Proposta de ferramenta para diagnóstico do grau de inovação percebido em empresas do ambiente construído

Framework proposition for diagnosing the degree of innovation perceived in companies in the built environment

Resumo

Anecessidade de inovar está diretamente relacionada ao crescimento econômico e à competitividade. Algumas barreiras são observadas no processo de implantação da inovação na construção civil, a exemplo da falta de entendimento dos benefícios da inovação no setor. Diante da importância dos agentes envolvidos na construção como facilitadores do processo de inovação, é necessário identificar suas percepções acerca do tema. No presente estudo é proposta uma ferramenta que objetiva captar a percepção da inovação pelos agentes internos da construção civil e que permite a comunicação do diagnóstico da inovação em uma empresa. A ferramenta desenvolvida está dividida em três etapas: (i) desenvolvimento da estrutura através da revisão teórica; (ii) aplicações em estudo de caso e no meio acadêmico, gerando ajustes ao questionário e ao infográfico; e (iii) desenvolvimento da versão final da ferramenta e de sugestões de ações por cada categoria). A proposta da ferramenta mostrou-se eficiente para o diagnóstico acerca da percepção dos agentes da inovação, além de trazer resultados práticos no embasamento para tomada de decisão nas empresas.

Palavras-chave:
Percepção da inovação; Inovação; Diagnóstico da inovação

Abstract

Innovation is directly related to economic growth and competitiveness. Some barriers can be observed during the process of implementing innovation in civil construction, such as the lack of understanding related to the innovation benefits in the sector. Considering the importance of agents involved in construction as promoters of the innovation process, it is necessary to identify their perceptions about the innovation concept. The present study addresses how to capture the perception of innovation by the civil construction internal agents and allow the communication of innovation diagnosis in a company. The framework developed is divided into three stages: (i) development of the structure through theoretical review; (ii) rounds of applications are carried out in a case study and in the academic environment, generating adjustments to the questionnaire and infographic; and (iii) development of the final version of the framework and the suggested actions for each category). The framework proposal proved to be efficient for diagnosing the perception of innovation agents, in addition to bringing practical results on the basis for decision making with companies.

Keywords:
Innovation perception; Innovation; Diagnosis of innovation

Introdução

A busca pela inovação faz-se necessária visto seu papel fundamental no crescimento econômico, na competitividade e na criação de mercados, por reduzir preços, buscar o melhor valor e melhorar produtos e serviços (OZORHON; ORAL; DEMIRKESEN, 2016; KAMAL; YUSOF; IRANMANESH, 2016). A incorporação da inovação no ambiente construído requer esforços conscientes para adaptar práticas de trabalho, desenvolver novas habilidades e reconfigurar a identidade e o papel dos agentes envolvidos no processo de projeto e em toda a cadeia (SCHWEBER; HARTY, 2010). Todavia, existe a percepção por profissionais de que a inovação no setor da construção civil é rara devido a seu lento grau de modificação, porque, quando comparado com outros setores, como o da informática, aquele adota novas tecnologias e produtos numa velocidade relativamente menor (GAMBATESE; HALLOWELL, 2011).

Os baixos níveis de inovação e progresso tecnológico na indústria da construção civil podem estar atrelados aos reduzidos investimentos destinados à pesquisa e ao desenvolvimento (OESTERREICH; TEUTEBERG, 2016). Além disso, a natureza complexa do setor e dos processos de projeto podem incorrer na baixa performance e criar dificuldades para gerar valor (POIRIER; FORGUES; STAUB-FRENCH, 2016). Países em desenvolvimentocontam com outras dificuldades. No Brasil foram elencados fatores que prejudicam as atividades inovativas: custos, riscos, fontes de financiamento apropriadas, rigidez organizacional, escassez de serviços técnicos externos, pessoal não qualificado, informações insuficientes, escassas possibilidades de cooperação, dificuldade para adequar-se a padrões, normas e regulamentações (INSTITUTO..., 2021).

O processo de inovar é complexo e multidimensional, mas é fundamental para garantir o sucesso, a competitividade e o avanço na agenda da sustentabilidade (MATINARO; LIU, 2017). Logo, esforços devem ser empregados visando ao enfrentamento dos desafios atrelados à incorporação da inovação no cotidiano da empresa e nos processos de projeto. A implementação efetiva de uma inovação depende da habilidade do proponente de demonstrar sua real atuação na redução de custos, na diminuição da duração das tarefas e no melhoramento da qualidade e da segurança (TOOLE, 2001). Por outro lado, a adoção de inovação na construção requer que os gestores sejam mais ativos, criem um relacionamento colaborativo com fornecedores e superem barreiras que impeçam a inovação, tais como a solicitação e a especificação de produtos e serviços já consolidados, que poderiam ser substituídos por inovações (SARIOLA, 2018).

No setor da construção civil, a colaboração entre os diferentes agentes é imperativa, pois permite o enfrentamento da fragmentação, a qual representa uma das principais barreiras para a inovação (POIRIER; FORGUES; STAUB-FRENCH, 2016). No mesmo sentido do papel da colaboração, Bygballe e Ingemansson (2014) trazem em sua revisão que a identificação do tipo de inovação ocorre na construção, partindo da identificação dos vínculos de atividades, dos vínculos de recursos e dos papéis entre os atores da construção.

Nesse contexto se insere a percepção da inovação na indústria da construção como agente de mudança. Esse papel é tão importante que, segundo pesquisa de Owolabi et al. (2019), a percepção de que a indústria da construção civil está satisfatória sem inovações é uma das duas principais barreiras levantadas para a implementação da inovação - juntamente com a falta de entendimento dos benefícios da inovação no setor. Segundo entrevistas conduzidas por Abadi (2014), a percepção da inovação pelos diversos participantes varia e é representada por marcos tecnológicos de produto ou de processos. Marcos tecnológicos de processo se referem ao uso de BIM, melhora de valor, aprendizado pela prática e gestão Lean. Os marcos tecnológicos de produto se referem a construção pré-moldada, materiais resistentes à água, aquecimento de piso, coberturas verdes e estratégias de compra de energia, entre outros.

Diante do exposto, em paralelo aos desafios apresentados, a percepção dos atores e clientes envolvidos no processo da construção tem papel de destaque na inovação percebida no setor, pois há indícios de que essa percepção afeta diretamente a qualidade que estará associada a essa inovação e à satisfação antecipada (GLEIM; LAWSON; ROBINSON, 2015). Assim, considerando a importância dos agentes envolvidos na construção civil e sua influência como facilitadores do processo de inovação, é necessário identificar suas percepções da aplicação da inovação e investimentos necessários para isso. Portanto, o objetivo do trabalho é propor uma ferramenta para diagnóstico do grau de inovação em empresas do ambiente construído.

Inovação no ambiente construído

A definição de inovação segundo o Manual de Oslo é: “Uma inovação é um produto ou processo novo ou aprimorado (ou a combinação deles) que difere significativamente dos produtos ou processos anteriores da unidade e que foi disponibilizado para usuários em potencial (produto) ou colocado em uso pela unidade (processo).” (ORGANISATION..., 2018, p. 246).

A obra de Schumpeter (1911) foi a primeira a abordar a relevância da inovação para os processos econômicos. A inovação conduz o desenvolvimento econômico por meio de um processo dinâmico, em que as tecnologias antigas são substituídas pelas novas, processo denominado de “destruição criadora”. Ainda, inovação não é somente uma novidade por si só, é uma nova combinação de ideias e fatores de produção; não está apenas associada à sofisticação de técnicas, mas à adaptação de uso no contexto às quais estão inseridas (FAGERBERG; MOWERY; NELSON, 2004). Além disso, a inovação é resultado do emprego de novos recursos e de novas formas de produzir, gerando descontinuidades e quebra de rotinas no sistema econômico (CASTRO; KRUGER, 2013). O processo de inovação envolve indivíduos capazes de promover a inovação mesmo em condições desfavoráveis, junto com outros indivíduos com sua visão de futuro (LEIRINGER; CARDELLINO, 2008).

No contexto da construção civil, investimentos em inovação são fundamentais para um bom desempenho no longo prazo das empresas e há indícios de que inúmeras inovações do setor estão atreladas ao emprego de novas tecnologias e a colaboração entre os diferentes atores (RUŽIČIĆ; MILETIĆ; DOBROTA, 2021). Além disso, a construção civil pode ser considerada um sistema de produto complexo, em que o projeto envolve a resolução de problemas à medida que as tecnologias e técnicas são adaptadas e aplicadas para atender às necessidades específicas do cliente e do local (WINCH, 1998). O autor pontua que esse processo pode ser considerado inovador quando as soluções alcançadas são aprendidas, categorizadas e replicadas em processos futuros de projeto.

Estudos anteriores indicam que o setor apresenta resistência em investir em novos métodos, porque mudar a forma tradicional de construir é desafiador e o retorno do investimento não é garantido. Entretanto, transpor essa barreira é possível mediante esforços para desenvolver relações de longo prazo com fornecedores, trabalho colaborativo e envolvimento precoce entre as partes (OZORHON, 2013).A inovação no setor pode ocorrer em diferentes tipos:

1. tecnologias da informação;

2. dispositivos eletrônicos baseados em computador;

3. produtos finais (projeto e obra);

4. técnicas e métodos de construção; e

5. equipamentos de construção (GAMBATESE; HALLOWELL, 2011).

Sendo assim, inovação não está restrita apenas a ciência e tecnologia; seu surgimento pode estar associado a uma reação do mercado (CARAÇA; LUNDVALL; MENDONÇA, 2009).

Marcos da inovação na construção civil

Estudos que investigam a inovação no ambiente construído foram desenvolvidos ao longo do tempo. Parida et al. (2015) indicam que a adoção de novas tecnologias digitais como inteligência artificial (IA), big data, machine learning e internet of things (IoT) na prática da construção podem ajudar a colocar a indústria entre os principais setores produtivos.

Na prática, verifica-se que as empresas podem atuar criando ou somente adotando inovações propostas. A diferença está associada a seu grau ou nível de originalidade, a seu propósito, às atividades envolvidas e a sua natureza (com relação ao risco, custo e tempo) (KAMAL; YUSOF; IRANMANESH, 2016). Quando as inovações são disruptivas, Zubizarreta et al. (2021) as definem como aquelas capazes de romper com o que já estava estabelecido na sociedade e que, além disso, alcançam níveis de sucesso tão indiscutíveis que empresas de diversos setores são obrigadas a introduzir essas mudanças em seu dia a dia. Os autores citam como inovações disruptivas da construção civil a industrialização, a modularização dos materiais, a digitalização das informações, a mecanização e a automatização.

A industrialização no setor da construção civil se associa muito à necessidade de integração, ressaltando-se que a incompatibilidade de informações entre os projetistas, calculistas, operários e gestores barra a inclusão de processos industriais, segundo Blachère (1977). Lessing (2006) cita que a industrialização pode ser assumida como um problema-chave para a indústria da construção e que uma implementação de sucesso inclui grandes oportunidades, mas também requer grandes esforços por parte de todos os envolvidos. Assim, de acordo com esses dois autores, o fundamento da industrialização se relaciona ao da inovação à medida que há inclusão de novas atividades, recursos e atores no processo construtivo.

Dessa forma, a industrialização tem se tornado uma área de desenvolvimento estratégico, de modo a criar oportunidades de negócios e métodos de construção mais eficientes (LESSING, 2006) e estabelecer referências ao longo da evolução dos processos construtivos, a exemplo dos sistemas pré-moldados e da construção em série (GIBB, 2001).

Outro marco de inovação no setor da construção é o uso do Building Information Modeling (BIM), e o trabalho de Lindblad e Gustavsson (2021) traz o importante papel do setor público em sua implementação ao exigir seu uso nas áreas em que atuam. Além disso, a capacidade de absorção na implementação do BIM é investigada, que é a capacidade que permite que organizações ampliem e refinem suas competências ou inovem, facilitando a mudança organizacional (LEAL-RODRIGUEZ et al., 2014). O potencial da esfera pública já havia sido identificado por Havenvid et al. (2016), ao indicarem que clientes públicos são importantes condutores de inovação no meio porque podem estimular um comportamento inovador a partir da especificação de requisitos em aquisições. Adicionalmente, Dallasega, Rauch e Linder (2018) mencionam que as tecnologias da Indústria 4.0 influenciam principalmente as dimensões de proximidade tecnológica, organizacional, geográfica e cognitiva, afetando diretamente a cadeia de suprimentos do setor da construção civil. Ademais, a adoção de novas tecnologias pode induzir melhorias habitacionais que envolvam flexibilização, personalização, modulação e gerenciamento das informações durante o ciclo de vida da edificação (MORORÓ et al., 2016).

Os marcos mencionados no presente trabalho não esgotam a lista de inovações existentes, mas buscam exemplificar como a inovação ocorre no setor da construção civil. Estudos também indicam que tais inovações são impulsionadas por diferentes agentes e objetivos. Meng e Brown (2018) apontam que os principais motivadores são:

1. melhoria de saúde e segurança;

2. satisfação do cliente;

3. melhores práticas;

4. economia de custos;

5. novas oportunidades de negócios;

6. competição de mercado;

7. mudança no ambiente de negócios;

8. construção sustentável;

9. demandas do cliente;

10. imagem corporativa;

11. vantagens competitivas;

12. produtividade;

13. sobrevivência e prosperidade;

14. integração de projeto e construção;

15. avanços tecnológicos;

16. alteração de regulamentos; e

17. concorrência global.

Além disso, o Manual de Oslo (ORGANISATION..., 2006) aborda diversas razões para que as empresas inovem, entre elas melhora dos produtos, mercados, eficiência, qualidade ou capacidade de aprendizado e implementação de mudanças.

Faria e Fonseca (2015) complementam que tais processos e estímulos devem ser embasados em premissas que englobam, entre outros, uma gestão sistêmica para a compreensão da inovação, o estabelecimento e entendimento das dimensões de interação do empreendimento/empresa e a comunicação entre os diferentes envolvidos no processo de inovação - clientes, governo, entidades regulatórias, fornecedores, equipe de projeto e equipe de execução. Entre essas partes, os clientes têm um papel relevante no processo de construção e no produto final, pois seu apoio às soluções inovadoras pode estar diretamente associado à adoção delas (HARTMANN; REYMEN; VAN OOSTEROM, 2008). No que tange às entidades regulatórias, a inovação deve atender a aspectos regulatórios, sejam normas de edificações, sejam requisitos legais.

Percepção da inovação pelos agentes da construção civil

A inovação no ambiente construído é abordada por um número significativo de trabalhos acadêmicos, todavia são escassos aqueles que abordam a percepção da inovação no ambiente construído. O estudo de Nazli e Mutlu (2018) se baseou na análise da percepção de inovação através de um questionário com cinco questões dissertativas respondidas por 94 pessoas de uma universidade na Turquia (estudantes e funcionários). Os resultados mostraram que a maioria dos participantes aborda questões de recursos humanos, criatividade e cultura organizacional como fatores de inovação. Por outro lado, Monteiro e Miron (2018) propõem um método de avaliação da percepção de valor de técnicos e de usuários em habitação de interesse social. Os resultados indicam que o atributo “unidade habitacional” registrou os maiores índices de insatisfação e os motivos mais representativos para a saída dos usuários dos empreendimentos avaliados, o que denota um alto valor dado à percepção do ambiente construído. Mendes, Fabricio e Imai (2020) identificam que um dos maiores problemas relacionados ao uso de sistemas construtivos inovadores é a falta de manutenção por parte dos usuários e de assistência técnica da moradia, principalmente pela insuficiência de informações no manual de uso, operação e manutenção desses sistemas inovadores. Isso pode ser um empecilho à percepção das vantagens associadas à inovação no ambiente construído.

A gestão da inovação pode trazer benefícios no nível de projeto, bem como de empresa (OZORHON, 2013), e permite o planejamento e controle das atividades (PELLICER et al., 2012). Em estudo realizado em empresa espanhola de médio porte da construção civil durante nove anos, verificou-se que a padronização é fundamental para a gestão da inovação, pois esforços e ideias ocasionais não são suficientes para um desenvolvimento de longo prazo e a gestão do conhecimento pode ser um diferencial (YEPES et al., 2016). De acordo com o mesmo estudo, a captação da opinião dos colaboradores e seu registro num banco de dados pode facilitar os processos criativos que resultarão em inovação. Outro estudo que avalia a gestão da inovação é o de Souza e Sabbatini (2004), que propõem uma metodologia composta de oito etapas:

1. identificação do problema;

2. formulação dos objetivos;

3. seleção dos critérios;

4. identificação de alternativas;

5. avaliação;

6. seleção;

7. aprovação da decisão; e

8. implantação.

Na esfera das equipes de projeto e execução deve haver boa comunicação e colaboração. Poirier, Forgues e Staub-French (2016) investigaram como a colaboração pode ocorrer no setor da construção civil e como ela pode fomentar a inovação. Para isso, foram identificadas, por meio de revisão de literatura, cinco categorias fundamentais:

1. estrutura;

2. processo;

3. agentes;

4. artefatos; e

5. contexto.

Tais categorias estão alinhadas com o 2º Caderno de Casos de Inovação na Construção Civil (CÂMARA..., 2014), em que são elencadas quatro categorias das quais a inovação é dependente:

1. estratégia;

2. ambiente;

3. método; e

4. pessoas.

A equivalência entre elas ocorre da seguinte forma: estrutura/ambiente, processo/estratégia, agentes/pessoas, artefatos/métodos e contexto (este não conta com correspondente).

Considerando a forte influência de cada um dos agentes identificados, fica explícito que a percepção e colaboração deles é fundamental para a efetiva implementação da inovação. Nazli e Mutlu (2018) trazem que a definição de percepção da inovação é um problema atual, por ser um termo que não tem clara definição e cujos estudos se dividiram em diversas frentes, tais como percepção dos clientes sobre produtos/serviços inovadores, percepção de um tipo específico de inovação e percepções de inovação em um grupo/setor específico.

Dessa forma, o presente estudo propõe uma ferramenta para o diagnóstico da aplicação e investimento em inovação nas empresas através da percepção da inovação dos agentes da construção civil. A revisão permitiu mapear as categorias necessárias para a inovação e os direcionamentos para melhorias.

Método

Os procedimentos de pesquisa foram organizados em duas etapas, como ilustrado na Figura 1:

1. revisão de literatura; e

2. proposição de ferramenta para captura da percepção da inovação dos agentes do setor da construção civil.

A primeira etapa foi apresentada no referencial teórico. As demais etapas são desenvolvidas na continuação.

Proposição de ferramenta de percepção da inovação no ambiente construído

A proposição da ferramentade diagnóstico foi dividida em três subetapas:

1. desenvolvimento da estrutura com revisão e fundamentação teórica, questionário para coleta de dados e infográfico para comunicação do diagnóstico;

2. ciclos de aplicação e ajustes em estudo de caso e no meio acadêmico; e

3. revisão da versão final com sugestões de ações para cada categoria.

Proposição da estrutura da ferramenta

A captura da percepção da inovação pelos agentes envolvidos no setor da construção civil demandou fundamentação teórica, captura dos dados e comunicação dos resultados, como apresentado na Figura 2. No que tange à fundamentação teórica, foram elencadas as categorias e subcategorias que impulsionam os processos de inovação. Tais dados foram selecionados através de revisão de literatura e permitiram mapear os direcionamentos para melhorias em cada aplicação.

Figura 1
Fluxograma das etapas da pesquisa

Figura 2
Estrutura da ferramenta de captura da percepção da inovação

A captura dos dados de percepção ocorreu por meio de um questionário estruturado. A escolha ocorreu devido ao fato de o questionário ser um instrumento de pesquisa com uma série ordenada de perguntas sobre determinado assunto, que podem ser respondidas por escrito e sem a presença do pesquisador (RHEINGANTZ et al., 2009).

Posteriormente à coleta dos dados, foi necessário organizar as informações de modo que elas pudessem servir de instrumento para a tomada de decisão em processos de avaliação da empresa e para definição de direcionamentos, melhorias e planos de ação. Assim, optou-se por dispor os resultados na forma de um infográfico, sintetizando todos os resultados obtidos. Os infográficos são ferramentas com reconhecida utilidade e potencial no processo de síntese, organização e apresentação de dados complexos e diversos, promovendo a apresentação e a hierarquização das informações para objetivos específicos (OLIVEIRA et al., 2017).

Ciclos de aplicação e ajustes

A aplicação da ferramenta proposta ocorreu em duas etapas. Nas duas etapas ocorreu uma conversa inicial com os entrevistados, em que se explicaram o objetivo da pesquisa e o conceito de inovação proveniente do Manual de Oslo. Cabe a ressalva de que, mesmo com a explanação, cada entrevistado conta com sua subjetividade e que existem distintas definições para inovação. O mesmo desafio foi reportado por Cirera e Muzi (2020), que reforçam que pode haver interpretações divergentes e, em países em desenvolvimento, isso pode ser mais complexo, pois ocorrem mais inovações incrementais, trazendo dificuldades para avaliar quando um processo é novo ou somente significativamente melhorado.

Na primeira etapa foi realizada a aplicação do questionário em um estudo de caso com o objetivo de verificar a estrutura dele e sua capacidade de captar as informações necessárias. A empresa selecionada, localizada na cidade de Porto Alegre, RS, atua há três décadas no mercado imobiliário da capital e região metropolitana. Entre os diferentes empreendimentos lançados pela empresa, foi selecionado aquele que emprega uma abordagem inovadora, buscando integrar as funções do morar, do trabalhar e do setor comercial.

O questionário foi aplicado inicialmente em 5 funcionários com funções distintas no empreendimento, de modo a captar a percepção em diferentes níveis hierárquicos.

A segunda etapa de aplicação ocorreu com o meio acadêmico visando aprimorar a fundamentação teórica, através das categorias e subcategorias, avaliar a nova versão do questionário, resultante dos ajustes após o estudo de caso, e verificar a efetividade de comunicação do infográfico. Concordando com esse propósito, foram selecionados 4 integrantes do meio acadêmico com aderência às temáticas de construção civil, inovação, sistemas construtivos, processos de gestão e inovação. O convite se deu através de e-mails e conversas em plataformas virtuais, com uma apresentação inicial da ferramenta e, em seguida, a condução de cinco perguntas semiestruturadas abertas. A etapa de aplicação ocorreu entre os dias 8 e 9/3/2021, com duração média de 1 h para cada entrevistado.

Revisão da versão final da ferramenta

Nessa etapa foram compilados os ajustes apontados nas etapas anteriores de avaliação e como eles foram traduzidos em modificações na ferramenta. Além disso, os resultados do estudo de caso foram organizados em um infográfico de diagnóstico da avaliação da percepção da inovação dos agentes da construção civil. Por fim, elencaram-se sugestões de ações para implementar a inovação em cada uma das cinco categorias da ferramenta, de forma a possibilitar que os gestores modifiquem o resultado do diagnóstico atual de inovação.

Resultados e discussões

Nesta seção são apresentados os resultados da investigação.

Proposição da estrutura da ferramenta

A ferramenta proposta no presente estudo, para a verificação do grau de inovação no contexto do setor da construção civil, é baseada em fundamentação teórica referente às categorias fundamentais para o processo de inovação (CÂMARA..., 2014; POIRIER; FORGUES; STAUB-FRENCH, 2016). Para isso, são identificadas cinco categorias, como ilustrado na Figura 3:

1. Artefatos: alinha os projetos, a busca de recursos, a influência dos clientes e fornecedores para a inovação, bem como trata as iniciativas inovadoras como um projeto específico no âmbito organizacional;

2. Estrutura: elemento dinâmico e independente que se associa à influência do espaço na inovação. O ambiente pode influenciar questões operacionais da organização e questões institucionais, como aspectos culturais;

3. Processo: relaciona ferramentas e metodologias para a inovação, verificando sua efetividade e os resultados de sua aplicação. Nesse sentido, podem ser listadas ferramentas de gestão de projetos e informações;

4. Agentes: contempla todos os envolvidos no processo de inovação e a clareza na comunicação entre os envolvidos. É possível avaliar o papel de cada agente e como os investimentos em recursos humanos podem beneficiar a empresa; e

5. Contexto: avalia a influência do contexto nos processos de inovação, nos benefícios da antecipação de tendências e no incentivo de colaborações com agentes externos à empresa. A inovação principia em contextos específicos e pode ser expandida para diferentes escalas.

Figura 3
Diagrama de distribuição das categorias e subcategorias (ações e estratégias), elencadas na revisão de literatura, que favorecem a inovação

As subcategories que compõem cada categoria foram identificadas na revisão de literatura: Ozorhon, Oral e Demirkesen (2016) identificaram 38 fatores associados à inovação; Gambatese e Hallowell (2011) mapearam fatores, barreiras e motivadores da inovação; Blayse e Manley (2004) investigaram fatores que impulsionam a inovação; Manley (2008) estudou as competências internas da empresa; Lavie, Stettner e Tushman (2010) exploraram organizações inovadoras; Hardie e Newell (2011) focaram nos recursos para inovação; Dansoh, Oteng e Frimpong (2017) verificaram os recursos do ambiente da indústria; e Xue et al. (2014), nas entradas necessárias para a inovação.

Proposição do questionário de captação da percepção

O questionário, composto de quatro partes, foi desenvolvido abordando as categorias e subcategorias identificadas na fundamentação teórica. O alinhamento das sentenças, propostas pelos autores, a cada uma das categorias está ilustrado na Figura 4.

No que se refere à categoria Estrutura conta-se com quatro sentenças, que englobam características relacionadas à gestão da informação e de projetos, leiaute e logística do canteiro da obra como meio para a inovação, produção mínima de resíduos e cultura organizacional inovadora, com a destinação de recursos financeiros e a promoção de encontros para experimentação, criação e disseminação do conhecimento entre funcionários e colaboradores.

Na categoria Agentes há cinco sentenças, que abrangem a captação dos requisitos dos clientes (usuários finais da edificação); o desenvolvimento da relação contratual com parceiros - tanto funcionários, como fornecedores; o emprego de planos de carreira para desenvolver o potencial dos funcionários com treinamentos e investimento em qualificação; o emprego de prêmios e recompensas como forma de reconhecimento do engajamento do funcionário e suas contribuições com ideias originais e/ou soluções inovadoras; e o fomento ao conhecimento e busca de qualidade por meio de políticas e programas de treinamento.

Na categoria Processo há seis sentenças, que incluem a customização do projeto; mecanismos de integração entre as etapas de projeto e obra do edifício; a integração de diferentes equipes (colaboradores) desde as fases iniciais de concepção do projeto; o uso de ferramentas de gestão do tempo visando à qualidade e à produtividade; e a busca pela otimização de uso dos materiais através de diferentes soluções.

Na categoria Artefatos ou Cultura organizacional há quatro sentenças, que abordam o cumprimento a leis e normas com o potencial de inovar; a padronização de processos, visando à qualidade e celeridade; a busca por soluções com menor impacto ambiental através da priorização de materiais com melhor desempenho ambiental; e a criação de parcerias com empresas e instituições de ensino.

Na categoria Contexto há quatro sentenças, que compreendem a utilização de recursos financeiros como patrocínio à busca da inovação; a exploraçãoda percepção e sua imagem como inovadora para garantir maior lucratividade e competitividade com os clientes internos e externos; a abordagem de gestão de riscos para dar continuidade nos processos de busca e implementação da inovação; e o uso da cultura organizacional como estratégia de diferenciação e publicidade.

Todas as ações elencadas contribuem para favorecer o desenvolvimento de um ambiente adequado para o fomento da inovação (seja ela disruptiva ou complementar), pois são investimentos, ações de gestão ou incentivos que permitem que todos na empresa possam contribuir, questionar e avaliar os produtos e processos - todas ações fundamentais para a inovação. Entre as ações, as mais fundamentais em cada categoria foram demarcadas com *. Ademais, a captação da percepção dos funcionários permite que seja identificado se a inovação pode surgir em outros níveis além do gerencial, permitindo que os gestores adéquem o sistema caso este não instigue a colaboração dos funcionários na identificação e proposição de melhorias contínuas.

Na primeira parte do questionário são captadas informações gerais dos respondentes, entre as quais o cargo, o tempo de atuação na empresa e o tempo de atuação no setor da construção civil, visando entender como a percepção pode estar atrelada a seu perfil. Além disso, há uma pergunta fechada com opções sobre as barreiras ou limitações percebidas pelo agente para a implantação da inovação.

A segunda parte é destinada à classificação dos sistemas construtivos quanto ao nível de inovação com uma escala de três pontos (tradicional ou sem inovação; não tradicional, mas não inovador; e inovador). A lista dos sistemas construtivos está alinhada com a NBR 15575 (ABNT, 2013): sistema de vedação vertical externo, sistema de vedação vertical interno, sistema de cobertura, sistema de pisos, sistemas estruturais e sistemas hidrossanitários.

Figura 4
Diagrama de distribuição das afirmações por categorias, que serão abordadas no questionário de captação da percepção dos agentes da empresa

A terceira parte se refere à captação da percepção de relevância de cada agente sobre as ações prioritárias em cada categoria para a implementação da inovação. Dessa forma, cada respondente seleciona apenas uma ação ou estratégia, que ele aplicaria caso coordenasse a inovação em cada uma das cinco categorias.

A quarta parte é composta de 23 afirmações, que devem ser respondidas em escala de frequência (muito frequente, frequentemente, às vezes, raramente e nunca). O questionário está apresentado nas Figuras 5 e 6, respectivamente.

Ciclos de aplicação e ajustes

Para a aplicação da versão 2 da ferramenta (Figura 7) foram entrevistados uma engenheira, uma estagiária de engenharia, um mestre de obras, um apontador de obras e um assistente administrativo de obra. Tal etapa não tem por objetivo apresentar um resultado quantitativo representativo da percepção da inovação na empresa, mas verificar possíveis melhorias na ferramenta e em sua aplicação.

Entre os resultados coletados da percepção dos agentes da empresa e dos pesquisadores, pode-se identificar pontos convergentes, outros não, mas todos representam percepções diferentes a respeito da mesma organização:

1. no quesito estratégia da empresa, observou-se que os pesquisadores colocaram o nível de customização na obra como ruim. Os agentes da empresa, por sua vez, mostram outra realidade, dos cinco resultados, quatro apontavam que a empresa trabalhava com alguma customização;

2. as diferentes avaliações podem estar atreladas às distintas informações e penetração dos entrevistados no canteiro de obras e nos processos da empresa, além das visões distintas do conceito da inovação e como este se traduz em ações dentro da empresa e obra;

3. um problema recorrente na literatura foi identificado, as dificuldades na transferência das metas para as práticas do dia a dia da empresa. Isso está evidenciado quando os entrevistados relatam que a empresa busca incluir práticas de inovação nos planos, mas nem sempre conseguem implementá-las devido a barreiras organizacionais; e

4. as pessoas são fundamentais no processo de inovação, pois mesmo com o comprometimento dos gestores, se no dia a dia as práticas não forem aplicadas ou disseminadas, inviabiliza-se todo o processo de inovação no canteiro de obras.

Figura 5
Versão 4 do questionário de diagnóstico da inovação - parte 1

Figura 6
Versão 4 do questionário de diagnóstico da inovação - parte 2

Figura 7
Resumo das considerações apontadas no segundo ciclo de aplicações e ajustes com o meio acadêmico

Recomenda-se que para um estudo mais amplo seja organizada uma coleta de dados dos agentes internos da empresa, da obra, demais colaboradores, com pesquisadores, consultores e outros. Tal processo de colaboração pode permitir diferentes desdobramentos visando implementar ou desenvolver a inovação na empresa.

Depois dessa primeira aplicação, identificaram-se ajustes necessários para uma melhor captura da percepção dos agentes:

1. a escala de relevância tinha por finalidade qualificar cada uma das ações das categorias e era apresentada numa escala Likert de 3 pontos. Visando simplificar a abordagem e elencar somente as ações mais relevantes em cada categoria, a relevância deveria ser captada em uma pergunta única;

2. as perguntas deveriam ser respondidas em diferentes escalas de resposta (frequência, relevância e confirmação), o que gerou dúvidas aos respondentes. Buscando promover uma melhor experiência e uma coleta sem mal-entendidos, as perguntas passaram desse formato para a apresentação em forma de sentenças afirmativas, e devem ser respondidas apenas pela escala de frequência, que capta se a ação ocorre ou não na empresa e em quais intervalos de tempo;

3. as perguntas com escala de confirmação foram reformuladas para se enquadrar na escala de frequência, priorizando a padronização;

4. houve revisão das categorias e ações que influenciam a inovação, com uma expansão de quatro categorias para cinco categorias e de 20 perguntas (ações) para 23 perguntas;

5. o leiaute do questionário foi alterado para priorizar a setorização das perguntas e categorias por cores e limitar seu tamanho em duas páginas;

6. as perguntas referentes aos sistemas construtivos foram reformuladas de modo a permitirem uma abordagem mais ampla; e

7. a partir da primeira aplicação, identificou-se a necessidade de explorar melhor o modo de comunicar os resultados aos tomadores de decisão e a todos os agentes. Dessa forma, esforços foram empregados para a elaboração de um infográfico.

Na segunda etapa de aplicação e ajustes, a ferramenta foi analisada pelo meio acadêmico. Foram realizadas entrevistas com quatro integrantes do meio acadêmico, que trabalham com construção civil e com a inovação no setor, direta ou indiretamente. Essa etapa foi importante para que ajustes teóricos, semânticos e gráficos fossem realizados, o que contribuiu significativamente na otimização do modelo da ferramenta. As principais sugestões aplicadas estão apresentadas na Figura 7.

O perfil das pessoas entrevistadas foi:

1. arquiteta e urbanista, doutoranda na área de sustentabilidade e gestão na construção, com atuação ativa no mercado;

2. engenheira civil, com doutorado em andamento na área de gerenciamento da construção;

3. arquiteta e urbanista, pós-doutoranda em Engenharia Civil; e

4. engenheira civil e docente da pós-graduação de Engenharia de Produção, que desenvolveu tese abordando a inovação e atua na área de inovação e suas interfaces.

Na avaliação do questionário, todas as pessoas entrevistadas responderam, em concordância, que ele está bem estruturado em relação a seu número de perguntas e que representa bem o contexto das categorias e subcategorias para a captação da percepção da inovação. Outra consideração inclui a verificação, se as frases afirmativas abrangem os tópicos de tempo, qualidade e custo, que são de grande relevância para as empresas.

O infográfico recebeu comentários positivos sobre sua apresentação visual, através do uso de cores, tipos de gráficos e apresentação em geral. As sugestões de ajuste adotadas foram:

1. adaptações na linguagem para que o questionário fique mais claro e seja interpretado adequadamente pelo público-alvo;

2. mudança do nome da categoria “Artefatos” para “Cultura organizacional”;

3. necessidade de deixar o fundo mais escuro na seção em que se deseja maior atenção;

4. na formatação houve sugestões de tamanho de fontes, inversão da ordem de algumas escalas, inserção de legendas numéricas, alinhamentos, entre outros; e

5. na pergunta sobre as restrições à inovação sugeriu-se a mudança dessa pergunta aberta para uma fechada, com alternativas. Isso porque a apresentação daqueles resultados necessitava de um pré-processamento do texto, para que somente palavras representativas sejam mostradas. Assim, a apresentação desses resultados passou para uma lista ordenada das respostas mais selecionadas através de um Top 5.

Por fim, foi sugerida a possibilidade de o infográfico ter uma estrutura flexível conforme o objetivo e o público-alvo da comunicação, havendo a possibilidade de que os gestores poderiam receber uma análise mais aprofundada com cruzamento de dados e a consequente criação de indicadores mais complexos.

Revisão da versão final da ferramenta

O desenvolvimento da ferramenta proposta conta com quatro versões do questionário e três versões do infográfico, como ilustrado na Figura 8. As novas versões de cada um desses componentes surgiram a partir dos ciclos de aplicação e ajustes descritos no método. Tais ciclos foram fundamentais para o aprimoramento da ferramenta de captura e comunicação do diagnóstico da inovação.

A ferramenta permite que a empresa do setor da construção civil realize um diagnóstico da inovação aplicada, tanto na empresa como no canteiro de obras, percebida por seus agentes. Tais dados podem ser alinhados com o planejamento estratégico da empresa e permitir que esta estabeleça planos e metas para gerir o processo de inovação. Além disso, a empresa pode adotar escalas ou níveis de classificação da inovação para acompanhamento da evolução individual ao longo do tempo.

Os estudos anteriores enaltecem a relevância da presente proposição, pois há um número reduzido de trabalhos que investigam a percepção da inovação, o que pode ser fator decisivo para a efetiva implementação da ação inovadora, seja através de um sistema construtivo, do uso de novos materiais ou outros. Ademais, além de investir em inovação, é necessário ter um acompanhamento dela. Nesse sentido, a ferramenta proposta mostra-se eficaz, pois permite mapear e acompanhar a percepção de diferentes agentes envolvidos na construção civil. Além disso, a organização de tais informações num banco de dados possibilita uma análise de diagnóstico ao longo dos anos, possibilitando gerir, além da inovação, o conhecimento dos colaboradores.

A partir do diagnóstico extraído da ferramenta, o gestor pode elaborar planos e ações visando melhorar o resultado. Algumas estratégias para alcançar a inovação são propostas por Meng e Brown (2018), podendo auxiliar na mudança da percepção dos agentes ante a relevância da inovação e o reconhecimento de suas manifestações no campo de trabalho:

1. uso eficaz dos recursos existentes;

2. melhoria das capacidades técnicas;

3. alinhamento dos recursos com as estratégias;

4. educação e treinamento de funcionários;

5. apoio da alta direção;

6. estímulo à cultura de aprendizagem e inovação;

7. visão de negócios;

8. recrutamento de novos funcionários qualificados;

9. mudança da inovação, de reativa para proativa;

10. troca e compartilhamento de conhecimento em toda a empresa; e

11. resposta rápida a ambientes em mudança.

Conclusões similares foram trazidas por Walker (2016), que fez uma revisão dos focos em inovações entre 2005 e 2015, OL (organisational learning) e KM (knowledge management) no contexto do gerenciamento das construções. Os resultados da reflexão trazem que a melhora das práticas de KM e OL resultam em uma inovação efetiva, através de abordagens como o aprendizado pela prática ou as com foco em sistemas acionados pela tecnologia emergente (WALKER, 2016).

Figura 8
Diagrama-síntese dos ciclos de aplicação e ajustes da ferramenta proposta, composto de questionário e infográfico

De acordo com Dasgupta e Gupta (2009), o ambiente de negócios pede por organizações que encorajem a experimentação, aprendam sobre novas aplicações e tecnologias, monitorem o ambiente, avaliem seu desempenho e estejam comprometidas em melhorar a performance. Empresas do setor da construção civil deveriam promover ações de recompensa como maneira de demonstrar o reconhecimento de seus funcionários que se dedicam às tarefas e em melhorar os processos, promovendo a produtividade e favorecendo a inovação (TAM et al., 2021).

Em complemento a isso, a divulgação de casos satisfatórios de aplicação da inovação, de seus procedimentos, resultados e implicações pode incentivar a mudança tecnológica na construção civil (GRANJA, 2015). O 2º Caderno de Casos de Inovação na Construção Civil (CÂMARA..., 2014) apresenta casos de aplicações de sistemas inovadores em obras exatamente com o propósito de disseminar tecnologias inovadoras.

Observa-se que muitas das recomendações propostas não requerem alto investimento econômico e são capazes de grande geração de valor na busca pela inovação e crescimento da empresa. Valorizar a inovação e implementar ações para que ela aconteça exigem principalmente uma quebra de paradigmas e um comprometimento de todos os agentes envolvidos na cadeia do setor da construção civil.

Proposição do infográfico para comunicação dos resultados de percepção

Visando à utilização das informações coletadas por meio do questionário pelos tomadores de decisão e para comunicação interna da empresa, é proposta a estrutura de um infográfico para compilação e hierarquização das informações.

A estrutura do infográfico é distribuída em cinco partes (Figura 9).

Na primeira parte, referente ao perfil, temos compiladas as informações da ocupação na empresa, o tempo de contribuição e há quanto tempo eles atuam na área da construção civil. Para isso, os dados são representados através de gráficos de barras com o número absoluto de respondentes em cada opção.

Na segunda parte são apresentados os resultados da percepção dos respondentes sobre quais ações são mais relevantes em cada categoria para a inovação. Nessa parte não é identificada se a ação é aplicada na empresa, apenas se o respondente a considera relevante para o fomento da inovação. Tal resultado permite ao gestor promover ações em áreas específicas visando desenvolver determinada categoria ou organizar treinamentos e capacitações para enaltecer a relevância de tais ações para a inovação e a colaboração dentro da empresa.

Figura 9
Diagrama explicativo das partes que compõem o infográfico de comunicação do diagnóstico da percepção da inovação dos agentes da empresa

Na terceira parte é apresentado o diagnóstico do nível de inovação por sistema construtivo, empregado em obra específica da empresa. O resultado de cada sistema é classificado como “Tradicional” (cor cinza claro), “Não tradicional, mas não inovador” (cor cinza-médio) e “Inovador” (cor cinza-escuro). A tradução do somatório dos resultados de cada agente para um resultado único ocorreu através da média das respostas predominantes em cada sistema construtivo, conforme posição da estrela. Essa avaliação pode ser mais útil nas fases iniciais de projeto, nas quais é mais simples realizar ajustes. Todavia, a captura dessa percepção pode permitir ajustes em obras futuras, processos de colaboração visando incorporar inovações por sistemas construtivos e uso das informações para criar bancos de ideias. Tais sugestões podem não ser classificadas como inovações disruptivas, mas podem trazer benefícios como diminuição da perda de insumos, otimização do tempo de execução e melhorias na publicidade da empresa, ao priorizar materiais ou sistemas inovadores.

Na quarta parte, em destaque, ocupando a maior parte do infográfico, constam os dados da frequência de aplicação das ações que facilitam a inovação em cada uma das cinco categorias. O gráfico de barras permite identificar qual a frequência de cada ação (Muito frequente, Frequente, Às vezes, Raramente e Nunca) e como os respondentes a percebem. Aqui é possível confrontar se as ações aplicadas na empresa são percebidas pelos diferentes agentes e se elas são eficazes.

Na quinta parte é apresentado o resultado da pergunta fechada sobre restrições à inovação. Os resultados são apresentados por meio de uma lista com as cinco opções mais selecionadas e ordenadas da mais selecionada à menos selecionada, de cima para baixo, começando com o 1º, depois 2º e assim por diante.

A estrutura completa da última versão do infográfico consta na Figura 10.

Figura 10
Versão 3 do infográfico de comunicação do diagnóstico da inovação

Considerações finais

No presente trabalho é apresentada uma ferramenta de diagnóstico da inovação no setor da construção civil basead na percepção dos agentes da empresa ou obra em análise. A utilização da ferramenta ocorre por meio da aplicação de questionário e da comunicação dos resultados através de um infográfico. Tal processo se mostra relevante ao permitir que o gestor identifique lacunas de intervenção e embase a tomada de decisão. Além disso, o infográfico permite uma comunicação visual e concisa dos resultados, que podem ser divulgados para todos os agentes. Isso visa contribuir para a transferência dos conceitos teóricos para ações práticas, e o envolvimento de todos os agentes tem o potencial de incentivar o engajamento e a colaboração entre as partes. Outra vantagem consiste em seu potencial para auxiliar na gestão da inovação através de sua aplicação recorrente entre os diferentes colaboradores. Tais informações alimentam bancos de dados para a gestão do conhecimento, a verificação dos resultados das ações de inovação e potenciais ideias.

Estudos correlacionando a percepção e a inovação no ambiente construído são reduzidos, mas devem ser expandidos, vista a importância da colaboração e gestão de pessoas para a efetivação das estratégias de inovação. O estudo contou com limitações como a não verificação da sensibilidade da ferramenta para diferentes tamanhos de amostras e o número restrito de sistemas construtivos abordados. Ademais, novos estudos são necessários para:

1. explorar estruturas dinâmicas para diferentes públicos-alvo;

2. propor um sistema classificatório do nível de inovação para os sistemas construtivos, processos ou projeto;

3. aplicar a ferramenta em uma amostra maior e com cases de ações tomadas a partir da ferramenta; e

4. desenvolver diretrizes prescritivas para a inovação de acordo com o diagnóstico encontrado.

A validação da proposta em uma amostra maior permitirá a retroalimentação do trabalho e a verificação da necessidade de relatórios mais completos para os gestores, incluindo análises cruzadas dos resultados. Por fim, cabe a exploração da aplicação da ferramenta em sistemas de gestão da inovação e numa escala maior que a da empresa, investigando como aquela poderia ser utilizada para avaliar outras escalas no setor da construção civil.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  17 Mar 2023
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2023

Histórico

• Recebido
  23 Dez 2021
• Aceito
  07 Out 2022