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A CONTROLADORIA COMO SUPORTE À ESTRATÉGIA DA EMPRESA: ESTUDO MULTICASO EM EMPRESAS DE TRANSPORTE

THE CONTROLLERSHIP AS SUPPORT COMPANY STRATEGY: MULTIPLE CASE STUDY IN TRANSPORT COMPANIES

LA CONTRALORÍA COMO APOYO A LA ESTRATEGIA DE LA EMPRESA: ESTUDIO MULTICASO EN EMPRESAS DE TRANSPORTE

RESUMO

Objetivo:

Identificar quais práticas de controladoria podem suportar decisões estratégicas nas empresas de transportes.

Originalidade/lacuna/relevância/implicações:

O artigo apresenta uma nova abordagem da relação entre práticas de controladoria e decisões estratégicas. As principais contribuições desta pesquisa são: preencher lacunas sobre funções da controladoria, avançar em conceitos sobre decisões estratégicas e apresentar as práticas mais utilizadas no segmento.

Principais aspectos metodológicos:

A pesquisa é aplicada com abordagem qualitativa. Trata-se de um estudo de caso múltiplo com quatro empresas de transportes de cargas da região metropolitana de Porto Alegre/RS. Para coleta dos dados, elaborou-se um roteiro de entrevista. Para verificar a similaridade entre as empresas, foi utilizado o índice de similaridade de Jaccard.

Síntese dos principais resultados:

Constatou-se que, entre as 27 práticas de controladoria, 16 são utilizadas por pelo menos uma das empresas pesquisadas, enquanto 11 não são utilizadas por nenhuma das empresas. Quando se analisa a utilização das decisões estratégicas listadas na literatura, evidencia-se que 75,4% das decisões estratégicas são adotadas por pelo menos uma das empresas, enquanto 24,6% não são identificadas em nenhuma das empresas. Existe similaridade entre as empresas, e os resultados indicam que 14,8% das práticas são consideradas decisivas ou muito importantes para 75% das empresas.

Principais considerações/conclusões:

Os resultados obtidos na análise dos dados coletados evidenciaram que as práticas de controladoria podem fornecer suporte à formulação das decisões estratégicas da empresa. Na análise de quantas decisões estão relacionadas com cada prática, a prática de controladoria mais destacada foi "orçamento operacional", que está relacionada com 60,5% das 43 decisões.

PALAVRAS-CHAVE
Práticas de controladoria; Decisão estratégica; Empresa de transportes; Transporte de carga; Custeio variável

ABSTRACT

Purpose:

To identify the controllership practices which can support strategic decisions on transport companies.

Originality/gap/relevance/implications:

The paper presents a new approach to the relationship between controllership practices and strategic decisions. It contributes by filling gaps on the controllership functions, advancing in concepts about strategic decisions, and presents the commom practices of the segment.

Key methodological aspects:

The research is applied with a qualitative approach. It is a multiple case study with four cargo transportation companies in the metropolitan region of Porto Alegre/RS. For data collection, an interview script was elaborated. To check the similarity between the firms, the Jaccard similarity index was used.

Summary of key results:

It was found that among the 27 controllership practices, 16 are used for at least one of the companies surveyed, while 11 are not used by any of the companies. Analyzing the use of strategic decisions listed in the literature, it is evident that 75.4% of strategic decisions are used by at least one of the enterprises, while 24,6% are not identified in any of the companies. There is similarity between the companies, the results indicate that 14,8% of practices are considered crucial or very important to 75% of the companies.

Key considerations/conclusions:

The results show that the controllership practices can provide support to the formulation of strategic decisions of the company. Regarding the analysis of the number of decisions which are related to each practice, the controllership practices most prominent was "operating budget", which is related to 60,5% of the 43 decisions.

KEYWORDS
Practices of controllership; Strategic decisions; Transportation company; Cargo transportation; Variable cost

RESUMEN

Objetivo:

Identificar qué prácticas de contraloría pueden apoyar las decisiones estratégicas sobre las empresas de transporte.

Originalidad/laguna/relevancia/implicaciones:

El artículo presenta un nuevo enfoque para la relación entre las prácticas de contraloría y decisiones estratégicas. Contribuye rellenando lagunas sobre las funciones de la contraloría, avanza en los conceptos acerca de las decisiones estratégicas y presenta las prácticas más utilizadas en el sector.

Principales aspectos metodológicos:

Se aplica la investigación con enfoque cualitativo. Es un estudio de caso múltiple con cuatro empresas de transporte de cargas de la región metropolitana de Porto Alegre/RS (Estado de Rio Grande do Sul). Para la recolección de datos, se elaboró un guión de entrevista. Para comprobar la similitud entre las empresas se utilizó el índice de similitud de Jaccard.

Síntesis de los principales resultados:

Se constató que, entre las 27 prácticas de contraloría, 16 son utilizadas, por lo menos, por una de las empresas investigadas, mientras que 11 no son utilizadas por ninguna de las empresas. Analizando el uso de las decisiones estratégicas listadas en la literatura, se encontró que el 75,4% de las decisiones estratégicas son utilizadas por al menos una de las empresas, mientras que 24,6% no son identificadas en ninguna de las empresas. Hay similitud entre las empresas, los resultados indican que 14,8% de las prácticas son consideradas cruciales o muy importantes para 75% de las empresas.

Principales consideraciones/conclusiones:

Los resultados del análisis de los datos recolectados muestran que las prácticas de contraloría pueden proporcionar apoyo a la formulación de las decisiones estratégicas de la empresa. En el análisis de cuántas decisiones se relacionan con cada práctica, la práctica de contraloría más destacada fue "Presupuesto de funcionamiento", que está relacionada con 60,5% de las 43 decisiones.

PALABRAS CLAVE
Prácticas de contraloría; Decisión estratégica; Empresas de transportes; Transporte de carga; Costeo variable

1 INTRODUÇÃO

O controle gerencial é um dos vários tipos de atividades de planejamento e controle que ocorrem numa organização. Para tanto, são definidos o controle gerencial e outros dois tipos de planejamento e controle: formulação de estratégias e controle de execução dessas estratégias. O controle gerencial é o processo pelo qual os executivos influenciam outros membros da organização, para que obedeçam às estratégias adotadas e atinjam seus objetivos planejados (Anthony & Govindarajan, 2002Anthony, R., & Govindarajan, V. (2002). Sistemas de controle gerencial. São Paulo: Atlas .). Para Junqueira (2010)Junqueira, E. (2010). Perfil do sistema de controle gerencial sob a perspectiva da teoria da contingência. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil., o desafio dos responsáveis por estruturar os sistemas de controle das organizações é o de aperfeiçoá-los, com o objetivo de mantê-los competitivos e ainda reduzir os riscos de perdas futuras decorrentes de decisões erradas ou ilegais. Esse entendimento é corroborado por Oyadomari (2008)Oyadomari, J. (2008). Uso do sistema de controle gerencial e desempenho: um estudo em empresas brasileiras sob a ótica da VBR (visão baseada em recursos). Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil..

Um modo de melhorar o processo de decisão é padronizar a atitude e focalizar a atenção em procedimentos sistemáticos e logicamente válidos (Kallestrup, Lynge, Akkerman, & Oddsdottir, 2014Kallestrup, K., Lynge, L., Akkerman, R., & Oddsdottir, T. (2014). Decision support in hierarchical planning systems: the case of procurement planning in oil refining industries. Decision Support Systems, 68(1), 49-63.). Dessa forma, a controladoria, como área administrativa, pode auxiliar no processo de gestão, fornecendo informações de suporte à tomada de decisão que visam assegurar a eficácia da empresa, controlando suas operações, a fim de atingir os resultados planejados (Borsato, Pimenta, & Lemes, 2010Borsato, J., Pimenta, D., & Lemes, S. (2010). A influência da controladoria no processo de abertura de capital: um estudo de caso em uma instituição superior. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da Uerj, 15(3), 51-65.).

Uma das indústrias brasileiras mais importantes é a dos transportes (Cibulska, Tedesco, Villela, & Granemann, 2012Cibulska, P. C. M. V., Tedesco, G. M. I., Villela, T. M. A., & Granemann, S. R. (2012). Considerações sobre as mudanças no registro dos transportadores rodoviários remunerados de carga no Brasil.Transportes, 20(1), 80-85.; Silva, Martins, Rocha, & Araújo, 2013Silva, F. G. F., Martins, F. G. D., Rocha, C. H., & Araújo, C. E. F. (2013). Investimentos em transportes terrestres causam crescimento econômico? Um estudo quantitativo. Journal of Transport Literature, 7(2), 124-145.). Segundo Silva e Marujo (2012)Silva, M., & Marujo, L. (2012). Análise de modelo intermodal para escoamento da produção da soja no Centro-Oeste brasileiro. Journal of Transport Literature, 6(3), 90-106., os modais de transporte brasileiro enfrentam problemas que geram desperdícios de bilhões de reais em acidentes, roubos de cargas e ineficiências operacionais e energéticas. Além disso, no Brasil, o setor de transportes tem alta incidência de carga tributária (Portal Transporta Brasil, 2014Portal Transporta Brasil (2014). Carga tributária do transporte no Brasil é uma das maiores do mundo. Recuperado em 8 janeiro, 2014, de http://www.transportabrasil.com.br/2008/09/carga-tributaria-do-transporte-no-brasil-e-uma-das-maiores-do-mundo/
http://www.transportabrasil.com.br/2008/...
). Conforme Alves (2012)Alves, L. (2012). Análise dos impactos da reforma tributária sobre os custos do setor de transporte no Brasil. Dissertação de mestrado, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil., quanto à participação na carga tributária, de 2005 a 2010, a atividade contribuiu em média com 3% do total da receita tributária e com 16,9% do produto interno bruto (PIB) setorial. Nos anos de 2012 e 2013, o segmento de transportes, classificado pela Secretaria da Receita Federal como Divisão Econômica de Transportes Terrestres, figurou entre as dez principais divisões econômicas em valor de arrecadação de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), sendo a sétima maior geradora desses impostos (Receita Federal do Brasil, 2014Receita Federal do Brasil (2014). Resultado da arrecadação: 2010-2013. Recuperado em 23 abril, 2014, de http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/Arrecadacao/ResultadoArrec/
http://www.receita.fazenda.gov.br/Histor...
). O setor é regulamentado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (Antt), entidade vinculada ao Ministério dos Transportes (Cibulska et al., 2012Cibulska, P. C. M. V., Tedesco, G. M. I., Villela, T. M. A., & Granemann, S. R. (2012). Considerações sobre as mudanças no registro dos transportadores rodoviários remunerados de carga no Brasil.Transportes, 20(1), 80-85.). O relatório anual da Antt de 2012 apresentou 770 mil transportadores rodoviários cadastrados, com uma frota em circulação de 1.823.253 veículos cadastrados (Antt, 2012Agência Nacional de Transportes Terrestres (2012). Relatório anual 2012. Brasília: Antt. Recuperado em 4 abril, 2014, dehttp://www.antt.gov.br/index.php
http://www.antt.gov.br/index.php...
).

Nesse contexto, considerando a controladoria como uma área de apoio à gestão e também como responsável por garantir a transparência das informações contábeis e gerenciais, o objetivo geral deste artigo é identificar quais práticas de controladoria podem suportar as decisões estratégicas nas empresas de transportes. Os objetivos específicos são verificar que práticas de controladoria são utilizadas nas empresas de transportes, investigar quais são as principais decisões estratégicas e relacionar as práticas de controladoria utilizadas nas empresas de transporte às principais decisões estratégicas.

O método de pesquisa é o estudo de caso múltiplo. O restante do artigo está organizado em revisão de literatura, metodologia, apresentação e análise dos dados e considerações finais.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 GESTÃO ESTRATÉGICA E DECISÃO

A proposição básica da administração estratégica é que a empresa deve ajustar seus comportamentos operacional e estratégico à mutabilidade das exigências e oportunidades no mercado (Abdel Al & McLellan, 2013Abdel Al, S., & McLellan, J. (2013). Strategy and management accounting practices alignment and its effect on organizational performance.Journal of Accounting, Business & Management, 20(1), 1-27.). Essa visão é corroborada por Baltar e Coulon (2014)Baltar, F., & Coulon, S. (2014). Dynamics of the entrepreneurial process: the innovative entrepreneur and the strategic decisions. Review of Business and Finance Studies, 5(1), 69-81., segundo os quais as decisões empresariais envolvem a identificação dos meios e das metas previamente não detectados pelos agentes do mercado. Para Nixon e Burns (2012)Nixon, B., & Burns, J. (2012). The paradox of strategic management accounting. Management Accounting Research, 23(4), 229-244., a turbulência econômica, política e social do início do século XXI exemplifica as incertezas atuais. As mudanças na prática e na literatura do planejamento financeiro em 1950, chegando até a gestão do conhecimento e governança corporativa nos anos 2000, refletem, em grande parte, um ambiente externo cada vez mais dinâmico e imprevisível. Essa evolução da gestão estratégica é apresentada no Quadro 1.

QUADRO 1
A EVOLUÇÃO DA GESTÃO ESTRATÉGICA

Para Porter (1979)Porter, M. (1979). How competitive forces shape strategy.Harvard Business Review, 57, 137-145., a estratégia empresarial é definida como um processo de ações desafiadoras e defensivas, a fim de ganhar uma posição sustentável no mercado para enfrentar com sucesso as cinco forças competitivas. Vaara e Whittington (2012)Vaara, E., & Whittington, R. (2012). Strategy-as-practice: taking social practices seriously. The Academy of Management Annals, 6(1), 285-336. entendem que, dadas as transformações tecnológicas, econômicas e sociais observadas desde as origens da gestão estratégica, é necessário compreender como o campo da estratégia está mudando.

Para Slavov (2013)Slavov, T. (2013). Gestão estratégica de custos: uma contribuição para a construção de sua estrutura conceitual. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil., gestão é o processo decisório suportado pela capacidade de indivíduos de todos os níveis organizacionais e orientado por um processo de síntese do ambiente organizacional, com diretrizes qualitativas e quantitativas, que busca soluções não estruturadas para problemas complexos e viáveis. As decisões estratégicas são decisões de longo prazo, complexas e inerentemente arriscadas, e influenciam o futuro da organização. Nooraie (2012)Nooraie, M. (2012). Factors influencing strategic decision-making processes (2012). International Journal of Academic Research in Business and Social Sciences, 2(7), 405-429.complementa que a tomada de decisão é uma das funções mais importantes e complexas exigidas de gestores.

Conforme Hickson, Butler, Cray, Mallory e Wilson (1986)Hickson, D. J., Butler, R. J., Cray, D., Mallory, G. R., & Wilson, D. C. (1986). Top decisions: strategic decision-making in organizations. San Francisco: Jossey-Bass., as decisões estratégicas exigem planejamento: a decisão estratégica é o resultado de um fluxo de atividades e inatividades durante um período. No início da década de 1970, Hickson et al. (1986) iniciaram um estudo sobre decisões estratégicas em empresas inglesas, o qual se estendeu por mais de dez anos. Foram analisados 150 casos de tomadas de decisões em 30 empresas. Com base nas decisões estratégicas identificadas por Hickson et al. (1986)Hickson, D. J., Butler, R. J., Cray, D., Mallory, G. R., & Wilson, D. C. (1986). Top decisions: strategic decision-making in organizations. San Francisco: Jossey-Bass.,Slavov (2013)Slavov, T. (2013). Gestão estratégica de custos: uma contribuição para a construção de sua estrutura conceitual. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. listou 57 eventos exclusivos (não repetidos) que podem representar o conjunto de decisões estratégicas tomadas em empresas. Essas decisões são apresentadas no Quadro 2 e foram utilizadas como base de pesquisa neste artigo.

QUADRO 2
DECISÕES ESTRATÉGICAS

2.2 CONTROLADORIA OU CONTABILIDADE DE GESTÃO E SUA RELAÇÃO COM A ESTRATÉGIA

Devido à velocidade com que as mudanças vêm ocorrendo no mercado, a controladoria tem conquistado mais espaço nas organizações, com a missão de otimizar os resultados, pela definição de um modelo de informações capaz de oferecer condições para o desenvolvimento da empresa, gerando informações relevantes para a tomada de decisão (Fietz, Costa, & Beuren, 2007Fietz, É., Costa, A., & Beuren, I. (2007). Participação da controladoria no processo de gestão das organizações: uma análise comparativa entre grandes indústrias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.Revista de Negócios, 12(1), 29-41.). Para Elbanna e Younies (2008)Elbanna, S., & Younies, H. (2008). The relationships between the characteristics of the strategy process: evidence from Egypt. Management Decision, 46(4), 626-639., o processo de estratégia aborda as ações que levam à estratégia, a maneira como esta é feita e implementada, e os fatores que a afetam. Kumar e Shafabi (2011)Kumar, A., & Shafabi, K. (2011). Strategic cost management - suggested framework for 21st century. Journal of Business and Retail Management Research, 5(2), 118-130. consideram que, para o sucesso das empresas do século XXI, além dos custos, os valores e as receitas também devem ser considerados fatores críticos. Abdel Al e McLellan (2013)Abdel Al, S., & McLellan, J. (2013). Strategy and management accounting practices alignment and its effect on organizational performance.Journal of Accounting, Business & Management, 20(1), 1-27. explicam que a gestão estratégica dos fatores de sucesso representa um conjunto de instrumentos que podem ser utilizados individualmente para dar suporte a objetivos específicos ou juntos para servir às necessidades globais da organização.

Na década de 2000, Burns e Scapens (2000)Burns, J., & Scapens, R. (2000). Conceptualizing management accounting change: an institutional framework. Management Accounting Research, (11), 3-25.argumentavam que o ambiente em que a contabilidade gerencial era praticada apresentava mudanças: os autores constataram que a contabilidade gerencial não estava institucionalizada em todas as organizações, mas que tinha potencial para se institucionalizar e, assim, contribuir para a estabilidade do processo organizacional e agir como portadora do conhecimento organizacional. Para Coelho, Lunkes e Machado (2012)Coelho, E., Lunkes, R., & Machado, A. (2012). A controladoria na hierarquia organizacional: um estudo nas maiores empresas do estado de Santa Catarina. Enfoque: Reflexão Contábil, 31(2), 33-46., empresas contemporâneas têm sofrido pressões competitivas sem precedentes, sendo forçadas a criar mecanismos de diferenciação e aumentar a competitividade. Coelho et al. (2012)Coelho, E., Lunkes, R., & Machado, A. (2012). A controladoria na hierarquia organizacional: um estudo nas maiores empresas do estado de Santa Catarina. Enfoque: Reflexão Contábil, 31(2), 33-46.entendem que a controladoria passou a exercer um papel central no processo de gestão. Seu desenvolvimento ocorre a partir dos preceitos básicos da contabilidade para uma função de suporte informacional, controle interno, planejamento tributário, elaboração do orçamento e medidas operacionais, passando a participar também ativamente da formulação das estratégias.

Para Borinelli (2006)Borinelli, M. (2006). Estrutura conceitual básica de controladoria: sistematização à luz da teoria e da práxis. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., como função gerencial-estratégica, a controladoria compreende as atividades relativas a prover informações de natureza contábil, patrimonial, econômica, financeira e não financeira ao processo de gestão, para que os gestores possam estar devidamente subsidiados em suas tomadas de decisão estratégicas. Para Pereira et al. (2011)Pereira, D. L., Pilatti, L. A., Fascina, M. N., Zahaikevitch, E. V., Cruz, J. C., & Francisco, A. C. (2011). A controladoria e sua relação com o planejamento estratégico: o caso de uma multinacional no interior do Paraná. Revista Eletrônica Fafit/Facic, 2(2), 11-21., no processo de gestão, a controladoria tem a função de coordenar os esforços dos gestores no sentido de garantir o cumprimento da missão da empresa e assegurar sua continuidade, gerando informações relevantes, fidedignas e tempestivas para a tomada de decisão. Para Almeida, Parisi e Pereira (2011)Almeida, B., Parisi, C., & Pereira, C. (2011). Controladoria. In A. Catelli (Coord.). Controladoria: uma abordagem da gestão econômica - Gecon (2a ed., pp. 343-355). São Paulo: Atlas., a controladoria é uma evolução natural da contabilidade praticada. De acordo com Weibenberger e Angelkort (2011)Weibenberger, B., & Angelkort, H. (2011). Integration and management accounting systems: the mediating influence of a consistent financial language on controllership effectiveness. Management Accounting Research, 22(3), 160-180., o gerenciamento de informações contábeis não é somente caracterizado por relevância, acuracidade, oportunidades ou confiabilidade técnica, mas também por consistência, a partir de uma perspectiva do lado do usuário.

As práticas de contabilidade gerencial são formadas pela influência de muitos fatores inter-relacionados. Tendências econômicas, sociais e organizacionais podem afetar o modo como as práticas individuais emergem, sem que se descartem fatores únicos, relacionados especificamente com uma única empresa (Scapens, 2006Scapens, R. (2006). Understanding management accounting practices: a personal journey. The British Accounting Review, 38(1), 1-30.). Para Abdel-Kader e Luther (2008)Abdel-Kader, M., & Luther, R. (2008). The impact of firm characteristics on management accounting practices: a UK-based empirical analysis. The British Accounting Review, 40(1), 2-27., ao longo das últimas três décadas, técnicas de contabilidade gerencial inovadoras têm sido desenvolvidas em muitas indústrias.

Segundo Borinelli (2006)Borinelli, M. (2006). Estrutura conceitual básica de controladoria: sistematização à luz da teoria e da práxis. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil., as funções e atividades da controladoria são elementos que pertencem a unidades ou áreas de uma organização, não necessariamente denominadas controladoria: atividades e funções típicas de controladoria são aquelas que cumprem sua essência. Manvailer (2013)Manvailer, R. (2013). Práticas de controladoria adotadas por instituições privadas de ensino superior (Ipes) estabelecidas na região Centro-Oeste do Brasil. Dissertação de mestrado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil. apresenta 27 práticas de controladoria validadas por especialistas. As práticas de controladoria foram coletadas da literatura nacional e internacional, e as questões sobre as práticas foram submetidas à validação de seis especialistas. Para a validação, foi utilizado o método Delphi.

O método Delphi busca um consenso progressivo entre especialistas de determinada área de conhecimento em que o tema é complexo. O resultado é obtido por meio de consultas a um grupo de especialistas, até que um consenso ou quase consenso seja atingido (Santos, Vidotto, & Giublin, 2005 como citado Leite, 2013Leite, E. (2013). Adoção de práticas de controladoria por empresas atuantes no Brasil: um estudo sob a ótica da teoria da contingência. Dissertação de mestrado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil.). De acordo com Manvailer (2013)Manvailer, R. (2013). Práticas de controladoria adotadas por instituições privadas de ensino superior (Ipes) estabelecidas na região Centro-Oeste do Brasil. Dissertação de mestrado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil., os especialistas foram escolhidos com base em quatro critérios: 1. ser vinculado ao quadro docente de programas de pós-graduação stricto sensu em Ciências Contábeis; 2. ter obtido o título de doutor há mais de cinco anos; 3. atuar em linhas de pesquisa relacionada à controladoria; 4. maior número de publicações em periódicos relacionadas ao tema controladoria nos últimos cinco anos. Para identificação dos especialistas, foi realizada uma pesquisa no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para verificar os programas de pós-graduação stricto sensu em Ciências Contábeis. Selecionaram-se seis especialistas: dois da Universidade de São Paulo, dois da Universidade Federal de Santa Catarina e dois da Universidade Regional de Blumenau.

O Quadro 3 apresenta essas práticas, em ordem alfabética.

QUADRO 3
PRÁTICAS DE CONTROLADORIA VALIDADAS POR ESPECIALISTAS

2.3 ESTUDOS RELACIONADOS

O Quadro 4 apresenta estudos relacionados a práticas de controladoria como suporte à estratégia da empresa.

QUADRO 4
ESTUDOS RELACIONADOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

3 METODOLOGIA

A pesquisa é aplicada com abordagem qualitativa. Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva. Quanto aos procedimentos técnicos, trata-se de estudo de caso múltiplo com quatro empresas de transporte de cargas localizadas no Rio Grande do Sul. Optou-se por selecionar empresas da região metropolitana de Porto Alegre em função da proximidade entre as empresas. O estudo de caso consiste em coletar e analisar informações sobre determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade, com o propósito de estudar aspectos variados de acordo com o assunto da pesquisa (Prodanov & Freitas, 2009Prodanov, C., & Freitas, E. (2009). Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. Novo Hamburgo: Feevale.). Seguindo as orientações de Yin (2001)Yin, R. (2001). Estudo de caso: planejamento e métodos (2a ed.). São Paulo: Bookman., foi elaborado um protocolo que compreendeu as principais fases da pesquisa de campo.

As empresas estudadas operam com cargas fracionadas e cargas completas para todo o Brasil, empregam 800 funcionários diretos e faturam o total de R$ 140 milhões anuais. Como instrumento de coleta de dados, elaborou-se um roteiro de entrevista estruturada com respostas fechadas, dividido em três seções. Antes de ser aplicado nas empresas selecionadas, o roteiro de entrevistas foi validado em uma empresa com características semelhantes.

Entrevistaram-se o diretor-geral de cada empresa e o gerente de controladoria de duas empresas em que a área de controladoria estava formalizada, totalizando seis respondentes.

Para relacionar as decisões estratégicas com as práticas de controladoria, cada decisão foi confrontada com as práticas, a fim de identificar quais destas possuem relação de influência. Para haver relação, foram verificados, na literatura, os resultados obtidos com a utilização de cada prática. Nos casos em que esses resultados forneciam informações para tomada daquela decisão específica, foi atribuído peso 1; em caso negativo, peso zero. A soma dos pesos atribuídos a cada prática indica quantas práticas têm relação com a decisão analisada.

Para analisar a similaridade entre as empresas, utilizou-se o coeficiente de Jaccard. Desenvolvido por Paul Jaccard, esse método estatístico é utilizado para comparar a semelhança e a diversidade de conjuntos de amostras finitas. Esse coeficiente pode ser definido como o tamanho da intersecção dividido pelo tamanho da união dos conjuntos de uma amostra (Jaccard, 1901 como citado em Jardini, 2012Jardini, T. (2012). Ambiente data cleaning: suporte extensível, semântico e automático para análise e transformação de dados. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", São José do Rio Preto, SP, Brasil.).

4 RESULTADOS

O Quadro 5 apresenta, na primeira coluna, as 27 práticas de controladoria definidas na literatura e, nas colunas seguintes, as empresas participantes. As práticas utilizadas foram marcadas com X.

QUADRO 5
PRÁTICAS DE CONTROLADORIA UTILIZADAS PELAS EMPRESAS DE TRANSPORTES

O Quadro 6 apresenta as 57 decisões estratégicas utilizadas pelas organizações, conforme Slavov (2013)Slavov, T. (2013). Gestão estratégica de custos: uma contribuição para a construção de sua estrutura conceitual. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil.. Na primeira coluna, estão listadas as decisões estratégicas, conforme a literatura, e, nas seguintes, as empresas que utilizam as decisões, marcadas com X.

QUADRO 6
DECISÕES ESTRATÉGICAS UTILIZADAS PELAS EMPRESAS DE TRANSPORTES

A Tabela 1 apresenta o resumo das práticas de controladoria em ordem decrescente das práticas mais utilizadas pelas empresas de transportes (práticas utilizadas = 1, do contrário = zero).

TABELA 1
PRÁTICAS DE CONTROLADORIA MAIS UTILIZADAS PELAS EMPRESAS DO ESTUDO EM ORDEM DECRESCENTE

Quanto à aderência das práticas de controladoria pelas empresas de transportes, constatou-se que, das 27 práticas validadas, considerando a quantidade de práticas utilizadas, em primeiro lugar, está a empresa 3, atingindo um percentual de participação de 51,9%. Em segundo lugar, está a empresa 2, com participação de 40,7%, seguida pela empresa 4, com 33,3% de participação, e, por último, a empresa 1, com 18,5% de utilização das práticas validadas. A Tabela 2 apresenta o resumo.

TABELA 2
PERCENTUAL DE UTILIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE CONTROLADORIA POR EMPRESA

Na Tabela 2, observa-se a participação por empresa, relacionando somente as práticas utilizadas por, pelo menos, uma das empresas estudadas, o que resultou em um subconjunto de 16 práticas para análise. Quanto às decisões estratégicas utilizadas, a empresa que utiliza a maior quantidade é a 2, com 64,9% de decisões identificadas; em segundo lugar, a 3, com 54,4% de utilização, e, por último, a 1, com 38,6% de utilização.

Quando se comparam as decisões estratégicas das transportadoras com o conjunto de decisões estratégicas das organizações, representado pelas 57 decisões estratégicas listadas por Slavov (2013)Slavov, T. (2013). Gestão estratégica de custos: uma contribuição para a construção de sua estrutura conceitual. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil., constata-se que 75,4% das decisões estratégicas são utilizadas por, pelo menos, uma das empresas pesquisadas, o que corresponde a 43 decisões, enquanto 24,6% das decisões não foram identificadas em nenhuma das empresas pesquisadas.

A Tabela 3 apresenta a quantidade de decisões utilizadas pelas empresas de transportes.

TABELA 3
DECISÕES ESTRATÉGICAS – PARTICIPAÇÃO POR EMPRESA

A Tabela 3 apresenta o percentual de utilização das decisões estratégicas por empresa, relacionando somente as decisões utilizadas por, pelo menos, uma delas, o que resultou em um subconjunto de 43 decisões para análise. A decisão 30 (implementação de um plano estratégico) é a que mais apresenta relação com as práticas de controladoria, com um total de 12 práticas relacionadas. As decisões 9 (reestruturação financeira), 2 (terceirização), 43 (definição de política de preços de produtos) e 23 (investimentos em outras companhias) estão em segundo lugar, cada uma com nove práticas de controladoria relacionadas. Seguem, com oito práticas de controladoria relacionada, as decisões 34 (definição de política de investimentos) e 48 (formação de alianças com clientes e fornecedores). As práticas 20 (captação de capital de terceiros), 29 (implementação de um plano de negócios), 53 (compra ou aluguel de prédios, instalações, máquinas) e 14 (lançamento de novos produtos) estão relacionadas com sete práticas de controladoria. As decisões estratégicas restantes apresentam menor relação com as práticas de controladoria.

A prática de controladoria 21 (orçamento operacional) é a que apresenta o maior relacionamento com as decisões estratégicas utilizadas, pois está relacionada com 60,5% das 43 decisões estratégicas, sendo destacada em 26 decisões. Em segundo lugar em participação, com 51,2%, estão as práticas 2 (análise custo-volume-lucro) e 14 (custeio por absorção), com 22 ocorrências, seguidas pela prática 11 (custeiokaizen), em terceiro lugar, com 34,9% de participação e 15 ocorrências. A prática 1 (análise da cadeia de valor) aparece em quarto lugar com 32,6% de participação e 14 ocorrências. As práticas 6 (avaliação de desempenho) e 4 (análise do retorno do investimento - ROI) estão em quinto lugar, com 30,2% de participação e 13 ocorrências. As práticas que apresentaram a menor participação nas decisões estratégicas foram 8 (controle interno na proteção de ativos) e 10 (custeio direto), com 9,3% de participação e quatro ocorrências.

Quanto à importância das práticas de controladoria para a estratégia ou para o controle da operação da empresa, as quatro empresas pesquisadas consideraram as práticas 12 (custeio meta) e 15 (custeio variável) como decisivas ou muito importantes. As práticas 1 (análise da cadeia de valor), 2 (análise custo-volume-lucro), 3 (análise de externalização) e 6 (avaliação de desempenho) foram consideradas por três empresas (75%) como decisivas ou muito importantes, e, para uma das empresas, foram consideradas pouco importantes ou nulas. As práticas 8 (controle interno na proteção de ativos), 11 (custeio kaizen), 14 (custeio por absorção) e 22 (planejamento tributário) foram consideradas por duas empresas (50%) como decisivas ou muito importantes, enquanto, para as duas empresas restantes, foram consideradas pouco importantes ou nulas. E, por fim, as práticas 4 (análise do retorno do investimento - ROI), 10 (custeio direto), 20 (orçamento de capital), 21 (orçamento operacional), 23 (preço de transferência) e 24 (processo orçamentário) foram consideradas decisivas ou muito importantes para somente uma das empresas; para as três empresas restantes, foram consideradas pouco importantes ou nulas.

As variáveis envolvidas são binárias (existe ou não existe). Com esse tipo de variável, um método que pode ser útil para apurar a similaridade entre as quatro empresas pesquisadas, quanto à utilização das práticas de controladoria e das decisões estratégicas, é o coeficiente de Jaccard. Trata-se de um método estatístico desenvolvido por Paul Jaccard que compara a semelhança e a diversidade entre conjuntos de amostras finitas binárias. Esse coeficiente pode ser definido como o tamanho da intersecção dividido pelo tamanho da união dos conjuntos de uma amostra (Jaccard, 1901 como citado em Jardini, 2012Jardini, T. (2012). Ambiente data cleaning: suporte extensível, semântico e automático para análise e transformação de dados. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", São José do Rio Preto, SP, Brasil.).

O coeficiente é dado pela Equação 1.

em que J é o coeficiente de Jaccard; A, o conjunto A; B, o conjunto B; A B representa os elementos comuns a A e B; e A B representa os elementos da união de A e B (Fachini, 2006Fachini, W. (2006). Matemática para a escola de hoje. São Paulo: FTD.).

A Tabela 4 apresenta o coeficiente de similaridade de Jaccard para as empresas.

TABELA 4
COEFICIENTE DE SIMILARIDADE DE JACCARD

Observa-se que, para a similaridade de utilização das práticas, o coeficiente mais alto é o resultante da comparação "empresa 2 versus empresa 3", e o menor coeficiente foi o resultante da comparação "empresa 1 versusempresa 3". Quanto ao coeficiente de similaridade de Jaccard, para a utilização das decisões estratégicas, as comparações que apresentaram o coeficiente mais alto foram "empresa 2 versus empresa 4" e "empresa 3 versusempresa 4", ambas com o mesmo coeficiente. E a comparação que apresentou o coeficiente mais baixo foi "empresa 1 versus empresa 2".

A visualização gráfica do coeficiente de similaridade de Jaccard entre as empresas pode ser observada no Gráfico 1.

Gráfico 1
SIMILARIDADE DE DECISÕES ESTRATÉGICAS

No Gráfico 1, observa-se que a empresa 1, quando comparada com a empresa 3 ou 4, apresenta o mesmo coeficiente de similaridade. Isso também ocorre com as empresas 2 e 3 que, quando comparadas com a empresa 4, apresentam coeficientes de similaridade idênticos.

Quando se comparam os resultados da pesquisa com os estudos relacionados, verifica-se que, diferentemente dos resultados de Beuren e Artifon (2011)Beuren, I., & Artifon, R. (2011). Informações da controladoria de suporte à decisão logística. Revista Cesumar - Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, 16(1), 73-102., que não identificaram conformidade nas práticas de controladoria utilizadas pelas cooperativas de transporte rodoviário de cargas de Santa Catarina, foram identificadas 16 práticas de controladoria utilizadas pelas empresas de transportes do Rio Grande do Sul. Além disso, também se constatou que 37% das práticas são consideradas decisivas ou muito importantes para a estratégia da empresa, enquanto, no trabalho de Beuren e Artifon (2011)Beuren, I., & Artifon, R. (2011). Informações da controladoria de suporte à decisão logística. Revista Cesumar - Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, 16(1), 73-102., a controladoria aparece como área operacional e não há indícios de que tenha influência na estratégia das cooperativas. Quando se comparam as principais práticas de controladoria utilizadas pelas empresas brasileiras, conforme Leite (2013)Leite, E. (2013). Adoção de práticas de controladoria por empresas atuantes no Brasil: um estudo sob a ótica da teoria da contingência. Dissertação de mestrado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil., com os resultados da pesquisa, verifica-se que cinco dessas práticas são utilizadas pelas empresas estudadas. No trabalho de Manvailer (2013)Manvailer, R. (2013). Práticas de controladoria adotadas por instituições privadas de ensino superior (Ipes) estabelecidas na região Centro-Oeste do Brasil. Dissertação de mestrado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil., as três principais práticas de controladoria utilizadas pelas instituições de ensino superior estudadas também são utilizadas pelas empresas de transportes estudadas. Entre essas práticas, destaca-se a avaliação de desempenho, uma das mais utilizadas nos três estudos.

5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Esta pesquisa teve como objetivo geral verificar que práticas de controladoria podem suportar decisões estratégicas em empresas de transportes. O primeiro objetivo específico da pesquisa foi verificar que práticas de controladoria são utilizadas nas empresas de transportes. Para atingir esse objetivo, foram utilizadas como base as 27 práticas de controladoria validadas por especialistas, sugeridas por Manvailer (2013)Manvailer, R. (2013). Práticas de controladoria adotadas por instituições privadas de ensino superior (Ipes) estabelecidas na região Centro-Oeste do Brasil. Dissertação de mestrado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil.. Dessas práticas, constatou-se que 16 são utilizadas por, pelo menos, uma das empresas. No entanto, 11 práticas não são utilizadas por nenhuma das empresas.

O segundo objetivo específico foi verificar quais eram as principais decisões estratégicas das empresas de transportes. Para esse fim, foram utilizadas as 57 decisões estratégicas listadas por Slavov (2013)Slavov, T. (2013). Gestão estratégica de custos: uma contribuição para a construção de sua estrutura conceitual. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, SP, Brasil.. Dessa lista, 43 decisões estratégicas são utilizadas por, pelo menos, uma das empresas de transporte pesquisadas, enquanto 14 não são utilizadas por nenhuma das empresas.

O terceiro objetivo específico foi relacionar as práticas de controladoria utilizadas nas empresas de transporte às principais decisões estratégicas, analisando-as. Nessa análise, "implementação de um plano estratégico" foi a decisão que mais apresentou práticas de controladoria relacionadas. Em segundo lugar, aparecem as seguintes decisões: reestruturação financeira, terceirização, definição de política de preços de produtos e investimentos em outras companhias. E, em terceiro lugar, aparecem as decisões: definição de política de investimentos e formação de alianças com clientes e fornecedores. Na análise de quantas decisões estão relacionadas com cada prática, a prática de controladoria que mais se destacou foi "orçamento operacional", que está relacionada com 60,5% das 43 decisões. Em segundo lugar, com 51,2% de participação, estão as práticas: análise-custo-volume-lucro e custeio por absorção. Em terceiro lugar, com 34,9%, está a prática "custeio kaizen".

A partir da análise das entrevistas, constatou-se que as práticas de controladoria podem fornecer suporte para a formulação das decisões estratégicas da empresa, visto que 7,4% das práticas de controladoria são consideradas decisivas ou muito importantes para 100% das empresas, e 14,8% das práticas são consideradas decisivas ou muito importantes para 75% das empresas; outra parcela de 14,8% das práticas é considerada decisiva ou muito importante para 50% das empresas. No geral, constatou-se que 37% das práticas são consideradas decisivas ou muito importantes para a estratégia da empresa por, pelo menos, uma das empresas pesquisadas.

Utilizando o índice de similaridade de Jaccard, verificou-se que a similaridade entre as empresas pesquisadas é grande, visto que, na comparação das práticas de controladoria utilizadas entre as empresas, 83% das comparações apresentaram similaridade superior a 70%. O mesmo percentual também é identificado na comparação das decisões estratégicas.

Com esta pesquisa, é possível concluir que a controladoria pode fornecer suporte à formulação e à execução da estratégia da empresa. Práticas como custeio variável, orçamento operacional e análise custo-volume-lucro podem auxiliar na tomada de decisões estratégicas de curto prazo. No entanto, análise de externalização, planejamento tributário e análise do retorno do investimento são práticas que auxiliam os gestores na tomada de decisões estratégicas de longo prazo. Além disso, também se observou que práticas como o custeio kaizen podem auxiliar na tomada de decisões estratégicas, tanto no curto quanto no longo prazo.

O pequeno número de empresas pesquisadas, neste estudo de caso múltiplo, pode ser entendido como uma das limitações da pesquisa, visto que é insuficiente para representar o segmento de transportes de cargas. Em relação a esse tema, ainda existem vários aspectos a serem explorados. Para futuras pesquisas, recomenda-se que sejam realizados estudos de caso múltiplos com um número maior de empresas transportadoras de grande porte. Além disso, sugere-se analisar os resultados, segregando aquelas que possuem área de controladoria formalizada das que não possuem a área de controladoria formalizada. Também se recomenda replicar o estudo em outras indústrias.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Fev 2016

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2015
  • Aceito
    07 Ago 2015
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