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Catálogo dos "Turbellaria" (Platyhelminthes) do Estado de São Paulo

Checklist of "Turbellaria" (Platyhelminthes) from São Paulo State, Brazil

Resumos

Mediante consulta bibliográfica e de bases de dados encontramos registros para o estado de São Paulo de 312 espécies de turbelários (incluindo Acoelomorpha, novo filo) de ambientes marinhos, límnicos e terrestres. Em 1999 haviam sido registradas aproximadamente 333 espécies; o número maior deve ser atribuído a espécies posteriormente sinonimizadas e, provavelmente, à precisão menor dos cômputos anteriores. Os dois únicos pesquisadores especialistas do grupo, trabalhando no estado, estimam, porém, um número muito maior. Há três coleções científicas abrigando turbelários, quase exclusivamente, terrestres.

Turbellaria; biota paulista; Programa BIOTA/FAPESP


A recent survey of the literature and databases on turbellarian fauna from the State of São Paulo, Brazil, yielded a total of 312 species (including Acoelomorpha, a new phylum) inhabiting marine, as well as freshwater, and terrestrial habitats. In 1999, approximately 333 species were registered. This higher number is related to a number of species synonymized thereafter, and probably related to lower accuracy of prior accounts. Nonetheless, the only two taxonomists studying this animal group in the State estimated a much higher actual number of species. In the State there are three scientific collections containing turbellarians, almost exclusively from terrestrial habitats.

Turbellaria; biodiversity of the State of São Paulo; BIOTA/FAPESP Program


INVENTÁRIOS

Catálogo dos "Turbellaria" (Platyhelminthes) do Estado de São Paulo

Checklist of "Turbellaria" (Platyhelminthes) from São Paulo State, Brazil

Eudóxia Maria FroehlichI, * * Autor para correspondência: Eudóxia Maria Froehlich, e-mail: emfroeh@ib.usp.br ; Fernando CarbayoII

IDepartamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo - USP, Rua do Matão, Trav. 14, 321, Cidade Universitária, CEP 05508-900, São Paulo, SP, Brasil

IIEscola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo - USP, Av. Arlindo Bettio, 1000, CEP 03828-000, São Paulo, SP, Brasil, e-mail: baz@usp.br

RESUMO

Mediante consulta bibliográfica e de bases de dados encontramos registros para o estado de São Paulo de 312 espécies de turbelários (incluindo Acoelomorpha, novo filo) de ambientes marinhos, límnicos e terrestres. Em 1999 haviam sido registradas aproximadamente 333 espécies; o número maior deve ser atribuído a espécies posteriormente sinonimizadas e, provavelmente, à precisão menor dos cômputos anteriores. Os dois únicos pesquisadores especialistas do grupo, trabalhando no estado, estimam, porém, um número muito maior. Há três coleções científicas abrigando turbelários, quase exclusivamente, terrestres.

Número de espécies: No mundo: ca. 6500 (Schockaert et al., 2008), no Brasil: 467 (Carbayo et al., 2009), estimadas no estado de São Paulo: 312.

Palavras-chave: Turbellaria, biota paulista, Programa BIOTA/FAPESP.

ABSTRACT

A recent survey of the literature and databases on turbellarian fauna from the State of São Paulo, Brazil, yielded a total of 312 species (including Acoelomorpha, a new phylum) inhabiting marine, as well as freshwater, and terrestrial habitats. In 1999, approximately 333 species were registered. This higher number is related to a number of species synonymized thereafter, and probably related to lower accuracy of prior accounts. Nonetheless, the only two taxonomists studying this animal group in the State estimated a much higher actual number of species. In the State there are three scientific collections containing turbellarians, almost exclusively from terrestrial habitats.

Number of species: In the world: ca. 6500 (Schockaert et al., 2008), in Brazil: 467 (Carbayo et al., 2009), estimated in São Paulo state: 312.

Keywords: Turbellaria, biodiversity of the State of São Paulo, BIOTA/FAPESP Program.

Introdução

Os turbelários, vermes do filo Platyhelminthes, na sua grande maioria de vida livre, são animais de simetria bilateral, acelomados. Possuem epiderme ciliada e tubo digestivo com fundo cego, desprovido de ânus. São hermafroditas e, caracteristicamente, de hábitos predadores. Vivem em ambientes aquáticos - marinhos ou de água doce, ou em ambientes terrestres úmidos. Em geral muito pequenos, a maioria tem de um a poucos milímetros, mas em dois grupos, um marinho e outro terrestre, com comprimento da ordem de centímetros, há formas que podem atingir meio metro ou mais.

É conhecida a natureza parafilética dos "Turbellaria", classe taxonômica atualmente constituída por 10 ordens: Catenulida, Haplopharyngida, Lecithoepitheliata, Macrostomida, Polycladida, Prolecithophora, Proseriata, Rhabdocoela, Temnocephalida e Tricladida (Cannon 1986, Rieger et al. 1991). As relações de parentesco entre os grupos são ainda mal compreendidas, e a monofilia de algumas ordens é matéria de discussão (Noren & Jondelius 2002).

Até recentemente as ordens Acoela e Nemertodermatida faziam parte dos "Turbellaria". Hoje constituem o novo filo Acoelomorpha Baguñà & Riutort 2004, de natureza parafilética. Neste trabalho, porém, em que nos referimos aos turbelários, incluímos, por conveniência, as espécies de Acoelomorpha.

Metodologia

A lista de espécies de turbelários registrados para o Estado de São Paulo foi elaborada mediante consultas no nosso acervo bibliográfico e mediante uma primeira busca nas bases de dados Biological Abstracts e Zoological Record (Thomson Reuters) com as palavras-chave Brazil e Turbellaria, e/ou Polycladida, e/ou Tricladida (agosto 2008) e uma segunda busca com as palavras chave Brazil e Turbellaria (maio 2010). Das referências obtidas foram selecionadas as que registram estudos ou ocorrências de turbelários para o Estado de São Paulo. Os nomes das espécies foram atualizados segundo Tyler et al. (2006-2009). Uma lista de referências de macroturbelários de todo o Brasil pode ser consultada em Carbayo & Froehlich (2008).

Resultados e Discussão

Para o estado de São Paulo há registros de 176 espécies marinhas, 83 límnicas e 53 terrestres, compondo um total de 312 espécies de turbelários (Tabela 1) registradas em 37 municípios (Figura 1). Este número de espécies representa dois terços das espécies conhecidas para o Brasil, o que é muito mais consequência do esforço maior de coleta no estado, do que da riqueza real estimada de espécies para o país. A falta de registros de turbelários na metade ocidental do estado (Figura 1) deve-se ao fato de a área nunca ter sido prospectada com esta finalidade.


Na série de publicações Biodiversidade do estado de São Paulo, organizada por Joly & Bicudo (1999), Forneris (1999) e Rodrigues & Froehlich (1998) citaram para o estado de São Paulo, 200 espécies, aproximadamente, e 81 espécies, respectivamente, de turbelários de ambientes marinhos e turbelários de ambientes límnicos. Naquela ocasião não foi feito um levantamento da fauna de ambientes terrestres, constando de 52 espécies, o que elevaria para 333 o número total de espécies nominais conhecidas para o estado. Após 1999 houve apenas mais um registro de espécie terrestre nativa, Notogynaphallia ernesti Leal-Zanchet & Froehlich, 2003, além de uma espécie introduzida, e mais 12 espécies do filo Acoelomorpha (Hooge & Rocha 2006). Posteriormente, Carbayo et al. (2009) contabilizaram 317 espécies para o estado. Estas diferenças numéricas nos censos se devem à imprecisão (as 200 espécies citadas por Rodrigues & Froehlich (1998) eram uma aproximação) e à sinonimização de várias espécies nominais.

Existem no estado dois taxonomistas especialistas em turbelários, os autores, ambos estudiosos da fauna de planárias terrestres. Em outros estados do Brasil há mais três especialistas: Ana Maria Leal Zanchet (Unisinos), que estuda planárias terrestres, além de microturbelários límnicos, e Suzana B. Amato (UFRGS) e José F. R. Amato (UFRGS), que estudam temnocefalídeos, turbelários límnicos epibiontes.

No estado de São Paulo existem três coleções de turbelários. A mais antiga delas, sob os cuidados do primeiro autor, acolhe quase todos os tipos, não nomeados formalmente, das espécies brasileiras descritas por Marcus, du Bois-Reymond Marcus, C. G. Froehlich e E. M. Froehlich. O segundo autor mantém uma coleção com ca. 4500 espécimes de planárias terrestres, principalmente da mata Atlântica dos estados de ES, RJ, SP, PR, SC e RS. No Museu de Zoologia da USP estão depositados aproximadamente 800 espécimes, quase todos de planárias terrestres. Desses, 48 espécimes são tipos, principalmente de Acoelomorpha. A Profa. Dra. Suzana B. Amato mantém na UFRGS um número expressivo de espécimes pertencentes a dez espécies conhecidas de Temnocephala (Temnocephalida) dos estados de PA, MT, MG, SP, PR, SC e RS, além de espécimes de seis espécies novas para a ciência que estão em processo de descrição. Na Unisinos (São Leopoldo, RS) existem vários milhares de espécimes de Tricladida.

A fauna conhecida de turbelários do estado é uma pequena fração da real, mas é difícil estimar com alguma precisão a diversidade real. Sobre a distribuição geográfica das espécies só se tem registro, na maioria dos casos a localidade tipo. A afirmação de que alguns táxons de turbelários apresentam elevado grau de endemismo (Sluys 1999, Carbayo et al. 2002) deve ser acolhida com precaução em face das relativamente poucas regiões amostradas (Rodrigues & Froehlich 1998). À medida que as coletas se estenderem a outras regiões, novos registros para espécies conhecidas, além de novas espécies, poderão ser acrescentados. Assim foi constatado para as planárias terrestres, único grupo taxonômico de turbelários que vem recebendo atenção no estado. Mesmo nas áreas mais estudadas, como o município de São Paulo e arredores, têm sido encontradas, recentemente, espécies de planárias terrestres novas para a ciência. Os autores possuem um grande número de espécies de planárias terrestres não descritas, à espera de novos taxonomistas para estudá-las e catalogá-las.

O conhecimento sobre a biologia e ecologia das espécies é muito pequeno. As relações filogenéticas entre os táxons não foi ainda estudada. O principal impedimento para ter uma ideia básica da diversidade e biologia das espécies, bem como da evolução dos grupos, é a falta de especialistas. O atual quadro de taxonomistas não dará conta desta enorme tarefa sem a incorporação de novos jovens cientistas.

Agradecimentos

Ao Dr. Carlos Lamas (MZUSP), Ana Vasques (MZUSP), Dra. Suzana B. Amato (UFRGS) pelo fornecimento de informações sobre as coleções; ao Dr. Marcos R. Hara (EACH/USP) pela confecção da figura; a Jim Hesson pela revisão do inglês. FC tem apoio da FAPESP.

Recebido em 30/06/2010

Versão Reformulada recebida em 07/10/2010

Publicado em 15/12/2010

Clique para ampliar

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  • *
    Autor para correspondência: Eudóxia Maria Froehlich, e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Aceito
      15 Dez 2010
    • Revisado
      07 Out 2010
    • Recebido
      30 Jun 2010
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