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Espécies novas de Tonnoira Enderlein (Diptera: Psychodidae) do nordeste brasileiro

New species of Tonnoira Enderlein (Diptera: Psychodidae) from northeastern Brazil

Resumos

São descritas três espécies novas de Tonnoira Enderlein da Bahia: T. bifida sp. n., T. longipennis sp. n. e T. magna sp. n.

Taxonomia; díptero; Neotropical; Bahia


Three new species of Tonnoira Enderlein from Bahia, Northeastern Brazil are described: T. bifida sp. n., T. longipennis sp. n. and T. magna sp. n.

Taxonomy; Neotropical; dipterous


SISTEMÁTICA, MORFOLOGIA E PISCOLOGIA

Espécies novas de Tonnoira Enderlein (Diptera: Psychodidae) do nordeste brasileiro

New species of Tonnoira Enderlein (Diptera: Psychodidae) from northeastern Brazil

Freddy Bravo; Cinthia Chagas

Depto. Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Av. Universitária s/n, 44031-460 Feira de Santana, BA; e-mail: fbravo@uefs.br

RESUMO

São descritas três espécies novas de Tonnoira Enderlein da Bahia: T. bifida sp. n., T. longipennis sp. n. e T. magna sp. n.

Palavras-chave: Taxonomia, díptero, Neotropical, Bahia

ABSTRACT

Three new species of Tonnoira Enderlein from Bahia, Northeastern Brazil are described: T. bifida sp. n., T. longipennis sp. n. and T. magna sp. n.

Key words: Taxonomy, Neotropical, dipterous

Do gênero Tonnoira Enderlein, 1937 são conhecidas sete espécies, todas da região neotropical (Enderlein 1937; Wagner 1981; Quate 1996, 1999). A espécie tipo, T. pelliticornis Enderlein, 1937, é conhecida apenas por uma fêmea coletada em Callanga, Peru. Três espécies são conhecidas da Costa Rica, T. bitenacula Quate, 1996, T. moragai Quate, 1996 e T. plumaria Quate, 1996. Duas espécies foram descritas do Panamá, T. bitalea Quate, 1999 e T. rectilata Quate, 1999. A última espécie, T. mirabilis Wagner, 1981, foi descrita do estado do Amazonas, Brasil. Neste trabalho, descrevem-se três espécies novas de Tonnoira da Bahia.

Material e Métodos

Os espécimes estudados estavam conservados em álcool 70%. Foram tratados com solução aquosa de hidróxido de potássio (KOH) e montados em lâmina permanente. Os exemplares estão depositados na Coleção Entomológica da Universidade Estadual de Feira de Santana (CUFS), Feira de Santana, Bahia. Seguiu-se o sistema para as nervuras alares proposto por Colless & McAlpine (1991) e as demais terminologias McAlpine (1981).

Todos os espécimes foram coletados a 800 m de altitude, dentro de mata úmida no maciço montanhoso conhecido como Serra da Jibóia (12°51´-39° 31´W), maciço este que está inserido no Bioma Mata Atlântica. Os exemplares foram coletados com armadilha luminosa tipo "Luiz de Queiroz".

Tonnoirabifida sp. n.

(Figs. 1 a 9)


Material-Tipo. Holótipo macho, BRASIL, Bahia, Serra da Jibóia, 17.06.2003, I. Castro col. (CUFS). Alótipo, mesma localidade e coletor do holótipo, 28.09.2000 (CUFS).

Etimologia. O nome faz referência ao formato do gonóstilo.

Macho. Comprimento do corpo, desde o início do tórax até o final do abdome, 2,8 mm. Cabeça: subcircular, ponte ocular de quatro facetas de largura, separadas por distância menor que um diâmetro de faceta. Antena incompleta, flagelômero basal cilíndrico (Fig. 1); ascóides perdidos na preparação; escapo subcilíndrico; pedicelo subesférico (Fig. 1). Palpo maxilar com quatro segmentos (Fig. 3); comprimento relativo dos palpômeros: 1,0:2,9:3,0:3,0. Asa: membrana alar marrom hialina com manchas claras, subtriangulares, entre as veias M1 e M2, M2 e M3, M3 e M4 (Fig. 4); comprimento da asa 2,3 mm; largura máxima 1,1 mm; R5 terminando no ápice; m-cu ausente (Fig. 4). Cercos, gonocoxito e gonóstilo com pilosidade (Figs. 5 a 8). Gonocoxito 1,5 vezes o comprimento do gonóstilo (Fig. 8). Gonóstilo bifurcado; braço interno maior que o externo (Fig. 8); braço externo mais esclerotinizado que o interno (Figs. 7, 8). Placa pós-hipandrial quase 1/4 do comprimento do apódema edeagal, assimétrica, mais estreita no meio, mais larga nos lados (Fig. 8). Esternito 10, mais estreito no ápice que na base, com micropilosidade apical na superfície dorsal (Fig. 6). Tergito 9 sub-retangular (Fig. 6). Cercos compridos quase três vezes o comprimento do tergito 9, largo na base e estreito no ápice (Fig. 6); um par de tenáculas por cerco, uma apical e outra subapical (Fig. 5). Edeago assimétrico; braço direito com ápice curvo (Fig. 8). Parâmeros assimétricos; braço direito menor que o esquerdo; braço esquerdo curvo (Fig. 8). Apódema edeagal suboval (Fig. 8). Apódema gonocoxal quase a metade do comprimento do apódema edeagal (Figs. 7, 8).

Fêmea. Similar ao macho exceto pelos caracteres descritos a seguir. Comprimento do corpo, desde o início do tórax até o final do abdome, 2,5 mm. Antena com 14 flagelômeros; flagelômeros apicais mais curtos que os basais; apículo pequeno (Fig. 2); ascóides perdidos na preparação. Palpo maxilar com quatro segmentos; comprimento relativo dos palpômeros: 1,0:2,1:2,1:1,9. Comprimento da asa 2,1 mm; largura máxima 1,0 mm. Placa subgenital com margem distal ondulada (Fig. 9). Cercos, largos na base e estreitos no ápice (Fig. 9).

Tonnoira longipennis sp. n.

(Figs. 10 a 16)


Material-Tipo. Holótipo macho, BRASIL, Bahia, Serra da Jibóia, 01.04.2001, I. Castro col. (CUFS). Parátipo, macho, mesma localidade do holótipo, 27.07.2000. F. Bravo col. (CUFS). Parátipo, macho, mesma localidade, data e coletor do holótipo (CUFS).

Etimologia. O nome faz referência ao edeago longo.

Macho. Comprimento do corpo, desde o início do tórax até o final do abdome, 2,3 mm. Cabeça: subcircular, ponte ocular de quatro facetas de largura, separadas por distância menor que um diâmetro de faceta. Antena incompleta, flagelômero basal cilíndrico (Fig. 10); ascóides perdidos na preparação; escapo subcilíndrico; pedicelo subesférico (Fig. 10). Palpo maxilar com quatro segmentos (Fig. 11); comprimento relativo dos palpômeros: 1,0:3,0:2,6:2,3. Asa: membrana alar marrom hialina sem manchas subcirculares marginais entre as veias (Fig. 12); comprimento da asa 2,4 mm; largura máxima 1,0 mm; R5 terminando no ápice; m-cu ausente (Fig. 12). Cercos, gonocoxito e gonóstilo com pilosidade (Figs. 13 a 16). Gonocoxito quase do mesmo comprimento que o gonóstilo (Fig. 14). Gonóstilo não bifurcado, largo na base e estreito no ápice (Fig. 14). Placa pós-hipandrial assimétrica; maior comprimento igual a ¼ do comprimento do edeago (Fig. 14). Esternito 10 com micropilosidade apical na superfície dorsal (Fig. 15). Tergito 9 subretangular (Fig. 15). Cercos compridos pouco mais que o dobro do comprimento do tergito 9, largo na base e estreito no ápice (Figs. 13, 15); um par de tenáculas por cerco, uma apical e outra subapical (Figs. 13, 15, 16). Edeago simétrico, comprido quase o dobro do comprimento do gonóstilo (Fig. 14). Parâmeros curvos, subtriangulares, quase a metade do comprimento do edeago (Fig. 14). Apódema edeagal 2/3 do comprimento do edeago (Figs. 13, 14), sub-retangular (Fig. 14). Apódema gonocoxal pequeno, quase 1/3 do comprimento do apódema edeagal (Fig. 14).

Tonnoiramagna sp. n.

(Figs. 17 a 23)


Material-Tipo. Holótipo macho, BRASIL, Bahia, Serra da Jibóia, 17.06.2003, I. Castro col. (CUFS). Parátipo macho, mesma localidade do holótipo, 24.08.2000. F. Bravo col. (CUFS). Dois parátipos, mesma localidade e coletor do holótipo, 01.04.2001 (CUFS). Parátipo macho, mesma localidade, data e coletor do holótipo (CUFS).

Etimologia. O nome faz referência ao tamanho comprido do apódema edeagal.

Macho. Comprimento do corpo, desde o início do tórax até o final do abdome, 2,0 mm. Cabeça subcircular: ponte ocular de quatro facetas de largura, separadas por distância menor que um diâmetro de faceta. Antena completa, flagelômeros fusiformes alongados (Fig. 14), sendo os basais mais largos e maiores que os apicais (Figs. 17, 18); ascóides perdidos na preparação; escapo subcilíndrico; pedicelo subesférico (Fig. 17). Palpo maxilar com quatro segmentos (Fig. 19); comprimento relativo dos palpômeros: 1,0:2,6:2,8:3,2. Asa: membrana alar marrom hialina sem manchas subcirculares marginais entre as veias (Fig. 20); comprimento da asa 2,2 mm; largura máxima 0,9 mm; R5 terminando no ápice; m-cu ausente (Fig. 20). Cercos, gonocoxito e gonóstilo com pilosidade (Figs. 21 a 23). Gonocoxito quase tão longo quanto o gonóstilo (Fig. 23). Gonóstilo não bifurcado, largo na base e estreito no ápice (Fig. 23). Placa pós-hipandrial simétrica, com dois lobos laterais, quase 1/3 do comprimento do apódema edeagal (Fig. 23). Esternito 10 com micropilosidade apical na superfície dorsal (Fig. 22). Tergito 9 subquadrado (Fig. 22). Cercos longos quase três vezes o comprimento do tergito 9, largo na base e estreito no ápice (Figs. 21, 22); um par de tenáculas por cerco, uma apical e outra subapical (Fig. 22). Edeago simétrico, quase do mesmo comprimento do gonóstilo (Fig. 23). Parâmeros subtriangulares, quase a metade do comprimento do edeago (Fig. 23). Apódema edeagal comprido, quase o dobro do comprimento do gonocoxito (Figs. 21, 23). Apódema gonocoxal quase a metade do comprimento do apódema edeagal (Fig. 23).

Comentários

Duas espécies de Tonnoira são conhecidas apenas por fêmeas, a espécie tipo T. pelliticornis do Peru e T. rectilata do Panamá. T. pelliticornis diferencia-se das três espécies brasileiras de Tonnoira pelo comprimento do primeiro flagelômero, que em T. pelliticornis é quase 1,5 o do segundo, e nas três espécies brasileiras, ambos são quase do mesmo tamanho.

Tonnoira bifida sp. n. diferencia-se de T. rectilata pelo tamanho da placa subgenital e pelo formato da margem posterior dessa placa. A placa subgenital de T. bifida sp. n. é curta e a margem posterior é ondulada, enquanto que em T. rectilata é mais comprida e a margem posterior tem formato de V.

Tonnoira longipennis sp. n. e T. magna sp. n. diferenciam-se de T. rectilata pelo comprimento do primeiro flagelômero e pelo relativo dos palpômeros. Nas duas espécies novas o comprimento do primeiro flagelômero e pouco maior que a soma dos comprimentos do escapo e do pedicelo, enquanto que em T. rectilata é um pouco menor (Quate, 1999). O comprimento relativo dos palpômeros constitui diferença entre as espécies: T. longipennis sp. n., 1,0:3,0:2,6:2,3; T. magna sp. n., 1,0:2,6:2,8:3,2; T. rectilata, 1,0:2,3:2,3:2,7. Por último, R2+3 é curta em T. rectilata (Quate, 1999) e em T. magna sp. n. é comprida, e o formato dos flagelômeros é fusiforme alongado em T. rectilata e cilíndrico em T. longipennis sp. n.

As três espécies novas de Tonnoira possuem duas tenáculas no ápice do cerco. Das cinco espécies de Tonnoira nas quais o macho é conhecido, apenas duas possuem o mesmo número de tenáculas no cerco: T. bitenacula e T. bitalea. T. mirabilis, do Brasil, possui três e T. moragai e T. plumaria possuem apenas uma tenácula.

T. bifida distingue-se das outras espécies com duas tenáculas, porque o gonóstilo desta espécie é bifurcado, enquanto que nas outras ele é simples. Por outro lado, o edeago de T. longipennis sp. n. é muito mais comprido que qualquer um das outras espécies de Tonnoira com duas tenáculas. Por último, o formato da placa pós-hipandrial com dois lobos e o apódema edeagal longo distinguem T. magna sp. n. das outras espécies de Tonnoira com duas tenáculas.

Literatura Citada

Received 13/10/03. Accepted 01/05/04.

  • Colles, D.H. & D.K. McAlpine.1991. Diptera, p. 717-786. In CSIRO. The insects of Australia. Victoria, Melbourne University Press, 1137p.
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  • McAlpine, J.F.1981. Morphology and terminology: Adults. p. 9-63. In J.F. McAlpine, B.V. Peterson, G.E. Shewell, H.J. Teskey, J.R. Vockeroth & D.M. Wood (eds.), Manual of Neartic Diptera, 1° vol. Ottawa, Research Branch, Agriculture Canada, Monograph N° 27, 674p .
  • Quate, L.W. 1996. Preliminary taxonomic of Costa Rica: Psychodidae (Diptera), exclusive of Plebotominae. Rev. Biol. Trop. 44: 1-81 (Supplement 1).
  • Quate, L.W. 1999. Taxonomy of Neotropical Psychodidae (Diptera): Psychodines of Barro Colorado Island and San Blas, Panamá, p. 409-441. In Memoirs on Entomology, International, v.14. Contributions to knowledge of Diptera: A collection of articles on Díptera commemorating the life and work of Graham B. Fairchild. Associated Publishers, Gainsville, Florida, 648p.
  • Wagner, R.1981. Two new moth-flies (Diptera, Psychodidae) from South America. Stud. Neotrop. Fauna Environ. 16: 217-220.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Out 2004

Histórico

  • Recebido
    13 Out 2003
  • Aceito
    01 Maio 2004
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