Acessibilidade / Reportar erro

Identificação de plantas hospedeiras da broca do abacate, Stenoma catenifer Walsingham (Lepidoptera: Elachistidae) no Rio Grande do Sul

Identification of host plants of the avocado borer, Stenoma catenifer Walsingham (Lepidoptera: Elachistidae) in Rio Grande do Sul

Resumos

Frutos de Nectandra megapotamica Mez e de Cinnamomum camphora (L.) (Lauraceae) foram coletados no Rio Grande do Sul, em 2004. Nove espécies pertencentes a cinco famílias de insetos foram coletadas: duas espécies de Drosophila (Diptera: Drosophilidae), seis espécies de Coleoptera: Heilipus sp. e Conotrachelus sp. (Curculionidae), Hypothenemus sp. (Scolytidae) e três espécies de Carpophilus (Nitidulidae), e uma de Lepidoptera (Elachistidae). Os espécimes pertencentes à família Elachistidae foram identificados como Stenoma catenifer Walsingham, a broca do abacate. S. catenifer emergiu do início de abril até meados de maio. A infestação nos frutos foi baixa. Duas novas plantas hospedeiras dessa praga foram identificadas.

Cinnamomum camphora; Nectandra megapotamica; fruto


Fruits of Nectandra megapotamica Mez and Cinnamomum camphora (L.) (Lauraceae) were collected in Rio Grande do Sul, Brazil, in 2004. Species of five families of insects were found inside the fruits: two fly species (Diptera: Drosophilidae: Drosophila spp.), six beetle species, Heilipus sp., Conotrachelus sp. (Curculionidae), Hypothenemus sp. (Scolytidae) and three species of Carpophilus (Nitidulidae), and moths (Lepidoptera: Elachistidae). The moth especimes were identified as Stenoma catenifer Walsingham, the avocado borer. The occurrence of the moth was predominant from early April until middle May. The natural larval infestation level was low. Two new host plant of the pest were identified.

Cinnamomum camphora; Nectandra megapotamica; fruit


SCIENTIFIC NOTE

Identificação de plantas hospedeiras da broca do abacate, Stenoma catenifer Walsingham (Lepidoptera: Elachistidae) no Rio Grande do Sul

Identification of host plants of the avocado borer, Stenoma catenifer Walsingham (Lepidoptera: Elachistidae) in Rio Grande do Sul

Dionísio Link; Fabio M. Link

Centro de Ciências Rurais, Univ. Federal de Santa Maria. Prédio 42, sala 3227. 97105-900 Santa Maria, RS dlink@ccr.ufsm.br, linkfml@yahoo.com.br

RESUMO

Frutos de Nectandra megapotamica Mez e de Cinnamomum camphora (L.) (Lauraceae) foram coletados no Rio Grande do Sul, em 2004. Nove espécies pertencentes a cinco famílias de insetos foram coletadas: duas espécies de Drosophila (Diptera: Drosophilidae), seis espécies de Coleoptera: Heilipus sp. e Conotrachelus sp. (Curculionidae), Hypothenemus sp. (Scolytidae) e três espécies de Carpophilus (Nitidulidae), e uma de Lepidoptera (Elachistidae). Os espécimes pertencentes à família Elachistidae foram identificados como Stenoma catenifer Walsingham, a broca do abacate. S. catenifer emergiu do início de abril até meados de maio. A infestação nos frutos foi baixa. Duas novas plantas hospedeiras dessa praga foram identificadas.

Palavras-Chave:Cinnamomum camphora, Nectandra megapotamica, fruto

ABSTRACT

Fruits of Nectandra megapotamica Mez and Cinnamomum camphora (L.) (Lauraceae) were collected in Rio Grande do Sul, Brazil, in 2004. Species of five families of insects were found inside the fruits: two fly species (Diptera: Drosophilidae: Drosophila spp.), six beetle species, Heilipus sp., Conotrachelus sp. (Curculionidae), Hypothenemus sp. (Scolytidae) and three species of Carpophilus (Nitidulidae), and moths (Lepidoptera: Elachistidae). The moth especimes were identified as Stenoma catenifer Walsingham, the avocado borer. The occurrence of the moth was predominant from early April until middle May. The natural larval infestation level was low. Two new host plant of the pest were identified.

Key Words:Cinnamomum camphora, Nectandra megapotamica, fruit

Stenoma catenifer Walsingham (Lepidoptera: Elachistidae) possui ocorrência generalizada no território brasileiro (Biezanko 1961, Mariconi 1963, Silva et al. 1968, Koller 2002), apresentando ainda incidência contínua nos territórios entre o México e a Argentina (Koller 2002). Os registros de plantas hospedeiras mencionam apenas as plantas do gênero Persea (Mariconi 1963, Koller 2002). O ataque aos frutos do abacateiro tem causado prejuízos consideráveis fazendo com que a praga seja considerada fator limitante à produção da cultura em vários estados do Brasil (Hohmann et al. 2000, 2003).

No Rio Grande do Sul, os níveis de ocorrência não são significativos apesar de a praga já ter sido constatada em diferentes localidades do estado (Biezanko 1961, Koller 2002). Em Santa Maria, a presença de frutos com sintomas de injúria pela lagarta tem sido constatada em plantas cultivadas no perímetro urbano e principalmente nas encostas das elevações que circundam a cidade. O ataque tem ocorrido predominantemente em cultivares de maturação precoce que amadurecem no período compreendido entre março e maio. As cultivares de maturação tardia, que amadurecem entre junho e setembro, não têm sido atacadas pela lagarta.

A região central do Rio Grande do Sul apresenta relevo característico, contendo mata nas encostas das elevações, onde plantas da família Lauraceae normalmente ocorrem com abundância. Algumas espécies dessa família são de grande valia para a indústria, constituindo, entre outros usos, matéria prima para a construção civil. Além disso. essas espécies podem ser cultivadas em monocultivo, devido à sua velocidade de desenvolvimento mesmo em áreas de baixa fertilidade, aliada à facilidade na obtenção de sementes e mudas.

Por ocasião da colheita de frutos e sementes de espécies nativas visando a produção de mudas, constatou-se que os frutos de algumas árvores encontravam-se atacados por diferentes espécies de insetos, algo que prejudicava a obtenção de sementes de qualidade. Em função disso, alguns frutos de duas espécies de Lauraceae cultivadas no Rio Grande do Sul foram coletados na tentativa de que a fauna associada a eles pudesse ser identificada.

Para tal foram realizadas duas coletas de 104 e 101 frutos maduros de canela preta, Nectandra megapotamica Mez, cultivada em Linha Venturini, município de Ivorá, RS, em março de 2004 e quatro coletas de 65, 91, 126 e 101 frutos maduros de canforeira, Cinnamomum camphora, sendo três no município de Santa Maria e outra no município de Caçapava do Sul, entre a segunda quinzena do mês de março e a primeira quinzena de abril de 2004 (Tabela 1).

Os frutos de N. megapotamica foram retirados diretamente das plantas ou recolhidos do solo na projeção da copa de sete árvores pré-selecionadas. No caso de C. camphora, as quatro amostras foram retiradas diretamente de quatro árvores isoladas. Os frutos coletados foram acondicionados em grupos de cinco a dez, em recipientes plásticos, identificados por local, planta e data de coleta. Os recipientes continham areia esterilizada no fundo, umedecida a cada três/quatro dias visando impedir a desidratação do material. A avaliação visual da emergência dos insetos seguida de sua remoção foi realizada a cada dois ou três dias. As avaliações foram encerradas no final de setembro de 2004, após constatação de ausência de emergência por um período de quinze dias. Os espécimes obtidos foram separados, preservados em álcool e identificados até o nível de gênero. As mariposas foram montadas a seco e identificados até o nível de espécie.

Adultos de S. catenifer emergiram dos frutos de ambas as espécies de Lauraceae entre os meses de abril e maio (Tabela 1). Outras oito morfoespécies de insetos emergiram tanto dos frutos de N. megapotamica coletados diretamente nas árvores quanto dos que se encontravam no solo. Essas morfoespécies pertenciam às seguintes famílias: duas espécies de Drosophila (Drosophilidae: Diptera) e seis de Coleoptera, abrangendo Heilipus sp. e Conotrachelus sp. (Curculionidae), três espécies de Carpophilus (Nitidulidae) e Hypothenemus sp. (Scolytidae). A emergência ocorreu entre março e setembro para as espécies da família Curculionidae, entre março e julho para a espécie da família Scolytidae, entre março e abril para as três espécies da família Nitidulidae e para as duas espécies de Drosophilidae.

Como apenas uma lagarta de S. catenifer emergiu de cada fruto, tanto em canela preta como em canforeira, sugere-se que a postura dessa espécie tende a ser isolada. Fato semelhante foi relatado por Hohmann et al. (2003), em abacateiro que verificaram a presença de até dois ovos da espécie por fruto infestado.

A obtenção de adultos de S. catenifer oriundos de lagartas que completaram desenvolvimento em frutos de canela preta e de canforeira mostra que frutos dessas duas plantas são hospedeiros da broca, sugerindo a possibilidade de manutenção de suas populações na ausência de frutos de abacateiro.

Received 02/I/07. Accepted 06/XI/07.

  • Biezanko, C.M. 1961. XIII - Olethreutuidae, Tortricidae, Phaloniidae, Aegeriidae, Glyphipterygidae, Yponomeutidae, Gelechiidae, Oecophoridae, Xylorictidae, Lithocolletidae, Cecidoseidae, Ridiaschinidae, Acrolophidae, Tineidae e Psychidae da zona Sueste do Rio Grande do Sul. Arquivos de Entomologia, série A, Escola de Agronomia Eliseu Maciel, Pelotas, 16p.
  • Hohmann, C.L., A.M. Meneguim, E.A. Andrade, T.G. de Novaes & C. Zandoná. 2003. The avocado fruit borer, Stenoma catenifer (Wals.) (Lepidoptera: Elachistidae): Egg and damage distribution and parasitism. Rev. Bras. Frutic. 25: 432-435.
  • Hohmann, C.L., W.J. Santos & A.M. Meneguim. 2000. Avaliação de técnicas de manejo para o controle da broca-do-abacate, Stenoma catenifer, (Wals.) (Lepidoptera: Oecophoridae). Rev. Bras. Frutic. 22: 359-363.
  • Koller, O.C. 2002. Abacate: Produção de mudas, instalação, manejo de pomares, colheita e pós-colheita. Porto Alegre, Cinco Continentes, 154p.
  • Mariconi, F.A.M. 1963. Inseticidas e seu emprego no combate às pragas. 2Ş ed. S. Paulo, Ceres, 607p.
  • Silva, A.G.A., C.R. Gonçalves, D.M. Galvão, A.J.L. Gonçalves, J. Gomes, M. do N. Silva & L. de Simoni. 1968. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil, seus parasitos e predadores. Tomo 2. Rio de. Janeiro, Ministério da Agricultura/Laboratório Central de Patologia Vegetal, 622p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Jul 2008
  • Data do Fascículo
    Jun 2008

Histórico

  • Aceito
    06 Nov 2007
  • Recebido
    02 Jan 2007
Sociedade Entomológica do Brasil Sociedade Entomológica do Brasil, R. Harry Prochet, 55, 86047-040 Londrina PR Brasil, Tel.: (55 43) 3342 3987 - Londrina - PR - Brazil
E-mail: editor@seb.org.br