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Validade e reflexividade na pesquisa qualitativa

Validity and reflexivity in qualitative research

Resumos

Ainda hoje, a busca pela precisão numérica capaz de ser validada, confirmada e replicada representa a principal forma de construção de conhecimento em diversas áreas das ciências sociais. A pesquisa qualitativa, embora tenha ampliado seu espaço e ganhado destaque, ainda é questionada por alguns pesquisadores, os quais acreditam que esta não possui o mesmo rigor de coleta e de análise de dados da pesquisa quantitativa, bem como não tem a força da generalização dos resultados encontrados. Neste breve ensaio, busca-se discutir dois elementos de rigor da pesquisa qualitativa: a validade e a reflexividade. Primeiramente, é realizada uma apresentação teórica buscando definir e discutir o conceito de validade, como destacar ainda diferentes interpretações que podem ser dadas para o termo em diferentes correntes epistemológicas. Já com o conceito de reflexividade se destaca a importância da análise crítica da própria ciência, com ênfase no posicionamento e na atuação do pesquisador ao conduzir seus trabalhos e a relação que estabelece com os sujeitos de sua pesquisa. Para finalizar, são apresentadas algumas considerações sobre a construção de conhecimento no campo científico e a atuação do pesquisador.

validade; reflexividade; pesquisa qualitativa


Until today, the search for numerical accuracy, capable of being validated, confirmed and reproduced, represents the main form of knowledge construction in several areas of social science. While qualitative research has widened its range and gained distinction, its value is questioned by some researchers who believe that it has neither the same rigour in the collection and analysis of data as quantitative research nor capacity for generalization of the results. In this short essay, an attempt is made to discuss two elements of rigour in qualitative research: validity and reflexivity. Firstly, a theoretical review is carried out in an effort to define and discuss the concept of validity, as well as highlight the different interpretations given to the term in different epistemological currents. With regard to the concept of reflexivity, the paper highlights the importance of adopting a critical analysis of science with emphasis on the position and actions of the researcher when performing his/her work and the relation that is established with the subjects under study. To finish, some remarks are offered on the construction of knowledge in the scientific field and the role of researcher.

validity; reflexivity; qualitative research


ARTIGOS

Validade e reflexividade na pesquisa qualitativa

Validity and reflexivity in qualitative research

Sidinei Rocha de OliveiraI; Valmiria Carolina PiccininiII

IMestre em Adminstração - Recursos Humanos- Programa de Pós-Graduação em Administração da Escola de Administração-Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/ EA/UFRGS).Doutorando em Administração Universidade de Caxias do Sul (UCS). Professor na Universidade de Caxias do Sul(UCS). Endereço: Rua Washington Luís, 855, sala 422 - Porto Alegre/Rio Grande do Sul - Brasil - 90010-460. E-mail: sroliveira@ea.ufrgs.br

IIDoutora em Economia do Trabalho e da Produção - Université de Sciences Sociales de Grenoble II.Professor Associado Programa de Pós-Graduação em Administração/Escola de Administração/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/ EA/UFRGS).Endereço:Rua Washington Luís, 855, sala 422 - Porto Alegre - RS - Brasil - CEP: 90010-460. E-mail:vpiccinini@ea.ufrgs.br

RESUMO

Ainda hoje, a busca pela precisão numérica capaz de ser validada, confirmada e replicada representa a principal forma de construção de conhecimento em diversas áreas das ciências sociais. A pesquisa qualitativa, embora tenha ampliado seu espaço e ganhado destaque, ainda é questionada por alguns pesquisadores, os quais acreditam que esta não possui o mesmo rigor de coleta e de análise de dados da pesquisa quantitativa, bem como não tem a força da generalização dos resultados encontrados. Neste breve ensaio, busca-se discutir dois elementos de rigor da pesquisa qualitativa: a validade e a reflexividade. Primeiramente, é realizada uma apresentação teórica buscando definir e discutir o conceito de validade, como destacar ainda diferentes interpretações que podem ser dadas para o termo em diferentes correntes epistemológicas. Já com o conceito de reflexividade se destaca a importância da análise crítica da própria ciência, com ênfase no posicionamento e na atuação do pesquisador ao conduzir seus trabalhos e a relação que estabelece com os sujeitos de sua pesquisa. Para finalizar, são apresentadas algumas considerações sobre a construção de conhecimento no campo científico e a atuação do pesquisador.

Palavras chave: validade, reflexividade, pesquisa qualitativa

ABSTRACT

Until today, the search for numerical accuracy, capable of being validated, confirmed and reproduced, represents the main form of knowledge construction in several areas of social science. While qualitative research has widened its range and gained distinction, its value is questioned by some researchers who believe that it has neither the same rigour in the collection and analysis of data as quantitative research nor capacity for generalization of the results. In this short essay, an attempt is made to discuss two elements of rigour in qualitative research: validity and reflexivity. Firstly, a theoretical review is carried out in an effort to define and discuss the concept of validity, as well as highlight the different interpretations given to the term in different epistemological currents. With regard to the concept of reflexivity, the paper highlights the importance of adopting a critical analysis of science with emphasis on the position and actions of the researcher when performing his/her work and the relation that is established with the subjects under study. To finish, some remarks are offered on the construction of knowledge in the scientific field and the role of researcher.

Key words: validity, reflexivity, qualitative research

Introdução

O conhecimento científico que se desenvolveu na era moderna ergueu-se sobre a pretensão de construir verdades, de permitir ao homem entender as regras que indicam o funcionamento das coisas do mundo. Nas ciências naturais, a presença de leis que possibilitam acompanhar e prever a ocorrência dos fenômenos contribuiu para a formação de um senso científico, onde modelar, mensurar, quantificar se tornaram os elementos centrais do pensar. A validade é verificada por meio de testes estatísticos, os quais confirmam ou negam a possibilidade de repetição do fenômeno.

De fato, a força da precisão numérica é sedutora quando a pretensão maior está no estabelecimento de verdades universais, que contribuem para a manutenção de práticas e formas de pensar. Mesmo nas ciências sociais, a busca pelo descobrimento das "verdades do mundo real" tornou-se a forma de construção de conhecimento predominante. O cientista assumiu para si a função de ser o contato entre os "leigos" e a realidade que verifica, tornou-se o responsável por desvendar as verdades do mundo natural e social, principalmente por se considerar que sua postura seja neutra e apolítica. Porém, a ciência é, antes de tudo, uma questão de crença e, assim como o senso comum, sua maior preocupação tem sido a busca da compreensão (e muitas vezes manutenção) da ordem ao que está posto.

Ainda hoje, a busca pela precisão numérica capaz de ser validada, confirmada e replicada representa a principal forma de construção de conhecimento em algumas áreas das ciências sociais. Os trabalhos que seguem a pesquisa quantitativa ainda são vistos por alguns pesquisadores como estudos realizados com maior rigor e neutralidade. A pesquisa qualitativa, embora tenha ampliado seu espaço e ganhado destaque, ainda é bastante questionada por alguns pesquisadores, que dizem que esta não possui o mesmo rigor de coleta e análise de dados da pesquisa quantitativa, bem como a força da generalização dos resultados encontrados.

Porém, mesmo a pesquisa quantitativa pode ser questionada quando se analisa criticamente a forma de construção de conhecimento. A existência de um fenômeno validado pela dimensão amostral não exclui a existência de elementos que contrapõem o resultado encontrado. No entanto, estes são os dados excluídos das análises por "afetarem" o comportamento da amostra. Da mesma forma, técnicas de validade (testes estatísticos, análises de correlação) têm por objetivo principal a defesa da posição dita neutra do pesquisador e sua pretensão de generalização, quando na verdade camuflam suas escolhas teóricas e sua posição com relação ao assunto estudado. Já na pesquisa qualitativa, questionada pela falta de validade numérica, estas posições e interpretações pessoais tornam-se mais visíveis, e, muitas vezes são os pontos mais criticados para reconhecimento da validade dos resultados destes estudos.

Todavia, a falta da precisão numérica não elimina da pesquisa qualitativa a necessidade de rigor e comprometimento com a construção do conhecimento científico. Ao contrário, existem elementos que embasam a forma de construir e de analisar os temas estudados. Assim, neste breve ensaio, busca-se discutir dois elementos de rigor da pesquisa qualitativa: a validade e a reflexividade. Primeiramente, é realizada uma apresentação teórica buscando definir e discutir o conceito de validade, bem como destacar diferentes interpretações que podem ser dadas para o termo em diferentes correntes epistemológicas. Já com o reflexividade, evidencia-se a importância da análise crítica da própria ciência, com destaque para o posicionamento e atuação do pesquisador ao conduzir seus trabalhos e a relação rigor tem limites inultrapassáveis e sua objetividade não implica a sua neutralidade" (SANTOS, 2003, p. 9). Na construção de conhecimento, sobretudo nas ciências sociais, não há neutralidade; ao contrário, existe uma presença marcante (ainda que muitas vezes inconsciente) do que estabelece com os sujeitos de sua pesquisa. Para finalizar, são apresentadas algumas reflexões sobre a construção de conhecimento no campo cientifico e a atuação do pesquisador.

O ponto de partida desta reflexão baseia-se na idéia de que "... todo conhecimento científico é so cialmente construído, seu sujeito responsável pelo seu desenvolvimento. Todos os estados da existência dependem de uma visão de mundo, e uma visão de mundo que não é unicamente determinada empiricamente sobre o mundo (PATTON, p. 97). Contudo, esta forma de pensamento não consiste em simples relativismo de idéias, mas em adotar posições filosóficas em que o rigor na produção e a responsabilidade do pesquisador seja um elemento central nos métodos adotados para realização do estudo.

1. A Validade

A validade é considerada um conceito central na metodologia da ciência social. Na pesquisa quantitativa, a validade é assegurada pela representatividade numérica das amostras estudadas e pelos testes de consistência interna realizadas nos dados coletados, uma forma de construção científica já reconhecida e legitimada. Não se questiona o número de participantes excluídos por "não estarem de acordo" com o comportamento amostral, bem como todos os ajustes realizados para encontrar os resultados. Já para a pesquisa qualitativa o conceito de validade é, muitas vezes, posto à prova quando se analisam os resultados como expressão da "realidade encontrada".

Com o crescimento do domínio das ciências sociais, a predição de fatos cede espaço para a interpretação de sentidos e os critérios e formas de validação sofrem alterações. Segundo Kvale (1995), na pesquisa social atual o conhecimento válido emerge como conflito de interpretações e ações que são discutidas e negociadas entre o pesquisador e os membros da comunidade pesquisada. Em termos de validade, não apenas o que o pesquisador produz se torna importante, mas também suas próprias ações, com destaque para sua integridade ética na coleta, análise e resultados apresentados em seus estudos e as possíveis conseqüências para os sujeitos envolvidos na pesquisa. O pesquisador torna-se crítico do seu modo de interagir com a comunidade e da qualidade do conhecimento científico produzido.

Para Kvale (1995), a validade na pesquisa qualitativa é expressa em todos os momentos em que o pesquisador desenvolve a pesquisa: a) na problematização do assunto, por meio da coerência da base teórica utilizada com o enfoque dado; b) na estruturação da pesquisa, a validade envolve a adequação do desenho de pesquisa e os métodos usados para cada tópico, além dos objetivos que dão o direcionamento do estudo; c) na coleta de dados, está no cuidado ao checar os dados informados, respeito ao que está sendo expresso pelos participantes; d) na interpretação, refere-se à forma como as questões são colocadas no texto e à lógica das interpretações realizadas; e) na verificação, está relacionada tanto com a validade do conhecimento produzido como para quais formas de validação são relevantes um estudo específico, e a decisão de que é relevante para a comunidade no diálogo da validade.

Guba e Lincoln (2005) destacam que a validade na pesquisa social não é algo apresentado objetivamente. Existem várias forças teóricas, filosóficas e pragmáticas racionais para examinar o conceito de objetividade e encontrar o que se busca. Mesmo dentro das estruturas positivistas ela é vista como conceitualmente problemática. A validade não pode ser dispensada simplesmente porque aponta para a questão que precisa ser respondida por um caminho ou outro. Ao mesmo tempo, configurações radicais de validade deixam pesquisadores com múltiplas, e até mesmo, conflituosas obrigações para que se constitua uma pesquisa rigorosa, dificultando e algumas vezes impossibilitando seu desenvolvimento.

Uma das principais questões envolvidas na validade da pesquisa qualitativa está no como, enquanto pesquisador, pode-se justificar que interpretações pessoais são válidas para a experiência vivida dentro de uma dada perspectiva teórica e metodológica dada. No entanto, deve-se considerar que os pesquisadores que buscam exercer uma subjetividade perspectiva são mais conscientes de como suas próprias interpretações são influenciadas por sua disciplinariedade particular e as perspectivas teóricas e metodológicas dadas no estudo. Desta forma, a interpretação transforma-se numa força ao invés de ameaça para a confiabilidade dos resultados (SANDBERG, 2005).

Tendo em conta o crescimento de trabalhos de orientação qualitativa de múltiplas orientações filosóficas (estudos de caso, etnografias, auto-etnografias, pesquisa participante, pesquisa-ação, grounded theory, etc.) a idéia de validade tem assumido várias interpretações na comunidade científica. De acordo com Cho e Trent (2006), tradicionalmente, a validade na pesquisa qualitativa tem envolvido a determinação do grau pelo qual os apontamentos do pesquisador sobre o conhecimento correspondem à realidade (ou construções da realidade dos participantes) que está sendo estudada. Nos últimos anos, emergiram duas vertentes bastante distintas, buscando responder o que seria a validade na pesquisa qualitativa: a transacional e a transformacional.

A validade transacional na pesquisa qualitativa consiste num processo interativo entre o investigador, os dados pesquisados e coletados que são conferidos e alcançam um nível relativamente mais elevado da exatidão e consenso por meio dos fatos, sentimentos, experiências e valores ou opiniões coletados e interpretados. A validade, como um processo transacional, consiste em técnicas ou métodos pelos quais os "enganos" do pesquisador podem ser ajustados e assim reparados. As técnicas são vistas como um meio para segurar uma reflexão exata da realidade (ou ao menos, construções dos participantes da realidade) (CHO; TRENT, 2006).

Entre as principais técnicas destaca-se a consulta aos pesquisados e a triangulação. Na consulta aos pesquisados, os participantes da pesquisa lêem e confirmam ou ajustam os dados coletados pelo investigador, buscando dar credibilidade às interpretações deste. A triangulação refere-se ao uso de múltiplos métodos, técnicas de coleta ou fontes de dados, na tentativa de superar parcialmente as deficiências que decorrem de uma investigação ou de um método. Para alguns pesquisadores, esta técnica, assim como a confirmação dos pesquisados, conduz a um retrato mais consistente, mais objetivo da realidade. Enquanto a verificação do pesquisado busca a credibilidade das construções dos participantes, estando relacionado com a totalidade da construção da pesquisa, a triangulação - que verifica as origens dos fatos com dados de múltiplas origens - serve para reforçar os resultados encontrados (CHO; TRENT, 2006).

Em alguns casos, a pesquisa transacional ainda traz traços da pesquisa tradicional, buscando por meios destas ferramentas a descoberta da verdade da realidade social estudada. Segundo as autoras, os processos transacionais podem ser vistos em um contínuo entre o positivista (a validade pode ser totalmente alcançada) e a visão construtivista (a validade pode nunca ser conseguida, mas necessita ser verificada infinitamente).

A validade transformacional vem atender a uma necessidade de validação destacada por alguns investigadores qualitativos preocupados em explicitar o valor particular de significados sociais, culturais, e políticos em diferentes contextos. Nesta perspectiva, os significados são construções sociais e as diversas perspectivas de um tópico rendem sentidos múltiplos. Desta forma, a pergunta da validade está relacionada com a maneira do investigador auto-refletir, explícita e implicitamente, sobre as múltiplas dimensões em que a pesquisa é conduzida (CHO; TRENT, 2006).

Neste sentido, a validade não pode ser alcançada unicamente por meio de técnicas pré- determinadas. Os pesquisadores que defendem esta perspectiva apontam que, uma vez que a pesquisa tradicional (ou positivista) deixa de ser vista como meios de absoluta verdade no reino da ciência humana, as noções alternativas da validade devem ser consideradas para conseguir justiça social, compreensões mais profundas, visões mais detalhadas e outros objetivos que legitimam a pesquisa qualitativa. A validade é determinada pelas ações de transformação da realidade social que são alertadas pelo esforço da pesquisa. Metodologicamente, propõe uma aproximação transgressiva à validade que enfatiza um grau mais elevado de auto-reflexividade (CHO; TRENT, 2006).

Deste modo, a validade transformacional na pesquisa qualitativa baseia-se num processo progressivo, que conduz para a mudança social, a qual é alcançada por meio do próprio esforço da pesquisa. Tal processo na pesquisa qualitativa - enquanto elemento crítico orientado para mudar a condição social existente do pesquisado - envolve uma compreensão mais profunda, auto-reflexiva e empática do investigador ao trabalhar com o pesquisado. As narrativas em primeira pessoa encontram validade em sua habilidade de levantar e de provocar, assim, a ação política para remediar problemas de povos oprimidos. Nessa vertente, os pesquisadores qualitativos são encorajados a examinar significados que são tomados para garantir e criar práticas analíticas, nas quais os significados são desconstruídos e reconstruídos num caminho para fazer considerações iniciais mais frutíferas (CHO; TRENT, 2006).

Esta abordagem da validade depende das reflexões do pesquisador sobre seu tema de pesquisa, seus pesquisados e os resultados que busca alcançar por meio daquela que realiza. O pesquisador torna-se alguém atuante e consciente de seu papel na produção de conhecimento, sobretudo para aqueles que estão envolvidos no processo.

Embora acredite que a validade transformacional deva ser buscada ao desenvolver uma pesquisa de orientação qualitativa, uma vez que estimula o pesquisador a assumir uma postura política engajada e, conseqüentemente, maior consciência do contexto e do tema que estuda, nem sempre esta será a mais adequada. A concepção de validade apropriada depende dos paradigmas de pesquisa que estão sendo utilizados. Os objetivos principais da validade devem estar de acordo com a postura do pesquisador e a questão de pesquisa que propôs.

Seguindo nesta linha, Cho e Trent (2006) apresentam cinco orientações de pesquisa qualitativa, destacando como a validade é vista dentro de cada uma. As autoras buscaram desenvolver a validade de maneira ampla, de modo que possa dar suporte para um maior número de investigadores qualitativos. Assim, cada pesquisador deve explicitamente considerar o grau, a finalidade da pesquisa, a pergunta, e os atos reais de levantamento das informações e buscar o critério de validade mais adequado.

a) Procura da verdade - Os investigadores da verdade formulam as perguntas a serem respondidas conjuntamente com teorias estabelecidas a priori e, supostamente, possíveis de serem medidas e testadas. As variáveis contextuais, embora tidas como importantes, são consideradas sob o controle do pesquisador. Os resultados encontrados devem ser verídicos, críveis ou eficazes e determinados, principalmente, pelos dados empíricos recolhidos (CHO; TRENT, 2006).

Nesta abordagem, o alcance de uma validade absoluta é desejável, necessário, e possível e deve ser buscado pela combinação de metodologias qualitativas e quantitativas, distribuindo a validade em diferentes aplicações, tendo em vista o caráter complementar destas. O investigador emprega uma estrutura conceptual-analítica que guia o levantamento de dados e a análise de maneira estritamente técnica e sua principal preocupação está em explicitar com rigor e lógica a causalidade entre os dados.

A validade é vista como um processo que tem por objetivo a procura da verdade. Os investigadores devem certificar-se de que os dados coletados estão exatamente de acordo com as informações fornecidas pelos participantes. A veracidade dos textos deve ser determinada pelo emprego metodológico de verificações do participante e triangulação de dados, técnicas ou métodos (CHO; TRENT, 2006). Este tipo de pesquisa segue dentro da orientação positivista e, embora se trate de pesquisa qualitativa, muitos estudos assumem uma postura tão técnica quanto a das pesquisas quantitativas.

b) Descrição densa - O interesse preliminar da descrição densa está na explicação dos significados e das perspectivas originais construídos por indivíduos, por grupos, ou por ambos que vivem ou atuam em um contexto particular. Sua ênfase está em construir textos nos quais as descrições ricas e detalhadas são salientadas e na harmonia com interpretações analíticas (CHO; TRENT, 2006).

Segundo esta abordagem, a compreensão da visão de mundo dos participantes de um determinado estudo pode ser insuficiente se estes significados não estiverem situados no contexto. Para que o significado contextual surja, é necessário o engajamento prolongado por parte do investigador. Assim, os principais critérios de validade observados são: (1) a extensão da descrição dos dados apresentados; e (2) a competência do investigador em fazer o sentido da vida diária de seus (ou suas) participantes (CHO; TRENT, 2006).

O texto escrito dentro dessa perspectiva necessita ser compreendido mais detalhada do que veridicamente descrito, pois, de acordo com suposição ontológica, os defensores da descrição densa acreditam que a correspondência entre realidades e textos não é nem possível nem necessária, sendo mais importante o componente interpretativo. Nesta linha de estudos encontram-se grande parte dos estudos etnográficos atuais.

c) Desenvolvimentista - No centro da proposta desenvolvimentista da pesquisa qualitativa está a noção da temporalidade, que envolve um interesse compartilhado dos indivíduos, ou dos grupos, ou de ambos, em todo o tempo de realização da pesquisa. Como na descrição densa, os pesquisadores desta vertente estão preocupados com a descrição d'o que aconteceu dentro de um longo período de tempo e o seu porquê, e, como a procura da verdade está focada em construções mais generalizáveis, as quais podem ser elaboradas pela interpretação dos fatos ocorridos como processo, onde está sua principal idéia de validade (CHO; TRENT, 2006).

A validade como um processo é expressa em esquemas ou estágios categóricos, que são necessários para avaliar e analisar a temporalidade. Os investigadores desenvolvimentistas são comprometidos com a coleta de informações ricas que refletem eventos ou acontecimentos históricos. Devido às mudanças ocorridas ao longo do tempo, aos investigadores são recomendadas, também, verificações contínuas dos participantes, ao invés de uma única verificação ao final da pesquisa.

c) Ensaio pessoal - Como no propósito da descrição densa, o interesse preliminar do ensaio pessoal é explicar os significados que o pesquisado constrói. Entretanto, esta se torna diferente por dar maior destaque à subjetividade do investigador nas representações textuais, enquanto os desenvolvidos na descrição densa tentam reduzir sua influência, com uso de línguas nativas, de símbolos, e de significados atribuídos sempre que for possível, diminuindo, assim, a ação do pesquisador (CHO; TRENT, 2006).

A validade das questões levantadas no ensaio pessoal está baseada nos processos reflexivos do pesquisador, que devem ser suficientemente claros para que o leitor possa acompanhar a forma de construção de suas idéias. Os critérios da validade no ensaio pessoal incluem - embora não se limite a estes - elementos contextuais, explanatórios, descritivos, persuasivos, ou criativos, devendo buscar uma credibilidade comunicativa. A subjetividade do pesquisador em primeiro plano envolve a auto-avaliação da experiência e/ou o apelo público da opinião pessoal. Quando o ensaio pessoal volta-se totalmente para o interior do pesquisador, tem-se a auto-etnografia, que enfatiza análises particulares do pesquisador a partir da sua experiência de pesquisa.

d) Mudança social - Um aspecto central da proposta de mudança social de pesquisa qualitativa encontra-se no relacionamento entre o investigador e o pesquisado e nos esforços de mudança como partes integrais do projeto da pesquisa. A autoridade, o poder ou o privilégio que existem, implícita e explicitamente, do lado do investigador devem ser reavaliados, senão rejeitados inteiramente, para que o pesquisador possa realmente fazer uma diferença na comunidade estudada (CHO; TRENT, 2006).

A validade na proposta da mudança social envolve o pesquisar com e em nome dos participantes, o que se estabelece pela extensão a que os participantes colaborativamente envolvidos são co-investigadores durante a realização da pesquisa. A validade autorizada estará em risco, caso o relacionamento entre o investigador e os sujeitos da pesquisa seja desigual, explorador, ou não seja feito um exame profundo do tema tratado pelas duas partes. A validade está fortemente baseada na adoção de uma postura colaborativa e relacional entre os envolvidos na pesquisa. Assim, os principais critérios de validade desta abordagem são (1) verificações reflexivas do sujeito de pesquisa; (2) auto-reflexividade crítica do pesquisador; e (3) redefinição do status quo de pesquisador e pesquisado.

Como exposto acima, a validade na pesquisa qualitativa deve estar relacionada com o objetivo de pesquisa proposto pelo investigador. A adoção de critérios de validade em desacordo com o objetivo assumido pode resultar em estudos desconexos, com diferentes posições e visões de mundo ao longo do texto, o que pode invalidá-lo. Ao assumir um objetivo de pesquisa, o investigador deve se comprometer com todos os aspectos a ela relacionados. Não basta incorporar múltiplas perspectivas no trabalho se este não apresentar coerência entre a questão proposta, os referenciais utilizados, os métodos e as técnicas empregados, a relação com participantes e os critérios de validade.

Para Cho e Trent (2006), alguns pesquisadores pretendem que os métodos e as estratégias de validade na pesquisa qualitativa possam ser definidos até ao ponto em que se equiparem aos métodos convencionais (da pesquisa quantitativa). Entretanto, como os propósitos de pesquisa variam, não é possível criar um padrão universal de validade, como foi discutido anteriormente. A compreensão da validade na pesquisa qualitativa sempre estará vinculada à visão de mundo e à postura cientifica do pesquisador, permanecendo como um espaço de discussão e debate no campo científico.

Cabe ainda destacar que, embora a validade seja um aspecto importante na realização da pesquisa, muitos pesquisadores a abordam apenas em termos teóricos, apresentando as estratégias que podem ser utilizadas (verificação dos participantes, triangulação) como forma de proteção de possíveis questionamentos sobre a forma de condução e os resultados alcançados em seus estudos. Contudo, mesmo que a utilização destas técnicas possa ser uma condição necessária, nunca será totalmente suficiente. Ao contrário, é necessária a reflexão constante do pesquisador sobre a realização de sua pesquisa, integrando teoria e prática.

2. A Reflexividade

As pesquisas, neste texto com ênfase naquelas realizadas em ciências sociais, são primeiramente empreendimentos de construção de conhecimento. Nesse sentido, é fundamental que dentro da própria ciência haja um espaço de reflexão onde se questione e analise os rumos que esta tem tomado, os procedimentos empregados e a forma como os pesquisadores têm se relacionado com os sujeitos que participam da pesquisa.

Tanto o pesquisador quanto os sujeitos estão engajados em produzir conhecimento, constituindo um processo ativo que requer exame minucioso, reflexão e interrogação dos dados, do próprio pesquisador, dos participantes e do contexto em que eles habitam. Assim, um dos conceitos que se torna central no desenvolvimento de estudos em ciências sociais é a reflexividade. Para Guilhemin e Gillan (2004) a reflexividade é o caminho para o pesquisador analisar, questionar e, algumas vezes, se reposicionar nos temas e situações que freqüentemente se encontram fora do lugar na prática diária da vida social, estando intimamente ligada com as práticas éticas de pesquisa e que vem ocorrer no campo onde os comitês éticos não estão presentes para avaliarem e darem seu parecer.

Uma pesquisa reflexiva significa que o pesquisador deve constantemente analisar suas ações e suas regras no processo de pesquisa e sujeitá-las ao mesmo exame atencioso que o restante dos dados (GUILLEMIN; GILLAN, 2004). Entre os autores que destacaram a importância da reflexividade está Pierre Bourdieu, que aponta a importância de um processo reflexivo, baseado tanto na observação do assunto de pesquisa quanto na reflexão do próprio pesquisador.

Com relação ao primeiro ponto, Bourdieu (1996; 2005) destaca que o pesquisador deve buscar uma ruptura com o conhecido e o generalizado, evitando as armadilhas da pretensão do conhecimento do fato social e do conhecimento de suas determinações pelos atores e testemunhas, visto que seguindo este caminho podemos nos deixar levar pela representação dominante. Assim, na definição do objeto estudado o pesquisador deve buscar o máximo possível de autonomia, procurando construir explicações fundadas sobre variáveis não imediatamente notadas pelos indivíduos, cujas percepções são deturpadas política, social e institucionalmente pela família, pela escola, pelo Estado. Isto pode ser alcançado por um esforço consciente de teorização, por um retorno reflexivo sobre a análise da própria postura teórica, suas condições sociais de possibilidade, e como ela influencia a pesquisa como uma atividade prática (quais questões nós formulamos ou deixamos de formular, quais dados construímos, quais observações levamos a cabo, etc.) (BOURDIEU; WACQUANT, 2002).

No que se refere à reflexão do próprio pesquisador, Bourdieu (2001, p. 694) destaca:

Só a reflexividade, que é sinônimo de método, mas uma reflexividade reflexa, baseada num trabalho, num olho sociológico permite perceber e controlar no campo, na própria condução da pesquisa os efeitos da estrutura social na qual ela se realiza. Como pretender fazer ciência dos pressupostos sem se esforçar para conseguir uma ciência dos próprios pressupostos? Principalmente esforçando-se para fazer um uso reflexivo dos conhecimentos adquiridos na ciência social para controlar os efeitos da própria pesquisa e começar a interrogação já dominando os efeitos inevitáveis das perguntas.

Bourdieu discute amplamente em sua obra sobre o habitus sociológico, as disposições do pesquisador na aplicação de princípios abstratos em pesquisa empírica. Sua preocupação diz respeito às condições do conhecimento, à reflexividade, uma vez que todo conhecimento é condicionado pelo habitus. O autor leva em conta que o entendimento dos dados coletados muitas vezes não é só distorcido pelo habitus dos agentes, mas pelo próprio habitus do pesquisador. Por este motivo, Bourdieu propõe que devamos previamente buscar a análise das nossas próprias disposições, de modo a alcançar a universalidade mediante a identificação e a crítica da produção intelectual em que se dá a pesquisa.

A reflexão do pesquisador sobre seu papel como agente ativo na realidade social e capaz de resistir à ideologia hegemônica é fundamental para a construção de conhecimento. A reflexividade do pesquisador em seu trabalho de pesquisa impõe-se como um imperativo absoluto a todos que desejam resistir ao conjunto de conceitos dominantes (globalização, flexibilidade, multiculturalismo, etc.) desenvolvidos pelo ideário neoliberal que tem se difundido pelos campi universitários, acompanhando o processo ocorrido no mundo inteiro (BOURDIEU; WACQUANT, 2002).

Esta reflexão sobre e na pesquisa não é um momento único ou específico, mas um processo ativo e contínuo que deve estar presente em todos os estágios. Os temas de interesse do pesquisador e as questões que propõe, bem como aquelas que descarta, revelam algo particular de cada pesquisador. O desenho de pesquisa, métodos utilizados e modelos teóricos que direcionam os estudos, a escolha (e a exclusão) dos participantes e as interpretações e análises são governados por valores e, reciprocamente, ajudam a formar estes valores. Assim, a reflexividade na pesquisa é um processo de análise crítica do tipo de conhecimento produzido e de como este é gerado (GUILLEMIN; GILLAN, 2004). Além disso, a reflexividade força o pesquisador a levar em conta seu self e as identidades múltiplas que representam o eu fluido no ajuste da pesquisa. A reflexividade requer que se interrogue a respeito das formas pelos quais se conduz os esforços da pesquisa que se delineia e suas relações com as contradições e os paradoxos que dão forma a sua própria vida, sua interação com respondentes (GUBA: LINCOLN, 2005)

A reflexividade envolve reflexão crítica de como o pesquisador constrói conhecimento no processo de pesquisa (GUBA; LINCOLN, 2005). Aquele que adota uma postura reflexiva está consciente de todo seu potencial de influência e apto para voltar atrás e olhar criticamente sobre seu próprio papel na realização do estudo. Significa seguir um processo contínuo de exame crítico e interpretação, não apenas em relação aos métodos de pesquisa e aos dados coletados, mas também do próprio pesquisador, dos participantes e do contexto da pesquisa. Também devem ser consideradas as interações entre pesquisador e participante, que são o substrato da dimensão ética da prática de pesquisa. (GUILLEMIN; GILLAN, 2004).

Adotar uma postura reflexiva na prática de pesquisa representa o reconhecimento da dimensão ética da ação do pesquisador, expresso no respeito aos participantes na condução da pesquisa, no tratamento dos dados e nos resultados apresentados. A reflexividade permite ao pesquisador ter sensibilidade para agir em todos os momentos da prática de pesquisa em todas as suas particularidades; tendo ou sendo capaz de desenvolver um significado de indicar e responder a preocupações éticas se e quando estas surgirem na pesquisa.

Ao ser reflexivo, o pesquisador antes de conduzir o inquérito reflete sobre como suas intervenções durante a pesquisa podem afetar os participantes e considera como eles responderiam ao pesquisador em diferentes situações, as quais ele pode apenas prever. Reflexividade possibilita desenvolver ferramentas para responder apropriadamente aos estudos propostos. Assim, estará mais preparado para identificar os momentos eticamente relevantes, quando estes surgirem, e terá a base para seguir um caminho que respeite os envolvidos na pesquisa, mesmo em situações imprevistas.

Ao seguir uma ação reflexiva, o pesquisador é chamado a voltar-se para si mesmo, conhecer os motivos que o encaminharam para este tema ou aquela questão de pesquisa. É uma atitude de auto-conhecimento e de consciência, onde o pesquisador assume sua posição tanto na relação com os participantes quanto com seus pares do campo científico. A reflexividade mostra que a postura do pesquisador, suas decisões teóricas e sua relação com os participantes criam um estudo único, não preocupado com a generalização e a descoberta das verdades, mas consciente e comprometido com sua forma de construção de conhecimento.

Considerações finais

O presente ensaio buscou discutir alguns elementos do rigor na realização de trabalhos de orientação qualitativa, demonstrando que o compromisso do pesquisador, quando opta pela realização deste tipo de pesquisa. deve estar orientado de forma tão rigorosa quanto nos empreendimentos quantitativos. Indo além, o pesquisador que opta pelo caminho da pesquisa qualitativa deve clarear seus pressupostos e objetivos, bem como estar consciente de sua responsabilidade social como pesquisador.

Para tanto, é preciso considerar que o conhecimento científico não tem por finalidade única decifrar o real e construir uma verdade definitiva de como os fatos ocorrem, mas sim entendê-lo como algo socialmente construído e situado. A verificação empírica, que faz parte do processo de pesquisa, permite desvendar a pertinência das construções racionais e das teorias desenvolvidas, conhecendo fragmentos do mundo vivido (BACHELARD, 1996). O pesquisador deixa de ser um sujeito neutro e é chamado a refletir e agir sobre o tema e os indivíduos que estuda (BOURDIEU, 2005), uma vez que o conhecimento tratado pelas ciências sociais não se constitui apenas um saber técnico, mas também é um saber ético. A forma de agir na relação que estabelece com o objeto de estudo, bem como os meios utilizados para estudo e a reflexão desenvolvida, deve ser acima de tudo uma atitude ética (GADAMER, 1996).

O campo científico, como espaço constituído de seres históricos, é tão ideológico quanto o religioso, o econômico ou o político; é um campo de lutas como outro qualquer, mas onde as disposições críticas apresentadas têm poucas chances de serem atendidas, a não ser que possam mobilizar os recursos científicos; quanto mais avançada estiver uma ciência, mais importante será o capital científico de que dispõe e maior será sua participação na luta científica. As revoluções científicas não são negócio para os mais carentes, mas para os mais ricos cientificamente (BOURDIEU, 2005). O campo científico está sob a tutela de seus participantes. Posicionamentos teóricos e metodológicos presentes em artigos e projetos são, também, avaliados e refutados pelos pares garantindo-se, com isto, um compromisso com pressupostos, conceitos e abordagens presentes. Para defender pontos de vista distintos daqueles que estão sendo dados, é necessário encontrar caminhos alternativos para conseguir incentivos para pesquisa.

Não existem abordagens neutras ou de maior ou menor objetividade, mas sim diferentes abordagens. A escolha de autores de referência, de temas, a predeterminação de métodos são ações que refletem o pensamento e a orientação do autor. Consistem em escolhas que, mais ou menos conscientes, norteiam a relação que vai estabelecer com o objeto de pesquisa e, conseqüentemente, os resultados encontrados. Os critérios aqui apresentados ressaltam a importância de demonstrar com maior clareza os pressupostos, as visões de mundo e as maneiras de pensar que balizam o modo como cada pesquisador constrói seus trabalhos.

As diferentes formas de compreensão da validade originam estudos distintos, que podem gerar resultados diferentes, os quais serão bases para futuras discussões e análises. Contudo, em qualquer das vertentes que o pesquisador seguir, é preciso ser criterioso no modo de condução da pesquisa, a fim de que sua coerência configure uma construção científica que realmente embase discussões posteriores.

A reflexividade traz o pesquisador para o centro da realização da pesquisa, fazendo-o analisar suas ações com relação aos temas, sujeitos e resultados de seus trabalhos. O pesquisador é um agente ativo no processo de construção de conhecimento e deve estar ciente de suas responsabilidades e limitações. Não há um único caminho a ser percorrido, mas é fundamental que se mostre a trajetória que foi traçada e os rumos escolhidos, para que os demais possam situar e melhor compreender o resultado de seu trabalho.

A posição de pesquisador deve estar guiada por uma reflexão historicamente consciente, cientes de que o contexto histórico e social vivido e como ele pode interferir nas relações de pesquisa. Os critérios de validade e de reflexividade discutidos acima servem como suporte para uma pesquisa ao mesmo tempo consciente e rigorosa. É claro que isto não exclui as críticas e os questionamentos sobre as interpretações que serão feitas, mas permite que se reforcem os argumentos sobre a validade dos métodos e técnicas utilizados no levantamento e interpretação dos dados, bem como deixa evidente que são resultados alcançados a partir da visão de um pesquisador consciente de seu papel e do da ciência na sociedade.

Artigo submetido em setembro e aceito em dezembro de 2008

  • BACHELARD, Gaston. Formação do espírito científico Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
  • BOURDIEU, Pierre A miséria do mundo Petrópolis: Vozes, 2001.
  • BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
  • BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. São Paulo: Papirus, 1996.
  • BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Löic. A astúcia da razão imperialista. In: WACQUANT, Löic (Org.) O mistério do ministério: Pierre Bourdieu e a política democrática. Rio de Janeiro: Revan, 2005.
  • BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Löic. Racionalidade e reflexividade: nota aos leitores brasileiros Preface to Convite a sociologia reflexiva Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002, pp. v-vii.
  • BRONWYN, Davies et alii. The ambivalent practices of reflexivity. Qualitative Inquiry v.10, n. 3, 2004.
  • CHO, Jeasik; TRENT, Allen. Validity in qualitative research revisited. Qualitative Research v. 6, n. 3, 2006.
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  • GUBA, Egon. G.; LINCOLN, Yvonna S. Paradigmatic controversies, contradictions, and emerging confluences. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. (Eds.) The Sage Handbook of Qualitative Research: Third Edition. London: Sage, 2005. p.191-215.
  • GUILLEMIN, Marilys; GILLAN, Lyn. Ethics, Reflexivity and "Ethically Important Moments" in Research. Qualitative Inquiry v. 10. n. 2, 2004.
  • KOCH Tina; HARRINGTON, Ann. Reconceptualizing rigour: the case for reflexivity. Journal of Advanced Nursing v. 28, n. 4, 1998.
  • KVALE, Steinar. The Social Construction of Validity. Qualitative Inquiry 1995. v. 1.
  • PATTON, Michael Quinn. Qualitative research & evaluation methods Thousand Oaks [Estados Unidos]: Sage Publications, 2002
  • SANDBERG, Jörgen. How do we justify knowledge produced within interpretative approaches. Organizacional Research Methods v. 8, n 1. Jan/2005.
  • SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências São Paulo : Cortez, 2003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 2009

Histórico

  • Aceito
    Dez 2008
  • Recebido
    Set 2008
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