Acessibilidade / Reportar erro

Ocorrência de Batrachedra nuciferae Hodges (Lepidoptera: Coleophoridae) no Estado de São Paulo

Ocurrence of Batrachedra nuciferae Hodges (Lepidoptera: Coleophoridae) in the State of São Paulo, Brazil

Resumos

Batrachedra nuciferae Hodges, uma praga do coqueiro, foi descrita originalmente em 1966 de exemplares coletados na Bahia. Em 1998, a espécie foi constatada nos estados de Anzoategui, Aragua e Falcón, na Venezuela. Neste trabalho é registrada pela primeira vez a ocorrência da espécie no estado de São Paulo. As lagartas abundam durante a estação seca podendo destruir a totalidade das flores masculinas dos cachos atacados.

Cocos nucifera; coco; praga


Batrachedra nuciferae Hodges, a pest of the coconut palm, was originally described in 1966 from specimens collected in the State of Bahia, Brazil. In 1998, this species was recorded in the states of Anzoategui, Aragua and Falcon, in Venezuela. The occurrence of this insect in the State of Sao Paulo, Brazil, is recorded for the first time. The larvae are very abundant in the dry season and can destroy all the masculine flowers of bunches attacked.

Cocos nucifera; coconut palm; pest


SCIENTIFIC NOTE

Ocorrência de Batrachedra nuciferae Hodges (Lepidoptera: Coleophoridae) no Estado de São Paulo

SAÚL SÁNCHEZ-SOTO1 E OCTAVIO NAKANO2

1Campus Tabasco, Colegio de Postgraduados, Apartado postal 24, 86500, H. Cárdenas, Tabasco, México

2Depto. Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ/USP, C. postal 9, 13418-900, Piracicaba, SP

Ocurrence of Batrachedra nuciferae Hodges (Lepidoptera: Coleophoridae) in the State of São Paulo, Brazil

ABSTRACT - Batrachedra nuciferae Hodges, a pest of the coconut palm, was originally described in 1966 from specimens collected in the State of Bahia, Brazil. In 1998, this species was recorded in the states of Anzoategui, Aragua and Falcon, in Venezuela. The occurrence of this insect in the State of Sao Paulo, Brazil, is recorded for the first time. The larvae are very abundant in the dry season and can destroy all the masculine flowers of bunches attacked.

KEY WORDS: Cocos nucifera, coconut palm, pest

RESUMO - Batrachedra nuciferae Hodges, uma praga do coqueiro, foi descrita originalmente em 1966 de exemplares coletados na Bahia. Em 1998, a espécie foi constatada nos estados de Anzoategui, Aragua e Falcón, na Venezuela. Neste trabalho é registrada pela primeira vez a ocorrência da espécie no estado de São Paulo. As lagartas abundam durante a estação seca podendo destruir a totalidade das flores masculinas dos cachos atacados.

PALAVRAS-CHAVE: Cocos nucifera, coco, praga

Entre os insetos que danificam a cultura do coqueiro (Cocos nucifera L.) no mundo, são conhecidas quatro espécies de microlepidópteros do gênero Batrachedra Herrich-Schäffer: B. arenosella Walker (Indonésia, Austrália, Papua-Nova Guiné, Vanuatu, Fidji, Ilhas Salomão e Malásia), B. atriloqua Meyrick (Fidji e Indonésia), B. mathesoni Busck (Florida, Estados Unidos) (Zhang 1994) e B. nuciferae Hodges [Bahia, Brasil (Hodges 1966), e Anzoategui, Aragua e Falcón, Venezuela (Arnal et al. 1998)]. De acordo com Hodges (1966), B. nuciferae foi estudada por Bondar (1940) com o nome de B. perobtusa Meyrick. Esta foi descrita originalmente a partir de exemplares coletados na Guiana Inglesa, Brasil e Peru, sem conhecimento da sua planta hospedeira (Meyrick 1922). Hodges (1966) separou esta espécie do gênero Batrachedra, constituindo com ela o gênero Ifeda, definindo I. perobtusa como espécie única.

As larvas de B. nuciferae, ao se alimentarem do pólen, destroem as flores masculinas do coqueiro, diminuindo a probabilidade de fecundação das flores femininas e reduzindo, assim, a frutificação das palmeiras (Bondar 1940). De acordo com esse autor, os danos causados pela praga ocorrem durante a estação seca, na qual as lagartas podem destruir a totalidade das flores masculinas, especialmente em cachos com a espata fendida cujas flores tardam em abrir pelo tempo seco ou por estarem os abusos atacados pelo pulgão Cerataphis lataniae (Boisduval) ou pela cochonilha Aspidiotus destructor Signoret. Segundo Arnal et al. (1998), a presença do inseto pode ser de grande importância especialmente em programas de melhoramento genético e produção comercial de híbridos nos quais se utilizam coqueiros anões, pois existe uma relação entre a altura da planta e a incidência da praga: na menor altura há maior incidência, sendo esse comportamento similar ao de Batrachedra amydraula Meyrick (Badawi et al. 1977), praga da palmeira Phoenix dactylifera L. no Iraque, Israel, Iêmen, Bahrain, Egito e Arábia Saudita (Zhang 1994). No estado de São Paulo, a cultura de coqueiro anão apresenta crescente interesse devido à comercialização da água de coco; porém, um dos problemas da cultura é a baixa porcentagem de formação de frutos devida, entre outras causas, ao ataque de insetos (Tonet & Pelinson 1999). Entre esses insetos, os citados autores mencionam a "traça", referindo-se possivelmente a B. nuciferae.

Neste trabalho é registrada pela primeira vez a presença de B. nuciferae, danificando a cultura do coqueiro no estado de São Paulo. Em março, abril e maio de 2001, foram coletados seis cachos danificados de coqueiro anão no Bairro Jacutinga, município de Araçatuba, SP. Os cachos apresentavam grandes quantidades de pequenas lagartas de aproximadamente 6 mm de comprimento e de coloração branca a rósea. As lagartas foram colocadas junto às flores masculinas do coqueiro em caixas de plástico com dimensões de 11,4 x 11,4 x 3,5 cm para obtenção dos adultos. A identificação foi feita com base nos caracteres da genitália de machos e fêmeas, consultando o trabalho de Hodges (1966). Exemplares da espécie estão depositados na coleção de insetos do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ, USP, Piracicaba, SP, Brasil.

Tomando em conta a abundância das lagartas e sua alta capacidade de dano, constatada pela destruição de quase todas as flores masculinas dos cachos coletados, a importância da praga poderia ser maior com o aumento da área cultivada de coqueiro anão no estado de São Paulo. No Brasil, além do coqueiro, as larvas de B. nuciferae alimentam-se do pólen das flores de Syagrus coronata (Mart.), S. vagans (Bondar), S. schizophylla (Mart.), Attalea funifera Mart., e A. piassabossu Bondar (Bondar 1940). Considerando que esta é a única espécie do gênero Batrachedra constatada em C. nucifera na América do Sul (Hodges 1966, Arnal et al. 1998), é provável que ocorra no Brasil, além de São Paulo, também no estado de Rio de Janeiro, já que Batrachedra sp. foi registrada em flores de coqueiro nesse estado (Silva et al. 1968).

Literatura Citada

Received 04/10/01. Accepted 30/06/02.

  • Arnal, E., J. Clavijo, E. Soto & F. Ramos. 1998.Batrachedra nuciferae Hodges, 1966 (Lepidoptera: Momphidae) nueva plaga del cocotero en Venezuela. Bol. Entomol. Venez. 13: 69-71.
  • Badawi, A., M.R.A. Saleh & A.H. Kamel. 1977. Susceptibility of different date varieties to infestation with certain pests, and the effect of tree height on the rate of infestation. Agric. Res. Rev. 55: 9-13.
  • Bondar, G. 1940. Notas entomologicas da Bahia, V. Rev. Entomol. 11: 199-214.
  • Hodges, R.W. 1966. Review of New World species of Batrachedra, with description of three new genera (Lepidoptera: Gelechioidea). Trans. Amer. Entomol. Soc. 92: 585-651.
  • Meyrick, E. 1922. Exotic Microlepidoptera 2: 577-608.
  • Silva, A.G.A., C.R. Gonçalves, D.M. Galvão, A.J.L. Gonçalves, J. Gomes, M.N. Silva & L. Simoni. 1968. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil. Seus parasitos e predadores. Parte 2, tomo 1o, insetos, hospedeiros e inimigos naturais. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, 622p.
  • Tonet, R.M. & G.J.B. Pelinson. 1999. A situação da cultura do coqueiro no estado de São Paulo, p. 222-238. In A.B. São José, I.V.B. Souza, J.I.L. Moura & T.N.H. Reboucas (eds.), Coco, produção e mercado. Bahia, UESB, 238p.
  • Zhang, B.C. 1994. Index of economically important Lepidoptera. Wallingford, CAB International, 599p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2003
  • Data do Fascículo
    Out 2002

Histórico

  • Recebido
    04 Out 2001
  • Aceito
    30 Jun 2002
Sociedade Entomológica do Brasil Sociedade Entomológica do Brasil, R. Harry Prochet, 55, 86047-040 Londrina PR Brasil, Tel.: (55 43) 3342 3987 - Londrina - PR - Brazil
E-mail: editor@seb.org.br