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Ranking de produção científica em administração de empresas no Brasil

Ranking of scientific production in business administration in Brazil

Resumos

Este artigo afilia-se a um esforço coletivo amplo, em curso há muitos anos na academia brasileira, e voltado para a reflexão sobre a evolução do campo científico da Administração de Empresas no país. De fato, nos últimos anos, diversos estudos de base empírica e ensaios têm sido publicados. Neste trabalho, toma-se uma via alternativa. Trata-se de um esforço inicial para retratar, com base em uma abordagem quantitativa, a produção nos vários domínios da Administração de Empresas no Brasil. Assim, procuramos avaliar a produção veiculada em quatro revistas nacionais impressas "A", no período 2002 a 2006 (cinco anos). Apresentamos a contribuição dos principais centros de pesquisa do país, na forma de um ranking de produção científica. Discutimos os resultados encontrados e notamos que, embora o ranking desenvolvido permita valiosas observações, sua validade como indicador da produção científica brasileira é prejudicada por efeitos endogênicos constatados em três das quatro revistas utilizadas como fontes. Registramos também as limitações do estudo e indicamos direções para futuros desenvolvimentos.

Campo científico; Administração de empresas; Ranking de produção acadêmica; Revistas nacionais "A"; Efeitos endogênicos


This paper echoes a broader and collective endeavor from the Brazilian scholarly community. It aims to analyze critically the evolution of the business administration as a scientific field in the country. In fact, in the last two decades, a number of empirical studies and essays were published. In this paper, however, we take an alternative route. This is a preliminary attempt to portrait the Brazilian scientific production after a quantitative approach. We identified and quantified scientific papers published in Brazilian printed "A" journals in the period 2002-2006. We present a ranking based on the production of the leading research institutions. We discuss the results and note that the ranking, albeit providing valuable information, is somehow limited as a performance indicator for the Brazilian scientific production. This is due to the high degree of endogeny observed in three of the four journals analyzed. Finally, we present the limitations of the paper and seek to indicate streams for future research.

Scientific field; Business administration; Ranking of scientific production; Brazilian top journals; Endogenous effects


Ranking de produção científica em administração de empresas no Brasil

Ranking of scientific production in business administration in Brazil

Thomaz Wood Jr.I; Gabriel Vouga ChuekeII

IDoutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV). Professor titular da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Eaesp-FGV). Av. 9 de Julho, 2029, GV Pesquisa, Bela Vista - São Paulo - SP - CEP 01313-902 E-mail: thomaz.wood@fgv.br

IIMestrando em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp). Pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp). Av. 9 de Julho, 2029, GV Pesquisa, Bela Vista - São Paulo - SP - CEP 01313-902 E-mail: gabrielbrt@hotmail.com

RESUMO

Este artigo afilia-se a um esforço coletivo amplo, em curso há muitos anos na academia brasileira, e voltado para a reflexão sobre a evolução do campo científico da Administração de Empresas no país. De fato, nos últimos anos, diversos estudos de base empírica e ensaios têm sido publicados. Neste trabalho, toma-se uma via alternativa. Trata-se de um esforço inicial para retratar, com base em uma abordagem quantitativa, a produção nos vários domínios da Administração de Empresas no Brasil. Assim, procuramos avaliar a produção veiculada em quatro revistas nacionais impressas "A", no período 2002 a 2006 (cinco anos). Apresentamos a contribuição dos principais centros de pesquisa do país, na forma de um ranking de produção científica. Discutimos os resultados encontrados e notamos que, embora o ranking desenvolvido permita valiosas observações, sua validade como indicador da produção científica brasileira é prejudicada por efeitos endogênicos constatados em três das quatro revistas utilizadas como fontes. Registramos também as limitações do estudo e indicamos direções para futuros desenvolvimentos.

Palavras-chave: Campo científico; Administração de empresas; Ranking de produção acadêmica; Revistas nacionais "A"; Efeitos endogênicos.

ABSTRACT

This paper echoes a broader and collective endeavor from the Brazilian scholarly community. It aims to analyze critically the evolution of the business administration as a scientific field in the country. In fact, in the last two decades, a number of empirical studies and essays were published. In this paper, however, we take an alternative route. This is a preliminary attempt to portrait the Brazilian scientific production after a quantitative approach. We identified and quantified scientific papers published in Brazilian printed "A" journals in the period 2002-2006. We present a ranking based on the production of the leading research institutions. We discuss the results and note that the ranking, albeit providing valuable information, is somehow limited as a performance indicator for the Brazilian scientific production. This is due to the high degree of endogeny observed in three of the four journals analyzed. Finally, we present the limitations of the paper and seek to indicate streams for future research.

Keywords: Scientific field; Business administration; Ranking of scientific production; Brazilian top journals; Endogenous effects.

1 INTRODUÇÃO

A geração e a veiculação da produção científica constituem atividade essencial dos programas de pós-graduação. No Brasil, a área de Administração de Empresas evoluiu com vitalidade nas últimas décadas. Seus eventos cresceram em número de submissões de trabalhos e de participantes. Em 1997, o Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (EnAnpad) recebeu 787 submissões de trabalhos, tendo veiculado em seus anais 233 trabalhos. Em 2005, esses números haviam subido para 2.332 trabalhos submetidos e 630 trabalhos veiculados.

Foram também criados novos eventos, com destaque para aqueles originados da matriz de divisões do EnAnpad, tais como o Encontro Nacional de Estudos Organizacionais (Eneo), em 2000; o Encontro de Estudos em Estratégia (3Es), em 2003; o Encontro de Administração Pública e Governança (EnAPG), em 2004; o Encontro de Marketing da Anpad (EMA), em 2004; o Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho (EnGPR), em 2007; o Encontro de Administração da Informação (EnADI), em 2007; e o Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EnEPQ), em 2007.

Em paralelo, surgiram novas revistas científicas, inclusive eletrônicas, tendo como um dos principais objetivos dar vazão à produção científica local. Em razão, principalmente, do sistema de avaliação de programas de pós-graduação, coordenado pela Capes, publicar tornou-se um foco permanente de atenção (e preocupação) dos pesquisadores e de suas instituições.

Não há, no entanto, registros de trabalhos que apresentem visões abrangentes sobre o volume de produção nacional (geral ou por campos de conhecimento) ou que identifiquem quais são os principais centros de pesquisa e quantos trabalhos publicam.

Este trabalho afilia-se à corrente de reflexões sobre a evolução da produção científica em Administração no Brasil (BERTERO; CALDAS; WOOD JR., 2005; BERTERO; KEINERT, 1994; MACHADO-DA-SILVA; CUNHA; AMBONI, 1990; VERGARA; CARVALHO JR., 1995). Constitui um esforço descritivo inicial e insere-se em um projeto mais amplo de análise quantitativa da produção científica local.

O objetivo deste artigo é apresentar um ranking da produção científica dos programas de Administração de Empresas do país. Para a construção desse ranking, foram considerados todos os artigos científicos que passaram por processo de revisão por pares (double blind review). A base de ordenação foi o número de artigos publicados nos principais periódicos nacionais "A" impressos. O período considerado foi de cinco anos, de 2002 a 2006, que foi caracterizado por forte evolução quantitativa da produção local. Adotou-se como critério classificatório dos artigos a divisão atual de áreas do EnAnpad.

O artigo está dividido em quatro seções, além desta introdução: a primeira trata da questão dos rankings de produção científica; a segunda descreve a abordagem metodológica e apresenta as premissas e definições operacionais adotadas; a terceira apresenta e discute os resultados da pesquisa; e a última seção indica, por meio das limitações do trabalho, possibilidades para futuras pesquisas, além de registrar comentários finais sobre a pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nos últimos anos, a educação em administração tornou-se um negócio mundial. Escolas norte-americanas e européias de primeira linha passaram a competir globalmente por reconhecimento e por alunos. Não foram poucas as que, nos últimos anos, abriram campi avançados fora de seus países de origem ou que estabeleceram alianças estratégicas com congêneres de outros continentes.

Entre outros fatores de competição, dois se destacam: pesquisa (entenda-se: publicações nos principais periódicos científicos) e ensino (entenda-se: programas de MBA) (TRIESCHMANN et al., 2000). Para balizarem a competição em termos de ensino, consolidaram-se, desde os anos 1990, os rankings de MBA, com destaque para o ranking da revista BusinessWeek e o ranking do jornal Financial Times. O mesmo não ocorreu em termos de pesquisa, atividade para a qual os rankings são ainda pouco conhecidos.

Os trabalhos pioneiros sobre rankings, produção e produtividade de pesquisa no campo da administração foram desenvolvidos a partir da década de 1980. Stahl, Leap e Wei (1988) identificaram três linhas de pesquisa relacionadas à questão da produtividade em pesquisa: primeiro, os estudos sobre a relação entre publicações em periódicos e a carreira e a remuneração dos pesquisadores; segundo, estudos sobre a "taxa de prestígio" de periódicos acadêmicos e periódicos voltados para o público corporativo; e, terceiro, estudos sobre a produtividade de instituições de pesquisa. O trabalho de Sthal, Leap e Wei (1988) foca as duas últimas linhas, com o propósito de avaliar a contribuição institucional para os principais periódicos acadêmicos.

A contribuição de Trieschmann et al. (2000) expande consideravelmente o esforço de Stahl, Leap e Wei (1988). Trieschmann et al. (2000) partiram da constatação de que a maioria dos trabalhos até então realizados havia avaliado o desempenho em termos de produtividade em pesquisa em um único periódico ou um grupo de periódicos em uma determinada área. Então, desenvolveram um modelo que mede o desempenho em várias áreas, tomando vinte periódicos de oito áreas (ver também DENNIS et al., 2002).

O estudo mostra que a produção científica norte-americana em Administração de Empresas é concentrada em cerca de cinqüenta instituições, as quais procuram focar sua atenção em poucas disciplinas. Além disso, o estudo comprova que o desempenho em pesquisa é melhorado pelo número de professores dedicados à atividade (faculty) e positivamente afetado pela proporção de professores titulares (full professors), pela proporção de professores assistentes e pelo envolvimento dos professores como editores de periódicos científicos.

Trieschmann et al. (2000, p. 1132) observam que tanto a qualidade das pesquisas publicadas como a dos periódicos nos quais tais pesquisas são veiculadas constituem objeto de questionamento. Portanto, a inclusão ou exclusão de periódicos tem impacto sobre a medida de desempenho. Deduz-se que uma preocupação relevante deve ser a escolha dos periódicos que deverão compor a base do ranking.

Cabe observar que nos Estados Unidos tal escolha exige o desenvolvimento de um método próprio. Isso se deve à dimensão da comunidade científica, ao grande número de periódicos e à inexistência de um sistema nacional unificado de avaliação e classificação. No Brasil, a existência do sistema Qualis (ver http://qualis.capes.gov.br/webqualis/) simplifica consideravelmente a metodologia para realização de estudo similar.

A escola de gestão da Universidade do Texas, em Dallas, seguindo trilha similar dos autores anteriormente citados e tomando como base específica um artigo de Bapna e Marsden (2002), desenvolveu um website (ver http://top100.utdallas.edu/) que contém um ranking das principais escolas de negócios, de acordo com sua produção científica. O ranking contempla tanto escolas norte-americanas quanto instituições de outros países. O sistema opera sobre uma base de dados com 24 periódicos de primeira linha, acompanhados desde 1990.

Uma pesquisa realizada no início do mês de julho de 2007, no website da escola de gestão da Universidade do Texas, em Dallas, onde se encontra o ranking supracitado, considerando como critério instituições de todos os países, no período 2002-2006 (cinco anos), revelou as seguintes instituições nos cinco primeiros lugares: 1º) University of Pennsylvania (The Wharton School), 2º) New York University (Leonard N. Stern School of Business), 3º) Harvard University (Harvard Business School), 4º) University of Chicago (Graduate School of Business) e 5º) Duke University (The Fuqua School of Business). Em média, essas escolas publicaram 41 artigos por ano em periódicos de primeira linha.

No mesmo ranking, as escolas não norte-americanas mais bem colocadas foram o Insead (França), em 14º lugar, a London Business School (Inglaterra), em 24º, e a University of Toronto - Joseph L. Rotman School of Management (Canadá), em 37º lugar. Não há, no ranking de cem instituições, nenhuma escola latino-americana.

3 METODOLOGIA

Este artigo compõe um projeto mais amplo, de avaliação quantitativa da evolução da produção científica brasileira em Administração de Empresas. Nesse primeiro passo, foram analisadas quatro revistas impressas "A" como fonte de dados: a Revista de Administração de Empresas (RAE), da Eaesp-FGV; a Revista de Administração, da Universidade de São Paulo (Rausp), da FEA-USP; a revista Organizações & Sociedade (O&S), da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e a Revista de Administração Contemporânea (RAC), da Anpad.

Essas revistas seguem os princípios usuais das revistas científicas, tais como a publicação da linha editorial, a existência de um conselho científico e a prática do processo de revisão por pares. Em razão do aumento de submissões, tais revistas se tornaram bastante seletivas. Além disso, o prazo médio para veiculação de artigos, segundo evidências anedóticas, se estendeu consideravelmente.

O período considerado foi de 2002 a 2006, no qual a produção científica brasileira em Administração de Empresas experimentou notável avanço, o que se refletiu, conforme citado na introdução, na criação de novos eventos no âmbito da Anpad e na criação de novas revistas científicas, algumas delas de vida efêmera.

O ranking de produção acadêmica foi desenvolvido em quatro passos, descritos a seguir:

• Criou-se um protocolo para filtrar os artigos a serem contados. Apenas foram considerados para desenvolvimento do ranking artigos originais completos que tivessem passado pelo processo de revisão por pares. Dessa forma, não foram considerados artigos traduzidos (publicados anteriormente em revistas internacionais), ensaios convidados e resenhas. Também não computamos edições especiais regionais, caso específico da RAE-MG, por ser esta uma revista que, por definição, tende a privilegiar determinadas instituições.

• Foram separados os artigos conforme a classificação corrente de divisões utilizada no EnAnpad, a saber: administração da informação (ADI); ensino e pesquisa em administração e contabilidade (EPQ); administração pública e gestão social (APS); estratégia em organizações (ESO); estudos organizacionais (EOR); finanças (FIN); gestão de ciência, tecnologia e inovação (GCT); gestão de pessoas e relações de trabalho (GPR); gestão de operações e logística (GOL); marketing (MKT); e contabilidade (CON). No caso das revistas que não utilizam tal classificação ou classificação similar, realizamos a separação com base na leitura do título, do resumo e das palavras-chave de cada artigo.

• Elaborou-se uma lista de instituições com base nos programas de pós-graduação filiados à Anpad. Note-se que todas as instituições estrangeiras foram agrupadas em uma classificação. No total, identificamos mais de cem instituições.

• Definiu-se um critério para a alocação de pontos. Segundo tal critério, cada artigo vale um ponto, que é dividido pelo número de autores. No caso de autores que citam afiliação a mais de uma instituição, a pontuação correspondente foi destinada para a primeira instituição citada.

Além do ranking geral, que apresenta a produção científica por instituição e por divisão (área de conhecimento), preparamos também rankings por revista. Criamos ainda tabelas complementares, com a finalidade de retratar a evolução da produção científica e sua distribuição entre os as divisões e entre os veículos.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

São apresentados, a seguir, os principais resultados do levantamento realizado.

A Tabela 1 apresenta o número de artigos veiculados por revista pesquisada. No Brasil, no período estudado, foram publicados 603 artigos nas principais revistas científicas de Administração de Empresas. Nota-se um aumento de 101 para 132 artigos veiculados (31%) de 2002 a 2006, sendo a RAC responsável por parte considerável desse crescimento e, no total, por um terço dos artigos veiculados no mesmo período.

A Tabela 2 apresenta o número de artigos veiculados por divisão e por revista pesquisada. Estudos organizacionais (EOR) é a área com maior produção veiculada no período estudado, mais de seis vezes superior à última colocada, contabilidade (CON).

Além disso, observam-se distribuições diferentes entre os veículos: a revista O&S privilegia estudos organizacionais (EOR) e administração pública e gestão social (APS), enquanto a Rausp privilegia finanças (FIN). A RAE e RAC apresentam um maior equilíbrio quanto à distribuição entre as divisões (áreas de conhecimento).

A Tabela 3 mostra o ranking geral de produção científica em Administração de Empresas no Brasil. Os números nas células representam a posição no ranking específico de cada divisão (área de conhecimento).

Em primeiro lugar encontra-se a FEA-USP, com 12% dos artigos publicados, seguida pela Eaesp-FGV e pela UFRGS, com 8% dos artigos publicados cada uma.

As tabelas 4, 5, 6 e 7 apresentam, respectivamente, os rankings específicos da RAE, Rausp, O&S e RAC. Os números nas células representam o número de artigos veiculados por instituição e por divisão (área de conhecimento), computado a partir do critério descrito na seção de metodologia.

No caso das três primeiras revistas, observa-se notável relação entre as afiliações institucionais (Rausp à FEA-USP, O&S à UFBA e RAE à Eaesp-FGV) e a produção destas instituições veiculadas nas respectivas revistas.

5 DISCUSSÃO

O objetivo deste artigo, conforme registrado na seção introdutória, é apresentar um ranking de produção científica dos principais programas de Administração de Empresas do país, ou seja, este trabalho tem caráter descritivo. Todavia, é oportuno registrar alguns comentários sobre os resultados encontrados.

A priori, ressalta-se o fato de o ranking não apresentar surpresas. As instituições mais bem colocadas são as mais tradicionais do país, em termos de pós-graduação em Administração de Empresas, com programas relativamente consolidados e de grande porte. No entanto, entre as dez primeiras instituições, destaca-se a presença, na oitava colocação, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que possui um programa relativamente novo de pós-graduação.

Cabe ainda comentar o alto nível de concentração da produção científica no Brasil: as dez instituições mais bem colocadas no ranking, de um total de mais de cem instituições que tiveram produção registrada, respondem por quase 60% da produção local. Enquanto a FEA-USP, primeira colocada, publica aproximadamente quinze artigos por ano nas revistas analisadas; a UFRJ, décima colocada, publica apenas quatro artigos por ano; e o IBMEC-RJ, que ocupa a vigésima colocação, apenas um artigo por ano.

A título de referência, no ranking norte-americano, a University of Pennsylvania (The Wharton School), primeira colocada, publica sessenta artigos por ano; a Stanford University (Graduate School of Business), décima colocada, publica trinta artigos por ano; e a Emory University (Goizueta Business School), vigésima colocada, dezenove artigos por ano. Ou seja, não apenas a produção dessas instituições estrangeiras é mais numerosa, como também há, nelas, maior homogeneidade. Conseqüentemente, tais diferenças podem ser explicadas por fatores como número de professores pesquisadores, tradição de pesquisa, condições institucionais de suporte e cultura acadêmica.

É relevante destacar a questão da endogenia. Ao se tomarem os rankings por revista e a produção total das instituições, nota-se que 68% da produção da FEA-USP e 91% da produção USP-RP (campus de Ribeirão Preto) são veiculadas na Rausp, que 68% da produção da UFBA é veiculada em O&S, e que 31% da produção da Eaesp-FGV é veiculada na RAE. Em suma, há uma forte tendência de os pesquisadores publicarem artigos em veículos ligados às suas próprias instituições.

Tal condição não é novidade no Brasil embora seja contraditória em relação às práticas e aos padrões de avaliação e publicação de artigos (cf. FACHIN; HILLESHEIM, 2006a, b). De fato, por muito tempo, algumas revistas científicas locais adotaram, de forma explícita ou discreta, uma diretriz editorial de favorecimento aos pesquisadores das respectivas instituições. Nos últimos anos, no entanto, surgiram pressões dos organismos de avaliação da Capes, para coibir tal prática e privilegiar políticas editoriais mais abertas. Os resultados das tabelas 4, 5 e 6 mostram que tais pressões ainda não surtiram efeito suficiente.

Pode-se supor que duas razões sustentam tal situação: a primeira razão é a simples proximidade física entre as redações das revistas e os pesquisadores da instituição à qual estão filiadas; e a segunda é a inércia em relação à situação anterior, na qual era prática comum entre pesquisadores submeter artigos a revistas da própria instituição.

Diante desse quadro, a RAC surge como exceção, provavelmente por sua condição de periódico vinculado a uma organização supra-institucional. Poder-se-ia, inclusive, tomar como hipótese que o ranking da RAC é o que melhor representa o quadro de produção científica no Brasil. No entanto, é necessário apontar os problemas associados a assumir tal posição. Por um lado, a endogenia torna o ranking geral questionável, ou mesmo suspeito, pois nele estão embutidos os efeitos endogênicos combinados de três revistas (Rausp e O&S, e, em um patamar menor, RAE). Por outro lado, tomar o ranking da RAC como substituto para o ranking geral significa tomar a parte pelo todo, prejudicando a posição relativa das três instituições ligadas às revistas mencionadas. Naturalmente, o caminho recomendável seria realizar maiores esforços para reduzir efeitos endogênicos nas revistas acadêmicas.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo busca colaborar para a compreensão e discussão da produção brasileira em Administração de Empresas. Sua contribuição é revelar, entre os programas locais, aqueles que lograram maior sucesso na geração de pesquisa acadêmica e na sua veiculação. Tais programas, assim como os programas de melhor colocação no ranking internacional, têm diretrizes e práticas importantes a serem estudadas e, quando adequado, incorporadas.

Entende-se que este é ainda um trabalho inicial, limitado em termos de amplitude, no qual foram avaliadas somente quatro revistas, e o período abrangido foi restrito a apenas cinco anos. Entretanto, tais limitações poderão ser diretamente desdobradas em novas iniciativas de pesquisa.

Para responder a tais limitações, o período de levantamento poderia ser estendido para dez ou vinte anos. Explica-se: mudanças no mundo acadêmico são relativamente lentas. Um maior período de observação permitiria, provavelmente, identificar tendências.

De forma complementar, poder-se-iam incluir os anais do EnAnpad na amostra, com análise de cada revista. Trabalhos científicos apresentados em eventos não podem ser considerados da mesma forma que trabalhos científicos publicados em revistas. Os primeiros passam por processos rápidos de avaliação, e os segundos, por processos longos e detalhados de aperfeiçoamento. Todavia, o EnAnpad, por sua história, porte e amplitude, constitui hoje, provavelmente, o melhor "termômetro" para a produção científica brasileira.

Poder-se-iam ainda buscar relações entre características dos programas (variáveis independentes) e a posição relativa no ranking (variável dependente). Entre as variáveis independentes, poderíamos listar, entre outras, o número de professores NDP (Núcleo Docente Permanente) e o tempo de existência dos programas de doutorado ou mestrado. Tal estudo permitiria, possivelmente, gerar sugestões para o aumento da produção científica.

Finalmente, deve-se enfatizar o caráter quantitativo deste estudo: é preciso manter-se atento ao fato de que o desempenho de instituições deve ser medido não apenas por indicadores quantitativos, mas também pelo impacto gerado pela pesquisa publicada.

Para realizar tal avaliação, a melhor medida disponível é o fator de impacto, que avalia quanto um determinado artigo é utilizado em outros artigos, isto é, quanto contribui para o desenvolvimento do conhecimento (AZZONI, 2000, 1998; CHANDY; WILLIAMS, 1994; LEYDESDORFF, 1998). Apesar de constituir um indicador consolidado em diversos campos científicos, até mesmo o fator de impacto não é livre de críticas. Como se sabe, ele pode ser sujeito a vieses e manipulações (KOSTOFF, 1998; MACROBERTS; MACROBERTS, 1996).

Assim, é fundamental considerar que qualquer avaliação da contribuição de instituições de pesquisa para o desenvolvimento científico e para a sociedade, em geral, deve compreender múltiplas medidas e indicadores, de forma a registrar a complexidade da atividade desenvolvida.

Recebido em 18/12/2007

Aprovado em 29/1/2008

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2008

Histórico

  • Aceito
    29 Jan 2008
  • Recebido
    18 Dez 2007
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