo COVID-19 foram realizados com o objetivo de identificar os impactos psicológicos na sociedade, um desses estudos demonstrou que 16,5% da população geral estudada apresentou sintomas depressivos moderados a graves; 28,8% mostrou sintomas de ansiedade moderada a grave e 8,1% de estresse moderado a grave.¹⁹ Ao avaliar apenas os indivíduos em isolamento outro estudo apresentou que o nível de ansiedade está correlacionado diretamente com o estresse.²⁰

Um meio eficiente para alcançar o bem-estar psíquico e social é a rede de apoio, principalmente durante a gestação. Ela usualmente é formada pelo companheiro, filhos, outros familiares e amigos que auxiliam no suporte material, suporte nas tarefas domésticas, orientações e apoio emocional.²¹ Durante o isolamento social a rede de apoio é reduzida, uma vez que demais familiares que não morem na mesma casa e amigos deixam de se fazer presentes fisicamente. Trata-se de um momento de incertezas e medos além dos que já assolam suas mentes neste período tão delicado na vida da mulher que ainda está com seu apoio restrito, podendo facilitar o aparecimento de crises de ansiedade.

A prática do exercício físico regularmente tem a capacidade de minimizar sentimentos de ansiedade e estresse nos indivíduos,²² além de melhorar fatores de humor, auto-estima e bem-estar.²³ Em momentos estressantes, como distanciamento social vivenciado atualmente, manter-se ativo é benéfico para o corpo e para a mente.

A internet e as redes sociais são amplamente conhecidas por todos atualmente, assim o recomendado neste momento de isolamento é utilizá-las para o próprio benefício. Seja para entrar em contato com a família e amigos, mantendo a rede de apoio próxima mesmo quando eles precisam estar distantes fisicamente. Além disso, o Conselho Federal de Psicologia²⁴ incentivou que os atendimentos, quando não puderem ser realizados pessoalmente, fossem feitos por meio de vídeo chamadas.

A prática de atividades físicas em casa também é adequada para manter o condicionamento físico e o bem-estar psíquico. Podendo ser realizado, segundo o Colégio Americano de Medicina,²⁵ de três a cinco vezes por semana com, pelo menos, trinta minutos de duração. Sendo necessário um acompanhamento profissional da fisioterapia ou da educação física, mesmo que a distância.

Usar a tecnologia a favor do bem-estar físico e psíquico a partir de uma aproximação de familiares, amigos e para atendimento com profissionais da saúde é de suma importância. Principalmente na gestação quando há tantas mudanças físicas e psíquicas, é essencial buscar manter a saúde do corpo e da mente durante esse período.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Ago 2020
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2020

Histórico

• Recebido
  26 Abr 2020
• Aceito
  22 Maio 2020