Acessibilidade / Reportar erro

Ocorrência de Dictyla monotropidia Stål (Hemiptera: Tingidae) em Cordia verbenacea Al. DC no Brasil

Occurrence of Dictyla monotropidia Stål (Hemiptera: Tingidae) on Cordia verbenacea Al. DC in Brazil

Resumos

Recentemente, observaram-se plantas de erva-baleeira (Cordia verbenácea Al. DC) sendo atacadas pelo percevejo Dictyla monotropidia Stål. As colônias foram encontradas na superfície abaxial das folhas, onde ninfas e adultos sugavam a seiva do floema, causando encarquilhamento, seguido de amarelecimento e queda de folhas. D. monotropidia já foi relatada como praga de outras espécies de Cordia em países das Américas Central e do Sul, entretanto, este é o primeiro relato do inseto atacando plantas de C. verbenacea no Brasil.

Percevejo-rendado; planta medicinal; erva-baleeira


Recently, Dictyla monotropidia Stål was observed feeding on plants of black sage (Cordia verbenacea Al. DC). The colonies of this insect were observed on abaxial surface of leaves, with nymphs and adults sucking the phloem sieve, causing spot, yellow aspect and leaf fall. D. monotropidia was already related as pest in other Cordia species in countries of Central and South America. Although, this is the first report of this insect attacking plants of C. verbenacea in Brazil.

Lace bug; medicinal plant; black sage


SCIENTIFIC NOTE

Ocorrência de Dictyla monotropidia Stål (Hemiptera: Tingidae) em Cordia verbenacea Al. DC no Brasil

Occurrence of Dictyla monotropidia Stål (Hemiptera: Tingidae) on Cordia verbenacea Al. DC in Brazil

Daniel D. RosaI; Marco A. BassetoI; Fernanda FelicianoII; Monica B. NevesII; Edson L.L. BaldinI

IDepto. Produção Vegetal – Defesa Fitossanitária, Univ. Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências Agronômicas – FCA, 18603-970, Botucatu, SP, ddrosa@fca.unesp.br

IIDepto. Botânica & Sustentabilidade, Anidro do Brasil Extrações Ltda - Grupo Centroflora, 18603-970 Rod. Eduardo Zuccari, km 21,5 s/n Botucatu, SP

RESUMO

Recentemente, observaram-se plantas de erva-baleeira (Cordia verbenácea Al. DC) sendo atacadas pelo percevejo Dictyla monotropidia Stål. As colônias foram encontradas na superfície abaxial das folhas, onde ninfas e adultos sugavam a seiva do floema, causando encarquilhamento, seguido de amarelecimento e queda de folhas. D. monotropidia já foi relatada como praga de outras espécies de Cordia em países das Américas Central e do Sul, entretanto, este é o primeiro relato do inseto atacando plantas de C. verbenacea no Brasil.

Palavras-chave: Percevejo-rendado, planta medicinal, erva-baleeira

ABSTRACT

Recently, Dictyla monotropidia Stål was observed feeding on plants of black sage (Cordia verbenacea Al. DC). The colonies of this insect were observed on abaxial surface of leaves, with nymphs and adults sucking the phloem sieve, causing spot, yellow aspect and leaf fall. D. monotropidia was already related as pest in other Cordia species in countries of Central and South America. Although, this is the first report of this insect attacking plants of C. verbenacea in Brazil.

Key words: Lace bug, medicinal plant, black sage

Nos últimos anos a procura por medicamentos fitoterápicos vem crescendo, aliada ao consumo de alimentos orgânicos e à perspectiva de uma vida mais próxima à natureza (Luz 2005). Com isso, grandes empresas farmacêuticas têm investido na pesquisa de plantas que produzam princípios ativos medicamentosos, cultivando-as de modo sustentável, sem comprometimento do meio ambiente (Ribeiro 2001). A erva-baleeira, Cordia verbenacea Al. DC, é uma das espécies de plantas atualmente exploradas nesse sentido, visando à produção de um fitoterápico extraído a partir das folhas. O gênero Cordia pertence à família Boraginaceae, que abrange cerca de 250 espécies, sendo que a maioria possui porte arbóreo ou arbustivo. A espécie C. verbenacea é nativa das Américas, sendo encontrada desde a América Central até a Região Central da Argentina (Barroso et al. 2002). No Brasil sua maior distribuição é na região da Mata Atlântica e regiões baixas da Amazônia. A espécie pode alcançar até três metros de altura, entretanto, no sistema agrícola em que vem sendo cultivada no país, as plantas têm atingido apenas um metro (Lorenzi 2003).

Mediante estudos farmacológicos realizados com C. verbenacea, constatou-se elevado potencial anti-inflamatório da planta, sendo extraídos os óleos essenciais de pineno e de mirceno, responsáveis pelo odor característico da planta, e verificada alta concentração de bioflavonóides, que auxiliam no combate aos processos inflamatórios (Akisue et al. 1993).

Devido à necessidade de se obter grandes quantidades de folhas de C. verbenaceae para suprir a indústria, plantações em sistema de monocultivo têm sido implementadas, fazendo com que pragas e doenças ainda desconhecidas surjam no cultivo. Em novembro de 2006, plantas de C. verbenacea, provenientes de uma plantação localizada no município de Jaú, SP (22º17’44"S e 48º33’28"O), começaram a apresentar sintomas de encarquilhamento e amarelecimento que evoluíram para necrose e queda das folhas. Os sintomas iniciaram nas folhas da região mais baixa da planta, e foram verificados em toda a planta nos estágios mais avançados, independente de folhas novas ou velhas. Observaram-se pontuações enegrecidas e colônias de percevejo-rendado na região abaxial da folhas, cuja espécie e descrição de hábitos urge fazer.

As folhas infestadas foram então coletadas e encaminhadas aos laboratórios do Departamento de Produção Vegetal - Defesa Fitossanitária, da FCA/UNESP de Botucatu para a análise dos insetos. A fim de identificar o inseto e estágios de desenvolvimento, coletaram-se alguns indivíduos e observaram-se as colônias em microscópio estereoscópico de campo claro com aumento de até 80 vezes. Encontraram-se, em média, 50 ovos agrupados próximo à nervura central, na região abaxial, apresentando forma arredondada e coloração marrom-escura, sendo estes cobertos por uma substância escura. Destes eclodiram ninfas, que inicialmente apresentavam coloração branca e após algumas horas tornavam-se enegrecidas, com muitas cerdas sobre o corpo, inclusive sobre a cabeça. Os adultos mediam de 3 mm a 5 mm de comprimento e 1,5 mm a 2 mm de largura, com forma ovalada e coloração marrom-clara, com detalhes em negro (Fig. 1). Com base nas características observadas tanto nos adultos como nas ninfas, efetuou-se a análise comparativa com as descrições efetuadas por Fallas et al. (1993) e por Ford (1981), concluindo-se tratar-se da espécie Dictyla monotropidia Stål (1858), efetuou-se também a análise comparativa visual com documentação fotográfica de espécimes tipo depositada no Museu de Zoologia Comparada, da Universidade de Harvard (http://insectdatabases.oeb.harvard.edu) e no Museu Sueco de Historia Natural (http://www.nrm.se), confirmando-se as características já observadas na análise descritiva. Popularmente, a espécie se encaixa no grupo dos percevejos-rendados, devido ao aspecto reticulado da superfície de suas asas (Fallas et al. 1993).


D. monotripidia é uma praga de grande importância para as espécies de Cordia, já tendo sido relatada em C. allidora na Costa Rica, Nicarágua, Cuba, Peru, Panamá e Guatemala, onde vêm ocasionando grandes prejuízos (Pujade-Villar 2007). Desde que o cultivo de C. verbenacea tornou-se mais explorado no Brasil, este é o primeiro registro do ataque de D. monotropidia observado.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPq e CAPES pela concessão da bolsa de estudo concedida ao primeiro e segundo autor, respectivamente.

Received 14/V/07. Accepted 06/XI/07.

  • Akisue, M.K., F. Oliveira, M.S. Moraes, G. Akisue & B. Mancini. 1993. Caracterização farmacognóstica da droga e da tintura de Cordia verbenacea Al. DC. – Boraginaceae. Rev. Cien. Farm. 5: 69-82.
  • Barroso, I.C.E., F. de Oliveira, L.H.Z. Branco, E.T.M. Kato & T.G. Dias. 2002. O gênero Cordia L.: Botânica, química e farmacologia. Revista Lecta 20: 15-34.
  • Fallas, E.M., M.A. Arguedas & R.D. Briceño. 1993. Dispersión y métodos de crías de Dictyla monotropidia (Hemiptera: Tingidae). Rev. Biol. Trop. 41: 509-513.
  • Ford, L. 1981. Reconocimiento de las plagas de plantaciones forestales de Costa Rica. Informe técnico no. 7, Centro Agronómico Tropical para la Investigación y la Enseñanza Turrialba, Costa Rica, 53p.
  • Lorenzi, H., H.M. Souza, M.A. Torres & V.L.B. Bacher. 2003. Árvores exóticas no Brasil: Madeireiras, ornamentais e aromáticas. Nova Odessa, Plantarum, 384p.
  • Luz, M.T. 2005. Contemporary culture and complementary medicine: New paradigm in health in the end of the century. Physis 15: 145-176.
  • Pujade-Villar, J. 2007. Diagnosis y plan de acción de las plagas (VII). World wide web electronic publication (http://www.conservacion.unalmed.edu.co/documentos/doc22.pdf) (acessado em 19/04/2007).
  • Ribeiro, M.A.R. 2001. Public health and chemical-pharmaceutical companies. Hist. Cienc. Saúde-Manguinhos 7: 607-626.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2008
  • Data do Fascículo
    Abr 2008

Histórico

  • Aceito
    06 Nov 2007
  • Recebido
    14 Maio 2007
Sociedade Entomológica do Brasil Sociedade Entomológica do Brasil, R. Harry Prochet, 55, 86047-040 Londrina PR Brasil, Tel.: (55 43) 3342 3987 - Londrina - PR - Brazil
E-mail: editor@seb.org.br