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Primeiro registro de Lutzomyia (Trichopygomyia) conviti Ramirez Perez, Martins & Ramirez (Diptera: Psychodidae) no Brasil

First record of Lutzomyia (Trichopygomyia) conviti Ramirez Perez, Martins & Ramirez (Diptera: Psychodidae) from Brazil

Resumo

The presence of Lutzomyia conviti Ramirez Perez, Martins & Ramirez, previously found only in Venezuela and Colombia, is recorded for the first time in Brazil. Lutzomyia conviti is now added to the 229 species of Lutzomyia already registered in Brazil and to the 44 identified in São Gabriel da Cachoeira, Amazonas state. Both sexes of L. conviti were collected in 2007 and 2008 with CDC light traps in an environment of primary vegetation represented by firm land forest. The distribution range of the species is cited and discussed.

Sandfly; Phlebotominae; São Gabriel da Cachoeira


Sandfly; Phlebotominae; São Gabriel da Cachoeira

SCIENTIFIC NOTE

Primeiro registro de Lutzomyia (Trichopygomyia) conviti Ramirez Perez, Martins & Ramirez (Diptera: Psychodidae) no Brasil

First record of Lutzomyia (Trichopygomyia) conviti Ramirez Perez, Martins & Ramirez (Diptera: Psychodidae) from Brazil

Francimeire G Pinheiro; Rui A de Freitas; Liliane C da Rocha; Antonia M R Franco

Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde, Lab de Leishmaniose e Doença de Chagas, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av André Araújo 2936, CP 478, 69011970 Manaus, AM, Brasil; meireg@inpa.gov.br, afranco@inpa.gov.br

ABSTRACT

The presence of Lutzomyia conviti Ramirez Perez, Martins & Ramirez, previously found only in Venezuela and Colombia, is recorded for the first time in Brazil. Lutzomyia conviti is now added to the 229 species of Lutzomyia already registered in Brazil and to the 44 identified in São Gabriel da Cachoeira, Amazonas state. Both sexes of L. conviti were collected in 2007 and 2008 with CDC light traps in an environment of primary vegetation represented by firm land forest. The distribution range of the species is cited and discussed.

Key words:Sandfly, Phlebotominae, São Gabriel da Cachoeira

Em todo o mundo são conhecidas, aproximadamente, 800 espécies de flebotomíneos, sendo 60% na Região Neotropical. No Brasil, tem-se conhecimento, até o momento, de 229 espécies de flebotomíneos, representando 28,6% do total e 47,7% das que ocorrem na região Neotropical (Rebelo et al 1999, Aguiar & Medeiros 2003, Gil et al 2003). Das espécies registradas em nosso território, cerca de 52% já foram encontradas na Amazônia (Arias & Freitas 1977, Rangel & Lainson 2003) e 64 são endêmicas (Young & Duncan 1994). Dos gêneros de flebotomíneos do Novo Mundo, Lutzomyia França é o de maior número de espécies e de ampla distribuição geográfica, com representantes desde os Estados Unidos até o Norte da Argentina. Esse gênero é formado por 15 subgêneros, 11 grupos de espécies e duas espécies com descrição deficiente (Rebelo 1999, Young & Duncan 1994, Gil et al 2003), totalizando mais de 400 espécies. Para o subgênero Trichopygomyia Barretto, do gênero Lutzomyia (Diptera: Psychodidae), eram registradas no estado do Amazonas apenas quatro espécies: Lutzomyia dasypodogeton (Castro), Lutzomyia longispina (Mangabeira), Lutzomyia rondoniensis Martins, Falcão & da Silva e Lutzomyia wagleyi (Causey & Damasceno) (Castellon et al 1994).

No presente estudo, espécimes de Lutzomyia (Trichopygomyia) conviti Ramírez-Pérez, Martins & Ramírez foram capturados no km 15 da BR 307, que liga São Gabriel a Cucui (00º 04' 196 S e 067° 00' 091" W), município de São Gabriel da Cachoeira, AM, área limítrofe da fronteira com a Venezuela. As armadilhas luminosas (CDC "miniature" Center of Disease Control, Hausherr Machine Works, New Jersey, EUA), foram instaladas no período noturno, a cerca de 30 cm do chão, entre as 18:00h e 7:00h do dia seguinte, em área de vegetação primária em floresta de terra firme. O total de 124 indivíduos foi capturado nos meses de julho, agosto e outubro de 2007 e julho de 2008 em estrada de terra batida, com domicílios num raio de 2 km, onde houve registros de casos de leishmaniose tegumentar humana. O clima da região é tropical quente com índice de precipitação anual em torno de 2.884 mm e altitude de 90 m (Ribeiro et al 1996). Os insetos capturados foram levados ao laboratório onde os flebotomíneos passaram por processo de triagem, sendo então montados em lâminas segundo Barretto & Coutinho (1940) e identificados segundo critérios taxonômicos propostos por Young & Duncan (1994). Do total de L. conviti capturadas, 118 (♀52 e ♂66) foram nos meses de 2007 e as seis restantes (♀02 e ♂04) no ano de 2008. Os espécimes foram depositados na coleção de Invertebrados para Phlebotominae do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas, Brasil.

Segundo dados de 2003 do Ministério da Saúde (MS 2006), dos cerca de 33 mil casos anuais de leishmaniose tegumentar americana notificados no Brasil, em torno de 44% ocorreram na região Norte (DEVEP/SVS/MS 2009). A zoonose é endêmica no Norte do Brasil e possui diversas espécies de flebotomíneos reconhecidas como vetores. Nessa região foram notificados 8.833 casos em 2006 e 9.890 em 2007, representando um número bem menor do que aqueles registrados nos anos anteriores, indicando possível redução na intensidade do processo de produção da doença. Entretanto, a enfermidade vem ocorrendo principalmente relacionada com o desmatamento e a ocupação de terras para loteamento e uso ilegal. Embora não esteja relacionada à transmissão de leishmaniose humana em toda sua área de distribuição da Colômbia, Venezuela e, agora, Brasil, Lutzomyia (Trichopygomyia) conviti e outras do subgênero podem estar implicadas na manutenção de Leishmania sp. entre animais silvestres, como o tatu (Arias et al 1983).

Lutzomyia (Trichopygomyia) conviti foi descrita pela primeira vez a partir de espécimes capturados em Ocamo, Atabapo, Território Federal Amazonas na Venezuela, sendo seu holótipo, alótipo e parátipos coletados em tocas de animais silvestres a 100 m acima do nível do mar (Ramirez-Perez et al 1976). Tem sido encontrada na bacia amazônica venezuelana e colombiana, em áreas de planície associada com tocas de animais (Arias et al 1983, Feliciangeli 1989, Bejarano 2006).

O registro tardio de L. conviti no estado do Amazonas pode ser creditado aos poucos estudos realizados nas áreas de fronteira do Brasil. Neste sentido, é esperado que a espécie esteja presente em outras localidades do município de São Gabriel da Cachoeira, em ambientes semelhantes àqueles onde já foi encontrada.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos técnicos, Lourival M Castro, Francisco L Santos e Artêmio Coelho da Silva, Lab de Leishmaniose e Doença de Chagas - INPA, pelo apoio nas coletas de campo. Este trabalho recebeu o apoio financeiro do INPA, do projeto Fronteiras FINEP/INPA e do projeto Universal do CNPq.

Received 22/IV/09.

Accepted 20/X/09.

Edited by Eunice Galati FSP/USP

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Set 2010
  • Data do Fascículo
    Ago 2010

Histórico

  • Aceito
    20 Out 2009
  • Recebido
    22 Abr 2009
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