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Ciclo de vida de Proprioseiopsis cannaensis (Muma) (Acari: Phytoseiidae) com diferentes tipos de alimentos

Life cycle of Proprioseiopsis cannaensis (Muma) (Acari: Phytoseiidae) on different types of food

Resumo

Several annual and perennial crops are severely attacked by mites from the family Eriophyidae, Tenuipalpidae and Tetranychidae. A suitable alternative commonly used in several countries for the control of these pest mites involve the use of predatory mites in the family Phytoseiidae. The phytoseiid fauna in the Brazilian natural vegetation is very rich, but nothing is known about the biology of most of these species, as it is the case with Proprioseiopsis cannaensis (Muma). The objective of this study was to determine biological parameters of P. cannaensis fed on pest mite species such as Phyllocoptruta oleivora (Ashmead) (Eriophyidae), Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Tenuipalpidae) and Tetranychus urticae Koch (Tetranychidae). To enable a comparison for different food sources, one of the treatments consisted of pollen from Typha angustifolia L. The study was conducted in the laboratory at 25 ± 1ºC, 80 ± 10% RH and Photophase of 12h. Proprioseiopsis cannaensis did not complete the development when it was fed on P. oleivora. Its fecundity was very low with all other food sources (maximum of 3.3 eggs/female with pollen of T. angustifolia). The values of r m for P. cannaensis were -0.05, -0.09 and 0.002 when fed on B. phoenicis, T. urticae and pollen respectively. The unsatisfactory results from the four types of food sources do not permit us to conclude that P. cannaensis utilizes mites from the family Eriophyidae, Tenuipalpidae, Tetranychidae or pollen from different plant species as principal sources of food in nature.

Biology; life table; biological control; oviposition


Biology; life table; biological control; oviposition

ECOLOGY, BEHAVIOR AND BIONOMICS

Ciclo de vida de Proprioseiopsis cannaensis (Muma) (Acari: Phytoseiidae) com diferentes tipos de alimentos

Life cycle of Proprioseiopsis cannaensis (Muma) (Acari: Phytoseiidae) on different types of food

Marcos R BelliniI,II; Ralf V de AraujoII; Edmilson S SilvaII; Gilberto J de MoraesII; Evoneo Berti FilhoII

IPrograma de Pós-graduação Interunidades - Ecologia Aplicada, CENA/ESALQ/USP, Piracicaba, SP, Brasil; mrbellini@yahoo.com.br

IIDepto Entomologia e Acarologia, CP 9, 13418-900 Piracicaba, SP, Brasil

ABSTRACT

Several annual and perennial crops are severely attacked by mites from the family Eriophyidae, Tenuipalpidae and Tetranychidae. A suitable alternative commonly used in several countries for the control of these pest mites involve the use of predatory mites in the family Phytoseiidae. The phytoseiid fauna in the Brazilian natural vegetation is very rich, but nothing is known about the biology of most of these species, as it is the case with Proprioseiopsis cannaensis (Muma). The objective of this study was to determine biological parameters of P. cannaensis fed on pest mite species such as Phyllocoptruta oleivora (Ashmead) (Eriophyidae), Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Tenuipalpidae) and Tetranychus urticae Koch (Tetranychidae). To enable a comparison for different food sources, one of the treatments consisted of pollen from Typha angustifolia L. The study was conducted in the laboratory at 25 ± 1ºC, 80 ± 10% RH and Photophase of 12h. Proprioseiopsis cannaensis did not complete the development when it was fed on P. oleivora. Its fecundity was very low with all other food sources (maximum of 3.3 eggs/female with pollen of T. angustifolia). The values of rm for P. cannaensis were -0.05, -0.09 and 0.002 when fed on B. phoenicis, T. urticae and pollen respectively. The unsatisfactory results from the four types of food sources do not permit us to conclude that P. cannaensis utilizes mites from the family Eriophyidae, Tenuipalpidae, Tetranychidae or pollen from different plant species as principal sources of food in nature.

Key words: Biology, life table, biological control, oviposition

Um grande número de culturas anuais e perenes é severamente atacado por ácaros das famílias Eriophyidae, Tenuipalpidae e Tetranychidae. A maioria das espécies de ácaros-praga em todo mundo pertence a essas famílias, que têm ácaros exclusivamente fi tófagos (Jeppson et al 1975). No Brasil, a utilização de agrotóxicos é praticamente a única estratégia adotada para o controle dessas pragas. Dada a crescente preocupação mundial com os impactos ambientais que o acúmulo excessivo de agrotóxicos pode causar no ambiente e à saúde humana, o controle biológico tende a crescer cada vez mais no meio agrícola. Uma alternativa muito utilizada em alguns países para o controle daqueles ácaros-praga é a utilização de ácaros predadores.

Phytoseiidae é a principal família de ácaros predadores.Ácaros dessa família têm sido empregados em diferentes cultivos, especialmente para o controle de ácaros Tetranychidae (Helle & Sabelis 1985, Gerson et al 2003, Zhang 2003). A fauna de fitoseídeos no Brasil parece bastante diversa, mais de 100 espécies desta família já foram relatadas no país (Moraes et al 2004) e, provavelmente, centenas de outras ainda serão relatadas. Proprioseiopsis cannaensis (Muma) é um dos fitoseídeos encontrados em diferentes partes do Brasil. A espécie é comumente encontrada na vegetação natural, tendo sido relatada nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil, e também em vários outros países americanos (Moraes et al 2004). Os trabalhos sobre biodiversidade da fauna de fitoseídeos na vegetação natural brasileira crescem a cada ano no país. Contudo, muitas daquelas espécies são conhecidas somente por suas características taxonômicas ou através de estudos de levantamentos faunísticos.

Não existe na literatura nenhuma informação sobre o ciclo biológico da maioria das espécies encontradas na vegetação natural, como é caso de P. cannaensis. Aparentemente, as únicas informações sobre aspectos biológicos dessa espécie foram relatadas por Bakker (1993), que estudou o efeito da umidade relativa na viabilidade dos ovos de populações de várias espécies de fitoseídeos, incluindo uma população de P. cannaensis proveniente da Colômbia. Portanto, além de conhecer a fauna de fitoseídeos na vegetação natural do Brasil, seria também muito importante saber se estes fitoseídeos teriam potencial de uso prático pelo agricultor. Será que P. cannaensis poderia ser utilizado no controle de ácarospraga pertencentes ás famílias Eriophyidae, Tenuipalpidae e Tetranychidae? O objetivo do presente trabalho foi determinar o potencial de P. cannaensis como agente de controle biológico de importantes espécies de ácaros-praga representando famílias importantes de ácaros fitófagos como: Phyllocoptruta oleivora (Ashmead) (Eriophyidae), Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Tenuipalpidae) e Tetranychus urticae Koch (Tetranychidae).

Material e Métodos

Em março de 2004, espécimes de P. cannaensis foram coletados na vegetação natural de Mata Atlântica no município de Cananéia, estado de São Paulo. Esses predadores foram mantidos em colônias em condições de laboratório, em unidades de criação semelhantes às descritas por McMurtry & Scriven (1965). As colônias foram alimentadas a cada dois dias com uma mistura de pólen de Typha angustifolia (Typhaceae) e todos os estágios de desenvolvimento de Tyrophagus putrescentiae (Schrank) (Acaridae). Apesar de P. cannaensis se alimentar de pólen + T. putrescentiae, a sua criação em laboratório foi mantida com muita difi culdade ao longo dos meses, sendo o suficiente apenas para a condução do experimento.

As unidades experimentais utilizadas no presente estudo foram constituídas de recipientes plásticos individuais (2,5 cm de diâmetro e 1,5 cm de altura, cada) com o fundo forrado com um disco de papel de filtro. Sobre este foi colocado um disco (2 cm de diâmetro e com a face abaxial para cima) de folha de roseira (Rosa sp., Rosaceae) ou laranjeira (Citrus sinensis, Rutaceae), de acordo com o alimento oferecido ao predador. O papel de filtro foi diariamente umedecido com água destilada com auxílio de uma seringa. Os discos de folhas foram substituídos duas vezes por semana para assegurar boas condições fisiológicas do substrato. A extremidade superior de cada unidade foi mantida fechada com filme de PVC (Magipack®) durante todo o experimento; esse procedimento foi necessário para evitar a fuga dos ácaros. Todo experimento foi realizado a 25 ± 1ºC, 80 ± 10% de umidade relativa e fotofase de 12h.

O experimento foi iniciado coletando-se fêmeas de P. cannaensis das colônias de manutenção e individualizado-as nas unidades experimentais. As fêmeas foram observadas a cada 6h até a postura do primeiro ovo. Logo que isso foi verificado, a respectiva fêmea adulta foi descartada e os ovos foram observados sob estéreo-microscópio a cada 12h, até a eclosão das larvas. A partir de então, cada ácaro foi alimentado com um dos seguintes dietas: todos os estágios móveis de P. oleivora, ovos e larvas de B. phoenicis, todos os estágios desenvolvimento de T. urticae e pólen de T. angustifolia; o pólen foi incluído como um tratamento testemunha, pela sua conhecida aceitação como alimento por outras espécies de fitoseídeos. Quando o alimento foi P. oleivora ou B. phoenicis, os discos das unidades foram feitos com folhas de laranjeira; quando o alimento foi T. urticae ou pólen de T. angustifolia, os discos foram feitos com folhas de roseira.

Durante todas as fases de desenvolvimento, os predadores sempre receberam alimento em abundância diariamente; o pólen foi trocado a cada dois dias para evitar contaminação por fungos e assegurar boas condições do alimento. Os estágios pós-embrionários foram observados duas vezes ao dia (8:00h e 20:00h), anotando-se o estágio de desenvolvimento em que estes se encontravam. As ecdises dos predadores foram confirmadas pela constatação da presença de exúvias.

Ao atingirem o estágio adulto, foram formados casais, transferindo-se da colônia de manutenção para cada unidade experimental um adulto do sexo oposto àquele obtido no estudo. Nesse estágio, as unidades foram examinadas uma vez ao dia (8:00h), para determinação da oviposição e da longevidade do adulto. Quando um adulto tomado da colônia morria, este era substituído por um novo adulto proveniente da mesma fonte, repetindo-se esse procedimento até que o adulto obtido no estudo morresse.

Para determinação da razão sexual, todos os ovos postos pelas fêmeas obtidas no estudo foram observados diariamente até atingirem a fase adulta, sendo então realizada a sexagem; obviamente, os ovos das fêmeas adultas tomadas das colônias de manutenção não foram considerados nessa determinação.

Foram calculados os parâmetros da tabela de vida de fertilidade (Birch 1948, Southwood 1978) de P. cannaensis pelo método proposto por Maia et al (2000). As médias de cada parâmetro, obtidas em cada tratamento foram comparadas pelo teste de Tukey a 95% de confiança.

Resultados e Discussão

Proprioseiopsis cannaensis desenvolveu-se apenas até a fase de deutoninfa quando alimentada com P. oleivora, diferentemente do que foi observado quando alimentada com B. phoenicis, T. urticae e pólen de T. angustifolia. Quando alimentada com esses tipos de alimentos, P. cannaensis apresentou todos os estágios de desenvolvimento (ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto) (Tabela 1), característicos da maioria dos ácaros da ordem Mesostigmata, à qual pertence.

Considerando os estágios imaturos pós-embrionários, não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos no que se refere à duração do estágio de larva para cada sexo; a sobrevivência dos ácaros nesse estágio foi de 100% para todos os tratamentos. O estágio de deutoninfa foi o de menor sobrevivência para os todos os tipos de alimento, variando de zero (quando o predador foi alimentado com P. oleivora) a 72% (quando alimentado com T. urticae). A duração da fase imatura (ovo-adulto) foi significativamente maior quando P. cannaensis foi alimentada com pólen de T. angustifolia. A maior sobrevivência da fase imatura do predador foi observada quando o alimento foi B. phoenicis (82%); quando o alimento foi T. urticae, apenas 51% dos indivíduos chegaram à fase adulta.

Para todos os alimentos, P. cannaensis apresentou longo período de pré-oviposição, curto período de oviposição e valores de fecundidade e taxa de oviposição extremamente baixos (Tabela 2). Não foram observadas diferenças estatísticas entre os tratamentos correspondentes a B. phoenicis e T. urticae para nenhum desses parâmetros. Diferenças significativas foram observadas somente entre os tratamentos correspondentes a B. phoenicis e pólen em relação aos períodos de pré-oviposição e oviposição. A razão sexual de P. cannaensis calculada foi maior quando o predador foi alimentado com B. phoenicis, apesar de o predador ter apresentado fecundidade muito baixa com todos os tipos de alimentos.

Não houve diferenças estatísticas entre os tratamentos em relação ao tempo médio de uma geração (T). Diferenças significativas também não foram observadas quando P. cannaensis foi alimentada com B. phoenicis e T. urticae para todos os parâmetros (Tabela 3); os valores negativos de rm (-0,05 e -0,09), os valores de Ro (0,37 e 0,20) e λ (0,95 e 0,91) inferiores a 1, quando P. cannaensis foi alimentada com B. phoenicis e T. urticae, respectivamente, indicam que a população do predador diminuiria ao longo do tempo quando alimentando-se com aquelas presas. Quando alimentada com pólen de T. angustifolia, a população de P. cannaensis aumentaria cerca de 1,05 vezes (Ro) a cada 20,74 dias (T), correspondendo a um crescimento populacional diário de 0,002% (λ) para uma produção diária de cerca de 0,002 fêmeas por fêmea (rm) (Tabela 3).

A grande semelhança entre os tratamentos no que se refere à sobrevivência e duração do estágio de larva de P. cannaensis pode estar relacionada ao fato de que as larvas da espécie provavelmente não se alimentam, não havendo assim diferenças significativas no seu desenvolvimento quando diferentes tipos de alimentos são oferecidos. No presente estudo, larvas de P. cannaensis não foram observadas se alimentando de qualquer tipo de alimento. Nos estágios imaturos subsequentes que necessitam de alimento para se desenvolver, P. cannaensis chegou somente até a fase de deutoninfa quando alimentada com o eriofiídeo P. oleivora. Como a taxa de mortalidade dos estágios imaturos de fitoseídeos é baixa quando o alimento é satisfatório ou quando não há limitação na quantidade de alimento disponível, a alta mortalidade de P. cannaensis na fase de deutoninfa quando oferecida P. oleivora em abundância indica o quanto esse eriofiídeo é desfavorável ao desenvolvimento daquele predador. Portanto, levando-se em conta os resultados obtidos, P. cannaensis do presente trabalho não deve ser indicada para o controle do eriofiídeo P. oleivora.

Gerson et al (2003) afirmaram que os eriofiídeos constituem somente parte da dieta diversificada de muitos fitoseídeos, não sendo muito comum a preferência desses predadores por ácaros pertencentes àquela família de ácaros fitófagos. São poucos os estudos sobre a biologia de Proprioseiopsis Muma (Ball 1980, Abou-Setta et al 1997, Fouly 1997, Abou-Elella 2003, El Hady 2005, Navasero & Corpuz-Raros 2005a, 2005b, Emmert et al 2008) e menos ainda as referências relacionadas à aceitação de eriofiídeos como presas por fitoseídeos daquele gênero. Abou-Elella (2003) estudou a biologia de Proprioseiopsis lindquisti (Schuster & Pritchard) com os eriofiídeos Aceria olivi (Zaher & Abou-Awad) [citada como Eriophyes olivi) e Cisaberoptus kenyae Keifer, encontrando valores relativamente elevados de rm (0.266 e 0.170 fêmea/fêmea/dia, respectivamente).

Brevipalpus phoenicis não se mostrou favorável para permitir o crescimento significativo da população de P. cannaensis. Os valores de Ro, rm, e λ foram muito baixos quando esse predador foi alimentado com aquele tipo de alimento. Mesmo atingindo o estágio adulto, muitas fêmeas de P. cannaensis não ovipositaram ou apresentaram taxa de oviposição muito baixa quando foram alimentadas com B. phoenicis. Aparentemente, não há até o momento informações sobre o bom desenvolvimento de espécies de Proprioseiopsis quando alimentadas com ácaros Tenuipalpidae. Contudo, essa população de P. cannaensis não deve ser indicada para o controle do tenuipalpídeo B. phoenicis devido aos resultados obtidos.

No presente estudo, os baixos valores de Ro, rm, e λ quando P. cannaensis foi alimentada com T. urticae indicam que essa presa também não se mostrou favorável ao desenvolvimento daquele predador. Ao estudar a biologia de Proprioseiopsis temperellus (Denmark & Muma) alimentada com T. urticae, Ball (1980) afirmou que aquele predador também não é favorável para controle daquela praga. Apesar de P. temperellus ter consumido em média 48 ovos de T. urticae por dia (segundo o autor, um dos maiores consumos diários relatados para fitoseídedos), o autor verificou que a cada 40 ovos de T. urticae consumidos, aquele predador produzia apenas um único ovo. No mesmo trabalho, Neoseiulus fallacis (Garman) (Phytoseiidae) precisou consumir apenas três ovos de T. urticae (em média) para produzir um ovo.

Os resultados obtidos no presente estudo não foram compatíveis com os obtidos para outras espécies de Proprioseiopsis alimentadas com ácaros Tetranychidae. Navasero & Corpuz-Raros (2005a) verifi caram fecundidade média de 17,7 ovos e taxa de oviposição de 2,3 ovos/fêmea/ dia quando Proprioseiopsis lenis (Corpuz & Rimando) foi alimentada com Tetranychus piercei McGregor. Quando T. urticae foi oferecida como fonte de alimento para Proprioseiopsis rotundus (Muma), o valor de rm obtido foi de 0,162 (Abou-Setta et al 1997). Quando as espécies Eutetranychus orientalis Klein (Tetranychidae) e T. urticae foram oferecidas como alimento para Proprioseiopsis asetus (Chant), os valores de rm obtidos foram de 0,280 e 0,240, respectivamente (Fouly 1997), indicando um aumento populacional considerável comparado ao que se obteve no presente estudo para P. cannaensis quando T. urticae foi oferecida como alimento. Fouly (1997) sugere que P. asetus possa ser promissora no controle daquelas espécies de tetraniquíedos.

O pólen de T. angustifolia oferecido como alimento a P. cannaensis correspondeu ao único tratamento que apresentou valor de rm positivo. Contudo, esse valor foi tão baixo que não permitiu um crescimento populacional significativo de P. cannaensis, pois de acordo com os resultados obtidos, a população desse predador cresceria apenas 1,05 vezes a cada 20,74 dias quando alimentado com o pólen daquela planta.

Os resultados obtidos no presente estudo foram significativamente diferentes daqueles obtidos para outras espécies de Proprioseiopsis alimentadas com pólen de diferentes espécies de plantas. Abou-Setta et al (1997) verificaram que quando o pólen de Malephora crocea (Jacquin) Schwantes e Typha latifolia L. foram oferecidos a P. rotundus, os valores de rm foram de 0,136 e 0,113, respectivamente, consideravelmente maiores do que o observado para P. cannaensis alimentada com pólen de T. angustifolia no presente estudo. Segundo Fouly (1997), o pólen de Phoenix dactylifera L. (Arecaceae) parece ser um bom alimento para o desenvolvimento de P. asetus, pois o valor de rm desse predador foi de 0,250 quando alimentado com aquele pólen.

Os resultados insatisfatórios obtidos no presente estudo quanto ao desenvolvimento de P. cannaensis alimentada com P. oleivora, B. phoenicis, T. urticae e pólen de T. angustifolia podem estar relacionados a vários fatores. Os resultados não permitem afi rmar se P. cannaensis utiliza ácaros pertencentes às famílias Eriophyidae, Tenuipalpidae, Tetranychidae ou pólen de diferentes espécies de plantas como principais fontes de alimento na natureza. A dieta de P. cannaensis pode ser composta por outras espécies de ácaros (inclusive das mesmas famílias), insetos, fungos e até mesmo exudatos açucarados. No entanto, os ácaros P. oleivora, B. phoenicis e T. urticae foram escolhidos para o presente trabalho porque são importantes pragas no Brasil representando famílias importantes de ácaros fitófagos. Além disso, o fato de P. cannaensis ter sido alimentada por muitas gerações apenas com pólen + T. putrescentiae pode ter contribuído para diminuir ainda mais a preferência alimentar por aquelas pragas oferecidas no presente estudo. Mwansat (2001) observou que uma população de Neoseiulus idaeus Denmark & Muma (Phytoseiidae) criada exclusivamente com T. urticae por várias gerações em laboratório pode ter perdido seu grau de especificidade em relação à sua presa primária Mononychellus tanajoa Bondar (Tetranychidae), reduzindo significativamente sua preferência alimentar e capacidade reprodutiva.

Outra característica importante é variabilidade populacional dentro de uma mesma espécie quanto àpreferência alimentar. É possível que populações de P. cannaensis de outras localidades apresentem resultados diferentes quando alimentadas com ácaros pertencentes às famílias Eriophyidae, Tenuipalpidae, Tetranychidae. Um exemplo recente quanto à variação da preferência alimentar entre populações de uma mesma espécie foi registrado para Phytoseiulus longipes Evans (Phytoseiidae). Moraes & McMurtry (1985) verificaram baixa taxa de oviposiçãode uma população desse predador coletada na África do Sul, quando alimentada com Tetranychus evansi Baker & Pritchard proveniente da Califórnia, Estados Unidos da América, indicando que P. longipes não seria bom agente de controle biológico daquela praga. Contudo, uma população da mesma espécie de predador proveniente de Uruguaiana, RS, apresentou alta taxa de oviposição quando alimentada com uma população brasileira da mesma presa (Furtado et al 2007).

Agradecimentos

Ao Doutorando Geraldo J N de Vasconcelos, pelo auxílio nas análises estatísticas e tabelas de vida. Ao Departamento de Entomologia e Acarologia da ESALQ/USP, Piracicaba, onde a pesquisa foi desenvolvida. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pela concessão de bolsa de estudo ao primeiro autor.

Received 10/V/08.

Accepted 12/I/10.

Edited by Denise Navia - EMBRAPA

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2010
  • Data do Fascículo
    Jun 2010

Histórico

  • Aceito
    12 Jan 2010
  • Recebido
    10 Maio 2008
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