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Novos registros de moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae e Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia, Chiroptera) em áreas de transição cerrado-floresta estacional no Mato Grosso do Sul, Brasil

New records of bat flies (Diptera, Streblidae and Nycteribiidae) on bats in cerrado of State of Mato Grosso do Sul, Brazil

Resumos

As primeiras informações sobre moscas ectoparasitas de morcegos e seus hospedeiros no estado do Mato Grosso do Sul são apresentadas. Os indivíduos de morcegos e de dípteros ectoparasitos foram coletados em área transicionais de cerrado e floresta estacional semidecídua, e também em uma floresta decídua. Foram encontradas sete espécies de Streblidae e uma de Basilia Miranda-Ribeiro, 1903 (Nycteribiidae). Todos os registros são inéditos para o estado do Mato Grosso do Sul e Basilia bequaerti Guimarães & D´Andretta, 1956 é registrada pela primeira vez no Brasil.

moscas de morcegos; ectoparasito; Phyllostomidae; Vespertilionidae


The first information on species of bat flies and their hosts in the state of Mato Grosso do Sul is given. The specimens of bats and bat flies were collected in a transitional area of cerrado and semideciduous forest and in a deciduous forest. Seven species of streblid and one of nicteribiid flies were collected on five species of bats. All bat flies are recorded for the first time in Mato Grosso do Sul and Basilia bequaerti Guimarães & D´Andretta, 1956 is a new record for Brazil.

bat flies; ectoparasite; Phyllostomidae; Vespertilionidae


SHORT COMMUNICATIONS

Novos registros de moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae e Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia, Chiroptera) em áreas de transição cerrado-floresta estacional no Mato Grosso do Sul, Brasil

New records of bat flies (Diptera, Streblidae and Nycteribiidae) on bats in cerrado of State of Mato Grosso do Sul, Brazil

Gustavo GraciolliI; Nilton Carlos CáceresII; Marcos Ricardo BornscheinIII

IUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Biologia. Cidade Universitária s/n, Cidade Universitária 79070-900, Campo Grande, MS, Brasil. Caixa-Postal: 549. Email: ggraciolli@yahoo.com.br. Autor para correspondência.

IIUniversidade Federal de Santa Maria, Departamento de Biologia. Caixa Postal: 5044. Camobi, 97.105-900, Santa Maria, RS, Brasil. Email: nc_caceres@hotmail.com IIILiga Ambiental. Av. República Argentina, 1920, apto 904, CEP 80620-010. Curitiba, Paraná, Brasil. Email: mbr@bbs2.sul.com.br

RESUMO

As primeiras informações sobre moscas ectoparasitas de morcegos e seus hospedeiros no estado do Mato Grosso do Sul são apresentadas. Os indivíduos de morcegos e de dípteros ectoparasitos foram coletados em área transicionais de cerrado e floresta estacional semidecídua, e também em uma floresta decídua. Foram encontradas sete espécies de Streblidae e uma de Basilia Miranda-Ribeiro, 1903 (Nycteribiidae). Todos os registros são inéditos para o estado do Mato Grosso do Sul e Basilia bequaerti Guimarães & D´Andretta, 1956 é registrada pela primeira vez no Brasil.

Palavras-chave: moscas de morcegos, ectoparasito, Phyllostomidae, Vespertilionidae.

ABSTRACT

The first information on species of bat flies and their hosts in the state of Mato Grosso do Sul is given. The specimens of bats and bat flies were collected in a transitional area of cerrado and semideciduous forest and in a deciduous forest. Seven species of streblid and one of nicteribiid flies were collected on five species of bats. All bat flies are recorded for the first time in Mato Grosso do Sul and Basilia bequaerti Guimarães & D´Andretta, 1956 is a new record for Brazil.

Key words: bat flies, ectoparasite, Phyllostomidae, Vespertilionidae.

Introdução

No Brasil, atualmente são conhecidas 68 espécies de moscas da família Streblidae e 24 de Nycteribiidae. No entanto, os registros estão concentrados principalmente nas regiões Sudeste e Sul (Graciolli et al., no prelo). Levantamentos de moscas ectoparasitas de morcegos foram realizados em áreas de cerrado do Distrito Federal (Coimbra Jr. et al. 1984, Graciolli & Coelho 2001, Graciolli & Aguiar 2002) e no estado de Minas Gerais (Komeno & Linhares 1999), totalizando 27 espécies de Streblidae e três de Nycteribiidae. Até o presente, não existem informações sobre a ocorrência de moscas ectoparasitas de morcegos e de seus hospedeiros no Mato Grosso do Sul.

O objetivo deste trabalho é relatar as espécies de moscas ectoparasitas de morcegos e seus hospedeiros encontrados em áreas de cerrado e floresta decídua do estado do Mato Grosso do Sul.

Material e Métodos

A região estudada localiza-se na porção centro-oeste do estado do Mato Grosso do Sul, Centro-Oeste do Brasil, compreendendo sete localidades listadas a seguir: 1: Fazenda Princesinha (21º05'S, 57º29'W, 550 m acima do nível do mar), município de Bonito; 2: Fazenda Lagoão (22º01'S, 54º47'W; 390 m a.n.m.), município de Itaporã; 3: Fazenda Monjolo (22º05'S, 54º35'W; 340 m a.n.m.), município de Douradina; 4: Fazenda Saltinho (21º24'S, 54º25'W; 430 m a.n.m.), município de Nova Alvorada do Sul; 5: Fazenda Inho (21º54'S, 54º32'W; 380 m a.n.m.), município de Rio Brilhante; 6: Fazendas Serrinha (20º50'S, 54º49'W; 430 m a.n.m.) e 7: Sismório Correa (21º28'S, 55º10'W; 490 m a.n.m.), ambas no município de Sidrolândia. As Fazendas Lagoão e Monjolo constituíam-se em suas partes amostradas de floresta semidecidual (fragmentos de 20 a 40 ha), ao passo que as fazendas Saltinho, Inho, Sismório e Serrinha localizavam-se em áreas transicionais de floresta semidecídua e cerrado, sendo amostradas nestas localidades áreas de mata ciliar com enclave de cerrado (normalmente secundário ou bem alterado). As localidades Inho e Sismório estavam inseridas na mata ciliar do Rio Brilhante, embora bem distantes uma da outra em aproximadamente 70 km. Já a Fazenda Princesinha foi amostrada em uma área de floresta decídua, onde havia várias grutas de origem calcária próximas. Todas as localidades localizavam-se no planalto de Maracaju, na bacia do Rio Paraná, exceto pelas localidades Princesinha (Serra de Bodoquena) e Serrinha (Serra de Maracaju) que estavam localizadas na bacia do Rio Paraguai. As localidades se distanciaram no máximo em 270 km no sentido leste-oeste (Princesinha e Inho) e em 170 km no sentido norte-sul (Serrinha e Monjolo) (Figura 1).


Os morcegos foram capturados para obtenção de ectoparasitas durante duas a quatro noites por localidade. Foram realizadas 20 noites de amostragem, seis durante a estação seca (abril a setembro) e 14 na estação chuvosa (outubro a março). Foram utilizadas duas redes-de-neblina (9 x 2,5 m) armadas próximas uma da outra, em corredores naturais ou caminhos artificiais dentro da floresta (fragmento ou mata ciliar). As amostragens ocorreram por 150 min após o anoitecer. Foi utilizado um total de 45 m2 de rede durante 50 horas, resultando num esforço amostral total de 2.250 m2.

Os ectoparasitas foram coletados sobre os morcegos capturados com auxílio de pinça, e acondicionados em álcool a 70%. Foram coletados todos os ectoparasitas de cada indivíduo de morcego analisado, embora nem todos os morcegos coletados tenham sido examinados. Uma parte destes morcegos foi coletada como material testemunho, sendo depositado no Museu de História Natural "Capão da Imbuia" em Curitiba.

Resultados e Discussão

Streblidae

Trichobius joblingi Wenzel, 1966

Material examinado. Saltinho, Nova Alvorada do Sul, 17/XII/2001 (2 machos, hosp. Carollia perspicillata (L. 1758), DZUP), Cáceres & Monteiro leg. Bonito, Fazenda Princesinha, 10/IV/2002 (2 machos, hosp. C. perspicillata, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg.

Trichobius sp. (complexo dugesii)

Material examinado. Bonito, Fazenda Princesinha, 10/IV/2002 (1 macho e 2 fêmeas, hosp. Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810), DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg.

Megistopoda aranea (Coquillett, 1899)

Material examinado. Saltinho, Nova Alvorada do Sul, 17/XII/2001 (1 macho e 3 fêmeas, hosp. Artibeus jamaicensis Leach, 1821, DZUP), Cáceres & Monteiro leg. Bonito, Fazenda Princesinha, 10/IV/2002 (1 macho, hosp. A. jamaicensis, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg. Douradina, Fazenda Monjolo, 16/III/2002 (1 macho e 3 fêmeas, hosp. Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810), DZUP), Cáceres, Bornschein & Ricco leg. Itaporã, Fazenda Lagoão, 13/III/2002 (1 macho e 1 fêmea, hosp. A. jamaicensis, DZUP), Cáceres & Bornschein leg.

Megistopoda proxima (Séguy, 1926)

Material examinado. Bonito, Fazenda Princesinha, 11/IV/2002 (1 macho, hosp. S. lilium, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg.; 14/IV/2002 (1 macho e 1 fêmea, hosp. S. lilium, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg. Sidrolândia, Fazenda Sismório, 28/I/2002 (2 machos e 2 fêmeas, hosp. S. lilium, DZUP), Cáceres & Bornschein leg.

Aspidoptera falcata Wenzel, 1976

Material examinado. Bonito, Fazenda Princesinha, 11/IV/2002 (1 macho, hosp. Sturnira lilium, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg.; 14/IV/2002 (1 fêmea, hosp. S. lilium, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg.; Sidrolândia, Fazenda Sismório, 27/I/2002 (3 machos e 1 fêmea, hosp. S. lilium, DZUP), Cáceres & Bornschein leg; 28/I/2002 (5 machos e 2 fêmeas, hosp. S. lilium, DZUP), Cáceres & Bornschein leg. Itaporã, Fazenda Lagoão, 12/III/2002 (3 machos e 1 fêmea, hosp. S. lilium, DZUP), Cáceres & Bornschein leg.

Aspidoptera phyllostomatis (Perty, 1833)

Material examinado. Saltinho, Nova Alvorada do Sul, 18/XII/2001 (1 macho e 1 fêmea, Artibeus jamaicensis, DZUP), Cáceres & Monteiro leg. Bonito, Fazenda Princesinha, 14/IV/2002 (1 macho, A. jamaicensis, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg.

Paratrichobius longicrus (Miranda-Ribeiro, 1907)

Material examinado. Bonito, Fazenda Princesinha, 10/IV/2002 (1 macho, Platyrrhinus lineatus, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg.

Nycteribiidae

Basilia bequaerti Guimarães & D´Andretta, 1956

Material examinado. Rio Brilhante, Fazenda Inho, 11/XII/2001 (1 machos e 1 fêmeas, hosp. Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819), DZUP), Cáceres & Monteiro leg; 30/I/2002 (2 fêmeas, hosp. E. brasiliensis, DZUP), Cáceres, Bornschein & Ferreira leg. Saltinho, Nova Alvorada do Sul, 17/XII/2001 (2 machos, E. brasiliensis, DZUP), Cáceres & Monteiro leg. Sidrolândia, Fazenda Serrinha, 21/I/2002 (1 fêmea, hosp. E. brasiliensis, DZUP), Cáceres & Bornschein leg.

A presença de todas as espécies de Streblidae e de Basilia é assinalada pela primeira vez no estado do Mato Grosso do Sul. Além disso, Basilia bequaerti é registrada pela primeira vez em território brasileiro. Anteriormente esta espécie tinha sido encontrada na Colômbia, Venezuela e Paraguai sobre Eptesicus furinalis (d´Orbigny, 1847) e Micronycteris megalotis (Gray, 1842) (Graciolli 2001). Portanto, E. brasiliensis é assinalada pela primeira vez como hospedeiro de B. bequaerti. As espécies de Trichobius incluídas no complexo dugesii são muito semelhantes e de difícil separação. Os indivíduos de Trichobius encontrados sobre Platyrrhinus lineatus podem pertencer a uma nova espécie ou ser Trichobius angulatus Wenzel, 1976, que já foi encontrada no Paraguai sobre este mesmo hospedeiro (Dick & Gettinger 2006).

Recebido em 31/08/2005.

Versão reformulada recebida em 20/06/06

Publicado em 04/07/2006

ISSN 1676-0603

  • COIMBRA Jr., C.E.A.; GUIMARÃES, L.R. & MELLO, D.A. 1984. Ocorrência de Streblidae (Diptera, Pupipara) em morcegos capturados em regiões de cerrado do Brasil Central. Revta bras Ent 28(4): 547-550.
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  • GRACIOLLI, G. 2001. Distribuição geográfica e hospedeiros quirópteros (Mammalia, Chiroptera) de moscas nicteribidas americanas (Diptera, Nycteribiidae). Revta bras. Zool. 18(Supl. 1): 307-322.
  • GRACIOLLI, G. & AGUIAR, L.S. 2002. Ocorrência de moscas ectoparasitas (Diptera, Streblidae e Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia, Chiroptera) no Cerrado de Brasília, Distrito Federal, Brasil. Revta bras. Zool. 19(Supl. 1): 177-181.
  • GRACIOLLI, G.; AZEVEDO, A.A.; ÁRZUA, M.; BARROS-BATTESTI, D.M. & LINARDI, P.M. No prelo. Artrópodos ectoparasitos de morcegos no Brasil. In Morcegos do Brasil: Biologia, Sistemática, Ecologia e Conservação (Pacheco S.; Marques, R.V. & Esbérard C.E.L., eds.)
  • GRACIOLLI, G. & COELHO, D.C.. 2001. Streblidae (Diptera, Hippoboscoidea) sobre morcegos filostomídeos (Chiroptera, Phyllostomidae) em cavernas do Distrito Federal, Brasil. Revta bras Zool 18(3): 965-970.
  • KOMENO, C.A. & LINHARES, A.X.. 1999. Batflies parasitic on some phyllosotmid bats in Southeasthern Brazil: parasitism and host-parasite relationships. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 94(2): 151-156.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2006
  • Data do Fascículo
    2006

Histórico

  • Aceito
    04 Jul 2006
  • Recebido
    31 Ago 2005
  • Revisado
    20 Jun 2006
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