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Persistência da artéria hipoglossa: relato de caso

Resumos

Os autores apresentam o caso de persistência da artéria hipoglossa. A artéria hipoglossa é a segunda anastomose carótida-basilar mais comum, com frequência de 0,02% a 0,09%, podendo estar associada a doenças vasculares cerebrais. Seu diagnóstico se faz através de métodos de imagem, sendo a angiotomografia o método mais utilizado.

artéria carótida; artéria hipoglossa; canal hipoglosso


The authors present a case of persistent hypoglossal artery. Persistent hypoglossal artery is the second most common carotid-basilar anastomosis with a frequency of 0.02% to 0.09% and it can be associated with cerebrovascular disease. Diagnosis is by imaging methods and angiotomography is the method most often employed.

carotid artery; hypoglossal artery; hypoglossal canal


INTRODUÇÃO

A persistência da artéria hipoglossa é a segunda anastomose carótida-basilar anômala mais comum, sendo que a primeira é a artéria trigeminal( 11. Pasco A, Papon X, Bracard S, Tanguy JY, Ter Minassian A, Mercier P. Persistent carotid-vertebrobasilar anastomoses: how and why differentiating them? J Neuroradiol. 2004;31(5):391-6. http://dx.doi.org/10.1016/S0150-9861(04)97022-8
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). A artéria hipoglossa se origina da carótida interna extracraniana como um ramo lateral grande, que sobe verticalmente e passa pelo canal do hipoglosso, continuando como artéria basilar( 22. Kanematsu M, Satoh K, Nakajima N, Hamazaki F, Nagahiro S. Ruptured aneurysm arising from a basilar artery fenestration and associated with a persistent primitive hypoglossal artery: case report and review of the literature. J Neurosurg. 2004;101(3):532-5. PMid:15352614. http://dx.doi.org/10.3171/jns.2004.101.3.0532
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, 33. Pasaoglu L, Hatipoglu HG, Vural M, Ziraman I, Ozcan HN, Koparal S. Persistent primitive hypoglossal artery and fenestration of posterior cerebral artery: CT and MR angiography. Neurocirugia. 2009;20(6):563-6. [citado 2013 maio 15]. http://scielo.isciii.es/pdf/neuro/v20n6/7.pdf
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). A hipoplasia da artéria vertebral é frequentemente associada à persistência da artéria hipoglossa, de modo que esta última mantém o fluxo de sangue da primeira( 11. Pasco A, Papon X, Bracard S, Tanguy JY, Ter Minassian A, Mercier P. Persistent carotid-vertebrobasilar anastomoses: how and why differentiating them? J Neuroradiol. 2004;31(5):391-6. http://dx.doi.org/10.1016/S0150-9861(04)97022-8
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).

Na maioria das vezes, esta anomalia é assintomática, porém pode comprimir e causar, nos seguintes pares de nervos cranianos, a paralisia do XII e a neuralgia do IX( 33. Pasaoglu L, Hatipoglu HG, Vural M, Ziraman I, Ozcan HN, Koparal S. Persistent primitive hypoglossal artery and fenestration of posterior cerebral artery: CT and MR angiography. Neurocirugia. 2009;20(6):563-6. [citado 2013 maio 15]. http://scielo.isciii.es/pdf/neuro/v20n6/7.pdf
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).

O diagnóstico definitivo desta variação anatômica é realizado por exames de imagem, sendo que, atualmente, o mais utilizado é a angiotomografia computadorizada( 44. Huynh-Le P, Matsushima T, Muratani H, Hikita T, Hirokawa E. Persistent primitive hypoglossal artery associated with proximal posterior inferior cerebellar artery aneurysm. Surg Neurol. 2004;62(6):546-51. PMid:15576127. http://dx.doi.org/10.1016/j.surneu.2004.03.018
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).

RELATO DO CASO

Paciente de 59 anos, masculino, assintomático, foi encaminhado ao Serviço de Cirurgia Vascular para avaliação de uma estenose de 70% na bifurcação da artéria carótida comum esquerda, vista em um ecodoppler colorido.

Foi solicitada uma angiotomografia de carótidas, que demonstrou estenose da bifurcação da carótida comum esquerda, estimada em 40%, e persistência da artéria hipoglossa (Figuras 1, 2 e 3), com hipoplasia da artéria vertebral esquerda. A artéria hipoglossa se continuava para a artéria basilar.

Figura 1
Bifurcação da artéria carótida comum (seta branca) com presença da persistência da artéria hipoglossa (seta vermelha).

Figura 2
Artéria hipoglossa passando pelo canal do hipoglosso (seta).

Figura 3
Tomografia em corte transversal mostrando a artéria hipoglossa passando pelo canal do hipoglosso (seta).

O paciente já estava em uso de antiagregante plaquetário, o qual foi mantido, ficando programado o acompanhamento periódico.

DISCUSSÃO

Nas primeiras fases do desenvolvimento embrionário, a circulação cerebral é fornecida por quatro pares de anastomoses arteriais, que ligam a aorta dorsal (futura carótida interna) com as artérias neuronais longitudinais, localizadas dorsalmente na superfície do cérebro posterior. Estas anastomoses normalmente regridem ainda no feto ou nos primeiros anos de vida. Na vida adulta, seu achado é acidental e determinada anastomose pode estar associada com doenças vasculares cerebrais, como: más formações, aneurismas, fístulas arteriovenosas e doença aterosclerótica( 11. Pasco A, Papon X, Bracard S, Tanguy JY, Ter Minassian A, Mercier P. Persistent carotid-vertebrobasilar anastomoses: how and why differentiating them? J Neuroradiol. 2004;31(5):391-6. http://dx.doi.org/10.1016/S0150-9861(04)97022-8
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, 55. Luh GY, Dean BL, Tomsick TA, Wallace RC. The persistent fetal carotid vertebrobasilar anastomoses. AJR Am J Roentgenol. 1999;172(5):1427-32. PMid:10227532. http://dx.doi.org/10.2214/ajr.172.5.10227532
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).

Em termos de frequência, a persistência da artéria hipoglossa é ligeiramente mais frequente em mulheres no dimídio esquerdo e é a segunda anastomose carotídeo-basilar mais frequente (0,02% a 0,09%), sendo bilateral em 1,4% dos casos( 11. Pasco A, Papon X, Bracard S, Tanguy JY, Ter Minassian A, Mercier P. Persistent carotid-vertebrobasilar anastomoses: how and why differentiating them? J Neuroradiol. 2004;31(5):391-6. http://dx.doi.org/10.1016/S0150-9861(04)97022-8
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, 66. Avcu S, Van der Schaaf I, Ozcan HN, Sengul I, Fransen H. Persistent hypoglossal artery detected incidentally in a hypertensive patient with intracerebral hemorrhage: a case report and review of the literature. Cases Journal. 2009:2:8175. http://www.casesjournal.com/content/2/1/8571
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).

A artéria hipoglossa possui um curso ascendente com ligeira curvatura posterior e medial, surge na face posterior da carótida interna cervical e está relacionada com o espaço entre a primeira e a segunda vértebra cervical. Ela penetra no canal do hipoglosso na base do crânio, terminando na artéria basilar( 33. Pasaoglu L, Hatipoglu HG, Vural M, Ziraman I, Ozcan HN, Koparal S. Persistent primitive hypoglossal artery and fenestration of posterior cerebral artery: CT and MR angiography. Neurocirugia. 2009;20(6):563-6. [citado 2013 maio 15]. http://scielo.isciii.es/pdf/neuro/v20n6/7.pdf
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, 66. Avcu S, Van der Schaaf I, Ozcan HN, Sengul I, Fransen H. Persistent hypoglossal artery detected incidentally in a hypertensive patient with intracerebral hemorrhage: a case report and review of the literature. Cases Journal. 2009:2:8175. http://www.casesjournal.com/content/2/1/8571
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). Na maioria dos casos, é associada a uma hipoplasia da artéria vertebral, e a artéria cerebelar póstero-inferior pode ser o seu ramo, confirmando a ligação entre estes no período embriológico( 77. De Caro R, Parenti A, Munari PF. The persistent primitive hypoglossal artery: a rare anatomic variation with frequent clinical implications. Anat Anz. 1995;177(2):193-8. http://dx.doi.org/10.1016/S0940-9602(11)80073-7
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).

A sua presença é diagnosticada por métodos de imagem. O diagnóstico por dupplex scan é difícil, pois existem variações na anatomia normal da artéria vertebral extracraniana. A ausência de artérias vertebrais em ambos os lados pode indicar doença vascular oclusiva, estenose arterial ou fornecer uma pista importante no diagnóstico de comunicações fetais persistentes( 88. Takahashi H, Tanaka H, Fujita N, Tomiyama N. Bilateral persistent hypoglossal arteries: MRI findings. Br J Radiol. 2012;85(1010):e046-8. PMid:22308227 PMCid:PMC3473955. http://dx.doi.org/10.1259/bjr/21939976
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). A angiotomografia tem sido o método mais frequente para o diagnóstico( 33. Pasaoglu L, Hatipoglu HG, Vural M, Ziraman I, Ozcan HN, Koparal S. Persistent primitive hypoglossal artery and fenestration of posterior cerebral artery: CT and MR angiography. Neurocirugia. 2009;20(6):563-6. [citado 2013 maio 15]. http://scielo.isciii.es/pdf/neuro/v20n6/7.pdf
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).

Na avaliação, os marcos ósseos são os melhores critérios para identificar que artéria hipoglossa penetra na base do crânio através do canal do nervo hipoglosso( 11. Pasco A, Papon X, Bracard S, Tanguy JY, Ter Minassian A, Mercier P. Persistent carotid-vertebrobasilar anastomoses: how and why differentiating them? J Neuroradiol. 2004;31(5):391-6. http://dx.doi.org/10.1016/S0150-9861(04)97022-8
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).

A parte posterior do polígono de Willis é inconstante devido a hipoplasia das artérias vertebral e comunicante posterior ipsilaterais quando ocorre a persistência da artéria hipoglossa. Dessa forma a circulação cerebral posterior é realizada pela artéria hipoglossa( 22. Kanematsu M, Satoh K, Nakajima N, Hamazaki F, Nagahiro S. Ruptured aneurysm arising from a basilar artery fenestration and associated with a persistent primitive hypoglossal artery: case report and review of the literature. J Neurosurg. 2004;101(3):532-5. PMid:15352614. http://dx.doi.org/10.3171/jns.2004.101.3.0532
https://doi.org/10.3171/jns.2004.101.3.0...
, 33. Pasaoglu L, Hatipoglu HG, Vural M, Ziraman I, Ozcan HN, Koparal S. Persistent primitive hypoglossal artery and fenestration of posterior cerebral artery: CT and MR angiography. Neurocirugia. 2009;20(6):563-6. [citado 2013 maio 15]. http://scielo.isciii.es/pdf/neuro/v20n6/7.pdf
http://scielo.isciii.es/pdf/neuro/v20n6/...
, 66. Avcu S, Van der Schaaf I, Ozcan HN, Sengul I, Fransen H. Persistent hypoglossal artery detected incidentally in a hypertensive patient with intracerebral hemorrhage: a case report and review of the literature. Cases Journal. 2009:2:8175. http://www.casesjournal.com/content/2/1/8571
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).

Quadros de paralisia do nervo hipoglosso (XII) e neuralgia do nervo glossofaríngeo (IX) podem ocorrer devido à compressão vascular( 44. Huynh-Le P, Matsushima T, Muratani H, Hikita T, Hirokawa E. Persistent primitive hypoglossal artery associated with proximal posterior inferior cerebellar artery aneurysm. Surg Neurol. 2004;62(6):546-51. PMid:15576127. http://dx.doi.org/10.1016/j.surneu.2004.03.018
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).

As abordagens cirúrgicas da artéria carótida interna, na sua porção cervical, são facilitadas pelo fato de a mesma não ter ramos neste segmento. Entretanto, o Cirurgião Vascular deve conhecer as variantes anatômicas e os ramos anômalos deste segmento arterial para evitar, durante procedimentos abertos ou cirurgias endovasculares, traumatismos e complicações indesejadas, programando inclusive métodos de proteção cerebrais transoperatórios preventivos.

REFERENCES

  • 1
    Pasco A, Papon X, Bracard S, Tanguy JY, Ter Minassian A, Mercier P. Persistent carotid-vertebrobasilar anastomoses: how and why differentiating them? J Neuroradiol. 2004;31(5):391-6. http://dx.doi.org/10.1016/S0150-9861(04)97022-8
    » https://doi.org/10.1016/S0150-9861(04)97022-8
  • 2
    Kanematsu M, Satoh K, Nakajima N, Hamazaki F, Nagahiro S. Ruptured aneurysm arising from a basilar artery fenestration and associated with a persistent primitive hypoglossal artery: case report and review of the literature. J Neurosurg. 2004;101(3):532-5. PMid:15352614. http://dx.doi.org/10.3171/jns.2004.101.3.0532
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    » https://doi.org/10.1016/S0940-9602(11)80073-7
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    » https://doi.org/10.1259/bjr/21939976

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    29 Jul 2013
  • Aceito
    14 Jan 2014
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