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EMPREENDEDORISMO ESTRATÉGICO: EXPLORATION, EXPLOITATION E AMBIDESTRIA EM CERVEJARIAS ARTESANAIS DE UBERLÂNDIA, MG1 1 Este estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) – Projeto de Pesquisa Demanda Universal Código APQ 00714-17 – e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – Código 001.

RESUMO

Objetivo:

Compreender a configuração do empreendedorismo estratégico a partir da manifestação de práticas de exploration, exploitation e ambidestria em cervejarias artesanais de Uberlândia, MG.

Originalidade/valor:

O empreendedorismo estratégico permite uma análise do fenômeno empreendedor em uma perspectiva organizacional. Ademais, o estudo é aplicado em um setor emergente no Brasil, com poucos estudos que problematizem suas especificidades na área de administração.

Design/metodologia/abordagem:

Trata-se de pesquisa qualitativa realizada por meio de estudos de casos múltiplos em três cervejarias artesanais de Uberlândia, MG. Realizaram-se nove entrevistas, e os dados foram tratados com base na técnica de análise de narrativas.

Resultados:

Foi possível verificar práticas de exploration, como o pioneirismo na produção local de cerveja artesanal, na criação de novos produtos e em torno do modelo de negócio adotado. Práticas de exploitation também foram identificadas, com ações de melhoria contínua que contribuíram para o desenvolvimento dessas empresas. A ambidestria foi observada em situações em que melhorias na produção permitiram o surgimento de novos produtos e o atendimento de novos mercados. Assim, as ações de empreendedorismo estratégico refletem iniciativas de agentes empreendedores que buscam promover inovações e melhorias contínuas em suas organizações, seja por meio da melhoria da qualidade da cerveja produzida, da introdução de novas estratégias de atendimento ao mercado e de novos métodos de produção, e/ou da adoção de novas tecnologias. Com isso, abre-se espaço para novas possibilidades de inovação, renovação estratégica e aumento da competitividade das cervejarias artesanais estudadas, revelando o vigor da referida abordagem para o estudo do fenômeno empreendedor.

PALAVRAS-CHAVE:
Empreendedorismo; Exploração; Explotação; Ambidestria; Cervejas artesanais

ABSTRACT

Purpose:

This paper aims to understand the configuration of strategic entrepreneurship practices of exploration, exploitation, and ambidexterity in craft breweries from Uberlândia, MG.

Originality/value:

Strategic entrepreneurship enables the comprehension of entrepreneurial phenomena from an organizational perspective. Furthermore, this research is conducted in an emergent industry in Brazil, with few studies in the field of management that consider the idiosyncrasies of craft breweries.

Design/methodology/approach:

We conducted a qualitative multicase study with three craft breweries from Uberlândia, MG. Twelve interviews were performed, and the set of empirical data collected were analyzed through narrative analysis technique.

Findings:

We identified several strategic entrepreneurship practices in the craft breweing sector. First, exploration practices were found in some radical innovations, such as the pioneering nature in the production of craft beers in Uberlândia, the creation of new products, and in the setting of new business models. Second, exploitation practices were also identified in incremental innovations that enabled business development. Hence, ambidexterity relied on the balance of exploration and exploitation practices, as innovative endeavors enabled the creation and development of new products and access to new markets. Thus, strategic entrepreneurship practices reflect the initiatives of entrepreneurial agents that seek to promote organizational innovations in terms of quality improvements, new production and marketing strategies, and the adoption of new technologies. Therefore, strategic entrepreneurship reflects and contributes to innovation possibilities, strategic renewals, and the competitiveness of craft breweries, revealing the analytical power of this theoretical approach for the study of entrepreneurial phenomena.

KEYWORDS:
Entrepreneurship; Exploration; Exploitation; Ambidexterity; Craft beer

1

INTRODUÇÃO

O empreendedorismo é um fenômeno que possui relevância socio­econômica e científica, sendo objeto de interesse crescente por parte da academia (Lopes & Lima, 2019Lopes, R. M. A., & Lima, E. (2019). Desafios atuais e caminhos promissores para a pesquisa em empreendedorismo. Revista de Administração de Empresas, 59(4), 284–292. doi:10.1590/s0034-759020190406
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; Wiklund, Wright, & Zahra, 2019Wiklund, J., Wright, M., & Zahra, S. A. (2019). Conquering relevance: Entrepreneurship research’s grand challenge. Entrepreneurship Theory and Practice, 43(3), 419–436. doi:10.1177/1042258718807478
https://doi.org/10.1177/1042258718807478...
). A confi­guração do campo de estudos tem se desenvolvido em torno de diferentes vertentes teóricas, o que tem contribuído para a geração de diversas possibilidades de investigação (Clark & Harrison, 2019Clark, C. M., & Harrison, C. (2019). Entrepreneurship: An assimilated multi-perspective review. Journal of Small Business & Management, 31(1), 43–71. doi:10.1080/08276331.2018.1446665
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).

Uma das possibilidades de compreensão e explicação do fenômeno empreendedor reside na noção de empreendedorismo estratégico, associada à análise de inovações e processos de renovação estratégica em organizações (Hitt, Ireland, Camp, & Sexton, 2001Hitt, M. A., Ireland, D. R., Camp, S. M., & Sexton, D. L. (2001). Strategic entrepreneurship: Entrepreneurial strategies for wealth creation. Strategy Management Journal, 22(6–7), 479–491. doi:10.1002/smj.196
https://doi.org/10.1002/smj.196...
; Kuratko & Audretsch, 2009Kuratko, D. F., & Audretsch, D. B. (2009). Strategic entrepreneurship: Exploring different perspectives of an emerging concept. Entrepreneurship Theory and Practice, 33(1), 1–17. doi:10.1111/j.1540-6520.2008.00278.x
https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2008...
). Mazzei (2018)Mazzei, M. J. (2018). Strategic entrepreneurship: Content, process, context, and outcomes. International Entrepreneurship and Management Journal, 14(3), 657–670. doi:10.1007/s11365-018-0512-9
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salienta que a referida abordagem é fundamentada em torno de dois pontos centrais: exploration (exploração), ligado à criação e à identificação de novas oportunidades de negócio; e exploitation (explotação), relacionado ao aproveitamento de opor­tunidades já existentes (Gupta, Smith, & Shalley, 2006; Popadiuk & Bido, 2016Popadiuk, S., & Bido, D. de S. (2016). Exploration, exploitation, and organizational coordination mechanisms. Revista de Administração Contemporânea, 20(2), 238–260. doi:10.1590/1982-7849rac2016150018
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). A partir do equilíbrio entre exploration e exploitation, surge a concepção de ambidexterity, ou ambidestria organizacional (Cao, Gedajlovic, & Zhang, 2009; Birkinshaw & Gupta, 2013Birkinshaw, J., & Gupta, K. (2013). Clarifying the distinctive contribution of ambidexterity to the field of organization studies. Academy of Management Perspectives, 27(4), 287–298. doi:10.5465/amp.2012.0167
https://doi.org/10.5465/amp.2012.0167...
; Koriak, Lockett, Hayton, Nicolaou, & Mole, 2018Koriak, O., Lockett, A., Hayton, J., Nicolaou, N., & Mole, K. (2018). Disentangling the antecedents of ambidexterity: Exploration and exploitation. Research Policy, 47(2), 413–427. doi:10.1016/j.respol.2017.12.003
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; O’Reilly & Tushman, 2013O’Reilly, C. A., & Tushman, M. L. (2013). Organizational ambidexterity: Past, present, and future. Academy of Management Perspectives, 27(4), 324–338. doi:10.2139/ssrn.2285704
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).

A abordagem de empreendedorismo estratégico tem sido aplicada à análise de organizações de diferentes ramos da atividade econômica (Goel & Jones, 2016Goel, S., & Jones, R. J., III (2016). Entrepreneurial exploration and exploitation in family business: A systematic review and future directions. Family Business Review, 29(1), 94–120. doi:10.1177/0894486515625541
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; Mazzei, 2018). Neste artigo, optou-se por investigar cervejarias artesanais, um setor emergente no Brasil (Dalmoro & Fell, 2020Dalmoro, M., & Fell, G. (2020). Dimensão artesanal e massificada na construção do mercado cervejeiro. Revista de Administração de Empresas, 60(1), 47–58. doi:10.1590/s0034-759020200106
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; Freitas, 2015Freitas, A. G. (2015). Relevância do mercado cervejeiro brasileiro: Avaliação e perspectivas e a busca de uma agenda de regulação. Pensamento & Realidade, 30(2), 22–33.; Giorgi, 2015Giorgi, V. V. (2015). “Cultos em cerveja”: Discursos sobre a cerveja artesanal no Brasil. Sociedade e Cultura, 18(1), 101–111.; Krohn, 2018Krohn, L. V. H. (2018). Beber, fazer, vender: Formação do mercado de cerveja “artesanal” no Brasil (Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil). doi:10.11606/D.8.2018.tde-28082018-091540
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; Santo & Carniello, 2019Santo, A. G. E., & Carniello, M. F. (2019). As microcervejarias da Região do Médio Paraíba Fluminense como possíveis vetores de desenvolvimento regional. Revista Gestão & Planejamento, 20(1), 310–327. doi:10.21714/2178-8030gep.v20.5889
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; Tonelli, Borges, Brito, & Zambalde, 2018Tonelli, A. O., Borges, A. F., Brito, M. J., & Zambalde, A. L. (2018). A trajetória das cervejarias artesanais brasileiras em busca de legitimação e institucionalização: Uma análise a partir de suas práticas estratégicas discursivas. Revista de Administração da UFSM, 11(4), 1068–1087. doi:10.5902/1983465 913716
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). Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa (2020)Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2020). Anuário da Cerveja 2019. Retrieved from http://www.agricultura.gov.br/assuntos/ inspecao/produtos-vegetal/pasta-publicacoes-DIPOV/anuario-da-cerveja- 2019/view
http://www.agricultura.gov.br/assuntos/...
, o ramo de cervejas artesanais cresceu, em 2019, 36% em relação a 2018. Algumas regiões têm relevância nesse mercado. Em Uberlândia, MG, observa-se investimento considerável no setor, incentivado por ações do poder público por meio do Programa Municipal de Fomento ao Setor Cervejeiro, instituído em 2017 (Prefeitura Municipal de Uberlândia, 2017Prefeitura Municipal de Uberlândia (2017). Lei n. 12.801, de 5 de outubro de 2017. Retrieved from https://leismunicipais.com.br/a/mg/u/uberlandia/lei-ordinaria/2017/1280/12801/lei-ordinaria-n-12801-2017-institui-o-programa-de-fomento-a-producao-artesanal-de-cerveja-e-sua- comercializacao- no-ambito-do-municipio-de-uberlandia-mg
https://leismunicipais.com.br/a/mg/u/ube...
).

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho consiste em compreender a configuração do empreendedorismo estratégico a partir da manifestação de práticas de exploration, exploitation e ambidestria em cervejarias artesanais de Uberlândia, MG. Para tanto, por meio de um estudo qualitativo de casos múltiplos, buscou-se especificamente compreender as práticas de exploration relacionadas à inovação radical, as práticas de exploitation relacionadas à inovação incremental e as práticas de ambidexterity (ambi­destria), que funcionam como um equilíbrio entre as práticas anteriores.

2

EMPREENDEDORISMO ESTRATÉGICO: EXPLORATION, EXPLOITATION E AMBIDEXTERITY

A concepção de empreendedorismo estratégico tem sido cada vez mais explorada no campo de estudos sobre empreendedorismo (Mazzei, 2018), embora seja ainda pouco trabalhada em estudos da área no Brasil (Borges, Parreira, Enoque, & Almeida, 2017Borges, A. F., Parreira, J. V. C., Enoque, A. G., & Almeida, L. L. S. (2017). Empreendedorismo estratégico em empresas familiares: Um estudo multicaso. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, 11(2), 151–167. doi:10.12712/rpca.v11i2.841
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; Moraes & Lima, 2019Moraes, M. B., & Lima, E. (2019). Empreendedorismo estratégico em pequenas e médias empresas do setor aeronáutico brasileiro e canadense. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, 8(3), 256–301.). Trata-se de uma alternativa que permite a compreensão de problemáticas relacionadas ao fenômeno empreendedor, a partir da recuperação de perspectivas associadas a possibilidades de inovação e a processos de renovação estratégica (Kuratko & Audretsch, 2009Kuratko, D. F., & Audretsch, D. B. (2009). Strategic entrepreneurship: Exploring different perspectives of an emerging concept. Entrepreneurship Theory and Practice, 33(1), 1–17. doi:10.1111/j.1540-6520.2008.00278.x
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).

De acordo com Hitt et al. (2001)Hitt, M. A., Ireland, D. R., Camp, S. M., & Sexton, D. L. (2001). Strategic entrepreneurship: Entrepreneurial strategies for wealth creation. Strategy Management Journal, 22(6–7), 479–491. doi:10.1002/smj.196
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, o empreendedorismo estratégico é constituído a partir de duas características principais, associadas à criação e à sustentação de vantagens competitivas e a processos de identificação e exploração de oportunidades de negócio. Mazzei, Ketchen e Shook (2017)Mazzei, M. J., Ketchen, D. J., Jr., & Shook, C. L. (2017). Understanding strategic entrepreneurship: A “theoretical toolbox” approach. International Entrepreneurship and Management Journal, 13(2), 631–663. doi:10.1007/s11 365-016-0419-2
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, por sua vez, ao sintetizarem o quadro teórico sobre a referida abordagem, destacam que ela é fundamentada em torno das noções de exploration e exploitation, desenvolvidas a partir do trabalho de March (1991)March, J. G. (1991). Exploration and exploitation in organizational learning. Organization Science, 2(1), 71–87. doi:10.1287/orsc.2.1.71
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.

O conceito de exploration relaciona-se à criação e/ou à descoberta de novas oportunidades de negócios, por meio do uso da criatividade, aplicação de inovações e desenvolvimentos experimentais (Gupta et al., 2006Gupta, A. K., Smith, K. G., & Shalley, C. E. (2006). The interplay between exploration and exploitation. Academy of Management Journal, 49(4), 693–706. doi:10.5465/amj.2006.22083026
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), sendo sempre visualizada como uma categoria exógena de empreendedorismo estratégico (Chen, 2017Chen, Y. (2017). Dynamic ambidexterity: How innovators manage explo­ration and exploitation. Business Horizon, 60(3), 385–394. doi:10.1016/j.bushor.2017.01.001
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; Koriak et al., 2018Koriak, O., Lockett, A., Hayton, J., Nicolaou, N., & Mole, K. (2018). Disentangling the antecedents of ambidexterity: Exploration and exploitation. Research Policy, 47(2), 413–427. doi:10.1016/j.respol.2017.12.003
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). Autores como Andriopoulos e Lewis (2009) e Moss, Payne e Moore (2014)Moss, T. W., Payne, G. T., & Moore, C. B. (2014). Strategic consistency of exploration and exploitation in family businesses. Family Business Review, 27(1), 57–71. doi:10.1177/0894486513504434
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definem exploration como atividades organizacionais que se associam a elementos como o foco em pesquisa e desenvolvimento, a capacidade de assumir riscos, o exercício de autonomia, a relação com o ambiente externo em estado de alerta empreendedor e a promoção de um ambiente interno inovativo e adaptativo, com abertura para novas descobertas e novas experiências.

Por seu turno, o conceito de exploitation encontra-se relacionado ao aproveitamento de oportunidades vinculadas a atividades já existentes no âmbito da organização. Trata-se de iniciativas voltadas à transformação e à utilização de competências para a melhoria de processos organizacionais e para a solução de problemas (Goel & Jones, 2016Goel, S., & Jones, R. J., III (2016). Entrepreneurial exploration and exploitation in family business: A systematic review and future directions. Family Business Review, 29(1), 94–120. doi:10.1177/0894486515625541
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), sendo consequentemente visualizada como uma categoria endógena de empreendedorismo estratégico (Fuentes, Arroyo, Bojica, & Pérez, 2010Fuentes, M. del M. F., Arroyo, M. R., Bojica, A. M., & Pérez, V. F. (2010). Prior knowledge and social networks in the exploitation of entrepreneurial opportunities. International Entrepreneurship and Management Journal, 6(2), 481–501. doi:10.1007/s11365-010-0136-1
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). Observa-se, então, a formação de atividades direcionadas para a melhoria contínua de processos, métodos, técnicas, ações, produtos ou serviços, novos meios de produção ou de execução de uma atividade, implementação de novas práticas, de modo eficiente (Popadiuk & Bido, 2016Popadiuk, S., & Bido, D. de S. (2016). Exploration, exploitation, and organizational coordination mechanisms. Revista de Administração Contemporânea, 20(2), 238–260. doi:10.1590/1982-7849rac2016150018
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; Luger, Raisch, & Schimmer, 2018).

Dessa maneira, atribui-se à exploration uma associação maior com a inovação radical, enquanto a exploitation se vincula à inovação incremental (Andriopoulos & Lewis, 2009; Borges, Lima, & Andrade, 2014; Chen, 2017Chen, Y. (2017). Dynamic ambidexterity: How innovators manage explo­ration and exploitation. Business Horizon, 60(3), 385–394. doi:10.1016/j.bushor.2017.01.001
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). Com base nisso, ressalta-se a necessidade de consistência entre as práticas de exploration e exploitation, o que implicaria níveis mais elevados de desempenho em nível da firma (Gupta et al., 2006Gupta, A. K., Smith, K. G., & Shalley, C. E. (2006). The interplay between exploration and exploitation. Academy of Management Journal, 49(4), 693–706. doi:10.5465/amj.2006.22083026
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; Moss et al., 2014). Trata-se, portanto, de reconhecer a emergência do empreendedorismo estratégico como resultado de um equilíbrio entre exploration e exploitation, o que abre espaço para a ambidexterity (Cao et al., 2009Cao, Q., Gedajlovic, E., & Zhang, H. (2009). Unpacking organizational ambidexterity: Dimensions, contingencies, and synergistic effects. Organization Science, 20(4), 781–796. doi:10.1287/orsc.1090.0426
https://doi.org/10.1287/orsc.1090.0426...
; Luger et al., 2018Luger, J., Raisch, S., & Schimmer, M. (2018). Dynamic balancing of exploration and exploitation: The contingent benefits of ambidexterity. Organization Science, 29(3), 449–470. doi:10.1287/orsc.2017.1189
https://doi.org/10.1287/orsc.2017.1189...
; O’Reilly & Tushman, 2013O’Reilly, C. A., & Tushman, M. L. (2013). Organizational ambidexterity: Past, present, and future. Academy of Management Perspectives, 27(4), 324–338. doi:10.2139/ssrn.2285704
https://doi.org/10.2139/ssrn.2285704...
).

A ambidestria pode ser observada por meio de análises sobre dualidades contraditórias em nível organizacional (Duncan, 1976Duncan, R. B. (1976). The ambidextrous organization: Designing dual structures for innovation. In R. H. Kilmann, L. R. Pondy, & D. P. Slevin (Eds.), The management of organization design: Strategies and implementation (Vol. 1, pp. 167–88). New York: North-Holland.), como eficiência e eficácia, inovação radical e incremental, e exploration e exploitation (Birkinshaw & Gupta, 2013Birkinshaw, J., & Gupta, K. (2013). Clarifying the distinctive contribution of ambidexterity to the field of organization studies. Academy of Management Perspectives, 27(4), 287–298. doi:10.5465/amp.2012.0167
https://doi.org/10.5465/amp.2012.0167...
; Chen, 2017Chen, Y. (2017). Dynamic ambidexterity: How innovators manage explo­ration and exploitation. Business Horizon, 60(3), 385–394. doi:10.1016/j.bushor.2017.01.001
https://doi.org/10.1016/j.bushor.2017.01...
; Gibson & Birkinshaw, 2004Gibson, C. B., & Birkinshaw, J. (2004). The antecedents, consequences, and mediating role of organizational ambidexterity. Academy of Management Journal, 47(2), 209–226. doi:10.5465/20159573
https://doi.org/10.5465/20159573...
; Raisch & Birkinshaw, 2008Raisch, S., & Birkinshaw, J. (2008). Organizational ambidexterity: Ante­cedents, outcomes, and moderators. Journal of Management, 34(3), 375–409. doi:10.1177/0149206308316058
https://doi.org/10.1177/0149206308316058...
). Nesse cenário, as organizações tomam decisões sobre estratégias de flexibilidade e eficiência, adaptação e renovação estratégica, exploração de novas competências e de competências atuais (Koriak et al., 2018Koriak, O., Lockett, A., Hayton, J., Nicolaou, N., & Mole, K. (2018). Disentangling the antecedents of ambidexterity: Exploration and exploitation. Research Policy, 47(2), 413–427. doi:10.1016/j.respol.2017.12.003
https://doi.org/10.1016/j.respol.2017.12...
; Popadiuk & Bido, 2016Popadiuk, S., & Bido, D. de S. (2016). Exploration, exploitation, and organizational coordination mechanisms. Revista de Administração Contemporânea, 20(2), 238–260. doi:10.1590/1982-7849rac2016150018
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2016...
). Logo, pode-se dizer que a ambidestria retrata a capacidade que a organização possui para melhorar e aperfeiçoar as rotinas e os métodos existentes, e, ao mesmo tempo, adaptar-se a mudanças que ocorrem a partir do desenvolvimento de novas oportunidades (Birkinshaw & Gupta, 2013Birkinshaw, J., & Gupta, K. (2013). Clarifying the distinctive contribution of ambidexterity to the field of organization studies. Academy of Management Perspectives, 27(4), 287–298. doi:10.5465/amp.2012.0167
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). Com isso, a referida concepção constitui-se como base para o desempenho, a competitividade e a sobrevivência no mercado (Birkinshaw & Gupta, 2013Birkinshaw, J., & Gupta, K. (2013). Clarifying the distinctive contribution of ambidexterity to the field of organization studies. Academy of Management Perspectives, 27(4), 287–298. doi:10.5465/amp.2012.0167
https://doi.org/10.5465/amp.2012.0167...
; Raisch & Birkinshaw, 2008Raisch, S., & Birkinshaw, J. (2008). Organizational ambidexterity: Ante­cedents, outcomes, and moderators. Journal of Management, 34(3), 375–409. doi:10.1177/0149206308316058
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; Severgnini, Takahashi, & Abib, 2019Severgnini, E., Takahashi, A. R. W., & Abib, G. (2019). Risco e ambidestria organizacional: Uma meta-síntese dos estudos de caso e proposta de um framework. Brazilian Business Review, 16(5), 470–499. doi:10.15728/bbr. 2019.16.5.4
https://doi.org/10.15728/bbr.2019.16.5.4...
).

Portanto, a ambidestria está fortemente associada à noção de empreendedorismo estratégico, uma vez que reflete o potencial de intervenção das ações de exploration e exploitation sobre a realidade organizacional (Andriopoulos & Lewis, 2009; Mazzei, 2018). Em outros termos, trata-se do equilíbrio entre tradição e renovação, a partir de sua capacidade de inovação (Borges et al., 2014Borges, A. F., Lima, J. B., & Andrade, D. M. (2014). Práticas de inovação em empresas familiares: Estudo de caso. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, 8(3), 37–54. doi:10.12712/rpca.v8i3.357
https://doi.org/10.12712/rpca.v8i3.357...
; Moss et al., 2014). Assim, a ambidestria firma-se como a capacidade organizacional de gerenciar exploration e exploitation a fim de alcançar equilíbrio entre os esforços e os resultados de inovações (Chen, 2017Chen, Y. (2017). Dynamic ambidexterity: How innovators manage explo­ration and exploitation. Business Horizon, 60(3), 385–394. doi:10.1016/j.bushor.2017.01.001
https://doi.org/10.1016/j.bushor.2017.01...
; Luger et al., 2018Luger, J., Raisch, S., & Schimmer, M. (2018). Dynamic balancing of exploration and exploitation: The contingent benefits of ambidexterity. Organization Science, 29(3), 449–470. doi:10.1287/orsc.2017.1189
https://doi.org/10.1287/orsc.2017.1189...
). Desse modo, é necessário que as organizações adicionem práticas do empreendedorismo estratégico em seus processos e ações, o que certamente revela o potencial teórico e prático que a referida concepção assume para a problematização e investigação científica mais ampla no campo do em­- preendedorismo.

3

METODOLOGIA

Nesta pesquisa, foi realizado um estudo de casos múltiplos com orientação qualitativa (Denzin & Lincoln, 2006Denzin, N. K., & Lincoln, Y. S. (2006). O planejamento da pesquisa qualitativa: Teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed.; Stake, 2000Stake, R. (2000). The case study method in social inquiry. In K. N. Denzin & Y. S. Lincoln (Orgs.), The American tradition in qualitative research (Vol. II). Thousand Oaks, CA: Sage.), o qual possibilitou a exploração de particularidades associadas ao empreendedorismo com as devidas profundidade e densidade (Neergaard & Ulhøi, 2007Neergaard, H., & Ulhøi, J. P. (2007). Introduction: Methodological variety in entrepreneurship research. In H. Neergaard & J. P. Ulhøi, Handbook of qualitative research methods in entrepreneurship (Vol. 1, pp. 1–16). Cheltenham: Edward Elgar.). Isso permitiu compreender a configuração do empreendedorismo estratégico a partir da manifestação de práticas de exploration, exploitation e ambidestria em cervejarias artesanais de Uberlândia, cidade situada na região do Triângulo Mineiro. O referido município tem se destacado na produção de cerveja artesanal no estado de Minas Gerais, sobretudo em função da quantidade de unidades produtoras e da qualidade da bebida por elas produzida.

Para viabilizar a operacionalização da pesquisa, foram empregados os seguintes critérios para a seleção dos casos estudados: 1. a trajetória histó­rica das organizações no setor de cervejas artesanais; 2. o grau de particu­laridade dos casos, verificado por meio de seus diferenciais competitivos e do desenvolvimento de inovações em seus produtos e processos; 3. a relevância do caso no contexto regional, levando em consideração sua participação de mercado; e 4. a formalização do negócio e, principalmente, o registro da produção no Mapa. Atualmente, Uberlândia possui dez cervejarias formalizadas. Destas, cinco atendiam aos critérios já mencionados, sendo selecionados três casos para o relato aqui realizado.

Os dados foram coletados entre os meses de setembro e novembro de 2019, por meio do emprego da técnica de entrevista (Fontana & Frey, 2011Fontana, A., & Frey, J. H. (2011). Interviewing: The art of science. In K. N. Denzin & Y. S. Lincoln (Orgs.), Handbook of qualitative research (Vol. 1, pp. 361–376). Thousand Oaks, CA: Sage.; McKenzie, 2007McKenzie, B. (2007). Techniques for collecting verbal stories. In H. Neergaard & J. P. Ulhøi, Handbook of qualitative research methods in entrepreneurship (Vol. 1, pp. 308–330). Cheltenham: Edward Elgar.). Essa atividade compreendeu a realização de encontros pessoais entre a equipe de pesquisadores e os agentes entrevistados no espaço das cervejarias estudadas – fábrica, escritórios administrativos, pubs, restaurantes ou bares. Realizaram-se nove entrevistas no total, sendo três em cada empresa, todas elas com autorização prévia dos entrevistados obtida por escrito. A quantidade de entrevistas foi definida com base no número de agentes centrais envolvidos em cada uma das cervejarias estudadas. Levou-se em consideração ainda o critério da saturação dos dados, observado quando se verificou que novos encontros pessoais para coletas de dados não adicionariam evidências relevantes à investigação aqui relatada (Fontanella, Ricas, & Turato, 2008Fontanella, B. J. B., Ricas, J., & Turato, E. R. (2008). Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: Contribuições teóricas. Cadernos de Saúde Pública, 24, 17–27.). A categorização das empresas estudadas e dos agentes entrevistados é apresentada de forma detalhada na Figura 3.1.

Figura 3.1
CERVEJARIAS ARTESANAIS ESTUDADAS E AGENTES ENTREVISTADOS

As entrevistas foram conduzidas com o auxílio de um roteiro (Gaskell, 2010Gaskell, G. (2010). Entrevistas individuais e grupais. In M. W. Bauer & G. Gaskell (Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: Um manual prático (Vol. 1, pp. 64–89). Petrópolis: Vozes. doi:10.1590/S1415-6555 2004000200016
https://doi.org/10.1590/S1415-6555200400...
), composto por perguntas abertas voltadas para a elucidação dos seguintes pontos: 1. trajetória histórica das cervejarias estudadas, apontando para eventos como a fundação, o surgimento e a caracterização da organização; 2. evolução e crescimento das empresas ao longo do tempo, apontando para elementos estratégicos, competitivos e de mercado; 3. recuperação de práticas de empreendedorismo estratégico, problematizando os processos que pudessem ser enquadrados como iniciativas de exploration, exploitation e ambidexterity.

Por fim, cumpre destacar que os dados coletados foram tratados com base na técnica de análise de narrativa (De La Ville & Mounoud, 2010De La Ville, V.-I., & Mounoud, E. (2010). A narrative approach to strategy as practice: Strategy making from texts and narratives. In D. Golsorkhi, L. Rouleau, D. Seidl, & E. Vaara (Eds.), Cambridge handbook of strategy as practice (Vol. 1, pp. 183–200). Cambridge, UK: Cambridge University Press. doi:10.1017/CBO9780511777882.013
https://doi.org/10.1017/CBO9780511777882...
). Por meio da leitura integrada de todas as transcrições, procedeu-se à identifi­cação de narrativas que ilustrassem as diferentes práticas observadas nas empresas estudadas. Para tanto, foram mapeadas narrativas sobre eventos como a criação do negócio, o processo de criação e/ou identificação de oportunidades, sua evolução e formalização, e aspectos vinculados a práticas de inovação na produção e comercialização de cervejas artesanais. Esse procedimento permitiu identificar as narrativas centrais relatadas em cada empresa estudada que poderiam ser posteriormente associadas às categorias teóricas de empreendedorismo estratégico – exploration, exploitation e ambidexterity, formando assim um quadro mais amplo, que viabilizou a construção das análises e discussões aqui empreendidas, possibilitando consequentemente a consecução dos objetivos da pesquisa.

4

PRÁTICAS DE EMPREENDEDORISMO ESTRATÉGICO EM CERVEJARIAS ARTESANAIS

Nesta seção, será explorada a configuração do empreendedorismo estratégico em cervejarias artesanais de Uberlândia, MG, com destaque à manifestação das práticas de exploration, exploitation e ambidexterity, que serão elencadas a seguir.

4.1

Práticas de exploration em cervejarias artesanais

As práticas de exploration se aproximam da concepção de inovações radicais (Borges et al., 2014Borges, A. F., Lima, J. B., & Andrade, D. M. (2014). Práticas de inovação em empresas familiares: Estudo de caso. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, 8(3), 37–54. doi:10.12712/rpca.v8i3.357
https://doi.org/10.12712/rpca.v8i3.357...
; Chen, 2017Chen, Y. (2017). Dynamic ambidexterity: How innovators manage explo­ration and exploitation. Business Horizon, 60(3), 385–394. doi:10.1016/j.bushor.2017.01.001
https://doi.org/10.1016/j.bushor.2017.01...
), sendo observadas em ações voltadas à criação e/ou à descoberta de novas oportunidades de negócio (Andriopoulos & Lewis, 2009; Luger et al., 2018Luger, J., Raisch, S., & Schimmer, M. (2018). Dynamic balancing of exploration and exploitation: The contingent benefits of ambidexterity. Organization Science, 29(3), 449–470. doi:10.1287/orsc.2017.1189
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). Diante disso, inicialmente, tem-se a própria criação das cervejarias artesanais estudadas como uma prática de exploration, uma vez que essas iniciativas representaram processos de identificação de oportunidades inovadores no mercado local (Figura 4.1.1).

Figura 4.1.1
PRÁTICAS DE EXPLORATION NA CRIAÇÃO DE CERVEJARIAS ARTESANAIS

As narrativas revelam diferentes trajetórias de abertura de cervejarias artesanais vinculadas à noção de exploration. A cervejaria A é considerada a primeira cervejaria artesanal instalada no Triângulo Mineiro, um negócio inovador que trouxe um novo tipo de proposta ao mercado por meio da oferta de um produto diferenciado, o que pode ser visto como uma inovação de caráter especificamente situado, do ponto de vista regional (Ferreira, Vasconcelos, Judice, & Neves, 2011Ferreira, R. H., Vasconcelos, M. R. C. L., Judice, V. M. M., & Neves, J. T. R. (2011). Inovação na fabricação de cervejas especiais na região de Belo Horizonte. Perspectivas em Ciência da Informação, 16(4), 171–191. doi:10.15 90/S1413-99362011000400011
https://doi.org/10.1590/S1413-9936201100...
). O caso da cervejaria B revela a abertura de negócio fundamentado em uma oportunidade pouco explorada no mercado local, haja vista se tratar de um setor emergente de atividade (Krohn, 2018Krohn, L. V. H. (2018). Beber, fazer, vender: Formação do mercado de cerveja “artesanal” no Brasil (Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil). doi:10.11606/D.8.2018.tde-28082018-091540
https://doi.org/10.11606/D.8.2018.tde-28...
; Santo & Carniello, 2019Santo, A. G. E., & Carniello, M. F. (2019). As microcervejarias da Região do Médio Paraíba Fluminense como possíveis vetores de desenvolvimento regional. Revista Gestão & Planejamento, 20(1), 310–327. doi:10.21714/2178-8030gep.v20.5889
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). Já a cervejaria C reflete a criação de empresa baseada em um modelo de negócio inovador (brewpub) do ponto de vista local e regional.

Paralelamente, a criação de novos produtos denota a apreensão de novas possibilidades para as empresas investigadas e para o setor cervejeiro de Uberlândia, podendo ser interpretadas como situações de exploration (Figura 4.1.2).

As narrativas ilustram a criação de receitas de cerveja, envolvendo interpretações próprias de estilos da bebida já conhecidos localmente e a exploração de tipos desconhecidos pelo público local – uma estratégia relativamente comum, mas significativa à institucionalização do setor (Tonelli et al., 2018Tonelli, A. O., Borges, A. F., Brito, M. J., & Zambalde, A. L. (2018). A trajetória das cervejarias artesanais brasileiras em busca de legitimação e institucionalização: Uma análise a partir de suas práticas estratégicas discursivas. Revista de Administração da UFSM, 11(4), 1068–1087. doi:10.5902/1983465 913716
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). Nos casos das cervejarias A e B, a introdução de novas cervejas foi pautada em decisões e preferências dos empreendedores e em influências do mercado e dos consumidores. Já no caso da cervejaria C, houve um processo de desenvolvimento de produtos baseado na criação de novas receitas, formando um portfólio com estilos cervejeiros únicos no mercado local. Com isso, tem-se a configuração de práticas de exploration a partir de um tipo específico de inovação de produto (Ferreira et al., 2011Ferreira, R. H., Vasconcelos, M. R. C. L., Judice, V. M. M., & Neves, J. T. R. (2011). Inovação na fabricação de cervejas especiais na região de Belo Horizonte. Perspectivas em Ciência da Informação, 16(4), 171–191. doi:10.15 90/S1413-99362011000400011
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).

Figura 4.1.2
PRÁTICAS DE EXPLORATION NA CRIAÇÃO DE NOVOS PRODUTOS

Adicionalmente, as práticas de exploration também foram observadas em atividades de produção e comercialização de cerveja artesanal (Figura 4.1.3).

Figura 4.1.3
PRÁTICAS DE EXPLORATION EM ATIVIDADES DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE CERVEJA ARTESANAL

Os entrevistados relatam a construção de diferentes práticas inovativas em torno do desenvolvimento de atividades de produção e comercialização de cerveja artesanal (Carmona, Cerutti, Gomes, & Melo, 2017Carmona, L. J. M., Cerutti, L., Jr., Gomes, G., & Melo, P. L. R. (2017). Orientação empreendedora, capacidade de aprendizagem organizacional e desempenho inovador no setor microcervejeiro. Revista de Negócios, 22(3), 64–80. doi:10.7867/1980-4431.2017v22n3p64-80
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; Ferreira et al., 2011Ferreira, R. H., Vasconcelos, M. R. C. L., Judice, V. M. M., & Neves, J. T. R. (2011). Inovação na fabricação de cervejas especiais na região de Belo Horizonte. Perspectivas em Ciência da Informação, 16(4), 171–191. doi:10.15 90/S1413-99362011000400011
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; Freitas, 2015Freitas, A. G. (2015). Relevância do mercado cervejeiro brasileiro: Avaliação e perspectivas e a busca de uma agenda de regulação. Pensamento & Realidade, 30(2), 22–33.; Krohn, 2018Krohn, L. V. H. (2018). Beber, fazer, vender: Formação do mercado de cerveja “artesanal” no Brasil (Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil). doi:10.11606/D.8.2018.tde-28082018-091540
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; Santo & Carniello, 2019Santo, A. G. E., & Carniello, M. F. (2019). As microcervejarias da Região do Médio Paraíba Fluminense como possíveis vetores de desenvolvimento regional. Revista Gestão & Planejamento, 20(1), 310–327. doi:10.21714/2178-8030gep.v20.5889
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). Do ponto de vista da produção, essas práticas incluíram a criação de equipamentos exclusivamente voltados para os processos de filtragem, armazenagem, fabricação e envase, e a utilização de insumos (leveduras, enzimas etc.) especificamente desenvolvidos para a produção da bebida. Do ponto de vista da comercialização, foram constatadas iniciativas voltadas para o posicionamento da empresa e o aumento de seu market share, envolvendo ações como a criação de canais para a venda da cerveja e a busca pelo acesso a novos mercados e consumidores.

Portanto, tem-se o reconhecimento da importância da abertura das cervejarias artesanais estudadas, da criação de novos produtos, bem como da introdução dessas inovações de produção e de mercado e comercialização, como decisões e ações que podem ser visualizadas no âmbito da categoria de exploration (Severgnini, Galdamez, & Vieira, 2018; Moraes & Lima, 2019Moraes, M. B., & Lima, E. (2019). Empreendedorismo estratégico em pequenas e médias empresas do setor aeronáutico brasileiro e canadense. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, 8(3), 256–301.). Diante disso, verifica-se que essa noção de exploration constitui uma categoria conceitual a ser observada no plano mais amplo do empreendedorismo estratégico, podendo ser considerada ponto de partida para a compreensão das especificidades desse fenômeno no âmbito das organizações do setor de cervejas artesanais estudadas, a partir de aspectos como a própria criação do negócio, bem como a criação de novos produtos, processos de produção e estratégias de comercialização. Assim, as iniciativas das cervejarias analisadas e discutidas anteriormente ilustram e elucidam a manifestação das práticas de exploration, reforçando o dinamismo e a competitividade das cervejarias artesanais estudadas no setor.

4.2

Práticas de exploitation em cervejarias artesanais

Associadas às ações de exploration, as práticas de exploitation foram observadas em situações particulares no contexto das cervejarias artesanais investigadas. Essas práticas encontram-se relacionadas ao aproveitamento de oportunidades já identificadas e envolvem a melhoria contínua e o refinamento de produtos, serviços, métodos e processos estabelecidos na organização (Goel & Jones, 2016Goel, S., & Jones, R. J., III (2016). Entrepreneurial exploration and exploitation in family business: A systematic review and future directions. Family Business Review, 29(1), 94–120. doi:10.1177/0894486515625541
https://doi.org/10.1177/0894486515625541...
; Moraes & Lima, 2019Moraes, M. B., & Lima, E. (2019). Empreendedorismo estratégico em pequenas e médias empresas do setor aeronáutico brasileiro e canadense. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, 8(3), 256–301.; Popadiuk & Bido, 2016Popadiuk, S., & Bido, D. de S. (2016). Exploration, exploitation, and organizational coordination mechanisms. Revista de Administração Contemporânea, 20(2), 238–260. doi:10.1590/1982-7849rac2016150018
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2016...
). Trata-se, então, de uma categoria endógena de empreendedorismo estratégico, próxima da concepção de inovação incremental (Fuentes et al., 2010Fuentes, M. del M. F., Arroyo, M. R., Bojica, A. M., & Pérez, V. F. (2010). Prior knowledge and social networks in the exploitation of entrepreneurial opportunities. International Entrepreneurship and Management Journal, 6(2), 481–501. doi:10.1007/s11365-010-0136-1
https://doi.org/10.1007/s11365-010-0136-...
).

Inicialmente, as práticas de exploitation foram observadas em ações voltadas a inovações incrementais de produtos e de produção de cerveja artesanal (Figura 4.2.1).

Figura 4.2.1
PRÁTICAS DE EXPLOITATION ASSOCIADAS À PRODUÇÃO DE CERVEJA ARTESANAL

As decisões e ações de exploitation de produto e produção de cerveja artesanal incluem a realização de iniciativas que contribuíram para a otimização de processos, o aumento da capacidade produtiva e a maximização da eficiência e da produtividade, o que viabilizou a introdução de modificações na cerveja produzida e ofertada ao mercado consumidor (Ferreira et al., 2011Ferreira, R. H., Vasconcelos, M. R. C. L., Judice, V. M. M., & Neves, J. T. R. (2011). Inovação na fabricação de cervejas especiais na região de Belo Horizonte. Perspectivas em Ciência da Informação, 16(4), 171–191. doi:10.15 90/S1413-99362011000400011
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). Verificou-se também a introdução de refinamentos contínuos que envolveram a utilização de insumos diferenciados, como maltes e lúpulos importados, leveduras selecionadas desenvolvidas em laboratório e água com tratamentos especiais, além do emprego de enzimas, lactobacilos e aditivos para potencializar a qualidade das cervejas artesanais (Krohn, 2018Krohn, L. V. H. (2018). Beber, fazer, vender: Formação do mercado de cerveja “artesanal” no Brasil (Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil). doi:10.11606/D.8.2018.tde-28082018-091540
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). Os relatos revelaram ainda melhorias aplicadas a partir da adoção de novas tecnologias, com a aquisição de novas máquinas e equipamentos.

Paralelamente, também foram identificadas iniciativas de exploitation em decisões e ações de comercialização de cerveja artesanal (Figura 4.2.2).

Figura 4.2.2
PRÁTICAS DE EXPLOITATION ASSOCIADAS À COMERCIALIZAÇÃO DE CERVEJA ARTESANAL

Verificou-se que as cervejarias exploraram a realização de eventos e de ações mercadológicas voltadas à fidelização de clientes, e a definição de estratégias para melhor explorar seus pontos de venda – fábrica, brewpubs, bares e restaurantes. Além disso, as cervejarias firmaram parcerias com distribuidores com o intuito de escoar sua produção e aumentar seu campo de ação em uma perspectiva regional, e também investiram na própria distribuição, a partir de vendas externas para exploração do mercado local.

Dessa forma, as práticas de exploitation podem ser visualizadas como inovações incrementais (Carmona et al., 2017Carmona, L. J. M., Cerutti, L., Jr., Gomes, G., & Melo, P. L. R. (2017). Orientação empreendedora, capacidade de aprendizagem organizacional e desempenho inovador no setor microcervejeiro. Revista de Negócios, 22(3), 64–80. doi:10.7867/1980-4431.2017v22n3p64-80
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; Ferreira et al., 2011Ferreira, R. H., Vasconcelos, M. R. C. L., Judice, V. M. M., & Neves, J. T. R. (2011). Inovação na fabricação de cervejas especiais na região de Belo Horizonte. Perspectivas em Ciência da Informação, 16(4), 171–191. doi:10.15 90/S1413-99362011000400011
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), demonstrando o potencial de exploração de oportunidades já acessadas pelos empreendedores das cervejarias artesanais estudadas em um setor de competitividade crescente. Essas ações refletem na qualidade do produto que é oferecido aos consumidores. Assim, o empreendedorismo estratégico relaciona as práticas de exploration e exploitation, apontando para situações de equilíbrio que denotam possibilidades de posturas ambidestras das cervejarias artesanais estudadas.

4.3

Práticas de ambidexterity em cervejarias artesanais

A partir das práticas de exploration e exploitation, foi possível identificar situações de ambidestria (Koriak et al., 2018Koriak, O., Lockett, A., Hayton, J., Nicolaou, N., & Mole, K. (2018). Disentangling the antecedents of ambidexterity: Exploration and exploitation. Research Policy, 47(2), 413–427. doi:10.1016/j.respol.2017.12.003
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), que sugerem a capacidade das organizações estudadas de melhorar e aperfeiçoar rotinas e processos, e, ao mesmo tempo, adaptar-se a mudanças a partir da criação de novas práticas oriundas do surgimento de novas oportunidades (Raisch & Birkinshaw, 2008Raisch, S., & Birkinshaw, J. (2008). Organizational ambidexterity: Ante­cedents, outcomes, and moderators. Journal of Management, 34(3), 375–409. doi:10.1177/0149206308316058
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). Essas práticas são elucidadas a partir das narrativas dos entrevis­tados e contextualizadas no âmbito de cada cervejaria artesanal investigada (Figura 4.3.1).

Em termos específicos, as narrativas dos entrevistados, devidamente contextualizadas no âmbito de cada cervejaria artesanal investigada, revelam a configuração de práticas de ambidestria a partir de um equilíbrio entre iniciativas de exploration e de exploitation (Chen, 2017Chen, Y. (2017). Dynamic ambidexterity: How innovators manage explo­ration and exploitation. Business Horizon, 60(3), 385–394. doi:10.1016/j.bushor.2017.01.001
https://doi.org/10.1016/j.bushor.2017.01...
; Gupta et al., 2006Gupta, A. K., Smith, K. G., & Shalley, C. E. (2006). The interplay between exploration and exploitation. Academy of Management Journal, 49(4), 693–706. doi:10.5465/amj.2006.22083026
https://doi.org/10.5465/amj.2006.2208302...
; Koriak et al., 2018Koriak, O., Lockett, A., Hayton, J., Nicolaou, N., & Mole, K. (2018). Disentangling the antecedents of ambidexterity: Exploration and exploitation. Research Policy, 47(2), 413–427. doi:10.1016/j.respol.2017.12.003
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; Luger et al., 2018Luger, J., Raisch, S., & Schimmer, M. (2018). Dynamic balancing of exploration and exploitation: The contingent benefits of ambidexterity. Organization Science, 29(3), 449–470. doi:10.1287/orsc.2017.1189
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; Moss et al., 2014). Entre essas práticas, destacaram-se aspectos como a própria criação das cervejarias estudadas, ações voltadas à consolidação dessas empresas no mercado, as definições e redefinições de seus modelos de negócio, a criação de novos tipos e estilos de cerveja e as melhorias em termos de aumento da capacidade produtiva, da qualidade dos produtos, na satisfação dos consumidores, da participação de mercado, da fidelização de clientes e na adoção de novas tecnologias.

Figura 4.3.1
AMBIDESTRIA EM CERVEJARIAS ARTESANAIS

Assim, reforça-se a importância do equilíbrio entre exploration e exploi­tation, por meio de diferentes inovações radicais e incrementais que se coadunam e contribuem para a configuração da ambidestria organizacional (Andriopoulos & Lewis, 2009; Gibson & Birkinshaw, 2004Gibson, C. B., & Birkinshaw, J. (2004). The antecedents, consequences, and mediating role of organizational ambidexterity. Academy of Management Journal, 47(2), 209–226. doi:10.5465/20159573
https://doi.org/10.5465/20159573...
; Raisch & Birkinshaw, 2008Raisch, S., & Birkinshaw, J. (2008). Organizational ambidexterity: Ante­cedents, outcomes, and moderators. Journal of Management, 34(3), 375–409. doi:10.1177/0149206308316058
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; Severgnini et al., 2019Severgnini, E., Takahashi, A. R. W., & Abib, G. (2019). Risco e ambidestria organizacional: Uma meta-síntese dos estudos de caso e proposta de um framework. Brazilian Business Review, 16(5), 470–499. doi:10.15728/bbr. 2019.16.5.4
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). A ambidestria se firma a partir da manifestação de elementos que estabelecem e evidenciam o equilíbrio entre ações de exploration e de exploitation, como a criação da cervejaria aliada à delimitação e ao refinamento do modelo de negócio, o aumento da participação de mercado aliado a melhorias em termos de qualidade e processo produtivo e de comercialização, a criação de novos produtos aliada à busca de melhorias na produção e na produtividade, entre outras possibilidades. Logo, por meio da análise dos dados coletados, foi possível realizar uma síntese das práticas encontradas que se referem às dimensões de exploration, exploitation e ambidexterity, as quais fundamentam as bases do empreendedorismo estratégico (Hitt et al., 2011; Kuratko & Audretsch, 2009Kuratko, D. F., & Audretsch, D. B. (2009). Strategic entrepreneurship: Exploring different perspectives of an emerging concept. Entrepreneurship Theory and Practice, 33(1), 1–17. doi:10.1111/j.1540-6520.2008.00278.x
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; Mazzei, 2018; Mazzei et al., 2017Mazzei, M. J., Ketchen, D. J., Jr., & Shook, C. L. (2017). Understanding strategic entrepreneurship: A “theoretical toolbox” approach. International Entrepreneurship and Management Journal, 13(2), 631–663. doi:10.1007/s11 365-016-0419-2
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).

5

CONCLUSÃO

O objetivo deste artigo consistiu em compreender a configuração do empreendedorismo estratégico a partir da manifestação de práticas de exploration, exploitation e ambidestria em cervejarias artesanais de Uberlândia. Para tanto, foi realizado um estudo qualitativo de casos em três organizações produtoras da bebida, buscando averiguar, nas narrativas dos agentes entrevistados, decisões e ações empreendedoras que puderam ser posteriormente categorizadas e reinterpretadas sob a perspectiva do empreendedorismo estratégico.

De modo específico, a concepção de empreendedorismo estratégico forneceu um quadro conceitual que viabilizou a apreensão das práticas de identificação e exploração de oportunidades de negócio, das práticas de criação das empresas investigadas, das práticas de construção de processos inovativos em nível organizacional e de mercado. Esse conjunto de práticas foi analisado e discutido à luz do quadro teórico construído, possibilitando assim a sua consideração a partir das dimensões de exploration e exploitation.

Em relação à exploration, destacam-se a cervejaria A, dado o pioneirismo da empresa no mercado de Uberlândia e na região do Triângulo Mineiro, e a cervejaria C, que lançou no mercado local o modelo de negócio denominado brewpub (fabricação e consumo no mesmo local). Paralelamente, verifica-se que foram desenvolvidas iniciativas de exploitation em todos os casos estudados, haja vista que o setor cervejeiro artesanal é condicionado à introdução de constantes e contínuas modificações e melhorias em produtos, serviços, processos, e estratégias de produção e de comercialização.

Com base nesse movimento, verificou-se um equilíbrio inicial entre as ações de exploration e exploitation, o que reflete a configuração da ambidestria organizacional. De fato, a manifestação de um comportamento ambidestro nas cervejarias contribuiu para o desenvolvimento de suas atividades internas e também para a formação de diferenciais específicos em seu setor de atuação, em uma perspectiva local e regional. Tal contexto se tornou evidente na medida em que elementos como a identificação de oportunidades de melhorias em processos produtivos e adequações de novas técnicas, instrumentos e equipamentos de produção colaboraram para a criação de novas receitas, a adaptação de estilos ao mercado local, a criação de novas formas de comercialização, entre outras práticas.

Portanto, conclui-se que a manifestação do empreendedorismo estratégico permitiu colocar em evidência a capacidade que as cervejarias artesanais investigadas possuem para lidar com as diversas possibilidades em termos de exploration, exploitation e ambidexterity. Com efeito, as práticas associadas a essas dimensões repercutiram em diferentes práticas que podem ser igualmente vinculadas à construção de processos de inovação radical e de inovação incremental, o que repercute de forma decisiva na competitividade das empresas estudadas, em seu desenvolvimento do ponto de vista organizacional e em suas perspectivas de sobrevivência no mercado. Com isso, revela-se o vigor da noção de empreendedorismo estratégico para o estudo do fenômeno empreendedor.

Cumpre ressaltar que a presente pesquisa possui algumas limitações. Houve uma escolha metodológica pela restrição do foco da investigação em cervejarias artesanais da cidade de Uberlândia, em função de critérios de acesso ao campo. Sendo assim, estudos futuros poderiam investigar a realidade de negócios de diferentes localidades e/ou regiões, para averiguar similaridades e diferenças em termos de empreendedorismo e inovação no referido setor de atividade. Além disso, optou-se por uma delimitação dos casos a serem estudados por meio de um recorte daqueles objetos considerados mais adequados à realização do estudo. Nesse sentido, investigações futuras poderiam focar a ampliação do número de casos a serem analisados, bem como recorrer a metodologias quantitativas e/ou perspectivas de triangulação de métodos, para obter maior amplitude e alcance dos achados da pesquisa.

Não obstante, acredita-se que, apesar de tais limitações, a investigação aqui relatada apresenta algumas contribuições. Uma implicação prática do presente trabalho consiste na possibilidade de realçar a relevância da inovação e do comportamento ambidestro para os processos de mudança e transformação organizacional vivenciados no cotidiano das cervejarias estudadas, haja vista seu impacto estratégico. Com base nesse cenário, podem-se, inclusive, estabelecer meios para fomentar a execução de decisões e ações voltadas à exploração de novas oportunidades e à explotação de produtos e processos já existentes, de modo a construir uma capacidade dinâmica inovativa de cervejarias artesanais. Com isso, acredita-se que o estudo agrega à literatura e contribui ao lançar luzes sobre a manifestação do empreendedorismo estratégico no contexto de cervejarias artesanais, destacando o potencial que a apreensão de processos de inovação e de renovação estratégica assume para a compreensão do contexto das empresas investigadas, o que pode, igualmente, ser extrapolado para a compreensão e a explicação da realidade vivenciada por outras cervejarias inseridas nesse mercado.

Do ponto de vista científico, o presente estudo se mostra relevante ao explorar a noção de empreendedorismo estratégico, uma temática relativamente pouco explorada nos estudos brasileiros sobre o fenômeno empreendedor e que tem ganhado destaque em uma perspectiva internacional nos campos de estudos sobre empreendedorismo e inovação, sobretudo a partir dos conceitos de exploration, exploitation e ambidexterity. Mais ainda, este estudo contribui ao aplicar a concepção de empreendedorismo estratégico ao contexto de cervejarias artesanais, um tipo específico de organização que pertence a um setor de atividade emergente e ainda pouco explorado no plano mais amplo da pesquisa em administração e empreendedorismo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Out 2021
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    25 Abr 2020
  • Aceito
    22 Jan 2021
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