Acessibilidade / Reportar erro

Biomarcadores inflamatórios circulantes podem ser úteis para identificar doença arterial obstrutiva periférica mais grave

Resumos

Contexto:

Aterosclerose é doença multifatorial, cuja base fisiopatológica é um processo inflamatório. Estudos são controversos quanto ao papel dos biomarcadores como fatores de risco. A liberação de citoquinas durante aterogênese promove síntese hepática de proteína C-reativa (PCR), importante marcador inflamatório.

Objetivo:

Avaliamos se biomarcadores inflamatórios estavam associados à deterioração da doença arterial obstrutiva periférica (DAOP), em população de risco cardiovascular.

Métodos:

Estudo populacional sobre prevalência de diabetes, em que 1.330 indivíduos com ≥30 anos foram submetidos a exames clínico-laboratoriais. Diagnóstico de DAOP foi feito pelo índice tornozelo-braço (ITB) ≤0,90. Após exclusões, 1.038 indivíduos foram analisados. Fatores de risco tradicionais, PCR e interleucina 6 (IL-6) foram comparados também segundo três categorias de ITB (≤0,70; 0,71-0,90; ≥0,90). Valores médios das variáveis foram comparados segundo presença de DAOP (teste t Student) e categorias do ITB (ANOVA). Utilizou-se modelo de Poisson e regressão logística para avaliar associações da DAOP e categorias do ITB com fatores de risco. Estimou-se coeficiente de correlação linear de Pearson para relação entre os valores de PCR e IL-6.

Resultados:

A idade média foi 56,8±12,9 anos, 54% mulheres e prevalência de DAOP 21,0% (IC95% 18,4-24,1). Indivíduos com ITB ≤0,70 apresentaram maiores valores de PCR-us (2,1 vs. 1,8) e IL-6 (1,25 vs. 1,17. Apenas em portadores de DAOP, valores de PCR e IL-6 mostraram-se correlacionados (p=0,004).

Conclusão:

O achado de concentrações mais elevadas de PCR e IL-6 apenas em indivíduos com DAOP avançada pode sugerir um papel destes biomarcadores, indicando doença mais grave. Estudos prospectivos são necessários para testar esta hipótese.

aterosclerose; doença arterial periférica obstrutiva; biomarcadores


Background:

Atherosclerosis is a multifactorial disease with an inflammatory pathophysiological basis. Cytokines released during the atherosclerotic process induce production of C-reactive protein (CRP) in the liver, which is an important marker of inflammation.

Objective:

We tested whether inflammatory biomarkers were associated with deterioration of peripheral arterial occlusive disease (PAOD) in a population at high cardiovascular risk.

Methods:

1,330 subjects ≥30 years of age underwent clinical and laboratory examinations as part of a population-based study of the prevalence of diabetes. PAOD was defined as an ankle-brachial index (ABI) ≤0.90. After application of exclusion criteria, the sample comprised 1,038 subjects. Traditional risk factors, CRP and interleukin 6 (IL-6) were also compared across three ABI categories (≤0.70; 0.71-0.90; ≥0.90). Mean values for these variables were compared by presence/absence of DAOP (Student's t test) and by ABI categories (ANOVA). Poisson regression and logistic regression models were used to test for associations between risk factors and DAOP and between risk factors and the ABI categories. Pearson's linear correlation coefficients were calculated for the relationship between CRP and IL-6 levels.

Results:

Mean age was 56.8±12.9 years, 54% of the sample were women and the prevalence of DAOP was 21.0% (95%CI 18.4-24.1). Individuals with ABI ≤0.70 had higher concentrations of CRP-us (2.1 vs. 1.8) and of IL-6 (1.25 vs. 1.17). Concentrations of CRP and IL-6 were only correlated in patients with DAOP, (p=0.004).

Conclusions:

The finding that CRP and IL-6 levels were only elevated among people with advanced DAOP may suggest that these biomarkers have a role to play as indicators of more severe disease. Prospective studies are needed to test this hypothesis.

atherosclerosis; peripheral arterial occlusive disease; biomarkers


INTRODUÇÃO

A síntese hepática de proteína C-reativa (PCR) corresponde a um mecanismo de defesa imunológica inato inespecífico1. Ablij H, Meinders A. C-reactive protein: history and revival. Eur J Intern Med. 2002;13(7):412-22. http://dx.doi.org/10.1016/S0953-6205(02)00132-2. PMid:12384129
http://dx.doi.org/10.1016/S0953-6205(02)...
, ativando o sistema do complemento e promovendo fagocitose. Em grande parte, sua síntese é regulada pela interleucina 6 (IL-6), citoquina inflamatória secretada principalmente por macrófagos e adipócitos2. Ridker PM, Rifai N, Stampfer MJ, Hennekens CH. Plasma concentration of interleukin-6 and the risk of future myocardial infarction among apparently healthy men. Circulation. 2000;101(15):1767-72. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.101.15.1767. PMid:10769275
http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.101.15....
. Estudos experimentais indicam que também células endoteliais e musculares lisas, tanto de artérias normais como aneurismáticas, podem produzir IL-63. Pearson TA, Mensah GA, Alexander RW, et al, and the Centers for Disease Control and Prevention, and the American Heart Association. Markers of inflammation and cardiovascular disease: application to clinical and public health practice: A statement for healthcare professionals from the Centers for Disease Control and Prevention and the American Heart Association. Circulation. 2003;107(3):499-511. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052939.59093.45. PMid:12551878
http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052...
.

Ensaios ultrassensíveis permitem a determinação de discretas elevações nas concentrações sanguíneas de PCR (PCR-us), que caracterizam inflamação crônica subclínica. Em se tratando da doença aterosclerótica, alguns autores acreditam que a PCR possa ser também produzida em células musculares lisas das artérias coronarianas doentes4. Calabró P, Willerson JT, Yeh ET. Inflammatory cytokines stimulated C-reactive protein production by human coronary artery smooth muscle cells. Circulation. 2003;108(16):1930-2. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000096055.62724.C5. PMid:14530191
http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000096...
, porém este achado é questionável5. Sun H, Koike T, Ichikawa T, et al. C-reactive protein in atherosclerotic lesions: its origin and pathophysiological significance. Am J Pathol. 2005;167(4):1139-48. http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9440(10)61202-3. PMid:16192648
http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9440(10)...
.

As diferentes etapas da aterogênese envolvem a liberação de citocinas que estimulam a síntese de PCR, cuja determinação sanguínea funciona como marcador inflamatório no monitoramento do risco cardiovascular6. Yudkin JS, Kumari M, Humphries SE, Mohamed-Ali V. Inflammation, obesity, stress and coronary heart disease: is interleukin-6 the link? Atherosclerosis. 2000;148(2):209-14. http://dx.doi.org/10.1016/S0021-9150(99)00463-3. PMid:10657556
http://dx.doi.org/10.1016/S0021-9150(99)...
. Entretanto, meta-análise sobre seu papel na predição de risco cardiovascular concluiu que PCR-us pode ser promissora, porém, até o momento, não há estudos com delineamento e duração adequados que justifiquem sua ampla utilização na prática clínica7. Goff DC Jr, Lloyd-Jones DM, Bennett G, et al. 2013 ACC/AHA guideline on the assessment of cardiovascular risk: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation. 2014;129(25, Suppl 2):S49-73. http://dx.doi.org/10.1161/01.cir.0000437741.48606.98. PMid:24222018.
http://dx.doi.org/10.1161/01.cir.0000437...
.

Um estímulo inicial para a formação da estria gordurosa é a disfunção endotelial, que pode ser precipitada por tabagismo, hipertensão arterial, hiperglicemia, hipercolesterolemia, hiperhomocisteinemia e mesmo infecções. Moléculas de adesão e a transmigração dos monócitos para o espaço subendotelial, que internalizam lipídeos originando as células espumosas, são passos iniciais da aterosclerose. Estas células secretam mediadores inflamatórios, dentre os quais a IL-6, que atua diminuindo a atividade da lipase de lipoproteína, favorecendo ainda mais a fagocitose dos lipídeos. Há evidências de que PCR e IL-6 amplificam e perpetuam a resposta inflamatória no ateroma8. Pearson TA, Mensah GA, Alexander RW, et al, and the Centers for Disease Control and Prevention, and the American Heart Association. Markers of inflammation and cardiovascular disease: application to clinical and public health practice: A statement for healthcare professionals from the Centers for Disease Control and Prevention and the American Heart Association. Circulation. 2003;107(3):499-511. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052939.59093.45. PMid:12551878
http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052...
.

Entre os principais sítios acometidos pela aterosclerose, destaca-se a doença arterial obstrutiva periférica (DAOP). Sua importância baseia-se no fato de ser cada vez mais prevalente na sociedade moderna, devido ao aumento da expectativa de vida. Estima-se que 202 milhões de indivíduos no mundo estavam acometidos em 2010 pela DAOP. Na última década, foi registrado aumento de 28,7% na sua prevalência nos países de baixa e média renda per capita, e de 13,1% nos de alta renda9. Fowers FGR, Rudan D, Rudan I, et al. Comparison of global estimates of prevalence and risk factors for peripheral artery disease in 2000 and 2010: a systematic review and analysis. Lancet. 2013;38(9901):1329-40. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(13)61249-0.
http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(13)...
. Crescente interesse no diagnóstico precoce da DAOP vem ocorrendo não apenas pelo aumento de prevalência, mas também por estar relacionada à doença em outros territórios, como coronariano e cerebral1010 . Criqui MH, Langer RD, Fronek A, et al. Mortality over a period of 10 years in patients with peripheral arterial disease. N Engl J Med. 1992;326(6):381-6. http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199202063260605. PMid:1729621
http://dx.doi.org/10.1056/NEJM1992020632...
. Dessa forma, é desejável sua identificação, bem como de indicadores de sua gravidade, no sentido de programar intervenções.

Apesar de evidências de que elevações das concentrações de PCR e IL-6 são indicativas de processo inflamatório subclínico presente na doença cardiovascular aterosclerótica, ainda não existe consenso sobre um papel etiopatogênico destas substâncias na lesão arterial, particularmente na investigação da DAOP.

Este estudo se propôs a investigar se concentrações de PCR e IL-6 associam-se aos diferentes graus de DAOP, em estudo de base populacional em nipo-brasileiros, reconhecidos pelo alto risco cardiovascular1111 . Lerario DD, Gimeno SG, Franco LJ, Iunes M, Ferreira SRG. [Weight excess and abdominal fat in the metabolic syndrome among Japanese-Brazilians]. Rev Saude Publica. 2002;36(1):4-11. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000100002. PMid:11887223
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002...
1313 . Siqueira AFA, Franco LJ, Gimeno SGA, et al, and the JBDSG. Macrovascular disease in a Japanese-Brazilian population of high prevalence of metabolic syndrome: associations with classical and non-classical risk factors. Atherosclerosis. 2007;195(1):160-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclerosis.2006.09.012. PMid:17064712
http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclero...
.

MÉTODOS

A presente análise foi realizada numa população nipo-brasileira residente em Bauru-SP, de ambos os sexos, com idade ≥30 anos. Detalhes do estudo matriz sobre prevalência de diabetes e síndrome metabólica foram previamente descritos1111 . Lerario DD, Gimeno SG, Franco LJ, Iunes M, Ferreira SRG. [Weight excess and abdominal fat in the metabolic syndrome among Japanese-Brazilians]. Rev Saude Publica. 2002;36(1):4-11. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000100002. PMid:11887223
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002...
1313 . Siqueira AFA, Franco LJ, Gimeno SGA, et al, and the JBDSG. Macrovascular disease in a Japanese-Brazilian population of high prevalence of metabolic syndrome: associations with classical and non-classical risk factors. Atherosclerosis. 2007;195(1):160-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclerosis.2006.09.012. PMid:17064712
http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclero...
. O Comitê de Ética Institucional aprovou o estudo e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi obtido de todos os participantes. Um total de 1.330 indivíduos submeteu-se a exame clínico, incluindo medidas antropométricas, de pressão arterial e do índice de Doppler tornozelo-braço (ITB), além de coleta de sangue após 12 horas de jejum. Os critérios de exclusão para esta análise foram dados incompletos da avaliação clínico-laboratorial (255 participantes), ITB >1,40 (um participante) e concentração de PCR-us >10 mg/L (36 participantes). Dessa forma, 1.038 indivíduos foram incluídos no presente estudo.

Peso e altura foram obtidos com o mínimo de roupa, sem sapatos, e usados para o cálculo do índice de massa corpórea (IMC). A circunferência da cintura foi medida com fita métrica não distensível, no ponto médio entre a última costela flutuante e a crista ilíaca, em um plano paralelo ao chão. A circunferência do quadril foi medida na altura dos glúteos, passando pela sínfise púbica. A razão cintura-quadril foi obtida pelo quociente entre a medida da circunferência da cintura dividida pela do quadril.

Por se tratar de população de origem asiática, para diagnóstico de obesidade e obesidade central, foram utilizados os valores de IMC e circunferência da cintura preconizados pela Japan Society for the Study of Obesity (JASO)1414 . Examination Committee of Criteria for 'Obesity Disease' in Japan, Japan Society for the Study of Obesity (JASO). New criteria for 'obesity disease' in Japan. Circ J. 2002;66(11):987-92. e os da razão cintura-quadril da World Health Organization (WHO)1515. International Diabetes Institute, Regional Office of the Western Pacific Region – WPRO, World Health Organization – WHO, International Association for the Study of Obesity – IASO, International Obesity Task Force. The Asia-Pacific perspective: redefining obesity and its treatment. Melbourne: Health Communications Australia Pty; 2000. www.wpro.who.int/nutrition. Acessado: 10/01/2014.
www.wpro.who.int/nutrition...
.

A pressão arterial foi medida em aparelho automático (Omron HEM-712C, Omron Health Care, USA), após 5 minutos, na posição sentada. Foram considerados, os valores finais de pressão sistólica e diastólica, as médias aritméticas das duas últimas medidas. Hipertensão arterial foi diagnosticada naqueles que apresentaram valores pressóricos >140×90 mmHg ou que referiram tratamento medicamentoso1616 . U.S. Department of Health and Human Services. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Bethesda: NIH Publications; 2004. (NIH Publication, no. 04-5230). www.nhlbi.nih.gov/guidelines/hypertension/jnc7full.pdf. Acessado: 10/01/2014.
www.nhlbi.nih.gov/guidelines/hypertensio...
.

Participantes com glicemia capilar após 12 horas de jejum ≥200 mg/dL foram dispensados da realização do teste oral de tolerância à glicose. Amostras de sangue venoso em jejum e após 2 horas da ingestão de 75 gramas de glicose foram coletadas. As categorias de tolerância à glicose foram diagnosticadas segundo os critérios da American Diabetes Association1717 . American Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes—2011. Diabetes Care. 2011;34(Suppl. 1):S11-S61.. Assim, participantes com glicemia de jejum <100 mg/dL ou glicemia após sobrecarga <140 mg/dL foram considerados normoglicêmicos. Aqueles com glicemia de jejum com valor igual ou superior a 100 mg/dL mas <126 mg/dL, e glicemia 2 horas após sobrecarga <140 mg/dL foram considerados portadores de glicemia de jejum alterada (GJA). Tolerância à glicose diminuída (TGD) foi diagnosticada através de glicemia de jejum maior ou igual a 100 mg/dL, porém com glicemia após sobrecarga com valor entre 140 e 199 mg/dL. Foram considerados diabéticos os participantes que apresentassem glicemia de jejum igual ou superior a 126 mg/dL, ou glicemia após sobrecarga igual ou superior a 200 mg/dL, ou que estavam em uso de terapias hipoglicemiantes.

Os valores de referência para diagnóstico de dislipidemias foram os preconizados pelo NCEP naquela ocasião1818 . Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults. Executive Summary of The Third Report of The National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol In Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA. 2001;285(19):2486-97. http://dx.doi.org/10.1001/jama.285.19.2486. PMid:11368702
http://dx.doi.org/10.1001/jama.285.19.24...
. Foram considerados normais, quanto ao perfil lipídico, participantes com colesterol total ≤200 mg/dL, LDL-colesterol ≤130 mg/dL, HDL-colesterol ≥35 mg/dL para homens e ≥45 mg/dL para mulheres, e triglicérides ≤200 mg/dL. Foram considerados dislipidêmicos indivíduos com alterações em pelo menos uma destas variáveis.

Os valores de ácido úrico foram considerados normais até 6 mg/dL para mulheres e até 7 mg/dL para homens1919 . Becker MA, Schumacher HR Jr, Wortmann RL, et al. Febuxostat compared with allopurinol in patients with hyperuricemia and gout. N Engl J Med. 2005;353(23):2450-61. http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa050373. PMid:16339094
http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa050373...
. A determinação da homocisteína foi realizada por cromatografia líquida de alto desempenho. Foram considerados normais valores de homocisteína até 15 mmol/L2020 . Garofolo L, Barros N Jr, Miranda F Jr, D'Almeida V, Cardien LC, Ferreira SR. Association of increased levels of homocysteine and peripheral arterial disease in a Japanese-Brazilian population. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2007;34(1):23-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.ejvs.2007.02.008. PMid:17482486
http://dx.doi.org/10.1016/j.ejvs.2007.02...
. As concentrações de PCR-us e IL-6 foram determinadas por quimioluminescência (Immulite, Diagnostic Products Corporation, USA).

Diagnóstico de DAOP

Este diagnóstico foi estabelecido através da utilização de aparelho de Doppler de onda contínua da marca Imbracios® de 8 mHz. O valor do ITB foi calculado pelo quociente da pressão auscultada nas artérias do tornozelo pela maior pressão obtida nas artérias braquiais. Conforme preconizado pelo TASC II (Transatlantic Society Consensus)2121 . Norgren L, Hiatt WR, Dormandy JA, Nehler MR, Harris KA, Fowkes FG, and the TASC II Working Group. Inter-Society Consensus for the Management of Peripheral Arterial Disease (TASC II). J Vasc Surg. 2007;45(1, Suppl S):S5-67. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2006.12.037. PMid:17223489
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2006.12....
, foi considerado alterado índice ≤0,90 e >1,40. Analisou-se também o ITB após estratificação em três categorias: ≤0,70, 0,71 a 0,90 e >0,902222 . McDermott MM, Green D, Greenland P, et al. Relation of levels of hemostatic factors and inflammatory markers to the ankle brachial index. Am J Cardiol. 2003;92(2):194-9. http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9149(03)00537-X. PMid:12860223
http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9149(03)...
.

Análise estatística

As variáveis foram apresentadas como percentuais, valores médios e desvios padrão. Os indivíduos foram estratificados por sexo ou segundo a presença de DAOP, diagnosticada com base nos valores do ITB.

Em análise bruta, verificou-se a existência de associações entre as variáveis mediante emprego do qui-quadrado e das razões de prevalências (RP) por ponto e por intervalo, com 95% de confiança. Utilizaram-se, na comparação dos valores médios de variáveis dos indivíduos, segundo a presença de DAOP (sim ou não) ou categorias do ITB (≤0,70; 0,71-0,90; >0,90), respectivamente, o teste t de Student ou a análise de variância (ANOVA) com correção de Bonferroni.

Empregou-se modelo de regressão de Poisson na obtenção das RP de DAOP, segundo fatores de risco cardiovascular. No modelo inicial, incluíram-se todas as variáveis que, em análise bruta, associaram-se com a presença de DAOP (p<0,150). Uma a uma, foram retiradas aquelas cuja saída não alterou a capacidade de predição do modelo. Adotou-se procedimento semelhante na obtenção dos valores das odds ratios em modelo de regressão logística ordenado, segundo categorias do ITB (≤0,70; 0,71-0,90; >0,90). Estimou-se o coeficiente de correlação linear de Pearson para examinar possíveis relações entre os valores de PCR e IL-6. Para complementar esta análise, foram comparadas as médias das concentrações de IL-6 nos tercis de PCR-us por meio de ANOVA. O índice P<0,05 foi considerado significante.

Utilizou-se, nestas análises, o software Stata 8.0 (Statacorp, 2004. Stata statistical software release 7.0 College Station, TX Stata Corporation).

RESULTADOS

A média de idade dos 1.038 participantes (54% do sexo feminino) foi 56,8 (±12,9) anos. Homens apresentaram valores médios mais elevados de IMC, razão cintura-quadril, pressão arterial, glicemia de jejum, triglicérides, ácido úrico, homocisteína e IL-6 do que as mulheres, as quais tiveram maiores concentrações de colesterol total, LDL-colesterol, HDL-colesterol e PCR-us (Tabela 1).

Tabela 1
Média (DP) de variáveis demográficas, antropométricas, clínicas e bioquímicas, segundo o sexo.

As prevalências de fatores de risco estratificadas por sexo estão na Tabela 2. As prevalências de diabetes, tabagismo, hipertrigliceridemia, hiperuricemia, hiper-homocisteinemia, HDLcolesterol baixo e valores elevados de IL-6 foram maiores nos homens, enquanto que valores altos de LDL-colesterol e PCR-us foram mais frequentes nas mulheres. Quanto à antropometria, homens apresentaram maior frequência de IMC elevado, enquanto obesidade abdominal foi mais prevalente nas mulheres (Tabela 2).

Tabela 2
Prevalências de fatores de risco cardiovascular na população nipo-brasileira, segundo o sexo.

A prevalência de DAOP foi 21,1% (IC95% 18,4-24,1), sem diferença entre os sexos (19,2% vs. 22,7%, p>0,05). Estratificando-se por sexo, as variáveis clínicas daqueles com e sem DAOP comportaram-se de modo similar, sendo os resultados apresentados em conjunto. Indivíduos com DAOP eram, em média, mais velhos do que aqueles sem doença (60,0 vs. 56,0 anos, p<0,001), e tinham maiores valores da pressão arterial sistólica e de homocisteína, mas não de PCR-us ou IL-6 (dados não mostrados em tabela). Logo, foram encontradas maiores prevalências de DAOP no grupo etário mais velho, nos hipertensos e portadores de hiperhomocisteinemia. Não foram detectadas diferenças entre os estratos com e sem DAOP quanto às demais variáveis (Tabela 3).

Tabela 3
Número, porcentagem e razões de prevalências (intervalos com 95% de confiança) de categorias de variáveis demográficas e clínicas de nipo-brasileiros, estratificados segundo a presença de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP).

Ajustando-se as razões de prevalência de DAOP para as variáveis consideradas, somente tabagismo e hipertensão arterial mantiveram-se independentemente associados à doença (Tabela 4).

Tabela 4
Razões de prevalências (RP) de DAOP e respectivos intervalos com 95% de confiança (IC95%) em nipo-brasileiros, segundo a presença de variáveis selecionadas (modelo inicial e final).

Ao estratificar o ITB em três categorias, as associações se mantiveram (dados não mostrados nas Tabelas).

Analisando-se isoladamente indivíduos com ITB ≤0,70, estes eram mais velhos, fumavam o maior número de cigarros/dia e apresentavam valores médios de PCR-us e IL-6 mais elevados. Além disso, tinham maiores médias de pressão sistólica, glicemia de jejum e de 2 horas, triglicérides e homocisteína (Tabela 5). Um percentual de 85% dos indivíduos com ITB ≤0,70 eram hipertensos, 70% apresentavam diabetes e razão cintura-quadril aumentada (dados não mostrados nas Tabelas).

Tabela 5
Valores médios e do desvio padrão (DP) de variáveis demográficas, antropométricas e clínicas de nipo-brasileiros, segundo valores do índice tornozelo-braquial.

Nas Figuras 1 e 2, apresentam-se gráficos de dispersão dos valores de PCR-us e IL-6 entre indivíduos com e sem DAOP, respectivamente. Foi detectada correlação significante entre estes valores apenas entre os portadores de DAOP (r=0,24, p=0,010). Quando as concentrações de PCR-us foram estratificadas em tercis (Figuras 3 e 4), apenas nos indivíduos com DAOP, houve diferença significante entre as concentrações médias de IL-6.

Figura 1
Correlacão entre valores de PCR e IL-6 em indivíduos sem DAOP. r=0,04 (p=0,624).
Figura 2
Correlacão entre valores de PCR e IL-6 em indivíduos com DAOP. r=0,24 (p=0,010).
Figura 3
Valores de IL-6 segundo tercis de PCR em indivíduos sem DAOP. (p=0,658).
Figura 4
Valores de IL-6 segundo tercis de PCR em indivíduos com DAOP. (p=0,004).

DISCUSSÃO

Neste estudo populacional de nipo-brasileiros, uma prevalência relativamente elevada de DAOP (21,1%) era esperada, considerando o perfil cardiometabólico desfavorável previamente descrito1111 . Lerario DD, Gimeno SG, Franco LJ, Iunes M, Ferreira SRG. [Weight excess and abdominal fat in the metabolic syndrome among Japanese-Brazilians]. Rev Saude Publica. 2002;36(1):4-11. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000100002. PMid:11887223
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002...
1313 . Siqueira AFA, Franco LJ, Gimeno SGA, et al, and the JBDSG. Macrovascular disease in a Japanese-Brazilian population of high prevalence of metabolic syndrome: associations with classical and non-classical risk factors. Atherosclerosis. 2007;195(1):160-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclerosis.2006.09.012. PMid:17064712
http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclero...
,2323 . Ferreira SRG, Almeida-Pittito B, and the Japanese-Brazilian Diabetes Study Group. Reflexão sobre a imigração japonesa no Brasil sob o ângulo da adiposidade corporal. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2009;53(2):175-82. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009000200009. PMid:19466210
http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009...
. Apesar de maiores valores médios e frequências de fatores de risco entre os homens, a prevalência de DAOP foi semelhante entre os sexos. Em outras populações de alto risco cardiovascular, cifras semelhantes de DAOP foram observadas. O programa US PARTNERS, desenhado para estudar a prevalência de DAOP e outras doenças cardiovasculares, encontrou prevalência de DAOP de 29% em indivíduos >70 anos ou com idade >50 anos com comorbidades (diabetes e tabagismo)2424 . Hirsch AT, Criqui MH, Treat-Jacobson D. Peripheral arterial disease detection, awareness, and treatment in primary care. JAMA. 2001;286(11):1317-24. PMid:11560536. O POPADAD, avaliando 8.000 indivíduos diabéticos com idade ≥40 anos, encontrou prevalência de DAOP de 20,1%2525 . Elhadd T, Robb R, Jung R, Stonebrigde P, Belch J. Pilot study of prevalence of asymptomatic peripheral arterial occlusive disease in patients with diabetes attending a hospital clinic. Pract Diab Int. 1999;16(6):163-6. http://dx.doi.org/10.1002/pdi.1960160605.
http://dx.doi.org/10.1002/pdi.1960160605...
.

Não nosso meio, estudo multicêntrico sobre prevalência de DAOP, conduzido na população geral de 72 centros urbanos (n=1.170), encontrou prevalência de apenas 10,5%. Vale ressaltar que a faixa etária era mais baixa (≥18 anos) e que aquela amostra melhor representava a população brasileira por não incluir indivíduos geneticamente homogêneos, nem de alto risco cardiovascular2626 . Makdisse M, Pereira AC, Brasil DP, et al, and the Hearts of Brazil Study and Peripheral Arterial Disease Committee of the Brazilian Society of Cardiology/Funcor. Prevalence and risk factors associated with peripheral arterial disease in the Hearts of Brazil Project. Arq Bras Cardiol. 2008;91(6):370-82. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2008001800008. PMid:19142364
http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2008...
. Publicações do nosso grupo comprovam ser os nipo-brasileiros de alto risco com base nas cifras de obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemias1111 . Lerario DD, Gimeno SG, Franco LJ, Iunes M, Ferreira SRG. [Weight excess and abdominal fat in the metabolic syndrome among Japanese-Brazilians]. Rev Saude Publica. 2002;36(1):4-11. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000100002. PMid:11887223
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002...
1313 . Siqueira AFA, Franco LJ, Gimeno SGA, et al, and the JBDSG. Macrovascular disease in a Japanese-Brazilian population of high prevalence of metabolic syndrome: associations with classical and non-classical risk factors. Atherosclerosis. 2007;195(1):160-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclerosis.2006.09.012. PMid:17064712
http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclero...
,2323 . Ferreira SRG, Almeida-Pittito B, and the Japanese-Brazilian Diabetes Study Group. Reflexão sobre a imigração japonesa no Brasil sob o ângulo da adiposidade corporal. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2009;53(2):175-82. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009000200009. PMid:19466210
http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009...
.

Encontramos associação significante da DAOP com dois fatores de risco clássicos: tabagismo e hipertensão arterial. Com relação aos biomarcadores (não clássicos) PCR-us e IL-6, seus valores se apresentaram mais elevados naqueles com doença mais avançada (ITB ≤0,70). Esse grupo de nipo-brasileiros apresentou o pior perfil cardiometabólico. Apesar do pequeno número de indivíduos neste subgrupo (n=20), diferenças estatisticamente significantes foram detectadas. Vale ressaltar que correlação significante entre os valores de PCR e IL-6 só foi detectada nos portadores de DAOP (Figura 2). Coerente com este achado, foi o aumento significante das concentrações de IL-6 nos tercis de PCR (Figura 4).

Tzoulaki et al., avaliando 1592 tabagistas, com idade entre 55 e 74 anos, encontraram prevalência de 23% de DAOP assintomática e observaram aumento dos valores de IL-6 concomitante à queda no ITB no acompanhamento de 5 e 12 anos destes pacientes2727 . Tzoulaki I, Murray GD, Lee AJ, Rumley A, Lowe GD, Fowkes FG. C-reactive protein, interleukin-6, and soluble adhesion molecules as predictors of progressive peripheral atherosclerosis in the general population: Edinburgh Artery Study. Circulation. 2005;112(7):976-83. http://dx.doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.104.513085. PMid:16087797
http://dx.doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA...
. Seus achados são coerentes com a hipótese de que há acentuação do estado pró-inflamatório concomitante com o agravamento da doença. De modo semelhante, encontramos relação entre gravidade da DAOP e valores dos marcadores inflamatórios. Porém, é sabido que o tabagismo influencia os valores de IL-6 e PCR2828 . Deswal A, Petersen NJ, Feldman AM, Young JB, White BG, Mann DL. Cytokines and cytokine receptors in advanced heart failure: an analysis of the cytokine database from the Vesnarinone trial (VEST). Circulation. 2001;103(16):2055-9. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.103.16.2055. PMid:11319194
http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.103.16....
. Os níveis de IL6 e PCR se associam ao uso cumulativo do tabaco (anos/maço) e, também, nos ex-usuários, ao tempo livre de tabagismo2929 . Sunyer J, Forastiere F, Pekkanen J, et al, and the AIRGENE Study Group. Interaction between smoking and the interleukin-6 gene affects systemic levels of inflammatory biomarkers. Nicotine Tob Res. 2009;11(11):1347-53. http://dx.doi.org/10.1093/ntr/ntp144. PMid:19828434
http://dx.doi.org/10.1093/ntr/ntp144...
. Signorelli et al. também encontraram valores de IL-6 elevados em 20 pacientes não tabagistas, com média de ITB de 0,72 (p<0,001)3030 . Signorelli SS, Mazzarino MC, Di Pino L, et al. High circulating levels of cytokines (IL-6 and TNFalpha), adhesion molecules (VCAM-1 and ICAM-1) and selectins in patients with peripheral arterial disease at rest and after a treadmill test. Vasc Med. 2003;8(1):15-9. http://dx.doi.org/10.1191/1358863x03vm466oa. PMid:12866607
http://dx.doi.org/10.1191/1358863x03vm46...
.

Os mesmos achados foram descritos por Danielsson et al., analisando cinco grupos de pacientes: portadores de claudicação intermitente e isquemia crítica, ambos com e sem diabetes e grupo controle. Em análise ajustada para múltiplos fatores, encontraram relação dos marcadores inflamatórios (IL-6 e PCR-us) apenas com isquemia crítica. Os autores concluíram que a relação depende da gravidade da DAOP, independentemente da presença de outros fatores de risco3131 . Danielsson P, Truedsson L, Eriksson K-F, Norgren L. Inflammatory markers and IL-6 polymorphism in peripheral arterial disease with and without diabetes mellitus. Vasc Med. 2005;10(3):191-8. http://dx.doi.org/10.1191/1358863x05vm617oa. PMid:16235772
http://dx.doi.org/10.1191/1358863x05vm61...
.

A relação entre os marcadores inflamatórios e a gravidade da DAOP também foi avaliada no território carotídeo. Não foi detectada associação entre IL-6 e PCR-us com aterosclerose subclínica avaliada em 1.111 indivíduos com espessamento miointimal carotídeo3232 . Chapman CM, Beilby JP, McQuillan BM, Thompson PL, Hung J. Monocyte count, but not C-reactive protein or interleukin-6, is an independent risk marker for subclinical carotid atherosclerosis. Stroke. 2004;35(7):1619-24. http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.0000130857.19423.ad. PMid:15155967
http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.0000130...
, achado semelhante ao nosso, uma vez que não encontramos relação entre marcadores inflamatórios naqueles com DAOP em fase inicial. Entretanto, relação positiva foi encontrada entre estenose carotídea (≥25%) e PCR-us. Estes autores também não encontraram relação entre o marcador e a hiperplasia miointimal carotídea, sugerindo ser a PCR-us um marcador de doença mais avançada3333 . Wang TJ, Nam BH, Wilson PW, et al. Association of C-reactive protein with carotid atherosclerosis in men and women: the Framingham Heart Study. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2002;22(10):1662-7. http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000034543.78801.69. PMid:12377746
http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000034...
.

Os mesmos achados foram observados no território coronariano. Estudo de caso controle, envolvendo 926 homens com idade entre 50 e 59 anos, encontrou níveis aumentados de IL6 e PCR no início do estudo naqueles que, durante acompanhamento de cinco anos, evoluíram com infarto ou morte súbita. Os pacientes que apresentaram apenas quadro anginoso na evolução apresentavam níveis normais desses marcadores no início do estudo. Ainda, o risco relativo de infarto e morte aumentou conforme o aumento dos valores de IL63434 . Luc G, Bard JM, Juhan-Vague I, et al, and the PRIME Study Group. C-reactive protein, interleukin-6, and fibrinogen as predictors of coronary heart disease: the PRIME Study. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2003;23(7):1255-61. http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000079512.66448.1D. PMid:12775578
http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000079...
.

Outro estudo prospectivo, analisando a associação entre de IL-6 e mortalidade em 718 pacientes com doença coronariana, mostrou que os níveis séricos de IL-6 eram significantemente mais elevados, no início do estudo, nos pacientes que morriam por doença coronariana durante acompanhamento de 2,3 anos. O valor de IL-6 se mostrou associado à mortalidade cardiovascular com uma razão de risco de 2,04 (IC 95% 1,34-3,68). Os achados dão suporte à hipótese de que processo inflamatório crônico subclínico tem papel no prognóstico da doença aterosclerótica, sinalizando pacientes com pior evolução3535 . Su D, Li Z, Li X, et al. Association between serum interleukin-6 concentration and mortality in patients with coronary artery disease. Mediators Inflamm. 2013;2013:726178. http://dx.doi.org/10.1155/2013/726178. PMid:23818744
http://dx.doi.org/10.1155/2013/726178...
. Concordantemente, Biasucci et al., avaliando portadores de angina instável, encontraram aumento nos níveis de IL-6 após internação naqueles que evoluíram com complicação da doença3636 . Biasucci LM, Liuzzo G, Fantuzzi G, et al. Increasing levels of interleukin (IL)-1Ra and IL-6 during the first 2 days of hospitalization in unstable angina are associated with increased risk of in-hospital coronary events. Circulation. 1999;99(16):2079-84. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.99.16.2079. PMid:10217645
http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.99.16.2...
.

Nãossos achados estão coerentes com a revisão da literatura. As concentrações de IL-6 e PCR-us parecem refletir a intensidade da inflamação oculta na placa aterosclerótica, podendo determinar a vulnerabilidade desta à ruptura e, consequentemente, a gravidade da doença3737 . Ikeda U. Inf lammation and coronary artery disease. Curr Vasc Pharmacol. 2003;1(1):65-70. http://dx.doi.org/10.2174/1570161033386727. PMid:15320854
http://dx.doi.org/10.2174/15701610333867...
.

Apesar de limitações decorrentes do delineamento transversal, que nos impede de assegurar relações do tipo causa-efeito, a fortaleza do nosso estudo está na base populacional e na homogeneidade da população investigada.

Em suma, nossos dados sugerem existir uma relação entre aterosclerose nas artérias periféricas e marcadores inflamatórios, e que esta sinaliza para a gravidade da doença. Na DAOP, pacientes com doença avançada podem ser pouco sintomáticos ou assintomáticos, se apresentarem pouca ou nenhuma atividade, como no caso dos pacientes acamados. O mesmo pode acontecer na doença aterosclerótica nos territórios cerebral e coronariano. A sinalização destes doentes com doença avançada é de grande valia, merecendo a hipótese ser testada em estudos prospectivos, uma vez que esta informação pode auxiliar no mapeamento de pacientes com prognóstico mais desfavorável da doença aterosclerótica e no planejamento terapêutico mais agressivo.

  • Fonte de financiamento: FAPESP.
  • O estudo foi realizado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

REFERENCES

  • 1
    Ablij H, Meinders A. C-reactive protein: history and revival. Eur J Intern Med. 2002;13(7):412-22. http://dx.doi.org/10.1016/S0953-6205(02)00132-2. PMid:12384129
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0953-6205(02)00132-2
  • 2
    Ridker PM, Rifai N, Stampfer MJ, Hennekens CH. Plasma concentration of interleukin-6 and the risk of future myocardial infarction among apparently healthy men. Circulation. 2000;101(15):1767-72. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.101.15.1767. PMid:10769275
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.101.15.1767
  • 3
    Pearson TA, Mensah GA, Alexander RW, et al, and the Centers for Disease Control and Prevention, and the American Heart Association. Markers of inflammation and cardiovascular disease: application to clinical and public health practice: A statement for healthcare professionals from the Centers for Disease Control and Prevention and the American Heart Association. Circulation. 2003;107(3):499-511. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052939.59093.45. PMid:12551878
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052939.59093.45
  • 4
    Calabró P, Willerson JT, Yeh ET. Inflammatory cytokines stimulated C-reactive protein production by human coronary artery smooth muscle cells. Circulation. 2003;108(16):1930-2. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000096055.62724.C5. PMid:14530191
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000096055.62724.C5
  • 5
    Sun H, Koike T, Ichikawa T, et al. C-reactive protein in atherosclerotic lesions: its origin and pathophysiological significance. Am J Pathol. 2005;167(4):1139-48. http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9440(10)61202-3. PMid:16192648
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9440(10)61202-3
  • 6
    Yudkin JS, Kumari M, Humphries SE, Mohamed-Ali V. Inflammation, obesity, stress and coronary heart disease: is interleukin-6 the link? Atherosclerosis. 2000;148(2):209-14. http://dx.doi.org/10.1016/S0021-9150(99)00463-3. PMid:10657556
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0021-9150(99)00463-3
  • 7
    Goff DC Jr, Lloyd-Jones DM, Bennett G, et al. 2013 ACC/AHA guideline on the assessment of cardiovascular risk: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation. 2014;129(25, Suppl 2):S49-73. http://dx.doi.org/10.1161/01.cir.0000437741.48606.98. PMid:24222018.
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.cir.0000437741.48606.98
  • 8
    Pearson TA, Mensah GA, Alexander RW, et al, and the Centers for Disease Control and Prevention, and the American Heart Association. Markers of inflammation and cardiovascular disease: application to clinical and public health practice: A statement for healthcare professionals from the Centers for Disease Control and Prevention and the American Heart Association. Circulation. 2003;107(3):499-511. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052939.59093.45. PMid:12551878
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.0000052939.59093.45
  • 9
    Fowers FGR, Rudan D, Rudan I, et al. Comparison of global estimates of prevalence and risk factors for peripheral artery disease in 2000 and 2010: a systematic review and analysis. Lancet. 2013;38(9901):1329-40. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(13)61249-0.
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(13)61249-0
  • 10
    Criqui MH, Langer RD, Fronek A, et al. Mortality over a period of 10 years in patients with peripheral arterial disease. N Engl J Med. 1992;326(6):381-6. http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199202063260605. PMid:1729621
    » http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199202063260605
  • 11
    Lerario DD, Gimeno SG, Franco LJ, Iunes M, Ferreira SRG. [Weight excess and abdominal fat in the metabolic syndrome among Japanese-Brazilians]. Rev Saude Publica. 2002;36(1):4-11. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000100002. PMid:11887223
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000100002
  • 12
    Gimeno SG, Ferreira SR, Franco LJ, Hirai AT, Matsumura L, Moisés RS. Prevalence and 7-year incidence of Type II diabetes mellitus in a Japanese-Brazilian population: an alarming public health problem. Diabetologia. 2002;45(12):1635-8. http://dx.doi.org/10.1007/s00125-002-0963-x. PMid:12488952
    » http://dx.doi.org/10.1007/s00125-002-0963-x
  • 13
    Siqueira AFA, Franco LJ, Gimeno SGA, et al, and the JBDSG. Macrovascular disease in a Japanese-Brazilian population of high prevalence of metabolic syndrome: associations with classical and non-classical risk factors. Atherosclerosis. 2007;195(1):160-6. http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclerosis.2006.09.012. PMid:17064712
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.atherosclerosis.2006.09.012
  • 14
    Examination Committee of Criteria for 'Obesity Disease' in Japan, Japan Society for the Study of Obesity (JASO). New criteria for 'obesity disease' in Japan. Circ J. 2002;66(11):987-92.
  • 15
    International Diabetes Institute, Regional Office of the Western Pacific Region – WPRO, World Health Organization – WHO, International Association for the Study of Obesity – IASO, International Obesity Task Force. The Asia-Pacific perspective: redefining obesity and its treatment. Melbourne: Health Communications Australia Pty; 2000. www.wpro.who.int/nutrition. Acessado: 10/01/2014.
    » www.wpro.who.int/nutrition
  • 16
    U.S. Department of Health and Human Services. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Bethesda: NIH Publications; 2004. (NIH Publication, no. 04-5230). www.nhlbi.nih.gov/guidelines/hypertension/jnc7full.pdf. Acessado: 10/01/2014.
    » www.nhlbi.nih.gov/guidelines/hypertension/jnc7full.pdf
  • 17
    American Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes—2011. Diabetes Care. 2011;34(Suppl. 1):S11-S61.
  • 18
    Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults. Executive Summary of The Third Report of The National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol In Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA. 2001;285(19):2486-97. http://dx.doi.org/10.1001/jama.285.19.2486. PMid:11368702
    » http://dx.doi.org/10.1001/jama.285.19.2486
  • 19
    Becker MA, Schumacher HR Jr, Wortmann RL, et al. Febuxostat compared with allopurinol in patients with hyperuricemia and gout. N Engl J Med. 2005;353(23):2450-61. http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa050373. PMid:16339094
    » http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa050373
  • 20
    Garofolo L, Barros N Jr, Miranda F Jr, D'Almeida V, Cardien LC, Ferreira SR. Association of increased levels of homocysteine and peripheral arterial disease in a Japanese-Brazilian population. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2007;34(1):23-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.ejvs.2007.02.008. PMid:17482486
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.ejvs.2007.02.008
  • 21
    Norgren L, Hiatt WR, Dormandy JA, Nehler MR, Harris KA, Fowkes FG, and the TASC II Working Group. Inter-Society Consensus for the Management of Peripheral Arterial Disease (TASC II). J Vasc Surg. 2007;45(1, Suppl S):S5-67. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2006.12.037. PMid:17223489
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2006.12.037
  • 22
    McDermott MM, Green D, Greenland P, et al. Relation of levels of hemostatic factors and inflammatory markers to the ankle brachial index. Am J Cardiol. 2003;92(2):194-9. http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9149(03)00537-X. PMid:12860223
    » http://dx.doi.org/10.1016/S0002-9149(03)00537-X
  • 23
    Ferreira SRG, Almeida-Pittito B, and the Japanese-Brazilian Diabetes Study Group. Reflexão sobre a imigração japonesa no Brasil sob o ângulo da adiposidade corporal. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2009;53(2):175-82. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009000200009. PMid:19466210
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009000200009
  • 24
    Hirsch AT, Criqui MH, Treat-Jacobson D. Peripheral arterial disease detection, awareness, and treatment in primary care. JAMA. 2001;286(11):1317-24. PMid:11560536
  • 25
    Elhadd T, Robb R, Jung R, Stonebrigde P, Belch J. Pilot study of prevalence of asymptomatic peripheral arterial occlusive disease in patients with diabetes attending a hospital clinic. Pract Diab Int. 1999;16(6):163-6. http://dx.doi.org/10.1002/pdi.1960160605.
    » http://dx.doi.org/10.1002/pdi.1960160605
  • 26
    Makdisse M, Pereira AC, Brasil DP, et al, and the Hearts of Brazil Study and Peripheral Arterial Disease Committee of the Brazilian Society of Cardiology/Funcor. Prevalence and risk factors associated with peripheral arterial disease in the Hearts of Brazil Project. Arq Bras Cardiol. 2008;91(6):370-82. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2008001800008. PMid:19142364
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2008001800008
  • 27
    Tzoulaki I, Murray GD, Lee AJ, Rumley A, Lowe GD, Fowkes FG. C-reactive protein, interleukin-6, and soluble adhesion molecules as predictors of progressive peripheral atherosclerosis in the general population: Edinburgh Artery Study. Circulation. 2005;112(7):976-83. http://dx.doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.104.513085. PMid:16087797
    » http://dx.doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.104.513085
  • 28
    Deswal A, Petersen NJ, Feldman AM, Young JB, White BG, Mann DL. Cytokines and cytokine receptors in advanced heart failure: an analysis of the cytokine database from the Vesnarinone trial (VEST). Circulation. 2001;103(16):2055-9. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.103.16.2055. PMid:11319194
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.103.16.2055
  • 29
    Sunyer J, Forastiere F, Pekkanen J, et al, and the AIRGENE Study Group. Interaction between smoking and the interleukin-6 gene affects systemic levels of inflammatory biomarkers. Nicotine Tob Res. 2009;11(11):1347-53. http://dx.doi.org/10.1093/ntr/ntp144. PMid:19828434
    » http://dx.doi.org/10.1093/ntr/ntp144
  • 30
    Signorelli SS, Mazzarino MC, Di Pino L, et al. High circulating levels of cytokines (IL-6 and TNFalpha), adhesion molecules (VCAM-1 and ICAM-1) and selectins in patients with peripheral arterial disease at rest and after a treadmill test. Vasc Med. 2003;8(1):15-9. http://dx.doi.org/10.1191/1358863x03vm466oa. PMid:12866607
    » http://dx.doi.org/10.1191/1358863x03vm466oa
  • 31
    Danielsson P, Truedsson L, Eriksson K-F, Norgren L. Inflammatory markers and IL-6 polymorphism in peripheral arterial disease with and without diabetes mellitus. Vasc Med. 2005;10(3):191-8. http://dx.doi.org/10.1191/1358863x05vm617oa. PMid:16235772
    » http://dx.doi.org/10.1191/1358863x05vm617oa
  • 32
    Chapman CM, Beilby JP, McQuillan BM, Thompson PL, Hung J. Monocyte count, but not C-reactive protein or interleukin-6, is an independent risk marker for subclinical carotid atherosclerosis. Stroke. 2004;35(7):1619-24. http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.0000130857.19423.ad. PMid:15155967
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.STR.0000130857.19423.ad
  • 33
    Wang TJ, Nam BH, Wilson PW, et al. Association of C-reactive protein with carotid atherosclerosis in men and women: the Framingham Heart Study. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2002;22(10):1662-7. http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000034543.78801.69. PMid:12377746
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000034543.78801.69
  • 34
    Luc G, Bard JM, Juhan-Vague I, et al, and the PRIME Study Group. C-reactive protein, interleukin-6, and fibrinogen as predictors of coronary heart disease: the PRIME Study. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2003;23(7):1255-61. http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000079512.66448.1D. PMid:12775578
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.ATV.0000079512.66448.1D
  • 35
    Su D, Li Z, Li X, et al. Association between serum interleukin-6 concentration and mortality in patients with coronary artery disease. Mediators Inflamm. 2013;2013:726178. http://dx.doi.org/10.1155/2013/726178. PMid:23818744
    » http://dx.doi.org/10.1155/2013/726178
  • 36
    Biasucci LM, Liuzzo G, Fantuzzi G, et al. Increasing levels of interleukin (IL)-1Ra and IL-6 during the first 2 days of hospitalization in unstable angina are associated with increased risk of in-hospital coronary events. Circulation. 1999;99(16):2079-84. http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.99.16.2079. PMid:10217645
    » http://dx.doi.org/10.1161/01.CIR.99.16.2079
  • 37
    Ikeda U. Inf lammation and coronary artery disease. Curr Vasc Pharmacol. 2003;1(1):65-70. http://dx.doi.org/10.2174/1570161033386727. PMid:15320854
    » http://dx.doi.org/10.2174/1570161033386727

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2014

Histórico

  • Recebido
    18 Mar 2014
  • Aceito
    02 Jun 2014
Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) Rua Estela, 515, bloco E, conj. 21, Vila Mariana, CEP04011-002 - São Paulo, SP, Tel.: (11) 5084.3482 / 5084.2853 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: secretaria@sbacv.org.br