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Avanços teóricos e metodológicos em valores humanos e gestão: uma introdução ao fórum

INTRODUÇÃO

Por que é importante o estudo dos valores?

Porque conhecer as variáveis que influenciam, simultaneamente, diversas categorias de comportamentos pode auxiliar decisões empresariais, estratégias de marketing, gestão de pessoas, concepção e manutenção de estruturas organizacionais, e até mesmo apontar para procedimentos mais eficazes de fusões ou parcerias com outras organizações em diferentes partes do mundo! Pesquisas têm apontado que a já conhecida relação entre as atitudes e o comportamento faz mais sentido quando incorporamos os valores nessa equação. Evidências demonstram que os nossos comportamentos e as nossas escolhas são interpretados pelos indivíduos por meio do significado que é atribuído aos valores que representam.

Esta edição da RAM pretende apontar para novas possibilidades de estudos sobre valores, preservando a diversidade teórica que nos parece essencial para o desenvolvimento da área. Grande parte dos artigos foi inspirada por teorias e modelos já estabelecidos na área de valores. Apesar de se basearem em premissas epistemológicas diferentes muitas vezes conflitantes, podem, quando interpretados sem exageros e radicalismos, ser vistos como complementares na investigação dos valores. Nesse sentido, esta edição especial contempla diferentes teorias de valores como a teoria funcionalista de valores, a qual foi aplicada ao contexto do Estado da Paraíba, representada pelo artigo "Teoria funcionalista dos valores humanos: evidências de sua adequação no contexto paraibano", de Medeiros, Gouveia, Gusmão, Milfont, Fonseca e Aquino, ao lado de artigos fundamentados na teoria de valores de Schwartz.

No contexto de uma economia globalizada, em que novos atores emergem, como China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul (Brics), atraindo empresas das mais diferentes origens, os estudos transculturais de valores assumem importância particular à medida que as empresas precisam gerir estruturas. Apesar de se situarem em países diferentes, essas empresas precisam guardar coerência entre si.

O artigo "Desenhos transculturais na pesquisa organizacional: considerações teóricas e metodológicas", de Carvalho e Borges, além de fazer uma revisão das principais abordagens de estudos transculturais de valores, alerta os pesquisadores que desejam enveredar por esse terreno sobre os cuidados a serem tomados.

Ao abordarem a questão da internacionalização das empresas, Araujo e Bilsky discutem a relação entre valores pessoais e a adaptação de expatriados brasileiros em um país do Oriente Médio, no artigo "Valores pessoais como antecedentes da adaptação transcultural de expatriados".

A liderança, um antigo tema focal em gestão que continua, porém, a desafiar as organizações, é aqui abordado.

Em "As prioridades axiológicas do líder autêntico: um estudo sobre valores e liderança", Sobral e Gimba tratam de questões pertinentes à influência dos valores na liderança autêntica. Por sua vez, Fonseca, Porto e Barroso abordam, em "O efeito de valores pessoais nas atitudes perante estilos de liderança", aspectos referentes à liderança transformacional.

A relação entre valores e criatividade é discutida no artigo de Bedani, "O impacto dos valores organizacionais na percepção de estímulos e barreiras à criatividade no ambiente de trabalho". Maurino e Domenico, no artigo "Realização de valores pessoais no ambiente organizacional (RPV): olhando as relações entre indivíduos e organização para além dos valores pessoais", abordam a realização de valores no contexto organizacional. Este último artigo apresenta uma perspectiva inovadora para o estudo de valores pessoais, ao tratar da realização de valores pessoais no âmbito organizacional.

Por último, Estivalete e Andrade, em "A influência dos valores organizacionais na percepção de suporte organizacional com base na concepção dos colaboradores do setor bancário", trazem-nos reflexões sobre a relação entre valores organizacionais percebidos pelos empregados como sendo aqueles compartilhados pela organização e a percepção de suporte organizacional.

Assim, os artigos aqui apresentados mostram que o estudo de valores vem despertando o interesse no país de pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento, principalmente da psicologia social, organizacional e administração, assim como de diferentes regiões e Estados brasileiros.

Esperamos, com esta edição, reforçar a área de pesquisas sobre valores e gestão no Brasil, e incentivar a pesquisa científica séria na área. A aplicabilidade desse tipo de pesquisa nos parece óbvia: com a convergência tecnológica, o estabelecimento das parcerias multinacionais e a abertura de mercados internacionais, como no caso do Mercosul, a compreensão dos valores humanos parece ser primordial para bons negócios. Conhecer as relações entre diferentes variáveis, estudá-las e saber das suas implicações parece ser uma tarefa necessária para o pesquisador que pretende aprofundar-se no estudo dos valores.

Jorge Correia Jesuino

Editor convidado

Doutor em Sociologia pelo Departamento de Psicologia Social

da Universidade Técnica de Lisboa

Coordenador do mestrado em Comunicação nas Organizações da Escola de

Comunicação, Artes e Tecnologia da Informação da Universidade Lusófona de Lisboa

E-mail: jorge.correia.jesuino@gmail.com

Claudio Vaz Torres

Editor convidado

Ph.D. em Psicologia Industrial/Organizacional pelo Industrial/Organizational

Program da California School of Professional Psychology - San Diego, CA

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho

e das Organizações do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB)

E-mail: claudio.v.torres@gmail.com

Maria Luisa Mendes Teixeira

Editora convidada

Doutora em Administração de Empresas pela Faculdade de Economia e

Administração da Universidade de São Paulo (USP)

Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas do

Centro de Ciências Sociais da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

E-mail: malluluisa@gmail.com

  • GÜNTHER, H. Uma tentativa de traduzir e adaptar a escala de valores de Rokeach para uso no Brasil. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 33, n. 3, p. 58-72, 1981.
  • PARSONS, T. Structure of social action. New York: McGraw-Hill, 1937.
  • ROKEACH, M. The nature of human values New York: The Free Press, 1981.
  • TAMAYO, A.; SCHWARTZ, S. H. Estrutura motivacional dos valores. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 9, p. 329-348, 1993.
  • Avanços teóricos e metodológicos em valores humanos e gestão: uma introdução ao fórum

    Em outubro de 2011, aconteceu em São Paulo o 3º Simpósio Internacional de Valores Humanos e Gestão (3º SIVHG), por uma iniciativa do Núcleo de Estudos sobre Gestão Baseada em Valores (MackGVAL), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie. No decorrer do Simpósio, foram apresentados relevantes trabalhos empíricos e teóricos, todos tendo o estudo da variável "valores humanos" como central de investigação. Tal fato, além de ser um avanço para esse campo de pesquisa no país, também gerou discussões extremamente importantes e frutíferas. De certo modo, o 3º SIVHG, aliado aos seus dois predecessores, fortaleceu a relevância dessa área para o país. Mais do que isso, as discussões realizadas no Simpósio apontaram para a importância de se ter uma produção científica de qualidade no Brasil. A produção deste número especial da Revista de Administração Mackenzie (RAM) sobre valores humanos e gestão vem atender a essa demanda. O campo de estudo dos valores humanos tem feito grandes progressos nos últimos anos, ampliando a exploração de tópicos a serem investigados, bem como de pesquisadores com interesse no estudo das facetas que constituem esse fenômeno e sua implicação na gestão de organizações. Já em 1937, Parsons chamava a atenção para o fato de que os valores se referem a uma concepção distintiva de um indivíduo ou característica de um grupo sobre o desejável, que influencia os meios e fins existentes da ação. Todavia, em sua obra A estrutura da ação social, Talcott Parsons se limitou a descrever as possíveis técnicas de coleta de dados e outros aspectos metodológicos da pesquisa com valores, além de fazer uma revisão compreensiva sobre os fundamentos filosóficos da variável. No país, os primeiros esforços no sentido de estudar os valores também foram focados para a mensuração da variável, no caso a escala de valores de Rokeach, de 1973, adaptada para o Brasil por Günther (1981). Em 1993, Tamayo e Schwartz investigaram a estrutura motivacional dos valores humanos no Brasil, estudando os interesses servidos pelos valores e provendo evidências da aplicabilidade do inventário de valores de Schwartz para a nossa realidade. Ambos os trabalhos se tornaram ícones da pesquisa com valores humanos no Brasil. Hoje em dia, pesquisadores de valores já representam um grande número dos professores das escolas de administração, psicologia e negócios do mundo, e estudos sobre esse tema já podem ser considerados uma área de grande crescimento em disciplinas como antropologia e sociologia. Todavia, o estudo dos valores no Brasil ainda é incipiente, indicando a necessidade de formação de pesquisadores na área.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Jul 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2012
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