Acessibilidade / Reportar erro

APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NA ABORDAGEM DOS ESTUDOS BASEADOS EM PRÁTICA: REVISÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA

RESUMO

Objetivo:

Revisar a produção científica sobre aprendizagem organizacio nal, que utilizou a abordagem dos estudos baseados em prática, no tocante à evolução da produção, ao perfil de autoria, às características metodológicas e às temáticas correlatas.

Originalidade/valor:

A aprendizagem organizacional apresenta lacunas quanto a contribuições de outras áreas como sociologia. Os estudos baseados em práticas (EBP) têm o viés sociológico e o espaço social como lócus para os processos de aprendizagem e a geração de conhecimento. Não foram identificados estudos que revisem a produção cien tífica nacional em aprendizagem organizacional no contexto dos EBP, reforçando as contribuições potenciais deste trabalho.

Design/metodologia/abordagem:

A pesquisa abrangeu os artigos dis poníveis na base de dados da Spell e no portal de periódicos da Capes, publicados até 2017, no total de 42. Esses artigos foram revisados siste maticamente e numa abordagem qualitativa. Também foram utilizados os softwares Ucinet6 e NetDraw na análise.

Resultados:

As publicações são recentes e concentram-se em periódicos de impacto nacional e internacional. A autoria está sob responsabilidade de pequenos grupos, ficando em evidência a parceria entre autores. São significativas a quantidade de artigos teóricos e a relevância de suas con tribuições. Nos estudos empíricos, predominam o estudo de caso e a entrevista. Quanto às temáticas, são discutidos temas relevantes à proposta teórico-metodológica dos EBP. Concluiu-se que os EBP, por tomarem as práticas inseridas no contexto das organizações como lócus para o estudo da aprendizagem, revelam potencial para preencher lacunas da perspectiva tradicional da aprendizagem organizacional.

PALAVRAS-CHAVE
Aprendizagem organizacional; Perspectiva sociológica; Estudos baseados em prática; Revisão sistemática; Epistemologia

ABSTRACT

Purpose:

To review the scientific production on organizational learning, which made use of the practice-based studies approach, concerning the production evolution, the author's profile, methodological characteristics, and correlated themes.

Originality/value:

Organizational learning presents gaps regarding contributions from other areas, such as Sociology. Practice Based Studies (PBS) have the sociological bias and the social space as a locus of learning processes and knowledge generation. No studies have been identified that review the national scientific production on organizational learning in the PBS context, reinforcing the potential contributions of this work.

Design/methodology/approach:

The research covered the papers available in Spell's database and in Capes Journals Portal, published until 2017, 42 in total. Those were systematically reviewed in a qualitative approach. Ucinet6 and NetDraw software were also used in the analysis.

Findings:

The publications are recent and focus on journals of national and international impact. The authorship is under responsibility of small groups, evidencing a partnership among the authors. The number of theoretical papers and the relevance of their contributions are significant. As for the empirical studies, there is a predominance of case study and interview. As to the themes, topics relevant to the PBS theoretical-methodological proposal are discussed. It was concluded that PBS, by taking the practices inserted in the context of organizations as a locus of learning study, reveal a potential to fill gaps in the traditional organizational learning perspective.

KEYWORDS
Organizational learning; Sociological perspective; Practice-based studies; Systematic review; Epistemology

1. INTODUÇÃO

A discussão sobre aprendizagem nas organizações é recorrente no campo dos estudos organizacionais. O tema já foi explorado por meio de diversas abordagens ontológicas e epistemológicas que se refletem em um campo multiparadigmático e complexo. Apesar da diversidade de perspectivas, o tema se desenvolveu pautado na visão essencialmente utilitarista e na racionalidade instrumental, cujo foco da aprendizagem está voltado ao estímulo à mudança, à inovação e à utilidade estratégica, ou seja, à busca por melhores desempenhos (Antonello & Godoy, 2010Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2010). A encruzilhada da aprendizagem organizacional: Uma visão paradigmática. Revista de Administração Contemporânea, 14(2), 310-332. doi:10.1590/S1415-65552010000200008
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201000...
; Bertolin, Zwick, & Brito, 2013Bertolin, R. V., Zwick, E., & Brito, M. J. (2013). Aprendizagem organiza cional socioprática no serviço público: Um estudo de caso interpretativo. Revista Administração Pública, 47(2), 493-513.; Bispo & Godoy, 2012Bispo, M. De S., & Godoy, A. S. (2012). A etnometodologia enquanto caminho teórico-metodológico para a investigação da aprendizagem nas organizações. Revista de Administração Contemporânea, 16(5), 684-704.; Easterby-Smith & Araujo, 2001Easterby-Smth, M., & Araujo, L. (2001). Aprendizagem organizacional: Oportunidades e debates atuais. In M. Easterby-Smth, J. Burgoyne, & L. Araujo (Orgs.), Aprendizagem organizacional e organização de aprendizagem: Desenvolvimento na teoria e na prática. São Paulo, SP: Atlas.).

Desse modo, o tema apresenta lacunas no tocante a contribuições de outras áreas como sociologia, antropologia, história e ciência política (Antonello & Godoy, 2009Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2009). Uma agenda brasileira para os estudos em aprendizagem organizacional. Revista de Administração de Empresas, 49(3), 266-281. doi:10.1590/S0034-75902009000300003
https://doi.org/doi:10.1590/S0034-759020...
; Bispo, 2013Bispo, M. S. (2013). Aprendizagem organizacional baseada no conceito de prática: Contribuições de Silvia Gherardi. Revista de Administração Mackenzie, 14(6), 132-161. doi:10.1590/S1678-69712013000600007
https://doi.org/10.1590/S1678-6971201300...
). Após revisarem as principais produções brasileiras sobre o tema, Antonello e Godoy (2009, p. 276)Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2009). Uma agenda brasileira para os estudos em aprendizagem organizacional. Revista de Administração de Empresas, 49(3), 266-281. doi:10.1590/S0034-75902009000300003
https://doi.org/doi:10.1590/S0034-759020...
evidenciaram a necessidade de realização de estudos com "ampla base de disciplinas de conhecimento, visando à transdisciplinaridade", pelas contribuições que diferentes áreas podem fornecer para compreender a natureza proces sual dos fenômenos sociais como a aprendizagem nas organizações.

É nesse ponto que se visualiza o potencial dos estudos baseados em práticas (EBP) de contribuir para o avanço do conhecimento sobre a aprendizagem nas organizações. Com o viés sociológico, os EBP têm o espaço social como lócus para os processos de aprendizagem e a geração de conhecimento, e utilizam as práticas para compreender os fenômenos sociais e organizacionais. Disso decorre que o conhecimento é uma construção co letiva, produzida, reproduzida e modificada por meio de práticas sociais (Gherardi, 2000Gherardi, S. (2000). Practice-based theorizing on learning and knowing in organizations: An introduction. Organization, 7(2), 211-223. doi:10.1177/ 135050840072001
https://doi.org/10.1177/ 135050840072001...
, 2001Gherardi, S. (2001). From organizational learning to practice based knowing. Human Relations, 54(1), 131-139. doi:10.1177/0018726701541016
https://doi.org/10.1177/0018726701541016...
, 2012Gherardi, S. (2012). How to conduct a practice-based study: Problems and methods. Edward. Cheltenham, UK: Elgar. doi:10.4337/9780857933386
https://doi.org/10.4337/9780857933386...
; Gherardi & Nicolini, 2001Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge. Oxford, UK: Oxford University Press.; Gherardi & Strati, 2014Gherardi, S., & Strati, A. (2014). Administração e aprendizagem na prática. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier.; Reckwitz, 2002Reckwitz, A. (2002). Toward a theory of social practices: A development in culturalist theorizing. European Journal of Social Theory, 5(2), 243-263. doi:10.1177/13684310222225432
https://doi.org/10.1177/1368431022222543...
). Os EBP compõem uma abordagem que retorna aos estudos sociais no movimento practice turn, movimento iniciado, na área de Administração, em 1998, por ocasião de um simpósio da Academy of Management, proposto por Davide Nicolini e Dvora Yanow (Bispo, 2013Bispo, M. S. (2013). Aprendizagem organizacional baseada no conceito de prática: Contribuições de Silvia Gherardi. Revista de Administração Mackenzie, 14(6), 132-161. doi:10.1590/S1678-69712013000600007
https://doi.org/10.1590/S1678-6971201300...
). É uma abordagem recente, especialmente no contexto brasileiro.

Registra-se que seis revisões da produção brasileira sobre aprendizagem organizacional foram disponibilizadas na última década. Antonello e Godoy (2009)Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2009). Uma agenda brasileira para os estudos em aprendizagem organizacional. Revista de Administração de Empresas, 49(3), 266-281. doi:10.1590/S0034-75902009000300003
https://doi.org/doi:10.1590/S0034-759020...
exploraram os discursos formadores do campo de conhecimento da aprendizagem organizacional que utilizou a metodologia denominada metatriangulação do período 2001-2005. Macedo et al. (2011) realizaram estudo bibliométrico sobre aprendizagem gerencial do período de 1996 a 2008. Bispo e Mello (2012)Bispo, M. S., & Mello, A. S. (2012). A miopia da aprendizagem coletiva nas organizações: Existe uma lente para elas? Revista Gestão e Planejamento, 12(3), 728-745. realizaram um levantamento da produção sobre aprendizagem nos níveis de grupo e organizacional, referente ao período de 2000 a 2011. Faqueti, Alves e Steil (2016)Faqueti, M. F., Alves, J. B. M., & Steil, A. V. (2016). Aprendizagem organizacional em bibliotecas acadêmicas: Uma revisão sistemática. Perspectivas em Ciência da Informação, 21(4), 156-179. doi:10.1590/1981-5344/2699
https://doi.org/10.1590/1981-5344/2699...
centraram a revisão na relação entre a aprendizagem organizacional e o contexto de bibliotecas acadêmicas de 2005 a 2015. Oliva e Shinyashiki (2016)Oliva, C. C., & Shinyashiki, G. T. (2016). Estudo sobre validação de escalas de aprendizagem organizacional no Brasil. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 12(3), 303-322. revisaram a produção que trata especificamente da validação de escalas de aprendizagem organizacional do período de 1990 a 2015. Por fim, Carrasco e Silva (2017)Carrasco, T. S., & Silva, F. M. (2017). Aprendizagem informal no contexto de trabalho: Um meta-estudo da produção científica brasileira. Revista de Administração Mackenzie, 18(1), 137-163. doi:10.1590/1678-69712017/administracao.v18n4p137-163
https://doi.org/10.1590/1678-69712017/ad...
analisaram a produção sobre aprendizagem informal no contexto de trabalho até 2016.

Acerca dos EBP, uma análise geral da produção brasileira foi feita por Bispo, Soares e Cavalcante (2014)Bispo, M. S., Soares, L. C., & Cavalcante, E. D. C. (2014). Panorama dos estudos sobre "prática" no Brasil: Uma análise da produção. Anais do Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Rio de Janeiro, RJ, Brazil., sem, no entanto, enfocar a aprendizagem organizacional. Desse modo, o objetivo deste trabalho consiste em analisar a produção científica nacional sobre aprendizagem organizacional que utilizou a abordagem dos EBP. Para tanto, foram delineados os seguintes objetivos específicos: 1. apresentar a evolução da produção científica sobre o tema; 2. identificar o perfil de autoria e cooperações entre autores; 3. descrever as características metodológicas das produções; e 4. investigar as temáticas correlatas.

A pesquisa abrangeu os artigos disponíveis na base de dados da Scientific Periodicals Electronic Library (Spell) e no portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) publicados até o ano de 2017. Foi feita revisão sistemática dos textos a fim de analisar criteriosamente as características da produção científica e, com isso, contextualizar a pesquisa sobre aprendizagem na abordagem dos EBP, apontando como está se desenvolvendo no contexto brasileiro.

Como não foram identificados estudos que revisem a produção científica nacional em aprendizagem organizacional no contexto dos EBP, reforçam-se as contribuições potenciais deste trabalho ao explorar e apresentar as características desse campo de convergência entre as duas áreas mediante análise das publicações.

2. APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E SUAS PERSPECTIVAS

A aprendizagem organizacional tornou-se amplamente reconhecida na década de 1990. Caracteriza-se por um campo multiparadigmático, dada a diversidade de abordagens teóricas e metodológicas que a circunda (Antonello & Godoy, 2010Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2010). A encruzilhada da aprendizagem organizacional: Uma visão paradigmática. Revista de Administração Contemporânea, 14(2), 310-332. doi:10.1590/S1415-65552010000200008
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201000...
; Bispo & Godoy, 2012Bispo, M. De S., & Godoy, A. S. (2012). A etnometodologia enquanto caminho teórico-metodológico para a investigação da aprendizagem nas organizações. Revista de Administração Contemporânea, 16(5), 684-704.; Easterby-Smith & Araujo, 2001Easterby-Smth, M., & Araujo, L. (2001). Aprendizagem organizacional: Oportunidades e debates atuais. In M. Easterby-Smth, J. Burgoyne, & L. Araujo (Orgs.), Aprendizagem organizacional e organização de aprendizagem: Desenvolvimento na teoria e na prática. São Paulo, SP: Atlas.). Para exemplificar tal diversidade, recorre-se ao estudo seminal de Easterby-Smith (1997)Easterby-Smith, M. (1997). Disciplines of organizational learning: Contributions and critiques. Human Relations, 50, 1085-1113. doi:10.1023/A:1016957817718
https://doi.org/10.1023/A:1016957817718...
, que consiste num dos primeiros esforços de classificar o tema. O autor reúne as contribuições em seis perspectivas acadêmicas, com base nos pressupostos ontológicos presentes em cada uma delas: perspectiva da psicologia, perspectiva da ciência gerencial, perspectiva da teoria organizacional, perspectiva da estratégia, perspectiva da gestão da produção e perspectiva da antropologia cultural. Uma breve descrição de cada perspectiva, com algumas adaptações feitas por Bispo e Godoy (2012)Bispo, M. De S., & Godoy, A. S. (2012). A etnometodologia enquanto caminho teórico-metodológico para a investigação da aprendizagem nas organizações. Revista de Administração Contemporânea, 16(5), 684-704., é apresentada na Figura 2.1.

Figura 2.1
PERSPECTIVAS DA APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL

Em estudo posterior, Easterby-Smith e Araujo (2001)Easterby-Smth, M., & Araujo, L. (2001). Aprendizagem organizacional: Oportunidades e debates atuais. In M. Easterby-Smth, J. Burgoyne, & L. Araujo (Orgs.), Aprendizagem organizacional e organização de aprendizagem: Desenvolvimento na teoria e na prática. São Paulo, SP: Atlas. explicam que, em síntese, os estudos da aprendizagem organizacional seguiram dois caminhos: aprendizagem como um processo técnico ou como um processo social. Na visão técnica, a aprendizagem organizacional concentra-se no processamento e na interpretação de informações internas e externas a fim de produzir mudanças. Para os autores, Huber (1991, p. 89)Huber, G. (1991). Organizational learning: The contributing processes and the literature. Organizational Science, 2, 88-115. doi:10.1287/orsc.2.1.88
https://doi.org/10.1287/orsc.2.1.88...
elucida essa perspectiva: "Uma entidade aprende se, por meio do processamento de informações, o âmbito de seus comportamentos potenciais se modifica". A expressão processo técnico é modificada para aprendizagem como resultado/produto na revisão seguinte de Easterby-Smith e Lyles (2005)Easterby-Smith, M., & Lyles, M. (2005). Handbook of organizational learning and knowledge management. Malden, MA: Blackwell., sendo essa nomenclatura seguida por outros autores a partir de então.

O caminho técnico é dominante e observável nas perspectivas constantes na Figura 2.1, principalmente nas perspectivas das ciências administrativas, estratégica e da produção. Nesse caminho, desenvolveram-se teorias comportamentais e cognitivas que visam à eficiência organizacional, à produtividade, ao desenvolvimento de estratégias competitivas e à mudança de comportamento para adaptação ao ambiente. Em outras palavras, predomina o pensamento utilitarista, próprio do paradigma funcionalista.

A revisão da produção brasileira sobre a aprendizagem organizacional conduzida por Antonello e Godoy (2009)Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2009). Uma agenda brasileira para os estudos em aprendizagem organizacional. Revista de Administração de Empresas, 49(3), 266-281. doi:10.1590/S0034-75902009000300003
https://doi.org/doi:10.1590/S0034-759020...
confirma que a produção é sustentada predominantemente por modelos advindos da psicologia e da ciência da administração, com forte influência da vertente econômica. Segundo as autoras, os modelos teóricos baseiam-se na aprendizagem experiencial e de ciclos, curvas de aprendizagem e modelos mentais, os quais priorizam enfoques mais comportamentais voltados para melhoria no desempenho. Assim, "a aprendizagem é tratada como um fenômeno técnico e cognitivo, fonte de vantagem competitiva e como resultado" (Antonello & Godoy, 2009Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2009). Uma agenda brasileira para os estudos em aprendizagem organizacional. Revista de Administração de Empresas, 49(3), 266-281. doi:10.1590/S0034-75902009000300003
https://doi.org/doi:10.1590/S0034-759020...
, p. 276).

O caminho que concebe a aprendizagem organizacional como um processo social concentra-se no significado que as pessoas atribuem às suas experiências de trabalho. "A aprendizagem é algo que emerge de interações sociais, normalmente no ambiente natural de trabalho" (Easterby-Smith & Araujo, 2001Easterby-Smth, M., & Araujo, L. (2001). Aprendizagem organizacional: Oportunidades e debates atuais. In M. Easterby-Smth, J. Burgoyne, & L. Araujo (Orgs.), Aprendizagem organizacional e organização de aprendizagem: Desenvolvimento na teoria e na prática. São Paulo, SP: Atlas., p. 19), por isso envolve as práticas estabelecidas e a socialização em comunidade de práticas. Nessa perspectiva, encontra-se a noção da aprendizagem como construção social, como processo político e como artefato cultural.

A perspectiva social é tratada como alternativa à dominante e considerada uma tendência na evolução do tema. Bertolin et al. (2013, p. 493)Bertolin, R. V., Zwick, E., & Brito, M. J. (2013). Aprendizagem organiza cional socioprática no serviço público: Um estudo de caso interpretativo. Revista Administração Pública, 47(2), 493-513. afirmam que a perspectiva sociológica se destaca como "contraponto da visão tradicional cognitivista por considerar o processo de aprendizagem como fenômeno incorporado ao cotidiano, sendo, portanto, fruto das interações sociais".

Como o recorte aqui proposto é o da sociologia, doravante será dada ênfase a essa perspectiva.

2.1 Aprendizagem organizacional na perspectiva sociológica e estudos baseados em prática

A perspectiva sociológica da aprendizagem organizacional é discutida por Gherardi e Nicolini (2001)Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge. Oxford, UK: Oxford University Press., por meio do estabelecimento de narrativas, com base em quatro tradições da sociologia identificadas por Collins (1994)Collins, R. (1994). Four sociological traditions. Oxford, UK: Oxford University Press.. Às quatro tradições Gherardi e Nicolini (2001)Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge. Oxford, UK: Oxford University Press. acrescentam o pós-modernismo, justificando que, apesar de não ser considerado uma tradição, tem embasado a reflexão sobre o conhecimento e a aprendizagem organizacional como prática discursiva. As narrativas são apresentadas na Figura 2.1.1.

Figura 2.1.1
NARRATIVAS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL (AO)

Essas narrativas evidenciam que mesmo a perspectiva sociológica compreende a aprendizagem organizacional de forma diversa. A tradição durkheimiana apresenta-se mais funcionalista, enquanto a racional/utilitária mais estruturalista. A tradição de conflitos tem uma postura mais crítica, e as tradições microinteracionista e pós-moderna mostram-se mais construtivistas e interpretativistas (Bispo, 2013Bispo, M. S. (2013). Aprendizagem organizacional baseada no conceito de prática: Contribuições de Silvia Gherardi. Revista de Administração Mackenzie, 14(6), 132-161. doi:10.1590/S1678-69712013000600007
https://doi.org/10.1590/S1678-6971201300...
).

No entanto, o aspecto central da perspectiva sociológica, independentemente do posicionamento epistemológico, é que a aprendizagem ocorre nas relações sociais dos indivíduos, enquanto participam de uma sociedade, ou seja, na interação (Gherardi & Nicolini, 2001Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge. Oxford, UK: Oxford University Press.). Diferentemente de outras perspectivas, a sociologia não parte do pressuposto de que a aprendizagem acontece na mente das pessoas, mas "sugere que a aprendizagem está integrada no cotidiano da vida dos indivíduos. Sugere também que grande parte da aprendizagem seja oriunda da fonte informal das relações sociais, o que introduz, posteriormente, o conceito de prática" (Antonello & Godoy, 2010Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2010). A encruzilhada da aprendizagem organizacional: Uma visão paradigmática. Revista de Administração Contemporânea, 14(2), 310-332. doi:10.1590/S1415-65552010000200008
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201000...
, p. 315). Desse modo, a aprendizagem extrapola o processamento de informações e alteração da estrutura cognitiva para a ideia de processo de participação e integração (Bispo, 2013Bispo, M. S. (2013). Aprendizagem organizacional baseada no conceito de prática: Contribuições de Silvia Gherardi. Revista de Administração Mackenzie, 14(6), 132-161. doi:10.1590/S1678-69712013000600007
https://doi.org/10.1590/S1678-6971201300...
).

Por isso, eleger uma perspectiva sociológica da aprendizagem implica explicar a natureza dos engajamentos sociais que promovem o contexto para a aprendizagem. O processo de aprendizagem está relacionado ao conhecimento social (Gherardi & Nicolini, 2001Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge. Oxford, UK: Oxford University Press.). Um contexto que resgata a história, a linguagem e a materialidade como mediadores. Por isso, é uma perspectiva que direciona o olhar para o lócus das práticas sociais, onde a produção, reprodução e transformação do conhecimento/saber acontecem.

O termo "prática" é amplamente utilizado no meio acadêmico, por várias áreas do conhecimento e referindo-se a vários fenômenos, por isso é necessário esclarecer como ele é empregado nesta pesquisa. Segundo Davel (2014)Davel, E. (2014). Primeiro momento: Sobre a prática em contexto brasileiro. In S. Gherardi, & A. Strati (Orgs.), Administração e aprendizagem na prática. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier., a produção brasileira de aprendizagem organizacional, na perspectiva sociológica, apoia-se na epistemologia da prática de Gherardi e seus colaboradores. Essa autora adota a prática como unidade de análise e construção epistemológica do que ela chama de EBP ou aprendizagem baseada em prática. Trata-se, portanto, de "um sistema de atividades em que o saber não está separado do fazer e das situações e poderia ser chamado de conhecimento coproduzido por meio da atividade" (Gherardi & Nicolini, 2001Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge. Oxford, UK: Oxford University Press., p. 49).

Gherardi (2006, p. 34)Gherardi, S. (2006). Organizational knowledge: The texture of workplace learning. Prometheus, 24(2), 223-232 define uma prática "como um modo relativamente estável no tempo e socialmente reconhecido de ordenar elementos heterogêneos em um conjunto coerente". De maneira complementar, a autora apresenta quatro características para o entendimento do termo: 1. como um grupo de atividades adquire significado e torna-se reconhecido como unidade; sendo o foco o conjunto que as atividades assumem em um contexto de ação situada; 2. o tempo em que essa ação situada se mantém; 3. a condição de ser reconhecida socialmente; e 4. um modo de organização da sociedade.

Neste estudo, assume-se a proposição de Gherardi (2000Gherardi, S. (2000). Practice-based theorizing on learning and knowing in organizations: An introduction. Organization, 7(2), 211-223. doi:10.1177/ 135050840072001
https://doi.org/10.1177/ 135050840072001...
, 2001Gherardi, S. (2001). From organizational learning to practice based knowing. Human Relations, 54(1), 131-139. doi:10.1177/0018726701541016
https://doi.org/10.1177/0018726701541016...
, 2006Gherardi, S. (2006). Organizational knowledge: The texture of workplace learning. Prometheus, 24(2), 223-232, 2012)Gherardi, S. (2012). How to conduct a practice-based study: Problems and methods. Edward. Cheltenham, UK: Elgar. doi:10.4337/9780857933386
https://doi.org/10.4337/9780857933386...
da aprendizagem organizacional baseada em prática. Assim, abordar a aprendizagem baseada em prática é buscar o processo de construção do conhecimento gerado no meio social, na sua realização cotidiana, nas práticas sociais. E, como processo, é preciso perceber a dinamicidade dessa construção, as relações e mediações que emergem, a negociação para concretização das formas de aprender e o conhecimento que reproduz uma realidade social ou a transforma. É com essa perspectiva que as práticas inseridas no contexto das organizações devem ser compreendidas como lócus para o estudo da aprendizagem.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa possui natureza predominantemente qualitativa e descritiva (Gray, 2012Gray, D. E. (2012). Pesquisa no mundo real (2a ed.). Porto Alegre, RS: Penso.). No tocante aos procedimentos, a pesquisa é documental, realizada por meio da revisão sistemática da produção científica sobre o tema proposto. Segundo Noronha e Ferreira (2000, p. 191)Noronha, D., & Ferreira, S. (2000). Revisões da literatura. In B. S. Campello, B. V. Cendón, & J. M. Kremer (Eds.), Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte, MG: Editora da UFMG., os trabalhos de revisão analisam a

[...] produção bibliográfica em determinada área temática, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma visão geral ou um relatório do estado-da-arte sobre um tópico específico, evidenciando novas ideias, métodos, subtemas que têm recebido maior ou menor ênfase na literatura especializada.

Esses aspectos também são mencionados por De-La-Torre-Ugarte-Guanilo, Takahashi e Bertolozzi (2011, p. 1261)De-La-Torre-Ugarte-Guanilo, M. C., Takahashi, R. F., & Bertolozzi, M. R. (2011). Revisão sistemática: Noções gerais. Revista da Escola de Enfermagem USP, 45(5), 1260-1266. doi:10.1590/S0080-62342011000500033
https://doi.org/10.1590/S0080-6234201100...
ao afirmarem que se trata de "uma metodologia rigorosa proposta para: identificar os estudos sobre um tema em questão, aplicando métodos explícitos e sistematizados de busca; avaliar a qualidade e validade desses estudos, assim como sua aplicabilidade". Assim, a revisão sistemática oferece benefícios ao campo de estudo e, em especial, propicia a compreensão sobre o percurso das pesquisas em determinadas áreas.

A coleta de dados foi realizada em bases de dados de consulta pública: no repositório da Spell, por ser um sistema de indexação, pesquisa e disponibilização de acesso livre aos trabalhos completos dos principais periódicos nacionais na área de Administração Pública e de Empresas, Contabilidade e Turismo. Também se recorreu ao portal de periódicos da Capes, por ser mais abrangente, contando com amplo acervo de títulos e bases referenciais.

Para fazer a busca, tinha-se em mente obter todas as publicações a respeito da aprendizagem organizacional que utilizou a abordagem dos EBP, independentemente do ano de publicação. Para a definição das estratégias de busca, vários testes foram realizados visando ao resultado mais abrangente possível. Vários termos, considerados sinônimos pela literatura, foram testados. Por fim, optou-se pela busca avançada, utilizando somente o termo "aprendizagem" no título do documento e os termos "aprendizagem organizacional" e "prática" no resumo do documento (base Spell) e em qualquer parte do texto (portal da Capes).

Nesse formato, obtiveram-se 31 artigos como resultado na Spell e 346 artigos revisados por pares como resultado no portal da Capes, totalizando 377. Os resultados de ambas as bases traziam o título, autores, periódico em que foi publicado, ano de publicação, resumo, palavras-chave e o link para obter o texto completo. Com essas informações e, quando necessário, com o texto completo, foi feita a primeira análise, identificando se cada um dos artigos atendia à proposta deste estudo de discutir a aprendizagem organizacional na abordagem dos EBP, descartando os que não contemplavam essa abordagem do tema. Para auxiliar no processo, eram feitos dois questionamentos:

  • O estudo versa sobre aprendizagem organizacional?

  • A prática é discutida no contexto dos estudos baseados em prática?

Para ser mantido, o artigo deveria receber resposta afirmativa nas duas questões. Nessa fase, também foram descartados de uma das bases os textos repetidos. Após essa análise, permaneceram na pesquisa 42 artigos.

A exclusão ocorreu porque o portal de periódicos da Capes abrange pe riódicos de todas as áreas do conhecimento, e, como o termo aprendizagem (único critério de busca no título do documento) é utilizado em várias áreas do conhecimento, muitos artigos da área da educação retornaram nos 346 resultados. Além disso, o termo "prática", utilizado como filtro, também é usado em muitas áreas do conhecimento e representando diferentes fenômenos, de maneira que o emprego do termo muitas vezes não correspondia à abordagem dos EBP proposta aqui. A Figura 3.1 apresenta uma síntese das etapas de coleta de dados.

Figura 3.1
ETAPAS DA COLETA DE DADOS

Na sequência, passou-se para a segunda análise. Nessa etapa, os textos completos dos 42 artigos foram (re)analisados para a coleta das informações com base nos objetivos específicos: título, periódico, ano de publicação, autoria, afiliação e titulação dos autores, objetivo do estudo, palavras-chave, temáticas correlatas e características metodológicas. Em alguns casos, também se recorreu ao currículo Lattes dos autores para obter informações complementares, como afiliação e titulação. Também se recorreu à Plataforma Sucupira da Capes para mais informações dos periódicos. Uma planilha no Microsoft Excel foi criada para sistematização dessas informações que, na seção seguinte, são apresentadas em formato de quadros, tabelas ou gráficos.

Em se tratando da análise dos dados, com a revisão sistemática dos artigos, foi possível identificar a quantidade de artigos publicados por ano e os periódicos que publicaram, elucidando a evolução da produção. Quanto ao perfil de autoria, verificaram-se os seguintes itens: quantidade de autores por texto, afiliação e titulação deles, autores que mais publicaram sobre o tema e as cooperações entre eles. No caso das cooperações entre autores, utilizaram-se os softwares Ucinet6 e NetDraw.

Com relação às características metodológicas, verificou-se a tipologia quanto à natureza, à abordagem das pesquisas e aos procedimentos metodológicos, e verificaram-se também as técnicas de coleta e análise dos dados. Por fim, analisaram-se as temáticas correlatas discutidas nos artigos.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Apesar de o tema da aprendizagem organizacional ser amplamente explorado, as investigações que utilizam a abordagem dos EBP, uma narrativa pós-moderna, são recentes. A primeira publicação brasileira localizada data de 2005. A Figura 4.1 apresenta a quantidade de produções por ano, evidenciando a evolução das pesquisas sobre o tema.

Figura 4.1
EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE ARTIGOS AO LONGO DOS ANOS

A quantidade anual não pode ser considerada volumosa, mas um aspecto relevante é que a partir de 2008, em todos os anos, ocorreram publicações, e, a partir de 2011, o número de publicações manteve-se acima de quatro, evidenciando uma abordagem nova do tema e em desenvolvimento no contexto brasileiro. Entretanto, observa-se uma tendência à queda das produções após 2014. O fato de poucas pesquisas adotarem alguma das perspectivas sociológicas da aprendizagem já foi apontado em outros estudos, como o de Bispo e Mello (2012)Bispo, M. S., & Mello, A. S. (2012). A miopia da aprendizagem coletiva nas organizações: Existe uma lente para elas? Revista Gestão e Planejamento, 12(3), 728-745..

Para verificar a evolução da produção, também se considerou relevante conhecer os periódicos em que os 42 artigos sobre o tema foram publicados. A Figura 4.2 apresenta essas informações. A informação da classificação corresponde à área de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo, quadriênio 2013-2016, disponível na Plataforma Sucupira.

Figura 4.2
PERIÓDICOS EM QUE OS ARTIGOS FORAM PUBLICADOS

Os artigos foram publicados em 26 diferentes periódicos brasileiros, com destaque para RAM, RAP, RAC e Cadernos EBAPE.BR, que publicaram maior quantidade. De modo geral, os artigos foram publicados em periódicos brasileiros de referência, cuja qualidade e impacto nacional e internacional são conferidos pela classificação Qualis Periódicos da Capes, visto que mais de 80% da produção está em periódicos A2 (13 artigos), B1 (13 artigos) e B2 (nove artigos). Apenas um artigo foi publicado em periódico não classificado na área de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo, mas é classificado em outras áreas do conhecimento, a exemplo da Interdisciplinar com extrato B2.

4.1 Perfil de autoria

A autoria dos 42 textos está sob a responsabilidade de 69 diferentes autores. A grande maioria da produção é realizada em parceria entre autores, pois apenas seis artigos são de autoria individual. Predomina a parceria entre dois autores, com quase 60% da produção. Quanto à titulação dos autores, a grande maioria possuía na época da publicação doutorado.

Dos 69 autores, 13 participam de mais de uma publicação; e os demais 56, de uma única publicação. Entre os autores, três se destacam pela quantidade de publicações, o que nos motivou a conhecer o histórico deles a partir do currículo Lattes. Claudia Simone Antonello (oito produções) é doutora em Administração, professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista produtividade do Conselho Nacional de Desenvol vimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tem histórico de publicação nacional e internacional sobre aprendizagem nas organizações, e, entre seus temas de pesquisa, estão as práticas e a aprendizagem nas organizações (CNPq, 2018). Arilda Schmidt Godoy (cinco produções) é doutora em Educação e foi professora do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) até 2014. Nos últimos anos, sua produção acadêmica esteve focada nas áreas de educação e administração (CNPq, 2018). Marcelo de Souza Bispo (cinco produções) é doutor em Administração e professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Entre seus temas de interesse, estão EBP e aprendizagem e conhecimento (CNPq, 2018). Os três professores mantêm projetos de pesquisa sobre aprendizagem organizacional e teorias da prática (CNPq, 2018).

Uma análise que se mostra relevante refere-se às cooperações estabelecidas na realização das pesquisas, pois demonstra o esforço na disseminação da abordagem. Na Figura 4.1.1, constam os 69 autores, e o tamanho do círculo demonstra a centralidade que o autor ocupa na rede, enquanto a espessura da seta demonstra a força da relação.

Figura 4.1.1
REDES DE COOPERAÇÃO ENTRE AUTORES A PARTIR DO UCINET6 E NETDRAW

Podem-se identificar a formação de algumas redes e o papel articulador que alguns autores desempenham na formação delas. Tem-se uma rede maior formada por 21 autores e articulada pelos três pesquisadores com maior quantidade de publicações (Antonello, Godoy e Bispo). Nessa rede, destaca-se Godoy (como professora da UPM) que se encontra unindo os outros dois grupos, portanto desempenhando papel central. O segundo maior grupo é formado por 11 autores articulados especialmente por Ipiranga (Universidade Estadual do Ceará - Uece). Quanto à força das relações, a grande maioria é relativa a uma publicação. A relação mais forte ocorre entre Antonello e Flach (três produções), seguida de Antonello e Godoy (duas produções), Brito e Bertolin (duas produções), Souza-Silva e Almeida (duas produções) e Américo e Takahashi (duas produções).

Também relacionada à autoria dos textos está a afiliação dos autores. A esse respeito, os 42 textos foram desenvolvidos no âmbito de 27 instituições de ensino superior (IES), havendo concentração em torno de quatro: UFRGS, UFPB, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e UPM, que juntas somam quase 50% da produção. Essa concentração pode ser explicada pelo fato de os autores que possuem mais publicações terem vínculo com essas IES. Outra situação é que das 27 IES 16 possuem um único texto publicado. As 27 IES abrangem, geograficamente, as cinco regiões do país, o que é relevante para a disseminação e o fortalecimento da temática em âmbito nacional.

4.2 Características metodológicas

Em relação à natureza da pesquisa, dos 42 artigos 15 são teóricos e 27 teórico-empíricos. Quanto à abordagem da pesquisa, 40 artigos são qualitativos, um é quantitativo e um é misto, ou seja, quase a totalidade da produção adotou a pesquisa qualitativa. Essa abordagem se justifica porque nos estudos sobre práticas sociais a preocupação volta-se para o aprofundamento da compreensão de uma realidade social que é situada e se constitui de forma única e distinta, e, por isso, passível de ser pesquisada (Goldenberg, 2009Goldenberg, M. (2009). A arte de pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais (11a ed.). São Paulo, SP: Record.). Nessa direção, seguem os posicionamentos de Gherardi (2012)Gherardi, S. (2012). How to conduct a practice-based study: Problems and methods. Edward. Cheltenham, UK: Elgar. doi:10.4337/9780857933386
https://doi.org/10.4337/9780857933386...
e Nicolini (2013)Nicolini, D. (2013). Practice theory, work and organization: An introduction. Oxford, UK: Oxford University Press., entre outros, segundo os quais os estudos sobre práticas são essencialmente qualitativos. Desse modo, identifica-se que a produção brasileira está coerente com esse pressuposto metodológico dos EBP.

No tocante ao procedimento metodológico adotado (Figura 4.2.1), observa-se a predominância do estudo de caso, o que se aproxima da perspectiva dos estudos de práticas situadas, desde que o recorte analítico seja a prática e seu contexto de constituição. Na literatura estrangeira, priorizam-se métodos etnográficos e grounded theory justamente porque essas estratégias possibilitam pesquisar as práticas no contexto social (Bispo et al., 2014Bispo, M. S., Soares, L. C., & Cavalcante, E. D. C. (2014). Panorama dos estudos sobre "prática" no Brasil: Uma análise da produção. Anais do Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.; Gherardi, 2012Gherardi, S. (2012). How to conduct a practice-based study: Problems and methods. Edward. Cheltenham, UK: Elgar. doi:10.4337/9780857933386
https://doi.org/10.4337/9780857933386...
). Na perspectiva sociológica, os estudos empíricos também podem recorrer a análises que resgatam o caráter histórico e processual das práticas, por meio de história de vida, história oral e hermenêutica.

Figura 4.2.1
PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Outro destaque são as pesquisas bibliográficas e os ensaios teóricos que, com as revisões da produção, somam 18 trabalhos (34,6%). Isso mostra o caráter recente das pesquisas desenvolvidas no contexto de aprendizagem e práticas sociais, pois retratam uma preocupação que sustenta o início de estudos mais amplos, ou seja, antes de desenvolverem um estudo empírico, buscam compreender as teorias que fundamentam os trabalhos e as direções dos estudos.

A respeito da coleta de dados empíricos (Figura 4.2.2), total de 26 artigos, as técnicas empregadas, na maioria das vezes, buscaram estabelecer relações entre pesquisador e sujeitos e captar informações e significados, características próprias de estudos qualitativos. A técnica predominante foi a entrevista, mas, no geral, foi empregada mais de uma técnica, uma complementando a outra, como entrevista, observação e análise documental.

Figura 4.2.2
TÉCNICAS DE COLETA E DE ANÁLISE DOS DADOS EMPÍRICOS

Como a orientação para pesquisas das práticas sociais é o desenvolvimento de estudo etnográfico e este se caracteriza pelo emprego da técnica de observação participante (Cavedon, 2014Cavedon, N. R. (2014). A qualidade de vida no trabalho na área da Segurança Pública: Uma perspectiva diacrônica das percepções olfativas e suas implicações na saúde dos servidores. Organizações & Sociedade, 21(68), 875-892.), identificou-se a utilização dessa técnica em 13 dos 26 estudos empíricos, e a observação sistemática mais comum foi a participante. Gherardi (2012)Gherardi, S. (2012). How to conduct a practice-based study: Problems and methods. Edward. Cheltenham, UK: Elgar. doi:10.4337/9780857933386
https://doi.org/10.4337/9780857933386...
recomenda a observação participante das atividades práticas como forma de "viver" a realidade situada e perceber especialmente as relações e os atores que constituem a prática, bem como os conhecimentos e processos de transmissão do saber-fazer. Desse modo, identifica-se essa carência na produção brasileira.

No tocante às técnicas utilizadas para análise dos dados empíricos (Figura 4.2.2), foram adotadas diferentes técnicas da pesquisa qualitativa, priorizando a interpretação dos significados. A estatística descritiva foi utilizada em dois artigos que contemplaram a abordagem quantitativa. Ainda, observou-se o uso de análises cujas unidades de análise não foram as práticas propriamente ditas, mas organizações ou sujeitos. Nesse sentido, o posicionamento de Reckwitz (2002)Reckwitz, A. (2002). Toward a theory of social practices: A development in culturalist theorizing. European Journal of Social Theory, 5(2), 243-263. doi:10.1177/13684310222225432
https://doi.org/10.1177/1368431022222543...
, Gherardi (2012)Gherardi, S. (2012). How to conduct a practice-based study: Problems and methods. Edward. Cheltenham, UK: Elgar. doi:10.4337/9780857933386
https://doi.org/10.4337/9780857933386...
, Nicolini (2013)Nicolini, D. (2013). Practice theory, work and organization: An introduction. Oxford, UK: Oxford University Press. e Gherardi e Strati (2014)Gherardi, S., & Strati, A. (2014). Administração e aprendizagem na prática. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier. é similar no tocante aos fundamentos dessa perspectiva analítica, que define como unidade de análise a prática, entendendo-a como local onde o social se manifesta e se constitui. De acordo com esses autores, eleger a prática como lócus para estudar fenômenos como a aprendizagem possibilita alcançar uma visão mais assertiva e abrangente sobre como o processo de aprendizagem ocorre no cotidiano situado na realidade social.

4.3 Temáticas correlatas

Os estudos, de modo geral, utilizam a aprendizagem e destacam temas relevantes à proposta teórico-metodológica dos EBP. A partir desses temas, discutem amplamente a perspectiva teórica de EBP. Azevedo (2013)Azevedo, D. (2013). Aprendizagem organizacional e epistemologia da prática: Um balanço de percursos e repercussões. Revista Interdisciplinar de Gestão Social-RIGS, 2(1). doi:10.9771/23172428rigs.v2i1.10045
https://doi.org/doi:10.9771/23172428rigs...
esclarece um dos principais pressupostos que sustentam os EBP: a prática como epistemologia. Este trabalho recorre a vários trabalhos de EBP, especialmente à proposta da pesquisadora Silvia Gherardi (2002) que retoma a construção da definição da prática como lócus de realização social, de geração de uma ordem social que orienta os praticantes na vida social. Este artigo é essencial para os pesquisadores que desejam abordar a prática tal como foi pensada nos EBP, sem correr o risco de visualizar a prática como um mecanismo determinista ou funcionalista. Além deste, todos os trabalhos bibliográficos e os ensaios teóricos foram relevantes nas suas contribuições, pois cada um ampliou debates sobre a caracterização dos estudos de aprendizagem ou de alguns temas relevantes aos EBP.

O tema mais citado e discutido em diversos estudos é comunidade de prática como foco de análise das categorias explicitadas por Lave e Wenger (1991)Lave, J., & Wenger, E. (1991). Situated learning: Legitimate peripheral participation. New York, NY: Cambridge University Press. e também apresentadas por Gherardi e Nicolini (2001)Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge. Oxford, UK: Oxford University Press.. Esses trabalhos buscam compreender como a aprendizagem ocorre nas comunidades de prática, pautando-se nos pressupostos sociológicos.

Uma temática que faz parte do escopo dos EBP corresponde à experiência que coloca em discussão a ação do sujeito no cotidiano das práticas situa das. Nesse contexto, a proposta de EBP pressupõe um sujeito que não apenas aprende no fazer. Isso implica discutir as bases filosóficas sobre o potencial de ação do sujeito e todas as dimensões mediadoras do processo. Assim, é preciso analisar a intencionalidade, a estética, as relações de poder, a materialidade, a historicidade e qualquer outro aspecto que contribui para orientar o sujeito a agir. Nesse contexto, a experiência do sujeito histórico que aciona a reflexão e a consciência de modo corriqueiro, passivo ou ativo constitui discussões importantes aos EBP, e alguns trabalhos iniciaram discussões nessa direção.

A estética e corporeidade também são destacadas como dimensões que entrelaçam as categorias afetiva e social na construção do conhecimento prático que conduz a julgamentos éticos e estéticos que orientam o sujeito no cotidiano da prática social. Desse modo, trata-se de uma categoria analítica relevante para compreender como a aprendizagem se constitui no contexto de EBP.

A improvisação aparece como uma dimensão relevante ao estudo do contexto situado e cotidiano da aprendizagem baseada na prática, fazendo analogia com a prática dos musicistas na apresentação do choro como um ritmo musical que exige conhecimento, mas que se desenvolve pautado em constantes improvisos na sua execução.

Outras temáticas que se relacionam com as teorias que deram origem a alguns pressupostos de EBP são percebidas nos estudos de redes, perspectiva multiatores e teoria da atividade. Esses artigos também recorrem a alguns pressupostos de EBP, mas alguns estudos também se pautam na análise empírica positivista, com um direcionamento determinista sobre o que os praticantes devem aprender para conseguir êxito na sua prática ou os estágios e níveis de aprendizagem dos praticantes.

Destaca-se o estudo de Américo (2016)Américo, B. L. (2016). Aprendizagem organizacional, teoria ator-rede e estudos Foucaultianos: Tempo, espaço e poder. Revista de Administração FACES Journal, 15(4), 66-78. doi:10.21714/1984-6975FACES0V0N0ART3532
https://doi.org/10.21714/1984-6975FACES0...
que contribui com uma análise coerente sobre a influência da teoria da atividade que é ampliada por ele a partir de um diálogo entre a perspectiva social-política da aprendizagem social, a teoria ator-rede e os estudos foucaultianos. O trabalho de Querol, Cassandre e Bulgacov (2014)Querol, M. A. P., Cassandre, M. P., & Bulgacov, Y. L. M. (2014). Teoria da atividade: Contribuições conceituais e metodológicas para o estudo da aprendizagem organizacional. Gestão e Produção, 21(2), 405-416. doi:10.1590/0104-530X351
https://doi.org/10.1590/0104-530X351...
amplia o entendimento da teoria da atividade como uma forte vertente de estudos dos EBP, mostrando as direções que essa vertente percorre para constituir uma perspectiva analítica e teórica da aprendizagem a partir das práticas sociais. Uma das contribuições deste artigo está no estudo dos teóricos de tradição russa que teorizam a aprendizagem expansiva a partir da perspectiva histórico-cultural vinculado ao materialismo dialético, ampliando as explicações sobre a relação sujeito-objeto na constituição do conhecimento que é ensinado no contexto das atividades humanas, ou seja, é materializado em artefatos culturais.

De modo semelhante, Américo e Takahashi (2014)Américo, B. L., & Takahashi, A. R. W. (2014). Conhecimento, aprendizagem organizacional e poder na rede: Um estudo de caso na Secretaria de Educação e Cultura de Coahuila, México. Revista Administração Pública, 48(2), 411-437. doi:10.1590/0034-76121323
https://doi.org/10.1590/0034-76121323...
e Capaverde e Vazquez (2015)Capaverde, C. B., & Vazquez, A. C. S. (2015). Implantação de processo eletrônico no sistema judiciário: Um estudo sobre aprendizagem organizacional em uma secretaria de gestão de pessoas. Revista Eletrônica de Administração, 81(2), 462-490. doi:10.1590/1413-2311.0592014.53649
https://doi.org/10.1590/1413-2311.059201...
trazem as relações de poder como dimensão mediadora da construção do conhecimento prático que gera um modo de aprendizagem situada que reproduz ou contesta o conhecimento social. Esses autores atingem um certo tom pós-modernista nas suas análises quando apresentam um olhar crítico para analisar as diferentes vozes que constituem a dinâmica da organização prática. Essa sensibilidade crítica também compõe o conjunto de pressupostos construcionistas dos EBP (Biscoli, 2017Biscoli, F. R. V. (2017). A dimensão cultural como construção social incorporada na prática de Secretariado Executivo da Sicredi do oeste paranaense (Doctoral dissertation). Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brazil.).

Na direção pós-moderna, também se pode destacar a contribuição de Christopoulos e Diniz (2008)Christopoulos, T. P., & Diniz, E. H. (2008). Sustentação das comunidades virtuais de aprendizagem e de prática. Organizações em contexto, 4(8), 74-99. doi:10.15603/1982-8756/roc.v4n8p74-99
https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v...
que relacionam a aprendizagem ao contexto da construção de identidade, usando como referência a teoria do ator em rede. Nesse estudo, destaca-se também o uso da grounded theory como metodologia. Na abordagem pós-moderna, aparece ainda a tecnociência, em que os autores esclarecem o modo como a relação entre as dimensões material e social formam o contexto da aprendizagem.

Por fim, destaca-se a contribuição dos estudos empíricos, exemplifi cando o uso de metodologias e relações analíticas capazes de explicar a aprendizagem pela perspectiva dos EBP, discutindo os temas da formação de gestores, cultura de segurança, aprendizagem de serventes de limpeza, aprendizagem de cozinheiros e aprendizagem de técnicos administrativos. E ainda estudos que exemplificam estratégias metodológicas, como a metatriangulação e a etnometodologia, que ampliam o entendimento dos pressupostos de EBP e desenvolvem uma metodologia de análise da aprendizagem por meio de práticas situadas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção científica sobre aprendizagem organizacional, que utilizou a abordagem dos EBP, foi revisada a fim de retratar o contexto das publicações brasileiras. Para o interesse deste trabalho, adotou-se a concepção de aprendizagem na perspectiva sociológica, especificamente aquela que toma a aprendizagem como um processo construído no cotidiano das relações sociais com a mediação de múltiplas mediações, a partir da epistemologia da prática de Silvia Gherardi. Assim as práticas sociais revelam-se como contextos de organização social que geram conhecimento e aprendizagem.

Verificar a evolução das publicações consistiu no primeiro objetivo específico. A esse respeito, verificou-se que a aprendizagem organizacional na abordagem dos EBP é uma discussão recente no mundo, e, no contexto brasileiro, as publicações começaram a surgir no início da década de 2000. Embora o quantitativo não seja elevado, concentra-se em periódicos de impacto nacional e internacional, evidenciando estar em processo de fortalecimento.

A autoria das publicações (segundo objetivo específico) está sob a responsabilidade de pequenos grupos e ainda dispersos, até mesmo pelo caráter recente das discussões. Contudo, a grande maioria das produções é fruto de parcerias entre autores, ficando em evidência três pesquisadores pela quantidade de artigos publicados, representando as universidades brasileiras UFRGS, UFPB e UPM. Esses autores fazem parte da mesma rede de autoria e se configuram como disseminadores da temática no país.

No tocante às características metodológicas (terceiro objetivo específico), constatou-se que há um grande número de publicações que citam os termos de busca "aprendizagem", "aprendizagem organizacional" e "prática". Mesmo após seleção dos trabalhos aderentes ao tema, localizaram-se vários com posturas epistemológicas mais estruturalistas e positivistas, o que contraria os pressupostos básicos da perspectiva adotada neste trabalho. Por razões semelhantes, também há trabalhos que intentaram estabelecer uma relação entre as temáticas, mas realizaram análises elegendo como unidades de análise organizações ou sujeitos e não a prática como propõem os EBP.

Destaca-se que o estudo de caso pode ser utilizado como proposta metodológica nos estudos empíricos de EBP, mas o recorte analítico deve voltar-se às práticas sociais e ao seu contexto de constituição. Assim, considera-se que os estudos brasileiros ainda carecem de amadurecimento e debate para constituírem um corpo de publicações que atendam aos pressupostos pretendidos pelos idealizadores de EBP. Entretanto, entre os trabalhos analisados, também está uma parcela que se orienta por pressupostos coerentes com EBP tanto no que diz respeito às temáticas como na construção dos desenhos de pesquisa empírica.

Podem-se mencionar o número significativo de artigos que desenvolveram análises teóricas e a relevância de suas contribuições, pois cada um deles ampliou debates sobre a caracterização dos estudos de aprendizagem ou de alguns temas relevantes aos EBP. Isso demonstra que ainda há muito a ser feito para compreender as bases filosóficas que sustentam as teorizações sobre EBP, e os pesquisadores brasileiros têm, aos poucos, se dedicado a essa tarefa, embora o número de publicações tenha caído após 2014. Esse dado, entretanto, por si só, não significa redução de empenho ou de publicações, pois é possível que os pesquisadores brasileiros estejam recorrendo a eventos e periódicos internacionais, em que a temática já está mais desenvolvida.

Mais especificamente a respeito das temáticas correlatas (quarto objetivo específico), verificou-se que a grande parte dos estudos se dedicou a esclarecer os aspectos teóricos da aprendizagem na relação entre diversos temas de interesse. A temática aprendizagem organizacional foi recorrente, mantendo relações com boa parte das demais, estando estas inseridas no contexto dos EBP, na maioria das vezes. Discussões de aspectos metodológicos igualmente estiveram presentes entre as temáticas.

Ainda se podem destacar estudos que buscaram não somente compreender a perspectiva de EBP, mas também iniciaram o desenvolvimento de temáticas que contribuem para a investigação de lacunas com o propósito de ampliar a compreensão teórica dos EBP, como é o caso da análise do improviso como mediação dos processos de construção do conhecimento no cotidiano das práticas sociais e o resgate do poder como uma dimensão pouco explorada nos estudos contemporâneos de EBP.

Desse modo, pode-se concluir que a pesquisa sobre aprendizagem na abordagem dos EBP tem pouca inserção no contexto brasileiro. Isso pode ser decorrente da pequena quantidade de estudos realizados e pesquisadores envolvidos, da falta de periódicos brasileiros que aceitem em seu escopo esse tipo de publicação ou da escolha dos pesquisadores por publicar em periódicos internacionais. Essas motivações sugerem a realização de outras pesquisas, como o mapeamento da produção dos pesquisadores brasileiros em períodos internacionais.

Conclui-se também que a aprendizagem organizacional, discutida na abordagem dos EBP, que toma as práticas inseridas no contexto das organizações como lócus para o estudo da aprendizagem, apresenta potencial para preencher lacunas da tradição técnica e como resultado.

REFERENCES

  • Américo, B. L. (2016). Aprendizagem organizacional, teoria ator-rede e estudos Foucaultianos: Tempo, espaço e poder. Revista de Administração FACES Journal, 15(4), 66-78. doi:10.21714/1984-6975FACES0V0N0ART3532
    » https://doi.org/10.21714/1984-6975FACES0V0N0ART3532
  • Américo, B. L., & Takahashi, A. R. W. (2014). Conhecimento, aprendizagem organizacional e poder na rede: Um estudo de caso na Secretaria de Educação e Cultura de Coahuila, México. Revista Administração Pública, 48(2), 411-437. doi:10.1590/0034-76121323
    » https://doi.org/10.1590/0034-76121323
  • Antonello, C. S. (2005). A metamorfose da aprendizagem organizacional: Uma revisão crítica. In R. L. Ruas & C. S. Antonello (Orgs.), Aprendizagem organizacional e competências Porto Alegre, RS: Bookman.
  • Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2010). A encruzilhada da aprendizagem organizacional: Uma visão paradigmática. Revista de Administração Contemporânea, 14(2), 310-332. doi:10.1590/S1415-65552010000200008
    » https://doi.org/10.1590/S1415-65552010000200008
  • Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2009). Uma agenda brasileira para os estudos em aprendizagem organizacional. Revista de Administração de Empresas, 49(3), 266-281. doi:10.1590/S0034-75902009000300003
    » https://doi.org/doi:10.1590/S0034-75902009000300003
  • Azevedo, D. (2013). Aprendizagem organizacional e epistemologia da prática: Um balanço de percursos e repercussões. Revista Interdisciplinar de Gestão Social-RIGS, 2(1). doi:10.9771/23172428rigs.v2i1.10045
    » https://doi.org/doi:10.9771/23172428rigs.v2i1.10045
  • Bertolin, R. V., Zwick, E., & Brito, M. J. (2013). Aprendizagem organiza cional socioprática no serviço público: Um estudo de caso interpretativo. Revista Administração Pública, 47(2), 493-513.
  • Biscoli, F. R. V. (2017). A dimensão cultural como construção social incorporada na prática de Secretariado Executivo da Sicredi do oeste paranaense (Doctoral dissertation). Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brazil.
  • Bispo, M. De S., & Godoy, A. S. (2012). A etnometodologia enquanto caminho teórico-metodológico para a investigação da aprendizagem nas organizações. Revista de Administração Contemporânea, 16(5), 684-704.
  • Bispo, M. S. (2013). Aprendizagem organizacional baseada no conceito de prática: Contribuições de Silvia Gherardi. Revista de Administração Mackenzie, 14(6), 132-161. doi:10.1590/S1678-69712013000600007
    » https://doi.org/10.1590/S1678-69712013000600007
  • Bispo, M. S., Soares, L. C., & Cavalcante, E. D. C. (2014). Panorama dos estudos sobre "prática" no Brasil: Uma análise da produção. Anais do Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.
  • Bispo, M. S., & Mello, A. S. (2012). A miopia da aprendizagem coletiva nas organizações: Existe uma lente para elas? Revista Gestão e Planejamento, 12(3), 728-745.
  • Carrasco, T. S., & Silva, F. M. (2017). Aprendizagem informal no contexto de trabalho: Um meta-estudo da produção científica brasileira. Revista de Administração Mackenzie, 18(1), 137-163. doi:10.1590/1678-69712017/administracao.v18n4p137-163
    » https://doi.org/10.1590/1678-69712017/administracao.v18n4p137-163
  • Cavedon, N. R. (2014). A qualidade de vida no trabalho na área da Segurança Pública: Uma perspectiva diacrônica das percepções olfativas e suas implicações na saúde dos servidores. Organizações & Sociedade, 21(68), 875-892.
  • Collins, R. (1994). Four sociological traditions Oxford, UK: Oxford University Press.
  • Capaverde, C. B., & Vazquez, A. C. S. (2015). Implantação de processo eletrônico no sistema judiciário: Um estudo sobre aprendizagem organizacional em uma secretaria de gestão de pessoas. Revista Eletrônica de Administração, 81(2), 462-490. doi:10.1590/1413-2311.0592014.53649
    » https://doi.org/10.1590/1413-2311.0592014.53649
  • Christopoulos, T. P., & Diniz, E. H. (2008). Sustentação das comunidades virtuais de aprendizagem e de prática. Organizações em contexto, 4(8), 74-99. doi:10.15603/1982-8756/roc.v4n8p74-99
    » https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v4n8p74-99
  • Davel, E. (2014). Primeiro momento: Sobre a prática em contexto brasileiro. In S. Gherardi, & A. Strati (Orgs.), Administração e aprendizagem na prática Rio de Janeiro, RJ: Elsevier.
  • De-La-Torre-Ugarte-Guanilo, M. C., Takahashi, R. F., & Bertolozzi, M. R. (2011). Revisão sistemática: Noções gerais. Revista da Escola de Enfermagem USP, 45(5), 1260-1266. doi:10.1590/S0080-62342011000500033
    » https://doi.org/10.1590/S0080-62342011000500033
  • Easterby-Smith, M. (1997). Disciplines of organizational learning: Contributions and critiques. Human Relations, 50, 1085-1113. doi:10.1023/A:1016957817718
    » https://doi.org/10.1023/A:1016957817718
  • Easterby-Smth, M., & Araujo, L. (2001). Aprendizagem organizacional: Oportunidades e debates atuais. In M. Easterby-Smth, J. Burgoyne, & L. Araujo (Orgs.), Aprendizagem organizacional e organização de aprendizagem: Desenvolvimento na teoria e na prática São Paulo, SP: Atlas.
  • Easterby-Smith, M., & Lyles, M. (2005). Handbook of organizational learning and knowledge management Malden, MA: Blackwell.
  • Faqueti, M. F., Alves, J. B. M., & Steil, A. V. (2016). Aprendizagem organizacional em bibliotecas acadêmicas: Uma revisão sistemática. Perspectivas em Ciência da Informação, 21(4), 156-179. doi:10.1590/1981-5344/2699
    » https://doi.org/10.1590/1981-5344/2699
  • Gherardi, S. (2012). How to conduct a practice-based study: Problems and methods Edward. Cheltenham, UK: Elgar. doi:10.4337/9780857933386
    » https://doi.org/10.4337/9780857933386
  • Gherardi, S. (2006). Organizational knowledge: The texture of workplace learning. Prometheus, 24(2), 223-232
  • Gherardi, S. (2001). From organizational learning to practice based knowing. Human Relations, 54(1), 131-139. doi:10.1177/0018726701541016
    » https://doi.org/10.1177/0018726701541016
  • Gherardi, S. (2000). Practice-based theorizing on learning and knowing in organizations: An introduction. Organization, 7(2), 211-223. doi:10.1177/ 135050840072001
    » https://doi.org/10.1177/ 135050840072001
  • Gherardi, S., & Nicolini, D. (2001). The sociological foundations of organizational learning. In M. Dierkes et al. (Orgs.), Organizational learning and knowledge Oxford, UK: Oxford University Press.
  • Gherardi, S., & Strati, A. (2014). Administração e aprendizagem na prática Rio de Janeiro, RJ: Elsevier.
  • Goldenberg, M. (2009). A arte de pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais (11a ed.). São Paulo, SP: Record.
  • Gray, D. E. (2012). Pesquisa no mundo real (2a ed.). Porto Alegre, RS: Penso.
  • Huber, G. (1991). Organizational learning: The contributing processes and the literature. Organizational Science, 2, 88-115. doi:10.1287/orsc.2.1.88
    » https://doi.org/10.1287/orsc.2.1.88
  • Lave, J., & Wenger, E. (1991). Situated learning: Legitimate peripheral participation New York, NY: Cambridge University Press.
  • Macedo, M., Botello, L. L. R., Duarte, M. A. T., & Fialho, F. A. P. (2010). Revisão bibliométrica sobre a produção científica em aprendizagem gerencial. Gestão e Sociedade, 4(8), 619-639. doi:10.21171/ges.v4i8
    » https://doi.org/10.21171/ges.v4i8
  • Nicolini, D. (2013). Practice theory, work and organization: An introduction Oxford, UK: Oxford University Press.
  • Noronha, D., & Ferreira, S. (2000). Revisões da literatura. In B. S. Campello, B. V. Cendón, & J. M. Kremer (Eds.), Fontes de informação para pesquisadores e profissionais Belo Horizonte, MG: Editora da UFMG.
  • Oliva, C. C., & Shinyashiki, G. T. (2016). Estudo sobre validação de escalas de aprendizagem organizacional no Brasil. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 12(3), 303-322.
  • Querol, M. A. P., Cassandre, M. P., & Bulgacov, Y. L. M. (2014). Teoria da atividade: Contribuições conceituais e metodológicas para o estudo da aprendizagem organizacional. Gestão e Produção, 21(2), 405-416. doi:10.1590/0104-530X351
    » https://doi.org/10.1590/0104-530X351
  • Reckwitz, A. (2002). Toward a theory of social practices: A development in culturalist theorizing. European Journal of Social Theory, 5(2), 243-263. doi:10.1177/13684310222225432
    » https://doi.org/10.1177/13684310222225432

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    02 Ago 2018
  • Aceito
    25 Set 2018
Editora Mackenzie; Universidade Presbiteriana Mackenzie Rua da Consolação, 896, Edifício Rev. Modesto Carvalhosa, Térreo - Coordenação da RAM, Consolação - São Paulo - SP - Brasil - cep 01302-907 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.adm@mackenzie.br