Acessibilidade / Reportar erro

Tratamento endovascular de dissecção traumática de aorta torácica – série de 16 casos

Resumo

Contexto

As lesões de aorta nos traumatismos torácicos fechados possuem alta mortalidade pré-hospitalar e no serviço de emergência. O tratamento endovascular é um método de escolha para o tratamento dessas lesões; entretanto, muitos resultados em relação a essa abordagem permanecem desconhecidos.

Objetivos

O objetivo deste trabalho é descrever a experiência no tratamento endovascular de lesões traumáticas de aorta torácica em um centro de referência em trauma.

Métodos

Este trabalho trata-se de estudo descritivo realizado através da revisão de prontuários eletrônicos de pacientes vítimas de trauma contuso de aorta torácica, atendidos em um hospital de referência em trauma na cidade de Curitiba (Paraná, Brasil).

Resultados

Dezesseis pacientes foram incluídos no estudo. Todos os pacientes foram vítimas de acidente de trânsito, sendo que 75% dos acidentes ocorreram por colisão entre veículos. As lesões de aorta variaram de Grau I a IV, e a maioria dos pacientes apresentou lesão de grau II (50%). Todos os pacientes foram submetidos a terapia endovascular com implante de endoprótese sendo realizado em média 71 horas após o trauma. Dois pacientes evoluíram a óbito, porém de causas não relacionadas à lesão de aorta. Durante o seguimento, apenas dois pacientes apresentaram complicações (endoleak e progressão da dissecção).

Conclusões

O método endovascular é uma alternativa viável no tratamento de lesões de aorta torácica por trauma contuso. São necessários estudos randomizados e controlados a fim de reforçar a indicação desse método como terapia para esse tipo de lesão.

Palavras-chave:
aorta torácica; lesões; doenças da aorta; procedimentos endovasculares

Abstract

Background

Aortic injuries caused by blunt chest traumas have high pre-hospital and emergency mortality. The endovascular approach is one option for treatment of these injuries, but many outcomes related to this approach remain unknown.

Objectives

The aim of this study is to describe a specialist trauma center’s experience with endovascular treatment of cases like these.

Methods

This is a descriptive study based on review of the electronic medical records of patients who had suffered from blunt thoracic aorta trauma and were seen at a hospital specializing in trauma cases in the city of Curitiba (Paraná, Brazil).

Results

Sixteen patients were included in the study. All patients were traffic accident victims and 75% of the accidents were the result of vehicle collisions. Aortic lesions ranged from grade I to IV and the majority had grade II lesions (50%). All patients underwent endovascular treatment with endografts, an average of 71 hours after the trauma. Two patients died, both from causes unrelated to their aortic injuries. During follow-up, only two patients presented complications (endoleak and progression of the dissection).

Conclusions

The endovascular method is a viable alternative for treatment of blunt trauma thoracic aortic injuries. Randomized and controlled studies are needed to provide evidence to support indication of this method to treat this type of injury.

Keywords:
thoracic aorta; wounds; aortic diseases; endovascular procedures

INTRODUÇÃO

O trauma fechado de aorta torácica é a segunda causa de óbito em pacientes vítimas de trauma e apresenta taxa de mortalidade pré-hospitalar de 80%, ficando atrás apenas do traumatismo craniano11 Shan JG, Zhai XM, Liu JD, Yang WG, Xue S. Thoracic endovascular aortic repair for traumatic thoracic aortic injury: a single-center initial experience. Ann Vasc Surg. 2016;32:104-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09.023. PMid:26802306.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09...
,22 Platz JJ, Fabricant L, Norotsky M. Thoracic trauma: injuries, evaluation, and treatment. Surg Clin North Am. 2017;97(4):783-99. http://dx.doi.org/10.1016/j.suc.2017.03.004. PMid:28728716.
http://dx.doi.org/10.1016/j.suc.2017.03....
. O principal fator de risco para lesão de aorta torácica em trauma contuso é a desaceleração brusca, sendo os mecanismos de trauma mais prevalentes as colisões por automóveis (70%), acidentes com motocicletas, quedas de outro nível e atropelamentos33 Fox N, Schwartz D, Salazar JH, et al. Evaluation and management of blunt traumatic aortic injury: a practice management guideline from the Eastern Association for the Surgery of Trauma. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(1):136-46. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000470. PMid:25539215.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
. Esse tipo de lesão está envolvido em um terço dos casos de morte provocada por colisões entre automóveis44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
.

A maioria dos pacientes vítimas de trauma contuso de aorta torácica são adultos jovens em idade economicamente ativa e apresentam acometimento multissistêmico11 Shan JG, Zhai XM, Liu JD, Yang WG, Xue S. Thoracic endovascular aortic repair for traumatic thoracic aortic injury: a single-center initial experience. Ann Vasc Surg. 2016;32:104-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09.023. PMid:26802306.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09...
, com lesões associadas principalmente em crânio, abdome e/ou membros inferiores55 Scalea TM, Feliciano DV, DuBose JJ, Ottochian M, O’Connor JV, Morrison JJ. Blunt thoracic aortic injury: endovascular repair is now the standard. J Am Coll Surg. 2019;228(4):605-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022. PMid:30630086.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg....
. O tratamento cirúrgico convencional pode agregar maior risco para esses pacientes politraumatizados e, diante disso, o tratamento endovascular surge como uma alternativa promissora para a abordagem de lesões que acometem a aorta torácica em trauma fechado11 Shan JG, Zhai XM, Liu JD, Yang WG, Xue S. Thoracic endovascular aortic repair for traumatic thoracic aortic injury: a single-center initial experience. Ann Vasc Surg. 2016;32:104-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09.023. PMid:26802306.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09...
.

Nas últimas duas décadas, houve uma importante evolução no tratamento dos pacientes que permanecem vivos até receberem atendimento hospitalar. Isso ocorreu graças ao desenvolvimento dos sistemas pré-hospitalares, à capacitação das equipes de emergência e ao aumento dos recursos diagnósticos, como tomografia computadorizada (TC) e métodos endovasculares44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
,55 Scalea TM, Feliciano DV, DuBose JJ, Ottochian M, O’Connor JV, Morrison JJ. Blunt thoracic aortic injury: endovascular repair is now the standard. J Am Coll Surg. 2019;228(4):605-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022. PMid:30630086.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg....
. Atualmente, o tratamento endovascular se tornou o método de eleição para doentes estáveis hemodinamicamente com lesão da aorta torácica por trauma fechado, além de se associar a menores taxas de mortalidade quando comparado ao tratamento cirúrgico convencional66 Grigorian A, Spencer D, Donayre C, et al. National trends of thoracic endovascular aortic repair (tevar) versus open repair in blunt thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;52:72-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03.045. PMid:29886219.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03...
.

As injúrias provocadas à aorta pelo trauma contuso de tórax vão desde lacerações na camada íntima do vaso até a completa ruptura de sua parede77 Khoynezhad A, Azizzadeh A, Donayre CE, Matsumoto A, Velazquez O, White R. Results of a multicenter, prospective trial of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Vasc Surg. 2013;57(4):899-905.e1. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10.099. PMid:23384495.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10....
,88 Trust MD, Teixeira PGR. Blunt trauma of the aorta, current guidelines. Cardiol Clin. 2017;35(3):441-51. http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03.010. PMid:28683912.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03....
, sendo a principal porção acometida o ligamento arterioso, uma região imediatamente distal à artéria subclávia esquerda por ser uma região de transição entre o arco aórtico (relativamente móvel) e a aorta descendente (mais fixa)22 Platz JJ, Fabricant L, Norotsky M. Thoracic trauma: injuries, evaluation, and treatment. Surg Clin North Am. 2017;97(4):783-99. http://dx.doi.org/10.1016/j.suc.2017.03.004. PMid:28728716.
http://dx.doi.org/10.1016/j.suc.2017.03....
.

A classificação mais utilizada para lesões traumáticas de aorta torácica é a proposta por Khoynezhad et al.77 Khoynezhad A, Azizzadeh A, Donayre CE, Matsumoto A, Velazquez O, White R. Results of a multicenter, prospective trial of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Vasc Surg. 2013;57(4):899-905.e1. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10.099. PMid:23384495.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10....
e adotada pela Society for Vascular Surgery, que classifica as lesões em: Grau I (confinada à camada íntima), Grau II (hematoma intramural), Grau III (pseudoaneurisma) e Grau IV (rotura completa da parede arterial). Diante da consolidação do tratamento endovascular na prática cirúrgica e das incertezas que ainda existem acerca desse procedimento55 Scalea TM, Feliciano DV, DuBose JJ, Ottochian M, O’Connor JV, Morrison JJ. Blunt thoracic aortic injury: endovascular repair is now the standard. J Am Coll Surg. 2019;228(4):605-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022. PMid:30630086.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg....
, o objetivo deste trabalho é descrever a experiência de um centro de trauma referência em Curitiba (Paraná, Brasil) no tratamento endovascular de 16 casos de lesão em aorta torácica por trauma contuso.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de estudo descritivo, retrospectivo, realizado através da revisão de prontuários eletrônicos de pacientes vítimas de trauma contuso de aorta torácica, atendidos num hospital referência em atendimento ao paciente politraumatizado, admitidos entre 2012 e 2019 que foram submetidos ao tratamento endovascular. Foi realizada avaliação qualitativa de variáveis epidemiológicas (sexo, idade, mecanismo do trauma, lesões associadas), bem como das variáveis relacionadas ao trauma de aorta (grau da lesão de acordo com a classificação da Society for Vascular Surgery, material utilizado no tratamento endovascular, oversizing, tempo decorrido entre o trauma e o tratamento endovascular, seguimento com imagem e complicações associadas ao método).

RESULTADOS

Foram incluídos 16 pacientes no estudo, sendo a maioria do sexo masculino (n = 14). A média de idade foi de 37 anos e todos os pacientes foram vítimas de acidente de trânsito, sendo que 12 acidentes ocorreram por colisão entre veículos (75%) — sendo metade desses pacientes condutores de motocicletas e a outra metade, condutores de automóveis —, três pacientes (18,7%) foram vítimas de atropelamento e um paciente foi vítima de capotamento de automóvel (Tabela 1).

Tabela 1
Características epidemiológicas dos pacientes.

A maior parte dos pacientes (87,5%) apresentou lesões associadas ao trauma contuso de aorta. Os principais sítios foram tórax, membros inferiores e crânio (Figura 1). Dez (62,5%) pacientes apresentaram fraturas de arcos costais, associadas ou não com hemo/pneumotórax. Oito pacientes (50%) apresentaram fraturas de membros, sendo a maior parte deles de membros inferiores. Quatro pacientes (25%) apresentaram traumatismo cranioencefálico (TCE). Três pacientes (18,75%) apresentaram lesão intra-abdominal, porém, apenas um foi submetido a tratamento cirúrgico, sendo os demais submetidos a tratamento conservador. Dois pacientes (12,5%) apresentaram fratura de coluna, sendo um deles com lesão raquimedular completa.

Figura 1
Gráfico com as principais lesões associadas.

As lesões de aorta variaram de Grau I a IV: Grau I – 1 caso; Grau II – 8 casos; Grau III – 6 casos; Grau IV – 1 caso (Figura 2). Todos os pacientes foram submetidos à terapia endovascular com implante de endoprótese. O tratamento ocorreu após um tempo médio 71,4 horas do episódio de trauma (o tempo mínimo foi 6 horas e o tempo máximo foi 288 horas). As Figuras 3, 4, 5 e 6 representam os graus de lesão, de grau I a grau IV, respectivamente, identificados na presente casuística.

Figura 2
Gráfico com a divisão dos casos de acordo com o grau da lesão.
Figura 3
Angiotomografia diagnóstica com lesão de aorta Grau 1 – caso 3.
Figura 4
Angiotomografia diagnóstica com lesão de aorta Grau 2 – caso 9.
Figura 5
Angiotomografia diagnóstica com lesão de aorta Grau 3 – caso 10.
Figura 6
Angiotomografia diagnóstica com lesão de aorta Grau 4 – caso 6.

Em relação ao material escolhido no tratamento endovascular da lesão de aorta, a endoprótese Valiant Captivia® (Medtronic, Minneapolis, EUA) foi utilizada em oito pacientes; a prótese Endurant II® (Medtronic) foi utilizada em quatro pacientes e as próteses Apolo Reta Torácica (NANO Endoluminal®, Santa Catarina, Brasil), Gore Tag® (L. Gore & Associates, Inc., Delaware, EUA), Cook Zenith® (Cook Group Inc., Indiana, EUA) e Endurant® (Medtronic) foram utilizadas uma vez cada uma. Em dois pacientes, foram colocadas endopróteses na artéria subclávia esquerda, sendo que em ambos os casos o material utilizado foi Advanta V12® (Getinge AB, Getinge, Suécia). As Figuras 7 e 8 representam os exames de controle de dois pacientes após o implante da endoprótese. Os dados relacionados a diâmetro proximal, distal, oversizing e intervalo entre trauma e tratamento estão descritos na Tabela 2.

Figura 7
Angiotomografia de controle em 30 dias após o tratamento endovascular – caso 2.
Figura 8
Angiotomografia de controle em 6 meses após o tratamento endovascular – caso 5.
Tabela 2
Descrição dos casos de acordo com o grau, dimensões da aorta, material utilizado, oversizing, intervalo entre trauma e tratamento e as complicações cirúrgicas.

Dois pacientes do estudo evoluíram para óbito, sendo que um deles faleceu 6 dias após a colocação da endoprótese e o outro, 12 dias após. Os dois os pacientes faleceram por causas não relacionadas ao trauma de aorta torácica: ambos por choque séptico, um de foco abdominal e outro de foco pulmonar.

Durante o seguimento, apenas dois pacientes apresentaram complicações relacionadas ao tratamento endovascular. Um paciente apresentou endoleak tipo II, enquanto, em outro paciente, ocorreu progressão da dissecção, sendo optado pelo tratamento conservador em ambos os casos, os quais evoluíram sem novas intercorrências.

DISCUSSÃO

Os pacientes jovens em idade economicamente ativa são os principais envolvidos nos traumas, seja pela maior exposição a riscos ou pelos hábitos de vida envolvidos. A maioria dos pacientes eram jovens, sendo acidentes de trânsito responsáveis por todos os casos do presente estudo11 Shan JG, Zhai XM, Liu JD, Yang WG, Xue S. Thoracic endovascular aortic repair for traumatic thoracic aortic injury: a single-center initial experience. Ann Vasc Surg. 2016;32:104-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09.023. PMid:26802306.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09...
,33 Fox N, Schwartz D, Salazar JH, et al. Evaluation and management of blunt traumatic aortic injury: a practice management guideline from the Eastern Association for the Surgery of Trauma. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(1):136-46. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000470. PMid:25539215.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
. As lesões de aorta geralmente estão envolvidas com mecanismos de trauma de alta energia, o que se relaciona com acometimento simultâneo de outros órgãos. As lesões torácicas, como fratura de arcos costais e/ou hemo/pneumotórax, e as fraturas de membros são frequentemente associadas às lesões aórticas55 Scalea TM, Feliciano DV, DuBose JJ, Ottochian M, O’Connor JV, Morrison JJ. Blunt thoracic aortic injury: endovascular repair is now the standard. J Am Coll Surg. 2019;228(4):605-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022. PMid:30630086.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg....
,99 Harris DG, Rabin J, Bhardwaj A, et al. Nonoperative management of traumatic aortic pseudoaneurysms. Ann Vasc Surg. 2016;35:75-81. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2016.02.021. PMid:27263820.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2016.02...
.

O trauma contuso de aorta torácica é fatal para a maioria dos pacientes. Estima-se que mais de 80% das vítimas morrem antes de chegar ao hospital, enquanto 50% dos pacientes que sobrevivem morrem nas primeiras 24 horas após a admissão hospitalar. O diagnóstico precoce é essencial para o manejo adequado desses pacientes, tanto para evitar a progressão da lesão como para poder planejar o tratamento adequado1010 Spencer MS, Safcsak K, Smith CP, Cheatham ML, Bhullar IS. Nonoperative management rather than endovascular repair may be safe for grade II blunt traumatic aortic injuries: An 11-year retrospective analysis. J Trauma Acute Care Surg. 2018;84(1):133-8. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000001630. PMid:28640779.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
,1111 Tanizaki S, Maeda S, Matano H, et al. Blunt thoracic aortic injury with small pseudoaneurysm may be managed by nonoperative treatment. J Vasc Surg. 2016;63(2):341-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2015.08.107. PMid:26506935.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2015.08....
. Deve-se atentar para o fato de muitas lesões serem subdiagnosticadas na emergência, especialmente se não há repercussão hemodinâmica grave. Sendo assim, a correlação do mecanismo de trauma e o grau de energia envolvido é essencial para suspeição da lesão.

Em relação à correção cirúrgica, a técnica endovascular para o tratamento das lesões de aorta por trauma contuso é uma ferramenta eficaz e factível para os pacientes estáveis hemodinamicamente em detrimento da abordagem cirúrgica convencional44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
. Essa tendência ocorre devido a menores taxas de mortalidade, morbidade e complicações pós-operatórias que a abordagem endovascular possui quando comparada à cirurgia aberta44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
,55 Scalea TM, Feliciano DV, DuBose JJ, Ottochian M, O’Connor JV, Morrison JJ. Blunt thoracic aortic injury: endovascular repair is now the standard. J Am Coll Surg. 2019;228(4):605-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022. PMid:30630086.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg....
. Uma amostra de 3.774 pacientes reuniu vítimas de lesão de aorta torácica por trauma contuso ao longo de dez anos e observou uma tendência significante no declínio do uso da cirurgia convencional e um aumento na escolha da técnica endovascular, bem como redução de 50% da mortalidade dos pacientes submetidos a essa técnica55 Scalea TM, Feliciano DV, DuBose JJ, Ottochian M, O’Connor JV, Morrison JJ. Blunt thoracic aortic injury: endovascular repair is now the standard. J Am Coll Surg. 2019;228(4):605-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022. PMid:30630086.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg....
.

Em um estudo multicêntrico realizado por DuBose et al.44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
, 382 pacientes vítimas de lesão de aorta por contusão torácica foram manejados em três modalidades terapêuticas: conservadora, cirurgia aberta e tratamento endovascular com endoprótese aórtica. Quando comparadas, os autores demonstraram uma menor mortalidade no grupo tratado de forma endovascular, com taxas de 34,4, 19,7 e 8,6% respectivamente44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
. Recentemente, um estudo envolvendo 3.628 pacientes submetidos a tratamento endovascular e cirurgia aberta demostrou, em uma análise de regressão logística multivariada, que a cirurgia aberta representa um fator de risco independente para mortalidade em pacientes vítimas de trauma contuso de aorta [odds ratio (OR) 1.63, intervalo de confiança (IC) 95% 1,19-2,23, p < 0,05]. Ademais, o manejo endovascular se associou a menor tempo de internamento hospitalar total e em unidade de terapia intensiva (UTI), bem como a menor taxa de complicações operatórias66 Grigorian A, Spencer D, Donayre C, et al. National trends of thoracic endovascular aortic repair (tevar) versus open repair in blunt thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;52:72-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03.045. PMid:29886219.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03...
. Diante da consolidação do método endovascular para o tratamento de lesões de aorta torácica por trauma contuso, essa abordagem foi o método de escolha para o tratamento de todos os pacientes do estudo.

A escolha do tratamento mais adequado depende da extensão da injúria aórtica causada pelo trauma contuso, bem da estabilidade hemodinâmica do paciente. Utilizando a classificação proposta por Azizzadeh e utilizada pela Society for Vascular Surgery77 Khoynezhad A, Azizzadeh A, Donayre CE, Matsumoto A, Velazquez O, White R. Results of a multicenter, prospective trial of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Vasc Surg. 2013;57(4):899-905.e1. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10.099. PMid:23384495.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10....
,88 Trust MD, Teixeira PGR. Blunt trauma of the aorta, current guidelines. Cardiol Clin. 2017;35(3):441-51. http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03.010. PMid:28683912.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03....
, os graus de lesão dos pacientes incluídos no presente estudo variaram de I a IV. O tratamento cirúrgico é proposto para os casos com lesões de Grau II, III e IV, embora existam relatos na literatura de tratamento não operatório em alguns casos de pseudoaneurisma traumático88 Trust MD, Teixeira PGR. Blunt trauma of the aorta, current guidelines. Cardiol Clin. 2017;35(3):441-51. http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03.010. PMid:28683912.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03....
,99 Harris DG, Rabin J, Bhardwaj A, et al. Nonoperative management of traumatic aortic pseudoaneurysms. Ann Vasc Surg. 2016;35:75-81. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2016.02.021. PMid:27263820.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2016.02...
. Entretanto, não há consenso sobre quais lesões são indicativas de tratamento cirúrgico, existindo relatos de bons resultados com o tratamento conservador para aqueles que apresentam lesão aórtica Grau I ou II44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
,1010 Spencer MS, Safcsak K, Smith CP, Cheatham ML, Bhullar IS. Nonoperative management rather than endovascular repair may be safe for grade II blunt traumatic aortic injuries: An 11-year retrospective analysis. J Trauma Acute Care Surg. 2018;84(1):133-8. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000001630. PMid:28640779.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
.

No estudo multicêntrico RESCUE (endovascular treatment of blunt thoracic aortic injuries)77 Khoynezhad A, Azizzadeh A, Donayre CE, Matsumoto A, Velazquez O, White R. Results of a multicenter, prospective trial of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Vasc Surg. 2013;57(4):899-905.e1. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10.099. PMid:23384495.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10....
, aproximadamente 18% dos pacientes tratados apresentavam lesões de aorta Grau I. Nesses casos, os critérios para indicação do tratamento foram principalmente lesões intracranianas concomitantes, hipotensão com necessidade de droga vasoativa, lesões extensas de íntima ou lesões concomitantes. Apesar disso, ainda existem controvérsias quanto à indicação de tratamento cirúrgico nesses casos, havendo a possibilidade de tratamento conservador com exames de imagem de controle frequentes. No presente estudo, apenas um paciente foi classificado como Grau I (caso 3), entretanto, foi proposto o tratamento endovascular. A experiência com o tratamento endovascular dessas lesões, assim como a presença de lesões concomitantes (fraturas de arcos costais e pneumotórax) e a incerteza da possibilidade de seguimento com exames de controle de forma adequada foram fatores determinantes para o tratamento desse paciente.

Embora o tratamento endovascular seja uma nova alternativa à cirurgia aberta e ofereça um meio de abordagem menos invasivo aos pacientes que se encontram em um estado crítico, essa técnica pode resultar em complicações importantes relacionadas à endoprótese (endoleak, migração ou ruptura do dispositivo) ou em situações de isquemia devido a eventos embólicos [acidente vascular cerebral (AVC), paraplegia, lesão isquêmica da medula]1212 Pang D, Hildebrand D, Bachoo P. Thoracic endovascular repair (TEVAR) versus open surgery for blunt traumatic thoracic aortic injury. Cochrane Database Syst Rev. 2019;2(2):CD006642. http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD006642.pub3. PMid:30723895.
http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD006...
. Entretanto, observou-se que, nos últimos anos, com o aprimoramento da técnica cirúrgica e das endopróteses, houve uma redução significativa na incidência das complicações relacionadas ao tratamento endovascular33 Fox N, Schwartz D, Salazar JH, et al. Evaluation and management of blunt traumatic aortic injury: a practice management guideline from the Eastern Association for the Surgery of Trauma. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(1):136-46. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000470. PMid:25539215.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
.

Estudos mostraram redução nas taxas de paraplegia33 Fox N, Schwartz D, Salazar JH, et al. Evaluation and management of blunt traumatic aortic injury: a practice management guideline from the Eastern Association for the Surgery of Trauma. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(1):136-46. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000470. PMid:25539215.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
,44 DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521. PMid:25757123.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
,1313 Khoynezhad A, Donayre CE, Azizzadeh A, White R. One-year results of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Thorac Cardiovasc Surg. 2015;149(1):155-61.e4. http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.09.026. PMid:25439771.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.0...
e menor risco de complicações pós-operatórias, como insuficiência renal aguda1414 Chen SW, Wang SY, Liao CH, et al. Timing of intervention in blunt traumatic aortic injury patients: open surgical versus endovascular repair. Ann Vasc Surg. 2015;29(8):1559-66. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.06.073. PMid:26256715.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.06...
e síndrome de desconforto respiratório agudo66 Grigorian A, Spencer D, Donayre C, et al. National trends of thoracic endovascular aortic repair (tevar) versus open repair in blunt thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;52:72-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03.045. PMid:29886219.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03...
, em pacientes com lesões traumáticas de aorta tratados pelo método endovascular quando comparados a pacientes tratados com cirurgia aberta. O risco de AVC em pacientes tratados pelo método endovascular foi comparável ao risco da cirurgia aberta ou não houve diferença estatisticamente significativa entre os métodos33 Fox N, Schwartz D, Salazar JH, et al. Evaluation and management of blunt traumatic aortic injury: a practice management guideline from the Eastern Association for the Surgery of Trauma. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(1):136-46. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000470. PMid:25539215.
http://dx.doi.org/10.1097/TA.00000000000...
,66 Grigorian A, Spencer D, Donayre C, et al. National trends of thoracic endovascular aortic repair (tevar) versus open repair in blunt thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;52:72-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03.045. PMid:29886219.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03...
.

Embora a maioria dos estudos apontem para uma superioridade do método endovascular sobre a cirurgia aberta, em relação às taxas de mortalidade e de complicações em pacientes vítimas de trauma contuso de aorta, os resultados a médio e longo prazo e a durabilidade do dispositivo ainda são desconhecidos1313 Khoynezhad A, Donayre CE, Azizzadeh A, White R. One-year results of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Thorac Cardiovasc Surg. 2015;149(1):155-61.e4. http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.09.026. PMid:25439771.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.0...
,1515 García Reyes ME, Gonçalves Martins G, Fernández Valenzuela V, Domínguez González JM, Maeso Lebrun J, Bellmunt Montoya S. Long-term outcomes of thoracic endovascular aortic repair focused on bird beak and oversizing in blunt traumatic thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;50:140-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02.001. PMid:29455010.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02...
.

O estudo prospectivo RESCUE1313 Khoynezhad A, Donayre CE, Azizzadeh A, White R. One-year results of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Thorac Cardiovasc Surg. 2015;149(1):155-61.e4. http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.09.026. PMid:25439771.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.0...
avalia atualmente os resultados do tratamento endovascular nesses pacientes através de um período de 5 anos de seguimento. Em cada visita, o paciente é submetido a um exame clínico e um exame de imagem (angiotomografia ou ressonância magnética). Após um ano de acompanhamento, não foram observados casos de paraplegia, paraparesia ou AVC. Nenhum evento adverso relacionado ao dispositivo foi encontrado. Em relação aos eventos adversos relacionados ao procedimento, 16% dos pacientes apresentaram eventos isquêmicos no membro superior esquerdo por obstrução intencional da artéria subclávia esquerda (8%) ou lesões relacionadas ao sítio de punção (8%). Foi necessária a revascularização da artéria subclávia esquerda em 8% dos pacientes. A mortalidade no período estudado foi de 12%, sendo que 8% dos pacientes morreram nos primeiros 30 dias de seguimento.

García Reyes et al.1515 García Reyes ME, Gonçalves Martins G, Fernández Valenzuela V, Domínguez González JM, Maeso Lebrun J, Bellmunt Montoya S. Long-term outcomes of thoracic endovascular aortic repair focused on bird beak and oversizing in blunt traumatic thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;50:140-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02.001. PMid:29455010.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02...
realizaram um estudo para investigar os resultados em longo prazo dos pacientes vítimas de trauma contuso de aorta torácica tratados pela técnica endovascular. A média de seguimento dos participantes foi de 98 meses e a principal complicação observada foi trombo intrastent (20%). Apenas 9% apresentaram necessidade de reintervenção, sendo que, em metade, foi realizada revascularização da artéria subclávia esquerda e, na outra metade, realizou-se uma reabordagem na aorta devido à presença de endoleak ou trombo oclusivo na endoprótese. Todas as reintervenções apresentaram sucesso e nenhuma complicação adicional foi registrada. Nenhum paciente apresentou paraplegia ou lesões neurológicas e nenhum caso de morte foi observado no período perioperatório ou durante o seguimento.

No presente estudo, apenas dois pacientes apresentaram complicações relacionadas ao procedimento. Nesses casos, a conduta expectante foi adotada e ambos evoluíram sem novas intercorrências. No seguimento ambulatorial, o controle foi realizado com angiotomografia, entre 30 a 90 dias do procedimento e em 6 meses. Após esse período, é realizada nova angiotomografia após 36 meses (3 anos) e 60 meses (5 anos) do procedimento.

Outro aspecto importante relacionado a esse tratamento envolve o oversizing a ser utilizado nesses pacientes, já que na maioria dos casos os indivíduos são jovens e com aorta torácica previamente sadia. Como as endopróteses não foram originalmente fabricadas para o tratamento de lesão de aorta traumática, esses dispositivos apresentam estrutura compatível com aortas de maiores diâmetros, como na doença aneurismática. Devido a isso, um oversizing excessivo muitas vezes é inevitável em pacientes com lesão contusa de aorta devido à falta de endopróteses de tamanho adequado1515 García Reyes ME, Gonçalves Martins G, Fernández Valenzuela V, Domínguez González JM, Maeso Lebrun J, Bellmunt Montoya S. Long-term outcomes of thoracic endovascular aortic repair focused on bird beak and oversizing in blunt traumatic thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;50:140-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02.001. PMid:29455010.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02...
. As recomendações atuais na literatura são para utilizar um oversizing máximo de 20%1616 Ho XN, Wee IJY, Syn N, Harrison M, Wilson L, Choong AMTL. The endovascular repair of blunt traumatic thoracic aortic injury in Asia: A systematic review and meta-analysis. Vascular. 2019;(2):1-11. http://dx.doi.org/10.1177/1708538119828887. PMid:30739602.
http://dx.doi.org/10.1177/17085381198288...
. O tamanho da endoprótese e sua posição são fatores determinantes nos resultados após o tratamento. García Reyes et al.1515 García Reyes ME, Gonçalves Martins G, Fernández Valenzuela V, Domínguez González JM, Maeso Lebrun J, Bellmunt Montoya S. Long-term outcomes of thoracic endovascular aortic repair focused on bird beak and oversizing in blunt traumatic thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;50:140-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02.001. PMid:29455010.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02...
observaram que pacientes que apresentaram complicações relacionadas à endoprótese possuíam um oversizing maior que o grupo sem complicações (p = 0,0007)1515 García Reyes ME, Gonçalves Martins G, Fernández Valenzuela V, Domínguez González JM, Maeso Lebrun J, Bellmunt Montoya S. Long-term outcomes of thoracic endovascular aortic repair focused on bird beak and oversizing in blunt traumatic thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;50:140-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02.001. PMid:29455010.
http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02...
.

Os materiais disponíveis atualmente, em sua maioria, não são específicos para lesões traumáticas de aorta, sendo difícil encontrar tamanhos menores e ideais para pacientes jovens1616 Ho XN, Wee IJY, Syn N, Harrison M, Wilson L, Choong AMTL. The endovascular repair of blunt traumatic thoracic aortic injury in Asia: A systematic review and meta-analysis. Vascular. 2019;(2):1-11. http://dx.doi.org/10.1177/1708538119828887. PMid:30739602.
http://dx.doi.org/10.1177/17085381198288...
. Esse fato obriga muitos cirurgiões a implantarem endopróteses com oversizing maiores, como única alternativa viável para o tratamento endovascular. Entretanto, o oversizing excessivo pode estar relacionado com endoleak tipo 1, acotovelamento e colapso da endoprótese1717 Lobato A. Cirurgia endovascular. 3. ed. São Paulo: Editora ICVE; 2015. p. 637-38.

Entre as endopróteses liberadas para uso, destacam-se a Valiant® (Medtronic), a C-TAG® (L. Gore & Associates, Inc.) e a TX2® (Cook Group Inc.). Entretanto, deve-se ponderar a disponibilidade desses materiais nos serviços, bem como a anatomia do paciente para escolha do material adequado. A conformabilidade da endoprótese, diminuindo o spring-back force, diminui também a possibilidade de endoleaks futuros ou colapso da endoprótese, o que pode levar a melhor indicação para esses casos1717 Lobato A. Cirurgia endovascular. 3. ed. São Paulo: Editora ICVE; 2015. p. 637-38. Os perfis das endopróteses torácicas variam em média entre 18-24F, o que muitas vezes pode ser incompatível com o diâmetro das artérias femorais para implante das endopróteses torácicas, propiciando, dessa forma, a preferência para endopróteses low profile, com calibres menores.

O diâmetro da aorta proximal à lesão variou entre 19 mm e 30 mm, sendo que o maior diâmetro estava relacionado com uma paciente de 67 anos que possivelmente apresentava dissecção crônica prévia (caso 4 – Tabela 2). Com relação ao oversizing, variou entre 11 e 21%. O objetivo inicial era de um oversizing próximo a 10-15%, porém, como previamente descrito, houve variações devido à disponibilidade de material, sendo em muitos casos utilizado o menor diâmetro disponível na ocasião.

Novos estudos tentam estabelecer o melhor momento para o tratamento endovascular aos pacientes com lesão de aorta por trauma contuso. Algumas pesquisas já mostraram vantagem na abordagem tardia (após 24 horas) em relação à abordagem precoce (nas primeiras 24 horas), mesmo em pacientes com lesões associadas de grave intensidade1818 Marcaccio CL, Dumas RP, Huang Y, Yang W, Wang GJ, Holena DN. Delayed endovascular aortic repair is associated with reduced in-hospital mortality in patients with blunt thoracic aortic injury. J Vasc Surg. 2018;68(1):64-73. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10.084. PMid:29452832.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10....
. Marcaccio et al.1818 Marcaccio CL, Dumas RP, Huang Y, Yang W, Wang GJ, Holena DN. Delayed endovascular aortic repair is associated with reduced in-hospital mortality in patients with blunt thoracic aortic injury. J Vasc Surg. 2018;68(1):64-73. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10.084. PMid:29452832.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10....
demonstraram em uma amostra de 507 pacientes que uma abordagem tardia se associa a menores taxas de mortalidade (5,4%) quando comparada ao tratamento precoce (11,9%). Além disso, a abordagem precoce se associou a um maior risco de mortalidade em uma análise de regressão logística multivariada (OR 2,39; IC 95% 1,01-5,67; p = 0,047).

Apesar de até o momento não existir nenhum estudo randomizado e controlado que compare o tratamento endovascular com a cirurgia aberta para pacientes vítimas de lesão de aorta por trauma contuso, houve melhora significativa nas taxas de mortalidade e morbidade à medida que a abordagem endovascular suplantou a cirurgia aberta convencional na maioria dos centros de trauma1212 Pang D, Hildebrand D, Bachoo P. Thoracic endovascular repair (TEVAR) versus open surgery for blunt traumatic thoracic aortic injury. Cochrane Database Syst Rev. 2019;2(2):CD006642. http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD006642.pub3. PMid:30723895.
http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD006...
,1818 Marcaccio CL, Dumas RP, Huang Y, Yang W, Wang GJ, Holena DN. Delayed endovascular aortic repair is associated with reduced in-hospital mortality in patients with blunt thoracic aortic injury. J Vasc Surg. 2018;68(1):64-73. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10.084. PMid:29452832.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10....
.

CONCLUSÃO

O método endovascular é uma alternativa viável no tratamento de lesões de aorta torácica por trauma contuso, conforme embasamento na literatura e na experiência do serviço. A aplicabilidade e a menor morbimortalidade são fatores a serem ponderados na escolha para a técnica endovascular. São necessários estudos randomizados e controlados, ou ainda seguimento a longo prazo desses pacientes, para reforçar a indicação desse método como terapia para esse tipo de lesão.

  • Como citar: Sarquis LM, Michaelis W, Santos Filho AL, et al. Tratamento endovascular de dissecção traumática de aorta torácica – série de 16 casos. J Vasc Bras. 2020;19:e20200074. https://doi.org/10.1590/1677-5449.200074
  • Fonte de financiamento: Nenhuma.
  • O estudo foi realizado no Hospital do Trabalhador e no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Shan JG, Zhai XM, Liu JD, Yang WG, Xue S. Thoracic endovascular aortic repair for traumatic thoracic aortic injury: a single-center initial experience. Ann Vasc Surg. 2016;32:104-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09.023 PMid:26802306.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.09.023
  • 2
    Platz JJ, Fabricant L, Norotsky M. Thoracic trauma: injuries, evaluation, and treatment. Surg Clin North Am. 2017;97(4):783-99. http://dx.doi.org/10.1016/j.suc.2017.03.004 PMid:28728716.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.suc.2017.03.004
  • 3
    Fox N, Schwartz D, Salazar JH, et al. Evaluation and management of blunt traumatic aortic injury: a practice management guideline from the Eastern Association for the Surgery of Trauma. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(1):136-46. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000470 PMid:25539215.
    » http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000470
  • 4
    DuBose JJ, Leake SS, Brenner M, et al. Contemporary management and outcomes of blunt thoracic aortic injury: a multicenter retrospective study. J Trauma Acute Care Surg. 2015;78(2):360-9. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521 PMid:25757123.
    » http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000000521
  • 5
    Scalea TM, Feliciano DV, DuBose JJ, Ottochian M, O’Connor JV, Morrison JJ. Blunt thoracic aortic injury: endovascular repair is now the standard. J Am Coll Surg. 2019;228(4):605-10. http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022 PMid:30630086.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2018.12.022
  • 6
    Grigorian A, Spencer D, Donayre C, et al. National trends of thoracic endovascular aortic repair (tevar) versus open repair in blunt thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;52:72-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03.045 PMid:29886219.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.03.045
  • 7
    Khoynezhad A, Azizzadeh A, Donayre CE, Matsumoto A, Velazquez O, White R. Results of a multicenter, prospective trial of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Vasc Surg. 2013;57(4):899-905.e1. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10.099 PMid:23384495.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2012.10.099
  • 8
    Trust MD, Teixeira PGR. Blunt trauma of the aorta, current guidelines. Cardiol Clin. 2017;35(3):441-51. http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03.010 PMid:28683912.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.ccl.2017.03.010
  • 9
    Harris DG, Rabin J, Bhardwaj A, et al. Nonoperative management of traumatic aortic pseudoaneurysms. Ann Vasc Surg. 2016;35:75-81. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2016.02.021 PMid:27263820.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2016.02.021
  • 10
    Spencer MS, Safcsak K, Smith CP, Cheatham ML, Bhullar IS. Nonoperative management rather than endovascular repair may be safe for grade II blunt traumatic aortic injuries: An 11-year retrospective analysis. J Trauma Acute Care Surg. 2018;84(1):133-8. http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000001630 PMid:28640779.
    » http://dx.doi.org/10.1097/TA.0000000000001630
  • 11
    Tanizaki S, Maeda S, Matano H, et al. Blunt thoracic aortic injury with small pseudoaneurysm may be managed by nonoperative treatment. J Vasc Surg. 2016;63(2):341-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2015.08.107 PMid:26506935.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2015.08.107
  • 12
    Pang D, Hildebrand D, Bachoo P. Thoracic endovascular repair (TEVAR) versus open surgery for blunt traumatic thoracic aortic injury. Cochrane Database Syst Rev. 2019;2(2):CD006642. http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD006642.pub3 PMid:30723895.
    » http://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD006642.pub3
  • 13
    Khoynezhad A, Donayre CE, Azizzadeh A, White R. One-year results of thoracic endovascular aortic repair for blunt thoracic aortic injury (RESCUE trial). J Thorac Cardiovasc Surg. 2015;149(1):155-61.e4. http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.09.026 PMid:25439771.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jtcvs.2014.09.026
  • 14
    Chen SW, Wang SY, Liao CH, et al. Timing of intervention in blunt traumatic aortic injury patients: open surgical versus endovascular repair. Ann Vasc Surg. 2015;29(8):1559-66. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.06.073 PMid:26256715.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2015.06.073
  • 15
    García Reyes ME, Gonçalves Martins G, Fernández Valenzuela V, Domínguez González JM, Maeso Lebrun J, Bellmunt Montoya S. Long-term outcomes of thoracic endovascular aortic repair focused on bird beak and oversizing in blunt traumatic thoracic aortic injury. Ann Vasc Surg. 2018;50:140-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02.001 PMid:29455010.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.avsg.2018.02.001
  • 16
    Ho XN, Wee IJY, Syn N, Harrison M, Wilson L, Choong AMTL. The endovascular repair of blunt traumatic thoracic aortic injury in Asia: A systematic review and meta-analysis. Vascular. 2019;(2):1-11. http://dx.doi.org/10.1177/1708538119828887 PMid:30739602.
    » http://dx.doi.org/10.1177/1708538119828887
  • 17
    Lobato A. Cirurgia endovascular. 3. ed. São Paulo: Editora ICVE; 2015. p. 637-38
  • 18
    Marcaccio CL, Dumas RP, Huang Y, Yang W, Wang GJ, Holena DN. Delayed endovascular aortic repair is associated with reduced in-hospital mortality in patients with blunt thoracic aortic injury. J Vasc Surg. 2018;68(1):64-73. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10.084 PMid:29452832.
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2017.10.084

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    27 Maio 2020
  • Aceito
    06 Ago 2020
Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) Rua Estela, 515, bloco E, conj. 21, Vila Mariana, CEP04011-002 - São Paulo, SP, Tel.: (11) 5084.3482 / 5084.2853 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: secretaria@sbacv.org.br