A produção científica em gestão de operações no Brasil: uma análise de temas, autores e instituições de pesquisa no período entre 2001 e 2010

Scientific production in operations management in Brazil: an analysis of themes, authors and research institutions in the period between 2001 and 2010

Producción científica en gestión de operaciones en Brasil: un análisis de temas, autores e instituciones de investigación en el período entre 2001 y 2010

RECURSOS E DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL

A produção científica em gestão de operações no Brasil: uma análise de temas, autores e instituições de pesquisa no período entre 2001 e 2010

Scientific production in operations management in Brazil: an analysis of themes, authors and research institutions in the period between 2001 and 2010

Producción científica en gestión de operaciones en Brasil: un análisis de temas, autores e instituciones de investigación en el período entre 2001 y 2010

Jurandir Peinado^I ; Alexandre Reis Graeml^II

^IDoutor em Administração pelo Programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Positivo (PMDA-UP) Professor Adjunto do Departamento de Administração, Gestão e Economia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Dagee-UTFPR) Avenida Sete de Setembro, 3.165, Rebouças, Curitiba – PR – Brasil – CEP 80230-901 E-mail: [e-mail] ^IIDoutor em Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Professor Associado do Departamento Acadêmico de Informática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Dainf-UTFPR) Avenida Sete de Setembro, 3.165, Rebouças, Curitiba – PR – Brasil – CEP 80230-901E-mail: [e-mail]

RESUMO

Este artigo analisou a produção científica em gestão de operações no Brasil, procurando identificar as temáticas de maior interesse dos pesquisadores e os grupos de pesquisa mais atuantes a partir de uma amostra de 3.224 artigos publicados em 13 periódicos científicos nacionais, no período de 2001 a 2010. Além da classificação dos artigos conforme suas categorias temáticas, também se identificou a origem dos autores, que foram separados em função da área de atuação (Administração ou Engenharia de Produção) e da instituição de afiliação. De maneira geral, 18,4% de todos os 3.224 artigos publicados nas revistas analisadas se enquadram como pertinentes à área de Gestão de Operações. Os resultados apontam sensível diferença entre os percentuais referentes a revistas com origem na área de Administração, que variaram de 1,7% a 10,9%, e os relacionados às revistas com origem na área da Engenharia de Produção, cujos percentuais variaram de 57,8% a 62,4%. O tema mais abordado de Gestão de Operações foi logística e cadeia de suprimentos, com aproximadamente 20% dos trabalhos publicados. Esse tema tem merecido mais destaque nas revistas de Administração, com 35% do total de trabalhos publicados, do que nas revistas de Engenharia de Produção, em que totaliza 14% dos trabalhos publicados. Os temas operações de serviços e gestão de projetos/ desenvolvimento de produtos ocupam praticamente juntos a mesma posição, em segundo lugar entre os temas de maior interesse, tanto nas revistas de Administração como nas de Engenharia de Produção. Percebe-se também que os assuntos relacionados ao tema ergonomia e organização do trabalho são pouco abordados pelas revistas de Administração, com uma média de 2% dos trabalhos publicados. No entanto, representam 8% dos trabalhos publicados nas revistas de Engenharia de Produção. Acredita-se que a pesquisa tenha sido útil, dentre outros motivos, para que os pesquisadores consigam compreender melhor o espaço editorial que está disponível para a publicação dos seus achados de pesquisa, independentemente de terem sua origem na Administração ou na Engenharia de Produção.

Palavras-chave: Gestão de operações. Categorias temáticas. Publicação científica. Produção acadêmica. Administração da produção.

ABSTRACT

This article examined the scientific literature in operations management in Brazil, seeking to identify the themes of greatest interest of researchers and the most active research groups from a sample of 3,224 articles published in 13 national scientific journals the period from 2001 to 2010. In addition to the classification of articles according to their thematic categories also identified the origin of the authors, who were separated according to the area of expertise (management or production engineering) and the institution of affiliation. In general, 18.4% of all articles published in the magazines 3,224 analyzed fall as relevant to the area of operations. The results show sensitive difference between the percentages relating to magazines with origin in administration area, which ranged from 1.7% to 10.9%, and those related to magazines with origin in the field of production engineering, whose percentages ranged from 57.8% to 62.4%. The theme addressed was Logistics Operations management and supply chain, with approximately 20% of the published works. This theme has deserved more prominence in the magazines of administration, with 35% of the total number of papers published, than in production engineering magazines in which totals 14% of published works. The themes service operations and project management/ product development occupy virtually together, the same position, and secondly between the themes of greatest interest, both in magazines and on the administration of production engineering. Notice also that the issues related to the topic and work organization, Ergonomics are barely covered by the magazines, with an average of 2% of the works published. On the other hand, represents 8% of the papers published in the magazines of production engineering. It is believed that the research has been useful so that the researchers can better understand the editorial space that is available for the publication of their research findings, regardless of whether they have their origin in Administration or in production engineering.

Keywords: Operations management. Thematic categories. Scientific publications. Academic production. Production administration.

RESUMEN

Este artículo examina la literatura científica en la gestión de las operaciones en Brasil, tratando de identificar los temas de mayor interés de los investigadores y más grupos activos de investigación de una muestra de 3.224 artículos publicados en revistas científicas nacionales 13 en el período comprendido entre 2001 y 2010. Además de la clasificación de artículos según sus categorías temáticas también identificado el origen de los autores, que fueron separados según el área de especialización (gestión o ingeniería de producción) y la institución de afiliación. En General, 18.4% de todos los artículos publicados en las revistas 3.224 analizada caída tan relevantes para el área de operaciones. Los resultados muestran diferencias sensibles entre los porcentajes relativos a revistas con origen en el área de administración, que se extendieron de 1,7% a 10,9% y las relacionadas con revistas con origen en el campo de la ingeniería de producción, cuyos porcentajes variaron de 57,8% a 62,4%. El tema abordado fue cadena gestión y suministro de operaciones logísticas, con aproximadamente el 20% de las obras publicadas. Este tema ha merecido mayor protagonismo en las revistas de administración, con el 35% del número total de artículos publicados, que en la producción de revistas, en la cual asciende a 14% de las obras publicadas de la ingeniería. Los temas de servicio operaciones y gestión de proyectos/desarrollo de productos prácticamente juntos, ocupan la misma posición, y en segundo lugar entre los temas de mayor interés, tanto en revistas como en la administración de la producción de ingeniería. Observe también que las cuestiones relacionadas con la organización temática y trabajo, ergonomía apenas está cubierto por las revistas, con un promedio de 2% de las obras publicadas. Por el contrario, representa el 8% de los artículos publicados en las revistas de ingeniería de producción. Se cree que la investigación ha sido útil para que los investigadores entiendan mejor el espacio editorial que está disponible para la publicación de sus resultados de la investigación, independientemente de si tienen su origen en la administración o en ingeniería de producción.

Palabras clave: Gestión de operaciones. Categorías temáticas. Publicaciones científicas. Producción académica. Administración de producción.

1 INTRODUÇÃO

O estudo e acompanhamento da evolução da pesquisa científica tem sido tema de um número considerável de publicações científicas em várias áreas do conhecimento, dentre as quais, a Gestão de Operações. Nas últimas décadas, vários artigos sobre o assunto foram publicados em periódicos nacionais e internacionais.

Internacionalmente, já no lançamento do periódico Journal of Operations Management (JOM), Buffa (1980) anunciou a preocupação em balizar os temas de pesquisa na área, propondo uma lista de assuntos para pesquisas científicas em Gestão de Operações. Nesse mesmo primeiro volume do JOM, Chase (1980) publicou um trabalho sobre a evolução e classificação da pesquisa em Gestão de Operações com base em artigos contidos em quatro periódicos de renome: Decision Sciences, AIIE Transactions, Management Science e International Journal of Production Research. Mais recentemente, em 2007, o periódico JOM destinou um número especial, que incluiu 16 artigos, à análise dos tópicos abordados pela Gestão de Operações, considerando sua evolução histórica desde o século XVI até século XXI (Sprague, 2007).

No Brasil, também são inúmeros os trabalhos sobre a pesquisa da produção científica nas mais variadas áreas do conhecimento. Apenas para citar alguns desses trabalhos mais recentes, Rossoni (2014) realizou uma análise multinível da produtividade acadêmica considerando a agência e redes mundos pequenos; Borba, Hoeltgebaum e Silveira (2011) estudam a produção científica em empreendedorismo; Silva e Fadul (2010) abordam a produção científica sobre cultura organizacional em organizações públicas; Ferreira, Fernandes e Silva (2009) fazem um balanço da produção nacional a respeito de valores organizacionais nas áreas de Administração e Psicologia. Godinho Filho, Fernandes e Lima (2009) analisam e classificam a produção científica em gestão da produção na indústria de calçados; Melo e Andreassi (2010) analisam a publicação científica nacional e internacional sobre franchising; Mendonça Neto, Riccio e Sakata (2009) estudam os trabalhos sobre a pesquisa contábil; Paiva, Oliveira e Melo (2008) estudam a produção científica brasileira sobre empresa familiar.

A pesquisa relatada neste artigo teve como principal objetivo analisar a produção científica em Gestão de Operações em periódicos científicos nacionais, no período de 2001 a 2010, procurando identificar as temáticas de maior interesse dos pesquisadores e os grupos de pesquisa mais atuantes.

Periódicos científicos e comitês organizadores de eventos acadêmicos definem listas de tópicos de interesse para auxiliar os autores na preparação de manuscritos. Em função disso, e para facilitar a classificação dos artigos de Gestão de Operações publicados no período ora analisado (2001 a 2010), utilizou-se o mapeamento de temas em gestão de operações proposto por Peinado e Graeml (2013), elaborado a partir das temáticas propostas por quatro periódicos internacionais (Journal of Operations Management (JOM), International Journal of Operations and Production Management (IJO&PM), Manufacturing & Service Operations Management (M&SOM) e Production and Operation Management Journal (POM)) e dois congressos nacionais (Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais – Simpoi – e Gestão de Operações e Logística-Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – GOL-EnAnpad). Além da classificação dos artigos conforme as categorias temáticas do quadro consolidado, procurou-se identificar a origem dos seus autores, que foram separados em função da área de atuação (Administração ou Engenharia de Produção) e da instituição de afiliação.

Os autores consideram que, do ponto de vista prático, o desenvolvimento da pesquisa se justifica pela possibilidade de ampliar o conhecimento sobre os temas tratados nas pesquisas científicas em Gestão de Operações no Brasil, o que permitirá, em um momento seguinte, a realização de comparação com aquilo que os practitioners estão demandando no seu dia a dia de operações na indústria. Além disso, acredita-se que a pesquisa seja útil para que os pesquisadores consigam compreender melhor o espaço editorial que está disponível para a publicação dos seus achados de pesquisa, independentemente de terem sua origem na Administração ou na Engenharia de Produção. A partir de uma perspectiva teórica, a realização da pesquisa também é justificada por possibilitar a comparação do que ocorre na academia brasileira com aquilo que foi identificado nos inúmeros trabalhos estrangeiros que buscam acompanhar a evolução da pesquisa científica em Gestão de Operações.

Nas seções seguintes, após esta breve introdução, são apresentados alguns estudos relacionados à pesquisa científica na área de Gestão de Operações. Depois, discute-se a metodologia utilizada na coleta e na análise dos dados, seguida da sua apresentação e discussão. Encerra-se o artigo com algumas considerações finais, possíveis encaminhamentos para futuros estudos e as limitações da pesquisa ora realizada.

2 A PESQUISA CIENTÍFICA EM GESTÃO DE OPERAÇÕES

Com o objetivo de identificar tendências da pesquisa científica em Gestão de Operações na década de 1990, Pannirselvam, Fergunson, Ash e Siferd (1999) analisaram os artigos publicados em sete periódicos acadêmicos internacionais (Decision Science (DS), IJO&PM, International Journal of Production Research (IJPR), JOM, Management Science (MS) e POM). Os autores descobriram mudanças significativas no tipo de temas pesquisados na década de 1990, comparativamente à década de 1980. Aumentou o interesse por temas que tratavam da estratégia e da qualidade em operações, porém a programação de produção e o controle de estoques continuaram sendo os tópicos mais populares nas pesquisas acadêmicas da área.

Buffa (1980) e Flynn, Sakakibara, Schroeder, Bates e Flynn (1990) realizaram estudos que alertam para a necessidade e importância de pesquisas empíricas, alinhadas à prática no "mundo real". Mais tarde, Scudder e Hill (1998) avaliaram e classificaram as pesquisas empíricas (survey, estudo de caso, estudo em painel e base de dados) que subsidiaram trabalhos de Gestão de Operações publicados em 13 periódicos internacionais (IJO&PM, Production and Inventory Management Journal (PIMJ), Sloan Management Review (SMR), IEEE Transactions on Engineering Management, Omega, California Management Review (CRM), International Journal of Production Research (IIJPR), Harvard Business Review (HBR), Academy of Management Journal (AMJ) e Strategic Management Journal (SMJ)) no período de 1986 a 1995. Os autores descobriram que a participação das pesquisas empíricas evoluiu de 4% para 11% naquele período, tendo a aplicação de survey se destacado como o método predominante.

Ainda mais recentemente, Gupta, Verma e Victorino (2006) apresentaram outro levantamento das pesquisas empíricas publicadas nos 150 artigos do periódico Production and Operations Management no período de 1992 a 2005, em que constataram que a participação das pesquisas com utilização de dados empíricos havia evoluído de 30% para 40% no período analisado.

Rungtusanatham, Choi, Hollinfworth e Wu Z. Forza (2003) realizaram uma análise histórica da produção científica de 285 artigos do tipo survey (pen-and-paper) publicados em seis periódicos internacionais (DS, IJO&PM, IJPR, JOM, MS e POM) tradicionais em Gestão de Operações, para o período de 1980 a 2000. Os autores constataram que as principais mudanças haviam ocorrido nos últimos cinco anos daquele período, quando dois tópicos rapidamente passaram a despontar: estratégia em operações e gestão da cadeia de suprimentos Supply Chain Management (SCM).

Prasad e Babbar (2000) analisaram os artigos sobre Gestão de Operações Internacionais publicados em 28 periódicos internacionais expressivos no período de 1986 a 1997 (Academy of Management Executive (AME), AMJ, Academy of Management Review (AMR), CMR, Computers and Industrial Engineering (C&IE), Computers and Operations Research (C&OR), European Journal of Operational Research (EJOR), HBR, IIE, Interfaces, IJO&PM, International Journal of Production Economics (IJPE), International Journal of Production Research (IJPR), International Journal of Purchasing and Materials Management (IJP&MM), Journal of International Business Studies (JIBS), Journal of Management (JM), Journal of Operational Research Society (JORS), JOM, Journal of World Business (JWB), MS, Naval Research Logistics (NRL), Omega, PIMJ, POM, Sloan Management Review (SMR), SMJ). Os autores classificaram os 548 artigos encontrados em uma relação de 19 tópicos.

Em um estudo para elaborar um ranking da produtividade acadêmica em Gestão de Operações, Young, Baird e Pullman (1996) levantaram dois aspectos: 1. os cursos de Administração das instituições de ensino superior (IES) norte-americanas que eram mais prolíficos na publicação de artigos científicos em Gestão de Operações em 21 periódicos internacionais (MS, DS, JOM, POM, IIE, IJPR, HBR, Operations Research (OR), NRL, IJPE, EJOR, Interfaces, IJO&PM, JORS, Omega, AMJ, C&OR, C&IE, PIMJ, IJP&MM); 2. os pesquisadores, ligados à área de Administração, com maior número de publicações nesses periódicos. Houve 738 autores de 237 diferentes IES que publicaram artigos relacionados à Gestão de Operações em pelo menos um dos 21 periódicos analisados durante o período de 1989 a 1993.

Vários autores se dedicaram a analisar a produção científica em Gestão de Operações em Serviços (SOM) de maneira distinta dos demais tópicos. Machuca, Zamora e Escobar (2007) observaram que apenas 7,5% dos artigos publicados em Gestão de Operações são ligados à Gestão de Serviços. Segundo esses autores, temas estratégicos predominam em relação aos temas táticos e operacionais na produção científica em Gestão de Serviços. Em outro estudo da evolução da pesquisa científica em Gestão de Serviços divulgado em cinco periódicos relevantes, Smith, Karwan e Markland (2007) identificaram que a participação dos artigos que versam sobre serviços elevou-se de 7% em 1980 para 17,2% em 2006. Os autores acreditam que esse percentual de participação ainda não tenha atingido estabilidade, devendo continuar a crescer.

No âmbito nacional, as pesquisas de análise da produção científica em Gestão de Operações são mais restritas. Um dos trabalhos seminais sobre o assunto, e talvez o mais conhecido, foi realizado por Arkader (2003). A autora pesquisou e classificou 221 trabalhos publicados nos anais do EnAnpad no período de 1980 a 2002, 82 artigos publicados na RAE- Revista de Administração de Empresas, da Fundação Getulio Vargas, no período entre 1961 e 2001, 33 artigos publicados no periódico Revista de Administração da Universidade de São Paulo (Rausp), no período de 1978 a 2001, e 18 artigos publicados na Revista de Administração Contemporânea (RAC), no período de 1997 a 2001. Arkader (2003, p. 79) concluiu que, até então, a pesquisa em Gestão de Operações ainda não havia conseguido "encontrar sua identidade na busca de respostas a problemas de natureza intrinsecamente estratégica, estando ainda marcada por grande indissociação com a engenharia". Em outro trabalho mais recente, Corrêa, Paiva e Mendes Primo (2010) fazem um breve relato sobre a evolução da pesquisa em Gestão de Operações no Brasil. Os pesquisadores confirmam a influência da área da Engenharia de Produção, especialmente pela presença de artigos com modelagem matemática em muitos trabalhos da área de Administração.

Em outra recente pesquisa sobre a produção científica em Gestão de Operações, Martins, Rossoni, Csillag, Martins e Pereira (2010) analisaram a rede de pesquisadores que publicam no campo de Gestão de Operações no Brasil, baseando-se em 2.668 artigos publicados entre 1997 e 2009. Para esse estudo, foram utilizadas como fonte de dados as revistas RAE, RAC, Rausp, Brazilian Administration Review (BAR) e Gestão e Produção.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Seleção dos periódicos para compor o objeto de estudo

Em sua análise da pesquisa científica em Gestão de Operações no Brasil, Arkader (2003) pesquisou os artigos das revistas RAE, Rausp e RAC. Em outra análise, a partir da rede social de pesquisadores brasileiros, Martins et al. (2010) utilizaram como fonte de dados as revistas RAE, RAC, Rausp, BAR e a Revista Gestão e Produção. Em um estudo da produção científica no Brasil em Gestão Ambiental Empresarial, Jabbour, Santos e Barbieri (2008) analisaram os artigos publicados pelas revistas RAE, Rausp, Read e RAC. RAE, Rausp, O&S e RAC foram utilizadas em quatro pesquisas distintas: por Wood Jr. e Chueke (2008) para a construção de um ranking de produção científica em administração de empresas no Brasil, por Hoppen e Meirelles (2005) para desenvolver um panorama da pesquisa científica em sistemas de informação, por Loiola e Bastos (2003) para um estudo da produção acadêmica sobre aprendizagem organizacional no Brasil e por Bertero, Vasconcelos e Binder (2003) como fonte de dados para uma análise da produção científica brasileira sobre estratégia empresarial. Melo e Andreassi (2010) analisaram os artigos dos periódicos nacionais RAE, RAC e BAR, em um estudo da publicação científica sobre franchising. Em um balanço da produção nacional a respeito de valores organizacionais, Ferreira, Fernandes e Silva (2009) incluíram os periódicos nacionais da área de Administração RAC, RAE, Rausp, RAM, Read, Revista de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (RAP) e O&S, como fonte de dados. Rossoni (2014) realizou uma análise multinível da produtividade acadêmica adotando como unidade amostral os artigos científicos publicados nas áreas de organizações e estratégia em anais de eventos e periódicos classificados como "A" Nacional pelo sistema Qualis¹ da Capes: EnAnpad, Encontro de Estudos Organizacionais (EnEO), Encontro de Estudos em Estratégia (3Es), RAC, RAE, RAE-E, Rausp, O&S, RAP e Read. Procurando levantar o cenário dos estudos sobre política e gestão de pessoas, Demo, Fogaça, Nunes, Edrei e Francischeto (2011) analisaram os trabalhos publicados nos periódicos científicos com Qualis igual ou superior a B2, incorporando à amostra os periódicos: RAE, RAC, Rausp, RAM, Read, O&S, RAP e Cadernos Ebape.

Para a presente pesquisa, foram selecionados todos os periódicos brasileiros contidos no Qualis da área de Administração, Contabilidade e Turismo com classificação em extrato igual ou superior a B2 (tomando como base o ano de 2011), que pudessem veicular artigos científicos sobre temas ligados à área de Gestão de Operações.

Não foram consideradas as publicações em Gestão de Operações apresentadas nos anais de congressos, dentre os quais se destacam o Encontro Nacional da Associação Nacio­nal de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (EnAnpad) e o Simpósio de Produção e Operações Internacionais (Simpoi), apesar de essa prática ser relativamente comum entre os pesquisadores que realizam metaestudos sobre suas áreas de pesquisa. Cardoso, Pereira e Guerreiro (2007), Caldas e Tinoco (2004), Paiva, Oliveira e Melo (2008), Gosling e Gonçalves (2004), Mainardes, Silveira, Gomes e Deschamps (2008), Braga, Gomes e Ruediger (2008) são alguns autores com trabalhos dedicados à análise da produção nacional em diversas áreas temáticas, publicados respectivamente nas revistas RAC, RAE, RAM, Read, Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos (Base) e RAP, que utiliza­ram como fonte de dados, exclusivamente, artigos publicados nos anais do EnAnpad. Martins et al. (2010), além do EnAnpad, utilizaram artigos do Simpoi. Godinho Filho, Fernandes e Lima (2009) também utilizaram dados do Simpoi em sua pesquisa em Gestão da Produção.

A decisão de não incluir artigos de congresso na presente pesquisa se deveu ao fato de a Capes não levar mais em consideração, ao menos quantitativamente, qualquer produção acadêmica veiculada em anais de congressos na avaliação dos programas de pós-graduação em Administração no Brasil (Jabbour, Santos & Barbieri, 2008). Ademais, de acordo com Machado-da-Silva, Guarido Filho, Rossoni e Graeff (2008, p. 236), "a apresentação de artigos em congressos acadêmicos caracteriza-se como um trabalho em processo e deveria ser pontuada tão somente como mecanismo de participação e envolvimento do pesquisador".

3.2 Seleção dos artigos dos periódicos analisados para compor o objeto do estudo

A tarefa de seleção dos artigos que versavam sobre Gestão de Operações para inclusão no estudo foi realizada inicialmente por meio da leitura do título e do conjunto das palavras-chave em 100% dos 3.224 artigos contidos nas 394 edições dos 13 periódicos selecionados para a pesquisa. Por meio de uma primeira triagem, foram sumariamente descartados os artigos que não apresentavam nenhuma chance de pertencer à área de Gestão de Operações com base na análise do título e das palavras-chave. Procedimento similar para pré-seleção de artigos para compor o objeto de análise de metaestudos foi utilizado por outros autores, tais como Loiola e Bastos (2003), Teixeira e Lacerda (2010), Ferreira, Fernandes e Silva (2009), Beuren, Schundwein e Pasqual (2007) e Bertero, Vasconcelos e Binder (2003), apenas para citar alguns. Não foram incluídas outras formas de trabalhos publicados nas revistas selecionadas que não fossem artigos de natureza acadêmica, originais e completos, que tivessem passado pelo processo de revisão por pares. Assim, ficaram de fora casos de ensino, resenhas, notas bibliográficas, fóruns, debates e pensatas. Este procedimento de exclusão também foi adotado em outros estudos, dentre os quais Machado-da-Silva et al. (2008), Loiola e Bastos (2003) e Wood Jr. e Chueke (2008).

Uma segunda fase da tarefa de seleção de artigos para compor a base de análise do presente estudo consistiu na leitura do resumo de todos os artigos que não haviam sido eliminados na etapa anterior. Em trabalhos de análise da produção científica de uma determinada área, o procedimento de leitura dos resumos também foi utilizado por outros autores, tais como Silva e Fadul (2010), Beuren, Schundwein e Pasqual (2007), Cardoso, Pereira e Guerreiro (2007), Beyda e Macedo-Soares (2010), Cardoso, Mendonça Neto, Riccio e Sakata (2005) e Mendonça Neto, Riccio e Sakata (2009).

Quando, mesmo depois da leitura do resumo, ainda restava dúvida quanto à pertinência da inclusão do artigo no estudo, procedeu-se à identificação da origem acadêmica dos autores e à avaliação das referências bibliográficas utilizadas, em busca de sinais que pudessem evidenciar sua aderência (ou não) à área de Gestão de Operações. A identificação de autores com raízes acadêmicas em Administração da Produção ou Engenharia de Produção, em conjunto com a utilização de referências a autores da área e/ou a trabalhos publicados em periódicos científicos da área (por exemplo, JOM, IJO&PM, IJPE, JOSCM, G&P e Produção) ou congressos da área de Gestão de Operações (por exemplo, Simpoi, GOL-EnAnpad, Production and Operations Management Society (POMS), European Operations Management Association (EurOMA), foi considerada evidência positiva para a inclusão do artigo no estudo.

3.3 Classificação temática dos artigos

Após a seleção dos artigos classificados como pertinentes à área de Gestão de Operações, foi realizada sua categorização temática atribuindo-se um código a cada artigo de acordo com o mapeamento de temas em Gestão de Operações proposto por Peinado e Graeml (2003), produzido a partir da consolidação dos temas sugeridos pelos periódicos JOM, IJO&PM, M&SOM e POM e pelos eventos GOL-EnAnpad e Simpoi. Para realizar essa classificação, foram analisados conjuntamente o título, as palavras-chave e o resumo de cada um dos 598 artigos que haviam sido selecionados, no procedimento anterior, para compor o objeto do estudo. Quando a análise dos itens mencionados na seção anterior não foi suficiente para a classificação segura do artigo em uma das 47 categorias da tabela de consolidação de temas, procedeu-se à leitura integral do artigo, na busca de uma melhor compreensão do assunto tratado, permitindo a correta classificação.

3.4 Identificação da área de atuação dos autores

Este levantamento pretendeu apurar a proporção de autores de artigos sobre Gestão de Operações que atuam nas áreas de Administração, Contabilidade e Turismo, comparativamente àqueles que atuam na área da Engenharia de Produção ou em outras áreas afins.

Esse levantamento é importante para ajudar a compreender o grau de interdisciplinaridade da área de Gestão de Operações. Além disso, a identificação de origem possibilita que se apurem as instituições a que os pesquisadores estão ligados e, indiretamente, a relevância dessas instituições para a pesquisa na área.

Assim, foram estabelecidas quatro possíveis categorias de autorias: (A) para autores que atuam na área de Administração, (E) para autores que atuam na Engenharia de Produção, (O) para autores atuantes em área distinta das anteriores, e (N) quando não foi possível a identificação da área de atuação do autor. Na ocorrência de informações insuficientes para determinar a área de atuação do autor, procedeu-se a uma pesquisa no seu currículo Lattes, antes de se conformar com a eventual impossibilidade de determinar sua origem.

Todos os autores e coautores foram categorizados, independentemente do número de coautorias por artigo analisado. Um critério com três alternativas de hierarquia de prevalência foi utilizado para a categorização da área de atuação dos autores: em primeiro lugar, decidiu-se que prevaleceria o curso em que o autor era aluno de doutorado ou mestrado na época da publicação do artigo, quando esse fosse o caso. Em segundo lugar, o curso ou departamento em que o autor atuava como professor à época da publicação. Não havendo vinculação a alguma IES, foi então considerada a formação do autor.

3.5 Identificação dos autores mais prolíficos

Para apurar os autores mais prolíficos na publicação de artigos em Gestão de Operações foram consideradas todas as autorias de cada autor, independentemente de constar como primeiro, segundo ou enésimo autor. Também foram levantados os vínculos de afiliação declarados pelos autores e os periódicos em que os artigos foram publicados. Nos casos em que o autor declarou vinculação a mais de uma instituição, para fins desta análise, foi considerada somente a instituição citada em primeiro lugar. Esse procedimento foi anteriormente utilizado por outros pesquisadores, tais como Melo e Andreassi (2010), Wood Jr. e Chueke (2008), Cardoso, Pereira e Guerreiro (2007), Loiola e Bastos (2003) e Vergara e Pinto (2001), entre outros.

3.6 Identificação das IES mais prolíficas na produção de artigos

Em primeiro lugar, foi obtida uma listagem completa de todas as instituições de afiliações declaradas, referentes a todas as autorias mencionadas nos artigos analisados. Como muitos dos trabalhos analisados foram elaborados em coautoria (alguns com até sete pesquisadores), em que os coautores nem sempre são vinculados à mesma instituição, para a elaboração do ranking das instituições mais prolíficas em pesquisa sobre Gestão de Operações, adotou-se critério similar ao adotado pela Capes (2009) no seu sistema de avaliação de cursos de pós-graduação, a fim de evitar múltiplas contagens. Assim, quando um artigo continha um ou mais autores de uma mesma IES, contabilizou-se somente um artigo para a IES e, quando o artigo apresentava autores de IES diferentes, foi computada uma produção para cada IES. Este critério também já havia sido utilizado por Mendonça Neto, Riccio e Sakata (2009) e por Bertero, Vasconcelos e Binder (2003). Com isso, os 598 artigos analisados envolveram 826 participações de instituições.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Periódicos incluídos no estudo

Como já mencionado, foram considerados para eventual inclusão no estudo todos os periódicos brasileiros constantes do Qualis de Administração, Contabilidade e Turismo, com classificação igual ou superior a B2 no final de 2011, que pudessem publicar artigos sobre Gestão de Operações. A Tabela 1 apresenta os periódicos considerados nas etapas seguintes da análise.

Não foram encontrados periódicos nacionais constantes do estrato A1 para os temas propostos nesta pesquisa. Também se observou pequena quantidade de periódicos classificados como A2. Estes são representados pela revista BAR, da área de Administração, e por dois periódicos com origem editorial na Engenharia de Produção (área Engenharias III): a revista Gestão & Produção e a revista Produção². Convém salientar que, se apenas esses dois estratos (A1 e A2) fossem utilizados, a pesquisa deixaria de levar em conta praticamente todos os periódicos com origem editorial nas áreas de Administração, Contabilidade e Turismo. Por isso, optou-se por incluir também os periódicos B1 e B2. Outra justificativa em prol da inclusão de tais estratos do Qualis é a expressividade da utilização dos periódicos B1 e B2 para escoar a produção científica de bom nível em Administração no Brasil.

4.2 Proporção de artigos sobre Gestão de Operações nos periódicos avaliados

Ao final do procedimento de decisão de que artigos incluir no estudo, segundo os procedimentos metodológicos adotados, haviam sido selecionados 598 artigos dos 3.224 artigos considerados (todos aqueles publicados pelas revistas analisadas no período). A Tabela 2 mostra os resultados da seleção dos artigos para inclusão nas etapas posteriores de análise nesse estudo.

De maneira geral, 18,4% de todos os 3.224 artigos publicados nas revistas analisadas se enquadram de alguma forma como pertinentes à área de Gestão de Operações. Os resultados apontam sensível diferença entre os percentuais referentes a revistas com origem nas áreas de Administração, Contabilidade e Turismo, representados pelos periódicos RAE, RAC, Rausp, Read, RAM, BBR, Base, O&S e BAR, que variaram de 1,7% a 10,9%, e os relacionados às revistas com origem na área da Engenharia de Produção, representados pelos periódicos G&P e Produção, cujos percentuais foram de 57,8% e 62,4%, respectivamente.

A diferença expressiva de percentuais pode ser atribuída à própria diferença de escopo entre a área de Administração e a área de Engenharia de Produção. Gestão de Operações representa um tema central na Engenharia de Produção e apenas mais uma divisão das áreas de Administração, Contabilidade e Turismo. Ressalta-se ainda que a única revista da área de Administração com foco exclusivo em Gestão de Operações, a JOSCM, não foi incluída na análise porque, apesar de ter sua qualidade reconhecida pelos pesquisadores da área (ver Martins et al., 2010), ainda não foi avaliada pela Capes e, portanto, não se encontra ranqueada no Qualis.

4.3 Temas abordados pelos artigos

Ao final do procedimento de identificação e classificação dos temas abordados pelos 598 artigos selecionados segundo os procedimentos metodológicos adotados, procurou-se levantar o espaço ocupado por cada um deles. A Tabela 3 apresenta a distribuição dos artigos conforme a categoria temática abordada.

De maneira geral, considerando-se a totalidade dos artigos, mostrada na última coluna da Tabela 3, percebe-se que o tema de Gestão de Operações mais abordado foi logística e cadeia de suprimentos, com aproximadamente 20% dos trabalhos publicados. Esse tema tem merecido muito mais destaque nas revistas de Administração, com 35% do total de trabalhos publicados, do que nas revistas de Engenharia de Produção, em que totaliza 14% dos trabalhos publicados. Apesar dessa diferença, convém ressaltar que o tema logística e cadeia de suprimentos se manteve predominante em todas as revistas, com exceção da revista Produção, em que gestão de projetos, desenvolvimento de produtos e operações de serviços têm maior destaque.

Percebe-se também que os assuntos relacionados ao tema ergonomia e organização do trabalho são pouco abordados pelas revistas de Administração, com uma média de 2% dos trabalhos publicados. No entanto, representam 8% dos trabalhos publicados nas revistas de Engenharia de Produção. No levantamento de Arkader (2003), o tema descrito como projeto, mensuração e melhoria do trabalho (o mais próximo de ergonomia e organização do trabalho) também não havia sido muito representativo, variando, de ano para ano, em torno de 3% dos trabalhos publicados nos anais do EnAnpad. Outro ponto de destaque é a tendência apontada pela pesquisa em relação à gestão da qualidade. Os resultados da Tabela 3 demonstram que o tema foi abordado por 6% dos artigos publicados pelos periódicos de Administração. O levantamento anterior de Arkader (2003) indicou que o tema já havia representado 16,3% do total de trabalhos sobre Gestão de Operações apresentados nos EnAnpad. Parece haver um declínio do interesse dos pesquisadores de Administração pelo assunto. Já nas revistas da Engenharia de Produção, o tema ocupa, atualmente, 10% do espaço editorial, o que indica que o assunto continua prosperando, ocupando a quinta posição dentre as temáticas mais estudadas.

4.4 Área de atuação dos autores dos artigos de Gestão de Operações

O processo de identificação da origem acadêmica dos autores, conforme descrito na seção de procedimentos metodológicos, pretendeu apurar a proporção de autores de artigos sobre Gestão de Operações que atuam na área de Administração, comparativamente àqueles que atuam na Engenharia de Produção e àqueles que atuam em outras áreas. A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos.

A Tabela 4 mostra as quantidades individuais de autores que tiveram artigos de Gestão de Operações publicados em cada periódico. O número de autores foi obtido contando-se cada autor uma única vez, mesmo que tenha tido vários artigos publicados. Tomando-se a revista RAE como exemplo, tem-se um total de 54 autores diferentes que escreveram os 27 artigos que versavam sobre Gestão de Operações. Desses 54 autores, 35 atuam na área de Administração, 17 na Engenharia de Produção e dois em outras áreas.

A última coluna da Tabela 4 apresenta o cômputo de número de autores por área. Nas células da metade superior dessa última coluna não aparece a simples soma do número de autores por periódico. Foram excluídas as repetições, quando um mesmo autor teve trabalhos publicados em revistas distintas. O cômputo geral indica que 956 autores distintos publicaram 598 trabalhos na área de Gestão de Operações nos periódicos nacionais incluídos no estudo. Desse total, 296 atuam na área de Administração, 539 na área de Engenharia de Produção, 101 autores são de outras áreas e no caso de 20 autores não foi possível identificar a área de atuação principal.

Para melhor visualização do cruzamento das áreas de atuação dos autores com as áreas de atuação dos periódicos em que os artigos foram publicados, duas colunas da Tabela 4 (RA e RE) apresentam os resultados discriminados, de forma sintetizada e com os valores expressos também em forma percentual. Analisando-se essas duas colunas, percebe-se a predominância de autores que atuam na Engenharia de Produção em periódicos originários daquela área (RE = G&P + Produção) e de autores que atuam na área de Administração nas revistas originárias da área de Administração (RA = RAE + RAC + Read + RAM + BBR + O&S + BAR + Rausp). Apesar dessa natural tendência de os pesquisadores publicarem preferencialmente nos periódicos da sua própria área, os dados coletados comprovam o interesse tanto da Administração quanto da Engenharia de Produção pela Gestão de Operações. Dos artigos sobre Gestão de Operações publicados em revistas de Administração, 24,1% eram de autores que atuam na Engenharia de Produção. Por outro lado, 14,7% dos artigos sobre o tema publicados em revistas da Engenharia de Produção são oriundos de autores que atuam na Administração. Na revista Rausp, um periódico da área de Administração, chega a ocorrer um ligeiro predomínio de trabalhos que tratam de temas ligados a Gestão de Operações escritos por autores atuantes na Engenharia de Produção. Isso pode decorrer de a própria USP possuir escolas de Engenharia muito atuantes em pesquisa, como é o caso da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Epusp), responsável por oito dos artigos publicados na Rausp no período e da Escola de Engenharia de São Carlos (Eesc-USP), que contribuiu com seis autorias. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), outra escola de Engenharia do Estado de São Paulo, contribuiu com 12 autorias, de modo que apenas dez dos 36 autores com artigos publicados na Rausp no período não tinham vínculo com escolas de Engenharia de São Paulo.

4.5 Autores mais prolíficos

Dentre os 956 diferentes autores com artigos incluídos nesse estudo, foram selecionados os autores que publicaram pelo menos cinco artigos no período de 2001 a 2010, que constam da Tabela 5.

A análise dos resultados apresentados na Tabela 5 mostra que 36 autores publicaram mais de cinco artigos que abordaram temas da Gestão de Operações nos principais periódicos nacionais, no período compreendido de 2001 a 2010. Seis autores atuam na área de Administração, dois deles atuam em ambas as áreas e os 27 restantes atuam na área de Engenharia de Produção. A maior quantidade de autores mais prolíficos pertinentes à Engenharia de Produção pode ser explicada considerando-se que 56% do total dos autores levantados nesta pesquisa atuam em Engenharia de Produção, enquanto 31% deles atuam na área de Administração. Relativizando-se a situação, percebe-se que 3,04% (9/296) dos autores da área de Administração escreveram mais que cinco artigos, enquanto 5,01% (27/539) dos autores de Engenharia de Produção publicaram mais que cinco trabalhos no período.

A análise dos dados da última coluna da Tabela 5 também permite considerar a estreita afinidade entre as áreas de atuação da Engenharia de Produção e da Administração no que diz respeito ao tema Gestão de Operações. Do total dos 36 autores mais prolíficos, 21 tiveram artigos publicados em periódicos tanto de Administração quando de Engenharia de Produção. Apenas 15 autores restringiram suas publicações aos periódicos ligados à sua área específica de atuação (13 autores de Engenharia de Produção e dois autores da área de Administração). Convém ressaltar também que, para dois dos mais prolíficos autores (Roque Rabechini Jr e Mário Sacomano Neto), foram encontrados tanto artigos em que o autor se declara pertencente à área de Administração, como artigos em que se declara atuante em Engenharia de Produção, de acordo com critério explicado anteriormente.

Arkader (2003) apontou os autores mais prolíficos na publicação de artigos em Gestão de Operações nos principais periódicos nacionais na área de Administração (RAC, RAE e Rausp), durante o período compreendido desde o início de circulação desses periódicos até o ano de 2001. A autora constatou que, afora as universidades estrangeiras, a vinculação declarada dos autores mais prolíficos correspondia à USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – FEA – e Poli), UfsCar, Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-Eaesp) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dois autores que apareceram em destaque em Arkader (2003) ainda permanecem entre os mais prolíficos na presente pesquisa, são eles: José Carlos de Toledo (Ufscar) e a própria Rebecca Arkader (UFRJ). Convém ressaltar que Arkader (2003) não incluiu os periódicos da Engenharia de Produção (G&P e Produção) em sua pesquisa, o que pode ser motivo do não aparecimento, em sua pesquisa, de outros autores ora destacados.

Em uma recente análise do campo científico a partir das redes sociais de pesquisadores em Gestão de Operações no Brasil, Martins et al. (2010) apontam os autores com maior centralidade de grau, eficiência em seus laços e produção no período de 1997 a 2008. Dentre eles, três autores também se destacam na presente pesquisa: Roberto Giro Moori, Ely Aureliano Paiva e Sílvio R. I. Pires. Assim como aconteceu no estudo de Arkader (2003), Martins et al. (2010) não estavam preocupados com a área de Engenharia de Produção, o que pode ter feito com que alguns dos autores destacados agora não aparecessem em seu trabalho.

4.6 IES mais prolíficas

De acordo com os procedimentos metodológicos adotados, em primeiro lugar foi obtida uma listagem completa de todas as instituições de vinculação declaradas, referentes a todos os autores de cada um dos artigos analisados. A listagem resultou em 211 organizações diferentes, sendo 64 IES nacionais públicas, 63 IES nacionais privadas, 37 IES estrangeiras e 47 empresas ou institutos. Dois dos autores não declararam vinculação a qualquer organização. A Tabela 6 mostra as IES com mais de dez autorias.

A análise dos resultados apresentados na Tabela 6 novamente aponta para a estreita afinidade entre as áreas de Administração (subárea: Gestão de Operações) e Engenharia de Produção. Do total de 501 autorias institucionais, 118 foram produzidas por autores de escolas de Administração e 373 por autores vinculados a escolas de Engenharia.

Os resultados também demonstram o elevado grau de concentração das participações em poucas IES brasileiras. Do total das 826 participações das instituições nos artigos incluídos no estudo, 501 são originárias de apenas 18 IES, sendo 12 públicas e seis privadas. A proporção de concentração eleva-se ainda mais se forem desconsideradas as 84 participações das IES estrangeiras e organizações que não são IES, o que reduz o total de participações de IES brasileiras para 742. Portanto, conclui-se que 67,5% das participações de autores ligados a IES nacionais se concentram nessas 18 IES.

O alto nível de concentração da produção científica em poucas IES já havia sido constatado por outros autores em estudos anteriores em diversas áreas da Administração. Na elaboração de um ranking da produção científica em administração de empresas no Brasil, Wood Jr. e Chuke (2008) constataram que 10% das IES analisadas respondem por 60% da produção científica local. Loiola e Bastos (2003) constataram que seis instituições respondem por 72% dos artigos publicados sobre aprendizagem organizacional no Brasil. Mendonça Neto, Riccio e Sakata (2009) constataram que 70% dos trabalhos sobre contabilidade apresentados no EnAnpad estão concentrados em 13 IES. Em seu estudo da produção científica sobre estratégia empresarial, Bertero, Vasconcelos e Binder (2003) observaram que mais da metade da produção estava concentrada em nove IES. Caldas e Tinoco (2004) afirmam que aproximadamente 47% das citações nacionais acadêmicas na área de gestão de recursos humanos se referem a autores vinculados a apenas três instituições: USP, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Jabbour, Santos e Barbieri (2008) constataram que cinco instituições (FGV-Eaesp, USP, UFGRS, Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)) foram responsáveis por cerca de 60% da produção acadêmica a respeito de gestão ambiental empresarial, no período de 1996 a 2005.

No levantamento das instituições mais prolíficas na publicação de artigos sobre o tema Gestão de Operações e Logística (GOL) no EnAnpad entre 2002 e 2006, Wood Jr. e Chuke (2008) constataram que a USP-FEA, universidades estrangeiras, Ufscar, Mackenzie, UFRJ, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), UFRGS, UFBA, Universidade de Brasília (UnB) e Ufla foram as dez IES com mais artigos. A pesquisa aqui apresentada corroborou seis dessas IES como estando entre as mais prolíficas. Anteriormente, o levantamento de Arkader (2003) para o período entre 1980 e 2002 também destacara o vínculo dos autores mais prolíficos com as seguintes IES: UFGRS, Unisinos, UFRJ, USP, Ufscar, FGV-Eaesp e Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). O alinhamento ocorrido entre as instituições que mais publicam nos anais de congresso e aquelas que se destacam nos periódicos científicos já podia ser esperado. Afinal, os congressos são "laboratórios" em que conceitos e ideias são testados, em versões preliminares de artigos que depois evoluem para publicação definitiva em revistas.

5 CONCLUSÃO

Dentre as principais constatações da pesquisa destaca-se o fato de logística e cadeia de suprimentos, operações de serviços e gestão de projetos/desenvolvimento de produtos serem temas que, em conjunto, representam cerca de 50% da produção acadêmica nacional sobre Gestão de Operações. Dentre esses três temas, comparativamente ao levantamento realizado na década anterior por Arkader (2003), destaca-se a ascensão de gestão de projetos e desenvolvimento de produtos como tema de relevância na produção científica em Gestão de Operações. O tema gestão de projetos, com participação de 15% na presente pesquisa, demonstra manter a relevância que já havia sido identificada em estudos realizados por Machuca, Zamora e Escobar (2007) e por Smith, Karwan e Markland (2007).

Outra constatação do estudo foi a comprovação da estreita proximidade entre as áreas de Administração e de Engenharia de Produção ao tratarem do tema Gestão de Operações. Dos artigos sobre Gestão de Operações publicados em revistas de Administração, cerca de 25% envolveram autores que atuam em Engenharia de Produção. Por sua vez, um em cada oito artigos sobre o tema publicados em revistas de Engenharia de Produção é de autor que atua na área de Administração.

Apesar dos resultados interessantes obtidos, este estudo apresenta algumas limitações que reduzem o alcance das suas conclusões. A classificação temática dos artigos está sujeita à interpretação dos autores, o que pode ter provocado alguma distorção na análise. Ainda assim, acredita-se que a pesquisa tenha sido útil para que os pesquisadores consigam compreender melhor a sua área acadêmica, o espaço editorial disponível para a publicação dos seus achados de pesquisa e as instituições que lideram o desenvolvimento científico da Gestão de Operações, independentemente de terem sua origem em Administração ou em Engenharia de Produção, podendo ainda comparar o que publicam os pesquisadores brasileiros com aquilo que tem motivado seus colegas de outras partes do mundo.

Na continuidade dos trabalhos, os autores pretendem pesquisar o espaço ocupado pela Gestão de Operações em duas outras frentes de relevância para a sociedade: no ensino de graduação em Administração e na prática empresarial. Depois disso, será possível comparar o que se pesquisa em nível de pós-graduação com o que se ensina na graduação e o que efetivamente se pratica nas empresas. Outro possível trabalho futuro envolve realizar uma pesquisa longitudinal para compreender como as preferências por temáticas aqui constatadas variam ao longo do tempo, principalmente considerando-se que algumas diferenças foram percebidas relativamente a outros estudos anteriores, ainda que adotando métodos e objetos de análise distintos.

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1

Qualis é o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. Como resultado, a agência disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. A classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por processo anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos da qualidade, desde A1, o mais elevado, passando por A2, B1, B2, B3, B4 e B5, até C (Capes, 2009).

2

Essa realidade mudou um pouco desde o momento em que foi realizada a pesquisa, tendo alguns dos periódicos em questão sido promovidos a estratos mais elevados do Qualis.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  08 Jan 2015
• Data do Fascículo
  Out 2014