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DESISTÊNCIA DE COOPERAÇÃO EM REDES INTERORGANIZACIONAIS: REFLEXÕES INSPIRADAS NA AÇÃO SOCIAL WEBERIANA

WITHDRAWAL OF COOPERATION IN INTERORGANIZATIONAL NETWORKS: REFLECTIONS INSPIRED BY THE WEBERIAN SOCIAL ACTION

DESISTENCIA DE LA COOPERACIÓN EN REDES INTERORGANIZACIONALES: REFLEXIONES INSPIRADAS EN LA ACCIÓN SOCIAL WEBERIANA

Estudos desenvolvidos acerca da cooperação interorganizacional enfatizam os motivos para se iniciar a cooperação, bem como o desenvolvimento de métricas para avaliar seus resultados, tendo os motivos da desistência pouca atenção teórica ou empírica. Nesse sentido, o objetivo do estudo reside em descrever a racionalidade subjacente aos motivos da desistência por parte de dirigentes de empresas, no sentido de manter a participação em redes interorganizacionais. Para tanto, realizou-se uma revisão do tema desistência da cooperação e dos mecanismos de cooperação em redes interorganizacionais, bem como dos motivos ou tipos de racionalidade presentes em decisões no âmbito social com base na tipologia da ação social weberiana. A lógica dessa construção consiste em evidenciar os motivos elencados pela literatura nacional e internacional para a desistência e constituir uma base teórica para entender o tipo de racionalidade presente em decisões de desistência da cooperação. Foi construído e tratado, por meio da análise de conteúdo, um corpus contemplando artigos publicados em eventos e periódicos nacionais, dissertação e tese, perfazendo dez estudos publicados entre 2003 e 2013. O procedimento para levantamento das obras contemplou consultas às bases scielo.org e periódicos Capes, efetuado por meio da seleção de estudos empíricos publicados no Brasil a respeito da temática desistência de cooperação. Como resultado, são evidenciados indícios tanto da presença da racionalidade formal instrumental quanto da racionalidade valorativa substancial nos relatos de desistência, destacando como seu motivo primordial o choque ou conflito cultural entre os participantes. Por essa evidência, as teorias que estudam a cultura devem ser adicionadas ao debate, em função de sua centralidade no entendimento de fenômenos relativos a tecnologias contemporâneas de gestão, complementando abordagens teóricas já utilizadas em pesquisas a respeito de redes de cooperação interorganizacionais que enfatizam uma visão linear e prescritiva, a exemplo do paradigma racional e econômico. Nesse sentido, o estudo contribui para o avanço na discussão sobre a desistência de cooperação em redes ao abordar a emergência de novas perspectivas teóricas, aportando o tema da racionalidade valorativa substancial sob o enfoque da abordagem cultural.

Redes interorganizacionais; Desistência da cooperação; Ação social weberiana; Racionalidade valorativa substancial; Abordagem cultural.


ABSTRACT

Studies of cooperation in interorganizational networks tend to focus on the reasons why organizations enter into cooperative relations and the development of metrics to evaluate their outcomes, with little theoretical or empirical attention being given to the reasons for withdrawal of cooperation. In this sense, the objective of the study is to describe the rationale underlying the reasons for the withdrawal by business leaders to maintain participation in interorganizational networks. To this end, a review of the topics of cooperation mechanisms and withdrawal of cooperation in interorganizational networks was carried, as well as of the reasons or types of rationality present in the social sphere decisions based on Weber's typology of social action. The logic of this construction is to highlight the reasons mentioned by the national and international literature for the withdrawal and to provide a theoretical basis for understanding this type of rationality in decisions to withdraw cooperation. Content analysis was used for treatment of the corpus composed of articles published in events and national journals, dissertations, and theses, which resulted in 10 Brazilian empirical studies carried out between 2003 and 2013 dealing with the withdrawal of cooperation by members of interorganizational networks. To identify these studies, we consulted articles with respect to the withdrawal of cooperation included in the Brazilian portals for scientific journals scielo.org and Periódicos Capes. Results showed the presence of evaluative substantive rationality in addition to instrumental formal rationality in the reports of cooperation withdrawal in the studies consulted. In particular, cultural conflict or shock among members of interorganizational networks was found to be the major reason for the withdrawal of cooperation. These results point to the theoretical importance of including cultural studies among those already used, due to their relevance to the understanding of phenomena related to current management technologies, in order to provide theoretical and analytical support for comprehension of cooperation in interorganizational networks which emphasize a linear and prescriptive view, as for the rational and economic paradigma. In this sense, the study contributes to advancing the discussion about the withdrawal of cooperation in networks by addressing the urgency of new theoretical perspectives in regards to the theme of evaluative substantial rationality with a focus on cultural approach.

Interorganizational networks; Withdrawal of cooperation; Weberian social action; Evaluative substantial rationality; Cultural approach

RESUMEN

Los estudios desarrollados sobre cooperación ínter organizacional se centran en los motivos para iniciar la cooperación, así como en el desarrollo de métricas para evaluar sus resultados, teniendo las causas de la deserción poca atención teórica o empírica. En ese sentido, el objetivo del estudio reside en describir la racionalidad subyacente a los motivos de la desistencia por parte de directivos de empresas con el objetivo de mantener la participación en redes ínter organizacionales. Se realizó una revisión del asunto de la desistencia de la cooperación y de los mecanismos de cooperación en redes ínter organizacionales, así como de los motivos o tipos de racionalidades presentes en decisiones en el ámbito social con base en la tipología de la acción social weberiana. La lógica de esa construcción consiste en evidenciar los motivos enumerados por la literatura nacional e internacional para la desistencia y construir una base teórica para entender el tipo de racionalidad presente en decisiones relacionadas con la desistencia de la cooperación. Fue construido y tratado a través del análisis de contenido, un corpus contemplando artículos publicados en eventos y periódicos nacionales, disertación y tesis, sumando un total de 10 estudios publicados entre 2003 y 2013. El procedimiento para el levantamiento de las obras contempló consultas en las bases scielo.org y periódicos Capes, efectuados por medio de la selección de estudios empíricos publicados en Brasil respecto a la temática desistencia de la cooperación. Como resultado, se evidencian indicios tanto de la presencia de racionalidad formal instrumental como de la racionalidad de la evaluación sustancial en los relatos de desistencia, destacando que su motivo principal es el choque o conflicto cultural existente entre los participantes. Por esa evidencia, las teorías que estudian la cultura deben ser agregadas al debate, en función de su centralidad en la comprensión de los fenómenos relacionados con las tecnologías contemporáneas de gestión, complementando enfoques teóricos ya utilizados en investigaciones sobre redes de cooperación que enfatizan en una visión lineal y prescriptiva, a ejemplo del paradigma racional y económico. En ese sentido, el estudio contribuye con el avance en la discusión al respecto de la desistencia de la cooperación en redes al abordar la emergencia de nuevas perspectivas teóricas añadiendo el tema de la racionalidad valorativa substancial bajo el enfoque de abordaje cultural.

Redes Ínter organizacionales; Desistencia de la cooperación; Acción social weberiana; Racionalidad de evaluación sustancial; Enfoque cultural

1 INTRODUÇÃO

A questão central vigente em pesquisas no campo da estratégia empresarial reside em investigar as razões pelas quais as empresas se diferenciam em suas condutas, com impactos em seus desempenhos (Gulati, Nohria, & Zaheer, 2000Gulati, R., Nohria, N., & Zaheer, A. (2000). Strategic networks. Strategic Management Journal, 21, 203-215.). Em resposta a isso, protagonistas da pesquisa clássica em estratégia reconhecem as empresas como entidades autônomas, apontando, por um lado, para as vantagens competitivas no que diz respeito ao ambiente externo (Porter, 1979Porter, M. E. (1979). How competitive forces shape strategy. Harvard Business Review, 57(1), 1-10.) e, por outro, para os recursos e as capacidades de seu ambiente interno (Wernerfelt, 1984Wernerfelt, B. (1984). A resource-based view of the firm. Strategic Management Journal, 5(2), 171-180.; Barney & Clark, 2007Barney, J. B., & Clark, D. N. (2007). Resource-based theory: creating and sustaining competitive advantage. New York: Oxford.) como fatores influenciadores do desempenho.

Evidências indicam que existe um elemento que representa uma nova forma de estrutura empresarial para fazer frente às mudanças ambientais, alterando a clássica forma de entender o desempenho de empresas de determinado setor: as redes de cooperação entre empresas (Gulati, 1998Gulati, R. (1998). Alliances and networks. Strategic Management Journal, 19, 293-317.; Zineldin, 2004Zineldin, M. (2004). Co-opetition: the organisation of the future. Marketing Intelligence & Planning, 22(7), 780-790. ; Busi & Bititci, 2006Busi, M., & Bititci, U. S. (2006). Collaborate performance management: present gaps and future research. International Journal of Productivity and Performance Management, 55(1), 7-25.; Parung & Bititci, 2006Parung, J., & Bititci, U. S. (2006). A conceptual metric for managing collaborative networks. Journal of Modelling in Management, 1(6), 116-136.).

As redes de empresas podem integrar operações e encontrar sinergias estratégicas e vantagens competitivas para aquelas participantes (New & Mitropoulos, 1995New, S., & Mitropoulos, I. (1995). Strategic networks: morphology, epistemology and praxis. International Journal of Operations & Production Management, 15(11), 53-61.). Mesmo com o potencial competitivo que proporciona para as empresas participantes, o estudo de redes interorganizacionais de cooperação não desponta como algo novo no campo dos estudos organizacionais (Giglio & Hernandes, 2012Giglio, E. M., & Hernandes, J. L. G. (2012). Discussões sobre a metodologia de pesquisa sobre redes de negócios presentes numa amostra de produção científica brasileira e proposta de um modelo orientador. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 14(42), 78-101.), visto que, desde a década de 1930, empreendem-se estudos com foco no entendimento da organização e nos benefícios das redes empresariais (Nhoria & Eccles, 1992Nhoria, N., & Eccles, R. (1992). Network and organizations: structure, form and action. Boston: Harvard Business School Press.).

Alguns estudos têm demonstrado o potencial das redes de empresas, indo desde centrais de compras, passando por processos de entrada em mercados internacionais e chegando até ao compartilhamento de recursos estratégicos (Gulati, 1998Gulati, R. (1998). Alliances and networks. Strategic Management Journal, 19, 293-317.; Gulati et al., 2000Gulati, R., Nohria, N., & Zaheer, A. (2000). Strategic networks. Strategic Management Journal, 21, 203-215.; Zen, Dalmoro, & Fensterseifer, 2009Zen, A. C., Dalmoro, M., & Fensterseifer, J. E. (2009, setembro). O desenvolvimento de recursos em redes interorganizacionais e o processo de internacionalização: o caso Wines from Brazil. Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, São Paulo, SP, Brasil, 33.; Zica, Martins, & Chaves, 2010Zica, R. M. F., Martins, H. C., & Chaves, A. F. B. (2010, abril). Estrutura de redes empresariais de pequenos negócios: abordagens e alcance. Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, Recife, PE, Brasil, 6.). Contudo, embora demonstre certo potencial de proporcionar benefícios perante os baixos riscos, evidências empíricas a respeito do ciclo de vida das redes de empresas se revelam paradoxais, uma vez que, na mesma velocidade com que são criadas as redes de cooperação, elas são encerradas.

Levantamento recente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas [Sebrae] (2012)Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (2012). Mapeamento das centrais e redes de negócios - 2011. Brasília: Sebrae. divulgou que, no Brasil, existiam 778 redes ativas de empresas em 2011, ante 841 delas em 2008, o que representa uma redução de aproximadamente 7,5%. Embora o valor percentual possa não parecer significativo, esse dado manifesta uma contradição teórica com respeito ao disposto na literatura sobre o tema de redes, visto que no Brasil, em 2011, 98,2% do total de empresas corresponde a firmas de micro e pequeno porte (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2013), e, para esse grupo de empresas, as redes de cooperação interorganizacional despontam como potente ferramenta competitiva (Xavier, 2011Xavier, J. L. J., Filho (2011). Desempenho em redes de colaboração interorganizacional: um estudo no segmento de autopeças. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.). Logo, haveria de se esperar algum aumento na representatividade desse novo formato organizacional (Grassi, 2003Grassi, R. A. (2003). Williamson e "formas híbridas": uma proposta de redefinição do debate. Economia e Sociedade, 12(1), 43-64.) para melhor ajuste de tal grupo de empresas com relação ao atual ambiente de negócio, cada vez mais globalizado e com concorrência de grandes conglomerados organizacionais.

Nesse sentido, os estudiosos têm se dedicado a aprofundar o conhecimento com relação ao processo de constituição de redes de cooperação, evidenciando os motivos para o início da cooperação, tais como Gnyawali e Madhavan (2001)Gnyawali, D. R., & Madhavan, R. (2001). Cooperative networks and competitive dynamics: a structural embeddedness perspective. Academy of Management Review, 26(3), 431-445., Van Laere e Heene (2003)Van Laere, K., & Heene, A. (2003). Social network as a source of competitive advantage for the firm. Journal of Workplace Learning, 15(6), 248-258., Wittman, Negrini e Venturini (2003)Wittmann, M. L., Negrini, F., & Venturini, T. (2003, setembro). Redes de empresas: alternativa competitiva para microempresas do setor de vestuário. Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Ouro Preto, MG, Brasil, 23., Child, Faulkner e Tallman (2005)Child, J., Faulkner, D., & Tallman, S. (2005). Cooperative strategy: managing alliances, networks and joint ventures (2nd ed.). Oxford: Oxford Press., Verschoore e Balestrin (2008)Verschoore, J. R., & Balestrin, A. (2008). Fatores relevantes para o estabelecimento de redes de cooperação entre empresas do Rio Grande do Sul. Revista de Administração Contemporânea, 12(4), 1043-1069., Marchi e Wittmann (2008Marchi, J. J., & Wittmann, M. L. (2008). Redes de empresas: uma análise das relações entre fatores sócio-comportamentais e desempenho competitivo. Revista Eletrônica de Administração (REAd), 14(2), 364-390.), Tavares, Sousa, Miranda e Avelar (2009)Tavares, W., Sousa, A. R., Miranda, A. R. A., & Avelar, A. E. S. (2009, setembro). As organizações em rede como mecanismo para a redução de custos de transação e ganhos de competitividade. Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, São Paulo, SP, Brasil, 33. e Hsu e Lin (2014)Hsu, M., & Lin, F. (2014). The impact of motivational factors of participation in R&D Consortia on firm performance. Journal of Economics and Management, 10(2), 129-156.. Nesse campo, já está um tanto quanto consolidada a perspectiva instrumental e utilitária da cooperação para os objetivos estratégicos da organização que se insere nesta estrutura organizacional - rede (Balestrin, Verschoore, & Reyes, 2010Balestrin, A., Verschoore, J. R., & Reyes, E., Junior, (2010). O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 14(3), 458-477.; Moran, Souza, Boaventura, Marinho, & Fischmann, 2010Moran, M. R., Souza, F. F. A., Boaventura, J. M. G., Marinho, B. L., & Fischmann, A. A. (2010). Alianças estratégicas: uma análise bibliométrica da produção científica entre 1989 e 2008. Revista de Ciências da Administração, 12(27), 63-85.; Andrigui, Hoffman, & Andrade, 2011Andrigui, F. F., Hoffman, V. E., & Andrade, M. A. R. (2011). Análise da produção científica no campo de estudo das redes em periódicos nacionais e internacionais. Revista de Administração e Inovação, 8(1), 29-54.).

Em sendo a cooperação um objetivo estratégico, Lorange e Roos (1991)Lorange, P., & Roos, J. (1991). Analytical steps in the formation of strategic alliances. Journal of Organizational Change Management, 4(1), 60-72. argumentam que são quatro os motivos que levam as empresas a cooperar, a saber: defender, alcançar, permanecer e reestruturar. Para os referidos autores, a decisão de ingressar em determinada cooperação deve levar em consideração a importância da atividade (periférica ou central) que integra a cooperação e a posição de mercado da organização (líder ou seguidora), indo desde o motivo de defender uma posição de liderança em uma atividade central até alcançar a liderança em uma atividade central, passando por permanecer na liderança cooperando em atividades periféricas e reestruturar as atividades periféricas em uma posição de empresa seguidora. Os motivos para cooperar a partir de Lorange e Roos (1991)Lorange, P., & Roos, J. (1991). Analytical steps in the formation of strategic alliances. Journal of Organizational Change Management, 4(1), 60-72. são apresentados resumidamente na Figura 1.

FIGURA 1
MOTIVOS PARA A FORMAÇÃO DE REDES DE COLABORAÇÃO

Também na tentativa de entender o motivo da participação em estruturas em rede, Child et al. (2005)Child, J., Faulkner, D., & Tallman, S. (2005). Cooperative strategy: managing alliances, networks and joint ventures (2nd ed.). Oxford: Oxford Press. relacionam a importância estratégica da atividade operacional e a competência da empresa em realizar tal atividade, traçando as possibilidades de atuação da empresa entre as opções de comprar, quando a importância estratégica da atividade para a estratégia da organização for baixa, independentemente da competência da empresa para executá-la, até cooperar, quando a importância estratégica da atividade para a estratégia da organização for média ou alta e a competência da empresa em executá-la for de média para alta, conforme Figura 2.

FIGURA 2
MOTIVOS DA COOPERAÇÃO

É possível argumentar, a partir dos motivos apresentados por Lorange e Roos (1991)Lorange, P., & Roos, J. (1991). Analytical steps in the formation of strategic alliances. Journal of Organizational Change Management, 4(1), 60-72. e Child et al. (2005)Child, J., Faulkner, D., & Tallman, S. (2005). Cooperative strategy: managing alliances, networks and joint ventures (2nd ed.). Oxford: Oxford Press., que a importância da atividade é elemento basilar da decisão de cooperar. Entendendo a atividade desenvolvida pela organização como parte de seu core operacional, a competência para desempenhar tal atividade é o segundo elemento basilar da decisão nos dois modelos apresentados. Parece que há um entendimento subjacente de que perceber os relacionamento nos quais as organizações estão imersas explica melhor sua performance, pois esses relacionamentos permitem pontes para recursos inacessíveis ou de difícil acesso fora da estrutura cooperativa, como argumentam Jarillo (1988)Jarillo, J. C. (1988). On strategic networks. Strategic Management Journal, 9, 31-41., Gulati (1998Gulati, R. (1998). Alliances and networks. Strategic Management Journal, 19, 293-317., 1999)Gulati, R. (1999). Network location and learning: the influence of network resources and firm capabilities on alliance formation. Strategic Management Journal, 20, 397-420., Dyer e Singh (1998)Dyer, J. H., & Singh, H. (1998). The relational view: cooperative strategy and sources of interorganizational competitive advantage. Academy of Management, 23(4), 660-674., Pfeffer e Salancik (2003)Pfeffer, J., & Salancik, G. (2003). The external control of organizations: a resource dependence perspective. Stanford: Stanford University Press., Gulati et al. (2000)Gulati, R., Nohria, N., & Zaheer, A. (2000). Strategic networks. Strategic Management Journal, 21, 203-215., Zaheer e Bell (2005)Zaheer, A., & Bell, G. G. (2005). Benefiting from network position: firm capabilities, structural holes, and performance. Strategic Management Journal, 26, 809-825. e Hsu e Lin (2014)Hsu, M., & Lin, F. (2014). The impact of motivational factors of participation in R&D Consortia on firm performance. Journal of Economics and Management, 10(2), 129-156..

Essas perspectivas estratégicas, e, assim, instrumentais, compõem historicamente a base teórica empregada para o estudo da cooperação interorganizacional, como recomendam Moran et al. (2010)Moran, M. R., Souza, F. F. A., Boaventura, J. M. G., Marinho, B. L., & Fischmann, A. A. (2010). Alianças estratégicas: uma análise bibliométrica da produção científica entre 1989 e 2008. Revista de Ciências da Administração, 12(27), 63-85., Balestrin et al. (2010)Balestrin, A., Verschoore, J. R., & Reyes, E., Junior, (2010). O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 14(3), 458-477. e Andrigui et al. (2011)Andrigui, F. F., Hoffman, V. E., & Andrade, M. A. R. (2011). Análise da produção científica no campo de estudo das redes em periódicos nacionais e internacionais. Revista de Administração e Inovação, 8(1), 29-54., que desenvolvem pesquisas bibliométricas a fim de mapear o campo de pesquisa em cooperação interorganizacional nos período de 1989 a 2008 (no mundo), de 2000 a 2006 (no Brasil) e de 2000 a 2005 em periódicos nacionais e internacionais (Qualis A), respectivamente. Tais estudos apontam para a predominância da estratégia (Moran et al., 2010Moran, M. R., Souza, F. F. A., Boaventura, J. M. G., Marinho, B. L., & Fischmann, A. A. (2010). Alianças estratégicas: uma análise bibliométrica da produção científica entre 1989 e 2008. Revista de Ciências da Administração, 12(27), 63-85.; Balestrin et al., 2010Balestrin, A., Verschoore, J. R., & Reyes, E., Junior, (2010). O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 14(3), 458-477.) ou do paradigma racional e econômico (Giglio & Hernandes, 2012Giglio, E. M., & Hernandes, J. L. G. (2012). Discussões sobre a metodologia de pesquisa sobre redes de negócios presentes numa amostra de produção científica brasileira e proposta de um modelo orientador. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 14(42), 78-101.) como base teórica de pesquisas a respeito de redes cooperação interorganizacional.

Isso implica que o movimento das organizações em direção à cooperação é reconhecido como uma ação racional, ou seja, deliberadamente planejado ou desenvolvido de forma emergente e improvisada (Franco, 2007Franco, M. J. B. (2007). Tipologia de processos de cooperação empresarial: uma investigação empírica sobre o caso português. Revista de Administração Contemporânea, 11(3), 149-176.). Isso quer dizer que a perspectiva teórica atende ao pressuposto da tríade mercado-conduta-desempenho, presente nos estudos em estratégia empresarial (Porter, 1979Porter, M. E. (1979). How competitive forces shape strategy. Harvard Business Review, 57(1), 1-10.), que revela uma construção teórica indicadora de ser o desempenho condicionado por decisões de design organizacional ante a leitura das exigências do mercado. Essa perspectiva representa, então, uma dentre tantas opções concorrentes de conduta para posicionar a organização no seu ambiente.

No entanto, como demostrado pelos dados comparativos das redes interorganizacionais no Brasil, no período entre 2008 e 2011, as organizações saem - desistem - da cooperação, e as próprias redes são encerradas; nesse caso, os motivos da desistência da cooperação e do encerramento da rede não se mostram tão delineados teórico-empiricamente quanto as razões para se manter a cooperação. Poucos estudos empíricos enfatizam os motivos pelos quais as empresas se retiram desses processos de cooperação, como evidenciam Pereira, Venturini, Wegner e Braga (2010)Pereira, B. A. D., Venturini, J. C., Wegner, D., & Braga, A. L. (2010). Desistência da cooperação e encerramento de redes interorganizacionais: em que momento essas abordagens se encontram? Revista de Administração e Inovação, 7(1), 53-69., Wegner, Zen e Andino (2011)Wegner, D., Zen, A. C., & Andino, B. F. A. (2011). O último a sair apaga as luzes: um estudo de caso sobre os motivos para a desistência da cooperação e encerramento de redes de empresas. Revista de Negócios, 16(4), 30-50. e Klein e Pereira (2012)Klein, L. L., & Pereira, B. A. D. (2012). Why do companies withdraw from cooperative process: contributions to the management of inter-organizational networks. Economia Global e Gestão, 17(3), 121-140., e neles fica evidenciado que a lógica racional parece não ser a única preponderante quando da desistência da cooperação.

O estudo de Castro, Bulgacov e Hoffmann (2011)Castro, M. de, Bulgacov, S., & Hoffmann, V. E. (2011). Relacionamentos interorganizacionais e resultados: estudo em uma rede de cooperação horizontal da região central do Paraná. Revista de Administração Contemporânea, 15(1), 25-46. atesta que os fatores motivadores para ingressar na cooperação não encontram correspondência com os resultados dos relacionamentos, indicando que a decisão de desistir é racional, pois não foram atingidos os objetivos pretendidos no início da cooperação. Assim, a fragilização dos laços de confiança entre os interagentes constitui o principal obstáculo para a perpetuação do relacionamento cooperativo (Maciel & Reinert, 2011Maciel, C. O., & Reinert, M. (2011). Confiança e possibilidade de conflitos em redes estratégicas hierárquicas. Revista de Administração Mackenzie, 12(4), 182-208.), fato que contribui para a saída da organização dos acordos de aliança e representa um componente subjetivo da cooperação. Logo, "do ponto de vista das relações interorganizacionais, não parece ser possível seu estudo sem que se entenda também o contexto no qual se desenvolvem" (Castro et al., 2011Castro, M. de, Bulgacov, S., & Hoffmann, V. E. (2011). Relacionamentos interorganizacionais e resultados: estudo em uma rede de cooperação horizontal da região central do Paraná. Revista de Administração Contemporânea, 15(1), 25-46., p. 42), ou seja, devem ser compreendidas as relações ou ponderados os aspectos subjetivos dos agentes em meio à estrutura social e não apenas os atributos econômicos da relação.

Portanto, embora de forma ainda incipiente em pesquisas empíricas, a base teórica que serve de sustentação para o entendimento do motivo de iniciação do pacto de cooperação como estratégia de mercado parece não equivaler ao fundamento teórico que sustenta a compreensão dos motivos de desistência desse contrato, tomando-se por base que as decisões no contexto social não são expressões apenas da razão econômica, como elemento único dando sentido à ação instrumental ou utilitária, o que pressupõe o desenvolvimento da estratégia organizacional. Para Weber (2000)Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB., a ação social, em sua definição, possui sentidos imbricados em diferentes doses relativas a cada decisão e tipificados em cada ação, dando origem à sua clássica e contemporânea tipologia da ação social.

Assim, o objetivo central deste estudo reside em descrever a racionalidade subjacente aos motivos da desistência por parte de dirigentes de empresas, no sentido de manter a participação em redes interorganizacionais. À parte desta introdução, o estudo se desdobra em cinco seções. Na seção 2, é desenvolvida uma abordagem teórica sobre a cooperação, inclusive no que diz respeito aos mecanismos de coordenação e apontamento acerca de indícios dos motivos de desistência dos acordos de cooperação interorganizacional. Na seção 3, são discutidos os tipos ideais weberianos de racionalidade em uso quando o indivíduo toma decisão, dando sentido a sua ação. Na seção 4, fica demarcada a abordagem metodológica adotada na investigação empírica. Na seção 5, apresentam-se os resultados e as considerações reflexivas sobre a desistência da cooperação, em que são indicados os elementos que se manifestam como temas centrais ao entendimento das ações de desistência da cooperação. Na última seção, que apresenta as considerações finais do estudo, estão assinalados aspectos basilares de desistência da cooperação, evidenciados na literatura revisada.

2 COOPERAÇÃO, MECANISMOS DE COORDENAÇÃO E DESISTÊNCIA EM REDES INTERORGANIZACIONAIS

Se todos os mercados fossem igualmente acessíveis, todas as gerências igualmente habilidosas, todas as informações imediatamente disponíveis e todos os balanços igualmente sólidos, haveria pouca necessidade de pensar em modificar a pesquisa clássica no campo da estratégia (Bleeke & Ernst, 2006Bleeke, J., & Ernst, D. (2006). Colaborando para competir. In H. Mintzberg, J. Lampel, J. B. Quinn & S. Ghoshal, S. (Orgs.). O processo da estratégia (4a ed.). Porto Alegre: Bookman.), no entanto essa não é a situação real do mercado. Portanto, a colaboração entre os concorrentes pode proporcionar vantagens competitivas para as empresas (Dyer & Singh, 1998Dyer, J. H., & Singh, H. (1998). The relational view: cooperative strategy and sources of interorganizational competitive advantage. Academy of Management, 23(4), 660-674.). Para Jarillo (1988)Jarillo, J. C. (1988). On strategic networks. Strategic Management Journal, 9, 31-41., a ideia central na cooperação é que os ganhos provenientes da sinergia sejam percebidos como maiores que a erosão das vantagens competitivas das firmas individuais por compartilharem seus recursos ou operações.

Sob a lógica da premissa da dependência de recursos defendida por Pfeffer e Salancik (2003)Pfeffer, J., & Salancik, G. (2003). The external control of organizations: a resource dependence perspective. Stanford: Stanford University Press., as organizações passam a gerenciar o relacionamento com outras instituições do ambiente empresarial a fim de complementar seus recursos. Inicialmente discutido por Dyer e Singh (1998)Dyer, J. H., & Singh, H. (1998). The relational view: cooperative strategy and sources of interorganizational competitive advantage. Academy of Management, 23(4), 660-674., o relacionamento entre duas ou mais organizações passa, portanto, a ser um campo de discussão específico dos estudos organizacionais.

Os laços que vinculam as organizações entre si podem ser dispostos de diversas formas, tais como: alianças estratégicas, joint ventures, relacionamento de compra e venda de longo prazo de bens e serviços, formação de lobby, puros contatos comerciais e relações colaborativas (Gulati et al., 2000Gulati, R., Nohria, N., & Zaheer, A. (2000). Strategic networks. Strategic Management Journal, 21, 203-215.). Um deles é representado pelas redes de cooperação interorganizacionais.

Para Podolny e Page (1998, p. 59)Podolny, J. M., & Page, K. L. (1998). Network form of organization. Annual Review of Sociology, 24, 57-76., o termo rede representa "qualquer conjunto de atores (n ≥ 2) que possuem relações duradouras de repetidas trocas, um com o outro e, ao mesmo tempo, sem uma autoridade organizacional legítima para arbitrar e solucionar disputas que podem surgir durante a troca". New e Mitropoulos (1995, p. 53)New, S., & Mitropoulos, I. (1995). Strategic networks: morphology, epistemology and praxis. International Journal of Operations & Production Management, 15(11), 53-61. conceituam redes como um bloco de empresas que interagem para adquirir vantagem competitiva, por isso, "[...] networks of firms can integrate their operations to achieve synergy and competitive advantage"1 1 "[...] redes de empresas podem integrar suas operações para obter sinergias e vantagens competitivas" (tradução nossa). .

De forma geral, as redes interorganizacionais podem ser entendidas como estruturas organizacionais (Grassi, 2003Grassi, R. A. (2003). Williamson e "formas híbridas": uma proposta de redefinição do debate. Economia e Sociedade, 12(1), 43-64.), já que não correspondem nem ao mercado nem à hierarquia (Williamson, 1987Williamson, O. E. (1987). Transaction cost economics: the comparative contracting perspective. Journal of Economic Behavior and Organization, 8, 617-625.) e surgem com propósitos específicos manifestados pela adesão voluntária da organização a essa nova estrutura organizacional. Como estrutura, o gerenciamento das redes consegue adotar diversas tipologias, mas duas delas se destacam na literatura: na primeira, proposta por Grandori e Soda (1995Grandori, A., & Soda, G. (1995). Inter-firm networks: Antecedents, mechanisms and forms. Organization Studies, 16(2), 183-214.), existem oito mecanismos de coordenação ou gerenciamento em redes de empresas, a saber: (1) comunicação, decisão e negociação; (2) controle e coordenação social; (3) equipe comum; (4) relações de hierarquia e autoridade; (5) sistemas de planejamento e controle; (6) sistemas de incentivo; (7) sistemas de seleção; e (8) sistemas de informação. Na segunda, conforme Jones, Hesterly e Borgatti (1997Jones, C., Hesterly, W. S., & Borgatti, S. P. (1997). A general theory of network governance: exchange conditions and social mechanisms. Academy of Management Review, 22, 911-945.), quatro são os mecanismos para governança em rede: (1) a análise cuidadosa do parceiro potencial e tamanho da rede, (2) a criação de uma cultura própria para a rede (macrocultura), (3) sanções sociais coletivas e (4) reputação dos integrantes da rede. Os quatro mecanismos se reforçam mutualmente, reduzindo o custo de coordenação e limitando o comportamento oportunista.

Quando os mecanismos de coordenação falham, tem-se configurado o fenômeno de desistência da cooperação ou mesmo o encerramento da rede de cooperação (Lenz, Vinhas, & Hansen, 2007Lenz, G. S., Vinhas, A. P. L. C., & Hansen, P. B. (2007, maio). A influência dos mecanismos de coordenação no desempenho de redes horizontais de cooperação. Encontro de Estudos em Estratégia, São Paulo, SP, Brasil, 3.). Logo, alguns modelos integrativos do fracasso da cooperação estão presentes na literatura, tais como Park e Ungson (2001)Park, S. H., & Ungson, G. (2001). Interfirm rivalry and managerial complexity: a conceptual framework of alliance failure. Organization Science, 12(1), 37-53., Busi e Bititci (2006)Busi, M., & Bititci, U. S. (2006). Collaborate performance management: present gaps and future research. International Journal of Productivity and Performance Management, 55(1), 7-25., Parung e Bititci (2006)Parung, J., & Bititci, U. S. (2006). A conceptual metric for managing collaborative networks. Journal of Modelling in Management, 1(6), 116-136., Wegner e Padula (2012)Wegner, D., & Padula, A. D. (2012). Quando a cooperação falha: um estudo de caso sobre o fracasso de uma rede interorganizacional. Revista de Administração Mackenzie, 13(1), 145-171., Pereira et al. (2010)Pereira, B. A. D., Venturini, J. C., Wegner, D., & Braga, A. L. (2010). Desistência da cooperação e encerramento de redes interorganizacionais: em que momento essas abordagens se encontram? Revista de Administração e Inovação, 7(1), 53-69., Klein e Pereira (2012)Klein, L. L., & Pereira, B. A. D. (2012). Why do companies withdraw from cooperative process: contributions to the management of inter-organizational networks. Economia Global e Gestão, 17(3), 121-140. e Venturini (2012)Venturini, J. C. (2012). Discutindo fatores de dissolução de redes horizontais de micro, pequenas e médias empresas. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil., que tanto apontam que os motivos da desistência ou fracasso da cooperação estão no nível do agente quanto no âmbito da estrutura de gestão do relacionamento.

Esses mecanismos de coordenação são apontados como necessários ao gerenciamento eficaz da cooperação, evitando os movimentos oportunistas e a assimetria de resultados. Para os fins deste estudo, que se inclina a descrever os sentidos da ação dos agentes, destacam-se os mecanismos de coordenação (7) de Grandori e Soda (1995)Grandori, A., & Soda, G. (1995). Inter-firm networks: Antecedents, mechanisms and forms. Organization Studies, 16(2), 183-214. e (1) e (2) de Jones et al. (1997)Jones, C., Hesterly, W. S., & Borgatti, S. P. (1997). A general theory of network governance: exchange conditions and social mechanisms. Academy of Management Review, 22, 911-945., pois se relacionam diretamente com o agente.

Quando se trata desse agente, os mecanismos de coordenação se referem à escolha cuidadosa do perfil do potencial parceiro na cooperação. De acordo com Brouthers, Brouthers e Wilkinson (1995)Brouthers, K. D., Brouthers, L. E., & Wilkinson, T. J. (1995). Strategic alliances: choose your parents. Long Range Planning, 28(3), 18-25., o sucesso da cooperação requer alguns elementos, que os autores denominam de 4 Cs, a saber: cultura cooperativa (C1), objetivos compatíveis (C2), competências complementares (C3) e riscos comensuráveis (C4). Os elementos C1, C2, C3 e C4 não representam qualquer escalonamento em termos de níveis hierárquicos. Com base nessa tipologia, todos os elementos de sucesso estão presentes na análise do perfil do parceiro e não são apenas estratégicos, ou seja, não se limitam a variáveis como: tamanho, porte, estratégias e objetivos. Mas, predominantemente, o C1 deve ser contemplado na análise do parceiro, visto que a "cooperative culture is a prerequisite of a successful"2 2 "cultura cooperativa é um pré-requisito para o sucesso da aliança" (tradução nossa). , conforme proposto por Brouthers et al. (1995, p. 20), segundo os quais não há como gerenciar incompatibilidades culturais entre os integrantes. Argumento semelhante é defendido por Kasa (2003)Kasa, V. P. (1999). Networks of alliance. Seminar in Business Strategy and International Business. Recuperado em 17 julho, 2013, de http://www.tuta.hut.fi/studies/Courses_and_schedules/.
http://www.tuta.hut.fi/studies/Courses_a...
quando sugere que um dos elementos da escolha do parceiro é a compatibilidade, a qual engloba tanto aspectos estratégicos e econômicos quanto feições culturais.

Assim, já se admite, desde os primeiros trabalhos sobre cooperação, que cultura representa um campo de estudo multidisciplinar (Johnson, 2004Johnson, R. (2004). O que é, afinal, estudos culturais? In T. T. Silva (Org.). O que é, afinal, estudos culturais? (3a ed., pp. 7-131). Belo Horizonte: Autêntica.). Entretanto, conforme os estudos de Moran et al. (2010)Moran, M. R., Souza, F. F. A., Boaventura, J. M. G., Marinho, B. L., & Fischmann, A. A. (2010). Alianças estratégicas: uma análise bibliométrica da produção científica entre 1989 e 2008. Revista de Ciências da Administração, 12(27), 63-85., Balestrin et al. (2010)Balestrin, A., Verschoore, J. R., & Reyes, E., Junior, (2010). O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 14(3), 458-477. e Andrigui et al. (2011)Andrigui, F. F., Hoffman, V. E., & Andrade, M. A. R. (2011). Análise da produção científica no campo de estudo das redes em periódicos nacionais e internacionais. Revista de Administração e Inovação, 8(1), 29-54., as abordagens teóricas que mais nutrem a base de estudos referente a redes estão inseridas no campo da estratégia ou, como afirmam Giglio e Hernandes (2012, pp. 78-79)Giglio, E. M., & Hernandes, J. L. G. (2012). Discussões sobre a metodologia de pesquisa sobre redes de negócios presentes numa amostra de produção científica brasileira e proposta de um modelo orientador. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 14(42), 78-101., existe uma determinada dominância do "paradig-ma racional e econômico". Por isso, o ato de apreender o motivo da desistência dando ênfase à estrutura ou mesmo ao relacionamento se revela inócuo ante a performatividade do agente diante de tal estrutura, manifestada por meio de sua cultura. Logo, acessar a compreensão do sentido que o agente atribui às suas decisões é parte vital do entendimento da desistência da cooperação.

3 A LÓGICA NA AÇÃO SOCIAL: EM BUSCA DO SENTIDO PARA A AÇÃO DO AGENTE

A ação em sociedade (n ≥ 2) ou ação social é um tema inserido na agenda da sociologia, tendo, no mínimo, dois diferentes enfoques: holismo e individualismo metodológico (Aquino, 2000Aquino, J. A. (2000). As teorias da ação social de Coleman e de Bourdieu. Humanidades e Ciências Sociais, 2(2), 17-29.).

No que se refere ao holismo, que tem Émile Durkheim como representante, há uma sobreposição da estrutura social ao indivíduo. Para Durkheim (2006)Durkheim, E. (2006). As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret., os "fatos sociais" têm uma existência independente dos indivíduos, pois pertencem a uma superestrutura social, sendo, assim, mais objetivos que as ações individuais e, desse modo, só podem ser explicados por outros "fatos sociais", como a religião e as estruturas de governo e trabalho. Obra seminal dessa perspectiva é o estudo do suicídio, em que, por meio de parâmetros estatísticos - externos ao indivíduo - Durkheim (1986)Durkheim, E. (1986). Le suicide. Paris: PUF. argumenta que a explicação do suicídio advém de acontecimentos sociais, "fatos sociais", e não da perspectiva individual. É notória a abordagem estruturalista e funcionalista na obra de Durkheim que, até para situações-limite - como o suicídio - consegue estabelecer relacionamentos determinísticos com a sociedade, ou seja, entre "fatos sociais".

Nessa perspectiva, a ação individual é explicada como prática determinada pela estrutura social, de modo que não se faz necessária a análise no nível do agente para o entendimento do sentido da ação; entretanto, essa força da estrutura se opõe drasticamente ao individualismo metodológico, quando este entende que o escopo da sociologia se centra em estudar a ação dotada de sentido (Peci, 2003Peci, A. (2003). Estrutura e ação nas organizações: algumas perspectivas sociológicas. Revista de Administração de Empresas, 43(1), 24-35.), protagonizando o sociólogo Max Weber. Por esse contraste metodológico, Cohn (2003, p. 7)Cohn, G. (2003). Crítica e resignação: Max Weber e a teoria social (2a ed.). São Paulo: Martins Fontes. adjetiva Durkheim de "antípoda" de Weber, assim como Aquino (2000, p. 19)Aquino, J. A. (2000). As teorias da ação social de Coleman e de Bourdieu. Humanidades e Ciências Sociais, 2(2), 17-29. atenta para o posicionamento "diametral" entre os dois sociólogos.

Na perspectiva de Weber, o indivíduo atribui sentido à própria ação empregando dois tipos distintos de racionalidade. A racionalidade formal instrumental como processo de decisão que envolve, acima de tudo, esperança no atingimento de um fim específico, ou seja, algo correspondente à ação que envolve o direcionamento para objetivos preestabelecidos na esfera política. Weber (2000)Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB. denomina esse tipo de ação de ação racional voltada aos fins. A razão, nesse caso, se manifesta pela adequação dos meios (ações) a um fim específico (Cohn, 2003Cohn, G. (2003). Crítica e resignação: Max Weber e a teoria social (2a ed.). São Paulo: Martins Fontes.).

Porém, outro tipo de racionalidade está presente nas decisões no âmbito social, que é a racionalidade valorativa substancial, traduzida em um processo diverso de adequação meio e fins e voltado, primordialmente, para a elaboração de referências que servem de base para expectativa de valores, ao menos em tese, independentes das expectativas de sucesso imediato, gerando ações que se orientam para as propriedades intrínsecas aos atos (Vasconcelos, 2004Vasconcelos, F. C. (2004). Racionalidade, autoridade e burocracia: as bases para definição de um tipo organizacional pós-burocrático. Revista de Administração Pública, 38(2), 199-220.). Com base nessa racionalidade, Weber (2000)Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB. estabelece dois tipos diferentes de ação social: ação afetiva e ação tradicional.

As três ações sociais elencadas - ação racional voltada aos fins, ação afetiva e ação tradicional - permitem a dominação social, gerando a maior contribuição weberiana para a administração, os seus tipos puros de dominação (burocracia, carisma e tradição).

O complemento da tipologia da ação social weberiana é a ação racional com relação a valores que se apresenta racional, mas o fim não é relevante para motivar ação por si e dar sentido a ela, a considerar que, como afirma Alves (2003, p. 25)Alves, S. (2003). Racionalidade, carisma e tradição nas organizações empresariais contemporâneas. Recife: Editora Universitária da UFPE., "a atenção concedida ao significado do ato em si é maior do que a reflexão sobre as suas consequências", demonstrando uma distinta relação entre meios e fins (Peci, 2003Peci, A. (2003). Estrutura e ação nas organizações: algumas perspectivas sociológicas. Revista de Administração de Empresas, 43(1), 24-35.). Tal ação se mostra tão efêmera e circunstancial que não gera, na perspectiva weberiana, dominação social, por isso, nenhuma estrutura de dominação está relacionada a esse tipo de ação social. Essas configurações de racionalidade não existem socialmente em separado, "mas se mesclam continuamente na vida diária" (Vasconcelos, 2004Vasconcelos, F. C. (2004). Racionalidade, autoridade e burocracia: as bases para definição de um tipo organizacional pós-burocrático. Revista de Administração Pública, 38(2), 199-220., p. 202).

No tratamento do modelo da organização multidimensional-reflexivo (OMR) de Alves (2003)Alves, S. (2003). Racionalidade, carisma e tradição nas organizações empresariais contemporâneas. Recife: Editora Universitária da UFPE., que toma por base os tipos puros weberianos de dominação, já é considerado que o agente organizacional multidimensional-reflexivo (AMR) incorpora, em suas decisões, diferentes combinações de ação social que geram um continuum imbricamento dessas formas de dominação. Assim, nem mesmo os tipos de racionalidade são dados externamente ao sujeito, mas sim pelo sujeito.

Ou seja, a racionalidade está no sujeito e pertence a ele, assim, ela não se encontra fora dele. A essa relação intrínseca com o sujeito Weber (2000Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB.) chama de racionalidade subjetiva.

A literatura organizacional, em especial a estratégica, aborda a decisão dos agentes como sendo unicamente relativas à ação racional voltada para os fins, ou seja, a conduta empregada por determinado agente perante o mercado e a escolha dos meios adequados para os fins desejados (Giglio & Hernandes, 2012Giglio, E. M., & Hernandes, J. L. G. (2012). Discussões sobre a metodologia de pesquisa sobre redes de negócios presentes numa amostra de produção científica brasileira e proposta de um modelo orientador. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 14(42), 78-101.).

No entanto, as decisões dos agentes não são unicamente racionais, indicando como bem sugere Weber (2000)Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB., comentado por Alves (2003)Alves, S. (2003). Racionalidade, carisma e tradição nas organizações empresariais contemporâneas. Recife: Editora Universitária da UFPE., que, nas decisões, estão presentes os diversos tipos de racionalidade. O próprio Weber (2000)Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB. deixa claro que sua tipologia de ação social é de cunho analítico em se tratando de tipos ideais, mas que, no contexto real, elas coexistem em diferentes níveis de imbricamento, possibilitando a teia da sociedade, que é permeada por decisões utilitárias, por afeto ou carisma, pela tradição e por valores socialmente construídos.

O conceito primordial para a compreensão deste estudo reside em perceber isto: o agente não toma decisões unicamente racionais voltadas aos fins, e, se assim pudesse, como o fim é político, ou valorativo (Simon, 1979Simon, H. (1979). Comportamento administrativo: estudo dos processos decisórios nas organizações administrativas (3a ed.). Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas.), possui mediações culturais que o impedem de estabelecer qualquer fim, ou seja, um conjunto de tradições e valores limita a racionalidade formal instrumental. Tal evidência vai ao encontro do que Coleman (1994)Coleman, J. S. (1994). Foundations of social theory. Cambridge: Harvard University Press. entende por um modelo de teoria social, em que afirma ser tal modelo formado por três componentes: 1. transição macro-para-micro, ou seja, a influência de aspectos da estrutura social sobre os agentes em suas decisões; 2. ação racional no nível micro, em que se dá a compreensão das ações sociais praticadas pelos agentes; e 3. transição micro-para-macro, fundamentada no princípio de que eventos individuais podem resultar em mudanças sociais mais amplas.

Nesse sentido, a tipologia da ação social de Weber contempla, a partir do sentido da ação pelo agente e do pensamento de Coleman (1994)Coleman, J. S. (1994). Foundations of social theory. Cambridge: Harvard University Press. acerca de um mode-lo de teoria social, tanto o âmbito da ação racional no nível micro (agente) quanto a transição do macro-para-micro (influência da estrutura), dado que reconhece, nas decisões do agente, uma interferência de valores, tradição e da utilidade dos meios para fins específicos. Essa postura corresponde à evidência do pensamento weberiano que considera a estrutura também como fonte de sentido para a ação, ilustrada por sua obra prima, A ética protestante e o espírito do capitalismo, segundo a qual se aproxima um valor cultural de determinada ação individual com um tipo distinto de meios e fins como racionalidade (Weber, 1996Weber, M. (1996). A ética protestante e o espírito do capitalismo (2a ed.). São Paulo: Pioneira.).

Essa evidência não aproxima Weber do holismo nem de Durkheim, que se concentra na transição do macro-para-micro (Aquino, 2000Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB.), visto que a opção metodológica de Weber concentra-se no agente e em sua performatividade ante a estrutura, em interação. Weber (1996) e Coleman (1994)Coleman, J. S. (1994). Foundations of social theory. Cambridge: Harvard University Press. defendem a possibilidade de existência do agente racional e performático, inclusive podendo alterar a estrutura social por meio de sua ação, situação improvável na perspectiva do holismo e de Durkheim.

Decerto, admitindo a máxima de Coleman (1994)Coleman, J. S. (1994). Foundations of social theory. Cambridge: Harvard University Press. de que toda ação é racional, e se não for encontrada a racionalidade é porque ela não adentrou no universo do agente, bem como a performatividade do sujeito presente na tipologia da ação social weberiana, é nesse sentido que este estudo admite a tipologia da ação social weberiana para análise dos motivos da desistência da cooperação, permitindo que motivos não baseados na racionalidade instrumental possam ser expressos e dar sentido à desistência.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Desenvolvido como um trabalho descritivo (Martins & Theóphilo, 2009Martins, G. A., & Theóphilo, C. R. (2009). Metodologia da investigação científica para ciências sociais aplicadas (2a ed.). São Paulo: Atlas.), tem-se que o objetivo foi descrever a racionalidade subjacente aos motivos da desistência por parte de dirigentes de empresas, no sentido de manter a participação em redes interorganizacionais.

Como fonte de material empírico, foram utilizados dados secundários, notadamente pesquisas acadêmicas, que apontaram os motivos para a desistência de empresas da cooperação. Por isso, este estudo classifica-se, como procedimento de técnicas utilizadas, em documental e bibliográfico (Martins & Theóphilo, 2009Martins, G. A., & Theóphilo, C. R. (2009). Metodologia da investigação científica para ciências sociais aplicadas (2a ed.). São Paulo: Atlas.).

Houve uma primeira delimitação que diz respeito à diferença entre desistência da cooperação e encerramento da rede. Embora pareçam iguais, a primeira expressão (desistência na cooperação) se dá no nível do agente, e a segunda (encerramento da rede), no âmbito da estrutura organizacional, de tal modo que pode ocorrer desistência da cooperação sem necessariamente resultar no encerramento da rede - decisão individual do agente, como pode ser encerrada a rede mantendo-se os agentes com o intuito de cooperar, o que pode representar eventuais falhas nos mecanismos de coordenação dela.

Assim, a busca por material empírico é efetuada em três etapas: 1. levantamento de pesquisas nas bases scielo.org e portal periódicos Capes, pelos termos "desistência", "redes", "redes de empresas", "redes Interorganizacionais", "redes horizontais", "encerramento", "cooperação", "cooperação interorganizacional" e "cooperação horizontal"; 2. leitura do título e resumo e classificação de que se tratava dos motivos da desistência em redes interorganizacionais com pesquisas empíricas; e 3. busca pelas pesquisas citadas nos trabalhos coletados nas etapas 1 e 2 que tratam da desistência da cooperação, utilizando a técnica de coleta "bola de neve", que teve finalização quando da ocorrência da saturação dos trabalhos.

O início da coleta ocorreu em 1º de julho de 2013, e o encerramento por repetição de achados (saturação de dados) ocorreu em 17 de julho de 2013. Uma possível falha ou incompletude nos termos buscadores da primeira etapa não se julgou comprometedora da construção do corpus, visto a existência da etapa 3 que reduzia a possibilidade de não se conhecer um trabalho importante da área. Além disso, foram priorizados trabalhos nacionais (Brasil) no desenvolvimento da pesquisa.

Essas estratégias de busca de material empírico culminaram num corpus com dez trabalhos relativo ao período compreendido entre 2003 e 2013, como apresentado no Quadro 1: uma tese de doutorado, uma dissertação de mestrado, sete artigos de periódicos e um artigo de evento nacional.

QUADRO 1
CORPUS DA PESQUISA

Para analisar o corpus, foi empregada a técnica de análise de conteúdo (Godoi, 2006Godoi, C. K. (2006). Perspectivas de análise do discurso nos estudos organizacionais. In C. K. Godoi, R. Bandeira-de-Mello & A. B. Silva (Orgs.). Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva.), no esforço por identificar e categorizar os motivos alegados pelos entrevistados que potencializaram a decisão por desistência da cooperação. Portanto, os tais motivos dessa desistência de cooperar com a rede de negócios foram elencados com base na citação da análise dos resultados ou nas considerações finais de cada estudo, tomando por base para codificação as categorias de análise apontadas no Quadro 2.

QUADRO 2
CATEGORIAS ANALÍTICAS UTILIZADAS NA CODIFICAÇÃO DO CORPUS

Com base na conceituação constante no Quadro 2, as transcrições foram codificadas a partir dos relatos registrados nos estudos analisados com respeito à desistência da cooperação, na tentativa de evidenciar seus motivos e associá-los à racionalidade envolvida na decisão. Portanto, os resultados da análise se encontram no Quadro 3 da seção 5.

QUADRO 3
PRINCIPAIS MOTIVOS DE SAÍDA DA EMPRESA OU ENCERRAMENTO DA REDE

5 DISCUSSÃO E REFLEXÃO

O Quadro 3 apresenta a síntese dos resultados obtidos a partir da codificação realizada com base no corpus. Os termos que se referem ao perfil, numa perspectiva próxima da racionalidade valorativa Substancial (valores, cultura, sentimentos), foram destacados em negrito para facilitar a discussão posterior.

Como se observa na síntese dos resultados, e acatando o pensamento expos-to em Xavier (2011)Xavier, J. L. J., Filho (2011). Desempenho em redes de colaboração interorganizacional: um estudo no segmento de autopeças. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil., bem como em Wegner, Callado e Maehler (2011)Wegner, D., Zen, A. C., & Andino, B. F. A. (2011). O último a sair apaga as luzes: um estudo de caso sobre os motivos para a desistência da cooperação e encerramento de redes de empresas. Revista de Negócios, 16(4), 30-50., de que o desempenho da cooperação é mediado pelas dimensões individuais, estruturais e relacionais, essas dimensões tomam por base os mecanismos de coordenação propostos por Grandori e Soda (1995)Grandori, A., & Soda, G. (1995). Inter-firm networks: Antecedents, mechanisms and forms. Organization Studies, 16(2), 183-214. e Jones et al. (1997)Jones, C., Hesterly, W. S., & Borgatti, S. P. (1997). A general theory of network governance: exchange conditions and social mechanisms. Academy of Management Review, 22, 911-945.. Assim, o Quadro 4 apresenta a relação entre os motivos da desistência e os mecanismos de coordenação, sem distinção do estudo analisado no corpus. Essa relação se revela significativa, uma vez que os mecanismos de coordenação se prestam a dar consistência aos relacionamentos cooperativos em formato de redes interorganizacionais.

QUADRO 4
RELACIONAMENTO ENTRE MECANISMOS DE COORDENAÇÃO E DESISTÊNCIA DA COOPERAÇÃO

O Quadro 4 agrupa os motivos elencados pelos entrevistados nos documentos do corpus: logo, o mecanismo de coordenação que contempla a maior parte das indicações do motivo da desistência é o sistema de seleção (Grandori & Soda, 1995Grandori, A., & Soda, G. (1995). Inter-firm networks: Antecedents, mechanisms and forms. Organization Studies, 16(2), 183-214.) ou a análise cuidadosa do parceiro potencial e a sinergia entre os objetivos da rede e os interesses estratégicos de seus participantes (Jones et al., 1997Jones, C., Hesterly, W. S., & Borgatti, S. P. (1997). A general theory of network governance: exchange conditions and social mechanisms. Academy of Management Review, 22, 911-945.).

Essa evidência corrobora os resultados de estudos como: Miles e Snow (1992)Miles, R. E., & Snow, C. C. (1992). Causes of failure in networks organizations. California Management Review, 33(4), 54-73., Brouthers et al. (1995)Brouthers, K. D., Brouthers, L. E., & Wilkinson, T. J. (1995). Strategic alliances: choose your parents. Long Range Planning, 28(3), 18-25., Nielsen (2001Nielsen, B. B. (2001). Synergies in strategic alliances: motivation and outcomes of complementary and synergistic knowledge networks. Recuperado em 13 março, 2010, de http://openarchive.cbs.dk/bitstream/handle/10398/6615/wp4-2000.pdf?sequence=1.
http://openarchive.cbs.dk/bitstream/hand...
), Zineldin (2004Zineldin, M. (2004). Co-opetition: the organisation of the future. Marketing Intelligence & Planning, 22(7), 780-790. ), Wegner e Padula (2012)Wegner, D., & Padula, A. D. (2012). Quando a cooperação falha: um estudo de caso sobre o fracasso de uma rede interorganizacional. Revista de Administração Mackenzie, 13(1), 145-171. e Venturini (2012)Venturini, J. C. (2012). Discutindo fatores de dissolução de redes horizontais de micro, pequenas e médias empresas. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.. A questão ressaltada como mais significativa corresponde ao fato de os motivos da desistência não dizerem respeito apenas a características estratégicas ou econômicas dos interagentes. Dentre os motivos primordiais, surgem "confiança", "culturas cooperativas", "falta de associativismo e cooperativismo", "individualismo", "falta de respeito", "ausência de comprometimento" e "resistência a mudanças". Tais fatores expressam a existência de traços marcantes da racionalidade valorativa substancial (valores, cultura, sentimentos) que se distanciam de uma previsível racionalidade instrumental.

Se os resultados da cooperação fossem atingidos, não haveria por que desistir dessa cooperação em virtude da subjetividade inerente a cada parceiro, uma vez que o meio (participação na rede) foi ajustado ao fim. Assim, o sentido para a ação social de desistir da cooperação não diz respeito apenas à ação racional voltada aos fins, como sugere a literatura predominante da área (Jarillo, 1988Jarillo, J. C. (1988). On strategic networks. Strategic Management Journal, 9, 31-41.; Gulati et al., 2000Gulati, R., Nohria, N., & Zaheer, A. (2000). Strategic networks. Strategic Management Journal, 21, 203-215.; Balestrin et al., 2010Balestrin, A., Verschoore, J. R., & Reyes, E., Junior, (2010). O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 14(3), 458-477.; Giglio & Hernandes, 2012Giglio, E. M., & Hernandes, J. L. G. (2012). Discussões sobre a metodologia de pesquisa sobre redes de negócios presentes numa amostra de produção científica brasileira e proposta de um modelo orientador. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 14(42), 78-101.).

Brouthers et al. (1995)Brouthers, K. D., Brouthers, L. E., & Wilkinson, T. J. (1995). Strategic alliances: choose your parents. Long Range Planning, 28(3), 18-25. ressaltam que a cultura cooperativa (cooperative culture) é pré-requisito essencial para a dinâmica da cooperação e não apenas uma característica controlável e remediável em caso de sua não existência. Logo, a dimensão cultural é tão visceral à cooperação que nem necessita ser recomendada, uma vez que ela constitui um pré-requisito. Além disso, essa cultura cooperativa é determinante para o sucesso da cooperação. Dito isso, autores como Kumar (2006)Kumar, K. (2006). Da sociedade industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo (2a ed.). Rio de Janeiro: Zahar. argumentam a favor da relação intrínseca da cultura com os formatos organizacionais, a exemplo da terceira Itália em que a cultura representa a grande promotora da cooperação em um cenário de recessão econômica e de mudanças drásticas nas relações de trabalho.

Constatação semelhante é sinalizada pelo estudo do Sebrae (2012)Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (2012). Mapeamento das centrais e redes de negócios - 2011. Brasília: Sebrae. quando revela que 168 redes das 778 mapeadas no Brasil em 2011 se localizam no Estado do Rio Grande do Sul, indicando que a concentração tem influência territorial, a qual carrega o potencial de subculturas, embora não as determine (Muzzio & Costa, 2012Muzzio, H., & Costa, F. J. (2012). Para além da homogeneidade cultural: a cultura organizacional na perspectiva subnacional. Cadernos Ebape, 10(1), 146-161.). Ou seja, aproximadamente 22% de todas as redes dos 27 Estados brasileiros se localizam em um único Estado. O segundo Estado a concentrar o maior número de redes do Brasil é São Paulo, com 91 redes ou aproximados 12%. Não é o quantitativo de empresas que está condicionando essas participações, já que o Rio Grande do Sul conta com apenas 8,48% do total de empresas do Brasil em seu território, ante os 31,62% das empresas localizadas em São Paulo, maior concentração do país (IBGE, 2013Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013). Estatística do cadastro central de empresas 2011. Rio de Janeiro: IBGE.). Tampouco o Produto Interno Bruto (PIB) condiciona a concentração de redes, já que São Paulo desponta como o primeiro nesse indicador em 2011, perante a quarta posição do Rio Grande do Sul (IBGE, 2013Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013). Estatística do cadastro central de empresas 2011. Rio de Janeiro: IBGE.).

É conhecido que o Estado do Rio Grande do Sul, desde 2000, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia [SDECT] (2015)Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (2015). Programa de Cooperação lança rede de salões de beleza e estética. Recuperado em 21 maio, 2015, de http://www.rs.gov.br/conteudo/216727/programa-de-cooperacao-lanca-rede-de-saloes-de-beleza-e-esteticas.
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, em parceria com instituições de ensino, desenvolve o "Programa Redes de Cooperação" com a ideia de "fomentar a cooperação entre empresas, gerar um ambiente estimulador ao empreendedor e fornecer suporte técnico necessário à formação, consolidação e desenvolvimento das empresas associadas", como afirma o diretor do departamento de Apoio à Micro e Pequena Empresa da SDECT.

Também é conhecido que nenhum outro Estado da Federação flexibilizou a estrutura governamental nas perspectivas tanto proativa - na condição de antever uma estrutura organizacional emergente, a tal ponto que tenha conseguido consolidar algum programa de apoio à criação de redes solidárias de negócios como sendo uma política de Estado. Logo, há "algo" nas matrizes culturais gaúchas que torna possível uma ação estatal de tamanha envergadura, contando com um programa de mais de 15 anos de atuação, 260 redes em funcionamento, 7.132 empresas associadas, 81 mil empregos diretos e abrangendo 72 segmentos da economia (SDECT, 2015Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (2015). Programa de Cooperação lança rede de salões de beleza e estética. Recuperado em 21 maio, 2015, de http://www.rs.gov.br/conteudo/216727/programa-de-cooperacao-lanca-rede-de-saloes-de-beleza-e-esteticas.
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).

O apoio de programas de incentivo já foi concebido como impacto positivo por Wegner et al. (2011)Wegner, D., Zen, A. C., & Andino, B. F. A. (2011). O último a sair apaga as luzes: um estudo de caso sobre os motivos para a desistência da cooperação e encerramento de redes de empresas. Revista de Negócios, 16(4), 30-50. e Cunha, Passador e Passador (2012)Cunha, J. A. C., Passador, J. L., & Passador, C. S. (2012). A presença de agentes intermediadores na formação de redes interorganizacionais: uma análise sob a perspectiva temporal. Cadernos Ebape, 10(1), 108-128., além do já reconhecido impacto do "Programa Redes de Cooperação" no desenvolvimento de redes no Estado do Rio Grande do Sul (Verschoore & Balestrin, 2008Verschoore, J. R., & Balestrin, A. (2008). Fatores relevantes para o estabelecimento de redes de cooperação entre empresas do Rio Grande do Sul. Revista de Administração Contemporânea, 12(4), 1043-1069.). A perda do apoio do programa foi apontado como motivo para a desistência da participação ou encerramento da rede, como apresentado no Quadro 4.

Então, algo não perceptível às lentes epistemológicas da economia tradicional, tampouco aos protagonistas da estratégia clássica, está possibilitando o surgimento de arranjos organizacionais competitivos pautados em laços subjetivos que envolvem confiança, associativismo, cooperativismo e respeito, ou seja, valores interacionais socialmente construídos no âmbito desses espaços de cooperação. Por si sós tais valores já representam indicativo de que as decisões pela desistência da cooperação não se expressam apenas na esfera da ação racional voltada aos fins.

Venturini (2012, p. 88)Venturini, J. C. (2012). Discutindo fatores de dissolução de redes horizontais de micro, pequenas e médias empresas. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. discute a influência da cultura como facilitadora dos relacionamentos cooperativos, no entanto, nos pressupostos de seu framework, o autor considera a existência de diferenças nos seus perfis no quesito heterogeneidade dos parceiros, tais como "localização, público-alvo, volume de compras, porte das empresas, número reduzido de participantes das redes, número de funcionários, escolaridade de seus participantes, entre outros", indicando a vigência de certo reducionismo econômico com base no qual o perfil dos parceiros foi tratado empiricamente.

Barcellos, Borella, Peretti e Galelli (2012, p. 55)Barcellos, P., Borella, M., Peretti, J., & Galelli, A. (2012). Insucesso em redes de cooperação: estudo multicasos. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, 11(4), 49-57. analisaram diversos casos de desistência de cooperação e constataram que, "se cada integrante da rede não possuir disposição interna - aquela que começa no indivíduo - para abrir mão do seu individualismo e de seus objetivos particulares a favor de algumas decisões-chave que proporcionarão ganhos coletivos importantes, a rede estará permanentemente vulnerável e exposta ao insucesso". Em favor dessa evidência, os autores aglutinam alguns aspectos que propiciam a desistência ou o encerramento da rede, chamando tais elementos de "aspectos culturais de cada membro" e chegando à conclusão de que "a decisão de abandonar a rede começa com a cultura de cada membro, proveniente do modo como faz negócios em sua empresa" (Barcellos et al., 2012, p. 53Barcellos, P., Borella, M., Peretti, J., & Galelli, A. (2012). Insucesso em redes de cooperação: estudo multicasos. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, 11(4), 49-57.).

Esse "modo como faz negócios " apresentado por Barcellos et al. (2012, p. 53)Barcellos, P., Borella, M., Peretti, J., & Galelli, A. (2012). Insucesso em redes de cooperação: estudo multicasos. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, 11(4), 49-57. desloca a discussão para um lugar em que práticas sociais são entendidas como expressões da cultura (Mackay, 1997Mackay, H. (1997). Introdution. In H. Mackay (Org.). Consumption and everyday life (pp. 1-12). California: Sage.; Johnson, 2004Johnson, R. (2004). O que é, afinal, estudos culturais? In T. T. Silva (Org.). O que é, afinal, estudos culturais? (3a ed., pp. 7-131). Belo Horizonte: Autêntica.; Giddens, 2005Giddens, A. (2005). Sociologia (4a ed.). Porto Alegre: Artmed.), e, tomando por base as teorias apresentadas por Balestrin et al. (2010)Balestrin, A., Verschoore, J. R., & Reyes, E., Junior, (2010). O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 14(3), 458-477., bem como aquelas tabuladas por Giglio e Hernandes (2012)Giglio, E. M., & Hernandes, J. L. G. (2012). Discussões sobre a metodologia de pesquisa sobre redes de negócios presentes numa amostra de produção científica brasileira e proposta de um modelo orientador. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 14(42), 78-101., nenhuma delas tem, em seu escopo, os conceitos de cultura para entender o problema vivenciado no arranjo organizacional pautado na cooperação quando as empresas se deparam com a saída de seus parceiros. Além disso, nenhuma abordagem teórica dentre as comumente empregadas como base teórica nos estudos acerca da desistência tem condição de resolver ou mitigar esse problema previamente.

O elemento que carece de maior aprofundamento analítico é a cultura, e não o é por falta de indícios, dado que este estudo com base em análise de conteúdo já apresenta constatações empíricas de que o choque cultural se configura como componente central constante nos relatos a respeito de desistência de atuação em rede. Parafraseando Nielsen (2001)Nielsen, B. B. (2001). Synergies in strategic alliances: motivation and outcomes of complementary and synergistic knowledge networks. Recuperado em 13 março, 2010, de http://openarchive.cbs.dk/bitstream/handle/10398/6615/wp4-2000.pdf?sequence=1.
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quando tece comentários sobre a confiança nos processos de cooperação, parece que a cultura constitui o elemento mágico que só é visto ex post facto e que tem a prerrogativa de encerrar ou manter a cooperação.

Extrapolar o reducionismo econômico pelo qual o perfil dos parceiros é tratado atende à consideração teórica da cultura como antecedente para o sucesso da cooperação, como sugerem Brouthers et al. (1995)Brouthers, K. D., Brouthers, L. E., & Wilkinson, T. J. (1995). Strategic alliances: choose your parents. Long Range Planning, 28(3), 18-25., Kumar (2006)Kumar, K. (2006). Da sociedade industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo (2a ed.). Rio de Janeiro: Zahar. e Thomson e Perry (2006)Thomson, A. M., & Perry, J. L. (2006). Collaboration process: inside the black box. Public Administration Review, (Special Issue), 66(56), 20-32., demonstrando a relevância com que a cultura é entendida como embasamento conceitual para a compreensão do fenômeno da cooperação interorganizacional.

Desse modo, é imperativa a necessidade de "engrossar o caldo" teórico das lentes epistemológicas de estudos organizacionais que sistematicamente abordam a problemática da cooperação interorganizacional. E um norte sugestivo para esse avanço teórico-empírico pode ser o esforço por analisar o componente cultural em meio às práticas sociais de desistência da cooperação em redes interorganizacionais.

Yúdice (2006, p. 52)Yúdice, G. (2006). A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG., como pensador contemporâneo da seara cultural, afirma que "a cultura é conveniente enquanto recurso para se atingir um fim", e, nesse ponto, é vital entender o conceito de cultura tratado pelo autor, que claramente a vê como a externalização dos hábitos e das regras de uma determinada comunidade, que as distingue de todas as demais. É revelada aqui certa sinergia conceitual, e por que não dizer contingencial, entre o entendimento de cultura de Yúdice (2006) e as evidências de choques culturais revelados no corpus desse estudo.

Sendo assim, Yúdice (2006, p. 13)Yúdice, G. (2006). A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG. infere que a cultura está sendo cada vez mais "invocada para resolver problemas que anteriormente eram de competência da área econômica e política", como o caso da cooperação interorganizacional tratada ao longo deste estudo, mais especificamente a desistência da cooperação em redes interorganizacionais.

Estudos que envolvem a dimensão cultural proposta por Yúdice (2006)Yúdice, G. (2006). A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG., Hall (1997)Hall, S. (1997). A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, 22(2), 15-46., Martín-Barbero (2003)Martín-Barbero, J. (2003). Dos meios às mediações: comunicação, Cultura e hegemonia (2a ed.). Rio de Janeiro: Editora UFRJ. e Canclini (2003)Canclini, N. G. (2003). Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade (4a ed.). São Paulo: Edusp. expõem o potencial de promover reflexões acerca de ações do cotidiano que podem revelar aspectos ideológicos, de valores, mundo figurado e processos de significação que têm forte impacto em todas as práticas sociais, entre elas as práticas inscritas nas organizações, pois se apresentam como espaço de socialidade.

Em suma, a presença do componente cultural como expressão da racionalidade valorativa substancial se revela nas decisões factuais relativas à dinâmica dos processos decisórios com respeito à desistência da cooperação em rede, como já bem conceitua Weber (2000)Weber, M. (2000). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB., Alves (2003)Alves, S. (2003). Racionalidade, carisma e tradição nas organizações empresariais contemporâneas. Recife: Editora Universitária da UFPE. e Vasconcelos (2004)Vasconcelos, F. C. (2004). Racionalidade, autoridade e burocracia: as bases para definição de um tipo organizacional pós-burocrático. Revista de Administração Pública, 38(2), 199-220., e não apenas a racionalidade formal instrumental gera sentido para a ação, num contexto em que existe o imbricamento de sentidos ao longo das diversas decisões tomadas pelos agentes.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término das análises, notou-se que diversos são os motivos elencados pelos entrevistados de pesquisas empíricas a respeito da desistência da cooperação. Eles passam, inevitavelmente, por questões de cunho econômico, estratégico e estrutural da rede, infringindo todos os mecanismos de cooperação. Porém, o elemento intrigante consiste no fato de que a base real do problema da desistência reside no perfil do parceiro da cooperação, que não é reconhecido em seu cerne, ou seja, em seu aspecto mais central. As pesquisas tangenciam essa essência, na medida em que passam a abordar o perfil do parceiro da cooperação tão somente pelo prisma economicista.

Retomando o objetivo da pesquisa, que foi descrever a racionalidade subjacente aos motivos da desistência por parte de dirigentes de empresas no senti-do de manter a participação em redes interorganizacionais, julga-se atingido tal objetivo e atestado que as ações sociais presentes na desistência da cooperação extrapolam os limites da ação racional voltada aos fins, tendo traços da ação tradicional e traços da ação racional com relação a valores, dado que tradição e valor são produtos de construções sociais edificados e manifestados pela cultura.

Admitindo o caráter descritivo proposto aqui, a percepção da centralidade da cultura no entendimento da desistência da cooperação abre uma nova avenida de possibilidades de investigação sobre a temática da desistência de cooperação em rede. Triangulações conceituais entre cultura e estudos organizacionais e entre cultura e estratégia empresarial, a fim de operacionalizar variáveis, constructos, modelos e mapas cognitivos para análises estruturadas da cooperação interorganizacional, mostram-se com grande potencial de complementar o rol de teorias já em uso para fundamentar a análise dessa estrutura organizacional. Um res-gate da escola cultural do pensamento estratégico, imbrincada com o conceito de cultura tratado por Yúdice (2006)Yúdice, G. (2006). A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG., pode compor uma episteme, nos termos de Foucault, para o conhecimento na área de cooperação interorganizacional, bem mais reflexivo e, também, complexo.

Essa avenida toca em dois pontos importantes e interdependentes: implicações gerenciais e construção de teorias. No que tange às implicações gerenciais, é notória a importância de considerar aspectos culturais como dimensão significativa debaixo dos quais se manifestam as práticas sociais, entre elas a cooperação. Nesse sentido, é urgente renovar as abordagens tradicionais de gestão de arranjo cooperativo para incluir, ou melhor, consolidar - uma vez que já é prescrita -, o aporte cultural dos participantes como dimensão basilar para o sucesso da cooperação. Não se faz necessário dizer que a cultura não é homogênea e sua construção é de todo subjetiva; logo, cada subjetividade traz consigo nuances distintas de sua formação cultural que tem o potencial de contribuir para arranjos cooperativos ou dificultá-los.

Já com relação à construção de teorias, é inevitável o aporte cultural às teorias da cooperação, sendo possível - ou não - o imbricamento com as teorias em uso, derivadas da economia das transações. O importante não é duopolizar, mas integrar, uma vez que elementos da economia estão presentes nas decisões de cooperação, que, por sua vez, são expressões culturais solidificadas em forma de costumes e práticas sociais. Invadimos um campo - cooperação - que é multidisciplinar e devemos alimentar as teorias com a totalidade das disciplinas que estudam o fenômeno, como Antropologia, Sociologia, Economia e Psicologia Social.

  • 1
    "[...] redes de empresas podem integrar suas operações para obter sinergias e vantagens competitivas" (tradução nossa).
  • 2
    "cultura cooperativa é um pré-requisito para o sucesso da aliança" (tradução nossa).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2015

Histórico

  • Recebido
    24 Maio 2014
  • Aceito
    23 Jun 2015
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