Acessibilidade / Reportar erro

Sobre a nomenclatura das espécies de cochonilhas-farinhentas do cafeeiro nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo

About the nomenclature of coffee mealybug species in Minas Gerais and Espírito Santo States, Brazil

Resumos

Cochonilhas-farinhentas (Hemiptera: Pseudococcidae) das raízes do cafeeiro (Coffea arabica L.) coletadas em Boa Esperança, Estado de Minas Gerais, foram identificadas como Dysmicoccus texensis (Tinsley) (= bispinosus Beardsley) e da parte aérea dos cafeeiros em Castelo, Estado do Espírito Santo, como Planococcus minor (Maskell). Porém, na literatura brasileira são citadas outras espécies de pseudococcídeos em cafeeiros, Pseudococcus cryptus Hempel nas raízes e Planococcus citri (Risso) na parte aérea. Assim, é possível que mais de uma espécie de cochonilhas-farinhentas possam estar ocorrendo nas raízes e na parte aérea dos cafeeiros, tornando os levantamentos e estudos taxonômicos necessários para o estabelecimento de programas de controle, sobretudo o biológico.

Insecta; Pseudococcidae; Dysmicoccus texensis; Planococcus minor; Coffea spp


Root coffee (Coffea arabica L.) mealybugs (Hemiptera: Pseudococcidae) collected in Boa Esperança, southern Minas Gerais State, were identified as Dysmicoccus texensis (Tinsley) (= bispinosus Beardsley) and these from aerial part collected in Castelo, State of the Espírito Santo, as Planococcus minor (Maskell). However, Brazilian literature mentions other mealybug species of coffee tree as Pseudococcus cryptus Hempel in roots and Planococcus citri (Risso) in the aerial part. Therefore, more than one mealybug species may be occurring in the roots as in aerial part of coffee trees, and the survey and taxonomic studies are necessary before setting a control program, specially biological control.

Insecta; Pseudococcidae; Dysmicoccus texensis; Planococcus minor; Coffea spp


SCIENTIFIC NOTE

Sobre a Nomenclatura das Espécies de Cochonilhas-Farinhentas do Cafeeiro nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo

LENIRA V.C. SANTA-CECÍLIA, PAULO R. REIS E JÚLIO C. SOUZA

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Centro Tecnológico do Sul de Minas / Centro de Pesquisa em Manejo Ecológico de Pragas e Doenças de Plantas, C. postal 176 – 37.200-000, Lavras, MG

e-mail: scecilia@ufla.br

About the Nomenclature of Coffee Mealybug Species in Minas Gerais and Espírito Santo States, Brazil

ABSTRACT – Root coffee (Coffea arabica L.) mealybugs (Hemiptera: Pseudococcidae) collected in Boa Esperança, southern Minas Gerais State, were identified as Dysmicoccus texensis (Tinsley) (= bispinosus Beardsley) and these from aerial part collected in Castelo, State of the Espírito Santo, as Planococcus minor (Maskell). However, Brazilian literature mentions other mealybug species of coffee tree as Pseudococcus cryptus Hempel in roots and Planococcus citri (Risso) in the aerial part. Therefore, more than one mealybug species may be occurring in the roots as in aerial part of coffee trees, and the survey and taxonomic studies are necessary before setting a control program, specially biological control.

KEY WORDS: Insecta, Pseudococcidae, Dysmicoccus texensis, Planococcus minor, Coffea spp.

RESUMO – Cochonilhas-farinhentas (Hemiptera: Pseudococcidae) das raízes do cafeeiro (Coffea arabica L.) coletadas em Boa Esperança, Estado de Minas Gerais, foram identificadas como Dysmicoccus texensis (Tinsley) (= bispinosus Beardsley) e da parte aérea dos cafeeiros em Castelo, Estado do Espírito Santo, como Planococcus minor (Maskell). Porém, na literatura brasileira são citadas outras espécies de pseudococcídeos em cafeeiros, Pseudococcus cryptus Hempel nas raízes e Planococcus citri (Risso) na parte aérea. Assim, é possível que mais de uma espécie de cochonilhas-farinhentas possam estar ocorrendo nas raízes e na parte aérea dos cafeeiros, tornando os levantamentos e estudos taxonômicos necessários para o estabelecimento de programas de controle, sobretudo o biológico.

PALAVRAS-CHAVE: Insecta, Pseudococcidae, Dysmicoccus texensis, Planococcus minor, Coffea spp.

As cochonilhas-farinhentas (Hemiptera: Pseudococcidae) constituem um importante grupo de pragas do cafeeiro (Coffea spp.) pelos danos produzidos nas raízes, caracterizados pela formação de criptas em cujo interior o inseto se desenvolve, e na parte aérea atacando as rosetas, desde a floração até a colheita. Sugando a seiva, e em grandes infestações, causam o definhamento das plantas, podendo levá-las à morte. As cochonilhas do gênero Dysmicoccus causam danos à produção da ordem de 0,84 kg de café beneficiado/cova (cova de quatro plantas) e, em condições favoráveis ao desenvolvimento do inseto e havendo déficit hídrico no solo, o cafeeiro pode sofrer danos severos (Nakano1972). As cochonilhas do gênero Planococcus sugam os frutos nas rosetas, e podem causar danos superiores a 30%. Em casos de altas infestações, podem atingir 100% da produção (Freitas et al. - não publicado). Esses hemípteros apresentam formato ovalado, coloração rosada e o corpo recoberto com cerosidade branca e apêndices filamentosos ao redor do corpo, em número variável de acordo com a espécie.

O primeiro reconhecimento e identificação de pseudococcídeo em raiz de cafeeiro no Brasil foi feito por Hempel (1918) que verificou tratar-se da espécie Pseudococcus cryptus Hempel. Posteriormente, Silva et al. (1968) catalogaram esta espécie como Planococcus cryptus (Hempel). Williams (1970) descreveu novamente a espécie cryptus colocando-a no gênero Dysmicoccus, sendo, porém, a correta identificação D. texensis (Tinsley) (= bispinosus Beardsley) (Williams & Granara de Willink 1992, Miller & Polavarapu 1997).

Nakano (1972) relatou a ocorrência de D. cryptus em cafeeiros de vários municípios do estado de São Paulo e no município de Nepomuceno, região Sul do estado de Minas Gerais, em 1968. Como já haviam sido constatados focos de infestação da conchonilha-da-raiz em lavouras dessa região de Minas Gerais, Santa-Cecília et al. (2000) ao examinarem exemplares de cochonilhas em raízes de cafeeiros das cultivares Mundo Novo e Catuaí, no município de Boa Esperança, também Sul de Minas, a princípio julgaram tratar-se da mesma espécie. Entretanto, o material remetido para especialista na área foi identificado como Dysmicoccus texensis (Tinsley), relatada como bispinosus por Williams & Granara de Willink (1992) para o Brasil em Coffea spp. e Trifolium sp., como também para outros países da América do Sul.

No município de Castelo, estado do Espírito Santo, a espécie de cochonilha encontrada na parte aérea dos cafezais foi citada como Planococcus citri (Risso) (Fornazier et al. - não publicado). Contudo, ninfas e fêmeas adultas da cochonilha coletadas nesse mesmo município foram enviadas para especialista e identificadas como Planococcus minor (Maskell). É uma espécie cosmopolita, polífaga e está citada para o Brasil (Willians & Granara de Willink 1992), Argentina (Granara de Willink 1991), Índia (Reddy & Seetharama 1997), e Ilhas de Mindanao, Filipinas (Sugimoto 1994). O material identificado, com os seus dados de coleta, está depositado na coleção do Instituto y Fundación Miguel Lillo de Tucumán, Argentina (IMLA).

É possível, pois, que mais de uma espécie de cochonilha do gênero Planococcus esteja ocorrendo nos cafezais brasileiros. Considerando-se a importância de cochonilhas dos gêneros Dysmicoccus e Planococcus ameaçando a produtividade de um grande número de plantas cultivadas, entre elas o cafeeiro, o relato dessas informações, bem como a realização de levantamentos e de estudos taxonômicos, são necessários para o estabelecimento de programas de controle, sobretudo o biológico, devida à especificidade que podem apresentar alguns grupos de inimigos naturais como parasitóides e entomopatógenos.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Dra. Maria Cristina Granara de Willink do Instituto Superior de Entomologia, Facultad de Ciências Naturales e Intituto y Fundación Miguel Lillo de Tucumán, Argentina, pela identificação das espécies de cochonilhas. Aos Drs. Maurício J. Fornazier (INCAPER–Crdr–Cs) e João Luiz Perini (COOABRIEL) pelas coletas de colônias de cochonilhas em cafeeiros no Município de Castelo, ES e ao Dr. Silvio C. Daum (SYNGENTA) pelo encaminhamento do referido material entomológico.

Literatura Citada

Received 23/05/01. Accepted 13/04/02.

  • Granara de Willink, M.C 1991. Mealybugs of economic importance found in Argentina: Taxonomic update and new host list. B. Acad. Nac. Ci. 59: 259-271.
  • Hempel, A.1918. Descrição de sete novas espécies de coccídeos. Rev. Mus. Paul. 10: 193-208.
  • Miller, D.R. & S. Polavarapu. 1997. A new species of mealybug in the genus Dysmicoccus (Hemiptera: Coccoidea: Pseudococcidae) of importance in highbush blueberries (Vaccinium corymbosum, Ericaceae) in the Eastern United States. Proc. Entomol. Soc. Wash. 99: 440-460.
  • Nakano, O. 1972. Estudo da cochonilha da raiz do cafeeiro, Dysmicoccus cryptus (Hempel, 1918) comb. n. (Homoptera: Pseudococcidae). Tese de livre docente Piracicaba, ESALQ/USP, 130p.
  • Reddy, K.B. & H.G.Seetharama. 1997. Integrated management of mealybugs in coffee. Indian Coff. 61: 26-28.
  • Santa-Cecília, L.V.C., J.C. Souza & P.R.Reis. 2000. Novas constatações da cochonilha-da-raiz Dysmicoccus cryptus em lavouras de café no Sul de Minas, em Minas Gerais. Lavras, EPAMIG, 2 p. (Circular Técnica, 130).
  • Silva, A.G.A., C.R. Gonçalves, D.M. Galvão, A.J.L. Gonçalves, J. Gomes, M. do N. Silva & L.Simoni. 1968. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil: seus parasitos e predadores. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, part.2, t.1. 622 p.
  • Sugimoto, S. 1994. Scale insects intercepted on banana fruits from Mindanao Is., the Philippines (Coccoidea: Homoptera). Res. B. Pl. Prot. Service 30: 115-121.
  • Williams, D.J. & M.C. Granara de Willink. 1992. Mealybug of Central and South América. Walingford, CABI. 629p.
  • Williams, D.J.1970. The mealybugs (Homoptera, Coccoidea, Pseudococcidae) of sugar cane, rice and sorghum. Bull. Entomol. Res. 60: 109-188.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002

Histórico

  • Recebido
    23 Maio 2001
  • Aceito
    13 Abr 2002
Sociedade Entomológica do Brasil Sociedade Entomológica do Brasil, R. Harry Prochet, 55, 86047-040 Londrina PR Brasil, Tel.: (55 43) 3342 3987 - Londrina - PR - Brazil
E-mail: editor@seb.org.br