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Anticoagulantes orais diretos no tratamento do tromboembolismo venoso em pacientes com câncer

Os novos anticoagulantes orais (NOACs) vêm sendo chamados mais recentemente de anticoagulantes orais diretos (DOACs), tendo em vista o foco de ação direto em sítios específicos da cascata de coagulação, como o fator Xa (rivaroxabana, apixabana e edoxabana) e o fator IIa (dabigatrana). Já a antivitamina K (AVK) age de forma indireta, assim como a heparina e seus derivados. Além disso, as pesquisas com os DOACs se iniciaram por volta do ano 2000 e, assim, estes já não são considerados tão novos11 Johnston S. An evidence summary of the management of patients taking direct oral anticoagulants (DOACs) undergoing dental surgery. Int J Oral Maxillofac Surg. 2016;45(5):618-30. PMid:26774397. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijom.2015.12.010.
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Essas drogas vêm sendo prescritas com frequência crescente para o tratamento do tromboembolismo venoso (TEV), tendo em vista fatores como via de administração oral em doses fixas, boa biodisponibilidade, meia-vida variando de 8 a 15 horas, sem necessidade de monitoramento22 Wang Y, Bajorek B. New oral anticoagulants in practice: pharmacological and practical considerations. Am J Cardiovasc Drugs. 2014;14(3):175-89. PMid:24452600. http://dx.doi.org/10.1007/s40256-013-0061-0.
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. A via de excreção renal varia conforme a droga, com 25% para apixabana, 33% para rivaroxabana, 50% para edoxabana e 80% para dabigatrana22 Wang Y, Bajorek B. New oral anticoagulants in practice: pharmacological and practical considerations. Am J Cardiovasc Drugs. 2014;14(3):175-89. PMid:24452600. http://dx.doi.org/10.1007/s40256-013-0061-0.
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. Em todas elas, o metabolismo é feito pela p-glicoproteína, sendo que para rivaroxabana e apixabana há envolvimento do citocromo P450-3A4. Em função disso, há uma série de interações medicamentosas com medicamentos que também utilizam essas vias metabólicas33 Lee AY, Carrier M. Treatment of cancer-associated thrombosis: perspectives on the use of novel oral anticoagulants. Thromb Res. 2014;133(Suppl 2):S167-71. PMid:24862138. http://dx.doi.org/10.1016/S0049-3848(14)50027-8.
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. Como limitações, destacam-se a falta de antídotos e os preços em nosso meio. Nos casos de sangramento, a conduta recomendada é a suspensão das drogas (todas com meia-vida inferior à das AVKs), transfusões de sangue e concentrados de fatores da coagulação44 Jackson LR 2nd, Becker RC. Novel oral anticoagulants: pharmacology, coagulation measures, and considerations for reversal. J Thromb Thrombolysis. 2014;37(3):380-91. PMid:23928868. http://dx.doi.org/10.1007/s11239-013-0958-0.
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. Para a dabigatrana, a diálise é uma opção devido à predominância de excreção renal; para a apixabana e a rivaroxabana, o uso de carvão ativado pode ser útil para a redução da absorção dessas drogas22 Wang Y, Bajorek B. New oral anticoagulants in practice: pharmacological and practical considerations. Am J Cardiovasc Drugs. 2014;14(3):175-89. PMid:24452600. http://dx.doi.org/10.1007/s40256-013-0061-0.
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,55 Tran H, Joseph J, Young L, et al. New oral anticoagulants: a practical guide on prescription, laboratory testing and peri-procedural/bleeding management. Australasian Society of Thrombosis and Haemostasis. Intern Med J. 2014;44(6):525-36. PMid:24946813. http://dx.doi.org/10.1111/imj.12448.
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Os DOACs foram licenciados para profilaxia do TEV em pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas de grande porte66 Yoshida RA, Yoshida WB, Rollo HA. New anticoagulants for the prophylaxis of venous thromboembolism. J Vasc Bras. 2011;10:145-53., prevenção de acidente vascular cerebral em pacientes com fibrilação atrial e tratamento do TEV77 Marques MA. New oral anticoagulants in Brazil. J Vasc Bras. 2013;12(3):185-6. http://dx.doi.org/10.1590/jvb.2013.046.
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. Uma metanálise de estudos de fase III de tratamento do TEV com os DOACs mostrou eficácia e segurança similares ao tratamento convencional88 van Es N, Coppens M, Schulman S, Middeldorp S, Büller HR. Direct oral anticoagulants compared with vitamin K antagonists for acute venous thromboembolism: evidence from phase 3 trials. Blood. 2014;124(12):1968-75. PMid:24963045. http://dx.doi.org/10.1182/blood-2014-04-571232.
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O câncer é um fator de risco importante para o TEV, uma vez que está presente em todos os elementos da tríade de Virchow99 Elewa H, Elrefai R, Barnes GD. Cancer-associated venous thromboembolism. Curr Treat Options Cardiovasc Med. 2016;18(4):23. PMid:26909817. http://dx.doi.org/10.1007/s11936-016-0445-y.
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. Pode interferir no fluxo sanguíneo através da possibilidade de aumento da viscosidade sanguínea e compressão tumoral. Com relação à lesão endotelial, pode invadir a parede vascular, aumentar o fator de von Willebrand e ativar a trombomodulina e interleucinas. Com relação à hipercoagulabilidade, pode promover aumento do fator tissular, do fibrinogênio e do inibidor da ativação da plasmina, além de diminuição da antitrombina e das proteínas C e S99 Elewa H, Elrefai R, Barnes GD. Cancer-associated venous thromboembolism. Curr Treat Options Cardiovasc Med. 2016;18(4):23. PMid:26909817. http://dx.doi.org/10.1007/s11936-016-0445-y.
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Nos pacientes com TEV não provocado, cerca de 20 a 25% têm câncer associado. Por outro lado, nos pacientes com câncer, o risco de TEV aumenta de 6 a 7 vezes. Nos pacientes com metástases, o risco aumenta 3,2 vezes1010 Gerotziafas GT, Mahe I, Elalamy I. New orally active anticoagulant agents for the prevention and treatment of venous thromboembolism in cancer patients. Ther Clin Risk Manag. 2014;10:423-36. PMid:24966680. http://dx.doi.org/10.2147/TCRM.S49063.
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,1111 Bauersachs RM. Guidelines for the management of cancer and thrombosis - Special aspects in women. Thromb Res. 2015;135(Suppl 1):S16-22. PMid:25903527. http://dx.doi.org/10.1016/S0049-3848(15)50434-9.
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As diretrizes para o tratamento de TEV associado ao câncer (CAT) recomendam que ele seja feito com heparina de baixo peso molecular (HBPM)1212 Schunemann HJ, Ventresca M, Crowther M, et al. Use of heparins in patients with cancer: individual participant data meta-analysis of randomised trials study protocol. BMJ Open. 2016;6(4):e010569. PMid:27130164. http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2015-010569.
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,1313 Kearon C, Akl EA, Ornelas J, et al. Antithrombotic therapy for VTE Disease: chest guideline and expert panel report. Chest. 2016;149(2):315-52. PMid:26867832. http://dx.doi.org/10.1016/j.chest.2015.11.026.
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. Para os casos em que esse tratamento não é possível, as opções secundárias são AVK ou DOAC, sem preferência entre os dois1313 Kearon C, Akl EA, Ornelas J, et al. Antithrombotic therapy for VTE Disease: chest guideline and expert panel report. Chest. 2016;149(2):315-52. PMid:26867832. http://dx.doi.org/10.1016/j.chest.2015.11.026.
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. Essa recomendação se deve à superioridade da HBPM em relação à AVK quanto à recorrência de TEV e pela similaridade de sangramento1212 Schunemann HJ, Ventresca M, Crowther M, et al. Use of heparins in patients with cancer: individual participant data meta-analysis of randomised trials study protocol. BMJ Open. 2016;6(4):e010569. PMid:27130164. http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2015-010569.
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,1414 Lee AY, Levine MN, Baker RI, et al. Low-molecular-weight heparin versus a coumarin for the prevention of recurrent venous thromboembolism in patients with cancer. N Engl J Med. 2003;349(2):146-53. PMid:12853587. http://dx.doi.org/10.1056/NEJMoa025313.
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15 Lee AY, Bauersachs R, Janas MS, et al. CATCH: a randomised clinical trial comparing long-term tinzaparin versus warfarin for treatment of acute venous thromboembolism in cancer patients. BMC Cancer. 2013;13(1):284. PMid:23764005. http://dx.doi.org/10.1186/1471-2407-13-284.
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-1616 Lee AY, Peterson EA. Treatment of cancer-associated thrombosis. Blood. 2013;122(14):2310-7. PMid:23843493. http://dx.doi.org/10.1182/blood-2013-04-460162.
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. Além disso, ainda não foi feito nenhum estudo específico de CAT com os DOACs em comparação com as HBPMs. As informações disponíveis derivam de análises de subgrupos de tratamento de TEV dos estudos de Fase III com os DOACs, em que o comparador foi a AVK1717 van der Hulle T, den Exter PL, Kooiman J, van der Hoeven JJ, Huisman MV, Klok FA. Meta-analysis of the efficacy and safety of new oral anticoagulants in patients with cancer-associated acute venous thromboembolism. J Thromb Haemost. 2014;12(7):1116-20. PMid:24819040. http://dx.doi.org/10.1111/jth.12605.
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Essas análises mostraram, em geral, similaridade de eficácia e segurança dos DOACs em relação à AVK nos subgrupos de pacientes com CAT e sem diferença entre os DOACs1818 Vedovati MC, Germini F, Agnelli G, Becattini C. Direct oral anticoagulants in patients with VTE and cancer: a systematic review and meta-analysis. Chest. 2015;147(2):475-83. PMid:25211264. http://dx.doi.org/10.1378/chest.14-0402.
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. As limitações desses estudos incluem: ausência de comparação com as HBPMs (padrão-ouro), heterogeneidade entre as bases de dados dos estudos-fonte – sem estratificação dos tipos de TEV e de câncer – e a atividade ou não desta última doença no momento do tratamento. Portanto, os subgrupos avaliados podem não ser totalmente representativos do universo de pacientes com ambas as doenças (CAT)1818 Vedovati MC, Germini F, Agnelli G, Becattini C. Direct oral anticoagulants in patients with VTE and cancer: a systematic review and meta-analysis. Chest. 2015;147(2):475-83. PMid:25211264. http://dx.doi.org/10.1378/chest.14-0402.
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. Finalmente, o tamanho da amostra dos subgrupos com câncer é inferior ao necessário para conclusões mais definitivas sobre eficácia e segurança1919 Miot HA. Tamanho da amostra em estudos clínicos e experimentais. J Vasc Bras. 2011;10:275-8..

Assim, como conclusão, os estudos indicam que os DOACs parecem ser igualmente eficazes e seguros em comparação com a AVK em pacientes com CAT. No entanto, estudos clínicos dedicados a esses pacientes, incluindo como comparador as HBPMs, são necessários para obtenção de melhor nível de evidência nesses casos.

  • O estudo foi realizado no Departamento de Cirurgia e Ortopedia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP, Brasil.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2016

Histórico

  • Recebido
    20 Maio 2016
  • Aceito
    20 Maio 2016
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