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Perfil clínico e sociodemográfico dos portadores de doença venosa crônica atendidos em centros de saúde de Maceió (AL)

Resumos

CONTEXTO: A doença venosa crônica (DVC) consiste em alteração do sistema venoso causando uma incompetência valvar associada à obstrução de fluxo ou não. Acomete 10 a 20% da população mundial, tendo maior prevalência no sexo feminino. Apresenta como sintomas mais comuns dor e edema e na forma avançada, a úlcera venosa. Traz limitações funcionais e isolamento social, afetando a qualidade de vida. OBJETIVO: Traçar o perfil dos portadores de DVC, pelo levantamento de dados clínicos e sociodemográficos que indiquem características que possam contribuir para possível mudança de hábito na vida de pacientes que, por motivos de trabalho, falta de conhecimento e/ou instruções, tiveram sua rotina afetada pela doença, com consequente diminuição da sua qualidade de vida. MÉTODOS: Estudo descritivo, observacional do tipo transversal, sendo avaliados portadores de DVC atendidos em centros de saúde de Maceió (AL), aplicando um formulário para coleta de dados, como classificação CEAP, Critério de Classificação Econômica Brasil e Questionário SF-36. RESULTADOS: A amostra foi composta por 66 pacientes com DVC; 83% eram do sexo feminino e 17%, do masculino, a faixa etária predominante foi entre 50 a 60 anos; eram sedentários, assumindo ortostatismo prolongado, baixo nível de escolaridade e classe econômica, doença clínica grave (C6 sintomático) e qualidade de vida variável. CONCLUSÃO: Os resultados demonstraram predomínio da doença no sexo feminino, entre 50 a 60 anos de idade, com fatores desencadeadores e/ou agravantes para desenvolvimento da DVC como falta de atividade física, baixo nível de escolaridade e baixa renda econômica, afetando a qualidade de vida.

insuficiência venosa; extremidade inferior; qualidade de vida


BACKGROUND: Chronic venous disease (CVD) is to change the system causing a venous valvular incompetence associated with obstruction of flow or not. It affects 10 to 20% of world population, with higher prevalence in females. It presents as the most common symptoms and pain and swelling in advanced form, venous ulcer, and brings functional limitations, social isolation, affecting quality of life. OBJECTIVE: Profiling of patients with CVD, the survey data indicate that clinical and socio-demographic characteristics that may contribute to possible change of habit in the life, who for reasons of work, lack of knowledge and/or instructions had affected their routine by the disease, with consequent decline in their quality of life. METHODS: A descriptive, observational, cross-sectional study that evaluated patients with CVD treated at health centers in Maceió (AL) Brazil, applying a form for collecting data, such as CEAP, Brazil Criterion of Economic Classification Questionnaire and SF-36. RESULTS: The sample consisted of 66 patients with CVD, 83% were female and 17% male. The patients had predominantly aged between 50 and 60 years who were sedentary, assuming prolonged standing, low educational level and economic status, severe clinical disease (symptomatic C6), and quality of life variable. CONCLUSION: The results showed a predominance of females, 50 to 60 years old, with triggering factors and/or aggravating factors for development of CVD as lack of physical activity, low education and low economic income, affecting quality of life.

venous insufficiency; lower extremity; quality of life


ARTIGO ORIGINAL

Perfil clínico e sociodemográfico dos portadores de doença venosa crônica atendidos em centros de saúde de Maceió (AL)

Clinical and socio-demographic profile of patients with venous disease treated in health centers of Maceió (AL), Brazil

Larissa Maranhão CostaI; Wesley J.F. HiginoI; Flávia de Jesus LealII; Renata Cardoso CoutoII

IDiscente do curso de Fisioterapia da FAL - Maceió (AL), Brasil

IIFisioterapeuta mestranda da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brasil; Professora auxiliar da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) - Maceió (AL), Brasil

Correspondência Correspondência: Larissa Maranhão Costa Praça Floriano Peixoto, 264 - Centro CEP 57150-000 - Pilar (AL), Brasil E-mail: larimaranhao@hotmail.com

RESUMO

CONTEXTO: A doença venosa crônica (DVC) consiste em alteração do sistema venoso causando uma incompetência valvar associada à obstrução de fluxo ou não. Acomete 10 a 20% da população mundial, tendo maior prevalência no sexo feminino. Apresenta como sintomas mais comuns dor e edema e na forma avançada, a úlcera venosa. Traz limitações funcionais e isolamento social, afetando a qualidade de vida.

OBJETIVO: Traçar o perfil dos portadores de DVC, pelo levantamento de dados clínicos e sociodemográficos que indiquem características que possam contribuir para possível mudança de hábito na vida de pacientes que, por motivos de trabalho, falta de conhecimento e/ou instruções, tiveram sua rotina afetada pela doença, com consequente diminuição da sua qualidade de vida.

MÉTODOS: Estudo descritivo, observacional do tipo transversal, sendo avaliados portadores de DVC atendidos em centros de saúde de Maceió (AL), aplicando um formulário para coleta de dados, como classificação CEAP, Critério de Classificação Econômica Brasil e Questionário SF-36.

RESULTADOS: A amostra foi composta por 66 pacientes com DVC; 83% eram do sexo feminino e 17%, do masculino, a faixa etária predominante foi entre 50 a 60 anos; eram sedentários, assumindo ortostatismo prolongado, baixo nível de escolaridade e classe econômica, doença clínica grave (C6 sintomático) e qualidade de vida variável.

CONCLUSÃO: Os resultados demonstraram predomínio da doença no sexo feminino, entre 50 a 60 anos de idade, com fatores desencadeadores e/ou agravantes para desenvolvimento da DVC como falta de atividade física, baixo nível de escolaridade e baixa renda econômica, afetando a qualidade de vida.

Palavras-chave: insuficiência venosa; extremidade inferior; qualidade de vida.

ABSTRACT

BACKGROUND: Chronic venous disease (CVD) is to change the system causing a venous valvular incompetence associated with obstruction of flow or not. It affects 10 to 20% of world population, with higher prevalence in females. It presents as the most common symptoms and pain and swelling in advanced form, venous ulcer, and brings functional limitations, social isolation, affecting quality of life.

OBJECTIVE: Profiling of patients with CVD, the survey data indicate that clinical and socio-demographic characteristics that may contribute to possible change of habit in the life, who for reasons of work, lack of knowledge and/or instructions had affected their routine by the disease, with consequent decline in their quality of life.

METHODS: A descriptive, observational, cross-sectional study that evaluated patients with CVD treated at health centers in Maceió (AL) Brazil, applying a form for collecting data, such as CEAP, Brazil Criterion of Economic Classification Questionnaire and SF-36.

RESULTS: The sample consisted of 66 patients with CVD, 83% were female and 17% male. The patients had predominantly aged between 50 and 60 years who were sedentary, assuming prolonged standing, low educational level and economic status, severe clinical disease (symptomatic C6), and quality of life variable.

CONCLUSION: The results showed a predominance of females, 50 to 60 years old, with triggering factors and/or aggravating factors for development of CVD as lack of physical activity, low education and low economic income, affecting quality of life.

Keywords: venous insufficiency; lower extremity; quality of life.

Introdução

Dentre as enfermidades crônicas que acometem a raça humana, a doença venosa dos membros inferiores (MMII) é atualmente a de maior incidência e prevalência, apresentando elevada ocorrência de morbidade1. Consiste em uma doença congênita ou adquirida que ocorre no sistema venoso superficial, profundo ou ambos2,3. Modernamente vem sendo considerada um problema funcional e não somente estético4.

No mecanismo fisiopatológico da doença venosa crônica (DVC), há uma relação direta entre comprometimento venoso valvar e a bomba músculo-venosa da panturrilha, de maneira que qualquer desordem no funcionamento destas é capaz de causar comprometimento na circulação venosa2.

As sintomatologias de maior frequência são a dor, alterações tróficas e edema5, tendo como complicação tardia de maior gravidade, a úlcera venosa, de caráter recidivante ou não2,6, que aumenta sua prevalência com a idade7. Estima-se que, no Brasil, quase 3% da população seja portadora dessa lesão8.

Os fatores de maior propensão ao desenvolvimento deste desequilíbrio são a exigência de permanência na mesma postura por período prolongado, cirurgias prévias, traumatismo dos MMII, sedentarismo, uso de calçados com saltos, obesidade e gestação, a partir dos quais poderão surgir os sinais e sintomas da doença9.

A gravidade da doença venosa é descrita a partir de uma classificação aceita internacionalmente, o Clinical manifestation, Etiologic factors, Anatomic distribuition of disease, Pathophysiologic findings (CEAP), que por meio de uma pontuação categoriza os sinais clínicos em sete classes, sendo C0 (sem sinais de doença venosa), C1 (telangiectasias e veias reticulares), C2 (veias varicosas), C3 (edema), C4 (alterações subcutâneas; C4a representa alterações na pigmentação e eczema e C4b, lipodermatoesclerose e atrofia branca), C5 (úlcera de estase cicatrizada) e C6 (úlcera de estase aberta)5.

A DVC é um grave problema de saúde pública, com maior prevalência no sexo feminino10 e em indivíduos na terceira década de vida. Afeta diretamente a capacidade produtiva de trabalho5, reduzindo de forma significativa a qualidade de vida dos portadores e pode provocar alterações psicológicas como tristeza, depressão, irritabilidade, preocupação com a aparência e isolamento social8,11.

Avaliando a qualidade de vida, é possível observar o doente sob uma perspectiva funcional e psicológica. Estudos utilizando o Medical Outcomes Study 36 - Item Short - Form Health Survey (SF-36) concluíram que a DVC, inclusive em fases muito incipientes, ocasiona impacto substancial na dimensão física da saúde de seus portadores, traduzido por limitações funcionais12.

O presente estudo se justifica pois busca entender e traçar o perfil dos portadores da doença em questão, a partir do levantamento de dados clínicos e sociodemográficos que indiquem características importantes e contribuintes para uma possível mudança de hábito na vida de indivíduos que, por motivos de trabalho ou por falta de conhecimento e/ou instruções, tiveram a sua rotina afetada pela doença, com consequente e significativa diminuição da sua qualidade de vida.

Material e Métodos

O presente estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Alagoas (Protocolo nº 201012/045). O objetivo geral foi analisar os dados das características da população estudada, seguindo tendência publicada na literatura nacional e internacional sobre doenças venosas, referentes ao perfil clínico e sociodemográfico dos pacientes portadores de DVC atendidos em centros de saúde na cidade de Maceió (AL). A coleta de dados foi iniciada no Centro de Saúde PAM Salgadinho, Hospital Escola Doutor Hélvio Auto (HEHA) e Primeiro Centro de Saúde de Alagoas, no período de fevereiro a maio de 2011.

Foi realizado um estudo descritivo observacional do tipo transversal, constituído de 94 pacientes, com um desvio da amostra de 28 indivíduos que se negaram a responder os questionários, após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), ou não foi possível a obtenção do CEAP através de especialistas em cirurgia vascular. Foram incluídos pacientes portadores das características descritas nas Resoluções nº 196/96 e 251/96 - IV, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, para doença venosa e/ou úlcera venosa, que não realizassem atividade física, com idade superior a 30 anos e sem patologia de influência no déficit cognitivo. Excluíram-se da amostra os indivíduos portadores de doença arterial periférica, déficit cognitivo, idade inferior a 30 anos ou que estivessem realizando atividade física.

Os participantes da pesquisa receberam todas as informações necessárias quanto ao desenvolvimento do estudo, antes, durante e após sua realização, ficando cientes de que a participação ocorreria de acordo com as suas vontades, estando livres para desistência.

O formulário de coleta de dados constava: nome, data de nascimento, sexo, grau de escolaridade, profissão, realização ou não de atividade física, nome do pesquisador, hora e data da coleta, local, assim como a classificação CEAP determinada pelo cirurgião vascular que realizou o atendimento nas referidas instituições anteriormente citadas; também foram aplicados o Questionário Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) e o Questionário de Qualidade de Vida SF-36 (QQV SF-36).

Segundo a Associação Nacional de Empresas de Pesquisa, o CCEB consiste em enfatizar sua função de estimar o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, definindo classes econômicas e abandonando a pretensão de classificar a população em termos de "classes sociais"13. É um critério que estabelece oito classes referentes à renda mensal média familiar: classe A1 (R$ 13.100,00), classe A2 (R$ 9.100,00), classe B1 (R$ 4.900,00), classe B2 (R$ 2.750,00), classe C1(R$ 1.650,00), classe C2 (R$ 1.100,00), classe D (R$ 710,00), classe E (R$ 490,00)14.

O QQV SF-36 consiste em um questionário de qualidade de vida composto por 36 itens agrupados em 8 domínios, sendo quatro relacionados à saúde física e quatro à saúde mental. Avalia a capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, nível de independência, crenças pessoais, a relação com as características do ambiente, aspectos emocionais5,12.

As variáveis a serem estudadas foram delimitadas em gênero masculino ou feminino, unidade regional de saúde (HEHA, PAM Salgadinho e Primeiro Centro de Saúde), faixa etária, realização de atividade física, profissão que exerceu ou ainda exerce relacionada com o posicionamento estabelecido, a escolaridade, classificação de renda, classificação CEAP clínica e qualidade de vida dos indivíduos envolvidos.

Resultados

Foram coletados os dados de 66 pacientes. Dentre eles, apenas 11 (16,7%) eram do sexo masculino e 55 (83,3%) do sexo feminino (Tabela 1).

Inicialmente foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados, tendo indicado que os dados não seguem uma distribuição normal.

Com relação à faixa etária, observou-se predomínio dos homens entre 30 a 40 anos de idade, e nas mulheres, entre 50 e 60 anos. Na classificação CEAP, houve predomínio das classes C4 a C6 para ambos os sexos (Tabela 2).

Para comparar a distribuição dos domínios do QQV SF-36 por sexo (Tabela 3) foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Não houve diferença significativa entre nenhum dos domínios com relação ao sexo (p>0,05).

Para comparar a distribuição dos domínios do QQV SF-36 por CEAP (Tabela 4), foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Houve diferença significativa entre os pacientes com CEAP leve (C1-C3) e grave (C4-C6) apenas para o domínio vitalidade (p<0,05). Os demais domínios não apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p>0,05).

Para comparar a distribuição dos domínios do QQV SF-36 por faixa etária (Tabela 5), foi utilizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Houve diferença significativa entre os pacientes com CEAP leve (C1-C3) e grave (C4-C6) apenas para o domínio vitalidade (p<0,05). Não houve diferença significativa entre nenhum dos domínios com relação à faixa etária (p>0,05).

Em relação ao período de tempo de sedentarismo em mulheres e homens, obteve-se como resultado, um período maior que 3 meses em 47 (85%), no sexo feminino e 8 (73%), no sexo masculino, e menor que três meses em 8 (15%), para as mulheres e 3 (27%), para os homens. Observa-se que o predomínio foi de um período de sedentarismo maior que três meses em ambos os sexos.

Em relação à permanência prolongada em determinadas posturas durante a atividade laborativa, nos sexos feminino e masculino respectivamente, foi encontrada maior incidência do ortostatismo em 42 (76%) e 4 (36%), a posição sentada com pendência de MMII em 4 (7%) e 3 (27%) e a alternância de posturas com 8 (15%) e 4 (36%), havendo ainda 1 (2%) e 0 indivíduo afastado dessas atividades.

Os níveis de escolaridade nos sexos feminino e masculino, respectivamente, mostraram que 19 (35%) e 2 (18%) indivíduos tinham o primeiro grau incompleto, 6 (11%) e 2 (18%) tinham o primeiro grau completo, 11 (20%) e 0 tinham o segundo grau incompleto, 6 (11%) e 2 (18%) tinham o segundo grau completo, 1 (2%) e 1 (9%) tinham o terceiro grau completo, 5 (9%) e 1 (9%) eram analfabetos, e 7 (13%) e 3 (27%) eram analfabetos funcionais. Dessa forma, foi possível observar o predomínio de pacientes com o primeiro grau incompleto no sexo feminino e de analfabetismo funcional, no sexo masculino.

Observando as classes econômicas dos sexos feminino e masculino, respectivamente, foi possível perceber que as classes/renda média familiar mensal encontradas foram classe A1 com 0 e 1 (9%), classe B1 com 0 e 1 (9%), classe B2 com 3 (5%) e 1 (9%), classe C1 com 11 (20%) e 1 (9%), classe C2 com 20 (36%) e 4 (36%), classe D com 20 (36%) e 2 (18%) e classe E com 1 (2%) e 1 (9%), havendo maior prevalência da classe C2 em ambos os sexos.

Na classificação CEAP clínica, os valores encontrados nos sexos feminino e masculino, respectivamente, foram: C0 - 0 e 1 (9%), C1 - 3 (5,5%) e 1 (9%), C2 - 13 (23,4%) e 0, C3 - 15 (27,3%) e 0, C4a - 2 (3,7%) e 2 (18%), C4b - 3 (5,5%) e 0, C5 - 7 (12,8%) e 0, C6 - 9 (16,4%) e 0, C6 sintomático - 24 (43,7%) e 6 (54%), C6 assintomático - 2 (3,7%) e 2 (18%), com maior prevalência de C6 sintomático em ambos os sexos.

Interpretando o questionário QQV SF-36, foi avaliada a capacidade funcional na qual foram obtidos os seguintes resultados para os sexos feminino e masculino, respectivamente: índice ruim 32 (58%) e 3 (27%), regular 11 (20%) e 5 (45%), bom 8 (15%) e 2 (18%), e muito bom 4 (7%) e 1 (9%); limitação física classificados como ruim 45 (82%) e 10 (91%), regular 0 e 0, bom 2 (4%) e 0, e muito bom 8 (15%) e 1 (9%). No aspecto dor, ruim 15 (27%) e 3(27%), regular 18 (33%) e 2 (18%), bom 17 (31%) e 4 (36%), e muito bom 5 (9%) e 2 (18%). Com relação ao estado geral de saúde, obteve-se ruim 7 (13%) e 0, regular 16 (29%) e 2 (18%), bom 15 (27%) e 5 (45%), e muito bom 17 (31%) e 4 (36%). Analisando os aspectos sociais dos indivíduos, contatou-se para os sexos feminino e masculino, respectivamente: ruim 10 (18%) e 1 (9%), regular 11 (20%) e 3 (27%), bom 19 (35%) e 3 (27%), e muito bom 15 (27%) e 4 (36%).

Discussão

Estudos epidemiológicos realizados em alguns países demonstraram incidência de, pelo menos, uma forma de DVC em mais de 50% das mulheres e 30% dos homens15, o que enfatiza a prevalência no sexo feminino.

Na Europa, 5 a 15% de adultos entre 30 e 70 anos de idade apresentam (DVC), dos quais 1% apresenta úlcera5. Aproximadamente sete milhões de pessoas têm DVC nos Estados Unidos, o que é responsável por cerca de 70 a 90% das úlceras de estase em MMII5. Estudos mostram que a fase mais produtiva, terceira década de vida, é a mais afetada pela DVC5. Neste estudo, houve predomínio da DVC na faixa etária entre 30 e 40 anos, no sexo masculino, e entre 50 e 60 anos, no sexo feminino.

Atividades que exigem do indivíduo a permanência por longos períodos em pé ou sentado, contribuem significativamente para o desenvolvimento e manutenção da DVC, além do surgimento e cronicidade das úlceras, principalmente naqueles com jornada dupla de trabalho16. O ortostatismo teve alta prevalência, no sexo feminino, no posicionamento adquirido no trabalho, enquanto no sexo masculino, foi a alternância de posições.

Foram analisados 4.030 funcionários de uma universidade do estado do Rio de Janeiro por Costa17, sendo observada uma prevalência de sedentarismo de 47,8%, no sexo masculino, e de 59,2%, no sexo feminino. Nesta pesquisa houve predomínio de sedentarismo por um período de tempo maior que três meses em ambos os sexos.

Em um estudo, foi observado um número maior de portadores de DVC nos indivíduos com menor escolaridade, o que pode interferir diretamente na compreensão e assimilação dos cuidados relevantes à sua saúde17. A pesquisa de Costa17 demonstrou uma predominância de primeiro grau incompleto no sexo feminino e de analfabetismo funcional, no sexo masculino.

Estudos de base populacional investigaram a influência da úlcera venosa na vida dos indivíduos que possuem re da menor que dois salários-mínimos. Para estes, a presença da úlcera venosa é considerada como uma fonte adicional de gastos financeiros, sendo que a renda familiar é um aspecto importante no planejamento econômico, dificultando muitas vezes a efetivação destas ações, prolongando o tratamento e a cronicidade das lesões17. A presente pesquisa apresentou nível de renda C2 em ambos os sexos.

A baixa qualidade de vida dos pacientes tem como fator a própria desvalorização pessoal, em que o indivíduo portador de DVC, por apresentar alterações tegumentares e dor, passa a ter um distúrbio da autoimagem, que leva a um comprometimento da vida social e a implicações emocionais17 Em estudo desenvolvido com 3.072 doentes entre 18 e 79 anos de idade, concluiu-se que a DVC afeta negativamente a qualidade de vida em 3,3% dos homens e 8,4% das mulheres12. No presente estudo, o resultado do questionário SF-36, que analisa a qualidade de vida, teve uma porcentagem maior de piores índices no sexo feminino, quando comparada ao sexo masculino, dentre os domínios capacidade funcional, estado geral de saúde, aspectos sociais. Com relação ao domínio limitação física, houve predomínio do sexo masculino e no aspecto dor não houve predominância de sexo.

A qualidade de vida em um estudo multicêntrico foi avaliada com uma amostra de 1.135 pacientes com doença venosa, com o QQV SF-36. Foi observado que os escores dos domínios relacionados à saúde física foram menores nos indivíduos com maior comprometimento venoso (CEAP 4,5 e 6), não sendo encontrada diferença significativa nos escores dos domínios de saúde mental entre os grupos mais ou menos acometidos11. Na presente pesquisa, os escores se mostraram semelhantes dentre os domínios físicos e mentais, não acarretando em diferença significativa, a não ser, vitalidade, dentro da população estudada.

A interpretação da qualidade de vida depende da interpretação emocional que cada indivíduo faz dos fatos e eventos, estando diretamente ligada à percepção subjetiva dos acontecimentos e condições de vida. A mesma classificação clínica da DVC pode não significar o mesmo para dois indivíduos diferentes, e as alterações funcionais decorrentes da mesma, podem ter importâncias emocionais e sociais diferentes para ambos11. No presente estudo, a população avaliada apresentava um baixo nível de escolaridade, baixa renda econômica e idades avançadas, trazendo características individuais que diferenciaram no entendimento das perguntas e nas respostas subjetivas do questionário aplicado.

Demonstrou-se também uma associação negativa e significativa entre CEAP e qualidade de vida. Os pacientes que apresentaram os piores escores no QQV SF-36 nos domínios relacionados à saúde física e mental, foram aqueles pertencentes à CEAP 4,5 e 6. Cabe ressaltar que os achados da maioria dos autores evidenciam uma pior percepção da qualidade de vida à medida que a doença se agrava11. Em ambos os sexos, predomina a classificação C6 sintomática do CEAP.

Conclusão

Estudando o perfil clínico e sociodemográfico de portadores de DVC, conclui-se que o sexo feminino é o mais acometido, apresentando predominância da faixa etária compreendida entre 50 e 60 anos; os pacientes não praticam atividade física, assumem ortostatismo prolongado em suas atividades diárias e/ou laborativas, apresentam baixa escolaridade como também baixa classe econômica e com a doença já em uma classificação clinica grave (C6 sintomático). A qualidade de vida nos pacientes com doença venosa é variável. Os indivíduos apresentaram valores diferentes nos escores dos QQV SF-36. Dentre as cinco variáveis analisadas, houve impacto negativo na capacidade funcional para o sexo feminino e limitação física em ambos os sexos, não comprometendo de forma significativa os outros domínios analisados.

Submetido em: 28.08.11.

Aceito em: 11.01.12.

Conflito de interesse: nada a declarar.

Contribuições dos autores

Concepção e desenho do estudo: LMC, WJFH, FJL, RCC

Análise e interpretação dos dados: LMC, WJFH, FJL, RCC

Coleta de dados: LMC, WJFH

Redação do artigo: LMC, WJFH, FJL

Revisão crítica do artigo: FJL, RCC

Aprovação final do artigo*: LMC, WJFH, FJL, RCC

Análise estatística: LMC, WJFH, FJL

Responsabilidade geral do estudo: LMC, WJFH, FJL, RCC

*Todos os autores leram e aprovaram a versão final submetida ao J Vasc Bras.

Trabalho realizado na Faculdade Estácio de Alagoas (FAL) - Maceió (AL), Brasil.

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  • Correspondência:

    Larissa Maranhão Costa
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    CEP 57150-000 - Pilar (AL), Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Jul 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2012

    Histórico

    • Recebido
      28 Ago 2011
    • Aceito
      11 Jan 2012
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