Acessibilidade / Reportar erro

Duas novas espécies de Tanaostigmodes Ashmead, 1896 (Hymenoptera, Tanaostigmatidae) obtidas de galhas de Calliandra disysantha Benht. (Leguminosae, Mimosoidea) do Brasil Central

Resumos

Duas novas espécies de Tanaostigmodes obtidas a partir de galhas de Calliandra disysantha em Brasília (DF), Brasil são descritas e ilustradas.

Brasil; cerrado; Chalcidoidea; galhas; Hymenoptera; Tanaostigmatidae


Two new species of Tanaostigmodes were reared from galls of Calliandra disysantha from Brasília (DF), Brazil are described and illustrated.

Brazil; Brazilian savannah; Chalcidoidea; galls; Hymenoptera; Tanaostigmatidae


ARTIGOS

Duas novas espécies de Tanaostigmodes Ashmead, 1896 (Hymenoptera, Tanaostigmatidae) obtidas de galhas de Calliandra disysantha Benht. (Leguminosae, Mimosoidea) do Brasil Central

Nelson Wanderley Perioto; Rogéria Inês Rosa Lara

Apta Regional Centro Leste, Laboratório de Bioecologia e Taxonomia de Parasitóides e Predadores, Rua Peru, 1472-A, CEP 14075-310, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Telefax: +55-16-626-1609, end. eletrônico: nperioto@aptaregional.sp.gov.br e nperioto2@ig.com.br

RESUMO

Duas novas espécies de Tanaostigmodes obtidas a partir de galhas de Calliandra disysantha em Brasília (DF), Brasil são descritas e ilustradas.

Palavras-chave: Brasil, cerrado, Chalcidoidea, galhas, Hymenoptera, Tanaostigmatidae.

ABSTRACT

Two new species of Tanaostigmodes were reared from galls of Calliandra disysantha from Brasília (DF), Brazil are described and illustrated.

Key words: Brazil, Brazilian savannah, Chalcidoidea, galls, Hymenoptera, Tanaostigmatidae.

Introdução

Tanaostigmatidae é uma família pequena de calcidóideos com cerca de 92 espécies descritas, distribuídas por nove gêneros (Noyes 2001). LaSalle (1995) afirmou que a maioria dos tanaostigmatídeos é aparentemente fitófaga e atua como galhadora ou inquilina de galhas produzidas por outros insetos, principalmente em arbustos e árvores da família Leguminosae, embora sejam conhecidas outras plantas hospedeiras. As espécies de Tanaostigmodes da região neotropical estão distribuídas em 20 grupos de espécies (LaSalle 1987), dentre os quais o grupo de espécies tychii (sensu LaSalle 1987), ao qual pertencem as aqui descritas.

Material e métodos

Parte do material estudado foi obtida em laboratório a partir de galhas de Calliandra disysantha Benht. (Leguminosae, Mimosoidea) provenientes de áreas de vegetação de savana típica (cerrado stricto sensu) da Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Brasília (DF) (15º56'49"S/47º52'38"O), e parte obtida através de coletas no mesmo local realizadas por J. Dalmacio e B. A. S. Pereira. As eletromicrofotografias foram realizadas em microscópio eletrônico de varredura de marca Jeol, modelo JSM-25II. Para a ilustração das asas, estas foram destacadas do corpo dos insetos, montadas em lâminas de microscopia e desenhadas com o auxílio de câmara clara acoplada a estereomicroscópio. Nas descrições, os termos para as estruturas seguem Gibson (1997) e para a esculturação do tegumento seguem Harris (1979) e LaSalle (1987). Para a identificação específica foi utilizada a chave de identificação proposta por LaSalle (1987). Foram utilizadas as seguintes abreviaturas: CC, comprimento da célula costal; MV, comprimento da nervura marginal; PMV, comprimento da nervura pós-marginal; EV, comprimento da nervura estigmal; F, flagelômeros; Mt, tergo metassomal; POL= distância pós-ocelar e OOL= distância ocelo-ocular. Os exemplares estudados foram depositados na Coleção Entomológica do Museu de Zoologia de Universidade de São Paulo (MZSP) e na Coleção Entomológica da Reserva Ecológica do IBGE (IBGE).

Tanaostigmodes brasilianus sp. n.

(Figs. 1 a 8)









Material-tipo. Holótipo fêmea. BRASIL, Distrito Federal: Res. Ecol. IBGE, BR 251 km 0, 23.iv.1985 (eclosão), J. Dalmacio, col., ex. galha em Calliandra dysantha (MZSP). Parátipos: ditto, 30.iii.1984, J. Dalmacio col., 6 fêmeas e 6 machos (MZSP),4 fêmeas [1 delas sem a cabeça] e 5 machos [1 deles sem o metassomo], (IBGE).

Diagnose: escapo 2,4-2,9 X mais longo do que largo, pouco expandido ventralmente; sulco subocular ausente; cabeça e corpo com coloração que varia entre o amarelo-palha e o castanho-claro; manchas circulares pequenas e numerosas de coloração castanho-claro na face (ausentes no espaço malar) e no dorso do mesossomo.

Fêmeas: comprimento= 2,7 a 3,4 mm.

Cabeça predominantemente amarelo-palha exceto por manchas circulares pequenas e numerosas de coloração castanho-claro na face (ausentes no espaço malar); coloração castanha em uma listra na fronte (presente em parte dos exemplares estudados, entre a margem interna dos olhos e a depressão escrobal), em uma mancha no ápice da proeminência interantenal e no ápice das mandíbulas. Escapo amarelo, esfumaçado apicalmente; pedicelo e segmentos anelares castanho-claros; funículo e clava castanho-escuros; olhos acinzentados (provavelmente devido à descoloração); ocelos avermelhados. Dorso do mesossomo amarelo-palha a castanho-claro, com manchas circulares pequenas de coloração castanha (alguns exemplares apresentam faixa longitudinal castanho-escura do mesoescuto ao escutelo); painel lateral do pronoto e coxas posteriores castanho-claros. Asas hialinas; nervuras amarelo-claras. Dorso do metassomo castanho, com faixa amarelo-palha no dorso de Mt2 e Mt3.

Cabeça (Fig. 1) 1,2-1,5 X mais larga do que alta; OOL/POL= 1,4-2,0; depressão escrobal com margens bem definidas; carena mediana da depressão escrobal e proeminência interantenal presentes; face imbricada (Fig. 2); sulco sub-ocular ausente; antena com escapo 2,4-2,9 X mais longo que largo, pouco expandido ventralmente, com sua maior largura próxima ao ápice (Fig. 3); pedicelo 1,2-1,4 X mais longo do que largo; F1 (1,4-1,7), F2 (1,1-1,4), F3 (1,4-1,7), F4 (1,4-1,7), F5 (1,0-1,1) e F6 (1,0-1,1) X mais longos do que largos; clava 1,5-1,9 X mais longa do que larga. Mesonoto e escutelo dorsalmente (Fig. 4) reticulado-rugosos (Fig. 5); notáulices completos; propódeo sem plicas; mesopleura lineada na porção subtegular (Fig. 6), imbricada (Fig. 7); sutura esternopleural alcançando a margem anterior da mesopleura, ligando-se à sutura mesopleural; coxa posterior glabra. Asas anteriores com célula basal com 29-36 cerdas; cerdas marginais conforme Fig. 8; CC/MV= 2,1-2,6; NM/PMV= 1,5-1,9; NM/EV= 1,6-1,9 e PMV/EV= 0,9-1,1. Metassomo finamente coriáceo no dorso; margem posterior do Mt4 com pequena incisão longitudinal mediana.

Machos: comprimento= 2,8-3,2 mm. Semelhantes às fêmeas, com coloração pouco mais escura no dorso do mesossomo.

Comentários: Comparada com as demais espécies do grupo tychii, T. brasilianus sp. n. difere de: 1. de T. mosesi LaSalle, T. larsoni LaSalle, T. sonorensis LaSalle e T. xanthogaster LaSalle por apresentar cerdas marginais da asa anterior dispostas além do ápice da asa; 2. de T. albiclavatus Girault, T. ringueleti (Brèthes), T. mexicanus LaSalle por apresentar o escutelo reticulado; 3. de T. tychii Ashmead por não apresentar sulco subocular. A espécie ora descrita é próxima a T. koebelei LaSalle e dela se diferencia, dentre outros caracteres, pela coloração do corpo, pela cabeça 1,2-1,5 X mais larga do que alta (1,55-1,65X em T. koebelei), e OOL/POL=1,4-2,0 (0,6-0,9 em T. koebelei) e pelo menor número de cerdas na célula basal (40-45 em T. koebelei).

Biologia: segundo inscrição na etiqueta datada de 23.iv.1981, um exemplar desta espécie foi obtido a partir de galhas de Calliandra dysantha e os demais a partir de coletas com armadilhas.

Origem do epíteto específico: refere-se à cidade de Brasília (DF), local onde foram coletados os exemplares estudados.

Tanaostigmodes calliandrae sp. n.

(Figs. 9 a 16)








Material-tipo. Holótipo fêmea. BRASIL, Distrito Federal: Res. Ecol. IBGE, BR 251 km 0, 18.iv.1984, B. A. S. Pereira, col., ex. galha em Calliandra dysantha (MZSP). Parátipos: ditto, 1 fêmea, 18.iv.1984, B. A. S. Pereira, col. (MZSP), 1 fêmea e 1 macho, (IBGE); ditto, 1 macho, 21 a 28.xi.1980, 3A-51-1 J, col. anônimo (MZSP).

Diagnose: escapo 3,9-4,0 X mais longo que largo, pouco expandido ventralmente; sulco subocular presente; cabeça amarela; corpo castanho.

Fêmeas: comprimento= 3,2 a 4,0 mm.

Cabeça amarelo-palha exceto por coloração castanha em listras na fronte entre a margem interna dos olhos e a depressão escrobal, em uma mancha entre a margem dorsal dos tórulos e a margem dorsal do clípeo, no sulco subocular, na margem dorsal do clípeo e nas margens basal e apical das mandíbulas. Escapo amarelo; segmentos do funículo castanho-escuros; clava castanho-escura, com porção apical amarela; segmentos funiculares e clava recobertos por pilosidade castanho-escura; olhos e ocelos vermelhos. Dorso do mesossomo amarelo-palha a castanho-claro, esfumaçado nas laterais; faixa longitudinal castanho-escura do ponto de encontro das notáulices à região mediana do escutelo; propódeo castanho-claro; mesopleura castanho-escura; prepecto e mesopleura com mancha amarelo-palha na margem dorsal; coxas posteriores castanho-escuras. Asas hialinas; nervuras amarelo-claras. Mt1-3 castanho-escuros dorsalmente, os demais com faixas tranversais de coloração amarela a castanho-clara.

Cabeça (Fig. 9) 1,3-1,4 X mais larga do que alta; OOL/POL= 2,0-2,7; depressão escrobal com margens pouco definidas; proeminência interantenal presente; face imbricada (Figs. 9 e 10), com fóveas rasas esparsas (separadas por 1,5 a 3 diâmetros); sulco subocular presente (Fig. 9); antena (Fig. 11) com escapo 3,0-4,0 X mais longo do que largo, pouco expandido ventralmente, com sua maior largura próxima ao ápice; pedicelo 1,3-1,4 X mais longo do que largo; F1 (1,6-1,8), F2 (1,3-1,6), F3 (1,1-1,4), F4 (1,0-1,3), F5 (1,0-1,1) e F6 (1,0-1,1) X mais longos do que largos; clava 1,8-2,2 X mais longa que larga. Mesonoto e escutelo, em vista dorsal, reticulados em sua maior parte (Figs. 13 e 14); notáulices completos; propódeo sem plicas; mesopleura coriácea, com porção postero-dorsal polida, com finas carenas longitudinais paralelas antero-dorsalmente (Fig. 15); sutura esternopleural alcançando a margem anterior da mesopleura, ligando-se à sutura mesopleural; coxa posterior glabra. Asas anteriores com célula basal com 27-36 cerdas e cerdas marginais conforme Fig. 16; CC/MV= 2,6-3,4; NM/PMV= 1,4-1,6; NM/EV= 1,2-1,4 e PMV/EV= 0,8-0,9. Metassomo (dorsalmente) finamente coriáceo; margem posterior de Mt4 com incisão mediana suave.

Machos: comprimento= 2,8-3,2 mm. Semelhantes às fêmeas, exceto pela forma dos segmentos funiculares (Fig. 12), que são subpectinados e pela coloração, pouco mais escura no dorso do mesossomo.

Comentários A fêmea de Tanaostigmodes calliandrae sp. n. é similar à de T. koebelei LaSalle e à de T. brasilianus sp. n.. Diferencia-se delas, dentre outros caracteres, pela coloração do corpo, pelo escapo 3,0-4,0 X mais longo do que largo (2,45-2,6 X em T. koebelei; 2,1-2,6 X em T. brasilianus), OOL/POL =2,0-2,7 (0,9-1,5 em T. koebelei; 1,4-2,0 em T. brasilianus) e CC/MV= 2,6-3,4 (2,45-2,6 em T. koebelei; 2,1-2,6 em T. brasilianus).

Biologia: segundo inscrição no verso das etiquetas de coleta, os exemplares desta espécie foram obtidos a partir de galhas de Calliandra dysantha.

Origem do epíteto específico: refere-se ao gênero da planta hospedeira.

Para abrigar as espécies ora descritas a chave proposta por LaSalle (1987) deve ser modificada conforme segue:

44(41). Cabeça e corpo amarelo-limão ...................................T. tertarus Crawford

44'. Corpo castanho .................................................................................. 45

45(44). Cabeça marrom .............................................................................. 46

45'. Cabeça amarela .................................................................................. 47

46(45) Sulco subocular presente. Expansão ventral do escapo arredondada uniformemente, mais larga medialmente. Fronte e vértice sem pontuação. Asa anterior com cerdas marginais não alcançando o ápice .................T. tychii Ashmead

46'. Sulco subocular ausente. Expansão ventral do escapo não uniformemente arredondada, distintamente mais larga apicalmente. Fronte e vértice finamente pontuados. Asa anterior com cerdas marginais dispostas além do ápice da asa do ápice ............................................................................... T. koebeklei LaSalle

47(45') OOL/POL = 1,4 - 2,0. Sulco subocular ausente. Escapo 2,4-2,9 X mais longo do que largo. CC/MV= 2,1-2,6 .............................................. T. brasilianus sp. n.

47'. OOL/POL = 2,0 - 2,7. Sulco subocular presente. Escapo 3,9-4,0 X mais longo que largo. CC/MV= 2,6-3,4 ........................................................ T. calliandrae sp. n.

Literatura citada

Recebido em 15/09/04

Versão reformulada recebida em 31/01/05

Publicado em 28/02/05

ISSN 1676-0603

  • Gibson, G. A. P. 1997. Morphology and terminology. In Annotated keys to genera of Neartic Chalcidoidea (Hymenoptera). (G. A. P. Gibson, J. T. Huber & J. B. Wooley, eds.). NRC Research Press, Ottawa, Ontario, Canada, p.16-44.
  • Harris, R. A. 1979. A glossary of surface sculpturing. Occ. Pap. Ent., Calif. Dept. Food. Agric. 28:1-31. [Uma sinópse deste artigo está disponível em < http://www.research.amnh.org/entomology/ social_insects/ants/publications/harris1979.html >. Acesso em 12 de. maio de 2004.]
  • LaSalle, J. 1987. New World Tanaostigmatidae (Hymenoptera: Chalcidoidea). Contrib. Am. Entomol. Inst. 23(1):1-181.
  • LaSalle, J. 1995. Tanaostigmatidae. In The Hymenoptera of Costa Rica. (P. E. Hanson & I. D. Gauld, eds.). Oxford Univesity Press, Londres, Nova Iorque e Tóquio, p.374-376.
  • Noyes, J. S. 2001. Chalcidoidea 2001: biological and taxonomical information. The Natural History Museum, Londres, 1 CD-ROM. [Informações também disponíveis em < http://www.nhm.ac.uk/entomology/chalcidoids/tanaostigmatidae.html >. Acesso em 12 de maio de 2004.]

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Out 2006
  • Data do Fascículo
    2005

Histórico

  • Aceito
    28 Fev 2005
  • Recebido
    15 Set 2004
  • Revisado
    31 Jan 2005
Instituto Virtual da Biodiversidade | BIOTA - FAPESP Departamento de Biologia Vegetal - Instituto de Biologia, UNICAMP CP 6109, 13083-970 - Campinas/SP, Tel.: (+55 19) 3521-6166, Fax: (+55 19) 3521-6168 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: contato@biotaneotropica.org.br