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Nossa capa

NOSSA CAPA

Entre os mundos medieval e moderno, dois séculos produziram uma era rica e de fantásticos contrastes: a grandeza espiritual e o despotismo mesquinho, artes magníficas e políticas desprezíveis, mentes estimulantes e moral decadente. Estávamos vivendo o colorido e excitante Renascimento.

A mais notável faceta do Renascimento foi o movimento humanista, que reviveu o espírito da Antigüidade clássica através do estudo reverente dos autores gregos e latinos. Entre os médicos humanistas havia vários eruditos versados em grego e latim, que trabalharam arduamente para desligar o ensino médico dos imprecisos textos árabes. Famoso por seus irados ataques à imprecisão de Hipócrates e Galeno foi Niccolo da Lonigo (Leonicenus, 1428-1524), que realizou a obra monumental de corrigir os erros botânicos na História Natural de Plínio.

O Renascimento foi marcado por uma moléstia misteriosa conhecida como o suor maldito, que surgiu na costa galesa e alastrou-se até Londres. Como foi mais tarde descrito pelo médico da corte, John Caius, a doença tinha início súbito, com apreensão, calafrios, vertigens, dores no pescoço e prostração. Em seu estágio agudo, as vítimas sofriam de calor, suores profusos, sede intensa e erupções miliares; a morte chegava freqüentemente dentro de 24 horas; a recuperação levava de oito a 14 dias. Seis grandes epidemias desse sudor anglicus ocorreram nas seis décadas seguintes, uma delas reduzindo à metade as populações de Oxford e Cambridge. Flagelo mais devastador foi a febre tifóide, pela primeira vez descrita acuradamente por Gerolamo Fracastoro.

As crianças renascentistas sofriam de raquitismo: no século XVI, Ambroise Paré descreveu deformidades valgas e varas das pernas. O escorbuto atacava os marinheiros em longas viagens marítimas. Ele havia sido observado na Idade Média, quando era interrompido o fornecimento de alimentos às cidades sitiadas. A varíola e a malária, predominantes na Idade Média, continuaram a aparecer esporadicamente durante os séculos renascentistas. A sífilis também faria sua dramática entrada nesse cenário: hospitais foram criados para seu tratamento, que incluía generosas unções com mercúrio. Curandeiros, chamados de engorduradores de erupção, besuntavam os pacientes da cabeça aos pés com o chamado ungüento sarraceno e os submetiam a banhos de suor. Acreditava-se que a salivação e a sudação eliminavam os venenos sifilíticos.

O Renascimento marca também o surgimento dos cirurgiões, repelidos pelos médicos de então. A reação, no entanto, não impediu o avanço das primeiras técnicas cirúrgicas, que incluíam transplante de tecidos e cistotomia com técnica de incisão perineal e cateterismo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 2006
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