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Resultados em longo prazo de embolização de endoleaks tipo II

Resumo

Contexto

Endoleaks tipo II são frequentes após o reparo endovascular de aneurismas de aorta.

Objetivo

O objetivo deste estudo foi comparar o sucesso da embolização de endoleaks tipo II utilizando diferentes técnicas e materiais.

Métodos

Entre 2003 e 2015, 31 pacientes foram submetidos a embolização de endoleak tipo II, totalizando 41 procedimentos. Esses procedimentos foram conduzidos por acesso translombar, acesso femoral ou uma combinação de ambos, utilizando Onyx®18, Onyx®34, coils, plugue vascular Amplatzer® e trombina como material emboligênico. Sucesso foi definido como ausência de reintervenção. O teste de qui-quadrado e o teste exato de Fisher foram utilizados para a análise estatística.

Resultados

O tempo médio entre a correção do aneurisma de aorta e a embolização foi de 14 meses. Quinze (36%) das intervenções utilizaram Onyx®18; sete (17%) utilizaram coils e Onyx®34; seis (14%) utilizaram Onyx®34; quatro (10%) utilizaram coils e Onyx®18; quatro (10%) usaram Onyx®18 e Onyx®34; e três (7%) usaram coils e trombina; um (2%) usou coils e um (2%) usou Amplatzer®. Onze pacientes (35%) necessitaram de reintervenção. A taxa de sucesso foi de 71,43% (10) para os pacientes com as artérias lombares como fonte do endoleak, 80% (8) quando a fonte era a artéria mesentérica inferior e 40% (2) quando havia combinação de ambas (p & 0,05). Não houve diferença estatisticamente significativa com relação ao tipo de embolização, material emboligênico e tipo de reparo da aorta para a correção do aneurisma.

Conclusões

A terapia endovascular de endoleaks tipo II é um desafio, sendo necessária reintervenção em até 36% dos casos. A taxa de sucesso é menor quando o endoleak é nutrido pela combinação das artérias lombares e da artéria mesentérica inferior.

Palavras-chave:
endoleak tipo II; embolização; endoleak

Abstract

Background

Type II endoleaks are common after endovascular aortic aneurysm repair. The purpose of this study was to assess the long-term outcomes of embolization of type II endoleaks using different techniques and materials.

Methods

Between 2003 and 2015, 31 patients underwent embolization of type II endoleaks, in a total of 41 procedures. Patients underwent transarterial or translumbar embolization using Onyx®18, Onyx®34, coils, Amplatzer® plug and/or thrombin. Embolization success was defined as no endoleak reintervention. The chi-square test and Fisher’s exact test were used for statistical analysis.

Results

Median embolization time after aortic aneurysm repair was 14 months. Fifteen (36%) embolization interventions were performed using Onyx®18; seven (17%) with coils and Onyx®34; six (14%) with Onyx®34; four (10%) with coils and Onyx® 18; four with Onyx®18 and Onyx®34; three (7%) with coils and thrombin; one (2%) with coils; and one (2%) with an Amplatzer® device. Eleven patients (35%) required reintervention. The embolization success rate was 71.43% (10) for patients with lumbar arteries as the source of the endoleak, 80% (8) for the inferior mesenteric artery and 40% (2) when both inferior mesenteric artery and lumbar arteries were the culprit vessels (p & 0.05). There was no statistically significant difference with regards to type of embolization, embolic material or type of previous aortic repair.

Conclusions

Endovascular treatment of type II endoleaks is challenging and reintervention is needed in up to 36% of patients. Endoleaks supplied by both the inferior mesenteric artery and the lumbar arteries have a lower rate of success.

Keywords:
type II endoleak; embolization; endoleak

INTRODUÇÃO

O tratamento endovascular de aneurismas de aorta abdominal (Endovascular Abdominal Aortic Aneurysm Repair - EVAR) é atualmente aceito como opção terapêutica em pacientes com anatomia favorável11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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2 Stather PW, Sidloff D, Dattani N, Choke E, Bown MJ, Sayers RD. Systematic review and meta-analysis of the early and late outcomes of open and endovascular repair of abdominal aortic aneurysm. Br J Surg. 2013;100(7):863-72. http://dx.doi.org/10.1002/bjs.9101. PMid:23475697.
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-33 Paravastu SC, Jayarajasingam R, Cottam R, Palfreyman SJ, Michaels JA, Thomas SM. Endovascular Repair of Abdominal Aortic Aneurysm. Cochrane Database Syst Rev. 2014;1:CD004178. PMid:24453068.. Todavia, a necessidade de um seguimento rígido, utilizando exames de imagem onerosos e reintervenções, predominantemente relacionados à ocorrência de endoleaks, continuam a limitar a sua relação custo-efetividade11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,33 Paravastu SC, Jayarajasingam R, Cottam R, Palfreyman SJ, Michaels JA, Thomas SM. Endovascular Repair of Abdominal Aortic Aneurysm. Cochrane Database Syst Rev. 2014;1:CD004178. PMid:24453068..

Endoleaks são a principal complicação relacionada aos EVARs, sendo relatados em até 40% dos procedimentos inicialmente bem-sucedidos44 Haulon S, Tyazi A, Willoteaux S, Koussa M, Lions C, Beregi JP. Embolization of type II endoleaks after aorticstent-graft implantation: Technique andimmediate results. J Vasc Surg. 2001;34(4):600-5. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2001.117888. PMid:11668311.
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. Podem ser classificados de acordo com o seu mecanismo de origem em: tipo I, causado por separação mecânica dos componentes da prótese com o vaso nativo; tipo II, gerado pela persistência da perfusão do saco aneurismático por artérias lombares patentes ou ramos inferiores da artéria mesentérica inferior (AMI), podendo envolver diversos padrões de fluxo; tipo III, causado por migração ou desintegração de um dos componentes da endoprótese; e tipo IV, relacionado à porosidade da parede do enxerto44 Haulon S, Tyazi A, Willoteaux S, Koussa M, Lions C, Beregi JP. Embolization of type II endoleaks after aorticstent-graft implantation: Technique andimmediate results. J Vasc Surg. 2001;34(4):600-5. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2001.117888. PMid:11668311.
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. Os endoleaks tipo II representam o tipo mais frequente, com uma incidência de 10 a 25%, em 3 meses de seguimento após o EVAR55 Parent FN, Meier GH, Godziachvili V, et al. The incidence and natural history of type I and II endoleak: a 5-year follow-up assessment with color duplex ultrasound scan. J Vasc Surg. 2002;35(3):474-81. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2002.121848. PMid:11877694.
http://dx.doi.org/10.1067/mva.2002.12184...

6 Veith FJ, Baum RA, Ohki T, et al. Nature and significance of endoleaks and endotension: summary of opinions expressed at an international confer- ence. J Vasc Surg. 2002;35(5):1029-35. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2002.123095. PMid:12021724.
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-77 Waasdorp E, van Herwaarden JA, van de Mortel RH, Moll FL, de Vries JP. Early computed tomographic angiography after endovascular aneurysm re- pair: worthwhile or worthless? Vascular. 2008;16(5):253-7. http://dx.doi.org/10.2310/6670.2008.00034. PMid:19238865.
http://dx.doi.org/10.2310/6670.2008.0003...
.

Enquanto muitos estudos demonstram um risco significativo de ruptura associado aos endoleaks tipo I e III e recomendam seu tratamento sistemático, o manejo de pacientes com endoleaks tipo II permanece controverso. A maioria dos autores sugere apenas acompanhamento na ausência de alargamento do aneurisma. Contudo, na presença de crescimento ou persistência do saco aneurismático, procedimentos como embolização translombar ou endovascular ou ainda ligadura cirúrgica geralmente estão indicados88 Van Marrewijk CJ, Fransen G, Laheij RJF, et al. Is a type II endoleak after EVAR a harbinger of risk? Causes and outcome of open conversion and aneurysm rupture during follow-up. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2004;27:128e37.

9 Steinmetz E, Rubin BG, Sanchez LA, et al. Type II endoleak after endovascular abdominal aortic aneurysm repair: a conservative approach with selective intervention is safe and cost-effective. J Vasc Surg. 2004;39:306e13.
-1010 Rayt HS, Sandford RM, Salem M, et al. Conservative management of type 2 endoleaks is not associated with increased risk of aneurysm rupture. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2009;38:718e23..

A efetividade dos procedimentos varia de acordo com as técnicas e materiais utilizados, o que torna difícil estabelecer um consenso sobre qual é a melhor opção de tratamento para endoleaks tipo II1111 Nevala T, Biancari F, Manninen H, et al. Type II endoleak after endovascular repair of abdominal aortic aneurysm: effectiveness of embolization. Cardiovasc Intervent Radiol. 2010;33:278e84.. Dessa maneira, o objetivo deste estudo foi avaliar a existência de algum preditor de sucesso no tratamento de endoleaks tipo II em relação à via de acesso cirúrgica e aos materiais utilizados para embolização, ao tipo de reparo originalmente utilizado para o tratamento do aneurisma e ao padrão de vascularização que nutria o endoleak.

MÉTODO

Trata-se de um estudo retrospectivo que analisou prontuários datados entre 2003 e 2015, originados dos arquivos do Parkland Memorial Hospital, University of Texas Southwestern Hospital e VA Medical Center. Foram contabilizados 31 pacientes, em um total de 41 procedimentos de embolização de endoleak tipo II.

As indicações de intervenção foram endoleak tipo II persistente por mais de 6 meses ou expansão do saco aneurismático de mais de 5 mm. Os pacientes foram submetidos a embolização do saco aneurismático e/ou dos ramos que nutrem o endoleak com sistemas líquidos de embolização, como Onyx®18 e Onyx®34, coils, plugue vascular Amplatzer®, trombina ou uma combinação variável entre esses materiais. As embolizações foram realizadas por via translombar ou endovascular. Na via endovascular, o acesso foi obtido através da artéria femoral, sendo o endoleak acessado pela artéria ilíaca interna (AII) ou pela artéria mesentérica superior (AMS), dependendo da anatomia mais favorável em cada caso. Sucesso técnico foi definido como ausência de necessidade de reintervenção. O teste de qui-quadrado e o teste exato de Fisher foram utilizados para a análise estatística. O nível de significância estatística considerado foi de 95% (p & 0,05).

RESULTADOS

A idade média dos pacientes foi de 75 anos [intervalo interquartil (IQR) = 68-82 anos], dos quais 87,1% (27) eram homens e 12,9% (4) eram mulheres. Dos 31 pacientes, 16,1% (5) tiveram seus aneurismas de aorta abdominal (AAA) tratados pela implantação de prótese endovascular fenestrada (fenestrated endovascular aortic aneurysm repair - FEVAR) e 83,9% (26) através de EVARs. O tempo médio de seguimento entre a reparação dos AAAs e a intervenção para o tratamento dos endoleaks tipo II foi de 14 meses (IQR = 8,5-30,5 meses).

Após a primeira intervenção para tratamento de endoleak tipo II, 35,4% (11) dos pacientes necessitaram de uma reintervenção. No entanto, apenas 10 pacientes efetivamente foram submetidos a esse segundo procedimento, uma vez que um paciente foi a óbito por uma causa não relacionada. O tempo médio de seguimento entre a primeira embolização e a reintervenção foi de 5,5 meses (intervalo IQR, 4-37 meses). Dessas reintervenções, 20% (2) não atingiram total resolução do endoleak durante o procedimento. Nesta série, 12,9% (4) dos pacientes morreram por causas não relacionadas aos endoleaks tipo II e 6,4% (2) perderam o seguimento após a primeira intervenção do endoleak.

Dos 41 procedimentos realizados, 34,15% (14) foram conduzidos por acesso translombar, 63,41% (26) através da artéria femoral e 2,44% (1) por uma combinação de ambos os acessos. Em relação aos materiais emboligênicos adotados, o mais utilizado foi Onyx®18 de forma isolada em 36,59% (15). Os demais materiais empregados e suas respectivas combinações e frequências podem ser visualizados na Tabela 1.

Tabela 1
Materiais utilizados para embolização dos endoleaks tipo II.

Quanto à análise estatística da taxa de sucesso da embolização do endoleak tipo II em relação a esses diferentes tipos de materiais, comparou-se os tipos de Onyx® 18 e 34 entre si, o uso desse material associado aos coils ou de maneira isolada e, ainda, a escolha por coils isolados com o uso de Onyx® de maneira isolada. Não houve qualquer diferença estatisticamente significativa nessa comparação.

Em relação à via de acesso utilizada para a correção do endoleak, a taxa de sucesso quando a via escolhida era translombar foi de 78,57% (11) comparada com 73,08% (19) quando o acesso era realizado através da artéria femoral. Contudo, essa não foi considerada uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,07), demonstrando que a via de acesso, nesse estudo, não foi um fator preditor de sucesso para o procedimento. Além disso, o tipo de reparo utilizado inicialmente para o tratamento do AAA (FEVAR ou EVAR) também não exerceu qualquer influência sobre o tratamento do endoleak.

O único fator preditor de sucesso encontrado foi a artéria que nutria o endoleak. A taxa de sucesso foi de 71,43% (10) quando as artérias lombares eram a fonte de suprimento, 80% (8) se a fonte era a AMI e 40% (2) se houvesse associação das artérias lombares com a AMI nutrindo o endoleak (p & 0,05) (Figura 1).

Figura 1
Taxa de sucesso da embolização de endoleak tipo II de acordo com a artéria que nutre o endoleak.

DISCUSSÃO

O objetivo do tratamento do AAA é excluí-lo do fluxo sanguíneo, impedindo seu crescimento e diminuindo seu risco de ruptura33 Paravastu SC, Jayarajasingam R, Cottam R, Palfreyman SJ, Michaels JA, Thomas SM. Endovascular Repair of Abdominal Aortic Aneurysm. Cochrane Database Syst Rev. 2014;1:CD004178. PMid:24453068.. A ocorrência de leaks de sangue para dentro de um aneurisma já tratado, o que ocorre principalmente após sua correção endovascular, pode levar à persistência do risco de ruptura apesar da terapia realizada. Dessa maneira, existe a necessidade de acompanhamento regular dos pacientes tratados com EVAR como meio de detecção e tratamento desses potenciais endoleaks11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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2 Stather PW, Sidloff D, Dattani N, Choke E, Bown MJ, Sayers RD. Systematic review and meta-analysis of the early and late outcomes of open and endovascular repair of abdominal aortic aneurysm. Br J Surg. 2013;100(7):863-72. http://dx.doi.org/10.1002/bjs.9101. PMid:23475697.
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-33 Paravastu SC, Jayarajasingam R, Cottam R, Palfreyman SJ, Michaels JA, Thomas SM. Endovascular Repair of Abdominal Aortic Aneurysm. Cochrane Database Syst Rev. 2014;1:CD004178. PMid:24453068..

Os endoleaks tipo II, que representam o subtipo mais frequente de endoleak, decorrem da manutenção da perviedade de ramos arteriais que emergem do aneurisma, podendo gerar uma perfusão retrógrada do mesmo e, em alguns casos, crescimento do saco aneurismático11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,22 Stather PW, Sidloff D, Dattani N, Choke E, Bown MJ, Sayers RD. Systematic review and meta-analysis of the early and late outcomes of open and endovascular repair of abdominal aortic aneurysm. Br J Surg. 2013;100(7):863-72. http://dx.doi.org/10.1002/bjs.9101. PMid:23475697.
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. Isso pode ocorrer com apenas um ramo de nutrição; no entanto, a presença de vários ramos é comum. As origens anatômicas mais frequentes desse tipo de endoleak são as artérias lombares e a AMI11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,22 Stather PW, Sidloff D, Dattani N, Choke E, Bown MJ, Sayers RD. Systematic review and meta-analysis of the early and late outcomes of open and endovascular repair of abdominal aortic aneurysm. Br J Surg. 2013;100(7):863-72. http://dx.doi.org/10.1002/bjs.9101. PMid:23475697.
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,44 Haulon S, Tyazi A, Willoteaux S, Koussa M, Lions C, Beregi JP. Embolization of type II endoleaks after aorticstent-graft implantation: Technique andimmediate results. J Vasc Surg. 2001;34(4):600-5. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2001.117888. PMid:11668311.
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.

Até o presente momento, não existe uma abordagem universalmente aceita para o manejo de tais endoleaks. Um recente estudo multicêntrico, que incluiu 1.736 pacientes submetidos a EVAR, dos quais 474 desenvolveram endoleak tipo II, não encontrou aumento da taxa de mortalidade relacionada ao aneurisma pela presença de um endoleak tipo II, mesmo quando se comparou pacientes com endoleak e aumento do saco aneurismático que foram apenas acompanhados com pacientes que realizaram intervenção do leak1212 Walker J, Tucker LY, Goodney P, et al. Type II endoleak with or without intervention after endovascular aortic aneurysm repair does not change aneurysm-related outcomes despite sac growth. J Vasc Surg. 2015;62(3):551-61. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2015.04.389. PMid:26059094.
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.

Hajibandeh et al., em sua metanálise, também afirmaram que a ruptura de um aneurisma devido a um endoleak tipo II isolado é raro. Entretanto, concluíram que mais estudos prospectivos de longo prazo são necessários para melhor avaliar o tema1313 Hajibandeh S, Ahmad N, Antoniou GA, Torella F. Is intervention better than surveillance in patients with type 2 endoleak post-endovascular abdominal aortic aneurysm repair? Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2015;20(1):128-34. http://dx.doi.org/10.1093/icvts/ivu335. PMid:25301297.
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.

Nos casos em que se opta por realizar a intervenção do endoleak tipo II, existem diferentes formas de fazê-lo. Alguns autores defendem a embolização dos vasos de nutrição do leak, já outros propõem a embolização do próprio saco aneurismático11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,44 Haulon S, Tyazi A, Willoteaux S, Koussa M, Lions C, Beregi JP. Embolization of type II endoleaks after aorticstent-graft implantation: Technique andimmediate results. J Vasc Surg. 2001;34(4):600-5. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2001.117888. PMid:11668311.
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. Com relação à via de acesso, as opções disponíveis são a embolização translombar, a embolização endovascular ou, ainda, a ligadura cirúrgica do vaso responsável. Além disso, diversos materiais estão disponíveis para selar o vaso que nutre o leak, tais como coil, Onyx®, Amplatzer®, trombina, dentre outros, os quais podem ser usados isoladamente ou em diferentes combinações (Figura 2)11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,44 Haulon S, Tyazi A, Willoteaux S, Koussa M, Lions C, Beregi JP. Embolization of type II endoleaks after aorticstent-graft implantation: Technique andimmediate results. J Vasc Surg. 2001;34(4):600-5. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2001.117888. PMid:11668311.
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Figura 2
Embolização de endoleak tipo II por via translombar utilizando Onyx®18.

A embolização percutânea transarterial é a intervenção mais utilizada na abordagem de endoleaks tipo II11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,1414 Jouhannet C, Alsac JM, Julia P, et al. Reinterventions for type 2 endoleaks with enlargement of the aneurismal sac after endovascular treatment of abdominal aortic aneurysms. Ann Vasc Surg. 2014;28(1):192-200. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2012.10.038. PMid:24200135.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2012.10...
. Geralmente, é realizada por acesso femoral, e o vaso responsável pelo endoleak pode ser acessado pela cateterização da AII ou da AMS11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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. Já a embolização translombar é uma forma de tratamento minimamente invasivo, com tempo de procedimento e utilização de meios de contraste limitados, apresentando-se como uma alternativa, particularmente quando o acesso transarterial não é possível (Figura 3)11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,1515 Van Bindsbergen L, Braak SJ, van Strijen MJL, de Vries JPPM, Type II. Endoleak embolization after endovascular abdominal aortic aneurysm repair with use of real-time three-dimensional fluoroscopic needle guidance. J Vasc Interv Radiol. 2010;21(9):1443-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvir.2010.05.016. PMid:20708410.
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.

Figura 3
Embolização de endoleak tipo II por via translombar. Cálculo da trajetória por tomografia computadorizada tridimensional em tempo real. A trajetória ideal da agulha é determinada pelo cirurgião vascular marcando o endoleak como alvo e tendo o cuidado de evitar estruturas anatômicas vitais.

Não existe consenso na literatura sobre qual dessas duas opções de acesso (transarterial ou translombar) apresenta maior taxa de sucesso. A maioria dos estudos demonstra resultados superiores da abordagem translombar, com menores taxas de recorrência e menos complicações11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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,22 Stather PW, Sidloff D, Dattani N, Choke E, Bown MJ, Sayers RD. Systematic review and meta-analysis of the early and late outcomes of open and endovascular repair of abdominal aortic aneurysm. Br J Surg. 2013;100(7):863-72. http://dx.doi.org/10.1002/bjs.9101. PMid:23475697.
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. Entretanto, como regra geral, o método translombar é utilizado como segunda linha de tratamento, após a falha da abordagem transarterial, criando um viés na análise dos resultados11 Avgerinos ED, Chaer RA, Makaroun MS, Type II. Endoleaks. J Vasc Surg. 2014;60(5):1386-91. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2014.07.100. PMid:25175637.
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. Por outro lado, Stavropoulos et al.1616 Stavropoulos SW, Park J, Fairman R, Carpenter J. Type 2 endoleak embolization comparison: translumbar embolization versus modified transarterial embolization. J Vasc Interv Radiol. 2009;20(10):1299-302. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvir.2009.07.003. PMid:19695902.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvir.2009.07...
encontraram, em seu estudo, resultados semelhantes na comparação entre essas duas abordagens, fato que também foi observado na casuística do presente estudo. Da mesma forma, analisando os diferentes materiais utilizados para embolização, não houve qualquer diferença estatisticamente significativa de superioridade entre os materiais, fato que também foi evidenciado por outros estudos na literatura1414 Jouhannet C, Alsac JM, Julia P, et al. Reinterventions for type 2 endoleaks with enlargement of the aneurismal sac after endovascular treatment of abdominal aortic aneurysms. Ann Vasc Surg. 2014;28(1):192-200. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2012.10.038. PMid:24200135.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2012.10...
.

Algumas referências subdividem os endoleaks tipo II em: IIa ou simples, quando apenas um ramo patente nutre o leak, e tipo IIb ou complexo, quando dois ou mais ramos o nutrem1515 Van Bindsbergen L, Braak SJ, van Strijen MJL, de Vries JPPM, Type II. Endoleak embolization after endovascular abdominal aortic aneurysm repair with use of real-time three-dimensional fluoroscopic needle guidance. J Vasc Interv Radiol. 2010;21(9):1443-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvir.2010.05.016. PMid:20708410.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvir.2010.05...
. Normalmente, os endoleaks tipo II simples são autolimitados, enquanto os endoleaks complexos podem persistir e causar aumento do saco aneurismático1515 Van Bindsbergen L, Braak SJ, van Strijen MJL, de Vries JPPM, Type II. Endoleak embolization after endovascular abdominal aortic aneurysm repair with use of real-time three-dimensional fluoroscopic needle guidance. J Vasc Interv Radiol. 2010;21(9):1443-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvir.2010.05.016. PMid:20708410.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvir.2010.05...
.

No presente estudo, o único fator preditor de sucesso da embolização de endoleaks tipo II foi a artéria que nutria o endoleak, sendo a taxa de sucesso significativamente menor quando havia uma associação das artérias lombares com a AMI.

CONCLUSÃO

A terapia dos endoleaks tipo II se mantém desafiadora, apresentando necessidade de reintervenção em aproximadamente 36% dos casos. Não existe diferença estatisticamente significativa entre as técnicas realizadas e os materiais utilizados para o tratamento dessa condição. O único preditor de sucesso encontrado nesta casuística foi a artéria que nutre o endoleak. Ainda é necessária uma avaliação mais aprofundada do tratamento de endoleaks tipo II para definir a melhor forma e o melhor momento de repará-los.

  • Fonte de financiamento: Nenhuma.
  • O estudo foi realizado com arquivos provenientes do Parkland Memorial Hospital, UT Southwestern Hospital e VA Medical Center, localizados em Dallas, Texas, EUA.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Mar 2016
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    22 Out 2015
  • Aceito
    08 Dez 2015
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