INTRODUÇÃO
Desde a primeira descrição da infecção por COVID-19, a síndrome respiratória grave associada à doença levou ao aumento rápido de admissões em unidades de tratamento intensivo (UTIs) e à alta mortalidade de um grupo de pacientes1. Em uma pandemia, é preciso evitar a saturação do sistema de saúde tanto público quanto privado, em especial das UTIs. O principal achado com relevância nos pulmões é a presença de trombos plaquetários e fibrina em pequenos vasos arteriais, enquadrando-se perfeitamente no contexto clínico da coagulopatia2.
Como não há um tratamento aprovado em consenso neste cenário e tendo em vista a possibilidade de trombose associada à infecção pelo coronavírus em determinados casos, a experiência adquirida recentemente e estudos científicos ainda embrionários têm mostrado que uma anticoagulação efetiva poderia prevenir ou reverter o estado pró-trombótico de alguns pacientes2,3.
PROPOSTA
Observamos que, coincidentemente, o grupo de pacientes que evoluem mal da infecção por COVID-19 (Figura 1)4 e morrem são os mesmos pacientes do escore CHA2DS2-VASc com risco para acidente vascular cerebral, episódio isquêmico transitório, embolia periférica e tromboembolismo pulmonar (Tabela 1)5,6. Por esse escore, o paciente é considerado de alto risco se a pontuação for 2 ou mais, de risco intermediário se a pontuação for 1 e de baixo risco se não tiver fatores de risco6. A nossa proposta, portanto, é incluir 1 ponto adicional no escore CHA2DS2-VASc (Tabela 1) para pacientes portadores de COVID-19 e usar o novo escore para indicar a anticoagulação profilática nos pacientes com alto risco de trombose pelo escore, na fase 2 da doença (Tabela 2). Desse modo, busca-se evitar a piora do paciente por problemas tromboembólicos, bem como a necessidade de internação em UTI e de ventilação mecânica7.
Tabela 1 Como ficaria o escore CHA2DS2-VASc com o acréscimo de 1 ponto por COVID-19 (CHA2DS2-VASc-C19).
CHA2DS2-VASc | Descrição | Pontos |
---|---|---|
C | Insuficiência cardíaca | 1 |
H | Hipertensão | 1 |
A2 | Idade (≥ 75 anos) | 2 |
D | Diabetes mellitus | 1 |
S2 | AIT ou AVC prévio | 2 |
V | Doença vascular (IAM prévio, placa aórtica, doença arterial periférica) | 1 |
A | Idade (65-74 anos) | 1 |
C19 | Suspeita ou confirmação de COVID-19 | 1 |
AIT = ataque isquêmico transitório; AVC = acidente vascular cerebral; IAM = infarto agudo do miocárdio.
Tabela 2 Fases da infecção por COVID-19 e tratamento.
Fases | Clínica | Tratamento |
---|---|---|
Fase 1 | Infecção respiratória gripal | Evitar contágio, diminuir sintomas, diminuir carga viral com as medicações que estão sendo usadas |
Fase 2 (verificar Tabela 1) | Alto risco de trombose | Profilaxia, evitar trombose intrapulmonar, anticoagulação profilática |
Fase 3 | Paciente grave em UTI | Anticoagulação plena terapêutica |
UTI = unidade de tratamento intensivo.
A ideia é agir de forma similar ao risco de tromboses e embolias pelos escores conhecidos e iniciar a profilaxia para tentar evitar a ocorrência do que tem contribuído para o agravamento do quadro clínico desses pacientes1-3. Através deste artigo, os autores propõem uma modificação pontual na escore CHA2DS2-VASc para estudo de sua validação, com o objetivo de diminuir o número de doentes críticos que chegam à fase 3.