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Ocorrência de Ctenarytaina eucalypti (Maskell) (Hemiptera: Psyllidae) e seu inimigo natural Psyllaephagus pilosus Noyes (Hymenoptera: Encyrtidae) em Eucalyptus globulus no Rio Grande do Sul

Occurrence of Ctenarytaina eucalypti (Maskell) (Hemiptera: Psyllidae) and its natural enemy Psyllaephagus pilosus Noyes (Hymenoptera: Encyrtidae) in Eucalyptus globulus in the state of Rio Grande do Sul, Brazil

Resumo

Eucalyptus are hosts of several psyllid species. Among them, Ctenarytaina eucalypti (Maskell) is considered the most harmful to Eucalyptus globulus plantations. In Brazil, this pest has been observed in the state of Parana, and in 2005, it was found causing damage to plantations of E. globulus in Arroio Grande and Piratini cities, RS. The monophagous endoparasitoid Psyllaephagus pilosus Noyes was also observed parasitizing nymphs of C. eucalypti. This parasitoid has been shown to be highly efficient in controlling this psyllid species, making unnecessary the use of any other control method.

Blue gum psyllid; biological control


Blue gum psyllid; biological control

SCIENTIFIC NOTE

Ocorrência de Ctenarytaina eucalypti (Maskell) (Hemiptera: Psyllidae) e seu inimigo natural Psyllaephagus pilosus Noyes (Hymenoptera: Encyrtidae) em Eucalyptus globulus no Rio Grande do Sul

Occurrence of Ctenarytaina eucalypti (Maskell) (Hemiptera: Psyllidae) and its natural enemy Psyllaephagus pilosus Noyes (Hymenoptera: Encyrtidae) in Eucalyptus globulus in the state of Rio Grande do Sul, Brazil

Cris L KuryloI; Mauro S GarciaI; Valmir A CostaII; Cristiane TibolaI; Glodoaldo A RamiroIII; Elder FinkenauerIII

IDepto de Fitossanidade da Faculdade de Agronomia "Eliseu Maciel", FAEM-UFPel, CP 354, 96001-970 Pelotas, RS, Brasil; criskurylo@gmail.com

IIInstituto Biológico/Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, CP 70, 13001-970 Campinas, SP, Brasil

IIIVotorantim Celulose & Papel. Rua Gonçalves Chaves, 3798, 96015-560 Pelotas, RS, Brasil

ABSTRACT

Eucalyptus are hosts of several psyllid species. Among them, Ctenarytaina eucalypti (Maskell) is considered the most harmful to Eucalyptus globulus plantations. In Brazil, this pest has been observed in the state of Parana, and in 2005, it was found causing damage to plantations of E. globulus in Arroio Grande and Piratini cities, RS. The monophagous endoparasitoid Psyllaephagus pilosus Noyes was also observed parasitizing nymphs of C. eucalypti. This parasitoid has been shown to be highly efficient in controlling this psyllid species, making unnecessary the use of any other control method.

Key words: Blue gum psyllid, biological control

Em seu habitat natural (Austrália), Eucalyptus é hospedeiro de vários insetos da família Psyllidae. Dentre eles, Ctenarytaina eucalypti (Maskell) é considerada a mais prejudicial em plantios de Eucalyptus globulus, causando danos à cultura onde quer que tenha sido introduzida (Santana 1999). Originária da Austrália e Tasmânia, essa espécie foi introduzida na Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, Sri Lanka, África do Sul, Ilhas Canárias, Estados Unidos (Califórnia) e Europa (Burckhardt et al 1999). Na América do Sul, já foi observada na Argentina (Fidalgo et al 2005), Bolívia (Olivares et al 2002), Brasil (Burckhardt et al 1999, Santana et al 1999), Chile (Olivares 2000), Colômbia (Pinzon et al 2002) e Uruguai (Burckhardt et al 1999).

No Brasil, a primeira ocorrência de C. eucalypti foi verificada em mudas de Eucalyptus dunnii, no município de Colombo, PR (Burckhardt et al 1999, Santana et al 1999). Elevadas populações de C. eucalypti sobre os brotos primordiais podem induzir seu secamento, ocasionando desde alteração na coloração da folha até sua deformação e queda. Pode ainda induzir a geração de novos brotos, o que modifica a forma de crescimento e vigor da planta. Alem disso, a presença abundante de cera e honeydew, excretados pelas ninfas do psilídeo associados à fumagina, reduzem a capacidade de realização da fotossíntese na superfície foliar (Azevedo & Figo 1979, Cadahia 1980, Dahlsten et al 1998a, Burckhardt et al 1999, Rodríguez & Sáiz 2006).

No mês de outubro de 2005, em área pertencente à Votorantim Celulose & Papel (Fazenda Santa Rosa), município de Arroio Grande, RS, foi constatada a presença, em níveis populacionais elevados, de um Hemiptera da família Psyllidae atacando plantações de E. globulus. No mês seguinte, em visita a outra área da mesma empresa (Fazenda Cerro Alegre), no município de Piratini (RS), o mesmo inseto foi observado; porém, em uma gleba onde a população era muito alta, foi verificada a presença de um parasitóide, em número também elevado, tanto na forma adulta, como em desenvolvimento no interior de ninfas mumificadas do psilídeo. Em ambos os casos, o ataque foi constatado em plantios de E. globulus, com aproximadamente um ano e plantas com altura média acima de 1 m.

Adultos dos insetos foram mantidos em álcool a 70%, sendo o fitófago identificado utilizando-se os trabalhos de Burckhardt et al (1999) e Hodkinson (2007), e o parasitóide identificado com o auxílio das chaves de Noyes (1980, 1988) e Berry (2007). Os espécimes foram depositados na Coleção de Insetos Entomófagos "Oscar Monte", no Centro Experimental do Instituto Biológico/APTA, Campinas, SP. Os insetos em questão foram identificados como C. eucalypti (Fig 1a,b ) e P. pilosus (Fig 1c), sendo o primeiro registro do psilídeo no Rio Grande do Sul e de P. pilosus no Brasil.


Psyllaephagus pilosus ocorre naturalmente na Austrália e Nova Zelândia, sendo um endoparasitóide primário e solitário de ninfas (Noyes 1988, Dahlsten et al 1998a); até onde se sabe, seu único hospedeiro é C. eucalypti (Noyes 2007). As fêmeas provocam ferimentos com seu ovipositor no corpo das ninfas jovens para obter os fluídos dos quais se alimentam (host-feeding), portanto, causam danos ao psilídeo durante o ato de oviposição e durante sua própria alimentação (Fidalgo et al 2005).

Onde quer que P. pilosus tenha ingressado, os resultados foram excelentes, com porcentagens de parasitismo próximas de 100% e o controle estabelecido de forma sustentável, sem necessidade de aplicação de inseticidas para o controle da praga ou mesmo de novas liberações de parasitóide (Malausa & Girardet 1997, Purvis et al 1998, Costanzi et al 2003, Saiz & MacClean 2004, Rodriguez & Saiz 2006, Schnee et al 2006).

Seu grande potencial de dispersão pode explicar como P. pilosus chegou ao Brasil. Um dos países onde foi liberado com vistas ao controle biológico de C. eucalypti foi o Chile (Rodríguez & Sáiz 2006), sendo assim provável a sua migração para a Argentina (Fidalgo et al 2005) e, posteriormente, Brasil, uma vez que a cultura de eucalipto e o inseto hospedeiro encontram-se difundidos pela América do Sul.

Ctenarytaina eucalypti pode ser uma praga importante para a cultura do eucalipto, já que sua ocorrência foi verificada em níveis populacionais elevados. Porém, a alta capacidade de dispersão e de parasitismo de P. pilosus, aliada a sua especificidade tornam a sua introdução no país um fator importante no controle de C. eucalypti em plantios de eucalipto no território nacional.

Received 12/II/09.

Accepted 30/VI/10.

Edited by Fernando L Cônsoli ESALQ/USP

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Set 2010
    • Data do Fascículo
      Ago 2010

    Histórico

    • Aceito
      30 Jun 2010
    • Recebido
      12 Fev 2009
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