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Artéria subclávia direita aberrante: relato de caso e revisão de literatura

Resumo

A artéria subclávia direita aberrante, também conhecida como artéria lusória, é a anomalia do arco aórtico mais comum, ocorrendo entre 0,5 e 1% da população. Possui prevalência em mulheres e normalmente está associada a outras variações anatômicas, como o nervo laríngeo não recorrente, presente em 86,7% dos casos. Em sua maioria, a artéria subclávia direita aberrante não apresenta sintomas. Descrevemos essa alteração em uma paciente de 82 anos, hipertensa e assintomática, que havia sido submetida a uma angiotomografia toracoabdominal para a avaliação de uma dissecção crônica tipo III (DeBakey) associada à dilatação de aorta descendente. No achado, a artéria subclávia direita aberrante apresentava percurso retroesofágico associado a um divertículo de Kommerell. Devido à raridade, realizamos revisão bibliográfica integrativa das bases de dados MEDLINE, UpToDate, LILACS, SciELO e Portal CAPES dos últimos 6 anos e discutimos as alterações anatômicas mais frequentes, a sintomatologia e as condutas terapêuticas adotadas.

Palavras-chave:
artéria subclávia direita aberrante; anomalia vascular; divertículo de Kommerell; artéria lusória

Abstract

The aberrant right subclavian artery, also known as the arteria lusoria, is the most common aortic arch anomaly, occurring in 0.5 to 1% of the population. There is a higher prevalence in women and it is usually associated with other anatomical variations, such as the non-recurrent laryngeal nerve, present in 86.7% of cases. In the majority of cases, the aberrant right subclavian artery causes no symptoms. We describe this anomaly in an 82-year-old, hypertensive, and asymptomatic patient who had undergone a thoracoabdominal angiography to investigate a chronic DeBakey type III aortic dissection with dilation of the descending aorta. The aberrant right subclavian artery followed a retroesophageal course and was associated with a Kommerell diverticulum. In view of its rarity, we conducted an integrative bibliographic review of literature from the last 6 years indexed on the Medline, UpToDate, Lilacs, Scielo, and Portal Capes databases and discuss the most frequent anatomical changes, symptomatology, and therapeutic management adopted.

Keywords:
aberrant right subclavian artery; vascular anomaly; Kommerell diverticulum; arteria lusoria

INTRODUÇÃO

A artéria subclávia direita aberrante (ASDA), ou artéria lusória, é a anomalia mais comum do arco aórtico, a qual ocorre entre 0,5 e 1% da população11 Myers PO, Fasel JHD, Kalangos A, Gailloud P. Arteria lusoria: developmental anatomy, clinical, radiological and surgical aspects. Ann Cardiol Angeiol. 2010;59(3):147-54. http://dx.doi.org/10.1016/j.ancard.2009.07.008. PMid:19962688.
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,22 Machado L, Silva AR, Mansilha A, Teixeira J. Estenose sintomática da artéria subclávia direita aberrante. Angiol Cir Vasc. 2016;12(4):275-8. http://dx.doi.org/10.1016/j.ancv.2016.08.004.
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. O nome “lusória” é derivado do termo dysphagia lusus naturae33 Leite TFO, Pires LAS, Cisne R, Babinski MA, Chagas CAA. Clinical discussion of the arteria lusoria: a case report. J Vasc Bras. 2017;16(4):339-42. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.007617. PMid:29930671.
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(em tradução livre, “disfagia causada por uma aberração da natureza”), cunhado por Bayford para descrever o sintoma de disfagia relacionado à presença da ASDA. Alguns estudos recentes44 Ranzini AC, Hyman F, Jamaer E, Van Mieghem T. Aberrant right subclavian artery: correlation between fetal and neonatal abnormalities and abnormal genetic screening or testing. J Ultrasound Med. 2017;36(4):785-90. http://dx.doi.org/10.7863/ultra.16.05028. PMid:28072476.
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têm mostrado sua associação com cromossomopatias e malformações cardíacas e vasculares; todavia, a ASDA é uma variante anatômica.

Sendo muitas vezes encontrada ao acaso, geralmente não apresenta sintomatologia; porém, perante a presença de disfagia55 Álvarez PF, León JMV, Álvarez AC. Esophageal compression by a mediastinal vascular structure as a result of a dysphagia lusoria. Rev Esp Enferm Dig. 2020;112(6):505. PMid:32379480., tosse, dor torácica, isquemia de membros superiores e síndrome de roubo subclávio, suspeita-se de compressão de estruturas adjacentes, como esôfago e traqueia, pela artéria em seu percurso anormal ou devido à degeneração aneurismática, denominada divertículo de Kommerell66 Domínguez-Massa C, Berbel-Bonillo A, Pérez-Guillen M, Montero-Argudo JA. Dissected aberrant right subclavian artery with Kommerell diverticulum. Rev Port Cardiol. 2019;38(10):737.e1-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.repc.2017.07.023. PMid:31973945.
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,77 Pessuti F, Fontes CAP. Divertículo de Kommerell: rara etiologia de disfagia. Rev Fac Ciênc Méd Sorocaba. 2019;21(2):98-9. http://dx.doi.org/10.23925/1984-4840.2019v21i2a12.
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,88 Robles TA, Srinivasan A, Mazur L, Gourishankar A. Kommerell’s diverticulum with a twist: a case of recurrent wheeze in an 8-year-old boy. Glob Pediatr Health. 2019;6:2333794X19897506. http://dx.doi.org/10.1177/2333794X19897506. PMid:31903415.
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,99 Cinà CS, Arena GO, Bruin G, Clase CM. Kommerell’s diverticulum and aneurysmal right-sided aortic arch: a case report and review of the literature. J Vasc Surg. 2000;32(6):1208-14. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2000.108012. PMid:11107094.
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,1010 Onishi N, Komaki T, Nakamura M, et al. A rare case of submassive pulmonary embolism with a right aberrant subclavian artery and thrombosed kommerell diverticulum. Intern Med. 2020;59(15):1861-5. http://dx.doi.org/10.2169/internalmedicine.4495-20. PMid:32321896.
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,1111 Kiernan PD, Dearani J, Byrne WD, et al. Aneurysm of an aberrant right subclavian artery: case report and review of the literature. Mayo Clin Proc. 1993;68(5):468-74. http://dx.doi.org/10.1016/S0025-6196(12)60196-7. PMid:8479211.
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.

Quando presente, o divertículo de Kommerell, a depender de seu diâmetro, pode comprimir estruturas adjacentes e, se não diagnosticado, pode levar a uma ruptura do aneurisma, dissecção da aorta ou mesmo pneumonia recorrente66 Domínguez-Massa C, Berbel-Bonillo A, Pérez-Guillen M, Montero-Argudo JA. Dissected aberrant right subclavian artery with Kommerell diverticulum. Rev Port Cardiol. 2019;38(10):737.e1-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.repc.2017.07.023. PMid:31973945.
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,88 Robles TA, Srinivasan A, Mazur L, Gourishankar A. Kommerell’s diverticulum with a twist: a case of recurrent wheeze in an 8-year-old boy. Glob Pediatr Health. 2019;6:2333794X19897506. http://dx.doi.org/10.1177/2333794X19897506. PMid:31903415.
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,99 Cinà CS, Arena GO, Bruin G, Clase CM. Kommerell’s diverticulum and aneurysmal right-sided aortic arch: a case report and review of the literature. J Vasc Surg. 2000;32(6):1208-14. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2000.108012. PMid:11107094.
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. Há ainda relatos de raros casos de divertículos de Kommerell trombosados1010 Onishi N, Komaki T, Nakamura M, et al. A rare case of submassive pulmonary embolism with a right aberrant subclavian artery and thrombosed kommerell diverticulum. Intern Med. 2020;59(15):1861-5. http://dx.doi.org/10.2169/internalmedicine.4495-20. PMid:32321896.
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, com artéria subclávia estenosada, condição que pode resultar em quadros de embolia distal e síndrome do roubo subclávio.

O diagnóstico do divertículo de Kommerell é de suma importância, a fim de acompanhar e prevenir as principais complicações que podem surgir decorrentes de sua presença66 Domínguez-Massa C, Berbel-Bonillo A, Pérez-Guillen M, Montero-Argudo JA. Dissected aberrant right subclavian artery with Kommerell diverticulum. Rev Port Cardiol. 2019;38(10):737.e1-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.repc.2017.07.023. PMid:31973945.
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,88 Robles TA, Srinivasan A, Mazur L, Gourishankar A. Kommerell’s diverticulum with a twist: a case of recurrent wheeze in an 8-year-old boy. Glob Pediatr Health. 2019;6:2333794X19897506. http://dx.doi.org/10.1177/2333794X19897506. PMid:31903415.
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.

O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética no dia 27 de janeiro de 2022, tendo o seguinte número do parecer consubstanciado: 5.213.980.

APRESENTAÇÃO DE CASO

Uma paciente do sexo feminino, com 82 anos de idade, hipertensa, não tabagista, não diabética, multípara e assintomática, foi encaminhada ambulatorialmente em março de 2017 para avaliação de uma dissecção crônica tipo III (DeBakey) associada à dilatação de aorta descendente menor que 5 centímetros de diâmetro, identificada por eco-Doppler transesofágico. A paciente não havia queixas de disfagia, tosse ou alterações de temperatura de membro superior direito, com todos os pulsos normais.

Na confirmação diagnóstica por angiotomografia toracoabdominal, foi identificada uma variante na disposição dos ramos do arco aórtico: uma ASDA notada pelo seu percurso retroesofágico associada a uma dilatação na origem, caracterizando, dessa forma, um divertículo de Kommerell (Figura 1).

Figura 1
Vista posterolateral da aorta, evidenciando o divertículo de Kommerell, a artéria subclávia direita aberrante e a dissecção da aorta descendente.

A paciente apresentava-se assintomática perante a presença da ASDA, como é frequente na maioria dos casos. O tratamento da dissecção se deu de forma clínica, apenas com prescrição de medicamentos betabloqueador, anti-hipertensivo, antiagregante plaquetário e redutor de colesterol, além de acompanhamento contínuo semestral como medida profilática. Em agosto de 2021, a paciente faleceu de causas não vasculares.

DISCUSSÃO

O arco aórtico dá origem a três vasos: o tronco braquiocefálico (que se divide nas artérias subclávia direita e carótida comum direita), a artéria carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda1212 Junqueira LC, Carneiro J. Sistema circulatório. In: Zorn TMT, editora. Histologia básica: texto e atlas. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013. p. 200-3.,1313 Tortora GJ, Derrickson B. Sistema circulatório/vasos sanguíneos e hemodinâmica. In: Tortora GJ, editor. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 1453-73.. Esses ramos são classificados como grandes artérias elásticas e ajudam na estabilização do fluxo sanguíneo.

A formação das artérias subclávias durante o período embrionário ocorre a partir dos arcos aórticos que se originam na quarta semana da vida intrauterina, sendo que a artéria subclávia direita se desenvolve a partir do quarto arco aórtico direito, da aorta dorsal e da sétima artéria intersegmentar direita, enquanto a esquerda se desenvolve a partir da sétima artéria intersegmentar esquerda1414 Sidawy AP, Perler BA. Embryology and developmental anatomy. In: Endean ED, editor. Rutherford's vascular surgery and endovascular therapy. 9. ed. Filadélfia: Elsevier; 2019. p. 214-24..

Em casos raros, pode ocorrer o desenvolvimento anormal das aortas primitivas e dos arcos aórticos levando à formação da ASDA, a qual ocorre quando a artéria subclávia direita é formada pela porção distal da aorta dorsal direita e pela sétima artéria intersegmentar, enquanto o quarto arco aórtico direito e a parte proximal da aorta dorsal, que participariam de sua formação, são obliterados. Assim, na ausência do quarto arco aórtico direito, a artéria subclávia direita aberrante surge como último ramo aórtico1515 Moore KL, Persaud TVN. Embriologia clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2016. Sistema cardiovascular. p. 397-405..

Em seu percurso, a ASDA pode cruzar transversalmente o arco aórtico, posteriormente ao esôfago e à traqueia em direção ao braço direito (em 80% dos casos), anteriormente à traqueia (em 5% dos casos) ou mesmo entre o esôfago e a traqueia (em 15% dos casos), em um trajeto mais linear do que a artéria subclávia direita normal1616 Stone WM, Brewster DC, Moncure AC, Franklin DP, Cambria RP, Abbott WM. Aberrant right subclavian artery: varied presentations and management options. J Vasc Surg. 1990;11(6):812-7. http://dx.doi.org/10.1016/0741-5214(90)90078-O. PMid:2359193.
http://dx.doi.org/10.1016/0741-5214(90)9...
,1717 Rosa P, Gillespie DL, Goff JM, O’Donnell SD, Starnes B. Aberrant right subclavian artery syndrome: a case of chronic cough. J Vasc Surg. 2003;37(6):1318-21. http://dx.doi.org/10.1016/S0741-5214(02)75464-5. PMid:12764282.
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,1818 Coşkun E, Altınay L, Tekin A, Tütün U. Aberrant right subclavian artery (arteria lusoria) aneurysm with Kommerell’s diverticulum. J Vasc Bras. 2019;18:e20180091. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.009118. PMid:31236102.
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,1919 Hanžič N, Čizmarević U, Lesjak V, Caf P. Aberrant right subclavian artery with a bicarotid trunk: the importance of diagnosing this rare incidental anomaly. Cureus. 2019;11(11):e6094. http://dx.doi.org/10.7759/cureus.6094. PMid:31857926.
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.

Segundo Molz e Burri20, a20 Molz G, Burri B. Aberrant subclavian artery (arteria lusoria): sex differences in the prevalence of various forms of the malformation. Virchows Arch A Pathol Anat Histol. 1978;380(4):303-15. http://dx.doi.org/10.1007/BF00431315. PMid:153045.
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incidência da artéria lusória é de 58% em mulheres e 42% em homens. Esses dados estão em consonância aos obtidos por Polguj et al.2121 Polguj M, Chrzanowski Ł, Kasprzak JD, Stefańczyk L, Topol M, Majos A. The aberrant right subclavian artery (arteria lusoria): the morphological and clinical aspects of one of the most important variations--a systematic study of 141 reports. ScientificWorldJournal. 2014;2014:292734. http://dx.doi.org/10.1155/2014/292734. PMid:25105156.
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, os quais identificaram uma maior ocorrência da ASDA em mulheres (55,3%) do que em homens (44,7%). Jain et al.2222 Jain KK, Braze AJ, Shapiro MA, Perez-Tamayo RA. Aberrant right subclavian artery-esophageal fistula and severe gastrointestinal bleeding after surgical correction of scimitar syndrome. Tex Heart Inst J. 2012;39(4):571-4. PMid:22949782. também constataram que a artéria subclávia direita aberrante é prevalente em mulheres.

Existem ainda algumas possíveis variações anatômicas na origem e distribuição dos ramos principais do arco aórtico na presença de uma artéria subclávia direita aberrante.

Segundo a classificação de Adachi e Willians, pode-se dividir a ASDA em quatro subtipos básicos33 Leite TFO, Pires LAS, Cisne R, Babinski MA, Chagas CAA. Clinical discussion of the arteria lusoria: a case report. J Vasc Bras. 2017;16(4):339-42. http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.007617. PMid:29930671.
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:

  • Tipo G-1: se caracteriza pela origem da ASDA na porção distal do arco aórtico como o seu último ramo. Neste caso, os demais ramos principais seguem a sequência normal (artéria carótida comum direita, artéria carótida comum esquerda e artéria subclávia esquerda, todas partindo diretamente do arco aórtico);

  • Tipo CG-1: tem a ASDA na mesma posição anatômica distal do arco aórtico que o tipo G, mas a artéria vertebral esquerda origina-se como um novo ramo direto do arco aórtico;

  • Tipo H-1: possui igualmente a ASDA como último ramo do arco aórtico, mas neste caso com a presença de um tronco bicarotídeo, isto é, um único tronco que se divide em dois ramos e dá origem às artérias carótidas comuns direita e esquerda, como visualizado no caso em estudo (Figura 2); e

    Figura 2
    Vista anterior da raiz aórtica, evidenciando a classificação do tipo H1 com o tronco bicarotídeo, o divertículo de Kommerell e a artéria subclávia direita aberrante.

  • Tipo N-1: sua distribuição caracteriza-se como uma imagem enantiomorfa do tipo G, pois apresenta um arco aórtico à direita com uma artéria subclávia esquerda imitando o que seria a artéria lusória.

A presença de uma ASDA é um achado em comum a outras variações anatômicas. Uma delas é o nervo laríngeo não recorrente, encontrado em conjunto com a ASDA em 86,7% dos estudos analisados2323 Henry BM, Sanna S, Graves MJ, et al. The non-recurrent laryngeal nerve: a meta-analysis and clinical considerations. PeerJ. 2017;5:e3012. http://dx.doi.org/10.7717/peerj.3012. PMid:28344898.
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e cujo trajeto incomum, não identificado previamente, pode levar a complicações iatrogênicas cirúrgicas2424 Verzini F, Isernia G, Simonte G, et al. Results of aberrant right subclavian artery aneurysm repair. J Vasc Surg. 2015;62(2):343-50. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2015.03.038. PMid:26211377.
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,2525 Xiong S, Wang D, Li J. Endovascular repair of type A aortic intramural hematoma accompanied by aberrant right subclavian artery and Kommerell’s diverticulum: a case report. BMC Cardiovasc Disord. 2020;20(1):220. http://dx.doi.org/10.1186/s12872-020-01504-2. PMid:32404054.
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e pós-cirúrgicas, como a paralisia das cordas vocais. Em revisão integrativa nas bases de dados MEDLINE, UpToDate, LILACS, SciELO e Portal CAPES, encontramos 17 artigos dos últimos 6 anos que relatam casos de pacientes com ASDA, dos quais os achados clínicos eram sintomáticos em 14 casos (82,4%) e assintomáticos em três (17,6%). Os tratamentos executados foram realizados conforme a Tabela 1.

Tabela 1
Revisão nas bases de dados MEDLINE, UpToDate, LILACS, SciELO e Portal CAPES de achados de artéria subclávia direita aberrante (ASDA) associados a divertículo de Kommerell dos últimos 6 anos.

Ainda não existem diretrizes de tratamento estabelecidas para o divertículo de Kommerell devido à pequena quantidade de casos existentes, porém procedimentos cirúrgicos são indicados para pacientes sintomáticos ou com divertículos de diâmetro transversal maior ou igual do que 50 mm. Para pacientes assintomáticos, a cirurgia, que pode ser convencional, endovascular ou híbrida, é recomendada por alguns profissionais como prevenção de complicações, mas a escolha é feita caso a caso, levando em consideração a idade e as comorbidades66 Domínguez-Massa C, Berbel-Bonillo A, Pérez-Guillen M, Montero-Argudo JA. Dissected aberrant right subclavian artery with Kommerell diverticulum. Rev Port Cardiol. 2019;38(10):737.e1-4. http://dx.doi.org/10.1016/j.repc.2017.07.023. PMid:31973945.
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,99 Cinà CS, Arena GO, Bruin G, Clase CM. Kommerell’s diverticulum and aneurysmal right-sided aortic arch: a case report and review of the literature. J Vasc Surg. 2000;32(6):1208-14. http://dx.doi.org/10.1067/mva.2000.108012. PMid:11107094.
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.

O tratamento clínico do paciente consiste em manter a frequência cardíaca menor que 60 batimentos por minuto e a pressão arterial sistólica entre 100 e 120 mmHg, a fim de reduzir o estresse na parede aórtica e evitar a progressão de uma dissecção. Associado a isso, o tratamento preventivo com redutor de colesterol e antiagregante plaquetário tem sido benéfico na prevenção primária e secundária de eventos mediados por trombos.

CONCLUSÕES

A ASDA é uma condição rara que, em muitos casos, não apresenta sintomas, o que a faz ser mais comumente descoberta ao acaso através de exames subsidiários do que de maneira clínica. Ela representa a variação mais comum do arco aórtico, podendo ser anterior à traqueia, posterior ao esôfago ou cruzar entre esses órgãos, e ainda pode vir associada a outra variação, que é o nervo laríngeo não recorrente, assim confirmando a extrema importância do conhecimento desses diferentes trajetos anatômicos, especialmente por cirurgiões, a fim de evitar lesões dessas estruturas.

Conforme a análise da literatura recente, o tratamento cirúrgico deve ser efetuado sempre em pacientes sintomáticos. Os assintomáticos devem ser tratados clinicamente, e sua base deve ser o controle de hipertensão, antiagregantes plaquetários e redutores de colesterol como prevenção secundária, além de acompanhamento contínuo.

  • Como citar: Nasser M, Petrocheli BB, Felippe TKS, et al. Artéria subclávia direita aberrante: relato de caso e revisão de literatura. J Vasc Bras. 2023;22:e20210151. https://doi.org/10.1590/1677-5449.202101511
  • Fonte de financiamento: Nenhuma.
  • O estudo foi realizado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    05 Set 2022
  • Aceito
    17 Dez 2022
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